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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.634.693 - RS (2016/0206294-3)

RELATOR : MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES

RECORRENTE : COOPERATIVA SUL RIO GRANDENSE DE LATICINIOS LTDA

ADVOGADO : LISIANI CALVANO PEREIRA E OUTRO(S) - RS045742

RECORRIDO : FAZENDA NACIONAL

EMENTA

RECURSO INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DO CPC/2015. ENUNCIADO ADMINISTRATIVO STJ N. 3. PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. IMPOSSIBILIDADE DE CONHECIMENTO DO ESPECIAL PELO ART. 105, III, ALÍNEA "C" DA CF/88. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DO DISSÍDIO ENTRE JULGADOS QUE SE REFEREM À CONTRIBUIÇÃO AO INCRA E À CONTRIBUIÇÃO AO SAT. VIOLAÇÃO AO MANUAL DA CNI E A INSTRUÇÃO NORMATIVA. NORMAS QUE NÃO SE ENQUADRAM NO CONCEITO DE LEI FEDERAL. AFERIÇÃO DO ENQUADRAMENTO DA ATIVIDADE RURAL COMO RUDIMENTAR OU COMPLEXA E AVANÇADA. IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 7/STJ. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO DO ART. 112, DO CTN. SÚMULA N. 282/STF. CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS A TERCEIROS. INCRA. ART. 2º, DO DECRETO-LEI N. 1.146/70. ENQUADRAMENTO NA TABELA DE ALÍQUOTAS. CONCEITO DE "ATIVIDADE ECONÔMICA PREPONDERANTE " DA EMPRESA PARA AS CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS A TERCEIROS DO ART. 3º, DA LEI N. 11.457/2007. APLICAÇÃO DO ART. 581, §§1º E 2º, DA CLT. REGRA DE ENQUADRAMENTO ÚNICO PARA TODA A EMPRESA (MATRIZ E FILIAIS). INAPLICABILIDADE DA SÚMULA N. 351/STJ, CONSTRUÍDA PARA O SAT, QUE PERMITE A DIFERENCIAÇÃO PELO CNPJ.

1. Impossível conhecer do especial pelo dissídio, haja vista a ausência de cotejo analítico entre o acórdão recorrido e os arestos paradigmas, conforme o exige o disposto no art. 255, § 1º, do RISTJ. Outrossim, não há similitude fática entre os julgados indicados, uma vez que o presente caso trata da contribuição devida ao INCRA, e os julgados paradigmas tratam da contribuição ao SAT.

2. A discussão sobre o exclusivo enquadramento das atividades eminentemente rurais e rudimentares no art. 2º, II, do Decreto-Lei nº 1.146/70, foi arguida pela recorrente com base no Manual da CNI sobre a tributação de estabelecimentos industriais, na IN-RFB nº 836/2008, e no Decreto nº 83.081/1979, normas que, além de não terem sido objeto de prequestionamento (incidência da Súmula nº 282 do STF), não se enquadram no conceito de lei federal e, além disso, qualquer conclusão sobre o tema somente teria utilidade para o processo se houvesse a possibilidade de alterar o enquadramento das atividades da empresa de rudimentares para complexas e avançadas, o que não é possível dada a incidência da Súmula n. 7/STJ.

3. O art. 112 do CTN também não foi enfrentado pelo acórdão recorrido, impossibilitando o conhecimento do recurso especial em relação a ele por ausência de prequestionamento (Súmula nº 282 do STF).

4. O art. 2º, II, do Decreto-Lei nº 1.146/70 dispõe expressa e especificamente que a cooperativa que exerça atividade de indústria de laticínios está sujeita à contribuição devida ao INCRA à alíquota de 2,5% sobre a folha mensal dos

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salários de contribuição previdenciária de seus empregados pessoas naturais e jurídicas, não havendo, em regra, permissão para a diferenciação de alíquotas por estabelecimento ou CNPJ do contribuinte, ou seja, a alíquota e a base de cálculo da contribuição são uma só para toda a pessoa jurídica, de acordo com a "atividade econômica preponderante" desenvolvida (art. 581, §§1º e 2º, da CLT).

5. O conceito de "atividade preponderante" utilizado para as contribuições devidas a terceiros previstas no art. 3º, da Lei n. 11.457/2007, como a do INCRA, difere do conceito utilizado para a contribuição ao SAT. A definição de "atividade preponderante" utilizada para o SAT está relacionada ao número de segurados empregados e trabalhadores avulsos que desempenham cada atividade submetida a risco e não com a atividade econômica desenvolvida, ou o objetivo final da atividade empresarial, este utilizado como parâmetro para o conceito de "atividade preponderante" das contribuições devidas a terceiros. Tal afasta a incidência da Súmula nº 351 do STJ: "A alíquota de contribuição para o Seguro

de Acidente do Trabalho (SAT) é aferida pelo grau de risco desenvolvido em cada empresa, individualizada pelo seu CNPJ, ou pelo grau de risco da atividade preponderante quando houver apenas um registro ".

6. Assim, regra geral, a diferenciação de alíquotas em razão da individualização de estabelecimentos por CNPJ próprio entre a matriz e a filial da empresa não se aplica em relação às contribuições devidas a terceiros previstas no art. 3º, da Lei n. 11.457/2007, como a do INCRA.

7. No caso em tela, o escritório da cooperativa que exerce atividade industrial de laticínios, a despeito da existência de CNPJ próprio, dela não se separa, ao contrário, o escritório filial existe em função da matriz industrial, consubstanciando com ela uma única pessoa jurídica e com objetivo único (art. 581, §§1º e 2º, da CLT).

8. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos esses autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da SEGUNDA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas, o seguinte resultado de julgamento:

"A Turma, por unanimidade, conheceu em parte do recurso e, nessa parte, negou-lhe provimento, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)."

