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Caracterização e avaliação da pesca artesanal no município de Itarema - Ceará - Brasil

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Academic year: 2021

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CURSO DE ENGENHARIA DE PESCA

LIANE MARLI SILVA DE ARAÚJO

CARACTERIZAÇÃO E AVALIAÇÃO DA PESCA ARTESANAL NO MUNICÍPIO DE ITAREMA - CEARÁ - BRASIL

FORTALEZA 2010

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CARACTERIZAÇÃO E AVALIAÇÃO DA PESCA ARTESANAL NO MUNICÍPIO DE ITAREMA - CEARÁ - BRASIL

Monografia submetida A. Coordenação do Curso de Graduação em Engenharia de Pesca, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do titulo de Engenheira de Pesca.

Area de Concentração: Pesca Artesanal Orientador: Prof. Dr. Luiz Artur Clemente da Silva.

FORTALEZA 2010

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A69c Araújo, Liane Marli Silva de.

Caracterização e avaliação da pesca artesanal no município de Itarema - Ceará - Brasil / Liane Marli Silva de Araújo. – 2010.

52 f. : il. color.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Ciências Agrárias, Curso de Engenharia de Pesca, Fortaleza, 2010.

Orientação: Prof. Dr. Luiz Artur Clemente da Silva.

1. Pesca artesanal. 2. Condições sócio-econômicas. 3. Desenvolvimento sustentável. I. Título. CDD 639.2

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CARAC I ERIZAÇÃO E AVALIAÇÃO DA PESCA AR I ESANAL NO MUNICÍPIO DE ITAREMA — CEARÁ — BRASIL

Monografia submetida à Coordenação do Curso de Graduação em Engenharia de Pesca, da Universidade federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do titulo de Engenheira

de Pesca.

Aprovada em: / /

BANCA I I ADORA

Prof. Dr. Luiz Artu C emente da Silva ( Orientador) Universidade Federal do Ceará — UFC

Profa. Dra. Rosemeiry Melo Carvalho (Membro) Universidade Federal do Ceará — UFC

Prof. Ms. Roberto Cláudio de Almeida Carvalho Universidade Federal do Ceará — UFC

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A Deus, que iluminou meus pensamentos e possibilitou este trabalho.

Ao núcleo da minha família, em especial minha mãe, que me apoiou em todos os momentos. Ao meu pai por este ser o meu grande mestre e incentivador. Ao meu irmão, por acreditar no meu potencial. A minha filha Iara, a pessoa mais importante da minha vida, que compreendeu que eu estava fazendo minha tarefa de casa.

Ao meu orientador Prof. Dr. Luiz Artur pelos ensinamentos e dedicação, a todos meus professores, em especial Prof. Nonato, Prof. Wladimir e Prof. Silvana.

A geógrafa Fátima Soares, por ter me incluindo no Projeto Napureza, no Município de Itarema.

Aos membros do grupo Mangue Vivo, principalmente Carlos Henrique, italo Pinheiro e Diana que colaboraram diretamente para realização deste trabalho.

Ao casal Natália e Danilo Martinz pelas boas idéias e sugestões.

Aos pescadores artesanais, marisqueiras e lideres comunitários de Porto do Barco e Torrões pela receptividade e disponibilidade para com minha pesquisa.

A Prefeitura de Itarema e BNB pelo apoio financeiro para realização do presente trabalho. As amigas Rita de Cássia e Cleidiane que cuidaram da minha pequena filha enquanto eu viajava para realizar este trabalho.

A todos servidores da UFC, especialmente a dona Valda e Goulart.

Agradeço também a todos que colaboraram de forma direta ou indiretamente para realização da presente monografia e do meu desempenho profissional e pessoal.

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Foi feito uma caracterização da pesca artesanal no município de Itarema- Ceará, que objetivou conhecer o perfil socioeconômico dos pescadores que trabalham no ambiente estuarino e marítimo. Foram realizadas visitas nas comunidades, entrevistas e aplicação de questionários a pescadores e pescadoras. Este estudo revelou as condições (socioambientais dos espaços construidos e naturais) em que vivem e trabalham os pescadores. A pesca artesanal constitui-se a principal atividade econômica da referida localidade, gerando emprego e renda para milhares de pessoas envolvidas. A frota pesqueira é constituída em sua maioria por lanchas motorizadas. 0 manzud é a arte de pesca mais utilizada. Há uma grande diversidade nas espécies de peixes capturadas, mas a lagosta é o recurso pesqueiro mais representativo. 0 nível de vida da população das comunidades pesqueiras em estudo é baixo e nenhum pescador chega a ganhar mais que dois salários mínimos com a atividade. Os problemas enfrentados pelos pescadores são muitos, e o grande intuito deste trabalho é sugerir ao poder público a disponibilização de recursos financeiros e tecnológicos suficientes para proporcionar melhores condições de trabalho de modo a proporcionar melhorias socioeconômicas aos integrantes das comunidades pesqueiras deste Município.

Palavras-chave: Pesca Artesanal. Condições Sócio-Econômicas. Desenvolvimento

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1 Produção total de pescado estimada por ano, segundo as regiões e 17 unidades de Federação.

2 Produção estimada e participação relativa da pesca marinha 17 industrial e artesanal, por regido e estados nordestinos.

3 Caracterização dos pescadores artesanais, segundo o gênero, Itarema- 30 CE, 2010.

4 Caracterização dos pescadores artesanais, segundo a idade, Itarema- 31 CE, 2010.

5 Caracterização dos pescadores artesanais, segundo a escolaridade, 32 Itarema- CE, 2010.

6 Caracterização dos pescadores artesanais, segundo a idade de 33 ingresso na profissão, Itarema- CE, 2010.

7 Caracterização socioeconômica dos pescadores artesanais, segundo a 34 função na atividade de pesca, Itarema, CE, 2010.

8 Caracterização socioeconômica dos pescadores artesanais, segundo a 34 participação em organizações sociais, Itarema- CE, 2010.

9 Caracterização socioeconômica dos pescadores artesanais, segundo o 35 tipo de organização social, Itarema, CE, 2010.

10 Caracterização socioeconômica dos pescadores artesanais, segundo o 35 nível de satisfação na atividade pesqueira, Itarema, CE, 2010.

11 Caracterização socioeconômica dos pescadores artesanais, 36 segundo a capacitação (habilidades profissionais), Itarema- CE,

12 Caracterização socioeconômica dos pescadores artesanais, segundo a 37 disponibilidade de financiamento para exercer a pesca, Itarema- CE,

13 Caracterização socioeconômica dos pescadores artesanais, segundo o 38 interesse em adquirir financiamento, Itarema- CE, 2010.

14 Caracterização das atividades de pesca e comercialização, segundo o 39 - tipo de embarcação, Itarema- CE, 2010.

15 Caracterização das atividades de pesca e comercialização, segundo o 40 tipo de arte de pesca, Itarema- CE, 2010.

16 Caracterização das atividades de pesca e comercialização, segundo o 41 produto de pescaria, Itarema, CE, 2010.

17 Caracterização das atividades de pesca e comercialização, segundo o 42 tempo de pescaria, Itarema- CE, 2010.

18 Caracterização da fonte de renda do pescador, segundo a renda mensal 43 em média com as pescarias, Itarema- CE, 2010.

19 Caracterização das condições de moradia do pescador, segundo a 44 propriedade da casa e fonte de iluminação, Itarema- CE, 2010.

20 Caracterização das condições sanitárias do pescador, segundo a fonte 45 de água para consumo,destino do lixo doméstico e tipo de instalação

21 Principais conflitos e as respectivas soluções levantadas a partir do 46 relato dos pescadores artesanais de Itarema e lideres comunitários.

