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CORUJA-DO-NABAL Asio flammeus (Pontoppidan, 1763)

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Academic year: 2021

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Ordem Strigiformes Família Strigidae

CORUJA-DO-NABAL

Asio flammeus (Pontoppidan, 1763)

de Sumpfohreule es Búho campestre en Short-eared Owl fr Hibou de marais it Gufo di palude

Catalão Mussol emigrant

Galego Curruxa das xunqueiras Basco Zingira-hontza

Texto de Hany Alonso (Biólogo) Fotografia: Faísca

DESCRIÇÃO

A Coruja-do-nabal é uma rapina nocturna de tamanho médio (37-39 cm) e o seu peso varia entre 260-420 g, sendo as fêmeas ligeiramente maiores e mais pesadas. Possui asas relativamente compridas e estreitas (envergadura de 95-110 cm) e cauda em forma de cunha, sendo esta de coloração clara e fortemente barrada de castanho escuro [1]. A plumagem do dorso e da parte superior das asas é castanha-amarelada pálida, riscada/sarapintada por manchas mais escuras. A parte inferior do corpo é mais clara (branca-amarelada), possuindo riscas escuras no pescoço e peito, não se estendendo até ao abdómen, como sucede com o Bufo-pequeno. O seu disco facial branco-amarelado claro, olhos amarelos (envoltos por uma mancha escura evidente) e “orelhas” curtas permitem distingui-la desta espécie, com a qual se assemelha. Em voo, a melhor característica para a sua identificação é o contraste existente, na parte inferior das asas, entre a articulação carpal e ponta das asas escuras e a coloração geral branca/amarelada [1,2].

DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA

Esta coruja ocorre em toda a região Holárctica e de forma descontínua na região Neotropical, existindo também em vários arquipélagos. No Paleártico Ocidental, a espécie nidifica no Norte da Europa e em populações fragmentadas do Centro e Sudeste europeu. É uma ave migradora (populações do Norte) ou parcialmente migradora e é dotada de um comportamento extremamente nómada. Uma pequena parte da população europeia atravessa o Sahara para passar o Inverno[1]. Em Portugal apenas estão presentes no Inverno, entre Setembro e

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Abril, sendo provenientes da Europa Central, ilhas Britânicas e Escandinávia [1,3]. Existem, no entanto, registos ocasionais de nidificação em Espanha [4,5,6].

Em Portugal, a Coruja-do-nabal ocorre em baixas densidades e a sua distribuição é bastante localizada. No total, a população invernante em Portugal deverá encontrar-se entre os 50 e os 250 indivíduos adultos [7]. Esta coruja está geralmente associada a importantes zonas húmidas costeiras como os estuários do Sado, Tejo e Mondego, as rias de Aveiro, Formosa e Alvor e as lagoas de Santo André, Albufeira e Mira mas, também ocorre em zonas do interior, como a Serra de Aire, Trás-os-Montes e Alentejo [3,7,8]. A sua distribuição e abundância são fortemente condicionadas pelas oscilações nas densidades das presas [1]. HABITAT

Espécie de áreas abertas e amplas, ocorrendo em áreas de tundra, charnecas, pastagens, sapais, pântanos, encostas com bosques jovens, dunas, ilhas costeiras e terrenos cultivados [1]. No Sudoeste europeu, como reprodutora, opta por biótopos essencialmente agrícolas, ocupando campos de cereais, campos de restolho, pousios, mosaicos de matos e bosque e vales com pastagens e juncais[9,10].

Os biótopos de caça, em Portugal, vão desde as lezírias com campos agrícolas e pastagens, às salinas, arrozais e margens de valas de enxugo ou irrigação, açudes, rios com vegetação ripícola (caniços e juncos), sapais, dunas cobertas por matos e montados abertos [3,7,8]. Os dormitórios ou áreas de repouso localizam-se em salinas e suas valas, matos costeiros, arrozais, pastagens e terrenos lavrados [3].

ALIMENTAÇÃO

Alimenta-se principalmente de roedores, tendo a subfamília Microtinae um papel importantíssimo na sua dieta. Pode, de forma oportunista, alimentar-se quase exclusivamente de uma única espécie em períodos que esta se revele abundante[1]. No Noroeste de Espanha, por exemplo, o rato-do-campo-comum

Microtus arvalis pode corresponder a 74 e 81 % da sua dieta (no Inverno e no

período reprodutor, respectivamente)[11]. No entanto, todo o tipo de micromamíferos (murídeos, musaranhos, etc), alguns mamíferos (ouriços, coelhos, morcegos, etc.), pequenas aves (Géneros Anthus, Turdus, entre outros), anfíbios e invertebrados, podem fazer parte da sua dieta [1].

