DOS
MERCADO
IMOBllIÁRIO-,
RECESSO NOS NEGOCiaS
o
movimento de promessas decompra e venda de bens de raiz no Rio de Janeiro durante o 1.0 semestre p. findo, alcançou, em quantidade, o mais baixo nível dos últimos 15 anos (que é o período coberto pelas pesquisas e estatísticas de CONJUNTURA ECONÔMICA). Segundo os resul -tados conhecidos até maio (ver
QUADRO I), negociaram-se sõ-mente 1,5 mil unidades (prédios, terrenos e apartamentos) por CrS 3,2 bilhões, contra 1,7 mil no valor de Cr$ 2,1 bilhões em igual época de 1963, e 2,0 mil unidades, correspondentes a CrS 3,2 bilhões, nos últimos 5 meses de 1963. Verifica-se assim que,
depois de ligeira reanimação do mercado em fins de 1963,
recur-~os disponíveis para aplicação passaram, de preferência, a ser empregados em outros bens e va-lôres (letras de câmbio, letras de AÇOST0i1964
importação, divisas etc.). De acôrdo com o GRÁFICO, as
tran-sações caíram, entre janeiro e março, a mer.os de 300 em cada mês. Em abril e maio observou--s:e, todavia, certa recuperação.
PREÇOS EM ALTA
Divenas causas determinaram aqueda do movimento em rela-ção ao já modesto nível de 1963. Em primeiro lugar, cabe esclare -cer o papel que os preços de ben. de raiz desempenharam neste sentido. Sabe-se, em face de in-vestigações realizadas por
CON-JUNTURA ECONÔMICA (ver, por exemplo, o n.O 10; 63, pág. 63), que nos últimos anos o valor ve-nal de imóveis aumentou geral-mente segundo uma taxa mais módica que a dos preços de ou-tros bens. A partir de 1963, en-tretanto, a intensidade, nunca
tes assistida no Brasil, da alta geral de preços provocou uma
valorização paralela das proprie-dades imobiliárias no Rio de
J
a-neiro. Como se vê no QUADRO
lI, a importância média
realiza-da na venda de apartamentos
cresceu} até meados de 1963} no mesmo ritmo dos preços de bens móveis; no 2.° semestre de 1963}
porém, em escala mais lenta. Nos
3 meses iniciais de 1964 a
co-tação média de apartamentos
re-gistrou súbita alta de 36('(,
cen-tra um aumento de 230/0 de ou-tros preços. A seguir} o valor
ve-nal dêstes imóveis sofreu recuo} embora os demais preços conti -nuassem a subir. Conclui se que o mercado aceitou} em princípio} a valorização de propriedades}
levando-se a têrmo negócios em número até um pouco crescente}
enquanto a alta dos preços de apartamentos não superou a de
outros bens. Quando, porém, isto
se deu, o movimento sofreu uma queda brmca de 11 % ,
LEI DO INQUILINATO E
REGULAMENTAÇAO DE ALUGUEIS DAS MORADIAS
À medida que se prolonga a política de proteção unilateral
dos locadores com as consecuti-vas leis de inquilinato} aumenta cada vez m ais a diferenca entre o aluguel de habitações ocupa-das durante vários anos e o vabr
locativo de imóvel pertencente ao morador. Isto ocorre graças ao congelamento de aluguéis, d~
um lado, e a livre evolucão do
"
valor venal, de outro. Em ConsE"-qüência. desaparece um estímulo
à aquisição do lar próprio. No
momento, quando se cogita de
so-lucionar a crise habitacional no país por meio do "Plano de l-Ia -bitação", o baixo custo de muitas
1 - TRANSAÇÕES IMOBILIÃRIAS NO RIO DE JANEIRO Vlllõre5 em milhões de Cr$
jAN. A MAIO jAN. A MAIO AGO. A DEZ.
1964 J963 1963
CATEGORIA .
- - . .
N," Valor NY Volor N," Valor
Prédios
...
40' 770 449 5<14 600 I 045 Terrcno5...