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1 INTRODUÇÃO

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Considerações sobre pesca

2.2 Histórico de políticas públicas voltadas para o setor

11 16 16 18 2.3 Informações sobre embarcações artesanais 20

2.3.1 Bote a remo 20 2.3.2 Bote de casco 21 2.3.3 Bote motorizado 21 2.3.4 Canoa 21 2.3.5 Paquete 22 2.3.6 Lancha 22 2.4 Artes de pesca 22 2.4.1 Mergulho e caçoeira 23 2.4.2 Linha e anzol 24 2.4.2.1 Espinhel flutuante 24 2.4.2.2 Espinhel de fundo 24 2.4.2.3 Linha de mão 24 2.4.2.4 Linha de arrasto 24 2.4.2.5 Vara ou caniço ' 24 2.4.3 Redes de emalhar 25

2.4.3.1 Rede de emalhar flutuante 25

2.4.3.2 Rede de emalhar fixa 25

2.4.4 Redes de saco 25

2.4.4.1 Rede fixa de saco para camarão 25

2.4.5 Armadilhas (nassas) em geral 25

2.4.5.1 Curral para peixe 25

2.4.5.2 Manzud 25

3 METODOLOGIA 27

3.1 Área de estudo 27

3.2 Origem dos dados 28

3.3 Métodos de análise 29

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 30

4.1 Caracterização do pescador artesanal de Itarema 30

4.1.1 Características pessoais 30

4.1.2 Características socioeconômicas 33

4.1.3 Características das atividades de pesca e comercialização 38

4.2 Condições de moradia 44

4.3 Conflitos e soluções 46

5 CONCLUSÃO 49

REFERÊNCIAS 51

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1 INTRODUÇÃO

A pesca artesanal é definida como aquela em que o pescador sozinho ou em parcerias participa diretamente da captura de pescado, utilizando instrumentos relativamente simples. Os pescadores artesanais retiram da pesca sua principal fonte de renda, ainda que sazonalmente possam exercer atividades complementares. (DIEGUES, 1988, apud RA.MIRES; BARELA; CLAUZET, [S.d] p.1). Enquanto processo de trabalho, ela encontra-se em contraste com a pesca industrial por ser exercida com métodos simples e suas características são bastante diversificadas, principalmente quanto aos hábitats como os estoques que exploram. (BERGOSSI, 1992; MALDONADO, 1986, apud RAMIRES; BARELA; CLAUZET, [S.d] p. 1).

Sendo assim, a pesca artesanal apresenta uma grande diversidade biológica de espécies capturadas e um maior respeito aos estoques pesqueiros, sendo praticada de forma não seletiva, podendo ser vista como uma atividade sustentável desde que seja realizada de forma responsável. A maior sazonalidade que existe na pesca artesanal, em relação h pesca industrial, possibilita que os pescadores artesanais realizem outras atividades em determinados períodos relacionados com as características inerentes da espécie a ser explorada.

Através da pesca os pescadores adquirem um extenso conhecimento sobre o meio ambiente, as condições das marés, os tipos de ambientes propícios

a

vida de certas espécies de peixes, o manejo dos instrumentos de pesca, identificação dos pesqueiros (melhores pontos de pesca), o hábito das diferentes espécies de peixes, o comportamento e classificação dos peixes. Esse conjunto de conhecimentos é utilizado nas estratégias de pesca e pode ser útil para o manejo de estoques pesqueiros. (DIEGUES, 1983 e 1995; SILVAN0,1997 apud RAMIRES; BARELA; CLAUZET, [S.d] p.2).

A troca de conhecimentos entre as comunidades acadêmicas e as comunidades pesqueiras são muito valiosas para todos os envolvidos, permitindo assim um considerável avanço no setor pesqueiro. Há uma tendência crescente de estudos extensionistas nas comunidades litorâneas e costeiras. Estes estudos são de grande relevância para a vida sustentável no planeta tendo em vista a necessidade de manter os estoques• pesqueiros para

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que as gerações futuras possam sempre usufruir. 0 número de pessoas agindo ecologicamente vem crescendo de forma exponencial, e estas atitudes ambientalistas sempre surgem após estudos embasados na cultura, modo de vida, perfil sócio econômico das populações e etc.

No Brasil, a pesca artesanal está ligada historicamente a influência de três correntes étnicas que formaram a cultura das comunidades litorâneas: a indígena, a portuguesa e a negra. (Silva et al., 1990). Da cultura indígena as populações litorâneas herdaram o preparo do peixe para a alimentação, o feitio das canoas e jangadas, as flechas, os arpões e as tapagens; da cultura portuguesa, herdaram os anzóis, pesos de metal, redes de arremessar e de arrastar; e da cultura negra, herdaram a variedade de cestos e outros utensílios utilizados para a captura dos peixes. (DIEGUES, 1983, apud RAMIRES; BARELA; CLAUZET, [S.d] p.2).

As atividades pesqueiras, dependendo da sua finalidade, podem ser classificadas nas seguintes modalidades: comercial ou não comercial. As comercialmente orientadas podem ser artesanal ou industrial (de média e grande escala). Já as não comerciais apresentam as seguintes categorias: cientifica (com a finalidade de pesquisa cientifica); amadora (objetivando o lazer ou desporto); ou de subsistência (destinando-se ao consumo próprio e/ou familiar).

As pescarias artesanais ocorrem em toda a costa brasileira e são praticadas principalmente por pescadores autônomos, os quais não possuem vinculo empregaticio, exercendo a atividade individualmente ou em parcerias. Estas pescarias operam com apetrechos relativamente simples e o produto é comercializado, geralmente, através de intermediários. Atualmente, no Brasil, a pesca artesanal disputa recursos pesqueiros com grandes empresas de pesca industrial, e apesar desta possuir uma base material e econômica mais desenvolvida e apresentar-se estruturalmente organizada, a pesca artesanal é bastante representativa no volume de produção e no número de empregados nas regiões.

A pesca artesanal é um tipo de atividade caracterizada principalmente pela mão-de-obra da unidade familiar, com embarcações como canoas, botes, jangadas ou lanchas, ou ainda sem embarcação, como na captura de moluscos na via costeira. Sua área de atuação é bastante ampla e vai desde as proximidades da costa, rios e lagos, até o alto mar. Os equipamentos variam de acordo com a espécie a ser capturada (rede de cerco, emalhe, arrasto simples, arrasto duplo, tarrafa, linha e anzol, armadilhas e outras).

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Os pescadores enquanto produtores de alimentos, mantém relações estreitas com a natureza. 0 convívio com o mar, principalmente quando a pescaria se estende por dias, acaba por contribuir para um certo isolamento, e uma pequena associação com os demais companheiros de trabalho, e de toda sociedade; uma característica singular dos pescadores que diferenciam-se de outros trabalhadores. É uma atividade que apresenta várias limitações em termos de produtividade, das condições de trabalho e da falta de apoio por parte das autoridades competentes.

Existem três tipos de pescadores: os totalmente legalizados (que constitui-se em a minoria), que tern a carteirinha da SEAP (Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca) emitida pelo governo federal, e a licença ambiental, disponibilizada pelo governo estadual; aqueles que têm apenas a carteira da SEAP (profissão regulamentada), que representam a maioria; e aqueles que não têm nenhuma das duas.

A relação de trabalho entre o dono do barco, o mestre e os tripulantes é informal, e varia, dependendo do local. Em geral o maior percentual sobre o pescado é destinado ao proprietário da embarcação (armador), pois, este arca com as despesas da pescaria (rancho, óleo para o motor, gelo, apetrechos de pesca) e com as despesas de manutenção da embarcação. Também varia a proporção que cabe a cada tripulante; pois depende do tipo de pescaria, e da localidade.

0 setor pesqueiro artesanal vive sem avanços tecnológicos significativos, sendo grande parte da frota pesqueira do Nordeste composta por embarcações velhas de madeira que proporcionam péssimas condições de trabalho, abrigando uma tripulação de 4 a 5 homens, não oferecendo condições adequadas para descanso, nem capacidade de armazenar água suficiente para a higiene e tão pouco possuem sanitários. Isso tem, de certo modo, desestimulado os filhos dos pescadores a seguir a mesma profissão, conduzindo a um envelhecimento da mão - de -obra.

Quase nada tem sido feito com relação as políticas públicas para a pesca artesanal. Um dos indícios desta afirmação são as poucas informações existentes, como também a precariedade das estatísticas, que não estão devidamente estruturadas de modo a permitirem expor a realidade da pesca no Brasil.

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0 setor artesanal passa por diversos problemas que têm levado ao empobrecimento do pescador, tais como:

a) Diminuição dos estoques; pois além da pesca predatória, a atividade é exercida principalmente sobre a plataforma continental, assim um grande número de pescadores exerce um alto esforço de pesca sobre esse ambiente, gerando também competição entre os agentes. No Ceará a lagosta ainda é o recurso mais explorado;

b) Canais de comercialização inadequados - a produção é comercializada na praia para intermediários, o que torna muito grande a diferença entre o preço final e o preço recebido pelo produtor.

c) A infraestrutura necessária para o desenvolvimento do setor — as condições de fábrica de gelo e terminais pesqueiros são precárias ou inexistentes em muitas localidades produtoras;

d) A pesca é realizada em pequenas embarcações antigas que muitas vezes se encontram em estado precário;

e) Existe pouca organização dos pescadores — é frágil o poder de organização das colônias, associações e cooperativas de pesca, como também é grande o desinteresse em participar de qualquer articulação;

f) Alto índice de analfabetismo o qual é atribuído ao descompasso entre o calendário escolar e a atividade pesqueira.

g) Inexistência de treinamento de mão-de-obra e falta de novas tecnologias evidenciadas pela inexistência de pesquisa que visem à caracterização, operacionalização e eficiência da pesca.

