CENTRO
SÓCIO
ECONOMICO
DEPARTAMENTO
DE SERVIÇO
SOCIAL
SERVIÇO
SOCIAL
E
A
QUESTÃO DA
SUDJE-TIVD)ADE:
UM
DESAFIO
CONTEMPORÂNEO
. \
_
Ma
ly Venzon Tristão '“tie Depto. de Serviço Sødll '
GSE/UFSQ
Âfirqvúóz Pzro
oss
fmâfl;/LH/Í`)_i}¡
Trabalho de
Conclusão.de
'-CursoApresentado
ao Departamento-
de
Serviço Social'da
Universidade
-Federalde Santa
Catarina,para obtenção
do
títulode
Assistente Social, orientadopela professora
Marly Venzon
Tristão.MARIA
DO
ROCIO
MENDES
SOUZA
requisito básico
para
o
crescimento individual.O
relacionamento deve ser talque cada pessoa
seja considerada
um
indivíduocom
recursospara
o
seu próprio desenvolvimento.O
crescimento, às vezes, envolveuma
luta internaentre necessidades
de
dependência ede
autonomia,
mas
o indivíduo se sente livrepara
seencarar
se tiverum
relacionamentoem
que
sua
capacidade
seja reconhecida e valorizada eem
que
ele seja aceito eamado.
Então
ele estará aptoa
desenvolver seu própriopotencial
de
vida,a
tomar-se
mais emais
singular, autodeterminado e espontâneo. ”
Dedico
este trabalhoà pessoa que
esteve presenteem
todos osmomentos
desua
elaboração,que
sempre
acreditouna minha
capacidade,que
sempre
me
incentivoua
serquem
eusou
hoje.Que
sempre
me
amou
eme
compreendeu:
Jeison,meu
esposo.AGRADECIMENTOS
À
DEUS,
por estar presenteem
minha
vida, iluminando osmeus
caminhos.À
meu
esposo, JEISON, por todoamor
ecompreensão
dedicados amim
nessatrajetória de formação acadêmica.
À
meus
PAIS, que,com
grande sabedoria e amor,educaram-me
para a vida.À
minha
orientadora,MARLY
VENZON,
que,com
sua sabedoria e amizade,conduziu-me
à realização deste trabalho.À
minha
supervisora de estágio,ANA
DAL-BÓ,
que,com
seu otimismo eamizade, contribuiu,
não
só paraminha
formação acadêmica,mas também
parao
meu
crescimento pessoal.Às
Assistentes SociaisARLETE, TÂNIA
eMARIA
A1›AREc11›A por teremcontribuído para a
minha fonnação acadêmica
e, principalmente, pelo carinho eamizade.
À
toda aminha
turma, e, especialmente, às amigasMARLI,
ANDRÉA, LÊDA
eLUCIANA,
com
quem
compartilheibons
momentos
de descontração.À
todos os usuáriosdo
Fórum
e profissionaisdo
Direito que, através de seusdepoimentos,_possibilitaram a realização deste trabalho.
Enfim,
a
todos aqueles que,de
uma
maneiraou
de outra, sefizeram
presentesna
trajetória
da
minha
formação
acadêmica.SUMÁRIO
E
INTRODUÇAO
... _.7CAPÍTULO
1 -SERVIÇO
SOCIAL EO PODER
JUDICIÁRIO ... .. 131.1. -
O
PODER
JUDICIÁRIOE
A
INSERÇÃODO
SERVIÇO SOCIALEM
SUA ESTRUTURA
... _. 14 1.2. - ATRIBUIÇÕESDO
ASSISTENTE SOCIALNAS
VARAS
DA
FAMILIA ... .. 171.3. INTERDISCIPLINARIEDADE
ENTRE
DIREITOE
SERVIÇO SOCIAL ... .. 22CAPITULO
2 -Os
USUÁRIOS
DO
SERVIÇO
SOCIALNAS
VARAS
DA
FAMÍLIA ... .. 272.1. - PERFIL
DO
USUÁRIO
... ... ..282.2. -
A
PROELEMÁTICADOS
USUÁRIOS ... .. 322.2. 1 . - ASSISTENCIA JUDICIÁRIA:
UM
DIREITODO
CIDADÃO
... ._ 46CAPITULO
3 -A
METODOLOGIA
DO
SERVIÇO SOCIALNAS VARAS
DA
FAMILIA ... .. 533.1. - RESGATE
DAS
CONSTRUÇÕES
METODOLÓOICASDO
SERVIÇO SOCIAL ... .. 543.2. -
ATUAÇÃO
DO
SERVIÇO SOCIALNAS
VARAS
DA
FAMILIA ... .. 743.3. - PERCEPÇÃO
DOS
USUÁRIOSE
DOS
PROFISSIONAISDO
DIREITOEM
RELAÇÃO
A
ATUAÇÃO
DO
SERVIÇO SOCIAL ... _. 99CONSIDERAÇÕES
FINAIS ... .. 106REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS ... ._ 1 10ANEXOS
... .. 118A
temáticametodologia
do
Serviço Social tem-se reveladocomo
uma
constante luta dos profissionais
que
buscam
indicar elementos constitutivosdo
fazer profissional.
A
proposta deste Trabalho deConclusão
deCurso
é mostrar os elementos constitutivosda
prática profissional dos assistentes sociaisno
setorde
Serviço Social das
Varas da
Família -Fórum
Capital,como
frutoda
nossaexperiência de estágio, vivenciada,
no
período de 01/07/95 à 23/12/96.Nossa
preocupação
com
relação à metodologiado
Serviço Socialoriginou-se
da
constatação deque não
tínhamos suporte teórico e morfológicopara atuar junto às famílias, cujas situações exigiam
um
conhecimentoda
áreada
psicologia, poisatuávamos
com
questões subjetivasno
interior das questõesO
nosso aporte teórico nos possibilitava fazeruma
análise críticada
realidade social mais ampla,
porém, quando
trabalhávamos a singularidade de~
uma
separaçao, tínhamos sérias dificuldades.Verificamos
um
descompasso
entre teoria e prática, dilema este tãovivido pelo Serviço Social.
Na
teoria, as coisasparecem
ser mais fáceis de lidar,mas,
na
prática,não
sabíamoscomo
lidarcom
tuna pessoa que chora porque foiespancada pelo
marido
ou porque
este a abandonou.Qual
a metodologia para trabalharcom
casaisem
crise conjugal?Como
agir diante de questões
que
envolvem
afeto, amor,mágoa?
A
cada caso atendidopor nós correspondia significativo aprendizado.
