UNIVERSIDADE
FEDERAL
DE_SANTA,
CATARINA
CENTRO
DE
FILOSOFIA
E
CIENCIAS'HUMANAS
DEPARTAMENTO
DE
'GEOCIENCIAS
-CURSO
DE
MESTRADO
EM
GEOGRAFIA
' rà- I.
A COOPERATIVA
COMO
INSTRUIVIENTO
DE
IWLHLANÇQINCIESP¢@XDIU3RAWUC)DC)
MUNICIPIO
DE
SANTA
ROSA
-RS
MIGUEL MAT/AS
UTZ/G
MULLER
FLoR|ANÓPoL|s
-sc
A
COOPERATIVA
COMO
INSTRUMENTO DE
MUDANÇA
No Eseâço
AGRARIO
Do
MUNICIPIO
DE
SANTA
ROSA
-RS
Dissertação submetida
ao
Cursode
Mestradoem
Geografia. Áreade
Concentração Desenvolvimento Regionale
Urbano,do
Departamento de
Geociênciasdo
Centrode
Filosofia e Ciências
Humanas
daUFSC,
em
cumprimento os requisitos necessários a obtenção
do
Titulode
Mestreem
Geografia
sob a orientação
da
Profa. Dra WalquiriaKruger Corrêa.
FLORIANÔPQLIS
SC
Dezembro
~1997“ Í
`
A
COOPERATIYA
COMO
INSTRUMENTO DE
MUDANÇA
`NO ESPAÇO AGRARIO DO
MUNICIPIO
DE
SANTA
ROSA
-
RS'MIGUEL MATIAS
UTZIG
MULLER
Dissertação submetida ao Curso de Mestrado
em
Geografia, Concentraçãoem
Desenvolvimento Regional e Urbano,
do
Departamento
de
Geociências do Centrode
Filosofia e Ciências
Humanas
daUFSC,
em
cumprimento aos requisitos necessáriosà
obtenção do grau de Mestre
em
Geografia.Profa. Dra. Leila Christina Duarte Dias
Coordenadora do Curso de
Pós Graduação
em
Geografia
~
APROVADA
PELA
COMISSAO EXAMINADORA
EM
12/12/1997Dra.: Walquíria Kruger Corrêa - Orientadora
K
¿
Í8 '
PÍÊ
Iatfi -MembI`OMsc. Ivo
Sos
issoL
Eu
apenas
estavacomeçando
(0Mesti'ado),' você -
sem
eu
saber, já tinhaterminado a missão nesta esfera.
O
seu
mundo
me
ensinouque
“tudo égrande
enada
é
impossível”.O
viver independede
como
o fazemos,porque este, torna a vida especial
e
cadamomento
é
único.Mais
do
que nunca
sentia . a suaausência.
Mas, a
minha saudade
lhe fez presente,porque só estão "desaparecidos" os
que
vivemem
nosso
coração.AG
RAIÊEÇMÂENTOS
Gostaria
de
agradecer a todos,que souberam
com
suacompreensão
entender osmomentos
de aflição, assim tornando possível arealização deste ideal.
Em
especial, agradeço:À
Elaine, Cláudio Roberto e Clarice, pela união e alegre convivênciaque
se tornaram os pressupostos necessários para prosseguir na jornada, e,com
seus exemplos, mostraramque
um
“idealnunca
é inatingível”.Ao
João
Pias,que
pela constante preocupação ecom
seu exemplo, demonstrouque
é “errandoque
se acerta e pela persistênciaque alcançamos
os objetivos”. `
À
familia,que
éexemplo
de luta e coragem, e fizeram-nos olhar omundo
com
olhar critico. E,mesmo
não entendendo
nossa aflição, respeitarama "divergência "
de
mundo
e futuro. Por isso, o ideal alcançado é a resposta
da
longa trajetória percorrida - a realização está na certeza do acalento.À
orientadora., Profa. Walquiria, por acreditar na nossa própriasuperação e por
não
cansarde
repetir:"você
tem demonstrado
crescimento”.
Aos
professores e colegasdo
Mestrado de Geografiada
Universidade Federal
de
Santa Catarina e , em- especial, à secretária Marli.Aos
professores da Universidadedo
Rio Grande: César A. A.Martins; Dário
de
A. Lima; Jaci Saraiva e à Coordenadorado
Cursode
Geografia, professora
Susana
S. Rangel, pela atençãode
sempre.À
amiga
Teca: quantas vezes fostes força e paciente. Ah!Quantas
vezes
minhas
queixas beiraram o insuportável, quantos problemas pareciaminsolúveis. E, acima
de
tudo, -pelacompanhia
e discussão filosóficasem
um
fim conclusivo.'
“
Aos
amigos
Almir, Marisol e àpequena
e- iluminada Emanuelle,nem
o
tempo
e a distância conseguiram apagara
amizade.Rosilete, pelo estímulo
de
sempre.À
Manu, que
mesmo
na '°ausênc¡a"sempre
se fez presenteem
nossos sonhos e negações.
Às
instituições: _Cotrirosa, Sindicatos, clubes, associações ePrefeitura Municipal
de
Santa Rosa..Ao
professor FabioRodrigues
pela correção gramatical e aprofessora Márcia Silveira pela tradução.
Aos
identificadose anônimos que
se dispuseram a opinar sobrenosso tema.
Apesar da
valiosa contribuição, não .cabe e elas as eventuaisfalhas e limites deste trabalho.
Por fim, aos "expropriados
cooperados” que
se aburguesaramno
meio urbano, por isso, imaginam e fantasiam
serem
“diferentes”que
oscolonos. Porém,
esquecem
que
igualmente säo expropriados pelo capital eRESUMO
O
padrão agrário moderno, difundido no Brasil a partir dadécada
de sessenta,tem
como
protagonista as corporações capitalistas das quais sesobressaem
as cooperativas empresariais
que
se desenvolveramcom
amplo
apoio politicoe financeiro
do
Estado. Para avaliar empiricamerite zaação do
cooperativismoempresarial na organização do
espaço
agrário, e aconcepção
quetem o
associado do sistema, elegeu-se o municipio de Santa
Rosa
(RS),onde
foiinstalada a Cooperativa Triticola Santa
RosaLtda.
-COTRIROSA.
Além do
trabalhode
gabinete, efetuou-seuma
pesquisade
campo, entrevistandoprodutores locais e pessoas vinculadas a agricultura.
Na
história de vidado
colono, constata-se
que
aCOTRl.ROS'A
configura-secomo
instrumentode
mudança
sócio-espacial.A
cooperativa se torna articuladora entre omoderno
capital, à agricultura e o Estado, transformando-se tanto
em
instrumentode
apoio à consolidação
do
capitalismo na agricultura,como também
'das novasformas de representação politica dos interesses locais.
O
corpo social doscooperados é heterogêneo, e os interesses no sistema são adversos.
