ANTONIO
KIM
zANÁLISE
DOS FATORES RELACIONADOS
À
VIOLÊNCIA SEXUAL
CONTRA
CRIANÇAS,
ADOLESCENTES
E
ADULTOS
DO
SEXO
EEMNINO
NO
MUNICÍPIO
DE
FLORIANÓPOLIS
/SC-
2001
Trabalho
apresentado à UniversidadeFederal
de Santa Catarina para
a conclusãodo Curso
de
Graduação
em
Medicina.Florianópolis
Universidade Federal
de Santa Catarina
ANÁLISE
DOS FATORES RELACIONADOS
À
VIOLÊNCIA
SEXUAL
CONTRA
CRIANÇAS,
ADOLESCENTES
E
ADULTOS
DO
SEXO
EEMNINO
NO
MUNICÍPIO
DE
FLORIANÓPOLIS
/SC-
2001
Trabalho apresentado
âUniversidade
Federal
de Santa Catarina para a
conclusãodo Curso
de
Graduação
em
Medicina.
Presidente
do
Colegiado:
Prof.
Dr.
Edson
Cardoso
Professor Orientador: Prof' Clair
Castilhos
Florianópolis
Universidade
Federal de
Santa Catarina
2002
AGRADECIMENTOS
É
meu
dever, acima de tudo, agradecer àminha
família, sobretudo aosmeus
pais e irmãos, por suaconfiança
e apoio depositados sobreminha
pessoa, possibilitando-me arealização de
um
antigo e estimando sonho: ser médico.Quero
agradecer e deixar explícito aminha
admiração à professora Clair Castilhos,orientadora criteriosa e zelosa,
que
com
sua paciência, apoio e sabedoria,soube-me
conduzirharmoniosamente na realização deste trabalho.
Por fim,
quero agradecer ao professor Dr.Paulo Freitas, por sua generosidade e atenção gastos àminha
pessoa,ao
professor Dr. Pedro Schmidt, pelos valiosos ensinamentos na arteda
cura e aosmeus
verdadeiros amigos,em
especial,Eduardo
Júlio Selbach, Victor Vinícius Paviani, Rafael Ferreira Martins, Anderlei tessarolo Degering, Glicério Assis Pereira Neto,Juarez
Rosso
Braga, Fabrício Miri de Araújo, Cláudio LuisHoffman
e Reinaldo AlvarezJúnior,
que
os considerocomo
innãos, os quais tornaram maisamena
e divertida a tão sofridaRESUMO
... ..SUMMARY
... .. 1.INTRODUÇÃO
... ..z.OBJET1vOs
... .. 3.MATERIAIS
E
MÉTODOS
4.RESULTADOS
... ..s.D1scUssÃO
... ._ÕCONCLUSOES
... ..BIBLIOGRAFIA
... ..RESUMO
Entre o periodo compreendido de janeiro à
dezembro
de2001
foram estudadas retrospectivamente,60
pacientes vitimas de violência sexual atendidasem
Florianópolis, de acordocom
o
Protocolo de Atendimento à Vítima de Violência Sexual.As
pacientesanalisadas foram alocadas
em
três diferentes grupos: a) 19 crianças (idade<
10 anos); b) 1.8adolescentes (idade
210
e<20
anos) e c) 23 adultas (idade2
20
anos).O
objetivo foi estudar, comparativamente: tipo de crime sexual; constrangimentoimposto; perfil
do
agressor; ocorrência de trauma extragenital; realização de contracepção deemergência e profilaxia contra doenças sexualmente transmissíveis (DST).
Concluímos que
o estupropredominou
entre adolescentes (77,8%) e adultas (9l,3%) eo
atentado violento ao pudor entre as crianças (78,9%).
A
graveameaça
foio
principalconstrangimento imposto às adolescentes (44,4%);
no
grupo dos adultospredominou
a força fisica (52,2%) enquantoque
anão
ocorrência de forma de constrangimento, às crianças(78,9%).
O
agressor identificável prevaleceu entre adolescentes (72,2%) e crianças (94,7%).Nas
adultas,predominou
os agressores desconhecidos (65,2%).Os
traumas extragenitaisforam
observados somente entre as adolescentes (22,.3%) e adultas (82,6%). Observou-segrande freqüência
na
realizaçãoda
contracepção de emergênciano
grupo das adolescentes(50%)
e adultas (87%), sendo esta variávelnão
analisadano
grupo das crianças.Em
relação àprofilaxia contra
DSTs,
no
grupo dos adolescentes e adultos ocorreu a predominância narealização deste
metodo
com
61,1%
e87%,
respectivamente.Por
outro lado,no
grupo das criançaspredominou
anão
realização deste procedimentoem
78,9%
dos casos.SUl\/[MARY
4Between
january anddecember of
2001,60
patientswho
were
victimsof
sexualviolence attended in florianópolis
were
studied.The
patientswere
subdivied into three different groups: a) 19 children (< 10 yearsof
age); b) 18 adolecents (2 10 to
20
years of age) and c) 23 adults (220
years of age).The
objective of the studywas
to comparatively analyze: type of sexual crime; constraint imposed; typing of the agressors; occurence of extragenital trauma; realization ofemergency
contraception and prophylaxy for sexual transmited diseases (STD).It
was
concluded that rape predominatedamong
adolecents (77.8%) and adults(913%)
and violent indecent assault
among
children (7 8.9%). Serials threalwas
themain
constraintimposed on
the adolecents (44.4%); in the adults group fisical streghtwas
predominant(52.2%) while in the children group
no
threalform
occurred.The
reconizable agressorswere
prevalent
between
adolecents (72.2%) and children (94.7%) groups. In the adult grouppredominated
unknown
agressors (65.2%).The
extragenital traumawere
observed only in theadolecent (22.3%) and adult (82.6%) groups. Observed high frequency
of emergency
contraception in the adolecent and adult groups,
however
this variable wasn't analysed in thechildren group.