Consideramos
falhoo
ensinoacadêmico
pornão
oferecer ao alunoembasamentos
teóricos para atuarno
seucampo
de estágio, cabendo-lhe abusca
incessante de teorias, fora
do
meio
acadêmico, para poder dar contada
práticade
estágio.
Diante das preocupações expostas, consideramos de extrema
importância elucidar a atuação
do
assistente social junto às famílias, viabilizandoque futuros estagiários
da
práticaconheçam
a realidadeonde
irão atuar,bem
como
a metodologia utilizada.Entendemos que
a metodologia de intervençãodo
Serviço Social junto à realidade écomposta
de princípios de ação,métodos
e conjunto de técnicas eO
presente estudotem
caráter descritivo, pois partedo
pressuposto de que o assistente social está instmmentalizado para atuação junto à família, eexploratório
no
sentido de conhecer a percepção dos assistentes sociais, usuáriose profissionais
do
Direito sobre a relevânciado
Serviço Social nas Varasda
Família .
“As
pesquisas descritivas são,juntamente
com
as exploratórias, as
que
habitualmente realizam ospesquisadores
sociaispreocupados
com
a
atuação
prática. ” (Gil, 1991, p.46).
V '
Utilizamos
como
instrumento de coletade
dados a entrevista,entendendo
que
esta envolvesempre
uma
situação de interação entre oentrevistado e
o
entrevistador.A
entrevista semi-estruturada foi por nós utilizada, pois segueum
certo roteiroque
serve de orientação para o pesquisador balizar as falas dos entrevistados. Parteda
elaboração demn
roteiro. Suas qualidades consistemem
~
elaborar de maneira mais abrangente possível as questoes
que
o pesquisador querabordar
no campo,
com
basena
definiçãodo
objeto de investigação. (Minayo,1993)
Entrevistamos
O4
assistentes sociaisque
compõem
asVaras da
Famíliaconsiderando
que
essaabordagem fomece
importantes subsídios.Não
foram
utilizadas amostras, por essa razão.Com
relação aos usuários e aos profissionaisdo
Direito, utilizamos aamostragem
por acessibilidade.Segundo
Gil (1991, p. 97), aamostragem
por acessibilidade é assimdescrita:
_“0
pesquisador
seleciona os elementosa que
tem
acesso,admitindo
que
estespossam, de
alguma
forma,
representar
o
universo. Aplica-se esse tipode
amostragem
em
estudos exploratóriosou
qualitativos,onde não
é
requerido elevado nível
de
precisão. ” 'Selecionamos os usuários que mais
mantiveram
contatocom
o ServiçoSocial, portanto, selecionamos 15 usuários, sendo que 10 deles já
haviam
sidoatendidos
mais
de duas vezes pelo Serviço Social; os outros 05 são parte deprocessos
em
que foram
realizados estudos sociais.S
Com
relação aos profissionaisdo
Direito, selecionamos O8.Foram
entrevistados
05 advogados
quemantiveram
estreita ligaçãocom
o setor, Ol juizdo
Direitode
F
amília e O2 promotores, sendoque
todoscompõem
asVaras da
Família
do Fórum.
Í
Vale-nos ressaltar que
o
nosso estudo é qualitativo; portanto,não
nosA
amostragem
qualitativa privilegia os sujeitos sociaisque
possuem
atributosque o
investigador pretende conhecer, e considera-osem
número
suficiente para viabilizar certa reincidência das informações. (Minayo, 1993)
Ainda segtmdo
Minayo
(1993, p.35):“(...)
dados
qualitativos trazem,para
o
interiorda
análise,o
subjetivo eo
objetivo, os atores sociais eo
próprio sistemade
valoresdo
cientista, os fatose
seussignificados,
a
ordem
e
os conflitos. ”A
apresentação dos resultadosdo
estudoobedeceu
à seguinte ordem:O
capítulo I -O
Serviço Social e 0Poder
Judiciário - as questõesabordadas objetivam elucidar a ligação
do
Serviço Socialcom
o
Poder
Judiciário,portanto resgata o
Poder
Judiciário e a inserçãodo
Serviço Socialem
suaestrutura, as atribuições
do
assistente social nas Varasda
Família, relacionando- ascom
o Código de
Ética e o trabalho interdisciplinar entre Direito e ServiçoSocial, duas disciplinas atuantes nas Varas
da
Família.O
capítuloH
-Os
usuáriosdo
'Serviço Socialnas
Varas da
Família
- trata das características dos usuários queprocuram
o Serviço Social nasVaras
da
F
amília. Explicitamos o perfil desse usuário,bem
como
resgatamos aproblemática por ele trazida
ao
setor.O
capítulo III -A
metodologia
do
Serviço Socialnas
Varas
da
Família
-busca
elucidar aspectos metodológicosdo
Serviço Social.Realizamos
um
breve resgateda
discussão metodológicaque
penneia a profissão e,em
seguida, elucidamos a metodologia utilizada pelo assistente social que trabalha
com
famílias, através dosdados
coletadoscom
a pesquisa.Por
fim,
apresentamos as percepções dos usuários e profissionais
do
Direito sobre aatuação
do
assistente social, baseadas nosdados da
pesquisa.Pretendemos que
osdados
arrolados neste estudo contribuam paranovas
reflexões e pesquisas sobre a práticado
Serviço Social nas instituições.Finalizaremos este , tecendo
algumas
considerações e sugestões sobre a prática1.1. -
O
PQDER
JUDICIÁRIO
E
A
INSERÇÃO
Do
SERVIÇO
Soc1AL
EM
SUA
ESTRUTURA
“Entre os objetivos próprios
do Estado e do
governo,sempre
se atribuià
Justiçaum
dos mais
altos,senão o
objetivosupremo.
” (Barbosa, 1983, p.l4).A
justiça é obtida atravésdo cumprimento
das leis elaboradas peloEstado, pressupondo-se que
de
maneira diretaou
indireta as pessoas paiticipemdessa elaboração.
O
govemo
deve
manter-se distante de interesses de classes,ou
seja, as leisdevem
ser iguais para todas as pessoas, independenteda
sua condição econômica, social, cultural, política e étnica.“Pode-se dizer
com
segurança
que
o
interesseprimordial
do
homem
sobrea
Terraé
a
justiça.A
fim
de
estabelecê-la
e
mantê-la oshomens
agruparam
e criaram
suas
instituições. ” (Barbosa, 1983, p. 07).A
fim
de que
houvesseum
consenso entre oshomens
sobreo
ideal deff
constitui
em
julgar e fazer aplicar a justiça atravésdo cumprimento
das leis.“A
lei, abstratamente falando,regulamenta o
comportamento
das
pessoas,compulsando-as
a
praticarem
ou não
praticarem determinados
atos,bem como
estipulam
a maneira
pelaqual
outros atosdevem
serealizar.” (Barbosa, 1983, p. 51).
