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Avaliação do processo de implementação dos parâmetros para atuação de assistentes sociais na política de saúde em Pernambuco

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DOS

PARÂMETROS PARA ATUAÇÃO DE ASSISTENTES SOCIAIS NA

POLÍTICA DE SAÚDE EM PERNAMBUCO.

LEILA MARÇAL BENÍCIO TEIXEIRA

RECIFE 2012

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LEILA MARÇAL BENÍCIO TEIXEIRA

AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DOS

PARÂMETROS PARA ATUAÇÃO DE ASSISTENTES SOCIAIS NA

POLÍTICA DE SAÚDE EM PERNAMBUCO.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco para obtenção do título de Mestre em Serviço Social.

Orientadora: Profª. Ana Cristina de Souza Vieira

RECIFE 2012

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Catalogação na Fonte

Bibliotecária Rejane Ferreira dos Santos, CRB4-839

T266a Teixeira, Leila Marçal Benício

Avaliação do processo de implementação dos parâmetros para atuação de assistentes sociais na política de saúde em Pernambuco / Leila Marçal Benício Teixeira. – Recife: O Autor, 2012.

108 folhas : il. 30 cm.

Orientador: Prof. Dra. Ana Cristina de Souza Vieira.

Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Universidade Federal de Pernambuco. CCSA, 2012.

Inclui referências.

1. Política de saúde. 2. Serviço social. I. Vieira, Ana Cristina de Souza (Orientadora). II. Título.

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LEILA MARÇAL BENÍCIO TEIXEIRA

AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DOS PARÂMETROS PARA ATUAÇÃO DE ASSISTENTES SOCIAIS NA POLÍTICA DE SAÚDE EM

PERNAMBUCO

ATA DE APROVAÇÃO: 14/09/2012

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________ Profª Drª Ana Cristina de Souza Vieira

(Orientadora)

_____________________________________________ Profª Raquel Cavalcante Soares

(Examinadora Externa)

_______________________________________________ Profª Drª Valdilene Pereira Viana Schmaller

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais por me conduzirem na vida a partir de valores éticos e de justiça social e me encaminharem ao mundo dos estudos.

A Marcus pela paciência desprendida nos momentos de minhas angústias, sempre apoiando e incentivando à minha produção. Ainda, pelo entendimento do que não pudemos vivenciar juntos durante esse período, mas que só foi adiado para momentos futuros.

A Daniel e Felipe pela compreensão da ausência de todos os inúmeros momentos em que, apesar de necessário, não foi possível estarmos juntos. Não tenham dúvida do meu amor por vocês, meus filhos.

À Ana Vieira pela dedicação e compromisso permanentes durante todo o percurso desse estudo. Por acreditar na minha capacidade de superação dos obstáculos (muitas vezes mais do que eu mesma). Mais que uma orientadora, você foi uma amiga leal, não deixando de estar atenta às minhas possibilidades e aos meus limites, sendo uma pessoa decisiva na conclusão desse trabalho. À Raquel Soares e Alexandra Ximenes pelas ricas contribuições na qualificação do meu projeto de pesquisa, realizadas de forma tão precisa e ao mesmo tempo tão delicada.

Aos professores da Pós-Graduação que contribuíram com a minha formação profissional, abrindo novas possibilidades de reflexão sobre o meu estudo. À equipe de Serviço Social do IMIP pelo entendimento da minha ausência, me deixando livre para produzir e tocando os nossos projetos profissionais de maneira séria e comprometida. Em especial à Adriana Luna e à Juliana Alves, por me substituírem tão bem nas atividades de coordenação.

À Luciana Espíndola e Mayara Mendes pela disponibilidade na execução do grupo focal e ajuda valiosa na realização desse trabalho, através da escuta qualificada e das pertinentes sugestões.

À Mônica Regina, Carla Cassiane, Fabiana Costa, Marina Assunção, Juliana Renara e Heloísa Bandeira, por fazerem parte do grupo focal piloto, como experimento desse estudo, contribuindo para o aperfeiçoamento do mesmo. Às assistentes sociais, companheiras de luta profissional que fizeram parte do grupo focal, trazendo subsídios para a minha pesquisa, cujos nomes não serão referidos com o objetivo de preservar o anonimato. Meu carinho e admiração.

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A todos os amigos que estiveram comigo nesse percurso me apoiando e me incentivando em toda essa trajetória.

Aos usuários, fonte de inspiração de toda a minha trajetória profissional e acadêmica, o meu mais profundo respeito.

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RESUMO

Tendo por objetivo uma melhor definição das atribuições do assistente social que trabalha na saúde devem incorporar na sua prática profissional, a partir de uma reflexão crítica e, desta forma, planejar a sua intervenção criando estratégias que se contraponham ao modelo neoliberal vigente, o conjunto CFESS/ CRESS publicou os Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de Saúde (2010). Porém, mesmo após a criação do referido documento, tem-se observado a continuidade de demandas ao assistente social não condizentes com os princípios defendidos pelo Projeto Ético-Político do Serviço Social. Dessa forma, o presente estudo tem por objetivo geral realizar uma avaliação de como os Parâmetros vêm sendo implementados em Pernambuco e de que forma ele tem se constituído como elemento fundamental para uma prática profissional condizente com os seus objetivos profissionais, reconhecendo os limites e possibilidades de sua efetivação.

Inicialmente foi realizado um estudo sobre a saúde pública no Brasil, apresentando os avanços da política de saúde no período de redemocratização pelo qual o país passou na década de 1980, e de como o modelo neoliberal vem repercutindo na saúde pública, de forma cerceadora de direitos, até os dias atuais. Esse trabalho mostra ainda quais as repercussões da atual configuração da saúde na prática profissional do assistente social, ressaltando o retorno de práticas conservadoras no exercício profissional do assistente social na saúde.

A partir da utilização da técnica de grupo focal realizada com seis assistentes sociais que atuam na saúde em Pernambuco foi realizada uma avaliação de como os Parâmetros para a atuação de assistentes sociais na política de saúde têm sido implementado, trazendo reflexões sobre o direcionamento da profissão em Pernambuco, na referida área.

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ABSTRACT

With the objective to better define the responsibilities of the social worker who works in health services must incorporate into their professional practice, from a critical and planning your intervention strategies to counter the prevailing neoliberal model, the set CFESS / CRESS published the Parameters for performance of social workers in health policy (2010). But even after the creation of the document, there has been continuity of the social demands inconsistent with the principles espoused by the Project Ethical-Political of Social Work. Thus, the present study aims to conduct a general assessment of how the Parameters are being implemented in Pernambuco and how this document has constituted an essential element for professional practice consistent with their professional goals, recognizing the limits and possibilities of its effectiveness.

Initially a study about public health services in Brazil, with the advances in health politics in the period of democratization in the 1980s, and how the neoliberal model has repercussions on public health, restricting rights until the present day. This work also shows the repercussions of the current configuration of professional practice in health services, underscoring the return of conservative practices in the professional practice of social workers in health.

