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INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA INSOLVÊNCIA ÓNUS DA PROVA

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Tribunal da Relação de Lisboa

Processo nº 1321/07.1TYLSB-C.L1-7 Relator: ABRANTE GERALDES

Sessão: 28 Abril 2009 Número: RL

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO Decisão: IMPROCEDENTE

INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA INSOLVÊNCIA ÓNUS DA PROVA

Sumário

A situação de insolvência é revelada pela prova de algum dos factos-índices a que se alude no art. 20º do CIRE, cabendo ao devedor, nos termos do art. 30º, nº 4, do mesmo diploma, provar a sua solvência.

(sumário do Relator) A.S.A.G.

Texto Integral

1. M…,

requereu a declaração de insolvência de P, Ldª,

alegando ter vendido à requerida mercadorias que não foram pagas.

Acrescentou que a requerida é devedora de outras entidades, não tem bens imóveis ou participações societárias, correndo contra a mesma acções de condenação e executivas, pelo que é manifesta a impossibilidade de satisfazer as suas obrigações.

A requerida apresentou oposição, dizendo que não se encontra em situação de insolvência, que o montante do débito para com a requerente é questão a apurar em sede própria e tribunal competente, que impugna as letras

apresentadas e que as acções judiciais referidas se reportam ao ano de 2003 e já foram resolvidas, tendo a requerida vindo a apresentar lucros da sua

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Realizou-se audiência de discussão e julgamento, tendo sido declarada a insolvência da requerida.

Apelou a requerida e concluiu que:

a) A sentença recorrida deveria ter decidido a excepção da incompetência absoluta do tribunal no sentido do seu provimento ou, pelo menos, não podia tê-la decidido antes de produzida a decisão de mérito, violando os arts. 89° da LOFTJ;

b) Ao inverter o ónus da prova, foram violados, por erro de interpretação e/ou de aplicação, os arts. 3°, n°s 1 e 3, e 30°, n° 4, do CIRE, e 342°, n° 1, do CC; c) Ao admitir apenas a prova resultante da declaração M/22 de IRC de 2005, foi violado o disposto no art. 360° do CC, sendo contraditória ao não admitir a prova resultante da declaração M/22 de IRC de 2006, documento de igual valor probatório, omitindo ainda qualquer referência à documentação e a consequente prova da existência do imobilizado constante do documento junto na audiência de julgamento de 17-10-08;

d) Os factos dados como provados, nomeadamente o montante do imobilizado, a produção em larga escala e a rede de clientela deviam ter conduzido a uma sentença exactamente em sentido diverso;

e) A sentença recorrida não tomou em consideração que nada foi invocado, e muito menos provado, pela requerente reportado aos últimos 6 meses como justificativo da declaração de insolvência, como exigido pelo art. 20º, n° 1, al. g) do CIRE, que, deste modo, resulta violado;

f) Ao omitir a pronúncia sobre factos invocados pela então requerida foi violado o disposto no art. 660°, n° 2, do CPC.

Não houve contra-alegações. Cumpre decidir.

II - Matéria de facto:

1. Nos termos do art. 685º-B do CPC, quando se impugne a decisão sobre a matéria de facto, o recorrente deve especificar os concretos pontos de facto que considera incorrectamente julgados e os meios probatórios constantes do processo que imponham uma decisão diversa, o que não foi correctamente observado.

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declaração de insolvência, com base no mesmo documento que pelo tribunal a quo foi valorado, poderá ainda acrescentar-se à matéria de facto provada que: na declaração de IRC relativa a 2005, a requerida declarou como lucro

tributável a quantia de € 7.847,79, como consta de fls. 167 deste apenso e que em semelhante declaração relativa a 2006 o lucro tributável declarado foi de € 2.539,96, como consta de fls. 179.