Para a justiça ser administrada,
o
tenitóriodo
estado é divididoem
comarcas, distritos e subdistritos.
Cada
comarca
possuium
Fórum, que
é a sededa
comarca
e reúne estrutura necessária para atender a sociedadecom
suasdemandas
sócio-jurídicas.O
Fórum
éuma
instituição de caráter público, eo
Estado participadiretamente
na
sua condução, pois delepartem
políticas queoperam
no
campo
sócio-jurídico. -
A
estrutura forense écomposta
por Varascomo:
da
Família,Criminais, Cível e
da
Fazenda, possuindo cadauma
dessas Varas,demandas
específicas
que
setornam
passíveis de sentenças judiciais, outorgadas pelosjuízes
do
Direito.“A
priori”, são os juízesque
compõem
as Varas específicasque
julgam
as
demandas
trazidas pelos ustiários.“Uma
decisão judicialpode
modificar
as
vidasdas
pessoas, contribuindopara
sua
integraçãoou
marginalização sociais definitivas,
e
acarreta-lhesFaz-se, nesse
momento,
necessária a intervençãodo
Serviço Socialpara
que
a decisão judicial seja o mais justa possívelcom
a realidadedo
usuário.O
cargo de assistente socialno Poder
Judiciário Catarinense foi criadoem
1972, especificamente para a Justiça da Infância e Juventude, à época,Juizado de Menores.
Concomitante a esse, outros cargos
foram
sendo criados a pedido dosjuízes, e
comprovada
a necessidade.O
Serviço Socialno Poder
Judiciário,atuahnente, está ligado à
Vara da
Família Infância e Juventude e àVara
Criminal.
Nas
Varasda
Famíliada
Capital, o cargo foi criadoem
1981, e semantém
até os dias atuais.Conta
recentementecom
duas assistentes sociais equatro estagiárias.
'
O
Serviço Social nasVaras
da Família é legitimado pela população,que
a ele recorrequando
possui problemas relacionados à família, seja entre oscônjuges
ou
entre estes e os filhos.H
Assim,
como
qualquer outra profissão vinculada auma
organização,o
Serviço Social nas
Varas da
Famíliado
Fórum
possui atribuições específicas.Abordaremos
essa questãono
itema
seguir.1.2. -
ATRIBUIÇÕES
Do
ASSISTENTE
SOCIAL
NAS VARAS
DA
FAMÍLIA
O
assistente social,quando
vinculado auma
organização, possuiatribuições específicas de acordo
com
a áreade
intervenção.Dessa
maneira,o
assistente social, nas
Varas
da
Família,tem
as seguintes funções:-= * _ ff . ~» _. - _ - .‹ ` .- _ \ ¡ `~',_ .: ¡ z
"
. V. - 'Atender situações problemas «específicas, -utilizando a metodologia
,_ ~ À \'
"
_ ›..
'.` ~ i.. . .__ ,._- - ›› ›'›- »~> ~tprópria
do
Serviço Soçial`.`Na
prática _' cotidianado
profissionalz nasVaras da
\ . »« *
Família, este realiza atendimentos individualizados, nos quais
o
usuáriotem
aoportunidade
de
expor a sua problemática,em
sua maioria deordem
familiar ejuridica.
O
assistente social orienta eencaminha
esse usuário, a órgãosextemos
e internos à estrutura forense,
como,
por exemplo: Prefeitura,EMAJ
- EscritórioModelo
de Assistência Judiciária, A.A. - AlcoólatrasAnônimos,
Movimento
Porta Aberta,
Vara
Criminal,Vara
Cível, etc.assistente social
acompanha
casaisem
fase de separação, situaçãoonde
~
emergem
questoescomo
pensão
alimentícia, guarda de filhos, divisão de bens eoutras
de
ordem
emocional.- Realizar perícia social - é o estudo social realizado
em
cumprimento
à determinação judicial, atuação prevista
na
legislaçãodo
Serviço Social,conforme
Decreto n° 994, de 15.05.1962,que expõe
em
seu art. 5°:“A
- aceitar designaçãopor
autoridade judicialpara
atuarcomo
peritoem
assunto desua
competência;B
-informar
o
cliente acercada
finalidadede
sua
atuação
no'*desempenho
d_e_ ,trabalhode
caráter- ` '
pericial; -
,_
C
- agir,quando
perito,com
isençãode
ânimo
e
imparcialidade, limitando seu
pronunciamento a
laudospertinentes
à área de suas
atribuições e competências.”'›
.
O
técnico de“Se1viç`o Social é subordinado ao juizdo
Direitoda
Vara
da
Família e atua__nos~processos detemiinados pelomesmo.
Realizaum
estudo,-;_1 .\ "
social sobre a realidade vivida pelas partes
queconstam
no processo e utilizandoI - ‹ . 5 -Ç _
z . '¡
V I
; z
a metodologia
do
Serviço Social,fomece
subsídios para que o ju_iz_ dê a sentença'/.“.'~* ~- ~'
_ - `›
judicial.
Esse
estudo social é submetido à apreciação do promotor de justiça,advogados
das partes e,quando
sobem
.~. à instância superior (Tribunal de Justiça),sofrem a apreciação de desembargadores e Procuradores da Justiça.
Nas
Varas
\__ ._‹.. _ _
da
Família, écomum
o assistente social realizar estudos sociais nos processos de:transferência de guarda, regulamentação de visitas, separações judiciais litigiosas,
1
pedidos de guarda e responsabilidade e outros.
-
Acompanhamento
de
visitas -em
cumprimento à
determinaçãojudicial,
o
assistente socialacompanha
a visitada
criançaou
adolescente aum
dos paisou
avós,no
local, dia e horafixados
pelo Juiz, afim
de
observaro
comportamento
eo
relacionamento das partes envolvidas. Através de relatório, informará_ ao Juiz as ocorrênciasque
considerar importantes, e apresenta seuparecer.
- Participação
em
audiências -O
assistente socialpoderá
ser intimadopelo Juiz, a pedido das partes, a comparecer a audiências.