From the use of the technique of focus group with six social workers who work in healthcare in Pernambuco was an assessment of how the Parâmetros for practicing social workers in health politics have been implemented, bringing thoughts about the direction of the profession at Pernambuco, in that area. KEYWORDS: Health Politics, Social Service, Parameters.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...11

CAPÍTULO 1 - A Saúde Pública no Brasil no Contexto Neoliberal ...16

1.1 - O desmonte da política social na contrarreforma do Estado...16

1.2 O sucateamento da saúde pública hoje...20

1.3 O controle social como ferramenta de garantia de direitos no SUS...31

. CAPÍTULO 2 - O rebatimento da nova configuração da saúde pública na prática do Serviço Social: a reatualização do velho e a incorporação do novo...38

2.1 - A construção do projeto ético-político do serviço social...38

2.2 A prática profissional do assistente social ante às novas investidas neoliberais ...42

2.3 - O Serviço Social na saúde e a construção dos Parâmetros para a Atuação do Assistente Social na Política de Saúde...51

CAPÍTULO 3 - Avaliação dos Parâmetros para a atuação do assistente social na Política de Saúde de Pernambuco...56

3.1 - A política de saúde atual...63

3.2 - Serviço Social e saúde...68

3.3 - Atuação do assistente social na saúde...75

CONSIDERAÇÕES FINAIS...98

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INTRODUÇÃO

Esta dissertação, elaborada durante o Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, se refere à implementação dos Parâmetros para atuação de assistentes sociais na política de saúde, no estado de Pernambuco.

O presente estudo parte das observações da prática profissional e das discussões de assistentes sociais que trabalham neste setor no referido estado e participam das reuniões da Comissão de Seguridade Social no Conselho Regional de Serviço Social – CRESS 4ª região, problematizando a prática e propondo ações coletivas.

A fim de compreender os motivos do contexto que se estabelece na política de saúde atual, repercutindo em novas exigências ao assistente social, faz-se necessário a compreensão histórico-processual da realidade, entendendo os determinantes estruturais e conjunturais que os condicionam.

A política de saúde, compreendida como política pública de Seguridade Social obteve, no marco legal, grandes avanços durante o período de redemocratização do país, mais notadamente no final da década de 1970 e na década de 1980 (momento de grande efervescência política). Essas conquistas foram fruto da organização coletiva de sujeitos sociais que discutiam sobre as condições de vida da população, com destaque para profissionais de saúde, o movimento sanitário, partidos políticos de oposição e os movimentos sociais urbanos, contribuindo significativamente para a ampliação do debate sobre a saúde brasileira a toda sociedade civil, propondo não somente um Sistema Único de Saúde, mas a Reforma Sanitária, conforme aponta Bravo (2006).

Um dos espaços de grande relevância no debate sobre a saúde no Brasil foi a 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, que teve como temas centrais “A saúde como direito inerente à personalidade e à cidadania, Reformulação do Sistema Nacional de Saúde e Financiamento setorial”.

Tais discussões levaram à elaboração de um documento com reivindicações a serem introduzidas na pauta da Assembleia Constituinte. Dentro de um processo de grandes disputas políticas entre as forças que apoiavam a Reforma Sanitária

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12 e os grupos empresariais, foram aprovadas na Constituição (1988) importantes conquistas para a população1, como direito universal à saúde e o dever do Estado na garantia do mesmo, ações e serviços de saúde considerados de relevância pública, constituição de um Sistema Único de Saúde (com rede hierarquizada, regionalizada, descentralizada, de atendimento integral, com a participação da comunidade), participação da rede privada de forma complementar e proibição do comércio de sangue e seus derivados, tais como Bravo (2006) assinala.

Após a conquista formal desses direitos, na década de 1990 o país iniciou um processo de profundas transformações de ordem política e econômica, redirecionando o papel do Estado, a partir das propostas neoliberais, trazendo um impacto significativo à implementação das garantias sociais presentes na Constituição Federal.

Essas propostas tinham como objetivo principal a abertura do mercado ao setor privado para a o estabelecimento de novas possibilidades de obtenção de lucro em face da crise estrutural vivenciada pelo capital. Com esse intento, o Estado estabeleceu medidas relacionadas às políticas sociais de caráter privatista, de focalização (através da ênfase em políticas não universalizantes), restringindo os direitos conquistados com grande dificuldade no plano formal. A política de saúde pública também sofreu os impactos do neoliberalismo, observando-se o sucateamento dos serviços públicos paralelo ao incentivo do Estado aos setores privados, a exemplo do financiamento de instituições de saúde privada com o orçamento público.

Nos anos 2000, o país viveu momentos de grande esperança de uma guinada política para o favorecimento da classe trabalhadora, através da vitória nas eleições presidenciais de um representante desse seguimento popular. Porém, tal expectativa não aconteceu, verificando-se uma continuidade no governo Lula da Silva de ações voltadas para o mercado.

Na saúde pública assistiu-se a novas formas de sua mercantilização, através da abertura de parcerias público-privadas ao gerenciamento dos serviços, apresentando o discurso de que a administração pública se fazia ineficaz. Em

1 Embora a maioria das reivindicações tenha sido garantida, existiram vários cortes no texto

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13 nome da eficiência, possibilita-se estabelecer uma série de medidas que impactam negativamente na qualidade da atenção oferecida aos usuários (com ênfase em ações de caráter assistencial e emergencial, não priorizando um atendimento aprofundado nos determinantes do adoecimento da população) e nas relações de trabalho do profissional de saúde (através de contratação sem concursos públicos, de vínculos trabalhistas frágeis, redução de quadro funcional, entre outros problemas).

No governo Dilma Roussef, presencia-se uma continuidade das propostas orientadas ao mercado, com a abertura de novas instituições públicas gerenciadas pelo setor privado e a falta de investimento em medidas que incorporem os princípios do SUS, conforme pensado no Movimento de Reforma Sanitária.

Apesar do enfraquecimento dos movimentos sociais que vem ocorrendo no país, algumas forças de oposição a esse modelo de saúde incorporado pelo governo vêm resistindo, a exemplo do Conselho Nacional de Saúde, que apesar das diferentes posições políticas que se confrontam internamente, vem mantendo um posicionamento hegemônico que se contrapõe aos ideários neoliberais. Outros movimentos de combate às novas configurações da saúde vêm paulatinamente surgindo, como a Frente contra a privatização da saúde, alimentando a luta pelo SUS de qualidade.

A atual configuração da saúde traz novas equisições aos profissionais, incluindo o assistente social. Requisições estas que pretendem responder aos interesses do capital, mencionados anteriormente.

No intuído de realizar uma prática condizente com os princípios do Projeto Ético-Político, que se contrapõem à lógica da política de saúde atual, o Conselho Federal de Serviço Social – CFESS elaborou um documento intitulado Parâmetros para a atuação de assistentes sociais na política de saúde que respalda o fazer profissional do assistente social voltado aos interesses da classe trabalhadora.

O documento realiza um resgate da luta pela construção e legalização do Sistema Único de Saúde - SUS universal, equânime, integral e participativo, através do Movimento de Reforma Sanitária, na década de 1980, explicitando a relevância que os movimentos sociais tiveram nas conquistas obtidas nesse campo. Menciona a importância do afinamento da prática do assistente social

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14 com o projeto Ético-Político e seus aportes teóricos e legais, fala das competências e atribuições do assistente social e sinaliza um conjunto de ações com o objetivo de orientar este profissional na realização das suas atividades. Os Parâmetros constituem um documento de extrema relevância aos assistentes sociais para o embasamento das suas atividades profissionais, fornecendo a possibilidade de facilitar o desempenho destas.

Porém, passados dois anos da sua elaboração, faz-se necessário avaliar a implementação deste documento, em Pernambuco, identificando as demandas que são postas ao Serviço Social no contexto atual e relacionando estas demandas com as referências para a intervenção profissional presentes nos Parâmetros. É imperativo ainda identificar e analisar as dificuldades e estratégias desta implementação. E este é o objetivo deste estudo.

Para fins de obtenção dos dados, foi realizada a técnica de grupo focal e posteriormente uma análise qualitativa dos dados, comparando as falas dos participantes, identificando as diferenças e semelhanças existentes nas opiniões obtidas, buscando formular explicações para estes pontos comuns e divergentes, conforme descrito minunciosamente no 3º capítulo deste trabalho.