Deste modo, subsidiar organismos governamentais e não-governamentais na elaboração de políticas públicas especificas direcionadas para pesca artesanal é uma questão de necessidade. Apesar da pesca ser uma atividade dependente de ações do governo federal, é imprescindível também a atuação dos governos municipais e estaduais, pois estes estão próximos da realidade de cada regido ou município.

A presente monografia tem como objetivo geral avaliar a situação do pescador artesanal do município de Itarema - Ceará, analisando as características pessoais e socioeconômicas dos pescadores das comunidades pesqueiras do referido Município.

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2 REVISÃO DE LlIERATTJRA

2.1 Considerações sobre a pesca

A pesca é uma atividade de grande relevância na ocupação de mão-de-obra, produção de alimentos e geração de renda para um grande contingente da população residente na zona costeira.

Cerca de 42 milhões de pessoas trabalham diretamente no setor em todo o mundo, a maioria em países em desenvolvimento, sendo o pescado o produto mais comercializado mundialmente e uma fonte de geração de divisas para os países mais pobres (FAO, 2007).

Com uma costa de 8.500 quilômetros e 10 milhões de hectares de laminas d'água em reservatórios e usinas hidrelétricas. 0 Brasil dispõe de uma posição privilegiada para o desenvolvimento da pesca e aquicultura. Estima-se que existam no Brasil em torno de 3 milhões de pessoas vivendo do pescado, produzindo mais de 1 milhão de toneladas por ano que geram um movimento financeiro em torno de 5 bilhões de reais.

A produção brasileira de pescado no ano de 2006 alcançou um volume de 1.050.808 toneladas, representando um crescimento de 4,1% em relação a produção de 2005. 0 valor da produção correspondeu a R$ 3.294.604.130,05. A região nordeste é a responsável pelo maior volume de pescado do pais. Em 2006 apresentou uma produção de 322.471 toneladas, representando 30,7% do volume total do pescado nacional (Tabela 1). (GONÇALVES, 2009).

De acordo com a Tabela 1, entre 2004 e 2006, o ritmo de crescimento da produção é arrefecido, tendendo à estabilidade. 0 crescimento médio anual brasileiro no período foi de 1,1%, enquanto o nordestino foi de 3,1% a.a.; consolidando essa regido como a maior produtora brasileira com 30,7% da produção de pescados. Os estados da Bahia, Ceara e Maranhao são os maiores produtores de pescado da regido Nordeste, representando 23,6%, 20,6% e 19,4%, respectivamente, da pesca total da regido em 2006. 0 estado do Ceará ficou em terceiro lugar, em relação ao volume de produção do pais (R$ 283.771.555,00). 0 grande

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volume de produção do estado do Ceara se deve principalmente a produção de lagostas e camarões da pesca extrativa marinha e da carcinicultura. (GONÇALVES, 2009).

Tabela 1- Produção total de pescado estimada por ano, segundo as regiões e unidades de Federação.

Regiões e estados Produção de pescado por ano em t 2003 I 2004 Brasil 843.376,5 939.756,0 1.006.869,0 990.272,0 1.015.914,0 1.009.073,0 1.050.808,0 Norte 225.911,0 249.617,0 272.980,0 245.058,0 252.361,0 245.361,0 255.884,0 Nordeste 219.614,5 244.748,0 285.125,5 315.583,5 323.269,5 321.689,0 322.470,5 Maranhao 62.876,5 58.828,0 58.242,5 58.723,0 59.295,0 63.295,0 62.613,5 Piaui 6.575,0 7.882,5 9.107,0 8.875,5 9.009,5 9.155,0 9.124,5 Ceará 27.562,0 34.993,0 43.572,5 65.355,5 68.619,0 64.020,5 66.308,0

Rio grande do Norte 22.623,0 26.526,5 39.255,0 57.186,0 53.044,5 46.209,0 47.248,5 Paraiba 14.722,5 17.429,5 13.943,0 10.996,5 10.828,5 8.838,5 11.612,0 Pernambuco 11.355,0 12.432,0 17.003,0 16.559,0 19.030,5 25.798,5 23.935,5 Alagoas 8.965,5 10.532,0 10.846,5 14.926,0 13.026,5 13.989,0 15.474,5 Sergipe 4.635,0 5.757,5 6.459,5 7.498,0 9.442,5 12,279,5 9.985,0 Bahia 63.300,0 70.366,5 86.516,5 72.424,0 80.964,5 77.856,5 76.169,5 Sudeste 155.130,0 158,097,0 154.049,0 148.546,5 161.437,5 160.470,0 178.198,5 Sul 215.860,0 253,631,0 256.900,5 241.981,0 234.564,0 236.586,0 249.987,5 Centro-oeste 26.861,0 33.663,0 37.814,0 39.103,0 44.282,0 45.064,5 44.267,5 Fonte: IBAMA, 2008

A pesca no Nordeste do Brasil apresenta-se como uma atividade de grande importância socioeconômica diante do número de pessoas envolvidas, da grande produção e da renda gerada.

No Nordeste predomina a pesca artesanal marinha, de acordo com a Tabela 2, no Nordeste a referida modalidade é bastante representativa, cuja produção representou 94,1% do total de pescado da regido, enquanto a modalidade industrial representou somente 5,9%.

Tabela 2— Produção estimada e participação relativa da pesca marinha industrial e artesanal, por região e estados nordestinos.

Regiões e estados

nordestinos Industrial Pesca extrativa marinha Artesanal %j Total

Brasil 271.410,0 51,4 256.471,5 48,6 527.871,5 Norte 32.937,0 38,5 52.776,0 61,5 85.603,0 Nordeste 9.142,5 5,9 146.019,5 94,1 155.162,0 Maranhão 39.461,5 100 39.461,5 Piaui 3.191,0 100 3.191,0 Ceará 1.002,5 6,1 15.549,5 93,9 16.552,0

Rio grande do norte 5.529,5 32,7 11.388,0 67,3 16.917,5

Paraiba 1.921,5 30,0 4.485,0 70,0 6.406,5 Pernambuco 689,0 4,7 13.999,5 95,3 14.688,5 Alagoas 10.312,0 100 10.312,0 Sergipe 4.353,5 100 4.353,5 Bahia 43.089,0 100 43.089,0 Sudeste 80.685,5 67,9 38.171,5 32,1 118.857,0 Sul 148.655,0 88,4 19.594,5 11,6 168.249,5 Fonte: IBAMA, 2008 2000 2001 2002 2005 2006

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Em alguns estados como o Maranhão, Piaui, Alagoas, Sergipe e Bahia o segmento artesanal é responsável por todo o volume de pesca marinha. A pesca industrial na regido tem maior expressão apenas nos estados do Rio Grande do Norte e Paraiba (Tabela 2), onde esta representa 32,7% e 30,0%, respectivamente.

Grande parte da produção nordestina é de peixe (76,3% do volume total de pescado). Os crustáceos (lagosta, caranguejo e camarão) representam 17,5% do total da produção, concentrando-se nessa regido a maior produção de crustáceos do Brasil, liderada pela expressiva produção de lagosta (CE) e camarão (BA e MA). (IBAMA, 2008).

2.2 Histórico das políticas públicas voltadas para o setor pesqueiro

0 Estado é o principal responsável pela atual situação da atividade pesqueira. As políticas pesqueiras são quase todas iniciativas do governo federal. Os governos estaduais aparecem como coadjuvantes desse cenário. Portanto, para falar de política pesqueira para o Ceará temos que compreender primeiramente a política nacional para pesca, então faremos um estudo dos decretos e leis sobre as formas de organização e produção dos pescadores.

Até o fim da década de setenta as políticas pesqueiras do Brasil tiveram como objetivo promover a modernização industrial da atividade. Houve uma prioridade dada à. pesca empresarial/industrial, materializada através da política de incentivos fiscais, estabelecidos pelo Decreto-Lei 221, de 1967. Ignorando a existência do setor artesanal e dos pequenos armadores, a SUDEPE optou pela formação de empresas de pesca, com empresários que até então não pertenciam ao setor pesqueiro. (DIEGUES, 1988, p. 28, apud SILVA, J. S. 2003, p.45). Em favor desta indústria a atividade pesqueira artesanal foi perdendo incentivos. "A pesca artesanal, entre 1967/1977, havia recebido somente 15% do equivalente aos findos investidos na indústria pesqueira através de incentivos fiscais". (DIEGUES, 1983, p. 137, apud SILVA, J. S. 2003, p.45).