Segundo o Código de
Éticado
assistente social - Capítulo VI,que
tratadas relações
do
assistente socialcom
a justiça, dispõeem
seu art.19 o
seguinte:_“b -
comparecer perante
autoridade competente,quando
intimado
a
prestar depoimento,para
declararque
está
obrigado
a
guardar
sigilo profissionalnos termos
deste
Código e da
Legislaçãoem
vigor. ”`
Em
relaçãoao
Sigilo profissional, oCódigo
de Ética dispõeno
art. 16como
decorrênciado
exercícioda
atividade profissional.”Vale-nos ressaltar
que
o Serviço Social,como
prática institucional,deve
voltar-se mais para a realidade de seus usuários,do
que para a simplesexecução de
suas atribuições.No
Código de
Ética,o
art. 8° dispõe que:“c- contribuir
para
a alteraçãoda
correlaçãode
forças institucionais,apoiando
as legítimasdemandas
de
interesseda
população
usuária.”O
assistente socialdeve
tercomo
pressuposto básicode
suaintervenção o atendimento às necessidades dos usuários, sejam elas de
ordem
econômica, social, psicossocial e política.
O
assistente socialtem
sua profissão pautadano Código
de Ética de1993; para tanto, deve zelar pelos princípios
fimdamentais
nele contidos:“ -
Reconhecimento da
liberdadecomo
valorético central e das
demandas
políticasa
ela inerentes -autonomia,
emancipação
e plena
expansão dos
indivíduossociais; '
-
Defesa
intransigentedos
direitoshumanos
e
recusa
do
arbítrio edo
autoritarismo;-
Ampliação
e
consolidaçãoda
cidadania,considerada tarefa primordial
de
todaa
sociedade,com
vistasà garantia dos direitos civis sociais
e
políticosdas
e
classes trabalhadoras;
enquanto
socializaçãoda
participação política eda
riquezasocialmente
produzida;-
Posicionamento
em
favor da eqüidade
e justiça social,que
assegure universalidadede
acesso aosbens
eserviços relativos aos
programas
e politicas sociais,bem
como
sua
gestão democrática;-
Empenho
na
eliminaçãode
todas asformas
de
preconceito, incentivando
o
respeitoà
diversidade,à
participação
de grupos
socialmente discriminados ediscussão
das
diferenças;- Garantia
do
pluralismo, atravésdo
respeitoàs
correntes profissionais democráticas existentes
e suas
expressões teóricas,
e
compromisso
com
o
constanteaprimoramento
intelectual; _r -
Opção
por
um
projetoprofissional
vinculadoao
processo de
construçãode
uma
nova
ordem
societária,sem
dominação-exploração de
classe, etniae
gênero;- Articulação
com
osmovimentos
de
outrascategorias profissionais
que
partilhemdos
princípios desteCódigo
e
com
a
luta geraldos
trabalhadores;-
Compromisso
com
a
qualidadedos
serviços prestadosà
população
ecom
o
aprimoramento
intelectual,na
perspectivada competência
profissional;_- Exercício
do
Serviço Socialsem
serdiscriminado,
nem
discriminar,por
questõesde
inserçãode
classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade,opção
sexual, idadee condição
fisica. ”(Código de
Ética,1993, p.11).
Qz
O
Serviço Social nasVaras
da Famíliamantém
com
o
Direitouma
estreita ligação,
como
tivemos oportunidade de exporquando nos
referimos aosestudos sociais realizados por determinação judicial.
Como
sedá
essainterdisciplinariedade entre
o
Direito e o Serviço Social nasVaras
da
Família é a nossapróxima
dissertação.1.3.
INTERDISCIPLINARIEDADE
ENTRE
DIREITO
E
SERVIÇO
SOCIAL
“Entendendo-se a
interdisciplinariedadecomo
“postura profissional”
e
“principio constituinteda
diferença e
da
criação”compreender-se-á
que
o
Serviço Socialuma
vezque
articula diferentesconhecimentos
de
modo
próprio,num
movimento
crítico entre prática - teoria e teoria - prática -é
uma
profissão interdisciplinarpor
excelência.Assim para o
Serviço Sociala
interaçãocom
outras áreasé
particularmente primordial: seria fatalmanter-se
isoladoou
fazer-se cativo. ” (Rodrigues, 1995, p.157)
O
Serviço Social nas Varas da Família se fortalececom
o respaldo devárias teorias para a intervenção
na
realidade de cada família.Não
possuindouma
metodologia pronta e definitiva para atuarna
realidade, pois a realidadetem
diferentes nuances e estáem
constantemovimento,
é precisoque
o profissionalde Serviço Social se familiarize
com
a área que trabalha para que possaoperacionalizar a sua metodologia de acordo
com
cada realidade .Em
especialnas
Varas da
Família, o profissionaltem
necessidade de entender a dinâmicaHá,
por partedo
Serviço Social,um
trabalho cotidianocom
os usuáriosno
sentidode
orientá-los e encaminha-los, de acordocom
suas demandas. Informações sobre separação,pensão
alimentícia, visitas aos filhos, guarda defilhos, divisão de bens e outras são dadas pelo Serviço Social. Através de
conhecimentos apreendidos
da
áreado
Direito, o assistente social possibilita aosusuários terem acesso aos seus direitos,
bem
como
seus deveres.O
Direito eo
Serviço Social realizamum
trabalho interdisciplinar, poisambos
atuam,na
maioria das vezes, sobreuma mesma
realidade familiar.É
evidente
que
cada disciplinamantém
sua identidade, haja visto que ainterdisciplinaiiedade
não
implica ausência de resposta específica deum
técnicosobre detemiinado assunto.
“A
interdisciplinariedadeprevê
a
relação eo
diálogo entre diferentes áreas
e
não
a
homogeneidade
de
objetivos e métodos,
nem
tampouco que
alguma
disciplinaperca
sua
identidadeou que
hajapredomínio de
uma
sobre as outras. ” (Prates et al, 1995. p. 133).A
interdisciplinariedade éum
tema
bastante atual' eem
fasede
construção de
uma
metodologia de intervenção,sem
que
os técnicosnão
percam
sua especificidade. .
A
mesma
realidade socialpode
ser abordada por diferentes técnicoscomo:
sociólogos, assistentes sociais, antropólogos,advogados
e assimpor
O
que
setoma
imprescindível, é que estesnão
usem
o seu sabercomo
verdadeabsoluta.
No
cotidiano das Varasda
Família, o Direito eo
Serviço Social seengajam
em
situaçõesem
que
o usuário necessita dealguém
que lhes defendano
que se refere a direito de família.O
contato entreadvogados
e assistentes sociaistoma-se mais estreito
quando há
processosem
que o juiz daVara da
Famíliasolicita o estudo social.