O estudo está organizado em capítulos que se relacionam entre si, mantendo a coerência do texto.

No 1º capítulo encontra-se os aspectos conjunturais das políticas públicas, incluindo a saúde e sua relação com a estrutura social.

O 2º capítulo apresenta o rebatimento que a configuração da saúde atual impõe ao Serviço Social, ao mesmo tempo que identifica aspectos contraditórios do Projeto Ético Político do Serviço Social ante a esta política de saúde e algumas estratégias de enfrentamento, como a elaboração dos Parâmetros.

O 3º capítulo é composto pelo desenho da pesquisa, apresentando os objetivos e métodos do estudo, assim como a avaliação da implementação dos Parâmetros para a atuação do assistente social na política de saúde de Pernambuco.

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15 Na conclusão deste estudo encontra-se os principais achados e algumas reflexões para proposições futuras.

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CAPÍTULO 1 - A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL NO CONTEXTO NEOLIBERAL

1.1 - O desmonte da política social na contrarreforma do Estado.

Desde 1990, no governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) e posteriormente, de forma mais acelerada nos governos Lula da Silva e Dilma Roussef, o Brasil vive alguns momentos de grandes reformas2 orientadas para o

mercado, desprezando as conquistas3 obtidas no terreno das políticas sociais

indicadas na Constituição de 1988. Configurou-se, paulatinamente, em um estado máximo para o mercado e mínimo para os trabalhadores.

Behring (2003), ao realizar uma análise das políticas sociais, observa que desde a década de 1990, no governo de FHC, o Brasil presencia o desmonte e a destruição do Estado brasileiro numa espécie de transformação do mesmo para a adaptação passiva ao capital, implementando reformas com o argumento de que o problema está localizado no Estado e por isso se faz necessário reformá-lo para as novas requisições, havendo com isso uma forte tendência à desresponsabilização pelas políticas sociais (em nome da qual se faria a reforma).

2 Na verdade o termo reforma foi utilizado de forma imprópria já que este representava qualquer

mudança sem se importar com o sentido, as consequências sociais e sua direção sócio-histórica, como sempre foi utilizado pela esquerda que lutava por direitos para a classe trabalhadora, sendo muitas vezes o seu movimento comandado pela social-democracia. Esta, no entanto, se afastou cada vez mais desta luta, aproximando-se dos ideais neoliberais passando a trair as suas próprias reformas adotando políticas neoliberais em vários países. Desta forma, no Brasil pode se falar de uma contrarreforma em curso entre nós, retirando, porém, a possibilidade de reformas mais profundas que visem de fato os interesses da classe trabalhadora, segundo aponta Behring (2003).

3 Tais conquistas foram fruto de lutas sociais realizadas na década de 1980, no chamado período

de redemocratização, quando movimentos sociais se organizaram, contestando a política existente no país num período de fim do regime autocrático pós-64. Um dos movimentos de maior relevância nessa época foi o da Reforma Sanitária, que discutia um projeto democrático e participativo para a saúde pública.

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17 A política social foi capturada pela lógica da adequação ao novo contexto, daí decorre o trinômio do neoliberalismo para as políticas sociais: privatização (repassando a responsabilidade de execução das políticas públicas para o setor privado, propiciando um lugar lucrativo para o capital), focalização (através de ações pontuais e compensatórias) e descentralização (desresponsabilização do Estado), em detrimento da universalização destas políticas.

Tudo isso ocorre justamente num período em que a resistência das forças políticas de esquerda se encontra fragilizada, principalmente o movimento dos trabalhadores em função do desemprego, precarização e flexibilização das relações de trabalho e dos direitos, trazendo impactos desastrosos para a sociedade brasileira, dramatizando as expressões da questão social4.

Outro aspecto de relevância existente nas políticas neoliberais, iniciado na era FHC foi a regulamentação do terceiro setor para a execução de políticas públicas combinado com o serviço voluntário que desprofissionaliza a intervenção através do trabalho não remunerado, tendência esta que vem sendo amplamente difundida na saúde, com os hospitais filantrópicos.

A vitória de Lula da Silva nas eleições presidenciais reavivou as esperanças das camadas populares em todo o país, pois pela primeira vez o Brasil teria um presidente advindo da classe operária e das lutas sindicais, conforme aponta Bráz (2004).

No entanto, essas expectativas foram frustradas, já que se observou uma continuidade dos parâmetros macroeconômicos do governo de FHC, trazendo impactos importantes para a população.

O governo Lula, seguindo a linha do governo anterior, reduziu os gastos com as políticas sociais, centrando as suas ações em políticas focalizadas, a exemplo

4 De acordo com Iamamoto (2003, p.27), questão Social é o “conjunto das expressões das

desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade”.

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18 da criação do Programa Bolsa-Família5, tendo como objetivo o combate à miséria, através da unificação de todos os programas sociais e a criação de um cadastro único de beneficiários. Vale ressaltar que o referido Programa mostra-se insuficiente aos mostra-seus propósitos, já que não foi associado a outras políticas sociais (BEHRING, 2004).

Outro ponto de análise importante que revelou perdas à população no governo Lula foi a reforma da Previdência Social, com ações restritivas de direitos anteriormente conquistados pela população.

A proposta da reforma tributária (elaborada ainda no governo Lula) traz consequências diretas ao financiamento das políticas sociais, quebrando a garantia de benefícios e programas sociais e serviços públicos, sendo comprometida a capacidade de financiamento da Seguridade Social.

Bravo e Menezes (2011) indicam que no governo Lula, apesar de ter havido um aumento dos canais de participação, esta ficou reduzida à estratégia de governabilidade. Presenciou-se também um forte desrespeito à autonomia da sociedade civil.

No governo Dilma Roussef, presenciamos cortes orçamentários, restrição de investimentos públicos e privatização em vários setores, a exemplo de aeroportos e do petróleo. O que se verifica é que o atual governo não tem priorizado o social, assim como, o governo anterior. Ao contrário, percebe-se um direcionamento ainda maior relacionado a manutenção do modelo econômico.

Outros aspectos relevantes no governo Dilma, segundo Bravo e Menezes (2011), é a crescente insatisfação de grupos sociais, ocorrendo várias manifestações em todo o país por melhores condições de trabalho, contra aumento de passagens de ônibus, pela melhoria da qualidade da educação e da saúde, contra a privatização de setores públicos.

A política social no contexto do capitalismo em sua fase madura não é capaz de reverter este quadro. Contudo, levar as políticas sociais ao limite de cobertura

5O Programa Bolsa-Família se constitui um programa de governo, não havendo nenhuma

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19 numa agenda de luta dos trabalhadores é tarefa de todos os que têm compromissos com a emancipação política e a emancipação humana, tendo em vista elevar o padrão de vida das maiorias e suscitar necessidades mais profundas e radicais.

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1.2 - O sucateamento da saúde pública hoje.

Tendo em vista o sucateamento das políticas sociais vivenciado nos dias atuais, observamos que a política de saúde pública não se distancia deste contexto, pelo contrário, a saúde nos últimos anos vem sendo um campo de profundos conflitos e contradições, em que se difunde massivamente a expansão do mercado em decorrência dos projetos que vêm favorecendo o capital e minimizando cada vez mais as ações voltadas para atender aos interesses da classe trabalhadora.

A dificuldade de implementação do SUS vem ocorrendo desde o início da contrarreforma neoliberal na década de 1990 e, segundo analisa Soares (2010), piorando no governo Lula pela forma precarizada e fragmentada como as políticas sociais têm sido tratadas, pela facilidade de aprovar deliberações devido ao alto índice de aceitação do seu governo pela população, pelo transformismo de lideranças que anteriormente assumiam uma defesa dos princípios defendidos pelo Movimento de Reforma Sanitária, modificando essa posição de acordo com conveniências político-partidárias, pela continuidade da política econômica conservadora, pela centralidade da política de assistência social restritiva (não universal) e focalizada prioritariamente nos programas de transferência de renda.

