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Análise e caracterização do espaço público urbano: o caso da área metropolitana de Barcelona

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Academic year: 2021

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ANÁLISE E CARACTERIZAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO URBANO:

O CASO DA ÁREA METROPOLITANA DE BARCELONA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM ARQUITETURA PAISAGISTA

Maria Luísa Melo Dias Brandão

Orientador: Professor Auxiliar Convidado Luís Carlos Loures Coorientador: Arquiteto Jordi Bellmunt

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ANÁLISE E CARACTERIZAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO URBANO:

O CASO DA ÁREA METROPOLITANA DE BARCELONA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM ARQUITETURA PAISAGISTA

Autor: Maria Luísa Melo Dias Brandão

Orientador: Professor Auxiliar Convidado Luís Carlos Loures Coorientador: Arquiteto Jordi Bellmunt

Júri:

Profª. Doutora Paula Maria Seixas de Oliveira Arnaldo Prof. Doutor Domingos Manuel Mendes Lopes

Prof. Doutor Luís Carlos Loures

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III As doutrinas apresentadas,

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V

Índice geral

Agradecimentos ... VII Resumo ... IX Abstract... XI Índice de figuras ... XIII Índice de quadros ... XVII

1. Introdução ... 1

1.1. Abordagem metodológica ... 4

2. Enquadramento teórico-conceptual ... 5

2.1. Evolução do Espaço Público Urbano ... 6

2.2. Tipologias de Espaço Público Urbano ... 20

2.2.1. Espaço verde público ... 24

2.2.2. Espaço público aberto ... 27

2.3. Importância do Espaço Público ... 32

2.4. Parâmetros da qualidade de projetos de Espaço Público ... 35

3. Caso de Estudo – Breve caracterização ... 39

3.1. Formação histórica da área metropolitana de Barcelona ... 40

3.2. Breve caracterização do espaço público urbano de Barcelona... 47

3.3. Análise de espaços de natureza semelhante ... 53

3.3.1. The City Dune – Copenhaga ... 54

3.3.2. Manchester Exchange – Manchester ... 55

3.3.3. Malov Axis – Copenhaga ... 57

3.3.4. Plaza Euskadi – Bilbao ... 58

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VI

4. Proposta de intervenção ... 63

4.1. Praça Calvó ... 64

4.1.1. Caracterização da situação existente ... 64

4.1.2. Síntese de objetivos ... 67

4.1.3. Objetivos e abordagem conceptual da proposta ... 68

4.1.4. Descrição e justificação da proposta ... 71

4.2. Pátio Anaïs Napoleón... 74

4.2.1. Caracterização da situação existente ... 74

4.2.2. Síntese de objetivos ... 76

4.2.3. Objetivos e abordagem conceptual da proposta ... 76

4.2.4. Descrição e justificação da proposta ... 77

5. Conclusão ... 81

Referências ... 85

(8)

VII

Um agradecimento institucional à Universidade de Trás- Os Montes e Alto Douro na qual ao longo deste percurso académico desenvolvi, enquanto aluna, o meu pensamento acerca da Arquitetura Paisagista.

Um agradecimento ao Professor Luís Carlos Loures, pela orientação científica e pelo constante estímulo que me permitiram expandir os horizontes da minha reflexão.

Um agradecimento aos Arquitetos Ágata Buscemi, Jordi Bellmunt e Ada Sánchez do

Bellmunt Arquitectes, Barcelona, Espanha, pela oportunidade que me proporcionaram de

integrar uma equipa profissional e multidisciplinar, e pelo conhecimento partilhado, fundamentais na concretização do presente trabalho.

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IX Resumo

A presente dissertação tem subjacente o estágio realizado no Atelier Bellmunt Arquitectes, e centra-se na análise e caracterização da temática do espaço público urbano. Considerando a sua importância na reconstrução da cidade contemporânea, continua a ser um dos principais desafios que se colocam à arquitetura paisagista e ao desenho urbano, no contexto da cidade atual.

Partindo do enquadramento teórico conceptual desta temática, evidencia-se o caso de Barcelona, onde nos últimos anos o espaço público foi impulsor da transformação da cidade, entendida a partir da redefinição das mobilidades e do reforço de funções centrais, sempre articuladas com políticas de requalificação e criação de espaços públicos.

Neste quadro urbano e físico apresentam-se as propostas de intervenção para a Praça Calvó e para o Pátio Anaïs Napoléon. Sitos na área metropolitana de Barcelona, estes são espaços de grande relevância quer ao nível do bairro, quer ao nível da qualidade de vida.

A complexidade do entendimento e desenvolvimento da temática do espaço público são visíveis, quer pela contínua discussão em torno do seu conteúdo e significado, quer pelas implicações que alargam o seu sentido e ainda pelas situações empíricas onde se oferece a sua compreensão.

A intervenção nestes espaços depende assim de uma construção complexa e variável no tempo. Exige de igual modo um contínuo trabalho de análise e atuação perante fatores de mudança e de novas dinâmicas sociais, culturais, políticas e económicas que caracterizam a ordem atual voltada aos encontros de pessoas e de culturas. Neste sentido a vontade de transformar cada cidade em novos lugares da cultura mundial, constitui um dos princípios norteadores das propostas apresentadas no presente trabalho.

Palavras-chave: Espaço público urbano; Tipologias; Cidade; Urbanismo; Barcelona; Projeto

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XI Abstract

The present work, developed during the internship at Atelier Bellmunt Arquitectes, focus on the analysis and characterization of the urban public space theme. Considering it’s importance on the reconstruction of the contemporary city, it continues to be one of the main challenges in landscape architecture and urban design of the present-day city.

From a conceptual theoretical point of view, we point out the case of Barcelona, where in the last years the public space boosted the transformation of the city, known from the redefining mobility and strengthening of central functions, always connected with redevelopment policies and public spaces creations.

Considering this urban and physical framework, I present proposals of intervention for the

Calvó Square and for the Anaïs Napoleón Pátio. Located in the metropolitan area of

Barcelona, these are important and significant spaces, either in neighbourhood or quality of life terms.

The complexity of understanding and developing the public space theme is visible, either by continuing discussions around its contents and significance or the implications that broaden its meaning and even by empirical situations providing insights on the subject.

In these spaces, it’s intervention depends on the complex and variable construction in time. Equally demands an on going job analysis and performance, facing changing factors and new social, cultural, political and economic dynamics, which characterize the current order of people and culture meeting. The determination to transform every city in a new place of world culture, it’s one of the main principles of the proposals presented in this work.

Keywords: Urban Public space; Typologies; City; Urbanism; Barcelona; Landscape

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XIII

Índice de figuras

Figura 1 | Esquema da abordagem metodológica. Figura 2 | Plano geral de Mileto, antiga pólis grega. Figura 3 | Plano de Timgad, Argélia.

Figura 4 | Vista da cidade de Timgad.

Figura 5 | Renascimento - Plano de Palmanova, Itália. Figura 6 | Praça de Campidoglio atualmente, Roma.

Figura 7 | Plano da área municipal, incorporando a cidade no centro. Figura 8 | Secção do centro da cidade jardim.

Figura 9 | Plano da Unidade de Vizinhança - Diagrama do Plano Regional de Nova Iorque, 1929.

Figura 10 | Tipologias de espaço público segundo Mora, 2008. Figura 11 | Central Park, Nova Iorque, EUA.

Figura 12 | Jardim Mirabell, Salzburgo, Áustria. Figura 13 | Jubilee Gardens, Londres, Reino Unido. Figura 14 | Metro em Freiburg, Alemanha.

Figura 15 | Avenida do Passeio de St. Joan, Barcelona, Espanha. Figura 16 | New Road, Brighton, Reino Unido.

Figura 17 | HM Treasury Courtyards, Londres, Reino Unido. Figura 18 | Place de la République, Paris, França.

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XIV

Figura 20 | Parque Martin Luther King situado em Paris, projetado pelo Atelier Jacqueline Osty.

