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Consequências da Polifarmacoterapia em Idosa Vestibulopata

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Célia Aparecida Paulinoa*; Fabiane Maria Costaa; Maria Rita Aprilea

Resumo

A polifarmacoterapia para tratamento de múltiplas doenças é uma realidade na população idosa. O objetivo deste trabalho foi avaliar as consequências do uso de múltiplos fármacos em idosa com vestibulopatia. O estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (Protocolo 475.835/2013) e realizado com base em informações de idosa de 64 anos, com labirintopatia vascular e queixas de tontura, zumbido e desequilíbrio, além de relato de queda. A idosa é hipertensa, apresenta insuficiência arterial e venosa crônica, aterosclerose de artérias coronárias e hérnia discal lombar. Passou por cateterismo e angioplastia. Faz uso contínuo e concomitante de nove medicamentos, cada um contendo apenas um fármaco, a saber: Captopril, Propranolol, Hidroclorotiazida, Ácido acetilsalicílico, Pravastatina, Bezafibrato, Meloxicam, Omeprazol e Hidróxido de alumínio. Os fármacos foram classificados pela Anatomical Therapeutic Chemical (ATC) e as interações analisadas pelo The Medical Letter Drug Interactions Program. Todos os fármacos fizeram algum tipo de interação, com exceção do Bezafibrato, que não pôde ser analisado. As principais consequências das diferentes interações foram: diminuição do efeito anti-hipertensivo e diurético (em diferentes interações); redução do efeito hipotensor (em diferentes interações); bloqueio do efeito terapêutico do Ácido acetilsalicílico sobre a mortalidade após infarto do miocárdio; piora da insuficiência cardíaca congestiva; arritmias cardíacas; aumento do risco de insuficiência renal; indução e agravamento da insuficiência renal (provável efeito aditivo); hiponatremia; hipotensão; maior risco de toxicidade gastrintestinal; possível toxicidade do Ácido acetilsalicílico; aumento do efeito hiperglicêmico da Hidroclorotiazida; redução da absorção e do efeito do Captopril, Propranolol e Ácido acetilsalicílico. A polifarmacoterapia utilizada resultou em diferentes interações medicamentosas, cujas consequências farmacológicas podem ter repercussões clínicas importantes para a saúde desta idosa e de outros idosos que utilizam as mesmas medicações, sobretudo os que apresentam vestibulopatias.

Palavras-chave: Uso de Medicamentos. Doenças Vestibulares. Saúde do Idoso. Abstract

Polipharmacotherapy for the treatment of multiple diseases is a reality in the elderly people. The aim of this study was to evaluate the consequences of the use of multiple drugs in elderly woman with vestibular disorders. The study was previous approved by the Ethics Research Committee (Protocol 475.835/2013) and conducted based on information about a 64-year-old woman with vascular labyrinth and complaints of dizziness, tinnitus and balance, and fall report. The woman is hypertensive, has arterial insufficiency and chronic venous, atherosclerosis of the coronary arteries and lumbar disc herniation. She underwent catheterization and angioplasty. She uses nine continuous and concomitant medications, each one containing only one drug, namely: Captopril, Propranolol, Hydrochlorothiazide, Acetylsalicylic acid, Pravastatin, Bezafibrate, Meloxicam, Omeprazole and Aluminum hydroxide. The drugs were classified by the Anatomical Therapeutic Chemical (ATC) and the interactions analyzed by The Medical Letter Drug Interactions Program. All drugs have made some kind of interaction with the exception of Bezafibrate, which could not be analyzed. The main consequences of the different interactions were: decreased antihypertensive and diuretic (in different interactions) effect; reduction of the hypotensive effect (in different interactions); blocking the therapeutic effect of Acetylsalicylic acid on the mortality after myocardial infarction; worsening congestive heart failure; cardiac arrhythmia; increased risk of renal failure; induction and worsening renal failure (likely additive effect); hyponatremia; hypotension; increased risk of gastrointestinal toxicity; possible toxicity of Acetylsalicylic acid; increasing hyperglycemic effect of Hydrochlorothiazide; reduction in absorption and the effect of Captopril, Propranolol and Acetylsalicylic acid. The use of multiple medications resulted in different drug interactions, whose pharmacological effects may have important clinical implications for the health of this elderly woman and other elderly people who use the same drugs, especially those with vestibular disorders.

Keywords: Use of Medicines. Vestibular Disorders. Health of the Elderly.