91 40 133 22 60 22 Apartamcl1tos ... 1 OJ8 2354 1 138 1 500 1 293 2 180 'l'OTAL ... .1 5 14 3 165 I 720 2066 I953 3247 Fonte: Cartórios. 104 CONJUNTURA ECONôMICA•
,
.
MERCADO IMOBILIÁRIO NO RIO DE JANEIRO T~"NS4ÇÕES 600 o JANEIRO, 1964 VALO" • 900 -'50 600 <1t10 :00 1:10 o J
"
M J J A S Q N O J f M A M residências locadas determinaráo desinterêsse dos respectivos in
-quilinos pela aquisição de pro-priedade imobiliária para seu
uso.
A lei n." 4 240, de 28-6-63,
facultou um aumento dos
alu-guéis das 10cações residenciais já
existentes e transferiu para os in-quilinos as despesas de
condomí-nio, as taxas de serviços munic i-pais e as majorações de tributo!),
A sobrecarga correspondente foi avaliada (ver CONJUNTURA
ECO-NÔMICA de março de 1964, pág.
58), imediatamente após a revi-são segundo a citada lei, em 20% dos aluguéis. Desde me a-dos de 1963, êstes permanecem
constantes, de forma que o custo total da locação residencial só
cresceu em virtude de maior
50-ACõSTO/ 1964
1 ,)6~
brecarga de despesas de condo
-mínio etc. (variável segundo os
11 _ lNDlCES DOS PREÇOS DE BENS MÓVEIS E DE APARTAMENTOS E DO NÚMERO DE APARTAMENTOS NEGOCIADOS jOl1eiro a março de 1963 100 APARTAM I:.NTOS PER 1000 jan. a mor. 1963 100 100 100 Abr. a jun. 1963 112 112 113 ju!. a selo 1963 127 118 125 Out. a dez. 1963 140 137 122 JOI1. ti mar 1964 183 187 80 A bt'. ... ;un, 1964 212 160 08 Fonte: Cilrtório~ . lOS
salários, preços de material e tri -butos). A elevação média d·)
re-ferido custo total pode ser
esti-mada em cêrca de 17 010 • T oman
-do como base o aluguel médio
em vigor desde o advento da lei
n.o 4 240, ou seja, CrS 15,9 'ml,
bem como a porcentagem inicial
de sobrecarga e a taxa de
aumen-to do valor absoluto dessa so bre-carga, conclui-se que atualmente
- inalterado o aluguel propria
-mente dito o custo total da locação no Rio, perfaz, em m
é-dia, aproximadamente Cr$ 22,3
mil .
Para comparar esta
impor-tância com o ônus corresponde
n-te ao imóvel próprio, se
rvimo-nos da estatística de apartamen
-tos negociados no corrente ano.
até maio. Utilizando esta fonte,
verifica-se que o preço médio de
uma unidade importou em ....
CrS 2,31 milhões. Seu valor
10-cativo (1 ((' do valor de
aquisi-ção) totaliza CrS 23,1 mil. Acrescida esta soma das d
espe-sa5 de condomínio etc., obtém-s:!
o total de CrS 32,3 mil. que
re-pre.::enta, em média, o custo total
teórico da moradia própria. N
es-t as condições, o locador despe
n-de com habitação menos 28 C?ó
do que o proprietário-morador
(CrS 22,3 mil equivalem a 72 %
de CrS 32,3 mil). Quem, por
-tanto, quer morar barato, não
compra imóvel .
Note-se ainda que a exposição
acima foi simplificada, pois não
levamos em conta que em certas
e~crituras são declarados valôres
venais inferiores aos realmente
convencionados entre comprador
e vendedor. Além disso, diversos
encargos, acima desprezados, às vêzes or.eram o proprietário, mas
nunca o locador (seguro.
impôs-to de renda e outros). Na reah
-III - COMPRADORES E VENDEDORES DE IMÓVEIS
NO RIO DE JANEIRO
Val6re! em milhões de Cr$
I
JAN. A MAIO JAN. A MAIO AGO. A DEZ.1964 1963 1963
COMPRADORES
OU VENDEDORES
\ \
N." Valor N." Valor N." Valor
COMPRADORES:
Pessoa! Fi!icas • • • • 1 478 2901 1665 1 885 1908 2829
Pessoas Jurídica! " 36 26. 55 81 45 418
VENDEDORES:
Pessoas Físicas • • • • 1333 2834 t 463 1 843 1659 2861
Pessoas Jurídicas " 181 331 257 223 29' 386
Fonte: Cartórios.
