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RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIBIC: CNPq, CNPq/AF, UFPA, UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PARD, PIAD, PIBIT, PADRC E FAPESPA

RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO Período: 02/ 2015 a 07/ 2015

( ) PARCIAL (x) FINAL

IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO

Título do Projeto de Pesquisa: Operações de ajuste de valência em verbos da Língua Parkatêjê (CNPq/ Processo n° 472101/2012-9)

Nome do Orientador: Marília de Nazaré de Oliveira Ferreira Titulação do Orientador: Doutor

Faculdade: Faculdade de Letras

Instituto/Núcleo: Instituto de Letras e Comunicação Laboratório: Laboratório de Ciências da linguagem

Título do Plano de Trabalho: Descrição das atividades tradicionais em Parkatêjê: um estudo morfológico.

Nome do Bolsista: Luciana Renata dos Santos Vieira Tipo de Bolsa: ( x) PIBIC/ CNPq

( ) PIBIC/CNPq – AF

( ) PIBIC /CNPq- Cota do pesquisador ( ) PIBIC/UFPA ( ) PIBIC/UFPA – AF ( ) PIBIC/ INTERIOR ( ) PIBIC/PARD ( ) PIBIC/PADRC ( ) PIBIC/FAPESPA ( ) PIBIC/ PIAD ( ) PIBIC/PIBIT

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INTRODUÇÃO

Atualmente a língua Parkatêjê é falada somente pelos mais velhos na comunidade indígena Parkatêjê na TI Mãe Maria. Seus falantes estão localizados no Km 30 da BR-222, no município de Bom Jesus do Tocantins, a 30 km da cidade de Marabá no sudeste do estado do Pará. O presente estudo sobre os aspetos linguísticos da língua está inserido no projeto de pesquisa Operações de ajuste de valência em verbos da Língua Parkatêjê (CNPq/ Processo n° 472101/2012-9).

O presente plano de trabalho propôs a descrição científica das principais atividades culturais pertencentes ao povo Parkatêjê, tais como as festas anuais, a corrida com toras, o jogo de flecha e o jogo de peteca. O conhecimento tradicional de cada uma dessas atividades permite demonstrar as características de ação, instrumentos, períodos, funções e outras particularidades; e assim, por meio dessa descrição, atingir o objetivo principal de analisar do ponto de vista morfológico, os termos do vocabulário, tendo como referência as características morfológicas dos nomes em Parkatêjê que foram estudados por Araújo (1989) e Ferreira (2003).

No primeiro semestre de realização do plano de pesquisa foram apresentados os resultados parciais, nos quais constavam a descrição cientifica integral das atividades tradicionais, a lista terminológica parcial e os aspectos morfológicos principais da terminologia. Por sua vez, os resultados apresentados no atual relatório apresentam os pontos principais da descrição, a lista terminológica sistematizada em campos semânticos e os aspectos morfológicos da terminologia organizados e explicados em quadros, nos quais os processos referentes à morfologia e as análises morfológicas dos termos exemplificam a ocorrência desses processos na terminologia estudada.

Busca-se, dessa forma, por meio do presente relatório de pesquisa, corroborar a hipótese de que o vocabulário dos jogos e festas Parkatêjê apresentam propriedades morfológicas comuns à língua, assim como promover a documentação em áudios, vídeos e fotografias que fortaleça o registro linguístico, histórico e antropológico das línguas Jê.

A língua Parkatêjê não apresenta um estudo sistematizado voltado, mais especificamente para a descrição das atividades tradicionais da comunidade

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indígena. Todavia, os trabalhos de Araújo (1989) e Ferreira (2003) apresentam as principais características morfológicas encontradas no processo de formação de palavras na língua Parkatêjê. Deste modo, com o presente plano e, com o Trabalho de Conclusão de Curso resultante do mesmo, tem-se a articulação dessas vertentes.

JUSTIFICATIVA

Como qualquer outra cultura, a cultura Parkatêjê é rica em atividades tradicionais que ainda são praticadas na comunidade como as festas anuais, a corrida de tora, o jogo de arco e flecha e o jogo da peteca.

