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Palavras-chaves: Sociologias das Religiões; Ditadura Militar ( ); Educação.

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PÁGINAS CENSURADAS: OS MOVIMENTOS ESTUDANTIS E A UNIVERSIDADE DURANTE A DITADURA MILITAR NO BRASIL APRESENTADAS PELO SEMANÁRIO

O SÃO PAULO (1972-1978).

Autores: Andressa Alves Silva Melo1 Gabriella Nobrega Tamiozzo2 Vinicius Soares Corrêa3 Prof. Dr. Fabio Lanza4 Universidade Estadual de Londrina GT2 - Sociedade, cultura e religiosidades.

Resumo: Durante o período da ditadura militar no Brasil (1964-1985) houve várias manifestações estudantis e, consequentemente, várias invasões policiais em algumas universidades brasileiras, como por exemplo, a PUC – SP. É abordado neste trabalho, por meio de pesquisa bibliográfica e documental, as manifestações estudantis, as invasões nas universidades e as mortes provocadas pela austeridade dos militares. A partir da pesquisa documental do semanário O São Paulo, realizada em quatro matérias selecionadas intencionalmente em um universo de aproximadamente cento e setenta, buscou-se perceber por meio delas, a interpretação contida nesses textos relacionados ao Movimento Estudantil, sua relação com os militares e os tipos de repressões adotadas como instrumentos de punição.

Palavras-chaves: Sociologias das Religiões; Ditadura Militar (1964-1985); Educação. Introdução e contexto histórico, social e educacional

Desde que tomou conhecimento do socialismo e do comunismo, a Igreja Católica no Brasil se posicionou contra esses ideais. Pois, dentro do contexto político em que o país estava vivendo na década de 1960, para uma parcela conservadora dos clérigos e leigos, acreditava-se numa possível revolução de esquerda.

Temendo que isso ocorresse de fato, parte da Igreja Católica do Brasil apoiou a destituição do Presidente João Goulart (1961-1964) – que era considerada pelos militares uma ameaça comunista ao país - e a tomada militar ao poder, com o intuito de manter a ordem social capitalista já instituída no Brasil diante do suposto perigo que o comunismo apresentava à sociedade brasileira. Com o aparato dos militares, já estabelecido no início da década de 1970, o Brasil sofreu grandes mudanças principalmente em seu aspecto político. Desde 1968, com o decreto do AI-5 e a ampliação da repressão militar como braço do autoritarismo praticado em nome da doutrina de

1 Graduanda do curso de Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina e bolsista IC pela Fundação

Araucária. E-mail: andressasilvamelo123@hotmail.com

2

Graduanda do curso de Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina. E-mail: gaby_tamiozzo@hotmail.com

3 Graduando do curso de História pela Universidade Estadual de Londrina. E-mail: vinisofia@hotmail.com.

4 Professor adjunto do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina. E-mail:

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Segurança Nacional, sua face perante um fragmento da Igreja Católica foi manchada, cada vez mais, com denúncias principalmente contra a violação dos Direitos Humanos (ONU-1948).

Desse modo, as práticas repressivas dos militares infligia diretamente nos princípios cristãos da Igreja - defendidos pela parcela católica ligada a Teologia da Libertação - tais como: “[...] dignidade humana, fraternidade entre os seres humanos, justiça social, defesa da família” como nos mostra Wanderley (2005, p.443).

Relatos de aprisionamentos, torturas, homicídios, eram cada vez mais denunciados pelos meios de comunicação da época, como no caso do semanário O São Paulo, por exemplo, que recebia diversas cartas acusando o regime de atrocidades e violência, como nos mostra Neves Jr. (2013). Porém, muitos desses relatos eram vetados pelos censores, que impediam tais matérias de serem publicadas.

Este trabalho foi resultado da participação no projeto de pesquisa “Estudos sobre religiosidades e mídia religiosa” adotando as páginas censuradas do semanário católico O São Paulo como um documento histórico a ser analisado. A pesquisa teve como objeto os documentos fornecidos pela Arquidiocese de São Paulo, analisados sob a perspectiva qualitativa; as fontes documentais pesquisadas foram jornais, cartas e ofícios. Foram analisadas aproximadamente cento e setenta matérias vetadas integralmente ou com cortes pelos censores da ditadura militar no período de 1972 – 1978, feito recorte intencional que contemplasse a temática em discussão.