Os
produtores familiares tecnificados objetivam obter crédito, aumentar a produção
e a atualização tecnológica.
Os
produtores pauperizadosou
"marginalizados",correspondem à maioria dos associados.
A
faltade
capital os marginalizado
processo produtivo e sua sobrevivência é garantida pelo assalariamento
The
modern
agrarian standard spread- in Brazil in the 60's,have
as the maincharacter the capitalista corporationt, with highlight on the cooperating
enterprise, which developed, with a wide financial and political back
up
of the Estate. ln order to assess, in na impirical way, the action. of the enterprisecooperativism in the organization of the agrarian Space
and
the conception theassociate has in system
was
chosen
the city of SantaRosa
(RS)where
itwas
settled the
COOPERATIVA
TRITÍCOLA
SANTA
ROSA
LTDA.
-
COTRIROSA.
Beyond
the official work, itwas
made. acampus
research, interviewing farmersand
people related to the local agricultura.In the life history of the farmer, it's clear that
COTRIROSA
is a tool of socialand
spacial changes.
The
cooperativabecomes
the link between themodern
capital, agriculture
and
the Estate, being as a back up instrument to a capitalismconsolidated in agriculture, as the
new
forms of political representativeness ofthe local concernings.
The
socialbody
of themembers
is variedand
the systeminterests are adverse the familiar farmers with technical knowledge aim to get
credit, increase the production, the technological upclating.
The
poor farmers osprejudiced correspond to the majority of the associates_
A
lack of capitaldamage
them
in joining the productive processand
their survival is guaranteedHINO
DE
SANTA
RQSA
Retrate
que
maravilhaA
nossa exposição,Produto
de nosso
chão,Esforço
de
nossa gente.Velhos, maços, inocentes, Plantanclo e bendita soja)
Retrate
o
teu SantaRosa
Levando o
Brasil pra frente!Berço
do
trigo e da soja.Nosso
ourocomo
quilate,Agricultural
sem
embate,Santa
Rosa
varonil.Vosso céu é
mais anil,Mais se vive a natureza,
És
um
mastro das riquezasDa
estruturado
Brasil;Te
Imp/eramos,São Pedro
Padroeiro
do
Rio Grande,Que
a SantaRosa
nosmande
Umrcéu
limpo, corde
anil,Que
aenxada
seja fuzil,Neste
campo
de
peleja,E
que
o RioGrande
sejaO
celeirodo
Brasil.|NTRoDUÇÃO
... ..CAPÍTULO
1,
1
A
FORMAÇÃO
ECONÔMICA
DO
ESPAÇO
GAUCHO
... ._1.1
Ocupação
territorial egênese da economia
... ... ..1.2
A
formação das colônias e o desenvolvimentoda Economia
... ..CAPÍTULO2
2
O
PAPEL
DO
ESTADO
NO DESENVOLWMENTO DO
COOPERATIVISMO
NO
RIO
GRANDE DO
SUL
... ..2.1
A
gênese
do cooperativismo nas colônias gaúchas...` ... ..2.2
O
papeldo
Estadono
desenvolvimentodo
cooperativismoempresarial ... ..
cAPíTuLo_
3 ~3
MuNlc|P|o
DE
SANTA
ROSA;
ocuPAÇAo
E
DESENvoLv|MENTo
EcoNÓM|co
... ..CAPÍTULO
44
A
E|viERGÊ_NclADA
|_AvouRA EMr>REsARiAL
E
A
(RE)oRGANl2AçAo
oo
ESPAÇO
AGRARlo
EM
SANTA
ROSA:
1960A
1997 ... ... ..CAPÍTULO
55
A COTRIROSA
COMO
INSTRUMENTO
DE
MUDANÇA
SÓCIO-
ESPACIAL
NO
MUNICIPIO
DE
SANTA
ROSA
... ..5.1
COTRIROSA:
histórico e poder decisório ... _.5.2
O
produtor rural e sua relaçãocom
aCOTRIROSA
... ..CONSIDERAÇÕES
FINAIS ... ._BIBLIQGRAFIA
... .. Página 1325
25
3246
46
54
82
106 119119
130
153 163RELAÇÃQ
DE
QUADROS
01
Número
de
Cooperativas Mistasque
deixaramde
funcionar no RioGrande do
Sul: 1950 a 1980 ... ..69
02
,Evolução
do
número de
Cooperativas no RioGrande do
Sul: 1981 a1990
7703
Participação
do
CooperativismoGaúcho
na Produção Agropecuária: (%):1987 a 1990 ... ..
78
04
Nacionalidade da população
em
Santa Rosa: 1920 ... ._89
05
'Produção agricola
em
toneladasdo
Municipiode
Santa Rosa: 1939 a1950 ... ..
98
06
Principais culturas
do
Municipio de Santa Rosa, área utilizada (ha) eprodução(t):1960a1995,., .... ... ... ... .. 109
07
Distribuição
do
número
e área dos estabelecimentos rurais por categoriasdimensionais (%)
-
Santa Rosa: 1975 a 1985 ... ._ 11208
Evolução
do
número de máquinas
e instrumentos agrícolasdo
Municípiode
Santa Rosa:1960
a1990
... ._ 11409
Distribuição
da
terra entre os associados daCOTRIROSA
... .. 12310
Área
da
propriedade,número de
produtores e renda familiar mensal noSanta Rosa: comercialização e arm»azen~azmento da produção agrícola
pelos produtores marginalizados e teoni'f¡<:ad'os (%)~ ...
146
12 '
Empregados
permanentes (EP), temporários (ET) em .biscates (BI), naRELAÇÃO
DE
MAPAS
MAPA
01Localização dos Municípios
de
Rio Grande,Viamão
e Rio PardoMAPA
02
Unidades
do
ReievoGaúcho
... ..MAPA
03
Localização
da
Sede
do
Municípiode
SantaRosa
... _.MAPA
04
.
Após
meados
dos anos sessenta, no contexto daexpansão
capitalista na
economia
brasileira, dizfund'i,u~-se- o_co,operativismo empresarial, oqual
pode
ser consideradoum
dos elementosque
viabilizou as transformaçõesno setor agropecuário nacional. '
Para G-RAZIVANO
DA
SILVA
(1982), o processo da industrializaçãodo
Brasil é o último sentidodo
desenvolvimentodo
capitalismo« nocampo,
istoé, a sua própria industrialização; desta forma, transformando a terra
em
elemento
do
capital e produto das relações sociais.A
partir daí, a terra ficariasubordinada aos interesses
do
capital industrial e financeiro. isso significa-dizerque
a industrializaçãoda
agriculturapromoveu
a elevaçãoda composição
técnica
da
unidade produtiva e a crescente subordinação da terra aos interesses do setor industrial e financeirosO
Estado teveum
papel fundamental: naquele processo criandomecanismos, sobretudo políticos e financeiros para transformar a
base
tecnológica agrícola. Assim,
no
bojodo
cooperativismo empresarial,em
meio aI4
ser observados tanto na organização
da
produçaocomo
na (re)ordenaçâodo
espaço
rural, ParaOLlVElRA
(199t1:22) “.,.cada formação econômica-socialconcreta revela
no seu
interior esse processo desiguale
contraditório espaciale temporalrnenie".