No estuário do Sado, em Portugal, os roedores correspondem apenas a 55,8% da sua dieta, sendo os insectos (coleópteros) relativamente frequentes (34,2%) [3]. A substituição dos Microtinae por Murinae na dieta dos Strigiformes é frequente nos biótopos mediterrânicos, sendo que Tomé et al. [3] verificaram que entre os micromamíferos mais consumidos pela Coruja-do-nabal, está o rato-das-hortas Mus spretus (os Mus spp. correspondem a 40,7% do total de presas) enquanto que o rato-de-água Arvicola sapidus, o rato de Cabrera Microtus

cabrerae e a ratazana-castanha Rattus norvegicus têm alguma importância pela

biomassa relativamente elevada que representam (12,2% do total de presas). Já o musaranho-de-dentes-brancos-grande Crocidura russula e o rato-cego-mediterrânico Microtus duodecimcostatus contribuem de forma menor para a biomassa consumida por estas corujas (9,5% do total de presas).

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REPRODUÇÃO

A Coruja-do-nabal reproduz-se em terrenos abertos (ver Habitat) e a sua época reprodutora estende-se desde Maio até Agosto. A postura de 4-8 ovos é feita numa pequena depressão no solo (coberta com alguma vegetação) e os ovos são postos com uma diferença de 1-2 dias entre eles [1]. A fenologia reprodutora e o tamanho da postura está, no entanto, muito dependente da disponibilidade de alimento. Só as fêmeas se encarregam da incubação (24-29 dias), sendo que os machos trazem alimento às fêmeas durante esta fase. As crias podem abandonar o ninho aos 12-17 dias de idade, antes de serem capazes de voar, adquirindo plenas capacidades de voo à volta dos 35 dias de idade. O sucesso de eclosão ronda os 36%, enquanto que 27% das crias chegam efectivamente a voar [1].

Em Portugal, não se conhecem registos de nidificação. COMPORTAMENTO

É uma das rapinas nocturnas que possui maior actividade diurna, sendo bastante activa ao final da tarde [1]. No entanto, este comportamento diurno é mais observado durante o período de nidificação, sendo que nos locais de invernada, a sua actividade é essencialmente nocturna [3].

Caça em áreas abertas recorrendo a um voo ondulante alternando batidas de asas frequentes com voo planado lento, colocando as asas direccionadas para a frente, em V. O voo em passagem é potente e directo, com batidas de asas lentas e profundas [1,2]. Descansa no solo, entre ervas altas ou arbustos, ou no cimo de árvores.

Embora sejam geralmente solitárias, no Inverno é comum estas aves agregarem-se em grupos pouco numerosos nos locais de descanso [1,3]. A migração pode também ser efectuada em pequenos grupos, por vezes, juntamente com indivíduos de Bufo-pequeno [1].

O canto do macho é uma sucessão de pios profundos “uh-uh-uh-uh-uh-uh-uh-uh-uh” (6 a 20 notas). O chamamento da fêmea é um rouco “che-ef”. No Inverno, no entanto, o seu comportamento vocal é muito reduzido [1,2].

ESTATUTOS DE CONSERVAÇÃO

Em Portugal, a Coruja-do-nabal está classificada como espécie Em Perigo, devido à reduzida população existente no território [7]. Globalmente, o seu estatuto de ameaça é Pouco preocupante, embora na Europa tenha um estatuto de conservação desfavorável (SPEC 3) [12].

FACTORES DE AMEAÇA

Em Espanha, uma das principais causas de mortalidade da Coruja-do-nabal é o abate indiscriminado através do recurso a armas de fogo [13]. Também os atropelamentos e as electrocussões ou colisões com linhas eléctricas têm sido descritos como importantes factores de mortalidade [7,10,13]. Embora não haja dados para o território nacional no que diz respeito ao impacto destes factores, é provável que seja igualmente elevado para as aves que ocorrem em Portugal[7,12]. Outra causa de mortalidade, pouco estudada mas relevante nas zonas de

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matos [4,9,10]. O uso de rodenticidas também deverá ter um impacto negativo sobre a espécie (dada a sua ecologia trófica), embora não existam estudos acerca desta matéria [7,10].

A degradação e destruição das zonas húmidas são também um factor de ameaça que condiciona a ocorrência da coruja-do-nabal no nosso país [7]. O abandono da salinicultura e das actividades agrícolas tradicionais (orizicultura, agricultura e pastagens extensivas), o enxugo das áreas húmidas, a intensificação do recurso às monoculturas e a limpeza da vegetação existente nas valas e cursos de água têm contribuído para a degradação do habitat disponível. A expansão urbanística e turística nas zonas húmidas, por outro lado, não só reduzem as áreas disponíveis para alimentação e descanso, como aumentam os níveis perturbação nestas áreas [7,12].