Figura 21 | Parque Governors Island situado em Nova Iorque, projetado por West8.

Figura 22 | Plano executado pelos Engenheiros do Exército que delineou as fortificações em redor de Barcelona, 1851.

Figura 23 | Plano de Barcelona com indicação dos bairros, ruas, praças, portas de entrada da cidade, capelas, conventos e edifícios públicos, 1855.

Figura 24 | Plano de Ensanche de Cerdá que veio a ser aprovado a 7 de Junho de 1859. Figura 25 | Evolução dos quarteirões de Cerdá, desde a proposta ao construído.

Figura 26 | Vista de Barcelona a partir de Montjuïc. 1920-1929. Figura 27 | Plano Geral Metropolitano de 1976.

Figura 28 | Exposição Internacional de 1929, vista desde a Praça de Espanha. Figura 29 | Plano geral da Exposição de 1929.

Figura 30 | Jardins gregos situados em Montjuïc, construídos para a Exposição.

Figura 31 | Localização dos espaços públicos aprovados desde setembro de 2011 no âmbito do projeto 22@Bcn.

Figura 32 | Rambla de Barcelona.

Figura 33 |Jardins de la torre de les Aigues, pátio interior recuperado. Figura 34 | Jardins de la torre de les Aigues.

Figura 35 | City Dune.

Figura 36 | Vista da Manchester Exchange Square. Figura 37 | Perspetiva de Malov Axis.

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XV

Figura 39 | Simulação de Place Florence. Figura 40 | Perspetiva da Leyteire Square. Figura 41 | Localização Praça Calvó.

Figura 42 | Vista panorâmica da Praça Calvó.

Figura 43 | Pinus pinea (pinheiro-manso) com sistema radicular à superfície.

Figura 44 | Elementos depreciadores presentes na praça. Sinalização viária suportada por iluminaria.

Figura 45 | Plano geral Praça Calvó.

Figura 46 | Seção do Plano geral – diferenças de nível e relação entre as plataformas. Figura 47 | Simulação do funcionamento da praça.

Figura 48 | Relação entre plataformas e sistema de rampas. Figura 49 | Vista da Rua Dominics (nordeste).

Figura 50 | Vista parcial da praça.

Figura 51 | Localização do Pátio Anaïs Napoleón.

Figura 52 | Limites físicos entre espaço de intervenção e edifícios envolventes. Figura 53 | Vegetação preexistente no espaço de intervenção.

Figura 54 | Plano geral Pátio Anaïs Napoleón. Figura 55 | Simulação da zona de acesso ao pátio.

Figura 56 | Simulação da zona destinada a jogos alternativos e festas. Figura 57 | Simulação dos espaços de jogos.

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XVII

Índice de quadros

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1

Capítulo

1

Introdução

A presente dissertação enfoca a análise e caracterização do espaço público urbano tendo como caso de estudo locais situados na área metropolitana de Barcelona, no distrito de Eixample e no distrito de Sarrià - Sant Gervasi. O trabalho apresenta um carácter académico e enquadra-se na etapa de conclusão do Mestrado de Arquitetura Paisagista, ministrado na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro após a realização de um estágio curricular. O estágio, com a duração de quatro meses, de fevereiro a maio de 2014, foi realizado na empresa Bellmunt

Arquitectes que se localiza na cidade de Barcelona. Durante este período de tempo integrei

equipa na realização dos seguintes projetos: Praça Calvó, Jardim de la casa museu Gaudí, Pátio Anaïs Napoleón e Parque de la Timpa localizados em Barcelona, e Parque da pré-história Sidi-Abdehrraman e Hotel Four Seasons situados em Casablanca, sendo que neste trabalho serão abordados os projetos da Praça Calvó e do Pátio Anaïs Napoleón, por se localizarem em Barcelona e serem tipologias frequentes e características da cidade.

A motivação para a escolha do tema resulta do contacto com a realidade das funções exercidas por um Arquiteto Paisagista, que incidiu em projetos no âmbito do espaço público, e, consequentemente, na perceção da potencialidade e benefícios que os espaços públicos acarretam para a sociedade. Torna-se relevante na medida em que a investigação assume um papel essencial no avanço do pensamento no plano da arquitetura paisagista e na sua relação com outras disciplinas.

A noção do conceito de “espaço público” surgiu nos anos 70 em França, e a partir daí, seguiu uma evolução tornando-se numa questão central do urbanismo (Ascher, 1998). Os espaços

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públicos que apresentem uma base de projeto consistente e/ou que sejam bem geridos podem trazer diversos contributos a nível económico, social e ambiental para uma cidade (Project for

public spaces, s.d.). São diversos os estudos realizados ao longo das diferentes épocas por

diferentes investigadores de diferentes âmbitos e contextos que comprovam os benefícios desta tipologia de espaço na saúde e bem-estar da população (“Health, Well-Being and Open Space” de Nina Morris de 2003, “Morbidity is related to a green living environment” de J. Maas e RA Verheij de 2009 e “Green space as a buffer between stressful life events and health” de AE Van den Berg, J. Maas RA Verheij, et al. de 2010). Para além de serem um indicador de qualidade urbana, refletem um papel essencial na configuração de uma cidade, apresentando coerência, integração e dependência recíproca entre os vários elementos morfológicos que compõem um espaço. Funcionam também como um instrumento privilegiado de planeamento de políticas, para qualificar as periferias, - designação comum para os espaços criados durante a “explosão” da cidade na Europa urbana pós-industrialização (Domingues, 2007), - para manter e renovar os velhos centros e produzir novos. O espaço público apresenta uma dimensão sociocultural de relação e identificação, de contacto entre as pessoas, de animação urbana, e por vezes de expressão (Borja e Muxí, 2000).

Os espaços públicos são importantes para pessoas das mais variadas culturas, fundamento que reafirma não só a sua importância universal, como reclama que os mesmos têm de ser acessíveis a todos, independentemente da idade, capacidades, origens ou rendimento. Neste sentido, defende-se que estes locais devem oferecer a possibilidade de escolha, em termos de mobilidade e acesso a diferentes atividades, edifícios e recursos, e não devem assumir-se como espaços restritos às necessidades de qualquer setor da sociedade.

Por outro lado, refira-se que o termo espaço público designa espaços e intervenções que não são inteiramente novos, têm história ao nível do planeamento urbanístico, atenta a transformação das práticas urbanas e dos usos e estatutos dos diversos espaços metropolitanos assim como o reconhecimento da sua importância na reconstrução da cidade contemporânea. Assim sendo, numa abordagem geral, o objetivo da presente dissertação é clarificar a temática do espaço público, bem como os conceitos adjacentes e elaborar uma breve caracterização do espaço de Barcelona, de forma a sustentar as propostas finais de projeto de Arquitetura Paisagista para a Praça Calvó situada no distrito de Sarrià – Sant Gervasi e para o Pátio Anaïs

Napoleón no distrito de Eixample, sendo as propostas de projeto o elemento promotor do

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Paisagista centra-se na apropriação, enquanto a relação do Homem com o espaço valoriza paralelamente o seu aspeto estético e funcional.

Nesta linha teórica, a Praça Calvó, espaço urbano de referência no distrito em que se localiza, requer uma intervenção com o objetivo de qualificar o espaço e torná-lo tanto num espaço de pertinência para os residentes, como num espaço de referência, que embora atualmente se encontre desvalorizado e desintegrado, apresenta a potencialidade de abarcar diferentes tipos de atividade, como seja o lazer, a socialização, os jogos infantis, etc. Pretende-se integrar assim o espaço com a malha urbana envolvente, tornando-o num ponto de referência no bairro. O Pátio Anaïs Napoleón, inserido na famosa quadrícula do Ensanche, situa-se adjacente a uma das avenidas principais de Barcelona, Gran Via de Les Corts Catalanes. Incluído num plano de recuperação dos interiores das ilhas do distrito de Eixample, requer uma requalificação com o fim de transformar um espaço sem qualquer utilidade num lugar que responda às necessidades de espaços públicos por parte da população.