Ao realizar uma análise da saúde no primeiro mandato do governo Lula, verificou-se que esta política continuou separada da assistência social e da previdência, visto que não ocorreu uma valorização da seguridade social.

Bravo (2006) assinala a existência de uma expectativa de fortalecimento do Projeto de Reforma Sanitária, elaborado nos anos 1980 e antagônico ao projeto privatista, vinculado ao mercado.

O atual governo, entretanto, apesar de explicitar como desafio a incorporação da agenda ético-política da reforma sanitária, pelas suas ações, tem mantido a polarização entre os dois projetos. Em algumas proposições, procura fortalecer o primeiro projeto e, em outras, mantém o segundo projeto, quando as ações enfatizam a focalização e o desfinanciamento (BRAVO: 2006, p.102).

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21 A autora aponta ainda os aspectos inovadores da política de saúde em relação ao governo FHC, assim como os aspectos que demonstram uma continuidade do modelo voltado para o capital, a saber:

Aspectos inovadores: retorno da discussão da concepção de Reforma Sanitária, escolha de profissionais comprometidos com essa luta (da Reforma Sanitária) para ocupar o segundo escalão do Ministério da Saúde, convocação extraordinária da 12ª Conferência da Saúde e sua realização (que apesar da grande expectativa, não avançou no fortalecimento da Reforma Sanitária nem da Seguridade Social, além de suas deliberações não influenciarem na elaboração das diretrizes a serem seguidas na Política de Saúde), participação do Ministério da Saúde nas reuniões do Conselho Nacional de Saúde, escolha de representante da Central Única dos Trabalhadoras - CUT para gerenciar a Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Saúde e modificações na estrutura organizativa do referido Ministério (com a criação da Secretaria de Gestão do Trabalho em Saúde, tendo em vista enfrentar o problema de recursos humanos no SUS; da Secretaria de Atenção à Saúde para unificar as ações de atenção básica, ambulatorial e hospitalar; e a Secretaria de Gestão Participativa para fortalecer o controle social e a comunicação com os outros níveis de governo e a sociedade e realizar as conferências de saúde).

Aspectos de continuidade (da política de saúde do governo FHC): ênfase na focalização (a exemplo da centralidade do Programa de Saúde da Família – PSF, não sendo contemplados os princípios da universalidade nem da integralidade na forma como o mesmo foi inicialmente estruturado), na precarização e terceirização dos recursos humanos (com a ampliação da contratação de agentes comunitários de saúde6 e de outras categorias profissionais não regulamentadas), no desfinanciamento da saúde (principal problema, associado ao gasto social do governo que foi determinante para o sucateamento da política)

6 Apesar da profissão de Agentes Comunitários de Saúde haver sido regulamentada, não existe

uma definição das suas atribuições. Além disso, a sua contratação ocorre sem a existência de concurso público, com base em indicações político-partidárias.

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22 e na falta de vontade política para tornar viável a Seguridade Social (com as políticas de saúde, previdência social e assistência social desarticuladas).

Assim, fazendo uma breve avaliação de como se deu a política de saúde no primeiro mandato do governo Lula, Bravo (2006, p.106-107) sinaliza que

Não obstante ter conseguido alguns avanços, o SUS real está muito longe do SUS constitucional. Há uma enorme distância entre a proposta do movimento sanitário e a prática social do sistema público de saúde vigente. O SUS foi se consolidando como espaço destinado aos que não têm acesso aos subsistemas privados, como parte de um sistema segmentado. A proposição do SUS inscrita na Constituição de 1988 de um sistema público universal não se concretizou.

Em nome do desenvolvimento, o governo Lula cria programas na saúde como o Pacto pela Saúde (2006) que engloba os programas Pacto pela Vida, Pacto pelo SUS e Pacto de Gestão. Em 2007, cria o Mais Saúde, que constitui o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) da Saúde.

O segundo mandato do governo Lula não apresentou compromisso com a Reforma Sanitária, apesar do Ministro escolhido, José Gomes Temporão, haver participado, na década de 1980, da elaboração do referido Projeto, demonstrando a sua mudança de posicionamento frente aos direcionamentos político-partidários atuais, afirmando haver um tensionamento entre o ideário do Projeto da Reforma Sanitária da década de 1980 e do Projeto real em construção, assim como aspectos culturais e ideológicos em disputa, conforme apontam Bravo e Menezes (2011).

Desta forma, conforme afirma Soares (2010), verifica-se na saúde brasileira a existência de projetos distintos em disputa: o projeto da reforma sanitária, o projeto privatista e ainda um terceiro projeto, com fortes traços do privatista – o do SUS possível.

O projeto da reforma sanitária foi construído pelos movimentos sociais na época da redemocratização e trazia uma proposta de ruptura com o modelo de saúde vivenciado no país, voltado apenas para o trabalhador contribuinte, sem participação da população nas decisões de gerenciamento da saúde. Esse

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23 projeto consolidou direitos com a conquista e implementação de um Sistema Único de Saúde - SUS universal, integral, resolutivo, equânime e participativo presente na Constituição de 1988 e regulado através das leis 8.080 (1990) e 4.182 (1990).

O projeto privatista veio atender aos interesses do capital, de forma mais explícita, a exemplo da expansão dos planos de saúde, do crescimento das indústrias farmacêuticas e das construções de grandes complexos hospitalares privados.

O projeto do SUS possível foi impulsionado principalmente pelo transformismo de lideranças dos trabalhadores que passaram a defender posições coerentes com o neoliberalismo e interesses do grande capital de maneira camuflada, pregando uma falsa modernização e aperfeiçoamento do SUS.

Apesar de o ministro Temporão ter trazido para o debate questões polêmicas como a legalização do aborto, restrições de publicidade relacionadas às bebidas alcoólicas, restrições de farmácias com algumas medidas de quebra de patente relacionada a um medicamento de tratamento à AIDS, não avançou no fortalecimento da concepção de Seguridade Social nem no desenvolvimento da Política de Recursos Humanos.

Tendo por objetivo impulsionar as reformas relacionadas ao gerenciamento e apresentando o discurso que o problema da saúde era a incompetência das instituições públicas em gerenciar seus serviços, o governo cria um novo modelo de gestão para a rede pública de hospitais - o Projeto das Fundações Estatais de Direito Privado7, Lei 92/2007 através do qual possibilita esse tipo de instituição administrar as instituições públicas, conferindo ao setor privado a autonomia na decisão dos gastos públicos, como descreve Bravo e Menezes (2011).

7 Apesar do projeto das Fundações haver sido fortemente relacionado à saúde pública, a

intenção do governo era de atingir todas as áreas que não fossem exclusivas do Estado, a saber: saúde, educação, ciência e tecnologia, cultura, meio ambiente, desporto, previdência complementar, assistência social, dentre outras.

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24 Esse projeto vai radicalmente de encontro aos princípios e diretrizes defendidos pelo Movimento de Reforma Sanitária da década de 1980 e do que foi legalmente aprovado na Constituição Federal8 (1988), após vários anos de luta coletiva para a obtenção desses direitos duramente conquistados.

