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A implementação do SINASE e os recursos orçamentários destinados às unidades que atendem adolescente autor de ato infracional no Município de Londrina-PR

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Academic year: 2021

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A implementação do SINASE e os recursos orçamentários destinados às unidades que atendem adolescente autor de ato infracional no Município de Londrina-PR

Introdução

O presente trabalho trata do processo de implementação do SINASE no município de Londrina-PR, e a análise dos dados dos recursos orçamentários executados nas unidades que atendem ao adolescente em conflito com a lei: Casa Semiliberdade, CENSE I, CENSE II e Projeto Murialdo, no período de 2008 a 2011. Para conhecer a dinâmica das unidades, bem como obter os dados dos recursos orçamentários executados, foram realizadas entrevistas com os profissionais, utilizando roteiros semiestruturados. Ao identificar que os gestores e profissionais das unidades não tinham conhecimento dos recursos orçamentários de suas unidades de trabalho, os dados foram obtidos junto ao Sistema Integrado de Gestão de Ouvidorias (SIGO) no ano de 2012.

O processo de implementação do SINASE no Município de Londrina-PR

No sistema constitucional brasileiro, o ECA apresenta uma normativa avançada, inclusive nas ações relativas ao adolescente em conflito com a lei. Segundo Souza (2012) a realidade empírica não deve ser confundida com a normativa, pois, o fato dos direitos estarem positivados, não significa que haja materialidade no Laís de Oliveira Souza

Vera Lúcia Tieko Suguihiro2

1Mestranda em Serviço Social e Política Social. Universidade Estadual de Londrina. E-mail:

laisoliveirasouza@gmail.com 2Doutora do Departamento de Serviço Social. Universidade Estadual de Londrina. So u za e t al

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contexto social. E, a realidade da adolescência no país está longe de atingir os objetivos programáticos adotados.

O Estatuto apresenta um novo paradigma ético, político e jurídico, assegurando a proteção integral à criança e ao adolescente. Pelo fato do Estatuto não apresentar as diretrizes para a execução das medidas socioeducativas - MSE e, diante de denúncias acerca de violação de direitos dos adolescentes em cumprimento de MSE, a partir do ano de 1997, inicia-se o debate sobre o SINASE, por meio de discussões realizadas na Associação Brasileira de Magistrados, Promotores de Justiça e Defensores Públicos da Infância e da Juventude. A discussão acerca do SINASE envolveu diversos atores da área da defesa e promoção de direitos, e realizaram diversos encontros no Brasil, porém, somente em 2006 o SINASE foi elaborado em plenária do CONANDA e a Resolução nº 119, de 11 de dezembro de 2006, foi entregue ao Presidente. No entanto, a Lei n. 12.594 só foi instituída e a regulamentação para sua execução, foi sancionada somente em 18 de janeiro de 2012.

A implementação do SINASE visa o desenvolvimento de uma ação socioeducativa, embasada nos princípios dos Direitos Humanos, com articulação conceitual, estratégica e operacional, estruturadas, sobretudo em bases éticas e pedagógicas (BRASIL, 2006, p. 16).

De acordo com a Lei do SINASE, o sistema de atendimento socioeducativo em nível estadual deve estar em conformidade com as diretrizes estabelecidas pela União, e o sistema de atendimento municipal, em conformidade com as diretrizes da União e dos Estados.

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Recursos orçamentários destinados às unidades que atendem adolescente autor de ato infracional

A Lei do SINASE dispõe em seu Título I sobre a criação, organização, estruturação e funcionamento, bem como da manutenção orçamentária das unidades que realizam atendimento ao adolescente em conflito com a lei.

Nesta perspectiva, apresentou-se brevemente o contexto histórico do SINASE, bem como o processo de implementação no município e, em conseguinte, foi realizado o levantamento dos recursos orçamentários executados nas unidades responsáveis pela implementação do SINASE no município, ou seja, Projeto Murialdo, Casa Semiliberdade, CENSE Londrina I e CENSE Londrina II. Após realizar o levantamento dos dados, estes foram apresentados em quadros e gráficos para melhor visualização.

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Quadro 1: Recursos executados no Projeto Murialdo

Ao analisar o Quadro 1, observou-se que no ano de 2008 o valor destinado para as receitas diversas foi no valor de R$ 599.255,39; em 2009 foi reduzido para R$ 203.677,88; em 2010, o valor foi de R$ 366.547,00 e, em 2011, foi de R$ 336.905,50. O que se constata é que houve redução de repasses de recursos para o Projeto Murialdo, em um percentual de 43, 78% entre os anos de 2008 a 2011.

Outro dado importante está relacionado a despesas de viagens, estadias e locomoções. Em 2008 o gasto foi

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equivalente a R$17.127,73; no ano de 2009 foi de R$ 21.410,00; em 2010 aumentou para R$ 58.700,00 e, em 2011, o repasse foi apenas de R$ 300,00.