O vocabulário referente a elas constitui-se em um universo de particularidades que precisam ser investigadas e documentadas a fim de refinar materiais para a compreensão das línguas Timbira, que partilham muitos traços culturais. No caso de uma comunidade indígena, a descrição científica dessas práticas contribui ainda mais para as pesquisas de aprofundamento da descrição linguística, bem como para as pesquisas de cunho antropológico.

As atividades culturais do povo indígena Parkatêjê, assim como dos povos indígenas de uma maneira geral, fazem parte do patrimônio cultural imaterial da humanidade. Tal patrimônio é composto pelas práticas, conhecimentos, expressões, representações e instrumentos que os próprios indígenas possuem o direito de manter e controlar, de acordo consta no artigo 31 das declarações da ONU; isto significa dizer que esses povos, de uma maneira geral, têm os seus direitos plenos em relação a essas atividades.

Muito além das contribuições acadêmicas, o material resultante da presente pesquisa também poderá ser utilizado como um recurso para o processo de preservação e revitalização da língua Parkatêjê que corre risco de extinção e das atividades culturais, hoje em dia, praticadas somente pelos mais velhos e adultos, nos finais da semana e em dias de festas. Da mesma maneira que também poderá ser utilizado no ensino da língua indígena na escola da comunidade, pois uma das formas de ajudar na manutenção e revitalização de uma língua indígena é contribuir para que ela seja objeto de

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estudo constante na escola da comunidade falante. Desse modo, a língua e cultura de determinada comunidade estão entrelaçadas e permitem a união do ensino de língua com a prática e a troca de experiências culturais vividas.

OBJETIVOS

Geral: Descrever as principais atividades culturais do povo Parkatêjê

visando à análise morfológica do vocabulário pertinente a elas.

Específicos:

• Descrever as principais atividades tradicionais do povo indígena de modo a demonstrar suas características de ação, instrumentos empregados para sua execução, períodos de ocorrência, funções e outras particularidades relacionadas às atividades.

• Analisar a composição morfológica dos termos do vocabulário, tendo como referência as características morfológicas dos nomes em Parkatêjê que foram estudados por Araújo (1989) e Ferreira (2003).

• Comparar as particularidades morfológicas encontradas com outros estudos de cunho linguístico do Parkatêjê.

MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia usualmente utilizada em estudos de cunho descritivo é aquela que se compreende nos trabalhos de Linguística Descritiva e de pesquisas antropológicas, respectivamente os trabalhos de Araújo (1977, 1989 e outros), Ferreira (2003 e 2005) e Melatti (1978).

Em um primeiro momento os dados foram coletados e confirmados pelos seus falantes em ambiente usual de fala. Em seguida foi realizada a transcrição fonética dos termos referentes às atividades tradicionais. Após isso, foi realizada a transcrição ortográfica da terminologia das atividades e por fim,

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foi realizada uma análise morfológico, tendo sido apresentados aspectos morfológicos dos termos do vocabulário, que tiveram como referência os trabalhos de Araújo (1989) e Ferreira (2003).

RESULTADOS

Com base na metodologia adotada para a presente pesquisa, organizamos os resultados em três tópicos: i. Descrição das atividades tradicionais Parkatêjê; ii. Lista terminológica das atividades tradicionais; iii. Aspectos morfológicos da terminologia das atividades tradicionais em Parkatêjê. No primeiro deles descrevemos de forma resumida as atividades tradicionais aqui tratadas. É válido ressaltar que nos resultados parciais apresentados no primeiro semestre da pesquisa as atividades foram descritas de forma integral, dessa forma o tópico mais aprofundado nesta fase final será a análise morfológica da terminologia, a fim de que se alcance o objetivo geral proposto. Por sua vez, o segundo tópico apresenta a lista terminológica das atividades tradicionais na língua indígena Parkatêjê. Por fim o último tópico trata dos principais aspectos morfológicos subjacentes à terminologia específica com base nos trabalhos de Araújo (1977, 1989 e outros) e Ferreira (2003 e 2005).

i. Descrição das atividades tradicionais Parkatêjê

As festas anuais, a corrida com tora, o jogo de flecha e o jogo da peteca são atividades comuns aos Parkatêjê e foram estudadas durante trabalho de campo com gravações de áudio e vídeo no contexto real da prática entre os participantes das atividades.