Aos poucos foi ganhando força dentro de uma parcela da Igreja Católica a perspectiva da chamada Teologia da Libertação que se posicionava em defesa dos perseguidos políticos e oprimidos sociais, assim como pela preservação dos Direitos Humanos (ONU-1948), tal como, a liberdade civil, liberdade de expressão e associação e o direito da participação democrática.

Dessa maneira, a Teologia da Libertação encontrou na doutrina de Segurança Nacional e no status quo instituída pelos militares, fortes inimigos a serem combatidos por seu novo posicionamento ideológico, ao passo que contradizia a doutrina cristã advinda da leitura dos documentos do Concílio Vaticano II (1962-1965), conforme apresentado por Lanza (2006).

No Brasil, a criação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em 1952, fez com que uma parte do clero católico se aproximasse mais das camadas populares, havendo também o começo de uma divisão entre bispos progressistas e conservadores, segundo nos mostra Lanza (2006).A Teologia da Libertação contribuiu para a formulação de algumas mudanças dentro da Igreja Católica no final da década de 1960, passando a atender as demandas da juventude, dos trabalhadores rurais e urbanos, estabelecendo críticas às injustiças do regime militar.

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A Igreja Católica passava por mudanças advindas da leitura dos documentos do Concílio Vaticano II, enquanto no Brasil se iniciava a ditadura militar, que teve instauração do golpe em 1964. O Concílio teve como um dos resultados fazer com que uma parcela da Igreja Católica se aproximasse dos interesses de grupos sociais menos favorecidos economicamente.

Em 1968, a Conferência Episcopal em Medellín critica a injustiça e desigualdade que havia na sociedade latino-americana, reforçando assim, o envolvimento da Igreja com as questões sociais de seu tempo. Enquanto isso no Brasil estava havendo o crescimento das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), em que os leigos se mobilizavam politicamente a partir de seu contexto social, gerando assim, autonomia que não era comum na religiosidade católica tradicional.

As CEBs tinham como objetivo trabalhar em regiões mais simples fazendo com que os “[...] fieis que se sintam acolhidos e responsáveis, que sejam parte integrante em comunhão de vida com Cristo e com todos seus irmãos” (Guimarães, 1978, p. 21). Em Puebla, no ano de 1979, na III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano se reforça ainda mais os ideais da Teologia da Libertação.

O semanário O São Paulo também aderiu a esse pensamento em que a Igreja Católica deve ser presente no meio popular e que “[...] assumiu completamente a linha da Teologia da Libertação, que fortaleceu ainda mais depois de Puebla, dando um grande espaço aos teólogos brasileiros [...]” (Fadul, apud, Lanza, 2006, p. 209).

No que tange o recorte da pesquisa, é necessário compreender que a partir de 1968, houveram várias medidas tomadas pelo MEC por meio das reformas do campo educacional, cujo objetivo não se restringia a organizar, mas controlar a educação no país, evitando a expansão da crise estudantil já existente no período(Romanelli, 1991, p. 226, 227).

Se o Movimento Estudantil e o debate sobre o papel da Universidade continuasse na agenda nacional, certamente refletiria em outras esferas da sociedade e no chamado “milagre econômico brasileiro”. Porém, devemos entender que a repressão aos estudantes acadêmicos não se inicia em 1968, mas sim desde o início do Golpe. Em 1° de abril de 1964, a sede da UNE(União Nacional dos Estudantes) foi invadida e incendiada e precisou atuar clandestinamente.

As universidades se organizavam, então, em Brasília com propostas renovadoras, ao qual logo após o primeiro dia do Golpe também sofreu invasão sendo considerada pelos militares como uma ameaça ao governo, como nos mostra Fausto (1995).

Os movimentos sociais associados ao meio acadêmico foram considerados como uma ameaça pela Ditadura Militar principalmente após 1968. Prova disso é o Decreto-lei 477 de 1968

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que “[...] coíbe qualquer manifestação de caráter político ou de protestos no âmbito das Universidades” (ROMANELLI, 1991, p. 226).

No período da ditadura (1964 – 1985), os militares tentaram mostrar à sociedade brasileira certa preocupação com a educação5, mas analisando os dados constados em uma matéria censurada do semanário O São Paulo, segundo as estatísticas do BID, Banco Interamericano de Desenvolvimento, de 1974, a porcentagem investida para a educação no país era de apenas 6%, sendo um dos que menos investe na educação na América Latina6. O que leva a refletir que a preocupação com a educação no Brasil, no período da ditadura militar, se restringia ao controle estatal.