A Sra. Ministra Assusete Magalhães (Presidente), os Srs. Ministros Francisco Falcão e Og Fernandes votaram com o Sr. Ministro Relator.

Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Herman Benjamin. Brasília (DF), 22 de novembro de 2016

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.634.693 - RS (2016/0206294-3) RELATOR : MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES

RECORRENTE : COOPERATIVA SUL RIO GRANDENSE DE LATICINIOS LTDA

ADVOGADO : LISIANI CALVANO PEREIRA E OUTRO(S) - RS045742

RECORRIDO : FAZENDA NACIONAL

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES (Relator): Cuida-se de recurso especial manejado por COOPERATIVA SUL RIO GRANDENSE DE LATICINIOS LTDA, com fundamento nas alíneas "a" e "c" do permissivo constitucional, contra acórdão proferido pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região que, por unanimidade, deu provimento ao apelo da União e à remessa oficial, resumido da seguinte forma (e-STJ fls. 356/365):

TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO DESTINADA AO INCRA.

CONSTITUCIONALIDADE. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ARTIGO 149, § 2º, III, DA CF, INCLUÍDO PELA EC Nº 33. CONTRIBUIÇÃO DE INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO. LEGITIMIDADE DA EXIGÊNCIA. ENQUADRAMENTO. COOPERATIVA RURAL. SEM DIFERENCIAÇÃO DE ALÍQUOTA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.

1. A contribuição destinada ao INCRA, qualifica-se como contribuição interventiva no domínio econômico e social, encontrando sua fonte de legitimidade no art. 149 da Constituição de 1988, podendo ser validamente exigida das empresas comerciais ou industriais.

2. A Emenda Constituição nº 33/2001 apenas estabeleceu fatos econômicos que estão a salvo de tributação, por força de imunidade, e, por outro lado, fatos econômicos passíveis de tributação, quanto à instituição de contribuições sociais e contribuições de intervenção no domínio econômico.

3. Não há violação ao artigo 149, § 2º, III, da CF, incluído pela EC nº 33, de 2001, uma vez que as bases econômicos ali arroladas são apenas exemplos de fatos econômicos passíveis de tributação pelas contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico.

4. Mostra-se legítima a cobrança da contribuição ao INCRA, mesmo após a vigência da EC nº 33, 2001.

5. Em relação ao enquadramento da Indústria de Leite, CNPJ n. 87.455.432/0002-56, é correta a decisão do juízo singular, posto que não existe fundamento legal para a utilização do código FPAS 507, que diz respeito a outras atividades industriais.

6. Está correto o enquadramento da autora (FPAS 795), devendo ser paga contribuição para o INCRA por todas as empresas, na alíquota de 2,5% sobre a folha de salários, em relação a todos os empregados da empresa, uma vez que não há diferenciação entre os setores.

7. Por conseqüência, é válido o lançamento fiscal de cobrança de diferenças de INCRA exigidas dos estabelecimentos 87.455.432/0001-75 (escritório) e 87.455.432/0002-56 (indústria de leite).

8. Em face da modificação da decisão, condena-se a autora no pagamento de custas processuais e dos honorários advocatícios, arbitrados em R$ 20.000,00, ex

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vi do art. 20, § § 3º e 4º do CPC.

Nas razões recursais a recorrente alega divergência interpretativa e ofensa ao art. 2º, II, do Decreto-Lei nº 1.146/70. Entende que o enquadramento para efeito de se atribuir as alíquotas de contribuição ao INCRA deve ser feito por estabelecimento e individualmente para cada CNPJ, não havendo que ser global para toda a empresa. Sustenta que o referido art. 2º, II, do Decreto-Lei nº 1.146/70, estabelece a alíquota de 2,5% de contribuição ao INCRA apenas para as atividades eminentemente rurais e rudimentares, o que não é o caso de todos os seus estabelecimentos, notadamente seu escritório administrativo e sua indústria de laticínios. Afirma que estes dois últimos devem ser destacados pois, além de possuírem CNPJ próprio, a indústria de laticínios envolve técnicas avançadas e complexas em seu processo industrial, que altera a natureza do produto. Busca amparo na orientação prevista no Manual da Confederação Nacional da Indústria - CNI sobre tributação de estabelecimentos industriais, na Instrução Normativa RFB nº 836/2008, e no Decreto nº 83.081/79. Colaciona como paradigmas vários julgados do STJ relativos à contribuição devida ao SAT, como por exemplo o EAg Nº 572.486/MA, Rel. Min. Humberto Martins, Primeira Seção, DJ 7.2.2007, e o REsp nº 938.547/PR, Rel. Min. Francisco Falcão, DJ 2.8.2007. Assevera que, na dúvida sobre a legislação aplicável, deve ser adotado critério que menos prejudique o contribuinte, nos termos do art. 112 do CTN, de modo que o enquadramento da indústria de leite deveria ser feito com o código FPAS 507 de tributação menor, em lugar do código FPAS 795, que diz respeito tão somente a atividades industriais de beneficiamento de produtos agrícolas em caráter rudimentar. Requer o conhecimento e o provimento do recurso especial para que seja anulado do Auto de Lançamento Fiscal, eis que o enquadramento fiscal deve observar as atividades realizadas em cada CNPJ distinto da autora, e ainda porque as atividades dos 2 estabelecimentos ESCRITÓRIO e INDÚSTRIA DE LEITE, não se enquadram na descrição contida no art. 2º, do Decreto-lei nº 1.146/70 (e-STJ fls. 389/407).

Contrarrazões às e-STJ fls. 449-452.

Recurso extraordinário interposto e sobrestado na origem (e-STJ fls. 455).

Os autos subiram a esta Corte por força de agravo em recurso especial, o qual foi convertido em recurso especial (decisão de e-STJ fls. 485).