Na década de oitenta, o Governo do Ceará começou a intensificar sua intervenção na atividade pesqueira através do crédito financeiro concedido pelo Banco do Estado do Ceará, pelo Banco de Desenvolvimento do Estado do Ceará, e mediante algumas ações voltadas para

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pesquisas estatísticas da Companhia Estadual do Desenvolvimento — CEDA?, que tinha como missão regular a oferta de pescado no Ceará. (SILVA, 2003).

Na década de noventa o Estado através de políticas públicas e de seus representados construíram duas estratégias, uma voltada para a atividade pesqueira baseada na reestruturação de cadeias produtivas dirigidas para a exportação e outra para a criação de organismos aquáticos em cativeiro. A pesca artesanal foi contemplada com políticas de créditos dirigidas a agricultores, tipo PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), mas ainda não constituía uma política planejada articuladamente com outras dimensões da gestão pública para fortalecer a pesca artesanal.

Em 2003, com a criação da Secretaria Especial de Aqiiicultura e Pesca — SEAP, as iniciativas de discussão da sustentabilidade da pesca artesanal e sua regulamentação são fortalecidas. (SILVA, 2004).

Em 2004 foi criado o programa nacional de financiamento da ampliação e modernização da frota pesqueira nacional. Um dos objetivos desse programa é o financiamento para aquisição, construção e modernização de embarcações pesqueiras, o que causa um aumento no esforço de pesca e nas estatísticas de captura, melhorando a renda para os empresdrios.

Infelizmente devemos admitir que estruturalmente a SEAP não estava preparada para dar conta de tão nobre e árdua tarefa que é mudar o cenário da pesca artesanal e todas as iniciativas foram em sua maioria frustradas uma a uma, com pequenos avanços que não conseguiram suplantar as decepções. Sabemos que o esforço realizado pelo Governo Federal, por meio da oferta de crédito, não é suficiente para assegurar o desenvolvimento e a inclusão de categorias historicamente excluídas da economia nacional. Ainda temos muito que avançar em outros aspectos como: organização social, assistência técnica, estruturas de comercialização, pesquisas, entre outras iniciativas.

A transformação da SEA? em Ministério da Pesca e Aquicultura no ano 2009, Lei N° 11.958, de junho de 2009, abriu espaço para a implantação de uma política de Estado, e não apenas de Governo. Com mais autonomia, responsabilidades, estrutura e recursos, o Ministério passa a ter melhores condições para fomentar a atividade pesqueira e aquicola

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brasileira e beneficiar mais de 3,5 milhões de pessoas. 0 Ministério do Meio Ambiente apresenta-se como um parceiro importante corresponsável pelo ordenamento da pesca.

A Lei da Pesca e Aqiiicultura veio para beneficiar diversas pessoas que ganham a vida nas águas brasileiras. A lei reconhece os pescadores como produtores rurais e beneficiários da política agrícola, o que garante o acesso a crédito as linhas mais vantajosas disponíveis no mercado. A nova legislação também define as regras para o exercício da pesca e os instrumentos de apoio ao seu desenvolvimento, introduzindo uma preocupação com a sustentabilidade no uso dos recursos pesqueiros.

2.3 Informações sobre embarcações artesanais

Entende-se por embarcação qualquer construção destinada a navegar sobre a Agua. Um barco de pesca, é construido ou adaptado para a atividade da pesca, esse pode variar desde uma simples jangada ou canoa até grandes navios.

A frota pesqueira do estado do Ceara é composta por diferentes tipos de embarcações, desde botes a remo a barcos modernos. A seguir é apresentada uma descrição detalhada das embarcações artesanais do local de estudo: bote a remo, bote de casco, bote motorizado, canoa, paquete e lancha.

2.3.1 Bote a remo

Trata-se de uma embarcação movida a remo, com casco de madeira achatado, de pequeno porte, medindo 2,5 a 3 m de comprimento. A tripulação é composta normalmente por apenas um pescador.

Conhecida vulgarmente como catraia, bateira, paquete a remo, também é utilizado para transporte de pessoas e materiais diversos da praia para embarcações de maior porte.

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2.3.2 Bote de casco

uma embarcação a vela, com casco de madeira e quilha, convés fechado, sem casaria (cabine), com comprimento total geralmente inferior a 11m, conhecida vulgarmente como bote a vela, barco a vela, bastardo e etc.

2.3.3 Bote motorizado

Embarcação movida a motor, com casco de madeira e quilha, convés fechado, sem cabine e geralmente menor do que 10m. Tem uma pequena estrutura localizada próximo proa ou popa onde fica o motor, que em geral é de baixa potência (em torno de 50 hp). Sob o convés existem pequenas câmaras onde são acondicionados o gelo, o pescado e a isca, além de espaços onde são guardados o material de pesca, rancho, óleo combustível, Agua potável e que também é usado pela tripulação para repouso. Raramente existem nessas embarcações aparelhos de comunicação ou quaisquer outros aparelhos eletrônicos (Bezerra, 1992; Assad, 1997).

2.3.4 Canoa

As canoas podem ser motorizadas ou não. As que não tem motor, são movidas a vela. Canoa não tem convés, tem quilha, e seu comprimento varia entre 3 e 9m. Vulgarmente conhecida como batelão, calco, curicaca, igarité, canoa de casco, biana, patacho, entre outras; sua tripulação é constituída de 2 a 4 pescadores.

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2.3.5 Paquete

Embarcação movida a vela, com casco de isopor revestido de madeira, sem quilha, com comprimento inferior a 5,9m, conhecida vulgarmente como catraia, jangada e outros.

2.3.6 Lancha

Embarcação motorizada, com casco de madeira ou ferro e quilha, de comprimento variável, podendo ser classificadas como pequenas, médias ou grandes. A lancha pequena tem comprimento inferior a 8m; a lancha média mede entre 8 e 12m; e por último a lancha grande tem comprimento superior a 12m e são mais utilizadas na pesca industrial, normalmente não ultrapassam 15m.

As lanchas tem motores mais potentes que os botes motorizados, variando de 80 Hp a 475 Hp. Operam em áreas mais afastadas da costa. Sob o convés encontram-se a casa de máquinas, tanques para a armazenagem de água e combustível, urnas ou câmara frigorifica para conservar o pescado e um espaço para guarnição e repouso dos pescadores . Nas lanchas lagosteiras existe uma estrutura formada por varas de madeira ou ferro, amarradas por cabos de nylon ( a varanda como é conhecida) que é utilizada no convés para sustentar os manzuds. A grande maioria das lanchas possui guinchos ou talhas mecânicas que auxiliam no lançamento e recolhimento do material de pesca. A lancha é conhecida vulgarmente como barco a motor, saveiro de convés etc.

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Os diferentes métodos de pesca se relacionam, entre outros fatores, com o tipo de pescado que será capturado. Os métodos de pesca são escolhidos de acordo com os locais de pesca e estes locais são escolhidos de acordo com as espécies-alvo das pescarias, que variam de acordo com a época do ano.

De acordo com a classificação utilizada pela Comissão Assessora Regional de Pesca para o Atlântico Sul (CARPAS), os aparelhos de pesca utilizados na captura dos recursos pesqueiros estão distribuídos em oito grandes grupos: linhas em geral, redes de arrasto, redes de cerco, redes de tresmalhas, redes de saco; armadilhas e aparelhos diversos.

No presente trabalho serão abordadas apenas as artes de pesca utilizadas no local da pesquisa, são elas: mergulho e caçoeira ( artes de pesca proibidas); linha e anzol; redes de emalhar; redes de saco e armadilhas.

2.4.1 Mergulho e caçoeira.

Neste tipo de pesca proibida, o compressor é confeccionado artesanalmente com um botijdo de gás, que serve como reservatório de ar comprimido e é acoplado ao motor do barco por meio de uma correria. A válvula de segurança do botijão é retirada para que se coloque uma válvula na qual se ajusta uma mangueira, a qual é ligado um filtro, que por sua vez se ajusta a. mangueira utilizada pelo mergulhador. 0 ar produzido é levado por essa mangueira de aproximadamente 300 metros de comprimento, na extremidade da qual é acoplada uma válvula ( serve para impedir que entre água na mangueira) e uma boquilha que o mergulhador prende na boca. 0 mangueiro tem função fundamental na pesa com compressor, sendo responsável pelo suprimento de ar aos pescadores, bem como o contato destes com a superficie. (GONÇALVES, 2009).

Este tipo de pesca pode causar danos graves a saúde do mergulhador e pode levar a morte, devido problemas de descompressão.

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A caçoeira é uma rede de espera utilizada no fundo que causa grande impacto destrutivo no habitat dos recursos marinhos. Grande quantidade de espécies juvenis são capturadas causando uma diminuição dos estoques de lagosta e peixes.