MEDIDAS DE CONSERVAÇÃO

Entre as principais medidas de conservação a tomar estão [7,10,12,14]:

(a) Promover a manutenção de práticas agrícolas e pecuárias tradicionais e a gestão adequada do habitat (manutenção de salinas, conservação da vegetação dos canais de drenagem e irrigação e linhas de água, p.e.) nas zonas mais importantes de ocorrência da espécie.

(b) Restringir fortemente a expansão turística e urbana nas zonas húmidas e condicionar o acesso a áreas sensíveis (zonas de descanso, p.e.).

(c) Fiscalizar de forma eficiente a actividade cinegética e combater o abate ilegal promovendo campanhas de sensibilização ambiental em relação à conservação de aves de rapina, dirigida tanto a caçadores e produtores agrícolas como ao público em geral.

(d) Promover o estudo de monitorização do impacto das estradas e linhas eléctricas, implementar medidas minimizadoras e condicionar a expansão destas vias nas áreas mais sensíveis.

(e) Sensibilizar os agricultores para a adopção de boas práticas agrícolas, nomeadamente no que se refere ao uso de químicos para o controlo de roedores e promover a investigação sobre métodos alternativos de controlo ou de protecção das culturas agrícolas e florestais.

(f) Promover a realização de censos, que permitam melhores aproximações aos efectivos populacionais e de estudos acerca da biologia da Coruja-do-nabal, nomeadamente acerca da sua ecologia trófica, selecção de habitat e seguimento dos movimentos de indivíduos.

REFERÊNCIAS

[1] Cramp S (ed.) 1985. Handbook of the Birds of Europe, the Middle East and North Africa, (Terns to Woodpeckers). Vol. IV. Oxford University Press, Oxford.

[2] Svensson L, Grant PJ, Mullarney K and Zetterström D 2003. Guia de aves – Guia de campo das aves de Portugal e Europa. Assírio & Alvim. Lisboa.

[3] Tomé R, Catry P, Costa H 1992. A invernada da Coruja-do-nabal Asio flammeus nos distritos de Lisboa e Setúbal. Actas da 1ª Conferência Nacional sobre Aves de Rapina. Parque Biológico Municipal. Vila Nova de Gaia.

[4] De Juana E 1994. Noticiario Ornitologico. Ardeola 41:91-102.

[5] De la Puente J 1997. Noticiário Ornitologico 1997. Ardeola 44:243-261. [6] De la Puente J 1999. Noticiario Ornitologico 1999 (2). Ardeola 46:305-314.

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[7] Cabral MJ (coord.), Almeida J, Almeida PR, Dellinger T, Ferrand de Almeida N, Oliveira ME, Palmeirim JM, Queiroz AI, Rogado L & Santos-Reis M (eds.) 2006. Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. Instituto da Conservação da Natureza, Lisboa. [8] Elias GL, Reino LM, Silva T, Tomé R & Geraldes P (coords.) 1998. Atlas das Aves

Invernantes do Baixo Alentejo. Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves. Lisboa. [9] Arroyo BE, Bretagnolle V 1999. Breeding biology of the Short-eared Owl (Asio

flammeus) in agricultural habitats of southwestern France. J Raptor Res 33:287-294. [10] Madroño A, González C & Atienza JC (eds.) 2004. Libro Rojo de las aves de España.

Dirección General de Conservación de la Naturaleza, Ministerio de Medio Ambiente/Sociedad Española de Ornitología /BirdLife, Madrid.

[11] Sanz TS 2001. El Búho Campestre en la Província de Léon. Argutorio 6:20-21.

[12] Instituto da Conservação da Natureza 2006. Plano Sectorial da Rede Natura. ICN, Lisboa.

[13] Fajardo I, Pividal V, Ceballos W 1994. Cause of mortality of the Short-eared Owl Asio flammeus in Spain. Ardeola 41:129-134.

[14] De la Concha I, Hernáez C, Pinilla J 2006.Medidas beneficiosas para las aves, financiables através del nuevo reglamento de desarrollo rural - Sugerencias para su diseño y aplicación en Natura 2000. SEO/Birdlife, Madrid.

Citação recomendada: Alonso, H. 2011. Coruja-do-nabal Asio flammeus. Grupo de

Trabalho sobre Aves Nocturnas. Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves. http://www.spea.pt/pt/participar/grupos-de-trabalho/aves-nocturnas/

Referências

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