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É o relatório.

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.634.693 - RS (2016/0206294-3) EMENTA

RECURSO INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DO CPC/2015. ENUNCIADO ADMINISTRATIVO STJ N. 3. PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. IMPOSSIBILIDADE DE CONHECIMENTO DO ESPECIAL PELO ART. 105, III, ALÍNEA "C" DA CF/88. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DO DISSÍDIO ENTRE JULGADOS QUE SE REFEREM À CONTRIBUIÇÃO AO INCRA E À CONTRIBUIÇÃO AO SAT. VIOLAÇÃO AO MANUAL DA CNI E A INSTRUÇÃO NORMATIVA. NORMAS QUE NÃO SE ENQUADRAM NO CONCEITO DE LEI FEDERAL. AFERIÇÃO DO ENQUADRAMENTO DA ATIVIDADE RURAL COMO RUDIMENTAR OU COMPLEXA E AVANÇADA. IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 7/STJ. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO DO ART. 112, DO CTN. SÚMULA N. 282/STF. CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS A TERCEIROS. INCRA. ART. 2º, DO DECRETO-LEI N. 1.146/70. ENQUADRAMENTO NA TABELA DE ALÍQUOTAS. CONCEITO DE "ATIVIDADE ECONÔMICA PREPONDERANTE " DA EMPRESA PARA AS CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS A TERCEIROS DO ART. 3º, DA LEI N. 11.457/2007. APLICAÇÃO DO ART. 581, §§1º E 2º, DA CLT. REGRA DE ENQUADRAMENTO ÚNICO PARA TODA A EMPRESA (MATRIZ E FILIAIS). INAPLICABILIDADE DA SÚMULA N. 351/STJ, CONSTRUÍDA PARA O SAT, QUE PERMITE A DIFERENCIAÇÃO PELO CNPJ.

1. Impossível conhecer do especial pelo dissídio, haja vista a ausência de cotejo analítico entre o acórdão recorrido e os arestos paradigmas, conforme o exige o disposto no art. 255, § 1º, do RISTJ. Outrossim, não há similitude fática entre os julgados indicados, uma vez que o presente caso trata da contribuição devida ao INCRA, e os julgados paradigmas tratam da contribuição ao SAT.

2. A discussão sobre o exclusivo enquadramento das atividades eminentemente rurais e rudimentares no art. 2º, II, do Decreto-Lei nº 1.146/70, foi arguida pela recorrente com base no Manual da CNI sobre a tributação de estabelecimentos industriais, na IN-RFB nº 836/2008, e no Decreto nº 83.081/1979, normas que, além de não terem sido objeto de prequestionamento (incidência da Súmula nº 282 do STF), não se enquadram no conceito de lei federal e, além disso, qualquer conclusão sobre o tema somente teria utilidade para o processo se houvesse a possibilidade de alterar o enquadramento das atividades da empresa de rudimentares para complexas e avançadas, o que não é possível dada a incidência da Súmula n. 7/STJ.

3. O art. 112 do CTN também não foi enfrentado pelo acórdão recorrido, impossibilitando o conhecimento do recurso especial em relação a ele por ausência de prequestionamento (Súmula nº 282 do STF).

4. O art. 2º, II, do Decreto-Lei nº 1.146/70 dispõe expressa e especificamente que a cooperativa que exerça atividade de indústria de laticínios está sujeita à contribuição devida ao INCRA à alíquota de 2,5% sobre a folha mensal dos salários de contribuição previdenciária de seus empregados pessoas naturais e jurídicas, não havendo, em regra, permissão para a diferenciação de alíquotas por estabelecimento ou CNPJ do contribuinte, ou seja, a alíquota e a base de cálculo da contribuição são uma só para toda a pessoa jurídica, de acordo com a "atividade econômica preponderante" desenvolvida (art. 581, §§1º e

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2º, da CLT).

5. O conceito de "atividade preponderante" utilizado para as contribuições devidas a terceiros previstas no art. 3º, da Lei n. 11.457/2007, como a do INCRA, difere do conceito utilizado para a contribuição ao SAT. A definição de "atividade preponderante" utilizada para o SAT está relacionada ao número de segurados empregados e trabalhadores avulsos que desempenham cada atividade submetida a risco e não com a atividade econômica desenvolvida, ou o objetivo final da atividade empresarial, este utilizado como parâmetro para o conceito de "atividade preponderante" das contribuições devidas a terceiros. Tal afasta a incidência da Súmula nº 351 do STJ: "A alíquota de contribuição para o Seguro

de Acidente do Trabalho (SAT) é aferida pelo grau de risco desenvolvido em cada empresa, individualizada pelo seu CNPJ, ou pelo grau de risco da atividade preponderante quando houver apenas um registro ".

6. Assim, regra geral, a diferenciação de alíquotas em razão da individualização de estabelecimentos por CNPJ próprio entre a matriz e a filial da empresa não se aplica em relação às contribuições devidas a terceiros previstas no art. 3º, da Lei n. 11.457/2007, como a do INCRA.

7. No caso em tela, o escritório da cooperativa que exerce atividade industrial de laticínios, a despeito da existência de CNPJ próprio, dela não se separa, ao contrário, o escritório filial existe em função da matriz industrial, consubstanciando com ela uma única pessoa jurídica e com objetivo único (art. 581, §§1º e 2º, da CLT).

8. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES (Relator): Necessário consignar que o presente recurso atrai a incidência do Enunciado Administrativo n. 3/STJ: “Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões

publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo CPC”.