2.4.2 Linha e anzol

2.4.2.1 Espinhel flutuante

E um aparelho de pesca constituído de vários anzóis iscados (linhas secundárias) unidos a uma linha principal (que varia de tamanho, podendo se estender por quilômetros), provida de flutuadores. 0 flutuador dispõe de acessórios como lanternas para facilitar a localização. A distância entre duas linhas secundarias deve ser suficiente para evitar o entrelaçamento entre os anzóis.

2.4.2.2 Espinhel de fundo

Este aparelho é igual ao anterior em suas características técnicas, entretanto se mantém no fundo por meio de âncoras fixadas em suas extremidades, sendo usado para pesca de espécies demersais.

2.4.2.3 Linha de mão

Constituída de um ou vários anzóis fixados em uma única linha, que é operada, manualmente, por uma s6 pessoa. Muito utilizada na pesca artesanal, principalmente de Aguas interiores.

2.4.2.4 Linha de arrasto

Constituída de várias linhas de mão, de diferentes comprimentos, em cuja extremidades inferiores se fixam os anzóis, as quais são operadas ao mesmo tempo por uma única embarcação, estando a ela ligada pelos tangones.

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uma linha de mão melhorada, cuja extremidade superior está ligada a uma vara de fibra sintética, caniço de bambu ou outro material flexivel e resistente, que pode ser operada com molinete ou não. Mais utilizada na pesca desportiva.

2.4.3 Redes de emalhar

2.4.3.1 Rede de emalhar flutuante

uma arte de pesca que opera na superficie ou a meia-água, onde o peixe para ser aprisionado necessita se posicionar em ângulo reto à panagem, a qual é levantada para o recolhimento do mesmo. 0 comprimento e a altura da panagem variam de acordo com a necessidade do pescador e o tipo de pesca. Este apetrecho é muito utilizado na pesca artesanal marinha e continental. Conhecida vulgarmente como galão, rede de espera, rengaio.

2.4.3.2 Rede de emalhar fixa

Semelhante a anterior sendo que este apetrecho opera na profundidade.

2.4.4 Redes de saco

2.4.4.1 Rede fixa de saco para camarão

Apetrecho especifico para captura de camarão, sendo fixada ao fundo por uma âncora ou poita, cujas malhas são de pequeno tamanho e onde se forma no centro da panagem uma espécie de saco (de malha menor) que retém o camarão aprisionado.

2.4.5 Armadilhas (nassas) em geral

2.4.5.1 Currral para peixe

Trata-se de uma arte de pesca fixa, de grande porte, constituída de estacas de madeira e telas de arame ou fibra sintética, formando diversos compartimentos interligados e com entradas dispostas em funil, sendo instalada no mar, nas zonas de variação das marés.

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2.4.5.2 Manzud

uma armadilha de fundo bastante utilizada na captura de crustáceos, principalmente lagostas, de tamanho e forma variada. A entrada da lagosta no interior da armadilha se faz por uma abertura denominada sanga. A estrutura do manzud é de madeira e o seu revestimento é de tela de naylon ou arame 16, com malhas de 6 a 4 cm. A produtividade do manzud é excelente e é uma arte padrão no litoral do nordeste, cujo esforço de pesca é dado pelo número de unidades utilizadas por dia na pescaria.

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3 METODOLOGIA

3.1 Área de Estudo

0 presente estudo foi realizado no município de Itarema, localizado no noroeste do estado do Ceara, a 220 Km de Fortaleza, na microrregido do Litoral de Camocim e Acaraú. (IPECE, 2004).

0 estudo limitou-se as localidades de Porto do Barco e Torrões, localizados no litoral de Itarema, que possui uma area geográfica de 720,668 km2 e conta com cerca de 36.536 habitantes. (IBGE, 2009). 0 clima tropical quente semi-árido é predominante, com pluviometria média de 1.157,8 mm e chuvas concentradas de janeiro à abril. A Comunidade de Porto do Barco possui uma população de 2.500 habitantes e está localizada a 6 km da sede municipal. A comunidade de Torrões localiza-se a 20km da sede municipal e conta com mais de 2.000 habitantes. A principal atividade econômica dessas localidades é a pesca artesanal, principalmente de lagosta.

A presente pesquisa teve como objetivo servir de embasamento para a realização do Projeto Napureza. 0 projeto está sendo desenvolvido pelo grupo de extensão Mangue Vivo da Universidade Federal do Ceará (UFC). 0 Grupo Mangue Vivo — Preservação e Estudo Cientifico - tem a proposta de contribuir com um novo significado do cuidado com a natureza, norteador de um projeto de sociedade ambientalmente correta, atuando de forma especial no ecossistema manguezal, mas também em ecossistemas marinhos e costeiros.

0 Projeto Napureza teve apoio financeiro do Banco do Nordeste do Brasil e da Prefeitura de Itarema. 0 projeto visa dar continuidade e difundir as experiências bem sucedidas adquiridas no município de Itarema, a partir de junho de 2007, com a execução de projetos de educação ambiental nas escolas de ensino fundamental, em parceria com a prefeitura. Desta vez, o projeto tem como público-alvo os pescadores artesanais, e viabilizará a atuação nas localidades de Porto do Barco e Torrões, importantes regiões pesqueiras que vêm sofrendo constantemente agressões ao meio ambiente. A atuação permanente do Grupo

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nas comunidades, e no manguezal do Rio Aracatimirim, resultará na formação educacional dos pescadores artesanais da região, transformando a realidade de vida desses trabalhadores e da população local.

0 presente projeto tem como meta principal despertar, nas comunidades envolvidas, uma consciência critica da importância da conservação do ponto de vista fisico, biológico e socioeconómico dos ambientes marinhos e costeiros, além de identificar e capacitar potencialidades locais como agentes ambientais, sempre na busca do equilíbrio entre o homem e o ambiente.

Portanto, este trabalho é de grande relevância para os membros do Grupo Mangue Vivo implantarem com sucesso o Projeto Napureza. Através dos dados desta pesquisa o grupo conhecerá o perfil socioeconômico do pescador de Itarema e poderá direcionar suas atividades objetivando solucionar os problemas aqui apontados.

3.2 Origem dos dados

Os dados utilizados na presente pesquisa foram de origem primária, obtidos através de questionários aplicados aos pescadores artesanais das comunidades pesqueiras de Itarema, Ceará; como também através de entrevistas onde se busca coletar informações mediante diálogo. As entrevistas foram previamente planejadas, estruturadas a partir de um roteiro mínimo de investigação, bem como entrevistas sem roteiro pré-definido. Foram realizadas entrevistas com diversos agentes do setor pesqueiro.

A pesquisa foi executada no primeiro semestre de 2010, tendo como embasamento um estudo minucioso no segundo semestre de 2009, acerca do atual cenário da pesca artesanal no estado do Ceará. Houve dificuldade de contato com os pescadores devido ao fato de que os mesmos estão sempre se deslocando para pescar, como também devido a postura desinteressada dos mesmos.

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Foram aplicados 48 questionários, os quais envolveram questões referentes ao perfil socioeconômico, interesses dos pescadores, dentre outras questões, para podermos analisar a condição de vida dos trabalhadores e caracterizá-los.

O questionário continha a seguinte estruturação: i) dados pessoais, ii) informações sobre a família ( condições de moradia, caracterização da família, bens móveis e imóveis, acesso a serviços públicos); iii) caracterização das atividades de pesca e comercialização-(informações sobre equipamentos e operações de pesca, sobre a comercialização, fonte de renda do pescador, capacitação e envolvimento social do pescador, fiscalização e legislação ambiental); e iv) informações sobre aquisição de crédito.

3.3 Métodos de analise

Neste trabalho foram adotadas as análises tabular e descritiva, que são utilizadas no estudo e na discussão dos dados coletados na amostra, agrupados em tabelas contendo informações como freqüências absolutas e relativas das variáveis selecionadas. A análise descritiva deteve-se ao estudo das características da população.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta seção são apresentados os resultados da pesquisa e a discussão sobre as variáveis estudadas. São analisadas as características pessoais e socioeconômicas dos pescadores artesanais das comunidades pesqueiras e questões referentes ao grau de satisfação e interesses dos pescadores na atividade.

4.1 Caracterização do pescador artesanal de Itarema

4.1.1 Características pessoais

Com base nas informações coletadas pode-se afirmar que existe uma grande discrepância em relação aos gêneros. A tabela a seguir assinala que a participação feminina no setor pesqueiro artesanal é pequena, representando 12,5% do total. As mulheres envolvidas pescam mariscos na zona estuariana. Já os homens representam 87,5% e pescam no mar (Tabela 3).