About
STDs
prophylaxy, the realization of thismethod were
predominatedamong
adolecent and adult.However,
in children, this procediment wasn°t realized in78,9%
patients.1.
1NTRonUÇÃo
A
violência contra a mulher é definidacomo
uma
relação de forçasque
converte as diferenças entre os sexosem
desigualdade. Consiste na maneira pela qual oshomens
exercem
controle sobre as mulheres, castigando-as e socializando-as dentro deuma
categoriasubordinada (6). Encontra-se presente
em
todas as sociedades modernas, entretanto éum
problema que
acompanha
ahumanidade
desde ostempos
imemoráveis.O
abuso sexual é consideradouma
violênciade
gêneroque
corporifica a sexualidadeque
é exercidacomo
forma
de poder.Homens
e mulherespodem
ser classificados pelo gênero e separadosem
duas categorias:uma
dominante e outra dominada,obedecendo
aos requisitosimpostos pela heterossexualidade
(mm
As
questões relacionadas ao gênero são complexas e antigas dentroda
história humana.São
muitos os estudos históricos e antropológicosque denunciam
a opressão, exclusãoou
estigmatização da mulher ao longo dos séculos (27).
Podemos
ver,como
exemplo, por meiosde clássicos desenhos
em
caverna, nostempos
da barbárie,o
homem
arrastando a mulherpelos cabelos (6).
A
construção deuma
suposta essência feminina pautadano
útero é descritadesde os primeiros tratados médicos egípcios, passando por Hipócrates e Galeno,
amplamente
difundidos pela medicina
na
era Vitoriana, reduzindo a mulher essencialmente à condiçãoda
maternidade.
Da
mesma
forma vários teólogos e pensadoresna
antiguidade, manifestaram suahostilidade contra a mulher. Tertuliano a considerava “a porta
do
demônio”. Voltaire declaravaque o
sangueda
mulher era mais aquoso,o
que provaria sua absoluta inferioridade(6)
Assim, admite-se
que
a tese da inferioridade feminina foi construída peloshomens
aolongo dos séculos, talvez motivada por
um
grande sentimento de invejada
condição feminina‹15›_
Acredita-se
que
apenasno
finaldo
primeiro milêniodo
Cristianismo é que surgiram osprimeiros sinais
da
luta das mulheres pela conquista de seus direitos.A
partir da revoluçãoFrancesa, as mulheres formularam reivindicações pela melhoria das condições de vida, trabalho, participação politica, acesso à educação e igualdade entre sexos (4)
Em
tempos
atuais,foram
vários osmovimentos
organizadoscom
objetivo de buscarigualdade e direito para as mulheres.
Dentre os mais importantes,
podemos
destacar a Conferência Mundial dos DireitosHumanos,
realizadoem
Viena, Áustriaem
1993. Ficou declaradoque
os direitoshumanos
dasmulheres são inalienáveis e constituem parte integrante e indivisível dos Direitos
Humanos
Universais (26).No ano seguinte, na cidade
do
Cairo, Egito, ocorreu a Conferência Internacional de População e Desenvolvimentopromovido
pela Organização dasNações
Unidas
(ONU).
Foram
realizados diversos acordos ecompromissos
sobre eliminaçãoda
violência contra mulher (26)
A
Convenção
Interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra amulher;
denominada “Convenção
deBelém
do
Pará”, realizadoem
Belém,em
1994,marca
outro avanço. Fica estabelecidoque
a violência contra a mulher é qualquer atoou
condutabaseado
no
gênero,que
cause dano, sofiimento fisico, sexual, psicológico,ou
cause morte,tanto na esfera pública
como
no
privado (2632).Em
1995, realizou-se aIV
Conferência Mundial sobre direitosda
mulher,em
Beijing,China. Ressaltou- se
que
a violência prejudica e anulao
desfrute dos direitoshumanos
e dasliberdades
fimâamemzús
<“>.No
Brasil,há
mais de 25 anoso movimento
vem
desenvolvendo estratégias contra aviolência de gênero, principalmente junto aos órgãos governamentais.
No
inícioda
década de80, os primeiros Conselhos
da
Condição Feminina foram criadoscom
objetivo de ampliaro
acesso das mulheres ao processo
de tomada
das decisões epromover
os interesses femininosnas administrações públicas estaduais (17).
Em
1985foram
criadas as delegacias de policia especializadasem
crimes contra mulher,formada
por equipesdo
sexo feminino (17).No
entanto, apesar de todos esses avanços e conquistas, a violência contra mulhercontinua sendo
uma
triste realidade a qual não distingue raça, sexoou
classe social eque
seencontra
em
franca ascensão.Tema abrangente e apaixonante, infelizmente, encontra-se longede
apresentaruma
explicação e solução definitiva.Considerando-se esta breve reflexão acerca
do
papelda
violência de gênerona
compreensão do
abuso sexual, toma-se necessário , principalmente aos profissionais da saúde,1.1 Considerações sobre aspectos
médicos
e epidemiológicosA
violência representauma
das principais causas de morbidade e mortalidade, principalmente entre a população jovem.Enquanto
os homicídiosocorrem
em
espaçospúblicos, atingindo principalmente
o
sexo masculino, a agressão sexual atingepreferencialmente
o
sexo feminino, ocorrendo preferencialmente dentrodo
espaço doméstico. Estas mulheres são alvo de seqüelas fisicas e psicológicas, tornando-as mais vulneráveis adiversos problemas de saúde (5)
A
OrganizaçãoMundial
daSaúde
(OMS)
reconhece a violência sexualcomo
um
problema de saúde pública, pois afeta a integridade fisica e a saúde mental da vitima
(14'24).Entre os principais problemas para a saúde destacam-se as injúrias fisicas, as doenças sexualmente transmissíveis
(DST)
e a gravidez (12).O
atendimento imediato às vítimas de violência sexualem
hospitais, pronto socorros eclínicas deve considerar os aspectos médicos, jurídicos e psicológicos
que
a condiçãoenvolve.