•
dade, portanto, o inquilino. por
não residir em casa própria, eco
-nomiza mais ainda do que os
28 0 ' ,o antes menclOnados. •
Com o tabelamento de
alu-guéis residenciais (decretos nos.
53 702, de 14-3-64, e 53 845,
de 25-3-64) diminuiu
radical-mente a oferta de moradias para
locação e os raros inversores
pro-pensos a comprar bens de raiz
para renda se mantiveram em
g e r a I afastados do mercado,
aguardando a evolução dos
acon-tecimentos. Com o advento do
nôvo govêrno federal, inquilinos, proprietários, corretores de
imó-veis, emprêsas de construção e
outros se manifestaram a
respei-to do problema de moradia e do seu custo, procurando influir sô·
bre as esper~das providências de
Executivo. Sob a orientacão do
-Ministro da Justiça, elaborou-se
um projeto de lei, que, a seguir.
foi submetido à consideração do
Congresso. Os debates estão SU3
-citados mostraram os múltiplos
aspectos da matéria, bem como
os fortes interêsses frontalmente opostos. Assim, não se conseguiu em tempo uma votação e a lei de inquilinato, que iria expirar a
30-6-64, teve sua vigência
sim-plesmente prorrogada até
30-9--64. Destarte, haverá um prazo
adicional para se rever o projeto
elaborado pelo Executivo e pro
-curar uma justa e aceitável
re-muneração de imóveis loçadof,
AÇOSTO/ 1964
IV - NOVAS HIPOTECAS NO RIO DE
JANEIRO (AMOSTRA)
MAIO DE 1964
(Milhões de Cr$)
PRAZO JUROS
N." •
(anol) VALOR MEDIOS
% Até 5 · . " " . . . 18 62 7,5 6
•
15 " " .... 10 29 9.8 16 ou maiS • • 11 37 10,2 TOTAL · . . . 39 128 8,8 Janeiro•
maio de 1964 · . . . 432 1 253 11,1Janeiro
•
maiod. 1963 · . " " 567 927 11,5
Aj1;õsto a
dezem-b,.
de 1963 461 1 081 10,9Fonte: Cartório •.
além de normalizar as reh:H:l:"oS
entre inquilinos, proprietários e
o fisco. No ínterim,
encaminhou-se ao Legislativo o "Plano de
Ha-bitação", através do qual o
go-vêrno procurará solucionar a cri-se de habitação, na qual se
de-batem as cla~ ses de menor renda.
Com a edificação de lares pró-prios em ritmo razoável, os
pro-blemas de locação afetarão um
menor número de indivíduos e
os problemas de inquilinato di-minuirão de interêsse,
Anuncia-se para breve a conclusão de um projeto de lei que disporá sôbre
as incorporações. Em face dos
prejuízos sofridos por
comprado-res, emprêsas de construcão e
-fornecedores de materiais no passado, seja devido a ações
frau-dulentas, seja em conseqüência
da inflação, urge o estabeleci
-mento de normas legais que
tejam as poupanças aplicadas em construções de condomínios e a atividade honesta de empreendi-mentos do ramo.