No que diz respeito ao universo das festas anuais, as duas principais festas tradicionais do Parkatêjê são obrigatórias e estão divididas em dois grupos - o primeiro é formado pelas metades rituais1 Arara e Gavião; o segundo é formado pelas metades do Peixe, da Arraia e da Lontra, ao todo somam 5 “times”. No final dessas duas festas, iniciam as brincadeiras do

1 De acordo com Melatti (1976), as metades rituais são como grupos ou “times” que disputam, de certa

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wakmẽre, do hapynãre, krowajõjõnõre e kôkôire.O wakmẽre é conhecido também como a festa do cipó kupa; hapynãre, quando é tempo de a tora ser caçada/buscada por uma única pessoa; krowajõjõnõre é realizada somente pelos namorados e, por fim, o kôkôire que é a festa na qual se apresenta o

krixwỳ patantuwa, ou seja, nessa festa são apresentados os amigos formais ‘de

brincadeira’, de faz-de-conta.

Tendo conhecimento do local em que a tora preparada foi deixada, a corrida de tora inicia quando os indígenas correm, em dois grupos, para busca-la. Lá os grupos ajudam a levantar a tora que será levada por apenas um dos corredores em direção ao centro do pátio da aldeia, local em que o vencedor deverá lançá-la. Antes disso no decorrer da atividade, os companheiros de grupo estão sempre atentos ao momento de revezamento da tora em que se a passa de ombro a ombro sem a interrupção da corrida e de maneira muito rápida. No pátio da aldeia, as mulheres esperam os corredores com baldes de água fria para lançarem sobre eles como forma de refrescar-lhes e aliviar-lhes o cansaço físico.

O jogo de arco e flecha é um dos mais praticados pelos Parkatêjê, visto que a atividade é realizada o ano todo; em dias inteiros aos finais de semana e feriados, com pequenas pausas individuais durante o decorrer do seu desenvolvimento. O acampamento do povo Parkatêjê é o espaço reservado para a realização de diversas e diferentes atividades tradicionais, dentre as quais o arco e flecha, que assim como a corrida de tora, também é praticado por mulheres adultas em grupos definidos - mulheres jogam flecha e correm tora somente com outras mulheres.

Antes do início dos certames, os indígenas preparam suas flechas com urucum e protegem seus dedos e punhos, enrolando-os em tiras finas de embira, pois quando o fio do arco retrocede, após o disparo, os punhos são atingidos por ele e frequentemente são machucados com a repetição dos lançamentos de flechas. Durante o início de uma partida, de um ponto inicial, vários índios podem jogar ao mesmo tempo, cada um com suas 5 flechas que são marcadas com tinta ou com fios coloridos para não se confundirem às outras dos companheiros de jogo. As flechas são lançadas, uma a uma, em direção ao um espaço reservado, no qual, algumas vezes, há um tronco de

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bananeira pendurado pelos indígenas, o qual possui a função de alvo, a cerca de 30 a 50 metros do ponto inicial. O objetivo é acertar o máximo de flechas possíveis no tronco, pois aquele que acerta o alvo, ganha novas flechas, oriundas justamente daquele que erra e, portanto, cede as suas para o jogador vencedor.

O jogo da peteca, de uma forma geral, é considerado uma brincadeira essencialmente particular do universo das crianças indígenas, que foi incorporado pela cultura lúdica brasileira. Em Parkatêjê, a brincadeira da peteca começa em fevereiro na festa do milho verde. Nesse período, a peteca é confeccionada pelos índios com materiais provenientes do milho verde. Segundo o chefe da comunidade, apenas os homens podem fabricar e jogar a peteca. Então podemos dizer que entre as brincadeiras acima descritas, essa é a única que apresenta caráter exclusivamente masculino. A peteca possui um período delimitado para sua fabricação, em função do tempo de colheita do milho verde.

ii. Lista terminológica das atividades tradicionais:

Neste tópico é apresentada a lista com os termos coletados em trabalho de campo na comunidade indígena Parkatêjê. Primeiramente os termos foram transcritos foneticamente. Logo após a transcrição e confirmação, os termos foram passados para a ortografia da língua Parkatêjê consolidada pela professora Leopoldina Araújo, em (1974).