Tabela 3- Caracterizacdo dos pescadores artesanais, segundo o gênero, Itarema - CE, 2010.

GÊNERO PESCADORES ARTESANAIS

Frequência Absoluta (número) Frequência Relativa (%) Masculino Feminino Total

Fonte: Dados da pesquisa

42 87,5

12,5

(28)

Com relação à idade, observa-se uma distribuição aproximadamente homogênea entre as categorias de pescadores artesanais, o que indica que a atividade é desenvolvida por diferentes gerações tendo em vista a limitação em relação a outra opção de trabalho. Os

jovens, aqueles com até 26 anos de idade, representam 12,5% do total de pescadores, as demais categorias (adultos e idosos) representam aproximadamente 20% do total para cada categoria por faixa de idade (Tabela 4).

Tabela 4- Caracterização dos pescadores artesanais, segundo a idade, Itarema- CE, 2010.

DISCRIMINAÇÃO Frequência Absoluta PESCADORES ARTESANAIS

(número) Frequência Relativa (%)

De 20 a 26 anos 6 12,5 De 27 a 33 anos 10 20,8 De 34 a 40 anos 10 20,8 De 41 a 47 anos 12 25,0 Mais de 47 anos 10 20,8 Total 48 100

Fonte: Dados da pesquisa

Com relação 6. escolaridade dos entrevistados 33,3% são analfabetos e 33,3% cursaram o ensino fundamental de forma incompleta sabendo ler e escrever, e 16,7% cursaram o ensino médio completo. Assim, observou-se um dos maiores problemas sociais que envolvem os pescadores artesanais, que está no elevado índice de analfabetismo existente entre os participantes desta profissão, constituindo-se em mais um entrave para o progresso dessa atividade.

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PESCADORES ARTESANAIS DISCRIMINAÇÃO Analfabeto Frequência Absoluta (número) 16 Frequência Relativa (%) 33,3 Tabela 5 — Caracterização dos pescadores artesanais, segundo o grau de escolaridade, Itarema- CE, 2010.

Ensino fundamental incompleto

Ensino fundamental completo

Ensino médio incompleto Ensino médio completo

Total 48 100

Fonte: Dados da pesquisa

De acordo com a Tabela 6 mais de 87,5% dos pescadores ingressaram na atividade de pesca ainda jovens (10 a 20 anos). Muitas vezes o motivo é o incentivo que estes entrevistados tiveram por parte da família. No entanto, nos dias de hoje não observamos mais um incentivo por parte do pai, tendo em vista que 98% dos entrevistados querem um futuro melhor para seus filhos e não desejam que eles sigam sua profissão, pois houve uma diminuição dos recursos pesqueiros, principalmente da lagosta em todo litoral cearense devido a uma sobrexploraç'ão, e por considerar a pesca uma atividade muito sofrida. 0 incentivo maior por parte dos pais é para a conclusão dos estudos e o desenvolvimento de outras atividades econômicas como turismo, agricultura, pecuária e o comércio, atividades estas que não se desenvolveram ainda na regido em estudo.

A pesca artesanal na localidade costumava ter inicio na adolescência, sendo o conhecimento transmitido de pai para filho. Esta atividade exigia dedicação de grande parte do tempo dessas pessoas, variando entre atividades de pesca, a fabricação e manutenção dos equipamentos, além da comercialização do pescado. Observa-se que 87,5% dos pescadores ingressaram na atividade com idade compreendida entre 10 e 20 anos, e somente 12,5% ingressaram na pesca artesanal com mais de 20 anos ( Tabela 6).

16 33,3

12,5 4,2

(30)

Tabela 6 - Caracterização dos pescadores artesanais, segundo a idade de ingresso na profissão, ltarema- CE, 2010.

Idade de ingresso na pesca

PESCADORES ARTESANAIS Frequência Absoluta

(número) Frequência Relativa (%)

Menos de 10 anos De 10 a 15 anos 16 33,3 De 15 a 20 anos 26 54,2 Mais de 20 anos 6 12,5 Total 48 100

Fonte: Dados da pesquisa

4.1.2 Características socioeconômicas

Observa-se através dos dados da Tabela 7, que de acordo com a

fun*

que os entrevistados exercem na pesca, a maioria ( 83,3%), não possui embarcação, exercendo a função de pescador e de mestre na embarcação de uma outra pessoa, sendo seu lucro muito pequeno, participando geralmente com apenas um quinto do produto pescado. Somente 16,6% possuem embarcação pesqueira. Destes, 8,3% são somente proprietários do barco, ou seja, armadores de pesca, e não pescam, o restante, 8,3%, são proprietários e pescadores.

Dentre os entrevistados, 20,8% são mestres do barco. Segundo eles o mestre é aquele que possui maior conhecimento e prática, construidos ao longo de décadas, acerca da atividade. Maldonato (1993) afirma que "falar-se de mestre é falar de algo universal e indissociável à pesca, que congrega numa pessoa, num papel, um ideal social. 0 mestre é como um arquétipo que visse à proa dos barcos, o olhar penetrante, atento, tendo nas mãos por atribuição da sociedade e do seu bote, feixes de relações, de práticas e de sentimentos".

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PESCADORES ARTESANAIS

FUNÇÃO NA ATIVIDADE

DE PESCA

Frequência Absoluta

(número) Frequência Relativa (%)

Tabela 7 — Caracterização socioeconinnica dos pescadores artesanais, segundo a função na atividade de sesca, Itarema, CE, 2010.

Pescador 30 62,5 Proprietário 4 8,3 Proprietário e 4 8,3 pescador Mestre do barco 10 20,8 Total 48 100

Fonte: Dados da pesquisa

A participação dos pescadores em organizações sociais é significante, e apenas 4,2% não estão envolvidos em nenhum grupo. No entanto, apesar do vinculo existente com as associações poucos participam ativamente das reuniões e a maioria está inadimplente junto colônia de pescadores o que aponta uma participação apenas teórica. 0 agrupamento em grupos sociais facilita a articulação dos pescadores e as reivindicações dos seus direitos (Tabela 8).

Tabela 8— Caracterização socioeconômica dos pescadores artesanais, segundo a participação em or&anizações sociais, Itarema- CE, 2010.

PARTICIPAÇÃO EM ORGANIZAÇÃO SOCIAL PESCADORES ARTESANAIS Freq. Absoluta

(if) Freq. Relativa (%)

Sim 46 95,8

Não 2 4,2

Total 48 100

Fonte: Dados da pesquisa

A colônia de pescadores de Itarema é liderada por uma mulher, marisqueira. Segundo ela apesar dos dados apresentados pela presente pesquisa, onde 95,8% dos entrevistados participam da Colônia de Pescadores, não existe uma participação efetiva poi.. parte dos pescadores. Nas reuniões poucos comparecem e é difícil qualquer tipo de articulação independente do propósito.

Sem dúvida, a Colônia de Pescadores é um instrumento consoante aos anseios dos pescadores, onde estes estabelecem suas diretrizes, reivindicações e estratégias de ação para o

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PESCADORES ARTESANAIS TIPO DE

ORGANIZAÇÃO SOCIAL

Frequência Absoluta

(número) Frequência Relativa (A)

35

ordenamento das pescarias em suas localidades. Assim, é imprescindível a organização dos pescadores, para que a categoria tenha uma maior força no setor social e produtivo.

Tabela 9— Caracterização socioeconômica dos pescadores artesanais, segundo o tipo de organização social, Itarema, CE, 2010.

Colônia de pescadores 45 97,8 Sindicato de pescadores Federação das colônias Associação dos pescadores Colônia e Sindicato dos pescadores 1 2,2 Total 46 100

Fonte: Dados da pesquisa

Quanto ao nível de satisfação dos pescadores na atividade pesqueira, nenhum pescador afirmou estar muito satisfeito. Os indiferentes ou insatisfeitos representam 58,3% dos entrevistados. 0 número de satisfeitos superou as expectativas, mas em uma análise geral, é possível concluir que a satisfação dos 41,7% está relacionada com a conformação destes trabalhadores por não terem esperança de um futuro melhor (Tabela 10).

Tabela 10 — Caracterização socioeconômica dos pescadores artesanais, segundo o nível de satisfação na atividade pesqueira, Itarema, CE, 2010.

PESCADORES ARTESANAIS NÍVEL DE SATISFAÇÃO NA ATM PESOITEIRA Frequência R Muito satisfeito o Satisfeito 20 41,7 Indiferente 6 12,5 Insatisfeito 22 45,8 Total 48 100

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De acordo com a Tabela 11 mais da metade dos pescadores em questão (56,2%) não possui outra habilidade profissional, o que indica que eles não tem outra fonte de renda.