Considerando estes objetivos optou-se por dividir o trabalho em três partes gerais: i) a definição dos conceitos teóricos, ii) a caracterização da área de estudo, e por fim, iii) as propostas de Arquitetura Paisagista para a Praça Calvó e para o Pátio Anaïs Napoleón.

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1.1. Abordagem metodológica

Numa primeira fase, a metodologia adotada para a realização da dissertação (ver figura 1) centrou-se numa pesquisa de informação bibliográfica em documentos escritos (artigos, livros, teses, etc.) relacionados com o tema, tendo como objetivo a contextualização, e o conhecimento, tanto do processo de evolução do espaço público, como dos conceitos que lhe estão associados, a caracterização do espaço público de Barcelona e a sua contextualização histórica, culminando na análise de diferentes casos de estudo de natureza semelhante.

Numa segunda fase, foi estudada a situação em que a área de intervenção se insere, bem como as suas características físicas e sociais, e foram ainda definidos os problemas que o espaço apresenta com a consequente definição de objetivos.

As diferentes fases que compõem esta abordagem metodológica, interligam-se e complementam-se, com fim a obter um suporte de informação para a realização das propostas finais de projeto de Arquitetura Paisagista da Praça Calvó e do Pátio Anaïs Napoleón.

Figura 1 | Esquema da abordagem metodológica.

Revisão e pesquisa bibliográfica

Enquadramento teórico-conceptual

Breve caracterização da paisagem urbana de Barcelona

Avaliação de casos de natureza semelhante

Caso específico

Situação atual Avaliação das características físicas e sociais do espaço Definição de problemas

Proposta de intervenção

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5

Capítulo

2

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6

2.1. Evolução do Espaço Público Urbano

“O que descobrimos da história é um conjunto de valores capazes de nos ajudar a dar um sentido, uma direção ao nosso caminhar para a construção da história futura, partindo do presente [...]. A possibilidade de nos servirmos do ensinamento da história consiste portanto na tomada de consciência da tradição em que operamos e, através desta, daquilo que cremos serem as direções das possíveis transformações do projeto arquitetónico” (Gregotti, 1975

apud Magalhães, 2001, p.60).

Tanto a definição como a perceção do conceito de espaço público têm sofrido bastantes alterações ao longo do tempo. A existência de espaços vocacionados para o encontro e socialização entre a comunidade não é atual, é um conceito que vem desde há muitos séculos atrás evoluindo e moldando-se às necessidades do desenvolvimento humano.

Remetendo às cidades gregas, também definidas como helénicas, onde os espaços públicos se relacionam com a religião e com o poder democrático, surgem no século VIII, as polis Esparta

e Atenas. A organização das urbes gregas é essencialmente relacionada com a escolha do local em que se encontram. A acrópole tornou-se desde a origem da urbe grega, um elemento vincado na estrutura da cidade, que se fazia erguer “por cima” desta e da ágora (ver figura 2). A ágora, “centro da vida política e comercial da cidade”, e a acrópole, que apresentava “funções defensivas e sagradas, mantendo as tradições históricas e religiosas”, atraiam a exuberância da arquitetura dos templos e dos santuários. Nesta composição ressaltava a abertura da visão e a fusão com a natureza (Pelletier e Delfante 2000).

A fisionomia destas cidades destaca-se pelo seu interesse, a ágora situava-se num local à margem da circulação, e as praças encontravam-se relacionadas entre si (Goitia, 2010).

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Figura 2 | Plano geral de Mileto, antiga pólis grega. Adaptado de: Pelletier e Delfante, 2000.

Em Pérgamo, durante a época helenística, iniciou-se a imposição de princípios por parte de filósofos, que defendiam que a higiene, a defesa e a circulação eram essenciais na organização da cidade, e começaram-se a guiar por alguns princípios de ordenamento de território (Pelletier e Delfante, 2000).

O local de implantação das cidades parece ter sido tão impulsivo nos gregos quanto nos romanos, todavia, os romanos abordaram uma organização mais prática do que cultural, dando ênfase à aptidão de acesso e abastecimento, tomaram em conta a direção dos ventos, a salubridade do local e a estratégia militar (Pelletier e Delfante, 2000).

A origem de grande parte das cidades romanas estava no estabelecimento em antigos acampamentos militares ou no desenvolvimento de aldeias e povoações pré-existentes (Goitia, 2010).

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Caracterizada pela adoção de bases da cidade etrusca, a cidade romana, apresenta dois eixos principais: o decumanos e o cardo (ver figuras 3 e 4). O primeiro direcionado de leste a oeste, e o segundo, perpendicular ao primeiro, orientado de norte a sul. No ponto de interseção destes dois eixos dentro da cidade, situava-se o fórum (Pelletier e Delfante, 2000).

A Europa foi significativamente marcada pelo urbanismo romano, devido às influências culturais introduzidas. Neste período a utilização de elementos morfológicos como a rua, lugar de comércio e de circulação e como a praça, lugar de encontro cívico-social, lugar nobre e de prestígio já era notável (Lamas, 2004).

Graças à morosa queda do império romano, as suas cidades foram diminuindo em grande quantidade, acabando algumas por desaparecer. O aparecimento das cidades medievais relaciona-se com a dispersão da população ocorrente após estes desaparecimentos das cidades romanas, salientando a movimentação da população para a zona rural. Neste contexto, o desenvolvimento e economia da época focam-se nas atividades agrárias o que ao longo do tempo contribuiu para a humanização da paisagem, fruto das atividades de cultivo adotadas pela população (Goitia, 2010).

Na Idade Média deparamo-nos com esquemas planimétricos distintos, pois por falta de uma construção planeada, foram surgindo segundo um crescimento orgânico e natural, todavia, ao

Figura 3 | Plano de Timgad, Argélia. Retirado de: http://www.timetrips.co.uk.

Figura 4 | Vista da cidade de Timgad. Retirado de: http://www.timetrips.co.uk.

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longo do tempo tendem a assemelhar-se. Dá-se uma sobreposição do traçado radiocêntrico ao traçado ortogonal preexistente devido ao alargamento do número de funções quer militares quer religiosas (Lamas, 2004). A cidade medieval, por estratégia de defesa, instalava-se geralmente em locais de difícil acesso, e no centro da cidade situava-se um templo ou uma catedral (Goitia, 2010). As cidades por motivos de segurança mantinham-se dentro do recinto amuralhado, resultando na formação de cidades densas por falta de espaço (Lacaze, 1998). Como elemento base, a rua de largura reduzida, inicialmente apresentando percursos sinuosos, tende ao longo do tempo a adotar traçado retilíneo (Pelletier e Delfante, 2000). Concebida para responder às necessidades de acesso e circulação de pessoas e animais, vai ocupar quase todo o interior do perímetro urbano. A partir dos séculos XI e XII, as ruas começam a ser pavimentadas. Tendo função delimitadora de quarteirões, também exercem funções de negócio onde se compra e vende, embora as trocas e serviços existentes na cidade se devam regra geral à presença de mercado. Correspondendo este ao principal fator que contribuiu para a cidade como lugar de trocas e serviços, o mercado localizava-se desde o adro da igreja ao centro da cidade (Lamas, 2004). Enquanto a rua apresentava funções primordiais relacionadas com a circulação, a praça, geralmente de traçado irregular, tornava-se num elemento marcante nas cidades, com funções e exigências às quais eram correspondidas, como festas, torneios, reuniões, mercados, etc. (Pelletier e Delfante, 2000). Na Idade Média, as praças dividem-se em duas tipologias distintas: a praça do mercado e a praça da igreja (adro), ou parvis medieval, localizadas e destinadas a funções diferentes, tais como o comércio e a reunião social (Lamas, 2004).