O
cooperativismodeve
ser enfocadono
ambito econômico, político eideológico.
No
plano econômico, a» cooperativa necessitada
rentabilidadedo
lucro e
da
competitividade para atender as necessidades da sociedadecapitalista, conseqüentemente
sua
sobrevivênciadepende
da concentraçãoda
renda.
O
aspecto politiconão pode
ser dissociadodo
econômico,ou
seja, osistema leva
em
consideração os interesses da sociedade capitalistaem
detrimento
do
associado. `A
dimensão
ideológicado
cooperativismopode
ser percebida napolítica
de
apaziguamento das tensões sociais e representauma
alternativapara
uma
convivência salutar.Embora
existam desigualdades sociais eeconômicas
entre os associados, o discurso ideológico da cooperativa tem seconstituido
em
"atenuadorda
crise".O
movimento
cooperativista noz RioGrande do
Sul remontaao
iníciodo
século XX,quando
oGoverno
tenta organizar os produtores rurais econtrata técnicos europeus para implantar cooperativas nas colônias italiana e
alemã
fundadasna
área. Assim, iniciou o “cooperativismo colonial”,comerciantes locais intermediários
na compra
dos produtos coloniais. Todavia,o sistema cooperativista
não
prosperouâ por faltade
um
efetivo apoio estatal".No
limiar dadécada
de trinta, retomou~se o» cooperativismocomo
resposta
da
"descapita/izaçäodo
Colono”. Estes, objcetivavam recursosfinanceiros para suprir sua deficiência
de
capital para melhorar a propriedade eo processo produtivo.
O
Estado., porSua
vez. almeiava desenvolver o parqueindustrial brasileiro para substituir as imzportações, por isso, dava
pouca
atenção às atividades agrícolas voltadas para o abastecimento interno. Diante
da
indefiniçãode
uma
política creriiticia o.movimento
cooperativista maisuma
vez
não
prosperou.Em
1936
o Ministério da Agricultura, pela Lei 199, autoriza aabertura
do
crédito para comprarmáquinas
e equipamentos agrícolasobjetivando aumenta-r a produção.
de
trigo,com
vistas a satisfazera crescentedemanda
interna.No
processo, o cultivoda
triticultura criavamercado
paramaquinários em insumos químicos, os quais até a
década
de cinqüentaeram
supridos por importações.
Na
mesma
perspectiva,em
1944
oGoverno
implantou o Serviçode
Expansão do
Trigo - SET, eem
1957, atravésdo
decreto Lei ng 41.490, crioua
Comissão de
Organizaçãoda
Triti_cultu_ra ~COTRIN.
If)
trigo criou
mercado
favorável para oconsumo
de máquinas
e insumosagrícolas. Tais- necessidades
eram
supridas por importações.Com
ayinternacionalizaçäoda
indústriano
pais, a produçãode
trigose constituiu
como
alvoda
modernização tecnológica, e isto se refletiuna
ampliação da produção.
Em
função disso, torna-~se necessário melhorar a infra-estruturade armazenamento
e regularizar of processo.de
comercialização.O
Estado assumiu a comercialização e oarmazenamento
daquelecereal, via difusão do cooperativismo. Esta questão para o Estado era
de
grande importancia, pois a vinculação dos produtcres rurais
em
tornode
uma
cooperativa lhe possibilitava o controle
da compra
me davenda da
produção.A
modernizaçãodo
processo produtivo agrícola imbricouno avanço
das relações capitalistas e
na
recriação das relações não-capitalsitas. Estenovo processo produtivo contou
com
os interesses da difusão espacial das corporaçõesfl aliado a intervenção e controle estatal.'
O
caráter intervencionistado Estadono
processo produtivo agrícolaocorreu
de
forma mais efetiva pelo; Estatutoda
Terra (1964), através damudança
na base técnica da agricultura.'
A
principal corporação da década de cinquenta foi o grupo norte-americano Rockefeller. No Brasil contou com três subsidiárias: a cargil, atuando na comercialização e fabricação de rações de milho; a agroceres, atuando na pesquisa genética com milho híbrido e aEMA
Desse modo,
a cooperatiiva assumiu Q. papelde
viabilizadorado
projeto da modernização tecnológicada
agri-culltura., organizando os produtoressocial e economicamente.
Na
segunda metade da década de
sessenta, difundiu-seno
RioGrande do
Sul o cultivoda
soja, para fins comerciais. Paralelamente, oGoverno
criamecanismos
para viiabi~lti:¿aro
aumento da
produtividade agrícoia, destacando-se a instituição .do ~Sistema Nacional de Crédito Rural -suc.
(1954).~
. i .
›
O
crédito rural foide
suma
importância para aexpansão e
modernização da soja
no
RioGrande do
Sul.Se
istonão
fosse suficiente, aalta
de
preçonas
cotações internacionais (Bolsade
-Chicago - E-UA), conjugadaao aumento da
àrea cul-tivada e da produflvidade,marcou
na safra de 1972/73o período "boom" da soja
no
país e demodo
particularno
RioGrande do
Sul.A
sojatambém
alcançouo
municipiode
SantaRosa
(RS), etornou-se o principal produto primário de exportação
da economia
gaúcha.No
que
diz respeito às cooperativas, elaspassam
a funcionarcomo
intermediáriasentre .
o
Estado, a agroindústriae os
produtores. Raciona/izam
o
usodo
crédito,da
infra-estrutura
e
da comercializaçãoda
produção..
produzem sementes
selecionadas,.repassam o crédito- oficia/,
dão
assistência técnicae
concentram a comercializaçãode
lö
insumos e
artigosde
consumo,além
de
transformarem parte da produção".
(SORJ;,1986:55)r
No
bojoda
difusãodo
cooperativismo empresarialno
RioGrande
do
Sul,
em
1968 foi fundadaem
SantaRosa
(RS) a Cooperativa Triticola SantaRosa
Ltda. -COTRIROSA, com
o intuitode
consolidar a infra-estruturaprodutiva, comercialização e busca
do
crédito para o tri90- Mas. Para tamo. eranecessário atrair
um
maiornúmero de
produtores rurais.,Ou
Seja. COHSGQUÍF 8confiança
de
um
maior corpo social.O
presente trabalho fundiaimentasena
propostade
desmisti-ficaro
discurso arraigado,
de
que
a cooperativa éiapenas
um
instrumentode
mudança
social,mas
o agenteda
(re.)organi.zaçäo espacial.A
origem das questõesque
instigou-nos a resgatar a políticadaCOTRIROSA
no
municípiode
Santa Rosa, justifica-se por dois motivos.O
primeiro diz respeitoao
conhecimento pessoaldo
autor sobre a área,onde
vivenciou-se empiricamente as contradições
do
sistema cooperativista,Na
concepção
analítica tinha-seem
mente: porque
alguns colonos acreditamna
política cooperativista e outros
näo?