Deve
procedercom
adocumentação
e tratamento das injúrias fisicas, realizar aprofilaxia das doenças sexualmente transmissíveis, avaliação
do
risco e prevençãoda
gravidez e coleta deexames
de interesses forenses (12).A
aquisição deuma
DST
em
decorrênciada
violência sexual,pode
implicarem
severasconseqüências fisicas e emocionais. Atualmente, a principal preocupação entre as vítimas é a
possibilidade de se infectar pelo vírus
da
imunodeficiênciahumana
(HIV). Aindanão
estádevidamente esclarecido
o
risco de contrairuma
DST
atravésda
violência sexual, porém,sabe-se que depende de vários fatores (18).
Isoladamente, o diagnóstico clinico
ou
laboratorial deuma
DST
é insuficiente para estabelecer se a infecção decorreu da agressão, principalmente entre as mulheres sexualmenteativas
na
épocada
violência (18).Por
outro lado, a relação entreDST
e abuso sexualna
infância é significativa. Frente aodiagnóstico, é imperativo
que
se investigue a hipótese de abuso sexual, pois poucas são ascondições
em
que o
diagnóstico deuma
DST
em
crianças não esteje relacionadocom
abusosexual, excetuando-se as circunstâncias de transmissão perinatal (13).
Dentre as principais
DSTs,
podemos
destacar a síndrome da imunodeficiência adquiridaO
risco de contaminação pelo virusHÍV,
causador da síndromeda
imunodeficiência adquirida, dependeda
condição sorológicado
agressor,do
tipo de violência perpetrada edo
número
de agressores. Limitações metodológicastomam
dificil avaliar as taxas de soroconversão entre as vítimas e de soroprevalência entre os agressores. Sabe-se,no
entanto,que
a taxa de infectividade peloHIV
para a mulherque
sofre relação vaginal única varia de0,08%
a 0,2%.Se o
coito for anal, essa taxa se eleva para0,1%
a0,3%
(31). Situação aindamais preocupante se observa na violência sexual na qual os dois tipos de coito são impostos,
acompanhados de
violência fisica,podendo
a taxa de transmissão chegar a0,8%
a1,6%
(¡8'31)'Entre as conseqüências
da
violência sexual, a gravidez se destaca pela complexidade dasreações psicológicas, sociais e médicas que determina. Geralmente é encarado
como
uma
segunda violência, intolerável para a maioria das mulheres (12).
A
assistência à vítima de violência sexual deve portanto, abranger a profilaxia dasDSTs,
considerar e avaliaro
risco de gravidez, oferecendo medidas contraceptivas deemergência, além
do
tratamento das injúrias fisicas e propiciar atendimento psicológico,destinado a fortalecer a capacidade das vítimas
em
lidarcom
os conflitos e problemas inerentes à situação vivida U2* 13)'Objetivando a prevenção das
DSTs,
as seguintes medicações são preconizadas peloMinisiéúa
da
saúdeW)
z°Azitromicina lg
VO
dose única associado à Cefixina400mg
VO
dose única; ~Penicilina Benzatina2400000
IM;
'Vacinação anti hepatite B.
De
acordocom
o
Centerof
Disease Control(CDC)
eo
Ministérioda
Saúde, érecomendado
o seguinteesquema
para profilaxiada
infecção pelo vírusHIV
ml*
13) :-Zidovudina
300mg
VO
12/ 12h durante quatro semanas.O
regime deYUZPE
constituino método
de eleição para contracepção de emergência devido seu baixo custo, tolerabilidade, eficácia e ausência de contra indicação absoluta.Consiste na administração
combinada
de200
microgramas de Etinil Estradiol associado a100 microgramas de Levonorgestrel, dividido
em
duas doses,com
intervalo de 12 horas,sendo
que
a primeira ingetão até72
horas após a violência perpetrada(5'1°”l3).Além
destas medidas, o atendimento à vítimano
âmbito médico, deverá incluirtambém
uma
anamnese
clinica e tocoginecológica completos e solicitação deexames
de rotinaque
incluem tipagem sangüínea,
VDRL,
cultura de secreção vaginal edo
canal endocervical,sorologia para Hepatite
B
e sorologia anti-HIV is* 1”.Apesar
do Código
Penal Brasileiro (artigo 128)não
puniro
abortamento nesses casos háquase
60
anos, a interrupção dessas gestaçõestem
sido feita deforma
excepcional pelosserviços públicos de saúde, agravando sobremaneira a situação dessas mulheres (12).
Portanto, é de
suma
importância a existência deuma
padronização ao atendimento aopaciente vítima de violência sexual, pois diante de tal situação, através de
um
atendimentodinâmico, objetivo e principalmente
humano,
podemos
dealguma forma
amenizaro
sentimento de humilhação e sofrimento carregados pela vítima.Visando este objetivo e
principalmente a fim de evitar
uma
possível revitimização da paciente, criou-seo
Protocolode Atendimento à Vítima de Violência Sexual, adotada na cidade de Florianópolis desde janeiro de 2001.