HI:;TRAÇAO DE ENTIDADES INVI:;RSOHAS
No 1.0 trimestre a inquietação
política e a projetada reforma
urbana criaram um clima pouco
propício a transações
imobiliá-rias. As pessoas jurídicas, mais
do que os indivíduos, se
mostra-fam impressionadas pela evolu
-ção dos acontecimentos e
adota-ram uma atitude de prudência,
restringindo inclusive as compras
de bens de rais. Esta orientação
prevaleceu (ver QUADRO lU) não
só nos últimos meses de 1963,
como também de forma mais
pronunciada - no corrente ano
até maio. As emprêsas
imobiliá-rias, a indústria e as instituições
beneficientes seguiram
rigorosa-mente tal política. Os bancos, o
comercio e as companhias de ~c guros e de capitalização, porém,
aplicaram em 1964 quantias
substancialmente superiores às empregadas em imóveis durante igual período do ano anterior.
As pessoas físicas, ao contrário das entidades, intensificaram no fim do ano passado os
investi-mentos em bens de raiz ( f- 15 0/0
em número) e no princípio do corrente ano adquiriram proprie-dades apenas 11 ~'ó inferiores em
número às compradas entre
ja-neiro e maio de 1963. A
aplica-ção média em um imóvel cres
-ceu aproximadamente na escala dos preços de bens móveis,
pas-v _ PROMESSAS DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS NO HIO DE JANEIRO MAIO DE 1964
Árco~ cm mil m! Vall)1~' elll milhões dL' Cr$
PRÉDIOS TERRENOS APArTAMENTOS ZONA E i'LHIOOO
I
-I
I
ValorN.· Área Valor N.· Árca 'i .• Valor
Subúrbio,
...
79 28 116 5 Il"
4' 90 Norte • • • • • • • • • 10 3 7J 39"'
Ccnho • • •...
I O 2-
15 3" Sul • • • • • • • • • • 2"
6-
-
116 272 Ilhos • • • • • • • • • • • • • • I"
4-
2 7 TOTAL • • 93 31 198 5 Il 4 214 486 Janeiro a maio tle 1964 • 405 190 770 91 42 4" I 018 2 ~54.Ji:lllt;iro U Illllio de 1963 • 449 196 544 133 9() 22 1 lJ8 1 50 I
Agôsh, 11 dCl:embro dI-' 1963 600 249 I 0,15 60 :.!75 l:.! I 293 2 180
Fonte: CartÓrics.
sando de CrS 1 132 mil para CrS I 483 mil (+ 3 1 %) e para
CrS 1 963 mil ( 73%) ,
res-pectivamente.
A dificuldade de encontrar
comprador afetou
-
mais astran-. , tran-.
saçoes com lmOV~lS pertencentes
a pessoas jurídicas do que as
pro-priedades de indivíduos,
confor-me se depreende do QUADRO III.
FINANCIAMENTOS INSUFJCIENTES
De acôrdo com os resultados
provisórios, que abrangem uma
amostra das novas hi patecas
rea-lizadas até maio último (ver
QUADRO IV), o número de
em-préstimos diminuiu no corrente ano em escala superior ao
de-créscimo das compras
imobiliá-rias. A insignificante participa-o
ção nos dois últimos meses
computados da Caixa
Econô-mica na concessão de créditos
manteve os resultados globais em
modesto nível. A taxa média de
juros, segundo ainda indica o
mesmo QUADRO, permaneceu in
-ferior ao padrão registrado nos 5
... meses iniciais de 1963, o que in-dica ter aumentado o vulto de
créditos por entidades oficiais e
diminuído o de organizações pri-vadas, como por exemplo bancos
e particulares.
Ao iniciar-se o 2.° semestre, os inversores continuaram a obser-var uma posição cautelosa,
dan-./ do preferência a emprêgo de
ca-ACOSTO 1964
o
pital a prazo médio e de renda
fixa (como por exemplo as "le_
tras de câmbio") e evitando apli
cações de rendimento variável
(por exemplo, ações) ou
imobi-lizações por tempo indetermina
-do (imóveis). Sómente após a
tramitação de diversos projetos de lei no Congresso ou sua apli. f
cação prática (impôsto de renda,
plano de habitação, lei de inqui -linato, lei de incorporações e
ou-tras), será possível avaliar em
novas bases, então solidamente
fundadas no respeito à proprie -dade privada, a conveniência e as
vantagens de transações com
imóveis urbanos.