Os gastos com materiais didáticos também apresentaram uma redução significativa entre os anos de 2010 e 2011. Em 2010 o recurso executado foi referente à R$ 72.712,09 e, em 2011, apenas R$ 6.317,60. O fato das oscilações em investimentos para atividades da área da educação é um indicativo preocupante para a execução das atividades, bem como o planejamento de oficinas, cursos entre outras atividades. O Gráfico 1 apresenta os recursos executados no período de 2008 a 2011.

Gráfico 1: Variação dos recursos executados no Projeto

Murialdo

Fonte: Dados da pesquisa

O que se percebe é que no ano de 2008 o valor executado foi num total de R$ 378.293,08; no ano de 2009 R$ 366.522,80, com uma redução 3,11%. No ano de 2010 o valor executado foi na ordem de R$ 601, 462,17 com aumento significativo de 64,10%, ou seja, um acréscimo de R$ 234.939,37. No ano

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de 2011, o valor foi de R$ 405.535,79, com decréscimo de investimentos, o que representou 32,58%, equivalente a R$ 195.926,38. Em nenhum dos dados levantados foi possível identificar os motivos da redução ou aumento de receitas e despesas na referida unidade.

Em relação aos dados orçamentários da Casa Semiliberdade e CENSE Londrina I, os profissionais entrevistados afirmaram não ter conhecimento sobre os recursos financeiros que são investidos em suas unidades.

[...] por não termos ainda essa independência total, eu não tenho como te informar, porque não há uma verba especifica somente para a Semiliberdade, para a manutenção. E, isto é, de uma maneira global ainda, na verdade entre todas as unidades de Socioeducação do Paraná [..]. É uma verba destinada, é uma cifra que eu não sei exatamente os valores, mas seria para atender todas as necessidades de todas as unidades. Não especificamente, olha as unidades de Londrina terão tanto. A única coisa que a gente sabe é quando precisamos de uma reforma ou outra. Como está previsto uma reforma até o final do ano, então teria um valor específico para este tipo de reforma. (Gestor da Casa Semiliberdade)

Eu não sei te mensurar, porque é assim, a parte de orçamento é toda gerida por Curitiba. A gente não tem nada que fique sobre gestão nossa. Então tudo é em Curitiba, então eu não sei mensurar quanto, qual é o custo do CENSE I, qual é o custo mensal, anual, eu não sei te dizer. Só o pessoal da Socioeducação é quem vai saber te dizer. (Gestor do CENSE I)

Ao identificar que os gestores, bem como profissionais das unidades, não tinham conhecimento dos recursos destinados às unidades, os dados orçamentários de cada unidade foram obtidos pelo Sistema Integrado de Gestão de Ouvidorias (SIGO).

De acordo com os dados fornecidos pela SEDS, no período de 2008 a 2011 a Casa Semiliberdade estava vinculada ao CENSE Londrina I. Assim, os recursos orçamentários não

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foram apresentados para cada unidade, conforme exposto no Quadro 2.

Quadro 2: Recursos no CENSE Londrina I e Casa

Semiliberdade

Ao analisar o quadro, observou-se que não há detalhamento dos gastos, constando apenas o código e o tipo de despesa. Há somente uma previsão dos recursos orçamentários para as duas unidades, cujas naturezas são distintas, não garantindo assim a transparência da alocação dos recursos para cada unidade.

Por meio das falas dos profissionais, pode-se observar que os mesmos não têm acesso aos dados orçamentários destinados à unidade em que trabalham. No entanto, os entrevistados não identificam em seus relatos sobre a importância da transparência dos reursos investidos e tampouco, sobre a necessidade de participar da elaboração do PPA, LDO e LOA, para verificar se os recursos orçados estão sendo executado.

A falta de conhecimento, por parte dos profissionais que atuam nas unidades, sobre o valor investido deve limitar o processo de planejamento das atividades e programas nas

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unidades.

O Gráfico 2 apresenta a variação dos recursos orçamentários executados nas duas unidades supracitadas, no período de 2008 a 2011.

Gráfico 2: Variação dos Recursos Executados no CENSE

Londrina I e Casa Semiliberdade

Fonte: Dados da pesquisa.

Em relação à variação dos recursos executados no CENSE I e Casa Semiliberdade, em 2008 foi de R$ 3.988.295,17 e 2009 R$ 5.051.323,96, representando um aumento de 26,65%. Em 2010 o valor foi de R$ 5.100.958,11, com aumento de 0,98%; e, em 2011, foi de R$ 5.678.289,18, com um aumento de 11,32%, ou R$ R$ 577.331,07, comparando ao ano de 2010. O que observou-se é que o maior investimento recaiu no período entre os anos 2008 e 2009, demonstrando um processo de oscilação entre os anos.

Em relação à unidade CENSE Londrina II, o profissional da unidade também não tinha conhecimento dos recursos orçamentários da unidade: “Em relação ao orçamento, a gente não tem, porque tudo que se compra vem da nossa Secretaria. Vem tudo da Secretaria da Família e

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Desenvolvimento Social”.