A proposta descaracteriza o SUS constitucional nos seus princípios fundamentais e todas as proposições que o Movimento Popular pela Saúde e o Movimento de Reforma Sanitária sonharam construir em suas lutas desde meados dos anos setenta. Substitui-se o interesse público por interesses particularistas numa privatização perversa do Estado brasileiro, o que infelizmente não é novidade na cena pública nacional. Todas essas modificações, entretanto, são ancoradas em valores que foram resignificados, como a democracia, a qualidade, a transparência, a eficiência e a eficácia (Bravo e Menezes: 2011, p.21).

A proposta do projeto das fundações traz a defesa de questões extremamente afinadas com o projeto neoliberal, demonstrando a continuidade do movimento de contrarreforma do Estado, tal como assinalam Bravo e Menezes (2011):

• Contratação de pessoal pela Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT, • Não existência de conselhos gestores nas instituições, mas de conselhos

curadores (não defendendo, desta forma, o controle social),

• Desconsideração da luta em defesa do Plano de Cargos, Carreira e Salário dos trabalhadores de saúde (criando Plano dessa natureza por Fundações),

• Desprezo às proposições da 3ª Conferência Nacional de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde, de 2006.

Bravo e Menezes (2011) ressaltam que os movimentos sociais não se apresentaram acomodados com essas proposições, traçando estratégias de defesa do SUS público, Estatal, Universal e de Qualidade, se manifestando contrários às Fundações. Ainda na 13ª Conferência Nacional de Saúde foi reprovada essa forma de gestão, o que aponta para algumas questões importantes como a necessidade de aprovação do PLP 01/2003 da Câmara dos

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25 Deputados (atual Emenda Constitucional nº 29), que trata do financiamento da saúde.

Negando as indicações da referida Conferência, o ministro continuou defendendo o Projeto das Fundações, que foi aprovado em vários Estados, a partir de 2007, inclusive em Pernambuco. Em 2009, a proposta das Fundações Públicas de Direito Privado foi reapresentada ao Congresso Nacional, em caráter de urgência.

As prioridades da saúde no segundo mandato do governo Lula, de acordo com Bravo e Menezes (2011), ocorreram basicamente em quatro áreas: a Estratégia de Saúde da Família, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU, a ampliação da atenção em saúde bucal e o Programa Farmácia Popular.

Esta última prioridade viabilizou o acesso da população a medicamentos vendidos a baixo custo, sendo realizada inicialmente para essa finalidade a abertura de farmácias estatais gerenciadas através da Fundação Oswaldo Cruz ou da parceria com estados e municípios. Num segundo momento, o Programa ampliou o número de farmácias para o referido atendimento, através do credenciamento de farmácias privadas, chegando a mais de seis mil estabelecimentos em 2008. Tal programa colide com as diretrizes do SUS que prevê atendimento integral à saúde, incluindo a assistência farmacêutica. Outro problema é a parceria público-privada, com a estratégia utilizada a partir de 2006, com o Estado subsidiando as farmácias comerciais, reforçando o caráter privatista da saúde.

As autoras apontam um aspecto relevante a ser ressaltado no segundo mandato do governo Lula de que, embora os movimentos sociais tenham se posicionado contrários às investidas neoliberais presentes, foi observado um afastamento de parte destes do referencial teórico embasado na teoria social crítica, tão presente nas reflexões do Movimento de Reforma Sanitária dos anos 1980, o que se apresenta como um retrocesso na luta pela saúde pública e de qualidade. Observam-se produções teóricas que apresentam reflexões sobre promoção da saúde, cuidado e auto-cuidado, humanização, problemas do cotidiano, sem trazer a perspectiva de totalidade social, de historicidade, nem as categorias

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26 presentes na luta de classe. Há nos textos uma certa responsabilização do indivíduo pela sua saúde, retirando o encargo do Estado.

Vale ressaltar que alguns sujeitos permaneceram na direção da teoria social crítica, se opondo de forma mais radical ao movimento de privatização existente, denunciando as perdas sofridas nos últimos anos, a exemplo das principais questões levantadas pela Plenária Nacional de Conselhos de Saúde, conforme Bravo e Menezes (2011) apontam:

• Desestruturação da rede de atenção primária;

• Não regulamentação da Emenda Constitucional nº 29 (que trata do subfinanciamento da saúde);

• O avanço da privatização do SUS em detrimento do serviço público eminentemente estatal;

• A precarização dos serviços públicos e das relações de trabalho (baixos salários, grandes diferenças salariais, sem a incorporação de um Plano de cargos, carreiras e salários para os profissionais do SUS).

A referida Plenária se posicionou também radicalmente contrária ao Projeto de Lei n 92/2007 que cria as Fundações Públicas de Direito Privado.

As Organizações Sociais (OSs) têm se espraiado em todo o país, dando a possibilidade de instituições privadas gerenciarem os serviços públicos de saúde, assim como tem acontecido com o Projeto das Fundações. Esse tipo de gestão (por OSs) vem se difundindo em Pernambuco de forma acelerada nos últimos anos, tendo atualmente 04 hospitais e 12 Unidades de Pronto-Atendimento sendo geridos por essa modalidade.

No último dia do seu mandato (31/12/2010), o governo Lula apresentou a Medida Provisória (MP) 520, que autoriza o poder executivo a criar a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), tendo por objetivo restaurar os Hospitais Universitários (HUs) federais, a partir da gestão privada.

No governo Dilma Roussef, embora ainda no seu discurso de posse a presidente tenha se manifestado a favor da consolidação do SUS, afirmando ser esta uma das suas prioridades de governo, o que se verifica é a continuidade de medidas favoráveis ao mercado. Neste mesmo discurso a presidente indica ainda que

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27 fará parcerias com o setor privado na área da saúde pública (BRAVO E MENEZES: 2011).

O ministro da saúde indicado, Alexandre Padilha sinaliza que as suas prioridades serão a garantia do acesso dos usuários aos serviços e o atendimento de qualidade, defendendo que a saúde ocupe o lugar central na agenda do desenvolvimento.

Dentre as ações desenvolvidas por esse governo encontram-se: a atenção à saúde da mulher e da criança, através da implantação da Rede Cegonha, atenção ao tratamento de câncer de mama e de colo uterino, a oferta de medicamentos para o controle da hipertensão e diabetes, através do Programa “Aqui tem Farmácia Popular”, combate à dengue, enfrentamento do crack e outras drogas, luta antimanicomial.

Algumas questões polêmicas vêm sendo tratadas como a realização de um diagnóstico para a melhoria da gestão, promovido pela Gerdau (empresa privada) e o título de “Parceiro da Saúde“ dado ao Mac Donald`s, demonstrando a afinidade do governo com o mercado.

Outra ação desenvolvida foi a criação de Unidades de Pronto-Atendimentos – UPAs em todo o Brasil, desenvolvendo ações emergenciais, de média complexidade, reforçando aqui o modelo de saúde hospitalocêntrico, voltado para as ações curativas, em detrimento da atenção básica com enfoque de prevenção à saúde.

O mesmo traz como desafios a regulamentação da Emenda Constitucional nº 29, a definição de regras claras ao financiamento da saúde e a necessidade de aprimorar a gestão, ficando claro que esse aperfeiçoamento se daria através das Parcerias Público-Privadas (PPPs), representando a continuidade de desconstrução de princípios e diretrizes do SUS realizada também no governo Lula.

Tem-se visto a ampliação dos modelos de gestão que privatizam a saúde como as Organizações Sociais (OSs), Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs), Fundações Estatais de Direto Privado e os problemas que estas ocasionam

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para os trabalhadores da saúde e usuários (BRAVO E MENEZES: 2011, p.23).