No caso dos autos, o INSS formalizou a NFLD nº 35.705.802-0 em 18/04/2006, visando a cobrança do montante de R$ 166.716,98 (cento e sessenta e seis mil setecentos e dezesseis reais e noventa e oito centavos), cujo objeto é a contribuição ao INCRA no período de 01/2000 a 06/2005 sob a alíquota de 2,7% (percentual de 0,2% previsto no art. 3º do Decreto-Lei nº 1.146/70 e posteriormente na Lei Complementar nº 11/71, no art. 15, II; acrescido do percentual de 2,5% previsto no caput do art. 6º da Lei nº 2.613/55 e, posteriormente, no art. 2º do Decreto-Lei nº 1.146/70). A referida NFLD nº 35.705.802-0 foi

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realizada tendo em vista o enquadramento global da CONTRIBUINTE pessoa jurídica em uma única atividade preponderante, código FPAS 795.

A CONTRIBUINTE pretende que lhe seja reconhecido o direito de enquadrar por CNPJ e individualmente os seus estabelecimentos de escritório administrativo (CNPJ n. 87.455.432/0001-75) e indústria de leite (CNPJ n. 87.455.432/0002-56), cada qual em uma atividade preponderante distinta e gerando código distinto (FPAS 507), o que reduziria o valor devido a título da referida contribuição. Invocou a jurisprudência referente ao SAT, que permite a verificação da alíquota para cada CNPJ distinto de uma mesma empresa (matriz e filiais).

Inicialmente ressalto a impossibilidade de conhecimento do recurso especial em relação à alínea "c" do permissivo constitucional, haja vista a ausência de cotejo analítico entre o acórdão recorrido e os arestos paradigmas, de modo que não foi preenchido o disposto no art. 255, § 1º, do RISTJ para fins de análise da divergência interpretativa suscitada. Por outro lado, não há similitude fática entre os julgados comparados, uma vez que o presente caso trata da contribuição devida ao INCRA, e os julgados paradigmas tratam da contribuição ao SAT.

É cediço que o conhecimento do recurso especial pela divergência pressupõe que os julgados comparados tenham enfrentado a mesma questão jurídica com base no mesmo dispositivo legal atribuindo soluções díspares, o que não aconteceu na hipótese, sobretudo porque os tributos discutidos nos julgados comparados não são os mesmos, como ressaltado alhures.

Igualmente não é possível conhecer do recurso especial em relação à tese de que somente atividades eminentemente rurais e rudimentares estariam enquadradas no disposto no art. 2º, II, do Decreto-Lei nº 1.146/1970, para fins de incidência da alíquota de 2,5% devida ao INCRA, uma vez que essa conclusão não se extrai do referido dispositivo legal; antes, foi arguida pela recorrente com base em Manual da Confederação Nacional da Indústria - CNI sobre tributação de estabelecimentos industriais, na Instrução Normativa nº 836, de 2.4.2008, da Receita Federal do Brasil, e no Decreto nº 83.081/1979, normas que, além de não terem sido objeto de prequestionamento (incidência da Súmula nº 282 do STF), não se enquadram no conceito de lei federal para fins de análise direta em sede de recurso especial. Some-se a

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isso que apenas através do revolvimento do contexto fático probatório dos autos seria possível aferir o enquadramento da atividade da recorrente como rural e rudimentar ou complexa e avançada, relativamente à atividade industrial envolvendo laticínios, providência inviável em sede de recurso especial em razão do óbice da Súmula nº 7 do STJ, in verbis : "A

pretensão de simples reexame de provas não enseja recurso especial".

O art. 112 do CTN também não foi enfrentado pelo acórdão recorrido, impossibilitando o conhecimento do recurso especial em relação a ele por ausência de prequestionamento (Súmula nº 282 do STF).

Em relação à alegada ofensa ao art. 2º do Decreto-Lei nº 1.146/1970, dispositivo devidamente prequestionado pelo acórdão recorrido, conheço do recurso especial e passo à sua análise.

O referido dispositivo legal dispõe expressa e especificamente que a cooperativa que exerça atividade de indústria de laticínios está sujeita à contribuição devida ao INCRA à alíquota de 2,5% sobre a folha mensal dos salários de contribuição previdenciária de seus empregados pessoas naturais e jurídicas. Confira-se, in verbis :

Decreto-Lei nº 1.146/1970

Art 2º A contribuição instituída no "caput " do artigo 6º da Lei número 2.613, de 23 de setembro de 1955, é reduzida para 2,5% (dois e meio por cento), a partir de 1º de janeiro de 1971, sendo devida sobre a soma da folha mensal dos salários de contribuição previdenciária dos seus empregados pelas pessoas naturais e jurídicas, inclusive cooperativa, que exerçam as atividades abaixo enumeradas:

[...]

II - Indústria de laticínios; [...] (grifei)

Sobre o ponto, assim se manifestou o acórdão recorrido (fls. 361-362 e-STJ):

Analisando os autos, verifica-se, no tangente ao enquadramento da Indústria de Leite, CNPJ n. 87.455.432/0002-56, é correta a decisão do juízo singular, posto que não existe fundamento legal para a utilização do código FPAS 507, que diz respeito a outras atividades industriais.

Dessa forma, o código a ser utilizado pela Cooperativa autora é justamente aquele determinado pela autoridade fazendária, que indica o código FPAS 795 como o exato para o seu enquadramento fiscal.

Nesse andar, como indicado pela autoridade competente, a hipótese de enquadramento do estabelecimento demandante é aquela vinculada ao código FPAS 795, nos termos da IN 100/2003 (texto vigente até

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14/07/2005 quando entrou em vigor a IN 03/2005), que assim dispõe:

'AGROINDÚSTRIA enquadrada no Decreto-Lei n.º

1.146/70 (somente em relação aos empregados que atuem diretamente na produção primária de origem animal ou vegetal) - AGROINDÚSTRIAS de piscicultura, carcinicultura, suinocultura e avicultura, a partir de novembro/2001 (somente em relação aos empregados que atuem diretamente na

produção primária de origem animal ou vegetal) -

COOPERATIVA RURAL enquadrada no Decreto-Lei n.º

1.146/70 - AGROINDÚSTRIA que se dedique apenas ao florestamento e reflorestamento como fonte de matéria-prima

para industrialização própria mediante a utilização de

processo industrial que modifique a natureza química da madeira ou a transforme em pasta celulósica, a partir de setembro/2003, na forma dos §§ 6º e 7º do art. 22 A da Lei nº 8.212/1991'

E, com base na IN 03/2005, é:

'Estabelecimento rural e industrial da Sociedade

Cooperativa relacionada no art. 2º, caput, do Decreto-Lei nº 1.146/70.'