Consequências da Polifarmacoterapia em Idosa Vestibulopata

Consequences of Polypharmacotherapy in Elderly Woman with Vestibular Disorder

aUniversidade Anhanguera de São Paulo, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Reabilitação do Equilíbrio Corporal e Inclusão Social. São Paulo, SP.

*E-mail: celiapaulino@uol.com.br

1 Introdução

O processo de envelhecimento populacional é uma tendência mundial bastante desafiadora e preocupante, já que o envelhecimento acarreta uma série de transformações fisiopatológicas, que levam a modificações no funcionamento das diferentes funções orgânicas que se tornam mais lentas com o passar do tempo1,2.

Essas transformações estão expressas tanto na composição e forma do corpo como nas funções dos sistemas ósseo, neuromuscular, nervoso, cardiorrespiratório, hepático, digestório, renal e tegumentar3.

O uso de polifarmácia, ou polifarmacoterapia para tratamento de múltiplas doenças, comuns na população idosa, aumenta o risco de reações indesejáveis e contribui para a maior

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morbidade e mortalidade entre idosos, além de comprometer o prognóstico e a evolução clínica desses pacientes e

torná-los mais susceptíveis às interações medicamentosas4,5. De

fato, o uso concomitante de mais de um medicamento é bastante comum uma vez que os idosos apresentam diversas morbidades6-8.

Do ponto de vista farmacológico, os idosos são mais vulneráveis aos efeitos dos medicamentos, pois o envelhecimento leva a déficits funcionais de órgãos e sistemas, alguns dos quais podem alterar processos farmacocinéticos e farmacodinâmicos9,10.

Os idosos apresentam redução da massa muscular associada ao aumento da gordura e à redução da quantidade de água corporal, que alteram a distribuição dos fármacos ingeridos, pois os medicamentos lipofílicos podem ter a meia-vida aumentada e os hidrofílicos podem apresentar volumes de distribuição diminuídos2,11.

Também ocorre alteração na absorção gastrintestinal, o esvaziamento gástrico torna-se mais lento, e o peristaltismo é diminuído, fatores que modificam a biodisponibilidade dos fármacos. Ocorre, ainda, redução do volume hepático, que dificulta a biotransformação dos fármacos; diminuição do fluxo sanguíneo renal e alterações na filtração glomerular, e redução na excreção biliar e no pH urinário, que também provocam mudanças na excreção dos subprodutos da biotransformação dos medicamentos11.

Estudos prévios com idosos vestibulopatas que apresentam tontura, zumbido, vertigem, desequilíbrio e/ou perda auditiva como queixas frequentes, têm mostrado o uso intenso da polifarmacoterapia, sendo que a classe terapêutica dos anti-hipertensivos e diuréticos tem sido a mais relatada, entre outras12,13.

O maior consumo de medicamentos por idosos, o maior risco de interações medicamentosas e a maior susceptibilidade a reações adversas são fatores que devem ser considerados nas prescrições farmacológicas, pois o estado geral de saúde desses indivíduos pode ser agravado pelos efeitos decorrentes

do uso prolongado de determinados medicamentos6.

Assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar as consequências do uso de múltiplos fármacos em idosa com vestibulopatia.

2 Material e Métodos

O presente estudo farmacológico faz parte de pesquisa mais ampla aprovada pela Comissão de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Anhanguera de São Paulo, UNIAN-SP (Protocolo 475.835/2013). Os dados foram obtidos de prontuários dos idosos do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Reabilitação do Equilíbrio Corporal e Inclusão Social da UNIAN-SP.

Paciente do sexo feminino, 64 anos, casada, profissão prendas domésticas, escolaridade equivalente ao ensino fundamental e com diagnóstico de labirintopatia vascular. Suas principais queixas eram tontura, zumbido e desequilíbrio, relatando inclusive episódios de queda.

Sobre os antecedentes pessoais, a paciente é hipertensa e apresenta insuficiência arterial e venosa crônica, além de aterosclerose de artérias coronárias. Já foi submetida a procedimentos para cateterismo e angioplastia. A paciente também apresenta hérnia discal lombar.

No que se refere ao tratamento farmacológico, a paciente relatou fazer uso contínuo e concomitante de nove medicamentos, cada um contendo apenas um fármaco, a saber: Captopril, Hidroclorotiazida, Propranolol, Ácido acetilsalicílico, Meloxicam, Pravastatina, Bezafibrato, Omeprazol e Hidróxido de alumínio.

Para análise das eventuais interações medicamentosas foi utilizado o Software The Medical Letter Drug Interactions

Program for Windows (The Medical Letter, USA®). As análises

realizadas por meio deste programa permitem a citação e a descrição das possíveis interações, de acordo com pesquisas científicas já publicadas.