“Num mundo pouco seguro, as cidades medievais refugiavam-se atrás de muralhas e organizavam-se em corporações à volta da praça do mercado, das atalaias, e dos campanários, expressando espacialmente, numa muito grande imbricação, as solidariedades e dependências que caraterizavam as populações citadinas no seio das sociedades feudais” (Ascher, 2010, p. 22).

A Idade Média dá lugar a uma cidade de traçado “medieval”, onde surge o novo poder do Estado e se reafirma monumentalmente ao se oferecer através da perspetiva ao olhar do indivíduo (Ascher, 2010). O recorte medieval foi dando lugar a outros modelos espaciais, cuja ordem, geometria e simetria os distanciava teoricamente da malha irregular. É o tempo do Renascimento.

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Com efeito, a época do Renascimento surgiu em Florença, no princípio do século XV

permanecendo até finais do século XVIII. O seu espaço urbano, inserido numa forma circular (ver figura 5), era numa primeira fase desenhado por pintores. Na tela a organização do espaço era feita por um eixo ladeado por edifícios. A partir do século XV em diante, a ideia principal é a ordem e a geometria. A rua, de elevada importância nesta época torna-se, pela primeira vez, num eixo de perspetiva, transformando-se num percurso visual e de aparato, não perdendo a função que transportava da época anterior, de circulação e acesso (Lamas, 2004). As praças funcionavam como estratégia de monumentalizar as cidades mais nobres, como por exemplo a Praça de São Marcos em Veneza ou a Praça de Campidoglio em Roma (ver figura 6), embora as praças do urbanismo espanhol requeiram especial consideração. No caso das praças catalãs, caracterizam-se por serem um espaço fechado, normalmente com pórticos formados por arcos de pedra (Goitia, 2010).

O período renascentista foi marcado por uma brusca mudança na transição das cidades de crescimento espontâneo para as planificadas, passando a serem entendidas como um todo. As cidades adquiriram um novo valor estético e visual, apoiando-se em critérios para um bom desenho urbano e uma boa arquitetura. Esta alteração ocorreu após um grupo de urbanistas ter sido encarregue de construir cidades e desenvolver teorias com o propósito de encontrar soluções viáveis (Gehl, 2006).

Figura 6 | Praça de Campidoglio atualmente, Roma. Retirado de: http://commons.wikimedia.org. Figura 5 | Renascimento - Plano de

Palmanova, Itália. Retirado de: http:// www.newtowninstitute.org.

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Na cidade renascentista a importância do movimento denuncia-se, alarga as ruas, surgem avenidas, praças e jardins, transforma as muralhas e começa a distinguir os espaços públicos dos privados (Ascher, 2010). Embora as teorias da época do renascimento se tivessem mantido, no período barroco o espaço urbano atingiu uma grandeza cenográfica pictural (Pelletier e Delfante, 2000).

No período clássico (do renascimento ao barroco), tal como apresentado por Morris (2003), distinguem-se três recintos diferentes: “os espaços destinados ao tráfego e formando parte da rede principal de vias urbanas, usada tanto por peões como por veículos; os espaços residenciais, pensados só para acesso pelo tráfego local aos edifícios, e com propósitos recreativos; e, terceiro, os espaços pedonais, no qual é excluído o tráfego rodado”. Com esta classificação emerge a diferença entre o conceito de praça e largo na estrutura urbana, que é abordada por Lamas (2004), definindo o conceito “praça” como um lugar público onde se dá a concentração dos principais edifícios ou monumentos (religiosos, igrejas, palácios) apresentando valor funcional político-social, simbólico e artístico, descartando a ideia de ser apenas um vazio na cidade, enquanto o conceito de “largo” define espaço resultante de alargamentos da estrutura urbana, isto é, define-os como espaços acidentais, que foram sendo apropriados e usados ao longo do tempo. Segundo o mesmo autor no período clássico barroco, com a evolução da sociedade e a procura pelo requinte, dá-se o aparecimento dos espaços verdes criando novos tipos de espaço: “o recinto arborizado, o parque, o jardim, o passeio e a alameda, como espaços de recreio e práticas sociais” (Lamas, 2004, p.194).

No período barroco a rua torna-se num cenário preparado para procissões, cortejos e paradas, que se converte no elemento que configura o desenho da cidade, utilizando árvores ao longo do traçado por questões estéticas, funcionais e climáticas. No período do Renascimento ao Barroco, a relação entre o traçado e as fachadas dos edifícios atinge o auge (Lamas, 2004). A partir de metade do século XIX, com o surgimento da Revolução Industrial começa-se a constatar que a industrialização é responsável por aglomerados populacionais em bairros carentes de higiene, então surgem a partir deste momento, estruturas de cidades que se adaptam às novas necessidades (Lacaze, 1998). A troca de informações, de pessoas e bens ganha um papel de relevância na cidade, consequentemente, inicia-se uma fase de adaptação a estas necessidades criando novas malhas de vias de comunicação favorecendo as trocas mercantis e a deslocação aos grandes armazéns, às gares e a redes de água, de energia, de eletricidade, de esgotos, etc. Com um forte avanço na ciência, resultado das exigências que o

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desenvolvimento requeria, surgiram formas de melhorar o desempenho das cidades, momento em que surgiu a eletricidade tendo desempenhado um papel crucial no transporte, deslocação e armazenamento (Ascher, 2010).

Na cidade moderna, já se faziam sentir as alterações na estrutura da cidade quer na forma, quer na organização e ideias da urbanística. Nos séculos XVII, XVIII e XIX quando historiadores referiam a vida familiar, a intimidade e alojamento, nunca lhes colocavam subjacente a noção de espaço público tal como hoje a conhecemos, mas falavam sim na rua, na praça, nas igrejas e mercados, nas feiras, festas e manifestações. De facto, nomes marcantes na história do urbanismo como Haussmann e Unwin, referiam as ruas, os arruamentos e os passeios, e referiam-se só aos espaços livres. Contudo, só posteriormente em 1977 é que surge na verdadeira expressão o conceito de espaço público (Ascher, 1998).

No início do século XX, surge o planeamento da cidade, que resultou de uma junção de ideias e procedimentos com o fim de aumentar a qualidade de vida urbana. Este conceito emerge com o propósito de resolver os problemas urbanos existentes daquela época, de uma perspetiva convencional surgiu para combater as dificuldades e desigualdades na qualidade de vida que ocorreram após a industrialização (Relph, 2002).

Estas soluções focaram-se na criação de cidades jardim e reconstrução profunda da cidade com o objetivo de a tornar mais bela e atrativa. Seguindo uma evolução, a cidade moderna deparou-se e acolheu diferentes etapas e teorias sendo as mais notáveis a cidade-jardim de Ebenezer Howard, a unidade de vizinhança de Clarence Perry, a Carta de Atenas, e as propostas de Le corbusier (Lamas, 2004). Todas estas experiências no domínio da utopia, com vista, mais uma vez, ao encontro da cidade ideal.

A cidade jardim surgiu no final do século XIX, após Howard constatar que os Londrinos daquela época viviam em condições de vida precárias. Em 1898, foi proposto um plano de Londres com o objetivo de repovoar a zona rural adjacente. Howard visava a criação de cidades autossuficientes e agradáveis. A cidade era rodeada por uma cintura verde, incorporava indústria em locais predeterminados para esse fim, nas áreas residenciais situavam-se as escolas, as moradias e as áreas verdes enquanto no centro acolhiam-se as atividades relacionadas com o comércio, a cultura e o desporto. Howard concretizou o seu objetivo e foram construídas duas cidade-jardim, situadas em Letchworth e Welwyn (Jacobs, 2009).

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O modelo era uma combinação permanente entre cidade-campo, perfazendo um total de 2,400 hectares para 32.000 habitantes. Desse total, 2.000 hectares seriam destinados a área rural que incorporava 2.000 habitantes, os restantes 400 hectares seriam destinados para a zona urbana com 30.000 habitantes, sendo essa zona dividida em 6 bairros com 5.000 pessoas (Howard, 1902) (ver figuras 7 e 8).