A lista terminológica das atividades tradicionais em Parkatêjê está organizada em seis subcampos semânticos (alegorias; espaço físico; etapas e processos; elementos humanos; partes e componentes e instrumentos e peças). Os subcampos semânticos foram sistematizados com o intuito de facilitar o encontro de possíveis particularidades morfológicas em subcampos específicos da terminologia.

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Lista 01:

TERMINOLOGIA DAS ATIVIDADES TRADICIONAIS

SUBCAMPOS SEMÂNTICOS TERMO TRADUÇÃO ALEGORIAS (FESTAS ANUAIS) Hàk Kôkôire Pàn rop krã Têre Tep Xêxêtêre ‘Gavião’ ‘Macaco’ ‘Arara’ ‘cabeça da onça’ ‘Lontra’ ‘Peixe’ ‘ Arraia’ ESPAÇO FÍSICO krĩ pry pry kairirirare ‘aldeia’ ‘caminho’ ‘caminho reto’ ETAPAS E PROCESSOS aiho airõ apiê hakre hikwy hipro hitep hõkrepoy hyr kre kato ko

‘pintar com jenipapo’ ‘enrolar’ ‘puxar’ ‘ultrapassar’ ‘flechar’ ‘fazer’ ‘cortar’ ‘cantar’ ‘furar’ ‘furar’ ‘chegar’ ‘molhar’

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kru mẽn têk1 pà pẽp pre prõt ta to jakre jikwy jipro jitep xi ‘brincar’ ‘derrubar’ ‘jogar’ ‘carregar’ ‘ritual de iniciação’ ‘amarrar’ ‘correr’ ‘cortar’ ‘dançar’ ‘ultrapassar’ ‘flechar’ ‘fazer’ ‘cortar’ ‘preparar’ ELEMENTOS HUMANOS apendoxa ikwỳ krowajitepkatê têk2 têkpeikatê mẽprêkre mprar mprar pê mprar mã mpy ntia ‘adversário’ ‘companheiro’ ‘cortador da tora’ ‘jogador’ ‘campeão’ ‘os mais velhos’ ‘corredor’ ‘corredor antigo’ ‘corredor atual’ ‘homem’ ‘mulher’ PARTES, COMPONENTES, ESPECIFICAÇÕES E MEDIDAS ara haratẽk hõrõti hõtĩti kai ‘pena’ ‘tipo de pintura’ ‘embira’ ‘pesado’ ‘cesta’

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kaprêk kô kõkõn kraxê krowa xykatyire õmti jõru parkre pôruti põhy tetet pỳthi py tyk tõn ‘vermelho’ ‘água’ ‘cabaça’

‘adorno para cabeça’ ‘pau para fazer flecha’ ‘corda do arco’ ‘casca da arvore’ ‘jenipapo’ ‘milho verde’ ‘ponta da flecha’ ‘urucum’ ‘preto’ ‘cera’ INSTRUMENTOS E PEÇAS aprỳkrã himpei hõhĩ krãkupu krôxwa krowa krowapejre krowajõjõnõre kruwa kuwê kuwêti kuwêre kỳi parpỳpxỳ têkxà watu ‘peteca’

‘flecha com osso’ ‘buzina’ ‘flecha amarrada’ ‘dente do porco’ ‘tora’ ‘tora principal’ ‘tora do palmito’ ‘flecha’ ‘arco’ ‘arco grande’ ‘arco pequeno’ ‘faca’ ‘pé de bananeira’ ‘flecha para brincar’ ‘flecha sem osso’

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iii. Aspectos morfológicos dos termos das atividades tradicionais em Parkatêjê

O tópico em questão tem o objetivo de apresentar os principais aspectos morfológicos da terminologia das atividades tradicionais na língua indígena Parkatêjê e para alcançar este objetivo nos resultados aqui tratados apresentaremos primeiramente os principais pontos concernentes aos pressupostos teóricos estudados. Em seguida serão apresentados em quadros os aspectos morfológicos da terminologia. Nesses quadros são organizados e explicados os principais processos referentes à morfologia, os quais são comuns ao Parkatêjê, bem como serão realizadas as análises morfológicas dos termos que exemplificam a ocorrência desses processos na terminologia pesquisada.