3 Resultados e Discussão

Os fármacos identificados foram classificados segundo a Anatomical Therapeutic Chemical (ATC), um sistema internacional que divide as substâncias ativas (fármacos) dos medicamentos em cinco níveis: 1º nível (grupo anatômico principal), 2º nível (uso terapêutico), 3º nível (ação farmacológica), 4º nível (subgrupo químico) e 5º nível (substância química).

Os Quadros 1 e 2 apresentam, de forma resumida, os fármacos em uso pela paciente idosa vestibulopata e suas respectivas classificações pela ATC.

Quadro 1: Fármacos utilizados pela idosa vestibulopata, com ação no aparelho cardiovascular, segundo classificação pela ATC Grupo anatômico principal Uso terapêutico Ação farmacológicae subgrupo Substância química

Aparelho cardiovascular Anti-hipertensivo com ação no sistema renina-angiotensina conversora de angiotensinaInibidor da enzima Captopril Aparelho cardiovascular Betabloqueador Betabloqueador não seletivo Propranolol

Aparelho cardiovascular Diurético Tiazida Hidroclorotiazida

Aparelho cardiovascular Hipolipemiante Inibidor da HMG-CoA redutase Pravastatina

Aparelho cardiovascular Hipolipemiante Fibrato Bezafibrato

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A análise das interações medicamentosas identificou diferentes associações entre os fármacos em uso (Quadro 3). Entretanto, por limitação técnica do SoftwareThe Medical

Letter Drug Interactions Program for Windows não foi

possível analisar eventuais interações com o fármaco Bezafibrato.

Quadro 3: Interações medicamentosas identificadas entre os fármacos em uso pela idosa vestibulopata, com exceção do bezafibrato Interações medicamentosas Fármaco 1 Fármaco 2 Captopril Captopril Captopril Propranolol Propranolol Meloxicam Ácido acetilsalicílico Hidróxido de alumínio Hidróxido de alumínio Hidróxido de alumínio Meloxicam Ácido acetilsalicílico Hidroclorotiazida Meloxicam Hidroclorotiazida Hidroclorotiazida Omeprazol Captopril Propranolol Ácido acetilsalicílico Fonte: Dados da pesquisa.

Os principais resultados dessas interações medicamentosas identificadas foram: diminuição do efeito anti-hipertensivo e diurético (em diferentes interações); redução do efeito hipotensor (em diferentes interações); bloqueio do efeito terapêutico do Ácido acetilsalicílico sobre a mortalidade após infarto do miocárdio; piora da insuficiência cardíaca congestiva; arritmias cardíacas; aumento do risco de insuficiência renal; indução e agravamento da insuficiência renal (provável efeito aditivo); hiponatremia; hipotensão; maior risco de toxicidade gastrintestinal; possível toxicidade do Ácido acetilsalicílico; aumento do efeito hiperglicêmico da Hidroclorotiazida; redução da absorção e do efeito do Captopril, Propranolol e Ácido acetilsalicílico.

O presente estudo mostrou a utilização concomitante de nove medicamentos, cada um contendo um fármaco diferente. Essa terapêutica plurimedicamentosa em uso pela idosa aponta para o tratamento dos seus variados quadros clínicos crônicos. Tal resultado é reforçado pela literatura que aponta para um maior número de doenças, em sua maioria crônicas,

no envelhecimento6, entre elas a hipertensão e quadros

cardiovasculares, condições mais frequentes na população idosa, aumentando a necessidade de uso de múltiplos medicamentos em idosos14-17.

De fato, estudo americano revelou que a hipertensão em idosos acima de 80 anos nos Estados Unidos tem prevalência de quase 60%, e as doenças cardíacas, cerca de 39%18. Entre

as doenças crônicas no idoso, a hipertensão arterial sistêmica (HAS) aumenta em 39% a probabilidade de dependência desses idosos para as atividades de vida diária, enquanto as doenças cardíacas são responsáveis por 82% das chances de dependência, além de artropatias (59%) e doenças pulmonares (50%)19.

Dos medicamentos em uso pela idosa, a maioria envolve o tratamento da hipertensão e de condições cardiovasculares, como o Captopril, a Hidroclorotiazida, o Propranolol, o Ácido acetilsalicílico, a Pravastatina e o Bezafibrato, fármacos de diferentes classes terapêuticas que atuam para controlar ou minimizar, direta ou indiretamente, essas condições clínicas.