Resta esclarecer que a indicação correta do enquadramento depende da alíquota prevista para a contribuição das atividades do art. 2º do Decreto-Lei n. 1.146/70, in verbis:

'Art. 2º A contribuição instituída no ' caput ' do artigo 6º da Lei número 2.613, de 23 de setembro de 1955, é reduzida para 2,5% (dois e meio por cento), a partir de 1º de janeiro de 1971, sendo devida sôbre a soma da fôlha mensal dos salários de contribuição previdenciária dos seus empregados pelas pessoas naturais e jurídicas, inclusive cooperativa, que exerçam as atividades abaixo enumeradas:

I - Indústria de cana-de-açúcar; II - Indústria de laticínios;

III - Indústria de beneficiamento de chá e de mate; IV - Indústria da uva;

V - Indústria de extração e beneficiamento de fibras vegetais e de descaroçamento de algodão;

VI - Indústria de beneficiamento de cereais; VII - Indústria de beneficiamento de café;

VIII - Indústria de extração de madeira para serraria, de resina, lenha e carvão vegetal;

IX - Matadouros ou abatedouros de animais de quaisquer espécies e charqueadas.

Assim sendo, considerando que deve se levar em consideração a atividade exercida por cada um dos estabelecimentos, a legislação prevê expressamente que a cooperativa rural que exerça atividade relacionada no art. 2º do Decreto-Lei n. 1.146/70 (indústria de laticínios) está enquadrada no código FPAS 795.

Consigno, ainda, que pela legislação citada, não existe diferenciação de enquadramento ou de pagamento de alíquota diferenciada em relação aos vários setores da empresa. É um só

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enquadramento, tendo como base a atividade exercida pela empresa como um todo.

Destarte, está correto o enquadramento da autora (FPAS 795), devendo ser paga contribuição para o INCRA por todas as empresas, na alíquota de 2,5 % sobre a folha de salários, em relação a todos os empregados da empresa, uma vez que não há diferenciação entre os setores.

Por consequência, é válido o lançamento fiscal de cobrança de diferenças de INCRA exigidas dos estabelecimentos 87.455.432/0001-75 (escritório) e 87.455.432/0002-56 (indústria de leite). (grifei)

O acórdão recorrido concluiu que a legislação de regência não permite a diferenciação entre os setores da empresa para fins de aplicação da alíquota da contribuição devida ao INCRA. Assim, considerou correto o enquadramento da atividade da empresa (FPAS 795) para fins de incidência da alíquota de 2,5% sobre a folha mensal dos salários, tanto para a empresa matriz (indústria de laticínios - CNPJ: 87.455.432/0002-56, quanto para sua filial (escritório administrativo - CNPJ: 87.455.432/0001-75).

Correto o acórdão recorrido. Explico.

O primeiro ponto a ser esclarecido é que em momento algum o Decreto-Lei nº 1.146/1970 permite a diferenciação de alíquotas por estabelecimento ou CNPJ do contribuinte. A lei é silente quanto a isso, o que permite inferir que a alíquota e a base de cálculo da contribuição são uma só para toda a pessoa jurídica, de acordo com a atividade econômica preponderante desenvolvida. Contudo, a normatização outrora vigente dava espaço para dúvidas ao não esclarecer esse fato, in verbis :

INSTRUÇÃO NORMATIVA INSS/DC Nº 100, DE 18 DE DEZEMBRO DE 2003

Art. 146. As contribuições destinadas a outras entidades e fundos incidem sobre a mesma base de cálculo utilizada para o cálculo das contribuições devidas à Previdência Social, sendo devidas:

I - pela empresa ou equiparada em relação a segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhe prestam serviços;

II - pelo transportador autônomo de veículo rodoviário;

III - pelo segurado especial, pelo produtor rural, pessoa física e jurídica, e pela agroindústria em relação à comercialização da produção rural.

§ 1º As entidades e fundos para os quais o sujeito passivo deverá contribuir são definidas em função de sua atividade econômica e as respectivas alíquotas são identificadas mediante o enquadramento desta na Tabela de Alíquotas por Códigos FPAS, prevista no Anexo II.

§ 2º O enquadramento na Tabela de Alíquotas por Códigos FPAS, prevista no Anexo II, é efetuado pelo sujeito passivo de acordo com cada atividade econômica por ele exercida.

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Nessa linha, a Administração Tributária, com o intuito de regulamentar o dispositivo de forma mais clara, trouxe do art. 581, §§1º e 2º, da CLT, que trata da contribuição sindical compulsória, o conceito de "atividade preponderante" a fim de dirimir dúvidas a respeito do enquadramento da pessoa jurídica como um todo quando desenvolve mais de uma atividade. Transcrevo:

INSTRUÇÃO NORMATIVA SRP Nº 3, DE 14 DE JULHO DE 2005 Art. 137. As contribuições destinadas a outras entidades ou fundos incidem sobre a mesma base de cálculo utilizada para o cálculo das contribuições destinadas à Previdência Social, sendo devidas:

I - pela empresa ou equiparado em relação a segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhe prestam serviços;

II - pelo transportador autônomo de veículo rodoviário;

III - pelo segurado especial, pelo produtor rural, pessoa física e jurídica, e pela agroindústria em relação à comercialização da produção rural.