Correia (2011) apresenta alguns argumentos que justificam o posicionamento contrário a esses novos modelos de gestão, a saber:

• Integra o processo de contrarreforma do Estado, direcionando este para a racionalização dos gastos sociais e para o fortalecimento do setor privado, na oferta de bens e serviços coletivos;

• Privatiza o que é público, demonstrando as novas investidas do capital que, não satisfeito apenas com o livre mercado da saúde, busca, por dentro do Estado, se apropriar dos recursos destinados à política pública de saúde;

• Ameaça os direitos sociais garantidos legalmente através dos serviços sociais públicos. Um exemplo do grande risco que os novos modelos de gestão trazem para a saúde pública relaciona-se à tendência de diminuição da oferta de serviços à população, visto que, como as Organizações Sociais trabalham por contrato de metas, se houver uma demanda maior do que se estabeleceu na contratualização, estas podem vir a serem negadas, pois para os serviços privados, o lucro está acima de qualquer necessidade das pessoas. Outro exemplo que reflete os prejuízos aos direitos sociais relacionados à saúde, tão arduamente garantidos é a permissão da venda de 25% dos leitos de hospitais públicos de alta complexidade de São Paulo geridos por OSs para pacientes particulares e de convênios médicos privados, através da Lei nº 1.131/2010, conhecida como “Lei da Dupla Porta”, que contraria a legislação do Sistema Único de Saúde, já que a Constituição Federal (no seu artigo nº 19, inciso 1) e a Lei Orgânica da Saúde nº 8080/90 (nos artigos 24 a 26) só admitem a prestação de serviços privados para a saúde pública como atividade fim, de forma complementar, e não substitutiva como vem acontecendo nesses novos modelos de gestão. A Constituição Federal (1988) também afirma a responsabilidade do Estado ante aos serviços de saúde.

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Observa-se que é inconstitucional e ilegal as formas de terceirização dos serviços de saúde propostas, já que a Constituição Federal, em seu atr. 196, estabelece que a saúde seja “direito de todos e dever do Estado”, o que impede o Estado de se desresponsabilizar da prestação desses serviços, restando ao setor privado o papel apenas de complementariedade (CORREIA: 2011, p.46).

• Prejudica aos trabalhadores com a eliminação de concursos públicos, favorecendo práticas clientelistas; com a flexibilização dos vínculos, não assegurando todos os direitos trabalhistas e previdenciários; com a concessão de servidores públicos do Estado (mesmo concursados) para realizarem a sua prática profissional em entidades privadas através do contrato por OSs; com a incorporação de contratos de trabalho das pela CLT (forma possível de contratação nas Fundações) ao invés do Regime Estatutário, apontando para a quebra da estabilidade; com o enfraquecimento da organização do trabalhador que não se reconhece enquanto categoria de funcionário público; com o abandono do projeto de um Plano de Cargos, Carreiras e Salários único para os servidores públicos.

• Limita o controle social e propicia o desvio de recursos públicos. As OSs não são obrigadas a realizarem licitações para a compra de material e cessão de prédios, o que se mostra ilegal. Assim, o descontrole sobre os recursos públicos repassados para as OSs é tão grande que os estados e municípios encontram dificuldades nas auditorias públicas de verificar se tais recursos estão sendo gastos adequadamente.

Em todos os estados e municípios onde esse tipo de gestão já foi instalado existem denúncias de desvios de recursos públicos sendo investigadas pelo Ministério Público Estadual e/ou pelo Ministério Público Federal (CORREIA: 2011,p.46).

Outro ponto relevante sobre os recursos públicos repassados para as gestões privadas é que o seu progressivo aumento demonstra que o argumento de que os novos modelos de gestão garantiriam o enxugamento do dinheiro público é um engodo.

Por ter se esgotado o prazo para a votação da Medida Provisória nº520 (que trata da possibilidade dos Hospitais Universitários serem gerenciados por uma empresa privada), o governo recolocou a questão da EBSERH como Projeto de

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30 Lei (PL) nº 1749/2011, mantendo a proposta em quase sua originalidade, segundo Bravo e Menezes (2011).

Numa análise minimalista sobre o desempenho do governo Dilma em relação à saúde pública pode-se apontar que vem sendo mantidas estratégias neoliberais, havendo um direcionamento à privatização, focalização e cooptação dos movimentos sociais.

Bravo e Menezes (2011) apontam algumas dificuldades existentes na saúde pública atual que se distancia cada vez mais da construção e consolidação dos princípios da reforma sanitária, construídos na década de 1980, a saber: a lógica macroeconômica atual de valorização do capital financeiro e subordinação da política social à mesma, a inviabilização da seguridade social, o subfinanciamento da saúde e as distorções dos gastos públicos, a não concretização da universalização da saúde, a precarização das relações de trabalho, os poucos resultados do controle e participação social, a ênfase do modelo de saúde curativo, o modelo de gestão vertical, burocratizado, terceirizado, o avanço da privatização através das PPPs, a falta de prioridade na atenção básica.

A política de saúde conforme se apresenta na atualidade possui grandes limitações que desencadeiam em um nó cada vez mais difícil de desatar: o do adoecimento da população sem uma perspectiva de melhoria do quadro, muito menos de resolução/ superação do problema.

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1.3 - O controle social como ferramenta de garantia de direitos no SUS.

Uma das alternativas para o enfrentamento de todas essas questões que se apresentam na atualidade em relação à política de saúde é o fortalecimento do controle social.

Segundo Menezes (2012), uma das conquistas no plano formal de grande relevância ocorrida através da Constituição Federal (1988) foi a ampliação do modelo de democracia, com proposta de participação da sociedade na esfera pública.

A participação social se mostra como um elemento primordial para a preservação dos direitos sociais, construção da cidadania e fortalecimento da sociedade civil e tem como uma de suas expressões a ideia desta sociedade controlando o Estado, através da fiscalização deste, para o impedimento dos da sua transgressão frente às políticas sociais.

Segundo a autora, a concepção de controle social como mecanismo de participação da população na elaboração, implementação e fiscalização das políticas sociais tem como marco o processo de redemocratização da sociedade brasileira, através do aprofundamento das reflexões sobre a democracia. O controle social corresponde a um direito conquistado a partir da Constituição Federal (1988), sendo garantidas duas instâncias formais: os conselhos e as conferências9.

Os conselhos constituem espaços de participação da sociedade nas decisões do Estado, contribuindo para a democratização da relação Estado-sociedade. São órgãos políticos formais de controle social que integram representantes dos setores organizados da sociedade civil, sendo, desta forma, um campo de confronto de ideias e interesses10, conforme afirma Menezes (2012).

9 Apesar de existir outros espaços de controle social não inscritos nessa legislação.

10 Segundo a perspectiva Gramsciana. Alguns autores entendem esse como um espaço de

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32 Os conselhos de saúde se configuram como espaços deliberativos, de caráter permanente e paritário, compostos por representantes dos trabalhadores da saúde, de gestores, dos prestadores públicos e privados e dos usuários, tendo por objetivo discutir, elaborar e fiscalizar a política de saúde em cada uma das esferas de governo, estabelecendo parâmetros para o governo, decidindo o que deve ser realizado e avaliando essas realizações (idem).

Observam-se no contexto atual alguns obstáculos ao funcionamento dos conselhos, relacionados a uma cultura política, historicamente estabelecida no país, de impedimento da criação de espaços de participação na gestão das políticas sociais, sendo constatado o predomínio da burocracia, práticas políticas de favor, patrimonialistas, de cooptação da população, populistas e clientelistas.

Essas características advêm do autoritarismo do Estado brasileiro, do distanciamento da sociedade civil organizada dos partidos e da falta de articulação da sociedade civil na atualidade causada pelas modificações na forma de produção e gestão do trabalho frente às novas exigências do mercado (BRAVO, 2006).