Em concordância, um estudo com idosos em hospitais públicos de Porto Alegre, RS, mostrou predomínio da hipertensão arterial em quase 70% dos casos e mais de 30% dos idosos faziam uso de mais de um medicamento de classe terapêutica diferente20. Ainda, entre as comorbidades mais

frequentes apresentadas pelos idosos estão a hipertensão e as doenças cardiovasculares, sendo os anti-hipertensivos os medicamentos mais utilizados por essa população17,21.

É importante destacar que essa idosa apresenta vestibulopatia de origem vascular e sofre com tonturas e outros sintomas vestibulares e usa os anti-hipertensivos Captopril e Propranolol, além do diurético Hidroclorotiazida.

É descrito que a própria hipertensão arterial pode causar tontura22, assim como fármacos com ação anti-hipertensiva

e antidepressiva também serem considerados causadores de tontura23. É possível, ainda, que a quantidade de medicamentos

utilizada seja uma causa não vestibular da tontura, como apontado em estudo com idosos que apresentavam tontura e usavam mais de cinco medicamentos, entre eles, betabloqueador e diurético15, terapêutica semelhante à descrita

neste estudo.

Também foi aqui descrito episódios de queda e uso do diurético Hidroclorotiazida pela idosa, reforçando dado

Quadro2: Fármacos utilizados pela idosa vestibulopata, com ação no aparelho digestivo e metabolismo, sistema musculoesquelético, sangue e órgãos hematopoéticos, segundo classificação pela ATC

Grupo anatômico principal Uso terapêutico Ação farmacológica e subgrupo Substância química Aparelho digestivo e

Metabolismo Tratamento para úlcera péptica Inibidor de bomba de próton Omeprazol Aparelho digestivo e

Metabolismo Tratamento para úlcera péptica Antiácido Hidróxido de alumínio Sistema musculoesquelético Anti-inflamatório e antirreumático Não esteróide - Oxicam Meloxicam

Sangue e Órgãos

hematopoéticos Antitrombótico Inibidor da agregação plaquetária Ácido acetilsalicílico Fonte: Dados da pesquisa.

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da literatura que aponta correlação entre uso de certos medicamentos, como a Hidroclorotiazida, e ocorrência de

queda e fratura em idosos, em decorrência de tontura24.

Realmente, entre as drogas que aumentam o risco de queda estão os diuréticos (especialmente os tiazídicos), os bloqueadores de canais de cálcio e os anti-hipertensores, todos indicados para tratamento de alterações do sistema cardiovascular25, corroborando os dados aqui mostrados.

Ainda, estudo analisando a relação de fármacos com a ocorrência de queda em 118 pacientes idosos acima de 65 anos mostraram os hipolipemiantes como os mais amplamente utilizados pelos idosos caidores, seguido dos anti-hipertensivos inibidores da enzima conversora de angiotensina, dos betabloqueadores e diuréticos26.

Ressalte-se que a idosa deste estudo fazia uso dessas quatro clasRessalte-ses terapêuticas de fármacos, respectivamente, Pravastatina e Bezafibrato, Captopril, Propranolol e Hidroclorotiazida, o que poderia contribuir para as quedas, direta ou indiretamente.

Dos nove fármacos em uso pela idosa, oito deles fizeram algum tipo de interação medicamentosa (com exceção do Bezafibrato, que não foi analisado por limitação do programa de análise). Este resultado confirma relato da literatura, apontando que a polifarmacoterapia contribui para interações medicamentosas em idosos27.

A presença de múltiplas doenças crônicas é um fator de risco frequente e que predispõe às interações medicamentosas, uma vez que aumenta o número de prescrições e os fármacos

são utilizados por longos períodos nessas condições21.

Investigação de um Programa Saúde da Família revelou que 14,3% de idosos usuários do referido serviço público, que consumiam seis ou mais medicamentos, apresentavam 100% de risco para interações medicamentosas28.

A utilização concomitante de dois ou mais fármacos é um dos fatores para ocorrência de interações medicamentosas, sendo os fármacos anti-hipertensivos e os antidiabéticos os que mais interagem29.

No presente estudo, entre as consequências das interações observadas, estão a redução do efeito anti-hipertensivo e diurético em algumas associações e a redução do efeito hipotensor em outras, o que pode comprometer, sobretudo, o tratamento da hipertensão da idosa em questão e, desse modo, até complicar seu quadro vestibular.

De fato, a polifarmacoterapia e as interações medicamentosas são tidas como as principais responsáveis pelas reações adversas e pelo agravamento de sintomas das doenças pré-existentes. Porém, pela dificuldade clínica de avaliação rápida dessas interações, muitas vezes a análise dos seus efeitos não é realizada ou o é tardiamente, o que também pode facilitar o agravamento do quadro do paciente e atrasar o tratamento das suas manifestações4,14,30,31.

