Curso de formação em
Gestão Publica, Acesso a Água e convivência com o Semiárido FGP / SAN – AGUAS – CISTERNAS / 2011
TRABALHO DE CONCLUSÃO
ALUNO – GESTOR : Sandra Regina Barbosa Almeida
PROFESSORES: Naidison de Quintella Baptista e Carlos Humberto Campos
MÓDULO: Modulo I
TEMA: Convivência com o Semiárido
CRATEÚS – CE 2011
SEMIÁRIDO SUSTENTAVEL
1 – Introdução
Ate os dias de hoje muito se ouve falar do semiarido brasileiro e de falta de política voltada para o mesmo. Na trajetória de minha militância nos movimentos sociais, através de varias discussões e diversas experiências concreta pude conhecer e olhar de maneira diferenciada o nordeste brasileiro.
Durante muito tempo e, em alguns casos, ainda nos dias atuais, as únicas políticas oficiais destinadas à região semiárida brasileira foram aquelas denominadas de “combate a seca”.
O que na verdade era resultado da falta de infraestrutura hídrica e produtiva, virou apenas a falta de água. O que era ausência do estado enquanto provedor de políticas publicas, passou a ser a incapacidade de seu povo de inovar e criar alternativas de conviver com as condições de semiaridez da região.
Temos que acabar com essa falsa imagem construída sobre o nordeste brasileiro, território geográfico que abriga a maior parte do semiárido. Precisamos sim, destacar a rica diversidade que ambiental da região, tão útil à sua produção, e valorizar fortemente a riqueza cultural, a bondade, a alegria e agarra de seu povo.
Nas ultimas décadas, no entanto, vem sendo construída, gradativamente, uma outra lógica e concepção de ver, trabalhar e construir o semiárido. Essa mentalidade esta baseada no reconhecimento de que seu povo também é cidadão, com direitos a serem respeitados, deixando-se de lado a postura de que as ações e políticas voltadas à região são atos de bondade de pessoas, governantes ou organizações.
Muitas experiências de convivência com o semiárido estão sendo desenvolvidas e vivenciadas por diversas famílias agricultoras, com resultados bons e eficientes. Isso é prova da capacidade inovadora destas famílias na construção coletiva de saberes e na troca de conhecimentos.
E é diante deste contexto, que apresentamos o Trabalho de Conclusão de Modulo I, a Experiência de um Agricultor, que mostra a sustentabilidade do semiárido brasileiro. Essa Experiência foi sistematiza em uma oficina de sistematização do Programa P1+2 ( Programa uma Terra e duas Águas, da ASA) da Articulação do Semiárido Brasileiro - ASA na Cidade de Iguatú, Ceará. Essa sistematização se deu através de nossa visita a casa do agricultor Seu Zé, assim nos possibilitou ver na pratica a sustentabilidade do semiárido.
O presente trabalho permite “um outro olhar”, a olhar de maneira diferenciada e qualificada a região semiárida, que é tão rica e produtiva para a realização e construção de qualidade de vida, a conhecer de maneira expressiva a realidade de milhares de famílias que vem mudando a realidade do semiárido brasileiro, tornado possível e sustentável .
2. DIVERSIFICAÇÃO E SUSTENTABILIDADE DA AGRICULTURA FAMILIAR NA COMUNIDADE DE ITANS.
José Freire Sobrinho, conhecido como Seu Zé, 33 anos, mora com sua família e desenvolve trabalhos produtivos na comunidade Várzea do Boi, que fica há 60 km da sede do município de Acopiara - Ce.
Conhecido como o cisterneiro da região, por atuar no programa 01
milhão de cisternas – P1MC da Articulação no Semiárido – ASA. Seu Zé é agricultor, apicultor e desenvolve atividades da agricultura familiar que garante sustentabilidade.
Participou ativamente da equipe paroquial e pastoral da juventude, onde passou a conhecer algumas experiências de convivência com o semiárido, e a partir de 2002 conheceu a ASA construindo cisternas, e desde então vem atuando na comissão municipal, representando a paróquia do município de Quixelô - CE.
Assim como faziam seus avos, seu Zé e sua família plantam milho, feijão, arroz, frutas e verduras, e criam animais para sobrevivência. A água que há na propriedade é pouca, mas é usada de forma racional, o que a torna mais do que suficiente para que a família mantenha na pequena área uma diversidade de frutas, legumes e verduras. Lá, de tudo há um pouco, e todos da família trabalham juntos, cada um se organiza naturalmente para gerenciar e executar as tarefas, pois acreditam que não basta a força bruta é preciso organização.