Uma
das atribuições dos assistentes sociais nas Varasda
Família é realizar estudos sociais de casos, os quais servirão de subsídios para a
decisão judicial.
O
que ocorrecom
freqüência entre assistentes sociais eadvogados
é oque expõe
claramente Hilton Japiassu (1976, p. 132):U
Acontece
com
freqüênciaque
diferentesespecialistas
atacam
0
mesmo
problema, cada
um
segundo
o
seuponto de
vista próprioignorando
o
que
fazem
os demais.”_
É
visível`i
em
nossa prática cotidiana essedescompasso
entreadvogados
e assistentes sociais, pois o estudo social,como momento
do
método
utilizado pelo Serviço Social, objetiva buscar a realidade vivida por aqueleusuário, e essa realidade é exposta para
que o
juiz consiga decidircom
baseem
fatos constatados, muitas vezes “in locu”.
Esses fatos relatados pelo assistente social
podem
ou não
favorecero
requerente.
Nesse
sentido,não há
um
respeito por parte dosadvogados
com
o
saber
do
Serviço Social, pois esses consideramque
algims estudos sociais sãoparciais,
ou
melhor,há
uma
tendenciosidadedo
assistente socialem
favoreceruma
parteem
detrimentoda
outra.Salientamos
que não
são todos os profissionaisdo
Direitoque
pensam
dessa forma;
há
aquelesque
compreendem
o
trabalho e consideram primordialessa troca
de
informações entre as disciplinas.Admitem
não
possuirum
preparopara trabalhar
com
questões que,além
de envolvero
social mais amplo, envolvetambém
sentimentos.O
número
de estudos sociais solicitados ,pelos juízes é bastanteconsiderável, razão pela qual consideramos
que o
trabalhodo
Serviço Social écompreendido, auxiliando-os a desvelarem casos extremamente complicados.
O
profissionalque
faz parte deuma
equipe interdisciplinar deve teruma
visão dehomem
ede
mundo
bastanteampla
e clara parapoder
situar suaespecialidade dentro de
um
projeto de trabalho interdisciplinar.Dentro
de Luna organização, interdisciplinariedade, parao
estudo e asolução de
um
mesmo
problema
é de extrema importância , pois possibilita asdiscussões e a troca
de
saberes entre áreas diversas , e, consequentemente,o
crescimento recíproco destas.
V
Falar
em
interdisciplinariedade é admitir a existência de vários saberestécnicos e
do
saber popular.para tanto, se faz necessário
que
os profissionais saibam de suas limitaçõesevitando intervenções inconsistentes.
2.1. -
PERFIL
Do
USUÁRIO
_ Entender o usuário e suas características
depende da
visão dehomem
ede
mundo
que
o profissional possui sobre a pessoa “usuán`o”.Durante todo
o
período acadêmico,aprendemos
a conhecero
usuáriodo
Serviço Socialem
sua universalidade,porém
a prática cotidiana nasVaras da
Família mostrou-nos outras características até então
pouco compreendidas
epouco
enfatizadasno
meio
acadêmico._
Falaremos, neste item,
do
usuário das Varasda
família e suauniversalidade,
bem
como
enfatizaremos esse usuáriocomo
uma
pessoaque
possui
uma
identidade,um
cotidiano,um
imaginário,uma
memória,enfim,
um
indivíduo responsável por sua ações.
Segundo Sawaia
(1995, p.10l), afeto, identidade,emoção,
necessidade são questões sócio-políticas, tanto quanto instituição, classe social,relações de poder, trabalho são 'questões subjetivas.
O
usuáriodo
Serviço Social nasVaras da
Farníliaou
de qualquer outra instituição possuimn
perfil generalizado,ou
seja, o usuáriodo
Serviço Social éaquele indivíduo excluído, explorado, subordinado e ignorante
no que
se refere aoacesso a informações. Essas são características
que
perfazem o perfildo
usuário,na
suabusca
contínua,em
instituições públicas, de soluções para os seusproblemas.
O
que geralmenteescutamos
no
meio acadêmico
éque o
usuário éuma
pessoa facilmente manipulada,
que não
possui vontades próprias, e é.uma
“marionete”do
sistema capitalista;É
vítimade
um
sistemaonde há
osque
produzem
as leis e osque
existem para obedecê-la.“Essa
dissociação legitimao
mandar
e
o
obedecer,
o
ter enão
ter e,consequentemente,
a
reprodução
socialem
instituiçõesde
poder,organizando a
sociedade
de
forma
que,de
um
lado,ficam
osque
pensam
e dirigem
a
sociedade e,de
outro, osque
submetem
a
tais determinações. ”(Kaminski
et all, 1995. p. 29).Não
podemos
desconsiderar o aspectoeconômico
e o seupoder
detransformar 'a sociedade e as pessoas,
porém
não
podemos
levar acabo
essedeterminismo econômico, infiltrado nas academias de Serviço Social.
O
econômico
influenciana
vida dos usuários,mas
não
é necessariamente aresposta única para os seus problemas.
O
quepretendemos
deixar claro éque
o perfil dos usuáriosnão
secaracteriza
somente
pela sua condição de “ sermazela do
sistema capitalista”. Possui, antes de mais nada,a
condição de serdono
de sua própria história devida, de sua individualidade e seus vínculos familiares.
“Estudar
osfenômenos
subjetivase
osfenômenos
sociaiscomo
mediações é
colocarem
relaçãodialética diferentes níveis
de
análise:o
intra eo
interindividual,
o
intrae
o
intergrupal,o
intrae
o
intercultural, enfim....,
é
restabelecera
identidade entresociedade
e
homem,
entendendo
que
um
é
igualao
outro,embora
seja diferentedo
outro.É
compreender
que nada
aparece
como
coletivosem
que
'antestenha
sido vivido,subjetivamente,
enquanto
necessidadee
sentimentodo
Eu. ” (Sawaia, 1995, p. 101).
O
usuáriodo
Serviço Social nas Varasda
Famílianos
traz toda essa“bagagem”
do
subjetivodo
vivido.É
partindo dos fragmentosque
os usuáriosnos trazem ,
no
cotidianode
nossa prática, queconseguimos
entender e trabalharas questões relacionadas à família.