`
Por fim,
é valido citar as recomendações de atendimento elaborado pelaCasa
de Culturada
Mulher Negra
à vitima de violência sexual 04):-Entrevistar a mulher sozinha e verificar se ela está
em
segurança ao dar as informações;~Documentar
a históriado
incidente atual e violência passadasna ficha
médica,anotando
quem
foi o agressor;*Realizar
exame
fisico completo, incluindoexame
neurológico e solicitação deexames
complementares;
-Esclarecer à vítima sobre seus direitos legais;
2.0BJETIV
OS
2.1 Gerais
Descrever e analisar os fatores relacionados
com
a violência sexual praticado contracrianças, adolescentes e adultos
do
sexo femininono
município de Florianópolisno
ano de2001
2.2 Específicos
1) Identificar os tipos de crime perpetrado contra liberdade sexual
2) Tipificar a forma de constrangimento utilizada pelo agressor 3) Traçar o perfil
do
agressor responsável pelo crime perpetrado4) Situar a localidade
da
ocorrência dos crimes5) Verificar
o
uso de contracepção de emergência e profilaxia contraDST,
pelavítima
3.
MATERIAIS
E
MÉToDos
Os
dados foram integralmente coletados através de informações obtidas nas fichasdo
Protocolo de Atendimento à Vítima de Violência Sexual vigentes nas seguintes instituições:
Hospital Universitário de Florianópolis, Hospital Infantil Joana de
Gusmão,
MaternidadeCarmela
Dutra , S.O.S Criança e disponíveisna
Secretaria deSaúde de
Santa Catarina.Realizou-se
uma
análise retrospectiva adotandouma
população universal,no
total de62
pacientes, atendidos nas instituições acima referidas
no
período compreendido entre janeiro adezembro do
ano de 2001.Os
pacientes foram alocadosem
três grupos de estudos definidos pela faixa etáriasegundo critérios estabelecidos pela Organização Mundial
da
Saúde,em
1977,conforme
o quadro abaixo:Grupo
Denominação
DefiniçãoI Crianças idade inferior a dez anos
II Adolescentes idade superior
ou
igual a dez anos III Adultos idade igualou
superior a vinte anosEm
todos os gruposforam
observados os critérios de inclusão e exclusão.Foram
considerados critérios de inclusão, para todos os grupos, os seguintes crimes contra a liberdade sexual:
- Estupro
-Atentado violento ao
pudor
anal(AVPA)
'Atentado violento ao pudor
(AVPO)
-Atentado violento ao pudor
(AVP),
diferente deAVPA
eAVPO
Para caracterização e classificação desses crimes sexuais nos critérios de inclusão, foi
adotado a definição vigente
no Código
Penal Brasileiro,conforme
estabelecido pelos artigos213
e 214, que tratam respectivamentedo
estupro e atentado violento aopudor
(25).-Pacientes
com
fichas incompletas e/oumal
preenchidas,no
total de duasAo
final, considerando os critérios de inclusão e exclusão,obtemos
um
total de60
pacientes para serem analisados.
As
variáveis foram estudados considerando-se, para cadauma
delas, apenas as categorias de inclusão encontradas entre os dados registrados.Os
casos foram estudadosem
relação a sete variáveis
que
se seguem:~Cr¡me
sexual- tipo de crime perpetrado contra a liberdade sexual.Foram
alocadosem
dois grupos;1) Estupro: constranger mulher à conjunção camal, mediante violência
ou
graveameaça
(25).2) Atentado violento ao Pudor: constranger
alguém
mediante violênciaou
graveameaça, a praticar
ou
permitirque
com
ele se pratique ato libidinoso diversoda
conjunção carnal (25).
Os
crimes relacionados ao atentado violento aopudor
anal(AVPA)
e atentado violentoao
pudo
oral(AVPO)
estão incluídosno
item atentado violento ao pudor (AVP).'Forma
de
constrangimento-mecanismo
utilizado para neutralizar a resistênciada
vitima e
consumar o
crime sexual.Foram
alocadosem
quatro categorias:1)
Não
ocorrência2) Arma: considerou-se
0
uso deanna
de fogoou arma
branca pelo agressor3) Força fisica 2 uso da supremacia fisica para neutralizar a resistência
da
vitima peloagressor
4)
Grave
ameaça:promessa
do
agressorem
causardano
à integridade fisicada
vítima, se resistência°Agressor- agente perpetrador
do
crime sexual, declarado pela vítimaou
representantelegal.
Foram
divididosem
duas categorias:1) Desconhecido:
não
identificável pela vitima e/ou representante legal°Local
da
ocorrência- refere-se à localização da vítimano
momento
da abordagem do
perpetrador.
Foram
divididosem
três categorias:1) Residência: local de moradia da vítima
2) Via pública
3) Outros: neste item considerou-se locais
como
residênciado
agressor, local detrabalho da vítima.
°Coutracepção de
emergência- refere- se ao uso de medicação pela vítima, apóso
crime, visando à prevenção de
uma
gravidez indesejada.Foram
divididosem
duas categorias:l) Pacientes
que
realizaram a contracepção2) Pacientes que
não
realizaram a contracepção3)
Por
motivos óbvios, o grupo das crianças foi excluído nesta variável.~Profilaxia
de
Doenças
sexualmente
transmissíveis(DST)-
refere-se ao uso demedicamentos
pré determinados pelo l\/lfinistérioda Saúde na
prevenção deDSTs.
Foram
alocados
em
doisgmpos:
1) Pacientes
que
realizaram a profilaxia2) Pacientes
que não
realizaram a profilaxia-Traumas
extragenitais- refere-se à presença de lesão extragenital decorrenteda
agressão sexual, diagnosticada por
meio do
exame
clínicono
momento
do
atendimento àvítima.