A língua Parkatêjê, de acordo com Araújo (1989), apresenta morfologia simples, os nomes podem ser constituídos apenas de uma base nominal e de bases acrescidas ou não de afixos, por exemplo, temos na língua Parkatêjê o termo kok ‘vento’ apenas uma base nominal e em aprỳkrã ‘peteca’ temos duas bases nominais.

De modo geral, o processo de formação de palavras mais produtivo no Parkatêjê é a composição, na qual ocorre a junção de uma base a outra para formar uma palavra. “Assim, dizemos que uma palavra é composta sempre que esta apresenta duas bases” Basílio (1987, p.29). O processo de derivação, no qual a palavra é constituída de uma base e afixo, também é ocorrente nesta terminologia.

Segundo Ferreira (2005), as características principais de ordem morfológica dos nomes na língua Parkatêjê podem ser organizadas a partir dos principais pontos:

i. a categoria de posse dos nomes: nomes possuíveis e nomes não- possuíveis; de modo que, os nomes possuíveis, ainda se dividem em nomes alienavelmente possuídos e inalienavelmente possuídos;

ii. os sufixos derivacionais -re e -ti;

iii. os nomes cujo referente é [+ humano] podem ocorrer com o formativo mẽ, que indica plural;

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iv. nomes não flexionados para gênero; v. nomes marcados pela categoria de caso;

vi. raízes nominais podem ser derivadas a partir de itens de outras classes de palavras;

vii. raízes verbais podem ser nominalizadas através do acréscimo de formativo kate.

A partir dos principais elementos de caráter morfológicos apontados por Ferreira (2005), pudemos encontrar alguns desses aspectos na formação de palavras do vocabulário de atividades tradicionais Parkatêjê nos quadros abaixo:

Quadro 1- Categorias de posse.

i. CATEGORIAS DE POSSE Alienavelmente possuídos (objetos da cultura material) (1) kruwa ‘flecha’ Piare j- õ kruwa NPr Rel- Pos- flecha ‘flecha do Piare’

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NOMES POSSUÍVEIS Inalienavelmente possuídos (partes de um todo) (2) ropkrã ‘ cabeça da onça’ rop ø- krã onça Rel- cabeça

(3) krôxwa ‘dente do porco’

krô ø- xwa porco Rel- dente

(4) aprỳkrã ‘peteca’

aprỳ ø- krã palha Rel- cabeça

NOMES NÃO- POSSUÍVEIS (nomes de

pessoas, nomes de planta)

_

Quadro 2- Formação de palavras por composição.

ii. COMPOSIÇÃO: BASE+ BASE

JUNÇÃO DE BASES NOMINAIS

(5) aprỳkrã ‘peteca’

aprỳ ø- krã palha Rel- cabeça

(14)

hi mpej osso bom

Quadro 3- Formação de palavras por derivação.

iii. DERIVAÇÃO: BASE + AFIXO

1. OS SUFIXOS DERIVACIONAIS -re e –ti

SUFIXOS DERIVACIONAIS -re e -ti (diminutivo e aumentativo, respectivamente)

(7) kuwêti ‘arco grande’

kuwê -ti arco grande

(8) kuwêre ‘arco pequeno’

kuwê -re arco pequeno

2. OS SUFIXOS DERIVACIONAIS -xỳ (instrumentalizador) e -katê (agentivo)

-xỳ (instrumentalizador) (9) parpỳpxỳ ‘pé de banana’ par pỳp -xỳ pau banana (10) têkxỳ ‘flecha para brincar’ têk -xỳ jogar

(15)

têk (m)pej -katê

jogador bom corajoso

(12) krowajitepkatê ‘cortador’

krowa j-itep katê tora Rel- cortar corajoso

Quadro 4- Prefixos relacionais com os verbos.

iv. PREFIXOS RELACIONAIS COM VERBOS

CLASSE A CLASSE B

So; Sio e O Especificados So; Sio e O indefinidos

So; Sio e O expressos

na locução verbal

So; Sio e O deslocados de

sua posição original

ʒ- y- ʧ-

ø-

h-

ø-

h-

ø-

Referência a um So; Sio e O expressos dentro da locução verbal em relação sintagmática com o núcleo. Referência a um So; Sio e O conhecidos pelo contexto ou deslocados

para fora da locução verbal.