A
cooperativa éuma
sociedadede
pessoas
oude
capita~l'?O
segundo
justifica«se pelas transformações processadasno
espaço
agrário local, a partir da difusãoda
monocultura da soja medo
também
por resgatar o interesseda
Geografia acercada
política cooperativistae sua influëncia
na
(re)organização sócidespacial._
A
partir destas reflexöesalgumas
questões nortearam o estudo:como
a cooperativa tornou-se o instrumentode
apoio para a consolidaçãodo
capitalismo na agricultura?
A
cooperativa e ocaminho
altemativo para oprodutor rural? Qual a influencia
do
poder decisórioda
cooperativanas
mudanças
do espaço
agráriono
municípiode
SantaRosa?
Qual aconcepção
do
associadodo
sistema cooperat.ilvis~tza? O.sócio sente-sedono
ou usuáriodo
sistema cooperativista? Qual é a categoria social
que
vem
recebendo asustentação
econômica
e políticada
cooperativa?A
expansão da
monoculturada
soja no municipio de Santa Rosa, foipossivel
em
funçãoda
presençada
COTRIROSA.
Esta atuoucomo
mecanismo
vi-abilizadorda
transformaçãoda
agriicultura-de
subsistência para aagricultura comercial, subordinando-a às políticas governamentais
de
financiamento e comercialização. De-.sta forma, a difusão da modernização
no
agrário municipal
mntou com
a"Z:`oop<~>rativaicomo
agente intermediador entre ocolono e o Estado.
A
cooperativa deve ter incentivado o colono a aderirao
cultivo monocultor da soja» para atender a politica
do
governo brasileiro einteresses externos.
Se
deum
lado a cooperativapromoveu
a modernização tecnológica20
refere às suas expectativas
de
associação.Em
outras palavras, elanão
conseguiu responder aos anseios
da
coletividade mas, tornou-seum
instrumento da sociedade capitalista, reapaidado pelo lucro e pela
rentabilidade.
O
presente estudotem
como
coletivos geral analisar aação do
cooperativismo empresarial
na
(re)roroanizaçr'I1odo espaço
agráriodo
municipiode
SantaRosa
(RS) as arconcepção
que
tem o assooia.do daquele sistema.Os
objetivos específicos são os seguintes: apresenta-r a formaçãoeconômica
doespaço
gaúcho; identificar o papel do Estado nodesenvolvimento
do
cooperativismo no RioGrande do
Sul=; mostrar o processoda ocupação
e desenvolvimentoda economia
em
Santa Rosa; averiguar aemergência
da
lavoura empresarial e a organizaçãodo espaço
agrárioem
Santa Rosa; estudar
o
histórico da ifunclaçãoda
CQTRIROSA;
analisar aação
da
COTRIROSA
e
asmudanças
sócio-espaciaisno
municipiode
Santa Rosa;verificar a relação
do
produtor ruralcom
aCOTRIROSA.
A
escolhado
periodode
1965 ar 1995, justifica-se pelatransformações operadas na agricultura a partir da fundação
da
COTRIROSA
(1968).
No
desenvolvimento histórico, a cooperativa passou por diferentesmomentos:
o expansionismo e consolidação, aliada ao crescimento da produçãode
soja;o
período de crise, face à retirada dos estímulos creditícios,de noventa, a cooperativa red'et"ine sua atuação junto
ao
associado,recuperando gradativamente sua credibili:dade.
Para alcançar os objetivos propostos foram» utilizadas informações
primárias e secundárias.
O
segundo
tipode
informações, permitiucompreender
no
plano teórico a relação daCOTRIROSA
com
o Estado e sua influência nastransformações
do
agrário regional.Os
dados
primários evidenciaram aconcepção que
o associado temdo
sistema c.ooperativista,bem
como
o poderdecisório da cooperativa.
Os
indicadores col-etaclos sobre o perfil dosassociados mostraram a verdadeira história da
COTRIROSA,
expressa na(re)organização processada
no espaço
agrário.A
pesquisade
campo
consistiuna
realização de entrevistassemi estruturadas,
com
produtores rurais e, pessoas vinculadas àagricultura.
A
escolha dos informantes se processou aleatoriamente e foram enfocadas as seguintes questões: históriade
vidado
produtor; atividades agrícolas desenvolvidas; associativismo (cooperativismo e sindicato); usode
mão-de~obra; uso
de
tecnologia; usoda
assistência técnica; financiamento;comercialização; e, relações
cidadecampo.
Foram
efetuadas 74 (setentae
quatro) entrevistas2, nosmeses
de
janeiro, fevereiro emarço de
1997.Através dos questionários pretendeu-se valorizar at pesquisa
2
Tal número foi considerado suficiente para traçar o perfil dos associados (tipificação social) e o poder decisório da cooperativa, enquanto instrumento da (re)organização do espaço agrário
do município de Santa Rosa (RS). Tivemos como preocupação a análise qualitativa das
22
empírica, transpor barreiras metodológicas e estereótipos clássicos acerca
das
transformações sócio-ecoriomiicats
e
espaciais.Os
dados
receberam tratamento e.sta»tíst)ico, privilegiando a análisequalitativa,
embora
a análise quant_¡tativatambém
tenha sido fatorde
observações.
BRANDÃO
(1985), destaca a importancia da “observaçãoparticipativa",
mas
salientaque
tal observaçãonão deve
ser consideradacomo
única na análise comparativa das informações,O
principal obstáculo encontradona
realização das entrevistas foi aresistência dos produtores. Esta justifiQa=se por dois motivos; primeiro. os
colonos
achavam
que
se tratavade
investigação deum
“fisca/" doBanco do
Brasil, assim as informações poderiam
comprometer
sua relaçãocom
acooperativa e
com
o banco; seg_un.do, “nada vaimudar
seeu
responder asperguntas; é mais
um
que
veio paranos
conversar, qua/ o interesseque
um
universitário
tem na
nossa vidinhaOutra questão relevante na realização das entrevistas e
que
merece
ser salientada, foi o uso
da
lingua oficialdo
coionizador, isto é, a maior partedos entrevistados respondeu às indagações
no
“dialeto aIemão", obrigando-nos a fazer a tradução
das
informações.Para preservar a identidade dos informantes, transcreveu-se as
O
presente trabalho, arlemda
introduçãoe
considerações finaisencontramt-se estruturado
em
cinco (5) capitulos.No
primeiro capitulo,buscou~se
resgatarno
passado asespecificidades das raízes históricas
do
RioGrande do
Sul. Destaca-seo
processo de colonização
e
os diferentes»momentos
da economia
gaúcha,com
ênfase nas charqueadas; na produção coloniial;
na
triticulturar.No
segundo
capítulo, abordar-»se ai política cooperativista e as faseshistóricas
do
cooperativismo no RioGrande do
Sul. Fccalizatambém
acooperativa, primeiro,
como
intermediadora entre of produtor rural e o Estado;segundo,
como
instrumentoda
difusãoda
modernização do agrário gaúcho.O
terceiro capítulo apresentauma
caracterização dasespecificidades. do desenvolvimento
econômico
em
Santa'Rosa
no
periodode
1626
a 1960. _.