§ 1º As entidades e fundos para os quais o sujeito passivo deverá contribuir são definidas em função de sua atividade econômica e as respectivas alíquotas são identificadas mediante o enquadramento desta na Tabela de Alíquotas por Códigos FPAS, prevista no Anexo III.

§ 2º O enquadramento na Tabela de Alíquotas por Códigos FPAS, é efetuado pelo sujeito passivo de acordo com cada atividade econômica por ele exercida, ainda que desenvolva mais de uma atividade no mesmo estabelecimento, observados os § § 1º e 2º do art. 581 da CLT.

Decreto-Lei n. 5.452/43

Art. 581. Para os fins do item III do artigo anterior, as empresas atribuirão parte do respectivo capital às suas sucursais, filiais ou agências, desde que localizadas fora da base territorial da entidade sindical representativa da atividade econômica do estabelecimento principal, na proporção das correspondentes operações econômicas, fazendo a devida comunicação às Delegacias Regionais do Trabalho, conforme localidade da sede da empresa, sucursais, filiais ou agências. (Redação dada pela Lei n° 6.386. de 9.12.1976) (Vide Lei n° 11.648. de 2008)

§ 1o Quando a empresa realizar diversas atividades econômicas, sem que nenhuma delas seja preponderante, cada uma dessas atividades será incorporada à respectiva categoria econômica, sendo a contribuição sindical devida à entidade sindical representativa da mesma categoria, procedendo-se, em relação às correspondentes sucursais, agências ou filiais, na forma do presente artigo. (Redação dada pela Lei n° 6.386r de 9.12.1976)

§ 2o Entende-se por atividade preponderante a que caracterizar a unidade de produto, operação ou objetivo final, para cuja obtenção todas as demais atividades convirjam, exclusivamente em regime de conexão funcional. (Redação dada pela Lei n° 6.386. de 9.12.1976)

Da letra da lei infere-se que a única possibilidade de haver a separação dos estabelecimentos filiais e da matriz para efeito de enquadramento para a contribuição ocorre "quando a empresa realizar diversas atividades econômicas, sem que nenhuma delas seja

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preponderante ", tal não parece ser o presente caso, onde restou evidenciada a atividade

preponderante da empresa, sendo o escritório central apenas atividade meio para o objetivo final que é a industrialização de laticínios (e aqui não podemos discutir se rudimentar ou não, dados os limites do especial).

Registro que não desconheço o entendimento desta Corte em relação à contribuição devida ao SAT, no sentido de que a alíquota dessa contribuição é aferida pelo grau de risco desenvolvido em cada empresa, individualizada pelo seu CNPJ, ou pelo grau de risco da atividade preponderante quando houver apenas um registro, orientação consubstanciada na Súmula nº 351 do STJ: "A alíquota de contribuição para o Seguro de Acidente do Trabalho

(SAT) é aferida pelo grau de risco desenvolvido em cada empresa, individualizada pelo seu CNPJ, ou pelo grau de risco da atividade preponderante quando houver apenas um registro ".

Contudo, o caso dos autos não trata de contribuição devida ao SAT, mas sim da contribuição devida ao INCRA, por cooperativa que exerce atividade industrial de laticínios, nos termos art. 2º do Decreto-Lei nº 1.146/1970.

No caso da contribuição devida ao SAT, cada estabelecimento com CNPJ próprio pode exercer atividade preponderante cujo risco de acidentes do trabalho seja considerado leve, médio ou grave, dai a possibilidade de diferenciação de alíquotas para cada estabelecimento com CNPJ próprio.

Ou seja, a definição de "atividade preponderante" utilizada para o SAT é completamente diversa daquela utilizada para as contribuições devidas a terceiros, como a contribuição ao INCRA. Isto porque está relacionada ao número de segurados empregados e trabalhadores avulsos que desempenham cada atividade submetida a risco e não com a atividade econômica desenvolvida, ou o objetivo final da atividade empresarial. Seguem os textos dos normativos correspondentes:

INSTRUÇÃO NORMATIVA INSS/DC Nº 100, DE 18 DE DEZEMBRO DE 2003

Art. 93. As contribuições sociais previdenciárias a cargo da empresa ou equiparada, observadas as disposições específicas desta Instrução Normativa, são:

I - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas, a qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhe prestam serviços, observado o disposto no inciso I

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do art. 77;

II - para o financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, incidentes sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas, a qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhe prestam serviços, observado o disposto no inciso I do art. 77, correspondente à aplicação dos seguintes percentuais:

a) um por cento, para as empresas em cuja atividade preponderante o risco de acidentes do trabalho seja considerado leve;

b) dois por cento, para as empresas em cuja atividade preponderante o risco de acidentes do trabalho seja considerado médio;

c) três por cento, para as empresas em cuja atividade preponderante o risco de acidentes do trabalho seja considerado grave.

III - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas ou creditadas, a qualquer título, no decorrer do mês, aos segurados contribuintes individuais que lhe prestam serviços, para fatos geradores ocorridos a partir de 1° de março de 2000;

IV - quinze por cento sobre o valor bruto da nota fiscal, da fatura ou do recibo de prestação de serviços, relativamente a serviços que lhe são prestados por cooperados por intermédio de cooperativas de trabalho, para fatos geradores ocorridos a partir de 1° de março de 2000.