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Nesta terminologia, mais particularmente no subcampo semântico referente a etapas e processos das atividades, os prefixos relacionais ocorrem em verbos transitivos, tais como:

(13) h-itep ‘cortar’ (14) ʒ-itep ‘cortar’

(15) h-ipro ‘fazer’ (flecha) (16) ʒ-ipro ‘fazer’ (flecha)

(17) h-akre ‘ultrapassar o outro corredor’ (18) ʒ-akre ‘ultrapassar o outro corredor’

Há também a ocorrência do prefixo relacional da classe A em palavras compostas:

(19) krowajitepkatê ‘cortador de tora’

krowa j-itep katê tora Rel- cortar corajoso

Quadro 5- A ocorrência de termo genérico e termos específicos no

campo semântico do jogo de flecha.

v. TERMO GENÉRICO E TERMOS ESPECÍFICOS.

TERMO GENÉRICO

(17)

kruwa

flecha

(20 ) himpei ‘flecha com osso’ lit.osso bom

(21) krãkupu ‘tipo de flecha que possui a ponta

amarrada’

lit.cabeça embrulhada

(22) têkxà ‘flecha para brincar’

(23) watu ‘flecha sem osso’

CONCLUSÃO

De acordo com os procedimentos metodológicos aplicados para a descrição das atividades tradicionais e estudo dos aspectos morfológicos do vocabulário da corrida de tora, do jogo de flecha, festas anuais e jogo de peteca Parkatêjê, pudemos concluir nesta fase final da pesquisa que:

i. O vocabulário das atividades tradicionais pode ser sistematizado de acordo com o seu campo semântico, no qual cada termo específico é pertencente, de modo que essa sistematização favoreça um melhor entendimento e funcionalidade. Isto é, no campo semântico do vocabulário que concerne aos instrumentos e peças, teremos uma presença maior de palavras formadas por derivação e composição, visto que, em tal campo as palavras possuem mais especificações.

ii. Em relação às expressões de posse, verificaram-se ocorrências de nomes alienavelmente possuídos e inalienavelmente possuídos, de modo que nessas subclasses de posse estão presentes, respectivamente, objetos da cultura material e partes de um todo. Na subclasse dos nomes não-possuíveis, não foram encontrados registros, pois nessa categoria de nomes encontram-se elementos ligados a nomes de pessoas, nomes de planta e fenômenos da natureza em geral.

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iii. Os termos das atividades tradicionais do Parkatêjê apresentam formação de palavras por composição e derivação, de acordo com as teses de Araújo (1989) e Ferreira (2005).

iv. A terminologia também apresentou a ocorrência de prefixos relacionais das classes A e B em verbos transitivos como cortar, fazer e ultrapassar. Constatou-se também a presença de termo genérico e termos específicos no subcampo de instrumentos e peças, mais particularmente ao termo kruwa ‘flecha’, o qual não ocorre nas formações de palavras referentes aos tipos de flecha utilizados no jogo.

Desta forma, os resultados finais obtidos são validados na medida em que são comparados com os aspectos morfológicos gerais apresentados por Araújo (1977, 1989 e outros) e Ferreira (2003 e 2005), visto que eles confirmam a descrição já realizada.