A falta de incentivo econômico por parte dos serviços públicos, e principalmente de assistência técnica, é um dos principais problemas enfrentados pelos pescadores.

Alguns (12,5%) têm a agricultura de subsistência como incremento a renda familiar. Apenas 12,5% confeccionam seu material de trabalho (manzud e redes). As outras atividades (carpinteiro, mecânico, professor e outros) representam 18,8% do total (Tabela 11).

Tabela 11 — Caracterização socioeconômica dos pescadores artesanais, segundo a capacitação (habilidades profissionais), harem- CE, 2010.

PESCADORES ARTESANAIS HABILIDADES

PROFISSIONAIS QUE POSSUI

Frequência Absoluta

(número) Frequência Relativa (%)

Confecciona artes 6 12,5 de pesca Carpinteiro 1 2,1 Comerciante Mecânico 2 4,2 Professor 2 4,2 Agricultor 6 12,5 Outro 4 8,3

Não possui outra 27 56,2

habilidade

Total 48 100

Fonte: Dados da pesquisa

Somente três dos entrevistados já obtiveram crédito financeiro para exercer a pesca, o que representa 6,3%. Destes, dois tiveram o Banco do Nordeste (BNB) como agente financeiro e o terceiro o Banco do Brasil (BB). A verba foi utilizada para aquisição e/ou reforma das embarcações (Tabela 12).

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FINANCIAMENTO PARA EXERCER A PESCA Frequência Absoluta (número) Frequência Relativa (%)

Tabela 12 — Caracterização socioeconômica dos pescadores artesanais, segundo Disponibilidade de financiamentos para exercer a pesca, Itarema- CE, 2010.

PESCADORES ARTESANAIS Sim Não Total 3 45 48 6,2 93,7 100 Fonte: Dados da pesquisa

Ainda em relação aos financiamentos para a execução da pesca, foi observado que existe grande interesse por parte dos pescadores artesanais em conseguir financiamento junto a instituições financeiras. Este contingente representa 91,7% dos entrevistados. Segundo os interessados, a verba seria utilizada para aquisição ou reforma de embarcações, compra de apetrechos de pesca e outros.

Os pescadores do distrito de Torrões gostariam de comprar óleo diesel sem a participação de atravessadores, que lucram na venda pois como os pescadores não tem dinheiro para comprar o óleo antes da pescaria eles compram por um preço mais elevado desses atravessadores, tendo muitas vezes que entregar parte do pescado como pagamento.

Em Porto do Barco as marisqueiras são as mais interessadas em obter o empréstimo. Elas pretendem conseguir a verba para investir em uma cooperativa que comercializará mariscos.

Os 8,3% dos entrevistados que declararam não pretender obter financiamento, justificaram-se dizendo que não acreditam que o empréstimo é possível, eles não tem expectativa e segundo eles esse negócio de PRONAF não funciona (Tabela 13).

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INTERESSE EM FINANCIAMENTO

PARA EXERCER A Frequência Absoluta (número) Frequência Relativa

(/0)

PESCADORES ARTESANAIS

Tabela 13 — Caracterização socioeconômica dos pescadores artesanais, segundo o interesse em adquirir financiamento para exercer a pesca, Itarema- CE, 2010.

Sim 44 91,7

Não 4 8,3

Total 48 100

Fonte: Dados da pesquisa

Houve uma tentativa de busca de informações junto ao ElENE (Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste), nas bibliotecas, e no gabinete da presidência do Banco do Nordeste do Ceará, referente a liberações e números de financiamentos para pesca artesanal; no entanto, funcionários do Banco declararam que, devido as dificuldades relativas As características inerentes a pesca artesanal, tem atuado de forma cautelosa nesse segmento; como também devido A baixa representatividade da citada atividade em relação ao total de operações ativas do PRONAF no estado do Ceará, o Banco não forneceria os dados solicitados para o aprofundamento da pesquisa. Assim, o Banco desestimulou a análise referente aos contratos e liberações financeiras para a pesca artesanal através do PRONAF pretendida no presente trabalho.

4.1.3 Características das atividades de pesca e comercialização

Alguns tipos de embarcações utilizadas nas pescarias são mostradas na Figura 1. Segundo os dados da presente pesquisa, 64,6% da frota pesqueira é constituída por lanchas motorizadas, que variam no tamanho, mas a maioria, 41,6%, são de tamanho médio. Em segundo lugar, a embarcação mais utilizada é a canoa, seguido por bote a vela e paquete ( Tabela 14).

(36)

Figura 1: Embarcações pesqueiras que operam na pesca de Itarema

De acordo com o cadastramento das embarcações do estado do Ceara. em 2006, foram cadastradas 348 embarcações em Itarema, o que corresponde a 4,7% da frota pesqueira do Estado. Dentre os barcos de pesca cadastrados, foram observados 56 botes a vela, 2 botes a remo, 74 paquetes, 76 canoas, nenhuma jangada, 132 lanchas (o que representa 38% do total da frota pesqueira de Itarema), nenhuma lancha industrial, oito botes motorizados e nenhum catamara. (CEPENE, 2006).

Certifica-se que em Itarema, a lancha predomina como embarcação utilizada nas pescarias, enquanto que a jangada não é utilizada pelos pescadores.

Tabela 14 — Caracterização das atividades de pesca e comercialização, segundo o tipo de embarcação utilizada, Itarema- CE, 2010.

EMBARCAÇÃO PESCADORES ARTESANAIS

Frequência Absoluta

(número) Frequência Relativa (%)

Bote a remo 2 4,2 Bote a vela 4 8,3 Paquete 4 8,3 Jangada o Canoa motorizada 5 10,4 Lancha pequena 8 16,7 Lancha média 20 41,6 Lancha grande 3 6,3 Outra 2 4,2 Total 48 100

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De acordo com a Tabela 15, a arte de pesca mais utilizada pelos pescadores de Porto e Torrões é o manzud, também conhecido como cangalha, que é utilizado por 64,6% dos pescadores como meio de capturar lagosta. Dos 48 pescadores entrevistados, 14 (29,2%) utilizam exclusivamente este apetrecho. Um total de 16,7% utilizam tanto o manzud quanto a rede de espera para peixe, e outros 18,7% utilizam tanto o manzud quanto a linha e anzol (Figura 2).

Figura 2: Manzuds (artes de pesca utilizadas na captura de lagosta);pescadores recolhendo a rede de pesca; pescadores lançando linha e anzol.

Tabela 15 — Caracterização das atividades de pesca e comercialização, segundo o tipo de arte de pesca utilizada, Itarema- CE, 2010.

PESCADORES ARTESANAIS ARTE DE PESCA Frequência Absoluta

(número) Frequência Relativa

Mergulho

Linha e an7o1 8 16,7

Rede de espera para camarão

1 2,8

Rede de espera para peixe 3 6,2

Cangalha/manzun 14 29,2

Rede de espera para peixe e manzud

8 16,7

Linha e Rival e manzuá 9 18,7

Outro 5 10,4

Total 48 100

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Além das artes de pesca citadas na Tabela 15 foram registrados outros métodos de captura do pescado como o curral e o método sem arte de pesca, realizado pelas marisqueiras, onde a captura dos moluscos se da através da retirada da areia para a captura dos moluscos.

0 mergulho com a utilização do compressor e a utilização de caçoeira como métodos de captura de lagosta e a pesca no período de defeso tem sido motivos de conflitos entre os pescadores do município de Itarema. Segundo os pescadores desta localidade a fiscalização é precária, e pescadores de outras localidades se aproveitam da situação e pescam ilegalmente, causando um prejuízo para a comunidade.

Com relação ao produto das pescarias, pode-se observar na Tabela 16 que a lagosta e o peixe são os principais recursos pescados no local, representando exclusivamente 29,2% cada um, enquanto que os dois juntos somam 33,3. Na ocasião foi observado que dentre as espécies pescadas, as da família Littjanideos foram mais Capturadas. Os peixes mais capturados desta família foram: pargo, ariacó, cioba e guaiuba. Também podemos encontrar serra, bagre e pescada, além de outras espécies menos representativas na ocasião.

Segundo informações cedidas pelos pescadores a pesca do polvo vem se iniciando na regido e já existem cinco embarcações exclusivas para este tipo de pescaria.

Tabela 16 — Caracterização das atividades de pesca e comercialização, segundo o produto de pescaria, Itarema, CE, 2010.