Aqui agente pensa numa produção para se manter, devido a distancia da cidade e dificuldade de transporte, no inverno ficamos ilhado, uns ajuda os outros, aqui não existe o meu, existe o nosso. Diz Seu Zé. É com espírito de coletividade que o grupo vem alcançando esses bons resultados. E se tornando referência da agricultura familiar na região.
Ele mora na comunidade desde pequeno e aprendeu com seus pais a criar alternativas de convivência com o Semiárido. O que é produzido é para o consumo, a sobra do milho e feijão é usada para alimentar pequenos animais como galinha, capote, pato, porco, ovelha e cabra. Que também são usados na alimentação da família. Seu Zé diz em tom de brincadeira: vamos trabalhar pro bucho, pro luxo, se sobrar.
Seu Zé tem juntado o útil ao agradável sabe que o meio ambiente precisa de cuidados e seu espírito de defensor da natureza é exercido na prática. Para combater o desmatamento ele planta há 07 anos o sabiá, uma espécie bem apropriada para o clima seco do Semiárido a área tem aproximadamente 20 hectáres. E hoje, já são mais de 50 mil pés. Uma atividade ecologicamente correta, mas que também lhe rende lucros. Com o plantio do Sabiá ele consegue alimentar os animais, melhorar a produtividade das abelhas e futuramente irá aumentar a
renda da família, pois a árvore dá excelentes estacas seu uso pode ser para o próprio consumo como para venda. Em média cada estaca custa R$ 2,00 e não é só: Nessa área ele cria abelhas há 02 anos, no total são 51 colméias. No ano de 2009 chegou a colher 1.800 kg de mel, que foi comercializado
juntamente com a associação municipal dos apicultores de Acopiara - CE, e obteve um lucro de quatro mil reais. Assim, seu Zé vai mantendo sua agrofloresta de forma sustentável, colhendo sem agredir ao meio ambiente. Com o sabiá estou mudando o que ia se perder, essa foi a forma que encontrei para que minha família pare de desmatar. Afirma seu Zé.
Com esse trabalho seu Zé e família estão conseguido chamar a atenção da comunidade mostrando que é possível se manter na terra, se sustentar da terra tirando dela apenas o que é possível.
Com doses de cuidados e uma parcela de respeito pela natureza o convívio entre os seres humanos e o meio ambiente se torna mais harmônico. Uma relação de troca. O homem dá a natureza aquilo que ela necessita. E em retribuição, ela lhe dá alimento, e, consequentemente, lhe garante a vida. Seu Zé pensa assim. E suas boas práticas já encontram seguidores. Frequentemente sua família tem recebido visitas de pessoas e grupos que desejam seguir o bom exemplo.
A família lembra: foram muitas as dificuldades encontradas, mas mesmo assim ninguém nunca pensou em sair de sua comunidade, pra ir pra cidade. Meu objetivo é viver bem, dar uma visão de um mundo melhor, temos o que deseja aqui, o que vamos fazer lá fora? Conclui seu Zé.
3. CONSIDERAÇÃO FINAL
Portanto é possível perceber que novas praticas é possível. Nesse contexto, novos atores sociais passaram a disputar os processos de formulação de políticas publicas para o semiárido. Queremos destacar aqui que o surgimento da Articulação no semiárido Brasileiro – ASA, reunindo mais de oitocentas organizações da sociedade civil organizada, tem mudado parte dessa historia de construção de um semiárido viável e digno para o seu povo.
A articulação no semiárido, empenhada no desenvolvimento de um projeto sustentável e adaptado à região, com sua ações concentrada na valorização das experiências locais, na troca de conhecimentos entre agricultores, nas muitas formas de captação e manejo de água de chuva para beber, cozinha e produzir, bem como o aproveitamento de águas para o uso coletivo das famílias que residem no semiárido brasileiro, tem nos possibilitado uma amplitude de conhecimento, ação e debate em prol do semiárido.
A asa e sua experiência com o programa 1 milhão de cisternas (P1MC) e Programa uma Terra e duas Águas ( P1+2), mostrou que um outro olhar sobre o semiárido é possível. Se não é possível combater, mas é possível conviver.
E nessa construção, de um semiárido possível, destacamos a realização desse curso, que nos possibilita colocar em debate, aprofundar e conhecer suas potencialidades e diversidades, assim contribuindo para a convivência e sustentabilidade do semiárido.
Fotos: Sandra Almeida