PUBLICAÇÕES

Durante o primeiro e o segundo semestres de execução do atual plano de trabalho, foram possíveis as apresentações de dois trabalhos e uma publicação em capítulo de livro intitulada “Aspectos fonético-fonológicos e lexicais do Kyikatêjê” (Livro: Descrição e ensino de línguas; Editora Pontes e ISBN de número 978-85-7113-592-5). No que tange às apresentações de trabalho, a primeira foi apresentada na Universidade Federal do Pará (UFPA) e a segunda na Universidade Federal de Londrina (UEL), os quais seguem abaixo:

Resumo do trabalho que será apresentado no XXV Seminário de Iniciação Científica da UFPA, realizado no dia 9-19 de setembro de 2015.

Autor(es): Luciana Renata dos Santos VIEIRA (Bolsista PIBIC/CNPq) -lucianarenata@live.com

Curso de Letras, Faculdade de Letras, Instituto de Letras e Comunicação.

Profa Dra Marília de Nazaré de Oliveira FERREIRA (Orientadora) – marilia@ufpa.br Curso de Letras, Faculdade de Letras, Instituto de Letras e Comunicação.

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A presente pesquisa tem como principal objetivo descrever as principais atividades culturais do povo Parkatêjê e a partir disso, analisar a composição dos termos referentes a essas práticas tradicionais desenvolvidas na comunidade indígena e a partir disso contribuir significativamente para a pesquisa científica no estudo, análise e documentação da língua Parkatêjê, bem como das línguas Jê da região setentrional do país. O suporte metodológico utilizado para o desenvolvimento dessa pesquisa abrange os seguintes passos: primeiramente foi realizada uma pesquisa bibliográfica, a qual compreende os trabalhos de Linguística Descritiva e pesquisas antropológicas, respectivamente os trabalhos de Araújo (1977, 1989 e outros), Ferreira (2003 e 2005) e Melatti (1978); também foi realizada viagem de campo para a coleta de dados linguísticos e um melhor conhecimento da cultura tradicional do povo Parkatêjê; após essa etapa fundamental pudemos organizar os dados e analisá-los do ponto de vista morfológico. Com base na metodologia adotada, verificou-se que: a prática das atividades tradicionais apontam três possíveis funções; termos genéricos e específicos ocorrem com flechas e toras do vocabulário de práticas tradicionais Parkatêjê e também que os esquemas morfológicos encontrados ( i. nome + restritivo; ii. nome + sufixo de tamanho re e -ti; iii. nome + descritivo + sufixo de tamanho; iv. nome + descritivo; v. nome + descritivo + descritivo; vi. nome + sufixo agentivo - katê) evidenciam a soma de itens lexicais que também formam compostos com significado diferente da soma de seus constituintes. Dessa forma, a pesquisa de um vocabulário tradicional possibilita novos resultados, o registro histórico e a documentação linguística de um patrimônio legitimamente brasileiro.

Resumo do trabalho apresentado no III Congresso Internacional de Dialetologia e Sociolínguistica, realizado no dia 07, 08, 09 e 10 de outubro de 2014.

Autor(es): Luciana Renata dos Santos VIEIRA (Bolsista PIBIC/CNPq) -lucianarenata@live.com Curso de Letras, Faculdade de Letras, Instituto de Letras e Comunicação.

Cintía de Lima Neves (Doutoranda/UFPA) Curso de Letras, Faculdade de Letras, Instituto de Letras e Comunicação.

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Profa Dra Marília de Nazaré de Oliveira FERREIRA (Orientadora) – marilia@ufpa.br Curso de Letras, Faculdade de Letras, Instituto de Letras e Comunicação.

Terminologia do jogo de flecha em Parkatêjê

Este trabalho tem por objetivo constituir-se como parte integrante da elaboração de um glossário terminológico referente às principais atividades tradicionais em Parkatêjê; língua indígena Timbira, tronco linguístico Macro-jê, família jê. As atividades culturais, neste trabalho, mais precisamente, o jogo de flecha, são praticadas pela comunidade indígena Parkatêjê no município de Bom Jesus do Tocantins, km 30 da BR-222, próximo da cidade de Marabá. Para elaboração desta pesquisa, utilizamos narrativas orais, relatos, áudios, vídeos e fotografias envolvidos no jogo de arco e flecha, todos, materiais coletados na comunidade indígena durante trabalho de campo. Em Parkatêjê, a atividade se desenvolve da seguinte maneira: durante o início de uma partida de flecha, vários índios podem jogar ao mesmo tempo, cada um com suas 5 flechas que são marcadas por tinta ou fios coloridos para não se misturarem com as outras. As flechas são lançadas, uma a uma, em direção ao um espaço reservado, no qual está localizado um tronco de bananeira que possui a função de alvo. O objetivo é acertar o máximo de flechas possíveis no tronco, pois aquele que acerta ganha novas flechas e o que erra perde as suas para o outro jogador.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, Álvaro M. P. A história dos jogos e a constituição da cultura lúdica. Cascavel: UFPR, 2003.