Foram
divididosem
três grupos:1)
Não
ocorrência de traumas extragenitais2)
Hematomas
3) ContusãoNos
casosem
queforam
identificados mais deuma
lesão extragenital, considerou-se,3.1.
Método
de
Análise eApresentação
dosDados
As
freqüências (absolutas e relativas) de todas as variáveis relacionadas aos fatores deinteresse são apresentados
em
forma
de tabelas.A
distribuiçãode
algumas variáveis selecionadas de acordocom
grupos específicos é apresentado e as prevalências destes grupos comparados.Uma
vezque
foi utilizada apopulação total, tanto na apresentação
do
perfil de violência quantona
distribuição dascaracterísticas,
não
se aplicao
uso de testes estatísticos.Os
dados foram digitados utilizandoo programa
Epidata versão 2.1a e analisadoscom
o
programa
Epiinfo versão 6.04b. Tabelas de freqüência , freqüência cumulativa e tabelas decontingência,
expondo
a prevalênciaem
diferentes grupos, foram utilizados na descrição dosresultados.
3.2. Aspectos Éticos
Este estudo, por utilizar dados disponíveis
em
ficha
clinica demanejo
habitual erotineiro pelo serviço, não apresenta implicações éticas.
É
pertinente, entretanto, que seconsidere a irrestrita observação aos princípios de confidencialidade
da
fonte de dados.Nenhuma
paciente participantedo
estudo foi por qualquermeio
identificada,nem
seunome
4.
RESULTADOS
Os
resultados a seguir, referem-se à análise dos60
pacientes alocados nos três grupospreviamente descritos. Observou-se, ao final,
que
19 pacientes (3l,7%) pertenciam aogrupo
das crianças, 15 pacientes
(30%)
pertenciam aogrupo
dos adolescentes e 23 pacientes analisados (3 8,3%), pertenciam ao grupo das mulheres adultas.As
variáveis referentes ao tipode
crime sexual;forma
de constrangimento utilizada pelo agressor; localização da vítimano
momento
da
ocorrênciado
crime sexual; tipificaçãodo
agressor; usode
contracepçãode
emergência e realização
da
profilaxia contra doenças sexualmente transmissíveis pela vítima,podem
ser apreciados nas tabelasque
se seguem.A
tabela 1 mostra a distribuiçãodo
diferentes crimes sexuais perpetrados contra ospacientes. Observou-se, portanto, a predominância
do
crimede
estupro, ocorrendoem
65%
dos casos.TABELA
1 - Tipo de crime sexual perpetrado, de acordocom
as faixasetárias
estudadas
Criançgs
AdolescentesAdultos
TotalTipos
de
Crime
n
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
Esmpm
04
(21) 14 ('/7,8) 21 (91,3)39
(65)AVP
15 (7s,9)04
(22,2)02
(s,7) 21 (35)Total 19 (100) is (100)
23
(100)60
(100)Fonte: ficha de atendimento à vítima de violência sexual, Secretaria de Saúde de Santa Catarina, 2001
O
grupo das crianças apresentou a predominânciado
crime de atentado violento aopudor
(78,9%),ao
passo que,no grupo
dos adolescentes e adultospredominou o
crime deestupro,
com
respectivamente,77,8%
e 91,3%.Na
tabela 2,que
tratada
forma de constrangimento utilizada pelo agressor para intimidação da vitima, observa-se a prevalênciaTABELA
2
- Distribuição da formade
constrangimentoutilizada para a perpetração
do
crime sexual, consoante as faixas etárias estudadas
Forma
de
Crianças
AdolescentesAdultos
TotalH
(%)
Il(%)
constrangimento
n
(%)
n
(%)
Arma
00
(O)02
(ll,1)Grave ameaça
03 (l5,8)08
(44,4)00
(0) ll (l8,3) Força fisica 01 (5,3)07
(38,9) 12 (52,2)20
(33,3)Não
ocorrência 15 (78,9) Ol (5,6) Ol (4,3) 17 (28,3) 10 (43,s) 12 (20) Total” ii 19 (100) "ii 1s"(100)" S23
(100) ii *60 (100)Fonte: ficha de atendimento à vítima de violência sexual, Secretaria de Saúde de Santa Catarina, 2001
Ao
comparar-seo
tipode
constrangimento nos três grupos, constatou-seque
no grupo
das crianças prevaleceu a
não
ocorrência deforma de
constrangimento pelo agressor (78,9%).Em
contrapartida, a graveameaça
e a força flsica predominaram, respectivamente,no grupo
dos adolescentes e adultos.
A
tabela 3 refere-se à localidadeda
vítimano
momento
do
crime sexual.Observou-seque
a maioria dos crimes perpetrados ocorreram na própria residênciada
vítima (43,3%).TABELA
3- Localizaçãoou
situaçãoda
vítimano
momento
da abordagem do
agressor,de
acordocom
as faixas etárias estudadasAtividade/ situação
Crianças
n
(%)
n
(%)
Áäolzscentesf iiii iiAJ
lt Í* iii'"r0rai"`*u
os____
n
(%)
zz(%)
Residência Via pública Outros IO (52,6)02
(l0,5)O7
(36,8)07
(3 8,9)07
(38,9)04
(22,2)09
(39,1)26
(43,3) 13 (56,5)22
(36,7) 01 (4,3) 12 (2o) Total 19 (100) 18 (100)23
(100)60
(100)Fonte: ficha de atendimento à vítima de violência sexual, Secretaria de Saúde de Santa 2001 W
Comparando-se
isoladamente, constatou-seque no
grupo dos adultos, alocalidade
da
vítima
no
momento
daabordagem do
agressor mais freqüente deveu-se ao item via pública,com uma
fieqüência 5 vezes maiorao
observadono
grupo das crianças(56,5%
versus10,5%)
. Este grupo, por sua vez, teve
como
residência (52,6%).