2. Factos provados:

1. P, Ldª, com sede no L…. NIPC n.º …., encontra-se matriculada na CRC de S… sob o n.º …. – A);

2. A referida sociedade tem como objecto social “fabrico e comércio de pão e seus derivados” e o capital social de 30.000.000$00 – B) e C);

3. Obriga-se com a assinatura dos dois gerentes A e B – D);

4. A requerente é uma empresa industrial que se dedica à produção de leveduras e melhorantes para a indústria de panificação – E);

5. No âmbito da sua actividade comercial a requerente vendeu à requerida produtos da sua fabricação, como sejam leveduras das marcas Clássica e Original e melhorantes M.. Escuro e P… – F);

6. O fornecimento das matérias-primas, fazia-se por via dos serviços comerciais da requerente, com entregas à porta da fábrica da requerida, mediante as respectivas guias de remessa – G);

7. A ligação comercial entre requerente e requerida funcionou durante um período de mais ou menos 10 anos – H);

8. Os fornecimentos de matéria primas eram facturados à semana e enviados quinzenalmente à cliente requerida para a sua sede social, a fim se serem liquidados com um prazo de dilação de vencimento igual a 30 dias sobre a data da factura – I) e J);

9. Todos os produtos vendidos à requerida eram, na facturação, objecto de um desconto de 10% sobre o total ilíquido – L);

10. A requerente forneceu os produtos constantes das facturas juntas como docs. nºs 1 a 57 com a petição, sendo os docs. nºs 3 a 7 notas de crédito, cujo valor foi abatido, totalizando o valor de € 25.777,52 - 4º;

11. Através das guias de remessa referidas nas facturas, os produtos vendidos pela requerente à requerida foram entregues e postos à disposição da

requerida nas suas instalações fabris na sede, em V… – 5º;

12. Em finais de 2005 a facturação dos fornecimentos que habitualmente eram feitas na sede da requerida, começaram a ter dificuldades e atrasos no seu recebimento – 1º;

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toda a facturação emitida desde 18-11-05 – 2º;

14. Mantendo conversações e contactos profissionais com elementos da direcção da requerente e com a promessa da futura entrega de títulos

cambiários de garantia, a requerida foi beneficiando do contínuo fornecimento das matérias-primas produzidas pela requerente – 3º;

15. A requerida (e não a requerente, como consta da decisão recorrida) passou a negociar directamente com o Director Comercial da requerente, o qual

manteve os fornecimentos mediante a entrega por parte dos gerentes da requerida, em 31-8-06, de 8 letras de câmbio no montante de € 2.000,00 cada – 6º;

16. As letras juntas como docs. nºs 58 a 65 tinham como datas de vencimento sucessivo os dias 23-10-06, 23-11-06, 23-12-06, 23-1-07, 23-2-07, 23-3-07 e 23-4-07 e 23-5-07 – M);

17. Todos os títulos foram entregues ao Banco (agência de Sl) com efeitos em carteira a favor da descontaria a partir de 14-9-06 – N);

18. Em cada data de vencimento dos títulos, o banco descontante, porque o valor nominal do título levado a desconto não tivesse sido libertado pelo principal obrigado, devolveu-os à empresa descontária, debitando-lhe o seu valor integral por si adiantado, com o acréscimo das despesas contratuais, fiscais e inerentes a cada devolução – O) e P);

19. As referidas despesas foram debitadas na conta da requerida pelos valores constantes das facturas/notas de despesas, juntas como documentos nºs 67 a 75, no valor global de € 715,62 – Q);

20. A requerida tem a correr termos contra si acções executivas – 8º (omitido no relatório da sentença, mas que decorre da decisão da matéria de facto); 21. A requerente e requerida trocaram entre si os escritos juntos como documentos nºs 76 a 79 com a petição inicial (sendo o doc. nº 76 uma carta remetida pela requerente à requerida, em Agosto de 2007, a reclamar o pagamento da quantia de € 27.036,89, o doc. nº 77 uma carta remetida pelo advogado da requerente a solicitar o mesmo pagamento, alertando para a instauração de acção executiva e, eventualmente, para uma acção declarativa de insolvência, e o doc. nº 78 contendo uma proposta de pagamento faseado da dívida em cerca de 24 meses) – R);

22. Na declaração Modelo 22 referente ao exercício de 2005 a requerida declarou possuir um activo imobilizado de € 1.397.943,43 – S);

23. Na declaração de IRC relativa a 2005, a requerida declarou como lucro tributável a quantia de € 7.847,79, como consta de fls. 167 e na declaração de IRC relativa a 2006 o lucro tributável declarado foi de € 2.539,96, como consta de fls. 179 (factos aditados).