Figura 7 | Plano da área municipal, incorporando a cidade no centro. Retirado de: Howard, 1902.

Para Howard, quando uma cidade atingisse a sua capacidade, seriam construídas novas cidades em torno de uma cidade central, constituindo um núcleo cultural, interligando as cidades através de rodovias e ferrovias. A zona agrícola em torno de cada cidade funcionaria como uma barreira ao crescimento excessivo do centro populacional (Howard, 1902).

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Figura 8 | Secção do centro da cidade jardim. Retirado de: Howard, 1902.

Pelletier e Delfante (2000, p. 248) destacam o contributo essencial de Ebenezer Howard que “consistiu em traçar as grandes linhas de uma comunidade equilibrada, e sugerir as medidas que deviam ser tomadas numa sociedade desequilibrada e desorganizada para que tais comunidades pudessem aparecer”.

Entre 1910 e 1945, desenvolveram-se medidas de planeamento que se tornaram diretrizes no momento após a Segunda Guerra Mundial como a unidades de vizinhança de Clarence Perry, definidas por Carpenter e Glass (1992) como “uma área na qual os residentes se conhecem pessoalmente, e têm o hábito de se visitar, trocar objetos ou serviços, e realizar coisas em conjunto. É um grupo territorial no qual os membros se encontram em terreno conhecido, no seio de sua própria área, para desenvolver atividades sociais primárias, e contactos sociais espontâneos ou organizados” (Carpenter e Glass, apud Lamas, 1992, p. 318).

A questão que motivou o aparecimento deste modelo foi a preocupação, que perdurou durante algum tempo, em relação à ligação saudável entre a escola e a comunidade. Perry defendia que o percurso mais longo de uma criança até à escola não deveria ultrapassar os 400 metros,

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ou seja, o raio de 400 metros a partir de uma escola, constituía uma unidade de vizinhança com 5000 habitantes aproximadamente (ver figura 9) (Relph, 2002).

Figura 9 | Plano da unidade de vizinhança - Diagrama do Plano Regional de Nova Iorque, 1929. Retirado de: http://en.wikipedia.org.

Os equipamentos na unidade de vizinhança deveriam situar-se perto das habitações, conseguindo desta forma, estabelecer relações sociais entre os vizinhos. A vida comunitária e os acessos aos serviços não deveriam ser perturbados nem cortados pela circulação automóvel. As relações sociais, segundo Perry desenvolviam-se utilizando serviços comuns tais como escolas, terrenos de jogos, igreja, teatro, piscinas etc. As vias deveriam ser largas para ser possível o trânsito passar pela unidade sem a atravessar. Perry em 1929 foi o criador do conceito, embora posteriormente, Henry Wright efetivou a ideia no plano de Radburn, Nova Jersey em 1929 (Lamas, 2004).

Os anos trinta foram um período marcado pela unanimidade na crítica em relação aos problemas existentes na cidade. Em 1928 deu-se a fundação dos Congressos de Arquitetura

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Moderna, os CIAM, que foram responsáveis pela redação da Carta de Atenas de 1933, tendo sido publicada apenas em 1941 (Pelletier e Delfante, 2000).

O manifesto urbanístico assentava em quatro funções principais da cidade (CIAM, 1993) – habitação, lazer, trabalho e circulação. No urbanismo a área residencial ocupava o lugar principal, enquanto a circulação tinha como funções a organização da cidade. A carta tinha como objetivo a diferenciação da circulação automóvel da pedonal, privilegiando a circulação. Propunha que cada indivíduo tivesse acesso ao bem-estar e à beleza da cidade. Não obstante, o conteúdo presente nesta Carta potenciou a separação entre o edificado e o espaço exterior urbano, presenciando uma organização residencial desvalorizando a identidade do espaço exterior, desta forma o espaço exterior ganha uma nova dimensão, como espaço residual dos edifícios. (Magalhães, 2001).

Com a aplicação desta teoria, desenvolve-se o conceito de “cidade funcionalista” que inversamente à cidade tradicional funcionava com “funções bem arrumadas em lugares próprios” (Lamas, 2004, pág. 345). Cada edifício respondia apenas a uma função, diferenciando-se edifícios de habitação, comércio e escritórios, entre outros.

Após inúmeras teorias e contestações ao urbanismo moderno que se iniciam na década de sessenta surge o Novo Urbanismo, tomando uma posição mais eclética, não menosprezando, pelo contrário, usufruindo dos contributos dados pelo desenvolvimento da história até ao momento. Acredita-se na reconciliação entre a cidade e o Homem através da urbanística e do desenho urbano, criando espaços estimulantes e de grande qualidade, que possam acolher atividades humanas e desta forma impulsionar a relação entre o Homem e o espaço. Recua-se à cidade tradicional, recuperando as relações morfológicas existentes, acreditando no aumento da qualidade de vida da população, surge assim o “(…) despertar da ecologia urbana e das preocupações ambientais sistemáticas e generalizadas (…)” (Amado, 2009, p.15).

Segundo o mesmo autor, o planeamento urbano pode dividir-se em oito fases distintas de evolução:

Fase 1

Séc. XIX – Controlo do desenho da cidade e dos fatores de salubridade;  Fase 2

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Fase 3

Início séc. XX – Desenho de cidades ideais, modelos utópicos de cidade;  Fase 4

Anos 70 – Contenção da expansão urbana sobre o solo agrícola, florestal e paisagens;  Fase 5

Anos 80 – Integração de medidas de política ambiental;  Fase 6

Anos 90 – Recuperação ambiental das zonas degradadas;  Fase 7

Finais anos 90 – Desenho de planos com inclusão da componente ambiental;  Fase 8

Início séc. XXI – Desenho de planos com inclusão das preocupações ambientais,

sociais e económicas.

A última fase pode ser considerada como estando em estado embrionário, pois atualmente existe uma necessidade de controlar a expansão das áreas urbanas e a inclusão dos problemas sociais (exclusão e insegurança) que se encontram em aumento exponencial (Amado, 2009). Recentemente, o espaço público tem merecido um novo significado, político, ideológico, social e estrutural, e é entendido no seu sentido mais amplo enquanto espaço de visibilidade pública, defendendo-se, que o espaço público deve ser multifuncional e gerador da organização na cidade. O uso deste conceito nas disciplinas da arquitetura paisagista, arquitetura e do urbanismo revela a importância que este assume na requalificação e estruturação dos territórios urbanos.

Com o percurso do tempo as noções de público e de privado modificaram-se e as separações jurídicas e espaciais redefiniram-se (Ascher, 1998). A distinção jurídica entre o espaço público e privado, segundo Borja e Muxí (2000) foi formalizada pelo urbanismo do século

XIX, após este controlar os usos público e privado dos edifícios, beneficiando os espaços públicos com fim a garantir uma absorção diversificada de funções e usos coletivos. Este objetivo veio a intensificar-se com a necessidade de intervir na cidade industrial no fim do século XIX, surgindo novas políticas urbanas para “criar” espaços públicos.

No passado, estes espaços eram um elemento crucial para o desenvolvimento da vida social e política, enquanto na contemporaneidade tomam uma posição diferente recaindo em

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atividades associadas ao recreio, ao lazer e por vezes com um consumo subjacente. Não obstante, estes espaços oferecem versatilidade, denotando-se as transformações comportamentais ao longo dos tempos. Os espaços públicos (ruas, praças, parques, alamedas, …) tal como qualquer outro elemento cultural, refletem o processo de adaptação da cultura ao ambiente e resultaram de um processo evolutivo e sustentado, em detrimento de uma imposição conceptual.