Por
outro lado,no
grupo
dos adolescentes, observou-seuma
igualdadena
fieqüência
da
ocorrência nos itens residência e via pública (3 8,9%).A
distribuiçãoda
referênciado
agressor responsável pela perpetraçãodo
crime sexual,declarado prela vitima e/ou representante legal, encontra-se na tabela 4.
O
perpetradorconhecido obteve a freqüência mais elevada (65%), quase 2 vezes maior
que
asoma
da
freqüência
do
perpetrador desconhecido (35%).TABELA
4
-Conhecimento
pela vítimaou
representantelegal
do
agressor referidocomo
responsável pela perpetraçãodo
crime sexual, de acordocom
as faixas etárias estudadasCriancas
Adolescentes AdultosAgressor
n
(%)
n
(%)
n
(%)
Totaln
(%)
Deswzúiecido 01 (5,3) os (27,s) 15 (ó5,2) 21 (35) Idemificâvel is (94,7) 1302,2)
os
(34,s)39
(65) Tótzl A W319 (100) " is (100) 1235 (100) ii66
(100) AFonte: ficha de atendimento à vítima de violência sexual, Secretaria de Saúde de Santa Catarina, 2001
A
distribuição de acordocom
grupo de estudo,mostrou que o
agressor identificávelapresentou freqüência quase 3 vezes maior
no grupo
das crianças (94,7%)quando comparada
com
a obtidano grupo
dos adultos (34,8%).A
ocorrênciade
trauma extragenital conseqüenteao
crime sexual foi observadoem
38,4%
dos pacientes (tabela 5).TABELA
5
- Distribuiçãodo
traumaextragenital conseqüentes ao crime sexual,
consoante as faixas etárias estudadas
Trauma
Crianças
AdolescentesAdultos
extragenital
n
(%)
n
(%)
n
(%)
Totaln
(%)
Não
ocorreu 19 (100) 14 (77,8)Hematoma
00
(O) 03 (16,7) Contusões00
(0) 01 (5,6)04
(l7,4)07
(30,4) 12 (52,2)37
(61,7) 10 (16,7) 13 (2I,7) Total 19 (100) is (100)23
(100)ao
(100)Fizzfihza
on c e aten aim ento a vitima de violencia i "°1*
Nota-se aqui
que
a freqüênciade
trauma extragenitalno
grupo dos adultos obteveum
valor quase
4
vezes maiorque
asoma
da
ocorrênciano
grupo dos adolescentes(82,6%
versus22,3%),
predominando
as contusões (52,2%).Em
contrapartida,no
grupo das crianças,não
seobservou a ocorrência de trauma extragenital.
A
seguir (tabela 6), aborda-seo
usodo método
contraceptivo de emergência pelasvítimas
de
crime sexual.TABELA
6
- Distribuiçãodo
usodo método
contraceptivo de emergência, de acordocom
as faixas etárias estudadasUso
de
contracepção AdolescentesAdultos
11
(%)
ll(%)
Total 11(%)
sim
09
(50)20
(sv)Nâz
09
(50) 03 (13)29
(70,7) 12 (29,3)W"
_Total)
is (100)"23
(100)41
"(100)Fonte: ficha de *atendimento a vitima de violência sexual, Secretaria de Saúde
de
Santa Catarina, 2001A
prevalênciana
utilizaçãodo método
contraceptivo de emergência,no
presente estudo,alcançou urna alta freqüência (70,7%), sendo
que no
grupo dos adultos foi observou-seo
índice mais expressivo (87%).
Em
última análise (tabela 7), comparou-seo
usoda
profilaxia contraDST
pelas vítimasdo
crime perpetrado.TABELA
7
- Realizaçãoda
profilaxia contraDST,
consoante as faixas etárias estudadasCrianças
Adolgcentes
Adultos
TotalUso
de
profilaxian
(%)
n
(%)
n
(%)
n
(%)
Realizado
04
(21,1) 11 (ó1,1)20
(sv) 35 (5s,3)Nâorealizaàø 15 (7s,9)
07
(3s,9) 03 (13)25
(41,7)Total 19 (100)
is
(100)23
(100)60
(100)5.DISCUSSÃ()
Para análise das variáveis apresentadas,
optamos comparar
os resultados obtidos neste estudo,com
outros obtidosem
nossomeio
e disponíveis na literatura.Em
São
Paulo ,Cohen
eMatsuda
(1991) verificaramque
o
estupro constitui a principalqueixa de crime sexual apresentado ao
IML
(InstitutoMédico
Legal),em
cercade
60%
doscasos e
o
AVP
em
quase18%.
Dados
semelhantes foram verificadosnum
estudo envolvendonúmeros
das Secretarias Estaduais de Segurança Pública,no
ano de 2000,onde
observou-seque
55%
das pacienteseram
vítimasdo
crime de estupro, enquantoque
o
restante(45%) eram
vítimas de
AVP.