A
autoraAlba
Maria
Pinho de Carvalho (1995, p. 26) nos colocaque
o desafio
dostempos contemporâneos
concretiza-sena forma
de lidarcom
o objeto, eno
percurso deprodução
de conhecimento: apanhar a singularidadeda
vida social... resgatar
o
específicoda
experiência humana... trabalhar a açãosocial, as formas de sociabilidade... dar ênfase ao individual...
compreender
lógicas de vida, trabalhando sentidos e significados... estar atento aospormenores, ao
não
dito.. descobrir `o"'escondido,o
implícito.. atentar paraelementos ligados à oralidade, à gestualidade... decifrar sentidos nas entonações,
nos silêncios, nos gestos, nos olhares, nos movimentos... apreender sutilezas
certamente
não
formalizáveis, freqüentementenem
sequer traduzíveisem
nível verbal... seguir pistas, sinais aparentemente insignificantes... sentir sentidos,perceber significações... reconstruir fragmentos.. exercitar o olhar “clínico”...
trabalhar
o
sujeito, as emoções, as paixões, os desejos... resgatar o patrimôniodiversificado entre
homem
e mulheres, inseridosem
contextos distintos epeculiares... trabalhar subjetividades e trabalhar-se subjetivamente...
compreender, interpretar, elaborar versões.” '
Resgatamos
a autora Carvalho devido ao fato de quedesvenda
caminhos
para apreender o perfilque
o usuárionos
mostra, que é o seu perfilsubjetivo.
Cotejamos
o usuário entendidoem
sua universalidade eo
usuárioentendido
em
sua singularidade parademarcarmos
que o perfildo
usuárioque
trabalhamos nas Varas
da
Famílianão
ésomente
aquele queapreendemos
adistinguir
como
explorado,ou
como
qualquer outradenominação
que o simbolizecomo
vítimado
sistema capitalista, mas, sim, aquele usuário que sofre, que ama,que
tem
inúmeras dificuldades deordem
familiar e que busca desesperadamentesua identidade.
O
usuário das Varasda
Familia é aquele que busca respaldo,em
~
nossa açoes, para os seus problemas mais subjetivos.
2.2. -
A
PROBLEMÁTICA
Dos
UsUÁmos
A
problemática trazida pelos usuáriosdo
Serviço Social nasVaras
da
Familia está relacionada aproblemas
deordem
familiar, eque
são vividos esentidos de diferentes maneiras pelos usuários. Falar de famílias
ou de problemas
familiares é falar de algo carregado _de significados afetivos, carregado
de
representações, opiniões, valores, juízos e expectativas atendidas
ou
não.Segundo
Carvalho e Pereira (1994, p. 06), falar de família érememorar
a
nossa
identidade e o nosso espaço mais íntimo de existência.É
tocarno
locusque
dá origem
à nossa história.Portanto,
compreendermos
a problemática familiardo
usuário suscitaque façamos
um
resgate sobre família, casamentoou
união estável, separação esuas conseqüências.
Qual
o papelda
familia? Quais são as perspectivas? Quais osmotivos
que
levam
a mulher eo
homem
a se unirem?Como
é vivida a separaçãopelos cônjuges? Esses questionamentos se
fazem
pertinentes a partirdo
momento
G2'
em
que a
família tem-se transformado e vividomomentos
de crise.FAMÍLIA
“Se quisermos
fazerdo
mundo
0
nosso
lar,devemos
terum
larno mundo.
” (Hellerapud
Carvalho,
1994, p. 07).
A
família éo
“berço” de todas as nossas descobertas.É
na
relaçãoem
família
que nos
descobrimos eque
nos desenvolvemos.A
nossa identidade, onosso
afeto, a nossa subjetividade se constróemna
convivênciacom
a família.Através desse amadurecimento,
com
a ajudado meio
familiar, éque conseguimos
sair
do
espaço privadoque
é a familia, a casa, para enfrentarmoso
espaçopúblico. Esse espaço público significa
o
espaçodo
mundo
da
relaçãointerpessoal,
da
relação intergrupal e intercultural.É
forado
âmbito familiarque
nos
deparamos
com
a realidade de várias pessoas quepossuem
valores, crenças eobjetivos
de
vida diferenciados.Salientamos
que
os espaços privado e público são vividos pelosmembros
da
família concomitantemente e, portanto, a família reflete astransformações oconidas
no
espaço públicoda
interrelação entre ohomem
e asociedade,
bem
como
atua sobre essas transformações.A
familia e seusmembros
são dinâmicos, são
compostos
de necessidades e ambiçõesem
relação aomundo
. _.-...¢»|..
A
familia vive atualmenteum
dilema que é a conquistada
individualidade de seus
membros, da
igualdade, e, consequentemente, entraem
crise, pois' separar o individual
do
coletivo éuma
tarefa árdua.“O
problema da
nossaépoca
é, então,o
de
compatibilizar
a
individualidade ea
reciprocidadefamiliares.
As
pessoas
querem
aprender,ao
mesmo
tempo,a
serem
sóse
a
“serem
juntas”. ” (Sarfi, 1995, p. 43).Segundo'
Andolfi
apud
Andolfi
et al (1989, p.22) a famíliapode
ser vistacomo
um
sistemaem
constante transformação evoluindo, graças a sua capacidade de sua própria estabilidade e, então, recupera-la através deuma
reorganização de sua estruturacom
novas bases.A
família,como
um
sistema aberto, experimenta pressões
em
direção àmudança,
tanto intemamente,através dos papéis de
membros
individuaisda
familia, satisfazendo as exigênciasde seus ciclos de vida,
como
externamente, através das exigências sociais.Os
estímulos internos e externos e a conseqüente necessidade de
mudança
exigem
que
osmembros
da
familia avaliem continuamente suas relações e reavaliemo
equilíbrio entre unidade familiar e crescimento individual.
CASAMENTO
“O
casamento
não
surgiusem
mais
nem
menos.
Foi
criadopelo
homem,
para
atendersuas
necessidades.__j',
O
cotidiano de nossa prática nas Varasda
Família possibilitou-noscontato direto
com
casais, enfrentando necessidades pessoaisque
se traduziamem
conflitos conjugais, e contribuiu para quepudéssemos
entender essesconflitos
além
do
que é exposto pelo casal,ou
melhor, a questão nodal éque
osproblemas conjugais objetivos
como,
por exemplo,má
condição financeira por motivo desemprego,que
dificulta amanutenção da
família e, consequentemente,repercute
no
relacionamento conjugal. Esses problemas objetivos são facilmenteexpostos pelo casal,
porém,
oque
constatamosem
nossa prática, éque além
desses problemas objetivos existem outros que
não
são expostos claramentepelos casais. Assim, nossa prática exigiu-nos que entendêssemos
o
que está portrás de
um
relacionamento conflituoso,ou
seja, quebuscássemos
entendero que
não
se mostra objetivamente.Por
essa razão, resgatamos ocasamento
e suasmotivações,
como
a paixão,a
fim
de que pudéssemos compreender que
osconflitos conjugais são
também
conseqüências deuma
paixão.O
homem
tem
necessidade de viverem
companhia,tem
necessidadede
partilhar
com
alguém
seusmomentos
de felicidade e de tristezas.A
identidadedo
homem
se constróiem
sua relaçãocom
o outro, que lhe ésempre
pontode
referência.