Atualmente, a identidade de um espaço torna-se um elemento crucial para alcançar o sucesso dos espaços. A qualificação do espaço público enquanto elemento de reforço da identidade de um coletivo, inserido num projeto de espaço público, é preconizada por Brandão (2008). O enfoque no conceito de identidade e de todas as questões que envolve – como se define, gere e se associa ao espaço público – é tido para o autor como um dos responsáveis pelo sucesso ou fracasso de cada lugar projetado. Neste alinhamento, o espaço público atua também a níveis intangíveis na relação com a sua comunidade, sendo capaz de reforçar a identidade de um lugar através da criação de referências simbólicas (Brandão, 2008) e a reciprocidade que se cria entre os dois mantém-se através da capacidade que o espaço público tem em adaptar-se aos novos usos que a sua comunidade exige.

Destacando as relações que ocorrem nos espaços públicos, enquanto problemática recente, Serdoura (2007, p.150) defende que “o papel do espaço urbano público, assim como a natureza e o conteúdo da interação social que nele ocorre, varia com a classe, grupo étnico, idade, estruturas e tipo de especialização funcional do bairro onde se localiza”. Os espaços públicos para este autor são importantes para pessoas das mais variadas culturas, questão que reafirma e consubstancia a importância universal do espaço público, o qual, também nesta perspetiva, deve ser acessível a todos, independentemente da idade, capacidades, origens ou rendimento. Esses locais públicos devem oferecer a possibilidade de escolha, em termos de mobilidade e acesso a diferentes atividades, edifícios e recursos, e não devem assumir-se como espaços restritos às necessidades de qualquer setor da sociedade. Em suma, os espaços públicos pelas suas mais variadas caraterísticas apresentam uma grande diversidade ambiental e espacial, e seguindo este autor, admite-se que a forma urbana também serve para organizar ou expressar relações sociais.

Neste sentido, e seguindo o pensamento de Mora (2009) pode dizer-se que o espaço público urbano tem como função, estimular o encontro, a estadia e a recreação cultural. Devem

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promover também o contacto do ser humano com a Natureza, e a integração de diferentes cidadãos e de diferentes atividades. Estes espaços devem ser vistos como uma oportunidade urbanística de criar novos recortes à cidade, como a possibilidade para acolher e promover o desenvolvimento das necessidades coletivas da população, e como o promotor da identidade local.

Atualmente, em paralelo à ideia de espaço público como complemento das operações urbanísticas, deparamo-nos, de acordo com Delgado (2011), com um ponto de vista similar, todavia apresentando um espetro mais amplo, com objetivos de incidência em atividades e ideias. Neste caso, o espaço público volta a conceber-se como a realização de um valor ideológico/simbólico, lugar em que se materializam diversas categorias abstratas como a democracia, cidadania, convivência, civismo, consenso e outros valores políticos, hoje centrais.

Considerando a posição defendida por cada autor, verifica-se que o papel que o espaço público urbano ostenta na cidade se centra na interação entre as pessoas, desenvolvendo desta forma a vida social, aspeto considerado de crucial importância e cuja introdução ao nível da abordagem projetual se reveste de suma relevância.

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2.2. Tipologias de Espaço Público Urbano

Os elementos tipológicos relacionados com o espaço público urbano revelam uma grande complexidade na sua análise e distinção, sendo notável a multiplicidade de espaços existentes (Francisco, 2005).

Ao longo da evolução histórica, foram criadas diferentes tipologias de espaço público com características singulares que refletem diferentes formas de usos. Gradualmente foram surgindo os quatro grandes tipos de espaços públicos: a praça, a rua, o parque e a frente de água, tendo tido diferentes manifestações dependendo da localização onde se encontravam, da cultura em que se inseriam e da sociedade que serviam. Na contemporaneidade, a estes espaços deve somar-se a realidade dos nossos dias e acrescentar duas novas tipologias definidas por Mora (2009), o espaço público interior e o espaço público informal (ver figura 10).

Figura 10 | Tipologias de espaço público segundo Mora, 2008. Adaptado de: Mora, 2009.

Tipologias Tradicionais Contemporâneas Parques Ruas Espaço público interior Frentes de água Espaço público informal Praças

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Inseridos nos espaços públicos interiores, consideram-se espaços como átrios, pátios de edifícios, centros comerciais e áreas residenciais comuns, ou seja, espaços que exercem funções públicas para a população (Mora, 2009). Por outro lado, os espaços públicos informais configuram espaços onde se exerce um uso espontâneo por inexistência ou carência de condições nos espaços tradicionais, são por exemplo as escadarias, os passadiços, as paragens de transportes, os parques de estacionamento, etc. (Mora, 2009).

Segundo Francisco (2005), tomando uma posição de defesa em relação à condição pública de um espaço e a sua consideração para além da influência do privado necessitar de uma categorização, distingue nove grupos de espaços e ressalta a importância da complementaridade entre eles, com fim a obter “uma convivência urbana salubre através da criação de espaços urbanos agradáveis e sustentáveis que transmitam a noção de bem-estar físico, visual e psicológico” (Francisco, 2005, p.7):

 Corredores e elementos estruturantes (pontes, avenida, viadutos e túneis motorizados, ruas motorizadas ou pedonais, rotundas, ciclovias…);

 Estações e paragens de transporte público (rodoviário, ferroviário, fluvial e aéreo);  Estacionamento de transporte privado (parques e lugares de estacionamento…);  Praças, largos e passeios (praças e pracetas, largos e passeios);

 Espaços comerciais (centros/núcleos comerciais, mercado e largo de feiras);

 Espaços verdes de recreio e de lazer (parques urbanos, corredores verdes, hortas urbanas, jardins, recintos e espaços de recreio e lazer, frentes marginais de água…);  Espaços de transição (logradouros, escadarias, espaços exteriores a edifícios…);  Infraestruturas de subsolo (rede de abastecimento de água potável e de drenagem de

águas pluviais e residuais…);  Outros espaços (cemitérios…).

Não obstante, segundo Alves (2003), o número de tipologias é ainda mais extenso, enquadrando dentro dos espaços públicos urbanos da contemporaneidade de maior expressão: a rua, a praça/largo, os memoriais, os mercados, as feiras/espaços comerciais e os espaços verdes: os jardins, os parques urbanos, os recintos/pátios, as vias verdes, os espaços intersticiais e as frentes marginais de água.

O autor defende que as áreas de domínio público têm ganho um papel secundário no que toca ao planeamento urbano. Segundo o autor, o espaço público restringe-se apenas a “criar

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algumas praças, envolvidas por edifícios ou subordinar a rua à criação de grandes quarteirões ou de outras estruturas edificadas” (Alves, 2003, pp.49-50).

Todavia, “o espaço público urbano, enquanto parte de destaque da cidade, constituído contemporaneamente por formas herdadas do passado mas igualmente por contributos recentes, coaduna-se com a noção de cidade como algo sempre inacabado e passível de mudança em prol de acontecimentos vários e necessidades novas, daí que pode, e deve, ser constantemente ajustado” (Francisco, 2005, p.5). A grande massa construída de edifícios carece de mais espaços como ruas e praças que apresentem estruturas diferenciadas que incluam ruas de maior dimensão, ruas laterais, praças principais e secundárias. Ademais, acompanhando a história do Homem, como refere Gehl (2006) é percetível a função que as ruas e praças apresentavam como elementos básicos na organização das cidades, estabelecendo não só as continuidades como resolvendo ruturas e impasses.

Por sua vez, Brandão (2008) distingue as diferentes tipologias de espaço público enquanto, não estanques, dinâmicas e crescentes, resultantes de diferentes transformações estruturais que ocorrem nas cidades, considerando 15 tipologias que se encontram enquadradas estruturalmente em seis parâmetros:

Quadro 1 | Tipologias de espaço público segundo Brandão, 2008. Adaptado de: Brandão, 2008.