Entre os sintomas vestibulares da idosa estão a tontura, o zumbido e o desequilíbrio. Tais sintomas são comuns na população idosa que apresenta vestibulopatias, com

destaque para as tonturas, um dos sintomas mais frequentes nesses casos, que pode ser desencadeada por alterações em diversos órgãos e sistemas decorrentes do processo de envelhecimento14,32. Também houve relato de queda e uma das

consequências das interações foi a hiponatremia e hipotensão, que podem favorecer tonturas e quedas.

Embora a terapia otoneurológica integrada seja bastante eficaz no tratamento dos sintomas vestibulares, não se pode descartar o fato de que os efeitos de interações medicamentosas podem ser um impedimento para a obtenção de bons resultados no tratamento da tontura33.

Também foi identificada redução do efeito terapêutico do Ácido acetilsalicílico na prevenção de mortalidade após infarto, piora da insuficiência cardíaca congestiva e arritmias cardíacas, que podem prejudicar o tratamento das demais condições cardiovasculares da idosa do estudo.

Em adição, todos os efeitos terapêuticos esperados para o Captopril, Propranolol e Ácido acetilsalicílico, utilizados pela idosa, podem ser comprometidos pela interação com o Hidróxido de alumínio, que reduz a absorção oral destes fármacos.

Realmente, considerando as interações medicamentosas aqui identificadas, pode-se sugerir que as consequências de muitas dessas interações podem atrapalhar o tratamento medicamentoso em questão, reduzindo o controle de algumas condições, como por exemplo, a hipertensão, como também trazer novos sintomas a essa paciente, ou mesmo agravar algumas condições já existentes, como a própria labirintopatia de origem vascular.

Além dos efeitos indesejáveis das interações, não se pode desconsiderar as reações adversas desencadeadas pelos fármacos de modo individual, sobretudo, pelas alterações farmacocinéticas observadas em idosos, como a biotransformação e excreção dos fármacos, decorrentes do processo de envelhecimento30. Assim, a modificação da

farmacocinética no idoso, especialmente por redução das funções hepática e renal, favorece o acúmulo de fármacos no organismo e pode levar a efeitos indesejáveis e bem diferentes daqueles esperados para os idosos10.

Neste sentido, as interações mostraram, ainda, a possibilidade de indução e agravamento de insuficiência renal, em provável efeito aditivo, trazendo ainda mais risco para a função renal da idosa e maior chance de acumulação dos fármacos em uso.

Além de tudo, foi revelada pelas análises maior toxicidade do Ácido acetilsalicílico, maior risco de toxicidade gastrintestinal e aumento do efeito hiperglicêmico da Hidroclorotiazida, o que pode trazer novas complicações clínicas para esta idosa.

Por tudo isso, a polifarmácia também pode contribuir para uma menor adesão ao tratamento medicamentoso, prejudicando o tratamento das doenças ou sintomas, ou ainda, trazendo novos sintomas ou complicações que vão requerer

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Desse modo, os idosos são mais vulneráveis às consequências da terapêutica plurimedicamentosa, em especial pelos efeitos indesejáveis das interações medicamentosas que podem ocorrer, além das reações adversas próprias de cada fármaco. Muitas dessas consequências podem confundir-se com certos sintomas vestibulares, como as tonturas, que tornam o idoso mais susceptível às quedas.

4 Conclusão

A polifarmacoterapia aqui descrita, com medicamentos comumente utilizados pela população idosa, foi capaz de resultar em diferentes interações medicamentosas, cujas consequências farmacológicas podem ter implicações clínicas importantes para a saúde geral desta idosa e de outros idosos que utilizam as mesmas medicações, em especial, aqueles que apresentam vestibulopatias.

O uso racional de medicamentos é imperioso na população idosa, a fim de se evitar as prescrições em cascata e garantir mais segurança terapêutica.

Neste contexto, dado o uso tão intenso de medicamentos pela população geriátrica, é importante que profissionais da saúde e de outras áreas, envolvidos com os idosos, promovam campanhas e práticas efetivas destinadas à conscientização dessa faixa da população sobre o emprego de uma farmacoterapia responsável. Estratégias deverão ser pensadas com o intuito de orientar os idosos sobre o modo correto de utilização dos medicamentos, possíveis efeitos adversos e, principalmente, sobre os prováveis desdobramentos das interações medicamentosas e suas implicações sobre seu bem-estar, sua saúde e qualidade de vida.

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