A
relação entrehomem
e mulherbusca
a reciprocidade,o
encontrodo
outro
que
propiciao
contornodo
Eu.Essa
relaçãohomem/mulher
almeja acomplementariedade.
“Na
paixão
amorosa
espero encontrar esse serque
me
completa, cujos desejossão
osmeus
desejos - esteser
é
iguala
mim
eque chegou para
me
salvarda
condição
solitária... ” (Kehl, 1995, p. 479).A
pessoa apaixonada cria expectativasem
relação ao outro que, muitasvezes,
não
são supridas, ocasionando fiustrações.“O
outronão
pode
estarsempre; o
outronão
pode
dar
tudo; eo
que é
pior:eu
não
posso
lhedar
tudo.”(Kehl, 1995, p. 479).
O
homem
e a mulher,quando
seunem,
se casam, são motivados pelapaixão; essa paixão,
com
o
decorrer da convivênciado
casal,pode tomar
rumos
opostos; ela
pode
se transformarem
amor
ou
em
“mortedo
outro”.Quando
nosreferimos a morte
do
outro, referimo-nosno
sentido de que a paixãopode
sufocar
o
outro,como,
por exemplo: atravésdo
ciíune demasiado; fazercom
que
o
outro viva aminha
vida e esqueçada
sua, e a conseqüente perdada
identidade.Entender a relação entre
homem
emulher
é entender o significadoda
paixão, essa paixão
que
pode
trazer conseqüências arrebatadorascomo
asque
citamos acima.
~
Segtmdo Kehl
(1995, p.481), a paixãopode
transformar ódioem
amor,amor
proibidoem
repulsa, desejo sexual perversoem
nojo.Faz-se visível
em
nossos atendimentos, nas Varasda
Família, depessoas vítimas dessa paixão
que não
se transformouem
amor,quando
a pessoa supostamenteamada
é vítima de “agressões”em
sua identidade,em
seussentimentos e agressões
em
seu sentido mais corriqueirocomo
violência fisica.É
primordialem
nossos atendimentosque entendamos que
a união deum
homem
euma
mulher
tem
como
força propulsora a paixão, e compreendê-lanos possibilita vislumbrar
melhor
o que éo
casamento ecomo
trabalhá-loem
situações de conflitos conjugais nas Varasda
Familia. Gostaríamos de abrirum
parêntese para explicannos
que
os casais atendidos nas Varasda
Famílianem
sempre
são casados legahnente.Vivem
uma
união estável, porém, casadosou não
legalmente, eles se
apaixonam
evivem
uma
vida a dois; por essa razão, tratamoso
casamento
como
uma
união entrehomem
e mulher independente de aparatoslegais.
“Filósofos
há
que concebem
afetosem
nós
conflitantes,
como
víciosem
que
caem
oshomens
por sua
própria
culpa.Por
isso,costumam
rídicularizá-los,deplorá-los, censurá-los
e
(quando querem
parecer
mais
santos) detestá-los.
Acreditam proceder divinamente e
elevar-se
ao
cume
da
sabedoria prodigalizando todo tipode
louvora
uma
naturezahumana
que,em
parte, existe,machucando-
com
seus ditos aquelaque
realmente
.é .Concebem
oshomens
não
como
são,mas como
gostariam
escreveram
sátira e,em
política, quimera, convenienteao
paisda
Utopiaou da
Idade do
Ouro
dos
poetas,quando
nenhuma
instituição era necessária(...) Tive todocuidado
em
não
ridicularizar aspaixões
humanas,
nem
lamentá-
las
ou
detestá-las,mas
compreendê-las. ” (Espinosaapud
Chauí,
1995, p. 47).Considerando, segimdo Espinosa,
que
a paixão deve sercompreendida
e
não
ridicularizada , analisamos ocasamento
sob esse ângulo.SEPARAÇÃO
E
sUAs
coNsEQÚÊNc1As
Entender os vários motivos
que levam
à separação deum
homem
e~ ~
uma
mulher
toma
o
estudo sobre separaçao bastante extenso e complexo, razaopela qual tentaremos abordar essa questão
da melhor
maneira possível.Como
abordamos
anteriormente,o casamento
é impulsionado pelapaixão
que pode ou não
transformar-seem
amor.Segimdo
Péret citado porKehl
(1995, p. 484), é possívelque
o
encontro entrehomem
e mulher ultrapasse asdemandas
iniciaisda
paixão, asdemandas
de fusão totaldo
amor
narcísico,do
amor/morte e encontreo
amor
sublime.
O
amor
sublimenão
abremão
da
paixão,mas
sabe transformaro
impossível
da
paixãoem
possibilidades de troca simbólica.É
quando
o outro falacomigo, é
quando
dois universos simbólicos se tocam, se interpenetram,frutificam, se potencializam; é nesse caso
que
a paixãopode
setomar
aliadado
amor.
Dessa
maneira,o
amor
dentro deum
casamento implica apoio mútuo,respeito mútuo,
compreensão
mútua,uma
troca euma
constante realimentação.Segimdo Matarazzo
(1992, p. 17), ocasamento
não vai depender sóda
escolhado
parceiro,mas
decomo
as pessoas caminharão juntas pela vida.Essa
caminhada
deuma
vidaa
dois é repleta de surpresas e frustrações.As
fantasiascriadas por
ambos
os cônjuges vão-se dismitificando; fatores internosou
extemos
aocasamento
atuam
sobre as fantasias.As
crises internas,no
casamento,
advém
deproblemas
entre os própriosmembros
da
família, seja entreos cônjuges
ou
destescom
os filhos.A
buscada
individualidade e, aomesmo
tempo,a busca do
“nós”,têm
sidoum
dos motivosdo
desgaste familiar. Lutarpelo
espaço no
mundo,
pela individualidade, pela descobertado
Eu, setoma
complicado quando
se vive essabusca
a doisou
a três....A
falta deamor
entreos cônjuges
também
contribui para esse desgaste etoma
cadaum
deleso
“carrasco”
da
“prisão”em
que
se transformao
casamento.Os
fatoresextemos
também
atuam
com
grande intensidadena
relaçãoconjugal.