Parâmetros Descrição/Tipologia Espaços – traçado Encontro e circulação 1. Largos, praças; 2. Ruas, avenidas Espaços – “paisagem”

Lazer – Natureza e contemplação 3. Jardins, parques;

4. Miradouros, panoramas;

Espaços – deslocação

Transporte, canal e estacionamento 5. Estações, paragens, interfaces; 6. Vias-férreas, autoestradas; 7. Parking, silos

Espaços – memória

Saudade, arqueologia e memoriais 8. Cemitérios;

9. Industrial, agrícola, serviços; 10. Espaços monumentais;

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Espaços comerciais 11. Mercados, centros comerciais, arcadas; 12. Mercado levante, quiosques, toldos;

Espaços gerados

Por edifícios, por equipamentos e por sistemas 13. Adro, passagem, galeria, pátio

14. Culturais, desportivos, religiosos infantis; 15. Iluminação, mobiliário, comunicação, arte;

Não obstante, e no seguimento destas ideias, nos dois subpontos seguintes, recuperando as características tipológicas, funcionais e ambientais dos espaços que vulgarmente constituem o objeto dos projetos de espaço público, considera-se a sua análise a dois níveis: enquanto espaço público verde e como espaço público aberto.

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2.2.1. Espaço público verde

Neste ponto destacam-se três tipologias fundamentais: o parque urbano, o jardim público e as áreas de enquadramento, caracterizando-as nos seus traços essenciais.

Parque urbano

A ideia de parque urbano está associada a espaços que se assemelham à mata pois sendo um espaço dominado pela árvore, surge com o intuito de criar contacto no quotidiano entre o homem moderno da cidade e a natureza e paisagem exterior (Cabral e Telles, 2005).

O parque apresenta uma dimensão considerável, geralmente com impossibilidade de visão, caracteriza-se como um espaço livre e oferece atividades que abrangem faixas etárias distintas. Maioritariamente constituído por áreas verdes proporciona aos utilizadores espaços de circulação, de repouso e recreio, miradouros, fontes, lagos, construções, etc. (CCDR-LVT, 2003). Estes espaços para além das funções sociais que acarretam desempenham também um papel essencial na purificação da atmosfera urbana, e são determinantes na atenuação de ruídos provenientes da movimentação constante das cidades (ver figura 11) (Cabral e Telles, 2005).

Realçando a importância do parque, surge durante a Revolução Industrial, no séc. XIX, o

Movimento dos Parques Urbanos, como resposta ao aumento da população e da crescente carência de condições de vida que se fazia sentir nas cidades. Originou-se em Inglaterra, e veio com o propósito de introduzir recursos naturais em contexto urbano e contribuir desta forma para o aumento da qualidade de vida na cidade moderna (Loures et al 2007: 171-180).

Figura 11 | Central Park, Nova Iorque, EUA. Retirado de: http://michaelminn.net.

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25 Jardim público

O jardim público é um espaço com área de influência a nível de bairro. Caracterizado como um espaço livre, pode apresentar formas e dimensões diversas, geralmente vedadas. As zonas ajardinadas, ocupando a maior parte do jardim, podem ser intercaladas com zonas de estadia, de recreio com equipamentos de jogos, quiosques, esplanadas, etc (ver figuras 12 e 13). (CCDR-LVT, 2003).

Figura 12 | Jardim Mirabell, Salzburgo, Áustria. Retirado de: http://es.chateauversailles.fr

Figura 13 | Jubilee Gardens, Londres, Reino Unido. Retirado de: http://www.landezine.com.

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26 Áreas verdes de enquadramento

Estes espaços não oferecem um uso definido, sendo espaços residuais, não obstante, apresentarem funções de integração de diversos elementos, como edifícios, infraestruturas, ou vias (ver figura 14) (CCDR-LVT, 2003).

Figura 14 | Metro em Freiburg, Alemanha. Retirado de: http://www.commons.wikimedia.org.

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2.2.2. Espaço público aberto

Neste ponto destacam-se três tipologias fundamentais: a avenida/rua, o largo, o pátio, e a praça caracterizando-as nos seus traços essenciais. Porém, e em razão das propostas de intervenção elaboradas incidirem sobre o Pátio Anaïs Napoléon e a Praça Calvó relevam-se com particular detalhe os referenciais que assistem ao pátio e à praça.

Avenida/Rua

As avenidas e ruas são espaços que detêm uma posição fundamental para a mobilidade e estruturação física das cidades. Tornam-se espontaneamente num local de encontro e circulação (Mora, 2009). Estes espaços são mistos e, embora apresentem funções destinadas a peões, incluem ainda o estacionamento e circulação automóvel, embora, em casos particulares, existam ruas de apenas acesso pedonal (ver figuras 15 e 16). Estas duas tipologias distinguem-se entre si particularmente pelos caudais de tráfego que suportam e pela dimensão de seção transversal (CCDR-LVT, 2003).

Figura 15 | Avenida do Passeio de St. Joan, Barcelona, Espanha. Retirado de: http://www.landezine.com.

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Figura 16 | New Road, Brighton, Reino Unido. Retirado de: http://www.landezine.com.

Largo

A origem do ‘largo’, normalmente encontra-se associada à necessidade descongestionamento entre os edifícios ou do cruzamento entre caminhos ou ruelas, podendo-se dizer que resultam de alargamentos na estrutura urbana, apresentando um carácter acidental na sua formação (Alves, 2003).

Pátio

Ao longo da história, o pátio adquiriu diversas formas, surgiu em diferentes contextos e partes do mundo, geralmente associado a usos privados. Remetendo às suas primeiras manifestações, surge nas civilizações mais antigas, caracterizadas pelos climas quentes e ensolarados, apresentando variadas configurações e usos, desde a habitação aos templos religiosos (Capitel, 2005), relacionando-se sempre com a época ou sociedade em que está inserido. O pátio, com a evolução da arquitetura moderna e da sociedade, foi perdendo as suas características originais graças às novas tecnologias, ao desenvolvimento das técnicas de

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construção, aos materiais, e aos hábitos culturais, fator que promoveu a exportação da tipologia para todo o mundo, tanto para climas quentes como também para o norte da Europa. Deixou de ser rodeado apenas por um edifício isolado passando a ser parte de um conjunto construtivo (Capitel, 2005).

Segundo Reis Alves (2005), o pátio “possui fechamentos laterais, limites físicos, seja o próprio corpo edificado e/ou muros. Mas, sempre descoberto, despido, relacionando-se diretamente com a abóbada celeste e, consequentemente, com todas as manifestações climáticas”. No mesmo sentido Mora (2009), acrescenta que os espaços demarcados por edificações ou equipamentos podem deter algum nível de controlo, acarretam funções públicas para a população e satisfazem as suas necessidades no que diz respeito à necessidade de espaços de lazer (ver figura 17).

Figura 17 | HM Treasury Courtyards, Londres, Reino Unido. Retirado de: http://http://www.gustafson-porter.com.

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30 Praça

Na história do urbanismo, o conceito de praça, enquanto projeto individual, tem vindo a ser reconstruído, designadamente, a nível funcional e espacial. Se num primeiro momento, as praças, na sua relação com o percurso do tempo e da cultura foram acumulando significados, por força das alterações dos seus elementos constituintes, na atualidade, estas tipologias, são construídas quase de imediato não sendo produzida uma estratificação de significados, modificações de usos ou incorporações de elementos. A nível espacial, as praças atualmente podem ser entendidas como espaços sem um perímetro edificado completamente definido. Uma praça já não é um alargamento de uma rua delimitada por edificação, o conceito admite espaços mais ambíguos, sem contornos imediatos pois, se anteriormente o que as caracterizava como praças seria a forma e a função, atualmente seguem o objetivo de constituir-se como um lugar. A nível funcional tem sido produzida de forma análoga uma deslocação dos conteúdos. As praças tradicionais estavam estreitamente vinculadas com um uso, quer fosse representativo frente ao poder religioso ou político quer fosse o local onde se desenrolava a atividade comercial. Agora muitas das praças carecem de um uso específico (Jones, 2001).