§ 1º Para fins da contribuição prevista no inciso II do caput:

I - o enquadramento nos correspondentes graus de risco é de responsabilidade da empresa, devendo ser feito mensalmente, de acordo com a sua atividade econômica preponderante, conforme a Relação de Atividades Preponderantes e correspondentes Graus de Risco prevista no Anexo V do Regulamento da Previdência Social (RPS), podendo ser revisto pelo INSS a qualquer tempo;

II - considera-se preponderante a atividade econômica que ocupa, na empresa, o maior número de segurados empregados e trabalhadores avulsos;

III - verificado erro no auto-enquadramento o INSS adotará as medidas necessárias à sua correção, orientando o responsável pela empresa em caso de recolhimento indevido e procedendo ao lançamento do crédito relativo a valores porventura devidos;

INSTRUÇÃO NORMATIVA SRP Nº 3, DE 14 DE JULHO DE 2005 Art. 86. As contribuições sociais previdenciárias a cargo da empresa ou do equiparado, observadas as disposições específicas desta IN, são:

I - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas, a qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhes prestam serviços, observado o disposto no inciso I do art. 71;

II - para o financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, incidentes sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas, a qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhes prestam serviços, observado o disposto no inciso I do art. 71, correspondente à aplicação dos seguintes percentuais:

a) um por cento, para as empresas em cuja atividade preponderante o risco de acidentes do trabalho seja considerado leve;

b) dois por cento, para as empresas em cuja atividade preponderante o risco de acidentes do trabalho seja considerado médio;

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c) três por cento, para as empresas em cuja atividade preponderante o risco de acidentes do trabalho seja considerado grave;

III - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas ou creditadas, a qualquer título, no decorrer do mês, aos segurados contribuintes individuais que lhes prestam serviços, para fatos geradores ocorridos a partir de 1º de março de 2000;

IV - quinze por cento sobre o valor bruto da nota fiscal, da fatura ou do recibo de prestação de serviços, relativamente aos serviços que lhes são prestados por cooperados por intermédio de cooperativas de trabalho, para fatos geradores ocorridos a partir de 1º de março de 2000.

§ 1º A contribuição prevista no inciso II do caput, será definida da seguinte forma:

I - o enquadramento nos correspondentes graus de risco é de responsabilidade da empresa, devendo ser feito mensalmente, de acordo com a sua atividade econômica preponderante, conforme a Relação de Atividades Preponderantes e Correspondentes Graus de Risco, elaborada com base na Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE, prevista no Anexo V do Regulamento da Previdência Social - RPS, obedecendo as seguintes disposições:

a) a empresa com um estabelecimento e uma única atividade econômica, enquadrar-se-á na respectiva atividade;

b) a empresa com estabelecimento único e mais de uma atividade econômica, simulará o enquadramento em cada atividade e prevalecerá, como preponderante, aquela que tenha o maior número de segurados empregados e trabalhadores avulsos;

c) a empresa com mais de um estabelecimento e diversas atividades econômicas deverá:

1. simular o enquadramento por estabelecimento, prevalecendo como preponderante a atividade que ocupe o maior número de segurados empregados e trabalhadores avulsos;

2. comparar os enquadramentos dos estabelecimentos para definir o seu enquadramento geral na atividade econômica preponderante, que será aquela que tiver o maior número de segurados empregados e trabalhadores avulsos apurado entre todos os seus estabelecimentos;

d) o órgão do poder público identificado com inscrição única no CNPJ (estabelecimento único), enquadrar-se-á na atividade com a descrição "75.11-6 Administração Pública em Geral", constante da relação mencionada no caput deste inciso;

e) o órgão do poder público com diversos estabelecimentos e múltiplas atividades, tais como secretarias de transportes, de obras, de saúde, de educação, de desporto e cultura, de administração, de meio ambiente, enquadrar-se-á de acordo com o disposto na alínea "c" e a atividade econômica preponderante não se restringirá às descrições contidas no grupo "Administração Pública, Defesa e Seguridade Social" constante da relação mencionada no caput deste inciso;

f) a empresa de trabalho temporário enquadrar-se-á na atividade com a descrição "74.50-0 Seleção, Agenciamento e Locação de Mão-de-Obra para Serviços Temporários" constante da relação mencionada no caput deste inciso;

II - considera-se preponderante a atividade econômica que ocupa, na empresa, o maior número de segurados empregados e trabalhadores avulsos, observado que:

a) apurado no estabelecimento, na empresa ou no órgão do poder público, o mesmo número de segurados empregados e trabalhadores avulsos em atividades econômicas distintas, considerar-se-á como preponderante aquela que

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corresponder ao maior grau de risco;

b) não serão considerados os segurados empregados que prestam serviços em atividades-meio, para a apuração do grau de risco, assim entendidas aquelas que auxiliam ou complementam indistintamente as diversas atividades econômicas da empresa, tais como serviços de administração geral, recepção, faturamento, cobrança, contabilidade, vigilância, dentre outros;

[...]

Desse modo, em se tratando da contribuição devida ao INCRA, o escritório da cooperativa que exerce atividade industrial de laticínios, a despeito da existência de CNPJ próprio, dela não se separa, ao contrário, o escritório filial existe em função da matriz industrial, consubstanciando com ela uma única pessoa jurídica.

Aliás, esta Corte já se manifestou, inclusive em sede de recurso especial repetitivo (REsp nº 1.355.812/RS, Primeira Seção, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 31.5.2013), no sentido de que a filial é uma espécie de estabelecimento empresarial, fazendo parte do acervo patrimonial de uma única pessoa jurídica, partilhando dos mesmos sócios, contrato social e firma ou denominação da matriz. Nessa condição, consiste, conforme doutrina majoritária, em uma universalidade de fato, não ostentando personalidade jurídica própria, não sendo sujeito de direitos, tampouco uma pessoa distinta da sociedade empresária. Confira-se a ementa do supracitado recurso especial representativo da controvérsia:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. DÍVIDAS TRIBUTÁRIAS DA MATRIZ. PENHORA, PELO SISTEMA BACEN-JUD, DE VALORES DEPOSITADOS EM NOME DAS FILIAIS. POSSIBILIDADE. ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL COMO OBJETO DE DIREITOS E NÃO COMO SUJEITO DE DIREITOS. CNPJ PRÓPRIO DAS FILIAIS. IRRELEVÂNCIA NO QUE DIZ RESPEITO À UNIDADE PATRIMONIAL DA DEVEDORA.