No
quarto capítulo, destaca~se a emergência da lavoura empresarialdo
trigo eda
soja, a articulaçãoda
agriculturacom
o
setor financeiro,bem
como
as transformações estruturais ocorridasno
processo produtivo eno
espaço
agráriodo
municipio de Santa .Ro-ea De-ataca»-se a produçãoda
sojapor ser o principal produto primáriío
de
exportação, tanto de municípiocomo
da
economia
gaúcha.24
Finalmente, no quinto capitulo",
apresentase
a realidade empíricado
processo histórico
da
fundaçãoOOTRIROSA
e suas .políticasde ação
nomeio rural
de
Santa Rosa,A
abordagem
enfatiza particuIarmente os elementosagrários e
chama
a atenção para a viinculaçáodo
produtor à cooperativa.Os
reflexos
do
atreiamento Estado. ëägroindústria e cooperatiiva e associado são1.
A
FoRiMAÇÃo
EcoNosimcA
oo
ESPAÇO
GAÚCHO
. 1.1 Qs¢ur›arÇä°» fsrrit°riaIr s_.sëf1ese
dwcønørmia
É
necessário buscarno
resgatedo passado
as especificidades dasraizes históricas e culturais
do
RioGrande do
Sul pastoril e colonial, epeculiaridades
do
municipiode
Santa Riosa`, na reconstrução dos fatos maismarcantes e daqueles
que
simbolizam, a sua permanência notempo
e noespaço. -
Não
e possivel generalizar. porquecada
formaçãoeconomica
eespacial deriva
de
uma
evolução histórica especifica, é somente nestaperspectivas possivel compreende-la.
Segundo
ROCHE
(1969:22)~,o
RioGrande do
Sul foiocupado no
.princípio
do
século XVIII.Os
primeiros ocupanteseram
oriundosde
São
Pauloe de Laguna, Santa Catarina.
Mesmo
que no
século XVII, alguns bandeirantespaulistas
tenham passado
pelas terrasgaúchas
em
buscade
ouro eÍ
26 indígenas,
não
fixaram moradia.O
fator decisivo para aocupação do
RioGrande do
Sul foi aassinatura do Tratado
de
Madri, assinado entre Portugal e Espanha,em
13/01/1750,
que
tinhacomo
objetivo principal parao
Brasil acabarcom
osconflitos
da
Colôniado
Sacramento,no
extremo suldo
pais e nas MissõesJesuíticas
do
território gaúcho. Este tratado devolvia o território Missioneiro aPortugal, ei ar Colônia
do Sacramento do
Rioda
Prata ficava definitivamentecom
a Espanha.No
entanto,somente
em
1895
a Argentina reconheceu asoberania
do
Brasil nas Missões.O
povoamento do
RioGrande do
Sul foi iniciado pelos açorianosz.Estes desenvolveram primeiramente a pecuária. extensiva, a qual já era
praticada pelos paulistas instalados na área e,
num
segundo
momento
ocultivo
do
trigo.Mas
outros produtostambém
foram cultivados para suprir asubsistência das famílias e dos trabalhadores das fazendas
de
gado.A
formação histórica eeconômica gaúcha
engendra especificidades, fazendo emergir municípios e povoados, destacando-seentre eles Rio Grandea,
Viamão'
e Rio Pardos,(mapa
O1).3 3*
Tem-se como registro oficial a chegada dos primeiros portugueses e açorianos no Canal da
Barra do Rio Grande, no dia 19 de fevereiro de 1737, fundando o Forte Jesus-Maria-José.
Aportaram inúmeras famílias que se instalaram nas imediações da Barra do Rio Grande. As
famílias foram designados para manter a, segurança do território gaúcho.
3
O
município de Rio Grande, localiza-se no extremo Sul do Brasil, na Planície Costeira
Gaúcha. Hoje, é detentor do “Su¡¡q¿rporto", também conhecido como Corredor de Exportação, devido a sua infra-estrutum doeirnazenamento, para a exportação da soja.
O
i
xe
,
A
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~MAPA
O1Í.ÕCALlZAÇÃO
DOS
MUNICÍPIOS
BE
Rlfl
GRANDE. VIAMÃO
E
RIO
PARDO
- ,z¬_ ,wií , _ o.z.fz __»-.›¬_z-,,.«,;." _:____ _V: ___!.` ,:_____k Í 6.' ` 4A.;N'š›`A
CATARINA.
1
1' 1 'V I ›` f'DO
SUL
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V Y' /' i /' H' r N , Q ` i, f* w . ra. Cl/nn-Io -J¿-...I
z ,__ \ \ \ \ I' \ \ \` ` i -` 0 C ×\ a \b wa ~ › iii. '
\
i°'lwJO`&URUGUAI
"'“ 60 / ‹' O icon» L..-,-_-.--1 _;w Í ;_ _A _ lsnAi,^ JV eaza
W Í c ci, ÉFonte: Adaptado de ROCHE. Jean. A Colonização Alemã e0
Rio Grande do Sul. Vol. 1; Globo: 1969.
O
processode povoamento
instaurado pela Coroa. Portuguesano
Sul
do
Brasil (1737) tevecomo
meta garantir a segurançado
território gaúcho,Canal do Rio Grande. é o único acesso e :mcorageml de embarcações do Rio Grande do Sul
até Laguna (SC). Maior detalhamento da imponânda do porto, consultar
DOMINGUES.
Marcelo V. Super_;¿oi:iQcd.0 lilo §5¡¿_gg_e_:_ll?l2¿.f1Q_fioÊšQ‹?ilídadec,Elementos para
uma
Discussão.Dissertação de Mestrado. UFRJ, 1995.
“_ A cidade de Viamão localiza-se na região da Grande Porto Alegre (RS).
5
O
município de Rio Pardo foi o mais imporianle do Plarnalfiiâo Gaúcho no principio de sua28
bem como
as -produção de aliifmentos para os militares ez para a equipe administrativa. Esta questão fica claranas
palavrasde
CORRÊA
(1^996:53) “interessava lixar na área meridionalum
colorio soldado,que
atendesse às necessidades militaresde
defesado
territóriocomo
o
abastecimento alimentardas
tropase da
adm¡n,istraçä~o". 'ROCHE
(1969) lembraque
az agricul-tura açoriana atingiu seuapogeu-
no
finaldo
século Xvlll, porem,no
iníciodo
século XIX, aprodução agricola
não
foi suficiente para atender as necessidadesdo
mercado
interno, Para suprira
demanda
alimentar era necessário importar produtos, entre os quais encontravami-~Se;~ arroz, vinho, aguardente, açúcar efumo.