PRODUTO DAS PESCARIAS

PESCADORES ARTESANAIS Frequência Absoluta

(número) Frequência Relativa (Y0)

Camarão 1 2,1 Lagosta 14 29,2 Peixes 14 29,2 Outros 3 6,2 Lagosta e peixes 16 33,3 Total 48 100

Fonte: dados da pesquisa

Cerca de 66,7% dos pescadores realizam a atividades pesqueira durante mais de 24h. Segundo eles, chegam a passar 25 dias em alto mar, numa situação de desconforto total pois a embarcação tem estrutura precária. Já outros 25% realizam a atividade entre 6 a 12h. Existe

(39)

PESCADORES ARTESANAIS Frequência Absoluta

(número) Frequência Relativa (%) TEMPO DE

PESCARIA

uma relação entre o tempo de pescaria e o produto das pescarias. Geralmente os pescadores que passam mais tempo no mar são os que pescam lagosta, estes não voltam a terra pois se assim fizessem estariam deixando o produto para o concorrente. Já os que ficam até um dia exercendo a profissão (33,4%) costumam pescar peixes e mariscos (Tabela 17).

Tabela 17— Caracterização das atividades de pesca e comercialização, segundo o tempo de pescaria, Itarema- CE, 2010.

Atd 6 horas De 6 a 12horas De 12 a 24 horas Mais de 24 horas

Total

Fonte: Dados da pesquisa

Com relação a renda mensal dos pescadores, observa-se na seguinte tabela que 100% dos pecadores entrevistados ganham até dois salários mínimos com as pescarias. Segundo eles, a remuneração é em torno de R$250,00 a R$300,00 para pescador; quando a função é mestre este ganha em média de R$600,00 a R$900,00. 0 valor do salário mínimo na presente pesquisa é de R$510,00.

Vale salientar que segundo informações coletadas através dos questionários, 65% das famílias em questão, são exclusivamente pesqueiras, também consideradas monoativas, vivendo exclusivamente da captura do pescado; enquanto 35% incrementam a renda familiar exercendo outras atividades desvinculadas da pesca ou indiretamente relacionadas a esta atividade.

A baixa renda do pescador se deve, em parte, à complexidade da cadeia produtiva. A quebra da dependência do intermediário poderia encurtar a cadeia produtiva e aumentar a renda dos pescadores. Os intermediários muitas vezes atuam como financiadores da atividade de pesca, fornecendo capital de giro para aquisição de itens necessários a prática da atividade, sendo a divida adquirida pelo pescador normalmente paga com o produto da pesca. Amparado pela dependência gerada, o intermediário se beneficia pagando pouco, ao pescador, por quilo

2 12 2 32 48 4,2 25,0 4,2 66,7 100

(40)

PESCADORES ARTESANAIS Frequência Absoluta

(número) Frequência Relativa RENDA MEDIA

MENSAL

da produção, mantendo uma relação de dependência e algumas vezes de exploração. Uma possível solução para o problema seria substituir o atravessador por outro comprador, como uma rede de mercantis de Fortaleza, esta, ficaria responsável pelo transporte do pescado em

caminhões frigoríficos.

Alguns pescadores artesanais do litoral cearense vendem o seus peixes em feiras, diretamente para o consumidor final e conseguem um bom preço pelo produto.

A agregação de valor ao produto poderia ser feita através do beneficiamento do pescado bruto (filetamento, defumação, cozimento, etc) sendo outro fator que proporcionaria a melhoria de preço pago ao produtor. E importante que o valor agregado ao produto não esteja somente vinculado A. elaboração de produtos sofisticados e modernos, e sim prioritariamente à qualidade intrínseca do pescado ou matéria-prima utilizada. 0 investimento em qualidade é considerado hoje o grande diferencial de um produto, pois quanto melhor a qualidade melhor o valor pago pelo produto. Em algumas localidades do litoral cearense os pescadores dispõe de um tanque (piscina de fibra) onde a lagosta é colocada, na volta da pescaria, para ser vendida viva.

Tabela 18— Caracterização da fonte de renda do pescador, segundo a renda mensal em média com as pescarias, Itarema- CE, 2010.

Menos de 1 salário mínimo 28 58,3 Entre 1 e 2 salário mínimo 14 29,2 Entre 2 e 3 salário minimo o Depende da produção

(até dois salários mínimos)

12,5

Total 48 100

(41)

PESCADORES ARTESANAIS CONDIÇÕES DE

MORADIA

Freq. Absoluta Freq. Relativa (%)

4.2 Condições de moradia

Foram considerados os seguintes aspectos para se avaliar as condições de moradia: posse da casa, fonte de iluminação, fonte de abastecimento de água, destino do lixo e instalações sanitárias.

Com relação A. propriedade da casa, 79,2% possuem casa própria, 12,5% moram de favor na casa de parentes e apenas 8,3% vivem em casas alugadas. As casas são simples, de tijolos em sua maioria e com quatro cômodos em média (tabela 19).

No que se refere ao tipo de iluminação, 100% dos entrevistados tem acesso a energia elétrica, o que estimula o consumo de bens domésticos, como geladeira, aparelho televisor etc.

Tabela 19 — Caracterização das condições de moradia do pescador, segundo a propriedade da casa e fonte de iluminação, Itarema- CE, 2010.

Propriedade da casa Emprestada Alugada Própria Total 6 12,5 4 8,3 38 79,2 48 100 Fonte de iluminação Lamparina Lampião Vela CoeIce Gun Total o O 48 O 48 100 100 Fonte: Dados da pesquisa

A maioria dos entrevistados (87,5%) utiliza como fonte de abastecimento, tanto para consumo quanta para usos domésticos, a água proveniente da Companhia de Agua e Esgoto do Ceará — CAGECE (Tabela 20). Alguns desses, além de utilizarem essa fonte dão

(42)

45

tratamento a água, sendo a cloração o método de purificação utilizados por 100% dos entrevistados.

Tabela 20 — Caracterização das condições sanitárias do pescador, segundo a fonte de

a para consumo, destino do lixo doméstico et4po de instalação sanitária, Itarema- CE, 2010.

PESCADORES ARTESANAIS CONDIÇÕES SANITÁRIAS

Freq. Absoluta

(re) Freq. Relativa (%)

- Fonte de Agua para consumo humano Chafariz Cacimba Poço individual 4 8,3 Cagecc 42 87,5 Outra 2 4,2 Total

- Destinacão do lixo doméstico

Jogado a céu aberto 4 8,3

Enterrado 18 37,5

Queimado 2 4,2

Coleta pública 24 50,0

Outra

Total 48 100

- Tipo de Instalações sanitárias

Não tem

Fossa simples 46 95,8

Cage,ce 2 4,2

Total 48 100

Fonte: Dados da pesquisa

Com relação ao destino dado ao lixo, a metade dos pescadores dão destino aos resíduos sólidos através da coleta pública. Os outros 50% enterram, jogam a céu aberto ou queimam.

Ainda de acordo com a Tabela 20, 95,8% dispõem de fossa simples como instalação sanitária.

(43)

POSSÍVEIS SOLUÇÕES CONFLITOS

Captura de recursos pesqueiros com artes de pesca proibidos, por parte de alguns

pescadores

Viveiros de camarão estão prejudicando a pesca

Desmatamento do manguezal

Lixo depositado no manguezal

Falta de licenciamento para exercer a atividade de pesca. Apenas 30% das embarcações tem licença concedida pelo Ministério da Pesca.

Aumentar a fiscalização por parte dos órgãos competentes, não somente no período de defeso. A educação ambiental nas comunidades

envolvidas também constitui-se uma ferramenta fundamental para uma pesca responsável. Impedir novas construções de viveiros na região, e cobrar das empresas já instaladas um tratamento da Agua antes que esta seja despejada no

ambiente.

Trabalhos de Educação ambiental e intensificação da fiscalização.

Realização de um mutirão de limpeza no manguezal, mobilizando a comunidade e as autoridades competentes para a manutenção de um ambiente sem a presença de resíduos sólidos. Requerimento da regularização das embarcações sem licença. Ordenamento e recadastramento das embarcações e dos pescadores

4.3 Conflitos e soluções para os problemas nas comunidades pesqueiras

Os principais conflitos e suas respectivas soluções estão listados na Tabela 21. Os pescadores e pescadoras e seus representantes revelaram quais os problemas enfrentados por eles nas comunidades pesqueiras do município de Itarema: Porto do Barco e Torrões.

Tabela 21 — Principais conflitos e as respectivas soluções levantadas a partir do relato dos pescadores artesanais de Itarema e lideres comunitários.

Fonte: Dados da pesquisa

Para os principais representantes da pesca artesanal, o combate a pesca com o compressor deve ser prioridade. A certeza da impunidade dos que fazem a pesca predatória e ilegal desestimula pescadores e armadores na execução de uma pesca sustentável. A realização de uma pesca responsável e do cumprimento das normas por todos é de grande relevância para a otimização da setor pesqueiro. Os pescadores devem ser orientados a pescar menos e melhor para poderem pescar sempre.

Referências

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