1. No âmbito do direito privado, cujos princípios gerais, à luz do art. 109 do CTN, são informadores para a definição dos institutos de direito tributário, a filial é uma espécie de estabelecimento empresarial, fazendo parte do acervo patrimonial de uma única pessoa jurídica, partilhando dos mesmos sócios, contrato social e firma ou denominação da matriz. Nessa condição, consiste, conforme doutrina majoritária, em uma universalidade de fato, não ostentando personalidade jurídica própria, não sendo sujeito de direitos, tampouco uma pessoa distinta da sociedade empresária. Cuida-se de um instrumento de que se utiliza o empresário ou sócio para exercer suas atividades.

2. A discriminação do patrimônio da empresa, mediante a criação de filiais, não afasta a unidade patrimonial da pessoa jurídica, que, na condição de devedora, deve responder com todo o ativo do patrimônio social por suas dívidas, à luz de regra de direito processual prevista no art. 591 do Código de Processo Civil, segundo a qual "o devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei". 3. O princípio tributário da autonomia dos estabelecimentos, cujo conteúdo

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normativo preceitua que estes devem ser considerados, na forma da legislação específica de cada tributo, unidades autônomas e independentes nas relações jurídico-tributárias travadas com a Administração Fiscal, é um instituto de direito material, ligado à questão do nascimento da obrigação tributária de cada imposto especificamente considerado e não tem relação com a responsabilidade patrimonial dos devedores prevista em um regramento de direito processual, ou com os limites da responsabilidade dos bens da empresa e dos sócios definidos no direito empresarial.

4. A obrigação de que cada estabelecimento se inscreva com número próprio no CNPJ tem especial relevância para a atividade fiscalizatória da administração tributária, não afastando a unidade patrimonial da empresa, cabendo ressaltar que a inscrição da filial no CNPJ é derivada do CNPJ da matriz.

5. Nessa toada, limitar a satisfação do crédito público, notadamente do crédito tributário, a somente o patrimônio do estabelecimento que participou da situação caracterizada como fato gerador é adotar interpretação absurda e odiosa. Absurda porque não se concilia, por exemplo, com a cobrança dos créditos em uma situação de falência, onde todos os bens da pessoa jurídica (todos os estabelecimentos) são arrecadados para pagamento de todos os credores, ou com a possibilidade de responsabilidade contratual subsidiária dos sócios pelas obrigações da sociedade como um todo (v.g. arts. 1.023, 1.024, 1.039, 1.045, 1.052, 1.088 do CC/2002), ou com a administração de todos os estabelecimentos da sociedade pelos mesmos órgãos de deliberação, direção, gerência e fiscalização. Odiosa porque, por princípio, o credor privado não pode ter mais privilégios que o credor público, salvo exceções legalmente expressas e justificáveis.

6. Recurso especial conhecido e provido. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ n. 8/08 (REsp nº 1.355.812/RS, Primeira Seção, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 31.5.2013).

Assim, a diferenciação de alíquota em razão da individualização de estabelecimentos por CNPJ próprio entre a matriz e a filial da empresa não se aplica, regra geral, em relação à contribuição devida ao INCRA, visto que, no caso em tela, o escritório da cooperativa que exerce atividade industrial de laticínios, a despeito da existência de CNPJ próprio, dela não se separa, ao contrário, o escritório filial existe em função da matriz industrial, consubstanciando com ela uma única pessoa jurídica e com objetivo único. Entendimento contrário poderia viabilizar a realização de planejamento tributário tendente a subverter a sistemática arrecadatória do tributo, visto que, na tentativa de reduzir custos, as empresas poderiam, v. g., registrar os empregados da indústria de laticínios na folha mensal de salários do escritório, estabelecimento filial com CNPJ próprio e eventual alíquota inferior do tributo em questão, o que traduz indicativo de possíveis fraudes, evasões e elisões fiscais que devem ser evitadas.

Ante o exposto, CONHEÇO em parte do recurso especial e, nessa extensão, NEGO-LHE provimento.

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7/STJ ("Somente nos recursos interpostos contra decisão publicada a partir de 18 de março

de 2016 será possível o arbitramento de honorários sucumbenciais recursais, na forma do art. 85, § 11, do NCPC" ), e levando em conta o trabalho adicional realizado em grau recursal,

condeno o recorrente ao pagamento de honorários advocatícios, a título de sucumbência recursal, no montante correspondente a R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais).

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO SEGUNDA TURMA

Número Registro: 2016/0206294-3 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.634.693 / RS

Números Origem: 50038530320124047100 RS-50038530320124047100

PAUTA: 22/11/2016 JULGADO: 22/11/2016

Relator

Exmo. Sr. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES Presidente da Sessão

Exma. Sra. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES Subprocuradora-Geral da República

Exma. Sra. Dra. MÔNICA NICIDA GARCIA Secretária

Bela. VALÉRIA ALVIM DUSI

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : COOPERATIVA SUL RIO GRANDENSE DE LATICINIOS LTDA

ADVOGADO : LISIANI CALVANO PEREIRA E OUTRO(S) - RS045742

RECORRIDO : FAZENDA NACIONAL

ASSUNTO: DIREITO TRIBUTÁRIO - Contribuições - Contribuições Sociais - Contribuição INCRA CERTIDÃO

Certifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

"A Turma, por unanimidade, conheceu em parte do recurso e, nessa parte, negou-lhe provimento, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)."

A Sra. Ministra Assusete Magalhães (Presidente), os Srs. Ministros Francisco Falcão e Og Fernandes votaram com o Sr. Ministro Relator.

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