O
trigo,que
era produzido no RioGrande do
Sulem
grandequiantidade servia para o e.mbrion-arto comercio inter-'regional.
O
declínioda
trlticultura no iniciodo
século XIX tevecomo
principais causas o crescimentoda
criação extensivade gado
e a proliferaçãode doenças
nas plantaçõesde
trigo. -Nas
palavras deBRUM
(1988;26), na primeira faseda
ocupação, oterritório
gaúcho
teve quatro cicloseconômicos
distintos: 'oi ciclo
da
exportaçãode
couro,sebo e
crina;
o
cicloda
erva-mate, principalmentena
região
de
influência dos padres missionários,nos ,Sete
Povos das
Missões; o ciclodo
charque
nas
cidadesde
Pelotase
Cachoeiraeconomia gaúcha
até a Primeira GuerraMundial, e, to ciclo
da
exportação de muares,eqüinos
e
gado
em
pé,que
era levado atéSorocaba (SP), Botucatu (SP)
e
Minas Gerais".A
ação militar portuguesano
territóriogaúcho não
objetivavasimplesmente a posso da terra,
mas
também
interessava ogado
que
erapastoreado pelos indígenas.. primeiros ocupantes daquela área. Para alterar o quadro
da expansão
da- criaçãode
gado, o governopromove
a distribuiçãode
vastas extensões
de
terras (sesmarias).Em
função desta politica surgiram asestànciase.
No
final do século X\/ill e iníciodo
século XIX, as estânciasexperimentaram
um
período áureode
podereconômico
e político, o ciclodas
charqueadasf.
A
partir daí, o charque tornou-seum
importante fator comercial,econômico
e politico para os estancieiros.A
mão-de~obra utilizada paradesenvolver a atividade pastoril era
em
grande parte escrava.Nos
termosde
VIEIRA
&
RANGEL
(1›993I23)“No final
do
séculoX
Vlll a produçãode
carnesalgada adquiriu novas formas, criando
um
estabelecimento
capaz de
gerar riqueza,acumulação de
capital, relações de trabalho5 Eram denominadas de
estâncias, as grandes extensões de terras nas mãos de
um
proprietário, que fora privilegiado pela Coroa Portuguesa, onde criava-se o gado extensivamente (solto no campo).
O
rendimento econômico desta forma criatória é muitobaixo, porque o gado não recebia complemento alimentar e tratamento veterinário.
7
O
ciclo das charqueadas inaugura o aproveitamento do boi inteiro. Esta fase tem profunda
ligação com a mão-de~obra escrava no Rio Grande do Sul. Embora, a presença escrava no
território gaúcho fosse pequena, ela foi decisiva para o desenvolvimento da pecuária
comercial.
O
charque abastecia basicamente, o mercado consumidor de São Paulo, onde aprodução cafeeira necessitava da ampla mão--de~obra escrava que representava
um
vasto mercado consumidor.Como
segundo compradorem
quantidade, destaca-se o Rio de30 diferenciadas, distinção
de
classese
opulênciade
poder. Surge, particularmenteem
Pelotas,a aristocracia
do
charque,o novo
senhor-de-escravo
com
seu
títulode
nobreza e a durae
implacável dom¡na_cão”.
As
estâncias alemdo
trabalho escravotambém
experimentaram oassalariamento.
A
reproduçãodos
trabalhadorestambém
ocorria forado
seucampo
de
trabalho pelo cultivode
terrascom
produtosde
subsistência.Na
fazenda tinham acesso as instalacões.do galpão (embora precárias) para
moradia e a
comida
era fornecida pelo estancielro.Sob
a forma de charque. a carne era preservada para assegurar aalimentação
humana
em
determinados periodos e para a futura venda.A
abundância da carne aliada à» facilridade
da
conservação tornou o charque o principal produtode
exportaçãodo
território gaúcho.VIEIRA
&
RANGEL
(1993) salientam alguns fatoresque
contribuiram para o desenvolvimentoda economia do
charquedo
territóriogaúcho, tais como: a condição espacial para criação extensiva
do
gado,utilizando-se vastas extensões
de
terras;omercado
comprador; o prestígioei a força da classe dos charqueadores
com
o governo estadual e federal; amão-de~obra escrava
como
força de trabalho barata e o associativismo doscharqueadores,
como
defesa dos seus interesses,entra
em
decadência no RioGrande
do
Sul. Contribuiu para isto, näo. só aimplantação dos frigoríficos,
mas
também
a concorrênciado
charqueproduzido nos paises Platinos (Uruguai e Argentina-).
Além de
apresentarmelhor qual‹¡dade, o produto importado tinha preço mais acessivel
que
onacional.
Para enfrentar a concorrência
do mercado
os pecuaristas foramforçados a melhorar o rebanho
usando
novas tecnicasde
produção e abate.Mas
istonão
foi suficiente para evitar a decadência das charqueadas.Naquele
momento
os cultivosdo
trigo e do arroz experimentavamuma
fasede
expansão no
território gaúcho, cuja atividade atraiu muitos adeptos.No
processo,
uma
parcela das áreas criatórias foi incorporada as áreas de cultivo.A
lavoura rizicolaque se
desenvolveuno
RioGrande
do 'Sulno
final
do
século XIX foi influenciada pela pol-ítica protecionista doGoverno
Federal.
Com
isto, obj,etivava‹se atender ademanda
do mercado
consumidorbrasileiro
em
ascensão, porque o arroz é produto básicodo
hábito alimentarbrasileiro.
Além do
proposito governamentalum
outro aspecto foi relevantepara a
expansão da
riziculturaz a condição natural..As
áreasde
várzeasdas
bacias fluviais dos rios Jacuí,
Guaiba
(lago),Lagoa
dos Patos edo
rioUruguai, abundantes
em
água, facilitavam a irrigação eo
transporteda
32
“No
lina/do
séculopassado e
inicio deste,uma
sériede
fatorese
circunstâncias se conjugaram e convergiramno
sentidode
tornar viável ra lavoura capitalista
mecanizada
de
arrozno
RioGrande do
Sul; a) a intensificaçãoda
invigração européiaapós
aabolição
da
esrsravatura; b) a crescentemonetarização
da economia
com
pagamento
.
de
saláriosaos
trabalhadores, principalmentena lavoura
de
cafée
na
incipiente indústria; c)o avanço do
processode
urbanização; d)o
violentoaumento
na imposiçãode
gênerosalimentícios provocado pela migração- monetanzação«industrializaçãowrbanização
(as importações
de
arrozquase
triplicaramno
período
de
1880/1894)-". Í _Embora
estes fatores tivessem convergldo para a modernizaçãoda
lavoura
de
arroz, esta ocorreuem
áreas isoladasno
território gaúcho.1-.2
A
formaoãofidas
íogllotnialsíccíe ozdesenvolvimento
da
economia”
A
segunda
fasedo
desenvolvimentoeconômico gaúcho
inici.ou~seno
século XIX,quando
se desenvolveram 'projetosde
colonização oficial eprivado.