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declarou ter como cinco maiores credores: - Al… - J… - P… - Segurança Social - e U… Ldª – T);

25. A requerida encontra-se instalada num terreno com a área de 5.000 m2, com instalações apropriadas à produção de produtos de panificação, incluindo uma linha de produção de pão congelado de última geração instalada em 2006 – 11º;

26. A requerida exerce a sua actividade em larga escala e tem uma produção e consequente comercialização de produtos e produtos afins em massa e pré cozidos – 12º e 13º;

27. A requerida tem entre os seus clientes a rede C.. da Margem Sul e o E.. – 14º e 15º.

III - Decidindo:

1. Suscita a apelante as seguintes questões: a) Incompetência absoluta do tribunal; b) Errada aplicação do direito aos factos

2. Quanto à questão em redor da incompetência absoluta do tribunal é manifesta a sua impertinência.

Alega a apelante que a requerente da insolvência recorreu ao processo de insolvência, da competência do Tribunal do Comércio, para resolver um litígio atinente ao apuramento de uma relação creditícia entre as partes.

É notória a falta de sustentação legal de uma tal excepção dilatória.

Sendo pressuposto do processo de insolvência a qualidade de credor atribuída ao requerente, não é o facto de se discutir o montante do crédito que

determina uma violação das regras da competência material. O tribunal competente para a apreciação do pedido de insolvência também tem competência para apurar se o requerente tem ou não tem a qualidade de credor e qual o montante do crédito.

Assim se compreende que, nos termos do at. 25º do CIRE, o requerente tenha de justificar, na petição, a origem, natureza e montante do seu crédito,

oferecendo os meios de prova, sujeitando-se, depois, ao contraditório previsto no art. 30º, antes de o tribunal proferir a decisão que envolverá a matéria alegada por ambas as partes (art. 35º).

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3. Quanto à questão da insolvência:

3.1. Nos termos do art. 3º, nº 1, do CIRE é considerado em situação de insolvência “o devedor que se encontre impossibilitado de cumprir as suas obrigações vencidas”.

A situação de insolvência é revelada pela prova de algum dos factos-índices a que se alude no art. 20º, sendo de destacar, com relevo para o caso concreto, a “suspensão generalizada do pagamento das obrigações vencidas e a falta de cumprimento de uma ou mais obrigações que, pelo seu montante ou pelas circunstâncias do incumprimento, revele a impossibilidade de o devedor satisfazer pontualmente a generalidade das suas obrigações”.

Pronunciando-se sobre a matéria, refere Pinheiro Torres, no trabalho

intitulado O pressuposto objectivo do processo de insolvência (em Direito e Justiça, vol. XIX, 2005, tomo II, pág. 169), que “o que releva para o estado de insolvência não é o incumprimento das obrigações vencidas, em si mero facto, mas antes a impossibilidade de o devedor as vir cumprir, simplesmente porque não tem meios”, concluindo que o “incumprimento de uma ou mais obrigações vencidas só tem importância na estrita medida em que resulte da situação de insuficiência do activo para fazer face ao passivo”.

De acordo com o art. 30º, nº 4, do mesmo diploma, cabe ao devedor provar a sua solvência, baseando-se na escrituração legalmente obrigatória.

Carvalho Fernandes e João Labareda referem que a alegação dos factos referidos no art. 20º, legitima os credores a desencadear o processo de declaração de insolvência, cabendo então “ao devedor … trazer ao processo factos e circunstâncias probatórias de que não está insolvente, pese embora a ocorrência do facto que corporiza a causa de pedir. Por outras palavras, cabe-lhe elidir a presunção emergente do facto-índice” (Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas anot., vol. I, pág. 133).