Em
nossa análise, apesarda pequena
população estudada, verificamosuma
correspondência aos estudos descritos anteriormente,
com
a predominânciado
crimede
estupro
em
65%
dos casos.Analisando isoladamente, observou-se a predominância
do
crimede
AVP
(78,9%)no
grupo
das crianças,ao
passoque no
grupo dos adolescentes e adultospredominou o
crimede
estupro.Dados
da
ABRAPIA
(1997) (Associação Brasileira Multiprofissionalde
Proteção àInfância e Adolescentes), reservou grande similaridade
com
os resultados obtidos neste estudo, parao grupo
das crianças.Segundo
esta instituição, cerca de70%
dos crimes sexuaissão compativeis
com
AVP,
destacando-se as carícias eróticas e a masturbaçãoda
criançaou
do
agressor.O
estuproconsumado
foi constatadoem
menos
10%
dos
casos.Kuhn
et al.(1997),
num
estudo envolvendo 188 crianças, constatou-seque
63%
eram
vítima deAVP,
eapenas
37%
de
estupro.A
exposição ao abuso sexualna
infância é associadocom
uma
sériede
fatores familiarese
da
infância, incluindo situação social desfavorável, instabilidade familiar, fraqueza nosrelacionamentos interfamiliares e dificuldade
no
ajustamento familiar,o que
também
estáassociado ao
aumento da
vulnerabilidade sexualno
adolescente.Quanto
ao constrangimento imposto à vitimano
decursodo
crime sexual,optamos
pelautilização
do
conceito vigenteno Código
Penal Brasileiro,conforme
descritos pelos artigosAcredita-se
que
a maior força fisicado
agressor e a intimidação psicológica (através degrave ameaça) por ele implicada à vitima, sejam os fatores determinantes para neutralizar sua
resistência (26).
Neste estudo, a força fisica instituída pelo agressor a
fim
de
neutralizar a resistênciada
vítima foi a
forma
predominante de constrangimento (33,3%) entre as60
pacientes analisadas (tabela 2).Apesar disso, é pertinente
que
se destaque a não ocorrência deforma de
constrangimento
como
fator predominanteno
grupo das crianças (78,9%). Isto deve-seao
fato, ao nosso ver, pela situação natural
de
inocência e ingenuidade dessas vítimas, nãopermitindo-lhes reconhecer
o
abuso sexualcomo
algo hediondo.Em
contrapartida,no
grupodos adolescentes e mulheres adultas, observou-se apenas
um
caso,5,6%
e 4,3%,respectivamente,
em
que não
ocorreunenhum
tipo de constrangimento pelo agressor.Fato raro descrito na literatura,
em
nossa análise ocorreuem
situações especiais.No
grupo dos adolescentes, este fato ocorreu devido ao estado de deficiência mental
da
vitima.Há
consenso deque
,em
qualquer idade,o
retardo mentaltoma
a mulher extremamentevulnerável ao abuso sexual (21) .
Entre outras condições impeditivas para a vitima oferecer resistência, destacam-se idade avançada, uso de drogas ilícitas, hipnose
ou
estado de embriaguês, este último observadono
caso
do
grupo das mulheres adultas.Quanto
à localizaçãoou
situaçãoda
vítimano
momento
da abordagem do
agressor, verificou-seque
a maioria dos pacientes encontrava-seem
sua própria residência (43,3%).Em
contrapartida, Pimentel et al. (1998), obtiveram dados incompatíveis aos obtidos
em
nosso estudo. Verificou-seque
54%
dos casosde
abuso sexualocorrem
em
vias públicas e46%
em
locais privados.
A
análise dessa variável por diferentes grupos etários mostrouque
os casos ocorridosem
vias públicas estiveram relacionados principalmentecom
o
grupo das mulheres adultas,ao
passo que,
no grupo
das crianças constatou-seque
a maioria dos crimes sexuais transcorreuem
ambiente privado. Curiosamente,no
grupo dos adolescentes, observou-seuma
igualdadeda
freqüência dos crimesna
residênciada
vítima e vias públicas (3 8,9%).Dados
da
ABRAPIA
2000/2001, condizcom
os dados fornecidos anteriormente parao
grupo
das crianças,no
qual ven`ficou‹seque
84,86%
dos abusosocorrem
na própria residênciaconcordância
com
os resultados obtidos e discutidos postefionnente, quanto a tipificaçãodo
agressor,
que
na maioria das vezes é conhecido da vítima e/ou seu representante legal.Por
outro lado, entre as mulheresem
idade adulta, a maioria dos casos perpetrados dentro da residênciada
vítimapode
estar relacionadacom
situações de roubo, seguidos de crime sexual, geralmente relacionadocom
agressores desconhecidos. Outra possibilidade tratados casos de abuso sexual dentro
da
relação de união,promovidos
pelo parceiro sexual.Para os serviços de saúde, a identificação
da
situaçãoda
vítima durante o crime sexualnos parece guardar grande importância.