Sendo um elemento morfológico das cidades ocidentais, a praça, apresenta características diferentes dos outros espaços (que resultam de um alargamento ou confluência de traçados) pela organização espacial e intencionalidade do desenho. Esta intencionalidade assenta na situação da praça na relação com a estrutura urbana no seu desenho e nos elementos morfológicos (edifícios) que a caracterizam (ver figura 18) (Lamas, 2004).

Tal como mencionado anteriormente a praça apresenta funções de estruturação significativas e funciona como lugar intencional de encontro, de permanência, de práticas sociais, de manifestações de vida urbana e comunitária. O conceito inscreve-se na estrutura urbana de forma definitiva a partir do Renascimento, passando a tornar-se parte obrigatória do desenho urbano nos séculos XVIII e XIX. A definição de praça na cidade tradicional implica a conexão do espaço de permanência com os edifícios que o envolvem, com os planos marginais e fachadas, definindo estes os limites da praça e caracterizando-a. Reúne a ênfase do desenho urbano como espaço coletivo de valor significativo, sendo este, um motivo pela sua distinção dos outros vazios da estrutura citadina, e uma das suas principais particularidades (Lamas, 2004).

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Alguns pensamentos “neofundamentalistas” admitem a presença do automóvel, mas Alves (2003) defende que este fator é incompatível com as funções que a praça deve desempenhar, pois “a praça deve compreender um espaço público aberto, contido por formas harmoniosas, articulado aos restantes elementos morfológicos urbanos (…) com pavimento rígido, na sua maior extensão, e onde se exclui a presença contínua do motorizado comum” (Alves, 2003, p. 82).

Figura 18 | Place de la République, Paris, França. Retirado de: http://www.areal.lu.

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2.3. Importância do Espaço Público Urbano

Atualmente vive-se uma pressão sobre o território resultante do aumento da população e da expansão das zonas urbanas. Com esta crescente preocupação, as atenções parecem voltar-se para o espaço público urbano e para a qualificação destes espaços.

O século XX caracteriza-se por um período de pesquisas com o objetivo de melhorar a qualidade de vida humana. Segundo a organização “Project for public spaces”, a criação de bons espaços públicos acarreta diversos benefícios: dá apoio às economias locais, atrai investimentos, atrai turismo, promove oportunidades/atividades culturais, promove o voluntariado, reduz o crime, melhora a segurança pedonal, aumenta a utilização de transportes públicos, melhora a qualidade de vida e melhora a qualidade do ambiente.

A vida desencadeada nos espaços públicos tem aumentado significativamente, tendo desenvolvido a vida social e recreativa. A necessidade de espaços públicos é um facto. Os centros de cidades que outrora foram dominados pela inclusão do veículo têm sido transformados em conjuntos de ruas destinadas a peões (ver figura 19). Não se podem subestimar requisitos como a existência de condições para uma boa e segura circulação, de haver a possibilidade de permanecer nas cidades e nas zonas residenciais, desfrutar dos edifícios e dos espaços exteriores, e a oportunidade de reunião e sociabilidade com as outras pessoas, pois todos estes fatores são fundamentais para projetos de boas cidades (Gehl, 2006).

Figura 19 | Rua Mariahilferstrasse localizada em Viena, antes e após a intervenção projetual do atelier B+B. Retirado de: http://http://www.bplusb.nl.

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Todavia, Jacobs (2009), através de uma perspetiva totalmente diferente e antagónica, defende que o fundamento essencial numa cidade é a oferta múltipla de escolhas. Sem facilidade de comunicação e movimento deixa de existir “troca de ideias, serviços, habilidades, e mão-de-obra, e certamente, de produtos, exige transporte e comunicação eficientes, fluentes” (Jacobs, 2009, p. 379), além do mais, o desenvolvimento dos meios de transporte sempre se caracterizou como um fator determinante no crescimento das cidades, estando sempre correlacionado ao longo da história com este processo (Ascher, 2010).

Os espaços públicos quando traduzidos em tipologias como espaços verdes e parques transportam ainda mais benefícios. Segundo Capel (2005), os jardins e parques urbanos devem desempenhar variadas funções e dentro delas tem-se a oxigenação, a urbanidade e a recreação (ver figura 20).

Figura 20 | Parque Martin Luther King situado em Paris, projetado pelo Atelier Jacqueline Osty. Retirado de: http://www.landezine.com.

O interesse por esta temática tem aumentado, manifestando-se no surgimento de diversos estudos acerca dos benefícios dos espaços verdes urbanos na população. Lee e Maheswaran (2010) estudam estes factos no âmbito da saúde física, da saúde mental e do bem-estar e dos aspetos económicos da população. Os espaços verdes influenciam a saúde física através dos níveis de exercício físico, pois a presença destes espaços está relacionada com o aumento da

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prática de atividades desportivas, o que acarreta consequências já muito estudadas como melhorias a nível cardíaco, diabetes, cancro, depressão, etc. A nível de saúde mental e bem-estar, os efeitos emocionais e mentais são muito positivos. O contacto com áreas verdes diminui a ocorrência de stress e aumenta substancialmente a qualidade de vida, para além de criar zonas de encontro acabando por desenvolver e manter as capacidades de interligação social. Os estudos desenvolvidos, designadamente, por Lee e Maheswaran (2010) demonstram que a nível socioeconómico as pessoas com mais dificuldades financeiras têm menor contacto com atividades exteriores recreativas e adotam estilos de vida com um nível de atividade física inferior.

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2.4. Parâmetros da qualidade de projetos de Espaço Público

“Atualmente, as cidades necessitam promover a sua identidade e as suas qualidades para se afirmarem e diferenciarem numa rede urbana cada vez mais competitiva. Neste contexto, a imagem dos espaços públicos (…) assume uma importância crescente no marketing das cidades” (Brandão, 2002, p.16).

O número de espaços públicos tem vindo a aumentar consideravelmente, o que resultou num aumento da atenção atribuída à qualidade desses mesmos espaços. Segundo Francisco (2005), os espaços públicos têm de transpor a barreira do conceito e passar à fase de execução, não menosprezando o peso decisivo destas duas fases no parâmetro da qualidade do espaço público urbano. As cidades e as entidades responsáveis não devem abordar a conceção de espaços como um ato ou objetivo isolado, devem sim, entender a complexidade que lhe está adjacente e respeitar as políticas e os instrumentos que lhes são sujeitos, tal como o ordenamento do território. É neste sentido que Francisco (2005) ressalta a importância de um planeamento e de um agir premeditado e planeado, e afirma que, embora os espaços públicos urbanos se encontrem considerados no Plano de Urbanização, é geralmente, no Plano de Pormenor que se evidencia a sua qualidade.

Enfatizando a importância da origem do espaço público através do planeamento do território, Alves (2005, p.7), defende que a sua qualidade “depende, diretamente, da interação de políticas municipais (e regionais) e de interesses privados” e da “função equilibradora do Estado, pelo que o seu enquadramento pelo planeamento municipal, a competência técnica e, consequentemente, o projeto e o desenho urbano que o produzem, revelam-se cruciais para a obtenção da sua qualidade”.

Paralelamente, a qualidade do espaço público urbano depende também da liberdade de uso que suporta, e o seu entendimento juntamente com a noção do valor da contribuição para a qualidade de vida, implica um estudo aos valores tradicionais, à história, aos hábitos e religião onde se deem a conhecer as diferentes opiniões do que é expetável dos espaços (Alves, 2005). A ligação entre a presença de espaços públicos e a qualidade da vida urbana tem revelado interesse para os diversos profissionais e áreas de estudo (Francis, 1989). Segundo o mesmo

Imagem

Figura 2 | Plano geral de Mileto, antiga pólis grega.
Figura 8 | Secção do centro da cidade jardim.
Figura 9 | Plano da unidade de vizinhança - Diagrama do Plano Regional   de Nova Iorque, 1929
Figura 12 | Jardim Mirabell, Salzburgo, Áustria.
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Referências

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