Também Pinheiro Torres, no já citado trabalho, refere que cumpre ao requerente expor na petição os factos que integrem os pressupostos da declaração de insolvência, sendo conferida “ao devedor, na oposição à

declaração de insolvência, a possibilidade não só de provar que não se verifica o facto-índice invocado, mas sobretudo, o que é muito mais relevante, que não obstante a verificação de um desses indícios ainda não se encontra, ou não se encontra de todo, em situação de insolvência (pág. 173).

3.2. No caso concreto, a apreciação dos factos provados e das demais

circunstâncias a que a lei manda atender revela que a requerida se encontra em efectiva situação de insolvência.

A requerente é credora da quantia global de € 25.777,52 por fornecimentos feitos à requerida e que, devendo ser pagos a 30 dias, continuam em dívida.

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A requerida tem outros credores e tem a correr contra si acções executivas, acentuando ainda mais a referida impossibilidade de pagamento.

As dificuldades da requerida, no que concerne ao cumprimento das suas obrigações, datam já de finais de 2005, passando a haver um déficit acumulado de toda a facturação emitida a partir de Novembro de 2005.

No que concerne à requerente, não surtiram sequer efeito as conversações no sentido de saldar a dívida existente. Tendo sido concedida à requerida uma dilação para efeitos de pagamento da dívida, com aceitação de 8 letras de € 2.000,00 cada, a vencer entre Outubro de 2006 e Maio de 2007, as mesmas não foram pagas, tendo sido devolvidas pela entidade bancária onde a requerente as apresentou a desconto, com débito das despesas e mais encargos.

3.3. Em face destes factos, pode concluir-se que o requerido se encontra numa efectiva situação de insolvência.

Com efeito, sendo de montante significativo o crédito invocado pela requerente, a que se juntam outros de outros credores, ainda que de

montantes não determinados, pendem contra a requerida acções executivas. O déficit acumulado desde finais de 2005 e a falta de prova de outros factos que elidam a presunção de insolvência assente nos referidos factos-índices não permite outra solução que não a confirmação da decisão recorrida.

Malgrado a requerida possuir instalações fabris que permitem a produção em larga escala, tal revela-se insuficiente para evitar a declaração de insolvência, já que nem se provou que a mesma tenha património suficiente para cobrir todas as suas responsabilidades ou que esteja em posição de recorrer ao crédito para suportar as suas obrigações.

Não é o facto de nas declarações de IRC relativas a 2005 e 2006 a requerida declarar a existência de lucro tributável que impede a referida declaração de insolvência.

Com efeito, a mera declaração de lucros não equivale à sua real existência. Depois, para além do reduzido valor dos que foram declarados pela requerida, o certo é que a situação devedora se vem arrastando por tempo excessivo, sem que se anteveja uma solução, não tendo surtido efeitos as tentativas de

solucionar de forma consensual a situação devedora para com a requerente. Como a própria apelante admitiu na oposição à insolvência (art. 38º), não aceitou, por considerar excessiva, a exigência de pagamento da dívida em cerca de 24 meses, à razão de € 1.250,00 por mês, como lhe era pedido pela requerente na carta de fls. 129, o que bem revela a impossibilidade de

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3.4. Invoca a apelante que a requerente não invocou situações devedoras relativamente aos últimos seis meses antes da instauração da acção. Trata-se de um argumento que improcede. O relevo atribuído ao

comportamento da devedora nesse período restringe-se aos créditos referidos no art. 20º, nº 1, al. g), do CIRE, sem que prejudique o que se verifique

relativamente a outros créditos, como os da requerente que se inscrevam nas als. b) e c) já referidas.

Sendo certo que qualquer das alíneas do mencionado art. 20º contém factos-índices reveladores de uma situação de insolvência e que, em face da prova de tais factos, se inverte o ónus da prova, a apelante não conseguiu elidir a

referida presunção. IV – Em conclusão:

Face ao exposto, acorda-se em julgar improcedente a apelação confirmando a sentença recorrida.

Custas a cargo da requerida. Notifique.

Lisboa, 28-4-09

António Santos Abrantes Geraldes Manuel Tomé Soares Gomes

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