ARAÚJO, Leopoldina M. S. Estruturas subjacentes de alguns tipos de frases declarativas afirmativas do Gavião- Jê. Dissertação de mestrado. Florianópolis: UFSC, 1997.

(21)

_________Aspectos da língua Gavião-Jê. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro: UFSC, 1989.

BASÍLIO, Margarida. Teoria lexical. Editora Ática: São Paulo, 1987.

CARONE, Flávia de Barros. Morfossintaxe. 9ª edição. Editora Parma: São Paulo, 2004.

DECLARAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE OS DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS. Rio de Janeiro: Unic; Cuiabá: Entrelinhas, 2009.

FERREIRA, Marília de Nazaré de Oliveira. Estudo Morfossintático da Língua Parkatêjê. Campinas: UNICAMP, 2003. (Tese de Doutorado).

KÔHÔKRENHŨM, Toprãmre. Mẽikwỳtekjê ri: Isto pertence ao meu povo. Marabá: Gknoronha, 2011.

MELLATI, Julio Cezar. “Corrida de toras”. Revista de Atualidade Indígena, Ano I, n1 1, pp.38-45, Brasília: FUNAI, 1976.

MELATTI, Júlio Cezar. Ritos de uma tribo Timbira. São Paulo: Ática, 1978. NIMUENDAJU, Curt. A corrida de toras entre os Timbira. Mana, v. 7, n. 2, p. 151-194.

ROSA, Maria Carlota. Introdução à morfologia. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2002.

DIFICULDADES

Nenhuma dificuldade encontrada.

PARECER DO ORIENTADOR

A discente LUCIANA RENATA DOS SANTOS VIEIRA realizou seu plano de trabalho a contento. Deste plano foi originado o Trabalho de Conclusão de Curso da discente, o qual intitula-se O LÉXICO DE DUAS ATIVIDADES

TRADICIONAIS DO POVO PARKATÊJÊ: UMA ABORDAGEM

ETNOLINGUÍSTICA, o qual deveria ter sido defendido em junho/2015, mas, em função da greve, o será tão logo as aulas retornem. A discente pretende submeter-se à seleção de mestrado assim que concluir sua graduação.

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ASSINATURA DO ORIENTADOR

____________________________________________ ASSINATURA DO ALUNO

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

FICHA DE AVALIAÇÃO DE RELATÓRIO DE BOLSA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

O AVALIADOR DEVE COMENTAR, DE FORMA RESUMIDA, OS SEGUINTES ASPECTOS DO RELATÓRIO:

1. O projeto vem se desenvolvendo segundo a proposta aprovada? Se

ocorreram mudanças significativas, elas foram justificadas?

2. A metodologia está de acordo com o Plano de Trabalho ?

3. Os resultados obtidos até o presente são relevantes e estão de acordo com

os objetivos propostos?

4. O plano de atividades originou publicações com a participação do bolsista?

Comentar sobre a qualidade e a quantidade da publicação. Caso não tenha sido gerada nenhuma, os resultados obtidos são recomendados para publicação? Em que tipo de veículo?

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6. Parecer Final:

Aprovado ( )

Aprovado com restrições ( ) (especificar se são mandatórias ou recomendações)

Reprovado ( )

7. Qualidade do relatório apresentado: (nota 0 a 5) _____________

Atribuir conceito ao relatório do bolsista considerando a proposta de plano, o desenvolvimento das atividades, os resultados obtidos e a apresentação do relatório.

Data : _____/____/_____. ________________________________________________

Referências

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