Como já mencionado, a troca de favores existente em alguns conselhos de saúde é um fato nos dias atuais, sendo observada entre todos os seus membros, segundo Pereira Neto11. Tem como objetivo a obtenção de ganhos individuais, através de benefícios pecuniários ou de outra ordem para si, seus familiares, amigos e/ou protegidos, fugindo assim dos reais propósitos destes órgãos da garantia de conquistas coletivas. Segundo o autor

o que parece haver é uma troca recíproca de favores entre as partes envolvidas: o “político”, o representante do usuário e o cidadão. Todos os três vivem em constante negociação visando atender seus interesses e satisfazer suas necessidades particulares(2012,p.113).

Essa constatação coloca em xeque o controle social na saúde, permitindo o questionamento sobre os conselhos serem de saúde ou de favores.

o conselho como espaço de cooptação da sociedade civil por parte do poder público, havendo ainda os que não aceitam esse espaço.

11 O autor tem com base de dados uma pesquisa realizada com um número limitado de

conselheiros, não sendo os resultados possíveis de generalização, embora traga reflexões relevantes a respeito do assunto tratado.

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33 O autor levanta a possibilidade de algumas causas dessa situação: o enfraquecimento dos movimentos sociais, perceptível nos últimos anos e a cultura da impunidade pela utilização do que é público para uso privado que historicamente assola o país, fator este demonstrado pela forma natural como essa troca de favores é realizada nos conselhos, demonstrando a banalização da execução dessas práticas.

Bravo e Menezes (2012), a partir de pesquisa realizada no estado do Rio de Janeiro, indicam ainda a despolitização de alguns desses espaços, trazendo uma perspectiva de apatia dos movimentos sociais e participação destes de forma colaboracionista, limitando as possibilidades de mudanças.

No entanto alguns desses espaços se mostram em outra direção. O Conselho Nacional de Saúde - CNS vem se posicionando em defesa da saúde pública aos moldes de como esta foi idealizada pelo Movimento de Reforma Sanitária, se constituindo em um espaço de luta pelo SUS e de resistência ante às reformas neoliberais defendidas pelo governo12, como a mercantilização dos serviços públicos, a exemplo dos novos modelos de gestão da saúde pública, conforme aponta Correia em relação à época do governo Lula:

Pode-se afirmar que o sentido político predominante no Conselho Nacional de Saúde foi o de defesa do SUS e de seus princípios e de resistência às orientações do Banco Mundial para a política de Saúde brasileira, demonstrando que os interesses das classes subalternas se sobrepuseram sobre os demais nesse espaço, durante o período estudado (2005,p.294).

Este Conselho atualmente, dentre os conselhos de política e de direito, é o que tem mais elaborado propostas em defesa dos direitos sociais, muito embora não tenha conseguido avançar em bandeiras de âmbito mais geral como na garantia da Seguridade Social, nem realizado uma articulação mais expressiva com os

12 Embora o Ministro Alexandre Padilha tenha sido eleito presidente do Conselho Nacional de

Saúde (o que foi considerado um retrocesso, visto que a sua tendência é de não se confrontar com o governo, do qual ele faz parte).

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34 conselhos estaduais e municipais, fundamental para o enfrentamento ante às investidas neoliberais.

Apesar deste importante posicionamento do Conselho Nacional de Saúde, os conselhos não podem ser supervalorizados, nem subvalorizados. São fundamentais para as políticas sociais, precisando, entretanto, que sejam consideradas as várias arenas de conflitos em que se travam a disputa pelo poder no país (MENEZES, 2012).

O outro espaço formal de controle social, conforme citado anteriormente é o das conferências, coordenadas pelos conselhos. Em 2011, a 14ª Conferência Nacional de Saúde teve como tema “Todos usam o SUS! SUS na Seguridade Social – Política Pública, Patrimônio do Povo Brasileiro”, onde os delegados rejeitaram, em maioria arrebatadora, todas as formas de privatização da saúde.

A Conferência afirmou o desejo da maioria da população brasileira da garantia do acesso universal, equânime e integral aos serviços de saúde, com gestão direta do Estado. Defendeu o aumento do financiamento para o SUS solicitando, em caráter de urgência, a regulamentação da Emenda Constitucional nº 29, assim como a destinação de 10% da Receita Corrente Bruta para a saúde e, principalmente, que esses recursos sejam aplicados na ampliação da rede pública em todos os níveis de atenção à saúde, com instalações, equipamentos, medicamentos e assistência farmacêutica essencialmente pública.

A referida Conferência defendeu ainda a realização de concursos públicos, a definição de pisos salariais e de Planos de Cargos e Salários para todos os trabalhadores, assim como melhores condições de trabalho. Fez a defesa ainda da efetivação de serviços de saúde mental na lógica da Reforma Psiquiátrica Antimanicomial, rejeitando a internação compulsória e as comunidades terapêuticas, assim como outras propostas em prol do fortalecimento do SUS, conforme defendido pelo Movimento de Reforma Sanitária, dos anos de 1980.

Um fato ocorrido ao final da Conferência foi a apresentação de uma “carta síntese” pelo Governo Federal ao final da plenária, que não traduziu o teor político das conferências e lutas travadas no cotidiano pelos militantes, usuários e trabalhadores da saúde, com a finalidade de demonstrar um falso consenso, excluindo importantes pontos em que o governo foi derrotado, como a defesa do

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35 SUS 100% público e estatal e a rejeição de todas as formas privadas de gestão. Esta atitude revela, mais uma vez, o desrespeito do governo ao controle social. Ressalta-se que o produto da Conferência foi apresentado no seu relatório final, estando documentados todos os posicionamentos definidos (FRENTE NACIONAL CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DA SAÚDE, 2012).

Tal situação ocorrida demonstra mais uma vez a arena de conflitos e contradições em que se constituem os conselhos, existindo uma série de desafios a serem realizados, conforme aponta Correia (2012):

• Manutenção da Independência e autonomia dos movimentos perante a gestão;

• Fortalecimento dos movimentos sociais;

• Construção da autonomia dos conselhos e conferências ante ao poder executivo;

• Criação de uma articulação entre os vários conselhos (gestores, estaduais e municipais, com agenda única para o enfrentamento dos determinantes das expressões da questão social);

• Articulação das deliberações dos conselhos, suas denúncias e lutas em torno dos direitos sociais com as diversas instâncias, na perspectiva de efetivação do controle social;

• Articulação dos conselhos com a sociedade para o fortalecimento e representatividade de seus membros e para evitar a cooptação destes pela burocracia estatal;

• Criação de espaços alternativos de controle social, envolvendo os setores da sociedade representantes dos interesses dos grupos sociais subalternos;

• Inserção de uma agenda de luta e proposições relacionadas às políticas públicas, estatais, universais e de qualidade, articuladas à transformações na sociedade.

Embora sejam estratégicos na defesa das transformações políticas e sociais, podendo provocar modificações importantes na relação entre Estado e sociedade, os conselhos não se apresentam como os únicos espaços de controle social. É necessária a articulação das forças políticas que representam

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36 os interesses das classes subalternas tendo em vista um projeto societário que se oponha aos interesses do capital.

De acordo com Menezes, pode-se afirmar que

Nessa direção, reafirma-se que os conselhos junto com os movimentos sociais e os partidos políticos podem contribuir na formação de uma vontade coletiva hegemônica que relaciona-se diretamente à reforma intelectual e moral para a construção de um novo projeto societário, sem dominação econômica, social e política (2012,p.270).