No
processo, instalaram-se na área alemães, italianos e poloneses.Os
colonosocupavam
a áreade mata
e adimensão
dos lotes variavade
25
a77 hectares por familia (FRANTZ;1f982:13). Diante
de
tal fato social (acessoB
Ciente de que a economia colonial brasileira tenha-se extinguido, será empregado o termo
limitado a terra) o sistema
de
cultivo praticado opermitindo a rotação
de
cultura e a praticado
pousio. Acredita-seque
adimensão
reduzida dos lotes promoveu- o esgolamentdda
fertilidade flaíüfaldo
solo econsequentemente
ai estagnaçãodo
sistema produtivo colonial(1960).
A
adoção
destasdimensões
dos lotes evitaria a concorrênciado
colono
com
o
pecuarista (ordem
economica), o colono produziria produtosde
subsistência e
o
pecuarista continuariacom
o gado.O
atributousado
peloGoverno
'
brasileiro para atrair os
colonizadores foi o envio
de
propagandistas para a Alemanha,como
o Sr.Jorge Antônio von Schaeffer e
0
Sr.Neumann, que mostravam
as vantagenspara os supostos pretendentes dos lotes no Brasil Meridional,
em
termosde
clima, fertilidade
do
solo e ajuda financeira nos primeirostempos
dainstalação.
Além
disso, seria respeitado o credo religioso e os costumes doscolonizadores,
podendo
formarcomunidades
e edificar suas igrejas no soloda
nova
Pátria.Mas
também
deixavam claroque
seriam distribuídosem
pequenas
propriedadese
a atividade agrária deveria ser diversificada paraabastecer o crescente
mercado
consumidor gaúcho.Como
estímulo, eraoferecido:
“...passagemr gratuita,
paga
pelo Governo,subsídio diário
de
160 réis acada
co/onono
primeiro
ano e metade no
segundo;quantidade
de
bois e cava/os proporcionaisao
número de
membros
de cada
família; isenção34
de
pagameritos dos direitos de cidadãobrasileiro e liberdade
de
cu/to”.(Cl»l/ll..LENBERGER 8.
HARTMANN;1981:57)
Os
agricultoresao
se instalar na nova terra foram “esquecidos” eboa
parte daspromessas
não
foram cumpridas pelo governo brasileiro.A
ocupação
do territoriogaucho
pelos novos imigranteseuropeus foi realizada
em
doismomentos.
Primeiramente, foiocupada
aporção centromordeste
do
RioGrande do
ãul,onde
foram formadas aschamadas
“colônias velhas”,no
Vale dos Sinos (Säo Leopoldo, Lajeado eEstrela).
O
segundo
momento
ocorreu aocupação
norte do território gaúcho,o Vale
do
rio ljui e regiãodo
Alto Uruguai, aschamadas
“colônias novas"'°.(BRUM;1988i27)
iPara
MARTINS
(1993:45), oespaço
historicamente construído peloimigrante/migrante, torna.-se
um
espaço
de luta ecom
sentido cultural. Por istoque
o principal elemento da realização e existênciado
colono é a terra. lsto é,a vida social é inscrita no espaço- e no tempo,
sendo
então resultadoda
interação dos colonos. ”
Não
e
que/queroterre
que
eles querem,É
aquelaque
tem o
sentidoda
comunidade
camponesa..que
se constitui ali, e quetem
toda9 São denominadas de
"colônias velhas." a» área gaúcha que recebeu os primeiros imigrantes
europeus dos quais se destacam os alemães (1824), que se fixaram no Vale dos Sinos. Os
italianos se fixaram no Rio Grande do Sul após 1875.
1° As “colônias novas”
correspondem a extensão das "colônias velhas", isto é, elas se
constituíram com os descendentes (filhos) dos imigrantes europeus. Salvo
em
alguns casos,existe a participação do próprio imigrante.
Como
exemplo temos: Ijuhy, Santo Ângelo,uma
memória
de
luta,de
muito trabalho investidoe do
qualnão
queriam abrirmão”. _
-
Os
-primeirosanos
dia colonização européiano
território gaúcho,foram
marcados
por dificuldadeseconômicas
dos imigrantes.Uma
fonte alternativade ganho
financeiro pelo .imigrante foi participar ativamente naconstrução e preservação
de
estradase
pontes, Para executar esta atividade,recebia
um
valor monetário garantindo a sobrevivência» no periododa
entresafra.
Muitos colonos recorriam
ao
comercianteque
lhes forneciaempréstimos e vendia as mercadorias para
pagamento
futuro. Isso evidenciaque
os colono estava ligadoao
mercado.Embora
a atividade agricola tivesse,por objetivo nos primeiros
tempos
garantir a subsistência familiar opagamento
dos lotestambém
era fatorde
preocupação para o colono.Além
disto, o colono
não
produzia tudoque
necessitava enão
possuía infra-estrutura para guardar as sobras até az próxima safra.
Em
função disso, oexcedente era comercializado. Dentre os principais produtos cultivados e
criados pelos colonos
eram
destaque; milho, feijão, trigo, mandioca, arroz esuínos.
As
casas comerciais tinham fundamental importância para oscolonos, porque além
de
oferecer os produtos manufaturados,também
serviam para o arm›azenamento
da
produção.Os
comerciantes foram oscolonial-36
(ROCHEI1969).
O
surgimento da classe dos comerciantes teve «dupla função paraos colonos.
Funciovam
como
compradores da
produção, cuja divida eradescontada
na
safra seguinte. Tal transação comercial era feita na formaverbal,
não
existindoum
compromisso
oficial,apenas
a .palavraempenhada.
A
outra função era o adiantamento
de
dinheiro para a futura safrade
grãosou
venda de
suínos. Talconcessão
se precessavacom
base na avaliaçãoda
lavoura pelo “provável rendimento".
O
comerciante exercia o papelde
um
"banco particular” ou
como
se fosseuma
carteirade
crédito a serviçodo
colono, funcionando24
(vinte e quatro ) horas por dia, inclusivedomingos e
feriados.
A
agricultura colonial expandiu-seno
século XIX,ocupando
principalmente as terras
de mata
na regiãodo
Planalto Gaúcho, conformemapa
O2.Foram
os imigrantes europeus e seus descendentes osresponsáveis pelo desenvolvimento da agricultura colonial.
Uma
das
primeiras"colônias novas" implantadas pela política oficial foi a Colonia. Yjuhy (1890).