Os entrevistados das unidades Casa Semiliberdade, CENSE Londrina I e II, relataram que o orçamento das unidades é elaborado pela Secretaria de Estado da Família e Desenvolvimento Social e os mesmos não possuíam conhecimento do gasto das unidades.

No que tange aos recursos destinados ao CENSE Londrina II, no período de 2008 a 2011, os recursos estão representados no Quadro 3.

Quadro 3: Recursos Executados no CENSE Londrina II

Entre os anos de 2008 (R$ 2.537.132,68) e 2009 (R$ 2.729.587,64), totalizando R$ 5.266.720,32. O aumento do investimento se deu na ordem de R$ 192.454,96 de um ano para outro. Entre os anos de 2009 e 2010, o aumento foi apenas de R$ 36.503,48 e, os anos de 2010 e 2011 apresentaram um aumento significativo de R$ 408.932,83. O Gráfico 3 apresenta a variação de recursos para a unidade no período estudado.

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Gráfico 3: Variação dos Recursos Executados no CENSE

Londrina II

O gráfico acima demonstra que na unidade CENSE II o valor investido entre os anos 2008 (R$ 2.537.132,68) e 2009 (R$ 2. 729.587, 64), houve um aumento de 7,60%.

Em 2010 foi de (R$ 2.766.091,12), o que significou um aumento de 1,34% e em 2011 (R$ 3.175.023,95), com um aumento de 14,80%. Nota-se que há uma oscilação na alocação de recursos no período estudado.

O que se pode notar é que a variação dos recursos investidos nas unidades tem sofrido uma constante oscilação, o que deve prejudicar o planejamento e a execução das atividades desenvolvidas nas unidades. Assim, é necessário que haja um planejamento para a alocação de recursos nas unidades, garantindo a efetivação dos direitos dos adolescentes.

O Gráfico 4 apresenta a variação dos recursos executados nas unidades, no período estudado.

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Gráfico 4: Variação dos Recursos Executados no CENSE

Londrina I e II e Casa Semiliberdade

Ao analisar o gráfico 04 constatou-se que no ano de 2008 o valor destinado foi de R$ 6.611.427,55; em 2009 foi de R$ 7.840.811,60, o que significou um crescimento de 18,59% dos recursos destinados às unidades. Em 2010 o valor foi de R$ 2.093.672,23, com uma redução de recursos, representando 73,30%. No ano de 2011, houve um crescimento de 326,01%, no valor de R$ 8.919.233.13 se comparado ao ano de 2010.

Nessa perspectiva, identificou-se que no período de 4 anos, os recursos destinados às unidades de MSE apresentou muitas oscilações, com significativa redução no ano de 2010 num percentual de 73,30%. Em contrapartida, no ano de 2011, houve um aumento significativo de recursos destinados às unidades, perfazendo a casa dos 326,01%. Este aumento coincidiu com o período em que se exigia maiores investimentos nas unidades de atendimento para a implementação do SINASE, de modo a cumprir os princípios e as diretrizes da Lei nº 12.594/12.

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Considerações Finais

Por meio da pesquisa, foi possível identificar que as unidades que realizam atendimento ao adolescente em conflito com a lei (CREAS II, Casa Semiliberdade, CENSE I e CENSE II) responsáveis pela implementação do SINASE, ainda no ano de 2012, encontravam-se em processo ainda muito incipiente na implementação do SINASE no município de Londrina. As entrevistas realizadas com os profissionais das unidades responsáveis pela implementação do SINASE, pode-se identificar que os profissionais não detêm nenhum conhecimento sobre os recursos orçamentários destinados às unidades, dificultando assim, a análise aprofundada dos recursos orçamentários executados nas unidades, no período de 2008 a 2011.

O SINASE, a lei que regulamenta a execução de medidas socioeducativas, prevê a manutenção e transparência dos recursos orçamentária destinados às unidades que realizam atendimento ao adolescente autor de ato infracional, nos âmbitos da esfera Federal, Estadual, Distrito Federal e Municipal.

O debate social e político sobre o processo de implantação do SINASE no município de Londrina se faz urgente. Deve contar com investimento do Estado para a qualificação de gestores e agentes sociais envolvidos direta ou indiretamente com a questão dos adolescentes em conflito com a lei, no sentido de garantir o atendimento qualificado, conforme previsto no SINASE.

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Referências

BRASIL. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Sistema nacional de atendimento socioeducativo – SINASE. Lei nº

12.594 de 18 de janeiro de 2012. Disponível em:

www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011/2012/Lei/L12594. BRASIL. Secretaria Especial dos Direitos Humanos.

Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo - SINASE. Brasília: CONANDA, 2006.

SOUZA, L.O. O processo de implementação do SINASE

no Município de Londrina-PR. 2012. 103 f. Trabalho de

Conclusão de Curso (Graduação em Serviço Social) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2012.

Referências

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