Tem-se observado que, assim como alguns conselhos de saúde, outros movimentos de resistência pela defesa de uma saúde pública universal e de qualidade vêm se organizando coletivamente, tais como movimentos estudantis, entidades de representação de profissionais de saúde, sindicatos, partidos políticos, entre outros, que vem realizando conferências, seminários, fóruns, atos públicos, a partir de pautas de luta, obtendo resultados relevantes no cenário da saúde, coforme aponta Bravo e Menezes (2011).

O desafio posto na atual conjuntura que tem por objetivo superar as profundas desigualdade sociais existentes em nosso país e que foram aprofundadas no governo Lula da Silva é um amplo movimento de massas que retome as propostas de superação da crise herdada e avance em propostas concretas (BRAVO E MENEZES: 2012,p.278).

Ressalta-se que o aprofundamento das desigualdades sociais também se perpetua no governo Dilma Roussef.

Um desses movimentos de grande repercussão surgido em 2010 e que vem até os dias atuais mantendo a resistência, não se deixando abater diante das investidas neoliberais é a Frente Nacional contra a Privatização da Saúde, tendo por objetivo defender o SUS público, estatal, sob a administração direta do Estado, gratuito e para todos; lutar contra a privatização da saúde e defender a reforma sanitária formulada nos anos de 1980 (FRENTE NACIONAL CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DA SAÚDE, 2011). O referido movimento tem realizado

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37 diversas ações, mobilizando a criação de Fóruns de Saúde em vários estados e municípios. Esse movimento se opõe às Organizações Sociais (OSs) e é contrário à procedência da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 1923/98, que se opõe à Lei nº 9637/98 que cria as Organizações Sociais.

Considera-se, portanto, na atual conjuntura, fundamental a articulação nacional através da frente entre os diversos fóruns de saúde com vistas à construção de um espaço que fomente a resistência às medidas regressivas quanto aos direitos sociais e contribua para a construção de uma mobilização em torno da viabilização do Projeto de Reforma Sanitária construído nos anos oitenta no Brasil tendo com horizonte a emancipação humana (BRAVO E MENEZES: 2011, p. 26).

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CAPÍTULO 2 - O REBATIMENTO DA NOVA CONFIGURAÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA NA PRÁTICA DO SERVIÇO SOCIAL: A REATUALIZAÇÃO DO VELHO E A INCORPORAÇÃO DO NOVO.

2.1 - A construção do projeto ético-político do serviço social.

As novas configurações que as políticas sociais, incluindo a saúde pública vivencia na contemporaneidade incidem diretamente na prática profissional do assistente social. Elas estão relacionadas às novas formas de investidas do capital perante a sua crise estrutural de, não apenas criar possibilidade de ampliar seus lucros através do mercado privado, como também de expandir os seus negócios para as áreas tradicionalmente operacionalizadas através de políticas públicas, tal como vem ocorrendo.

A repercussão desse novo contexto no Serviço Social se expressa tanto através das difíceis condições de trabalho que o assistente social, assim como toda a classe trabalhadora, vivencia, como também na relação direta com o usuário que necessita dessas políticas públicas devastadas pela sua mercantilização.

Nesse contexto, o assistente social necessita, antes de tudo, de se apropriar dos fundamentos da sua profissão, através da apreensão do Projeto Ético-Político do Serviço Social, hegemônico na categoria, compreendendo todo o processo histórico e político da sua construção, assim como as suas principais bandeiras de luta hoje traçadas, a fim de buscar estratégias para a implementação do mesmo no seu cotidiano profissional.

De acordo com Netto (2006), a construção do Projeto ético-Político do Serviço Social inicia-se na transição das décadas de 1970 e 1980, período de relevância para o Serviço Social no Brasil pelo enfrentamento e denúncia do conservadorismo profissional. A crítica e recusa desse conservadorismo constituem as raízes do novo Projeto Ético-Político.

Segundo o autor, o início da década de 1980 foi marcado pelo ressurgimento de demandas democráticas e populares reprimidas que trouxeram à tona a

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39 exigência de profundas transformações políticas e sociais. A luta pela democracia na sociedade brasileira encontrou eco no corpo profissional, criando um quadro necessário para romper com o quase monopólio do conservadorismo do Serviço Social. Assim, a derrota da ditadura foi a primeira condição – condição política – para a construção de um novo projeto profissional.

Nem todo o corpo profissional se comportou igual, mas os segmentos democráticos se mobilizaram fortemente, alguns se vinculando ao movimento dos trabalhadores, conseguindo instaurar o pluralismo político na profissão (um marco destas mobilizações foi o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais - CBAS, conhecido como “Congresso da Virada”). Pela primeira vez, no interior do corpo profissional, havia projetos societários diferentes daqueles que correspondiam ao interesse das classes dominantes (idem).

A abertura de cursos de pós-graduação em Serviço Social, nas décadas de 1970 e 1980 (no Brasil nos anos seguintes), abriu caminho para a produção de conhecimentos na área de Serviço Social, formando uma massa crítica considerável. A acumulação teórica incorporou vertentes críticas (destacadamente inspiradas na tradição marxista) compatíveis com a ruptura do conservadorismo profissional, conforme assinala Netto (2006).

O autor mostra que nas décadas de 1980 e 1990, as modalidades prático-interventivas tradicionais foram sendo modificadas e foram surgindo novos campos de intervenção, legitimados tanto pela produção do conhecimento, quanto pelo reconhecimento profissional dos usuários. Essa ampliação dos campos de intervenção se deu também e, sobretudo, pela conquista de direitos cívicos e sociais ligados a diversas categorias sociais que acompanhou a abertura democrática na sociedade brasileira.

Um momento basilar para a formação do projeto ético-político do Serviço Social no Brasil foi o Código de Ética Profissional (1993), coroando o rompimento com o conservadorismo na explicitação do compromisso profissional com a classe trabalhadora. Ele possui a liberdade como valor central, daí o seu compromisso com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais. Vincula-se a um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social, sem exploração/ dominação de classe, etnia e gênero. Defende

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40 intransigentemente os direitos humanos e o pluralismo e repudia qualquer forma de preconceito. Posiciona-se a favor da equidade, da justiça social, da universalização dos bens e serviços. A ampliação e a consolidação da cidadania são entendidas como garantia dos direitos civis, políticos e sociais das classes trabalhadoras. Declara-se democrático, sendo a favor da socialização da participação política e da socialização da riqueza socialmente produzida. Defende o compromisso com a competência profissional, a partir do aperfeiçoamento profissional. Preocupa-se com a qualidade dos serviços oferecidos aos usuários e com a necessidade de articulação com os segmentos de outras categorias profissionais que compartilham de propostas similares e com os movimentos sociais que se solidarizam com a luta geral dos trabalhadores.

O projeto ético-político do Serviço Social se consolidou na década de 90, conquistando sua hegemonia, não podendo afirmar, entretanto, que ele esteja consumado ou que seja o único no corpo profissional. A hegemonia conquistada foi impulsionada por dois elementos: o crescente envolvimento do corpo profissional nos espaços de discussões e nos eventos profissionais e o fato das suas linhas fundamentais estarem sintonizadas com as linhas dos movimentos das classes trabalhadoras (NETTO, 2006).

Nessa mesma época, o neoliberalismo irrompia no país, freando o movimento democrático e instaurando a liquidação dos direitos sociais, a privatização do Estado, o sucateamento dos serviços públicos, através de uma política macro-econômica que penaliza a classe trabalhadora até os dias atuais (Idem).

Por possuir posicionamentos tão antagônicos ao neoliberalismo, o projeto ético-político do Serviço Social vem sofrendo sérias ameaças. Do ponto de vista neoliberal, o mesmo é visto como um atraso. A preservação e o aprofundamento deste projeto depende não só do corpo profissional, mas do fortalecimento do movimento democrático e popular, tão enfraquecido nos últimos anos.

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