Além
desta, foram destaque outras como: Guarani das Missões (1890);Panambi
(1899); Erexim (1908) e SantaRosa
(1915).O
crescimentoeconômico
experimentado pelas colônias' possibilitou a integração territorial eUNIDADES
DO
RELEVO
GAÚCIHC
U' 31' "'5r'“-Í
` *ÁÚI ` ú í _ - _* Q ,_ ._ A *V ° 4 C' _ . 4 J , 4 _, - * ô. ` ` ` . À 4 4 rt VAV. '~z .*~“ê~«---iz. ' a t ' ‹`\\ "* ' * . ”;..__-.›í¬ ' ' . , .¿ 4: ~> .A + ~ ›»--<.:* -‹ = fz A» mv . \, - < k Q V°"“""”`Í-"D ' r __,- .( ,,' - \_' vã, * .i ___._.`:§ _ . ff ....-__.«---¬J . " \|` ‹?.______:`\:-X:
4,* t« `/"À}¿_ I kw "^›. '}`~‹ V .\›---~"'\ A _\
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` ›' ` (v;Ó,›///V ' . V _' -.L ›`.//7/I'/y;//Ç \ ú/ i | '-
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uNioAoEs
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RetevooAucHO
Planicio Gaúcha
É
Planalto Sul-Rio Grandcnu[:]PI¡ndbo
du
AraucáriasPizmm
úz canpwhn _ lIZIDopron¡os Porlföñcu da Bacia do ParanaFonte:
Adaptado
doIBGE
~~ Geografia doBrasil
O
fator decisivo para o crescimento da agricultura colonial foi aconstrução da estrada
de
ferro. Neste sentido, a primeira ferrovia gaúcha,ligando Porto Alegre a
São
Leopoldocomeçou
a ser construídaem
1869,sendo
concluídaem
1874. Dois anos mais tN
arde, seu traçado foi ampliado até
ovo
Hamburgo.
Mas
a integração inter-regional se efetivouem
1877 comzgai38
do
RioGrande do
Sul).A
expansão da
rede ferroviária para a porção suldo
estado ocorreu
em
1896 chegando
até a cidadedo
Rio Grande.A
ligaçãocom
o Planalto se processou
somente
em
1894,quando
a viachegou
a Cruz Altae,
em
1900
aPasso
Fundo.No
ano de
1911,a
rede ferroviária se expandiuaté Ijuí,
em
1915
até Santo Ângelo e em.1f94Q a SantaRosa (ROCHE:1969).
A
integração dos municípiose povoados do
territóriogaúcho
foiproporcionada pela
expansão
da rede ferroviária. Tal integraçãoprovomoveu
considerável
aumento no
preço das terrasna
porçãodo
Planalto.Mesmo
antes
de algumas
áreasserem
integrtadas pela rede ferroviária,como
porexemplo
Santa Rosa, as estradasde
rodagem ou
“picadas""no
meiodo mato
foram traçadas na direção
da
forrovia.Dessa
forma, a produção agrícolapoderia ser transportada até os
mercados
consumidores.A
expansão do
sistemade
transporte teve dois objetivos estataisbem
claros. Primeiro, promover aocupação das
terras,que
resultariana
suavalorização e
também
representaria fatorde
segurança para o Estadobrasileiro. Segundo, visava assegurar o crescimento
economico
integradocom
a diversificação
da
produção agrícola para abastecer omercado
consumidor urbanodo
Centro-Suldo
país.Como
crescimento daeconomia
colonial, no início do século, foram" São
denominadas dc picadas as vias abertas no meio do mato. por onde cscoavam os produtos
fundadas
no
RioGrande do
Sul as cooperativas coloniais”, quenão
obtiveram grande progresso devido a. falta
de
apoio estatal.Após a
PrimeiraGuerra Mundial, registrou~se ar implantação dos frigoríficos”
que
sedesenvolveram
com
mão~de~obra assalariada. Muito contribuiu paraexpansão
da
referida atividadeo
crescimento urbano 'brasileiro principalmente na regiãoSudeste
que
demandava
quantidades crescentesde
alimentos.Na
regiãodo
Planalto Gaúcho., principalmenteem
Passo Fundo
eCarazinho (1946), desenvolveram.-se as granjas
de
trigo". Estasnormalmente
ocupavam
áreas superiores a 100 hectares,empregando mão-
de-obra› assalariado,máquinas
e implementos agrícolas,adubos e
defensivos.A
produção destinava‹seao
atendimentoda
demanda
do mercado
urbano.Entretanto,
somente
nasegunda metade da década de
cinqüenta, ocorreu oavanço
desta nova formade
produçao para o oeste, destacando-secomo
produtores, os municípios
de
ljui, Cruz Alta, Santo Ângelo e Santa Rosa.Nos
termosde F
RANTZ
(1982), as granjas são reflexoe
-síntesede
duas
formações geofisicas distintas ede
oposiçãoou
de
complementaridadeentre
campo
e cidade, entre pecuarista e o agricultor.“As granjas representam,
de
certa forma,o
A
origem e evolução do cooperativismo no Rio Grande do Sul será abordada no capítulo 2.`°
Depois de 1919 registrou-se a- instalação dos Frigoríficos Swift, Armour Anglo no Rio Grande
do Sul.
A
base econômica dos frigorificos foi solidificada pelo capital estrangeiro."'
FRANTZ
(l982) As granjas são a síntese da economia pastoril e colonial. Os gmajeiros na
maioria são comerciantes, profissionais liberais, industriais e salvo alguns colonos. Sobo
patamar das facilidades de crédito oficial, aliado as condições regionais, lançaram-se no
plantio do trigo mecanizado.
40 [resultado] histórico dessa
ocupação
diferenciada,mas
sociale economicamente
initer-re/acionada; elassão
uma
espéciede
síntese
de
cultivo:o
patorile o
agrícola.Emergem
das duas
formaseconômicas
anteriores, alimentando-se
dos
subsídiosgo
vernamentais”. (FRAIV TZ; 1 982: 14)Ainda a respeito das granies pode-se inferir
que
elassão
oresultado
da
formação histórica eeconomica
gaúcha, isto éi, a pastorilou
campeira
e
a. colonial,ou
agrícola.Segundo
BRUM
(1988),uma
parteda
áreada
policultura colonialconseguiu
um
relativo crescimento. econômico, tanto éque
uma
pequena
i
parcela destes colonos e comerciantes conseguiram acumular capital
e
transferi-lo para a indústria. Este fato representou a
expansão
da classemédia
no
meio rural e o surgimentodos
industriais agrários. principalmentenos municípios
de
Ijuí, Panambi, Erechim ei SantaRosa
entre outros."Essas áreas experimentaram relativo
dinamismo e
expansão
econômica. Dentrodos
padrões
da época
pode-se afirmaro
surgimento
de
uma
extensa classe média rural que, graçasao
resultadoda
comercializaçãode
sua produção excedente,passou
a disporde
certopoder
aquisitivoque
estimulouo
aparecimento
e expansão de
atividades artesanaise
de pequenos e médios
industrias,bem
como
ativouo
comércio".(BRUM;19*88:30)