A
luta constanteda mulher
pelos seus direitos iguais aos doshomens,
asonhada
igualdade entre gêneros, ocasionando a emancipaçãoda mulher
emudanças
em
seus papéis, reflete-se nitidamenteem
sua relação conjugal.A
mulher
tem
ocupado
espaçono
mundo
público através de sua entradano
mercado
do
lar, atravésda
sua renda.Em
contrapartida, oshomens
vêm
sofrendouma
crise
de
identidade,não
sabem
se continuam a viver a sua condição de provedore de
figura
autoritáriaou
se tentam viver o papel de ativos e participantes dasatividades domésticas e
da
criação dos filhos.A
criseeconômica que
vem
assolando o paístambém
tem
contribuídopara
um
desgastedo
relacionamento conjugal.Ambos
os cônjuges, preocupadosem
manter
sua família,buscam
desesperadamente assegurar seus empregos,mesmos
que
estes exijam dedicação total emenos
tempo
para a família.Há
uma
dubiedade nessa questão: se perder
o
emprego,não
conseguemanter
a família; setem
um
emprego, é preciso mantê-lo, independentedo que
este acarrete para omeio
familiar. Diante disso, os cônjugestêm
se mantidonuma
“cordabamba”.
Destarte,
o
grande mitodo
casamento: “Atéque
a morte os separe”, sedismitifica e vira
uma
utopia diante da realidade vivida pelos cônjuges.Atualmente,
não
ésomente
amorte que
ocasiona a separação,mas também
a
tensão desses fatores.
Os
casamentos
tomam-se
espaços vazios e as pessoas, pormedo
da
separação, utilizammecanismos
de compensação.Segundo Matarazzo
(1992, p. 16), as pessoas, tentando se defenderda
dor,
comem
demais,bebem
demais ou
se drogam, trabalhamdemais
ou
serefugiam
em
um
mundo
de
fantasias,vendo
dez novelas por dia. 'Um
outromecanismo
decompensação
constatadona
relação conjugalsucedido.
Separar-se implica perder parte
da
identidade; tudo aquilo que foiconstruído
com
risos e lágrimas, casa, família,amigos
mútuos, tudo sedesmorona
~
em
tomo
do
casalem
separaçao.Antes
de chegar a separação de fato,0
casal passa por periodos decrise conjugal,
onde
questionamentos sobre a vida a doispassam
a ser discutidas,porém
não
implica,na
maioria dos casos, a solução desses questionamentos.Há
casais
que conseguem
superara
crise conjugal,buscando
muitas vezes ajudaem
instituições,
como
as Varasda
Família.Porém; há
aqueles para os quaiso
únicocaminho
é a separação, poisa
relação se desgastoucom
os problemas vividos e, nesses casos, osmecanismos de compensação
jánão
mantêm
maiso
casal jtmto.Enfatizamos
que cada
família reage diferente à separação,porém
nossa atuação enquanto profissionais de Serviço Social requer quetenhamos
claras as particularidades dessas famílias e dos seus conflitos paranão
termos a tendênciade
homogeneizar
a família e sua problemática.A
separaçãocomo
solução para as crises conjugais suscita outrosproblemas
como
pensão alimentícia, divisão de bens e guarda de filhos,que
dificultam ainda mais orompimento
entre os cônjuges.A
questão dapensão
alimentícia para a mulher, atualmente, é bastantediscutida,
do
ponto de vista jmídico, pois direitos e deveresnuma
relaçãoPorém,
oque
se constatana
sociedade igualitária, são duas categoriasde mulheres. Aquelas
que
são independentes e disputamcom
oshomens
omesmo
espaço e aquelasque foram
criadas para serem boasdonas
de casa, boas esposas e boas mães.Segundo
Malheiros (1994, p. 72), muitoembora tenhamos
atingidoo
plano ideal da igualdadeno
nível legal,no
âmbito da realidade essa igualdadeainda está distante.
Em
relação à colocaçãodo
autor, consideramosque
aigualdade ainda
não
é vividana
realidade, poisno
que se refere àpensão
devida,há
todauma
carga emocional, fazendocom
que muitas vezes, mulheresemancipadas
e independentesdo
marido, apenas por “vingança” exijam dele tudo aque
tem
direitoou não
_ Para muitas mulheres, a pensãotem
opoder
deressarcir
o “mal” que
os ex-companheiros lhes fizeram.A
pensão
então éuma
forma de
punição. '. «
~
Uma
outra reaçãoda mulher
é abdicar de' tudo, inclusiveda
pensao,em
nome
da
liberdade. Diante disso, constatamos que a pensão está relacionada aosmotivos
da
separação,ou
melhor, aquem
foi culpado pelamesma
ter ocorrido.A
igualdade, nessas situações,fica
em
segtmdo plano, pois as mulherespodem
não
depender financeiramente doshomens,
mas
a dependência emocionalexiste e é muito preponderante
no
momento
da
separação. _Malheiros (1994, p. 73)
expõe
que, sendo amulher
muitojovem
eA
pensão
alimentícia é concedida, esem
sombras de dúvida, aos filhosmenores
dessa união.A
pensão
aos filhos éum
direito adquirido pela criança,do
qual
o
pai emãe
não
podem
abdicar.“A
palavra alimentos significa aquiloque
é
necessário
ao
sustento, vestuário, habitação,cura
de
moléstias e,
em
se_ tratandode
beneƒiczariomenor,
a
instrução e
a
educação. ” (Malheiros, 1994, p. 71).A
divisão dos bens édemasiadamente
discutidano
momento
da
~
separaçao.
Nessa
questão, além- de ser relevante o. aspecto econômico,o
emocional interfere muito
no
momento
da
partilha.“A
divisãodos bens costuma
ser investidade
forte
carga
emocional, expressapor
condutas às
vezesbastante diferentes
do
modo
habitualda reação
da
pessoa
.Comumente,
há
muita mesquinharia
por
ocasiãode
repartir
bens
e objetos, inclusive' osde
menor
valor (nem
sempre
estáem
jogo
a
questãodo
“valor estimativo”).”(Maldonado,
1991, p. 113).No
cotidiano das Varasda
Família,nos
atendimentos a casaisem
fasede separação,
são
constatados casosem
que
amulher ou
ohomem
não
abrem
mão
de objetosque
têm
grande valia parao
outro.Em
vista disso, surgeum
impasse entre as partes, pois
um
não
abdicaem
nome
do
outro. Destarte, adivisão
de
bens dificilmente ocorre de maneira pacífica entre os cônjuges.fl