Na
suspeitaou confinnação de
casos de incesto,torna~se obrigatório a denúncia dos fatos aos órgãos competentes,
no
sentidode
garantir àcriança
ou
adolescente a interrupçãodo
processo e medidas de proteção.Nos
adultos, a.comunicação
de ocorrências sistemáticasem
certos logradouros, apesarde
facultativas,pode
contribuir
com
as autoridadesno mapeamento
das áreasde
maior prevalência desses crimes.No
que
diz respeito ao agressor,no
total dos pacientes estudados, prevaleceuo
criminoso identiticável pela vítima e/ou representante legal (65%). Contudo, constatou-seque
esse achado sofreu notável variação
quando
analisado nos diferentes grupos etários.Enquanto
o agressor identificável associa~se na maioria dos casosno
grupo das crianças(94,7%) e adolescentes (72,2%), nos adultos observou-se a inversão nessa relação
com
34,8%.Segundo
dadosda
ABRAPIA
2000/2001, os crimes perpetrados contra as criançastem
como
seu principal perpetrador,em
63,8%
dos casos,membros
da
famíliada
própria vítima;ou
seja, pessoasque
a criança conhece, provavelmentedepende
econfia
(22).Kuhn
et al (1998),em
seu estudo,veúficou
que
85%
dos
crimes sexuais contra ascrianças, tinham
como
perpetrador identificável pela vítima e/ou representante legal.Drezett et al. (1996), por sua vez,
afinnou
em
sua análiseque
o
perpetradordesconhecido
assume
maior freqüência após a adolescência, entre 50 a70%
dos casos.Os
resultados quanto à ocorrência de traumas extragenitais, observou-se apredominância da
não
ocorrência de traumas extragenitais (6l,7%).Porém,
se analisarmos separadamente, constatamosque no
grupo dos adultos estemesmo
fatonão
ocorreu,observando-se
uma
freqüência maior de80%
de traumas extragenitais, divididos entrehematomas
(30,4%) e contusões (52,2%).Atkeson
et al. (1989), afirmaque
a maiorocorrência de trauma extragenital neste grupo possa se relacionar
com
a resistênciao
perpetrador utilizaria diferentes formas de agressão fisica que poderiam resultar nas lesõesobservadas.
A
comparação
entre as taxas de trauma encontrada neste estudo e aqueles registradosna
literatura esteve prejudicada pela falta de uniformidade quanto aos critérios de inclusão dos
pacientes, metodologia aplicada,
tempo
decorridoda
violência eexames
complementaresutilizados.
Cabe
salientarque
nossos resultados são o reflexoda
proposição de registrarapenas os danos,
sem
a utilização deexames
complementaresou o
estabelecimentode
limitede
tempo deconido da
violência.Neste estudo observou-se
na
maioria dos casos (70,7%) a realizaçãoda
contracepção de emergência pelas vítimasde
abuso sexual. Entendemos, ao nosso ver,que
isto reflita a preocupação dos serviços primários de atendimento à vitimade
violência sexualem
evitaralgo
que
poderia ter conseqüências ainda mais graves e catastróficasque
a própria violência perpetrada.Em
relação à realizaçãoda
profilaxia contra doenças sexualmente transmissíveis pelas vítimasde
abuso sexual, observou-se alta prevalência da efetivação desse método. Contudo,o
mesmo
não se observouno grupo
das crianças.Porém, entendemos que
esses dadosmerecem
cuidadosa interpretação, visto
que
a baixa ocorrência da realização destemétodo
deveconsiderar
que
a grande parte dos crimes perpetrados contra essegrupo foram
de atentadoviolento ao pudor.
Na
última década, a violênciade
gênerovem
sendo remetida à áreada
saúde pública,tanto pelo
movimento
feministacomo
pelos serviços de saúde, entidades governamentais e organismos intemacionais. Este direcionamento parece estarembasado na
crescente constatação deque o
abuso sexual está associadocom
agravos para a saúde fisica e mental (8).Assim,
o médico
deveria seradequadamente
treinado parao manejo
clinico e psicológico das vitimas de agressão sexual, incluindo-se a coletade
evidências forenses eo
conhecimento
da
legislação específica local (1).Outro
aspecto relevante consiste nanecessidade
do médico
e demais profissionaisda
saúdeem
coibirem manifestaçõesou
julgamentos pessoais quanto ao ocorrido e suas circunstâncias.
Acredita-se
que
a negligência paracom
esses aspectos, particularmente os psicológicos,pode
resultarno
processo de “revitimização”da
paciente pelos serviços de saúde (23).Em
setratando de ocorrências durante a infância, a preocupação parece ser ainda maior.
O
Segundo
os autores, profissionaisque
nãocontemplem
essas exigênciasdevem
evitar prestaratendimento (16).
O
crescentenúmero
de serviços médicos especializados nessa questão parece serum
dos caminhos importantes para a melhoria
do
atendimento à mulher.Finalizando, urge
que
todos os profissionaisda
saúde, e especialmente os médicos,conheçam
os aspectos jurídicos e técnicos relacionadoscom
a violência sexual, paraque
osdireitos das mulheres e
de
toda sociedade sejam efetivamente garantidos...Ou
então,como
asdenaides
da
mitologia grega, as mulheres continuarão condenadas a carregar seus direitosem
um
jarro furado...(3°).ó.coNcLUsõ1:s
Nas
pacientes atendidasem
situação de crime sexual, os resultados da presente investigação permitem concluir que:~
O
estupro foio
crime sexual predominante entre adolescentes e mulheres adultas,enquanto
que
o
atentado violentoao
pudor, apresentou-secom
maior freqüência nas crianças; ~A
força fisica foi aforma
de constrangimento mais freqüenteno grupo
dos adultos, aopasso
que
nos adolescentespredominou
a graveameaça
e nas crianças a inexistência desse ato pelo agressor;-
No
grupo das crianças, a violência sexual foi perpetrada principalmente na residênciada
vítima.Em
contrapartida,no
grupo dos adolescentes observou-seuma
igualdade dos acontecimentosem
vias públicas e na residênciada
vítima.No
grupo dos adultos, os abusospredominaram
em
vias públicas;°
Nas
crianças e adolescentes,a
maioria dos crimes sexuais foi perpetrada por agressor identificável pela vítima e/ou representante legal.Nos
adultos,predominou
o
agressor desconhecido;-
Traumas
extragenitais ocorreram apenasno
grupo dos adolescentes e adultos,predominando
hematoma
e contusões respectivamente;- Entre adolescentes e adultos, vitimas
de
crime sexual, observou-se grande freqüênciano
uso demétodo
contraceptivo de emergência;- Entre adolescentes e adultos observou-se a predominância
do
usoda
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