Porém, as manifestações sobre o sistema educacional através dos meios de comunicação ainda eram restritos, comparado ao que viria acontecer anos seguintes. Na pesquisa do semanário O São Paulo, uma parte considerável dos documentos analisados sobre o tema da educação são sobre as manifestações da invasão policial da PUC-SP em 1977, fato que tem seu destaque dentro da pesquisa realizada.

Caminho metodológico

A pesquisa se baseia especificamente no período entre 1968 e 1978, desde severas mudanças estabelecidas pela Ditadura no âmbito educacional, onde a repressão dos militares se torna ainda mais rigorosa contra qualquer movimento considerado “subversivo”, sendo os estudantes universitários um dos principais grupos dessa lista.

Nesta pesquisa, é desenvolvida uma análise sob a perspectiva qualitativa sobre o Movimento Estudantil e a Universidade durante a Ditadura Militar (1964-85), a partir do processo de análise das matérias vetadas, de forma prévia pelos militares, do semanário O São Paulo (1972-19787),mantido pela Fundação Metropolitana Paulista da Arquidiocese de São Paulo.

O semanário O São Paulo tem suas raízes fundamentadas no catolicismo e a partir de 1970 apresenta uma forte influencia da Teologia da Libertação, que buscava a elaboração da interpretação de mundo a partir do viés social, resultando na luta pelos Direitos Humanos (ONU-1948), em defesa especialmente dos oprimidos pelo regime militar.

As matérias utilizadas podem ser consideradas fontes históricas, pois foram escritas no período em que os autores vivenciaram esse período. Contendo uma natureza crítica, grande parte das matérias selecionadas visava denunciar a opressão física e psicológica imposta pelos militares.

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Como nos mostra a matéria vetada de modo prévio, escrita provavelmente em 1975, com três laudas.

6 Dados retirados da matéria censurada de modo prévio, escrita provavelmente em 1975, com três laudas. 7 Período de imposição da censura prévia militar ao jornal semanário católico.

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Dentro disso, há relatos de aprisionamentos, torturas e invasão de universidade, como analisado mais adiante.

Assim, temos os cuidados que se devem ter ao realizar uma análise documental, apresentado por Cellard (2008), no qual devemos estar atentos a necessidade de elaborar uma análise prévia dos documentos que deve abordar as cinco categorias, apontadas pelo autor, sendo elas: contexto histórico no qual os documentos foram elaborados; conhecimento a respeito do autor que produziu estes documentos; autenticidade e confiabilidade dos documentos; a natureza do texto; e, por fim, delimitar os conceitos-chaves e a lógico interna do texto.

Foi utilizado durante o processo o método compreensivo de Weber, na tentativa de compreender com as categorias de análises, o Movimento Estudantil universitário, suas características, sua relação com o Estado e os tipos de repressões adotadas como instrumentos de punição, sob a ótica do jornal O São Paulo.

A presença do Movimento Estudantil no semanário O São Paulo

O jornal católico teve sua primeira edição em janeiro de 1956, como nos mostra Lanza (2006), é visível nesse período a preocupação do clero católico, vinculado ao semanário, no que tange a formação política e religiosa dos cristãos, pautada em uma doutrina católica conservadora, ultramontana, que prezava pela hierarquia institucional, tendo como sede o Vaticano.

Sob a influência do Concílio do Vaticano II e da Conferência Episcopal de Medellín em 1968, segmentos da Igreja Católica adotaram um posicionamento progressista. Isso significou ir a favor dos oprimidos e lutar para que os Direitos Humanos (ONU-1948) se efetivassem denunciando em seu jornal a pobreza, a miséria e os anseios dos movimentos sociais.

Durante o período de ditadura militar a liberdade de expressão e manifestações sociais em oposição a ela foram fortemente coibidas. Foi um meio de silenciar as críticas contra o regime que colocariam em risco a doutrina de Segurança Nacional.

A atuação do Movimento Estudantil universitário era apoiada por parte da Igreja Católica. Isso é percebido na matéria intitulada: “Declaração ao povo brasileiro”, em que mostra o “apoio aos estudantes que lutam pela autonomia universitária e contra a privatização do ensino”(OSP)8. Esse apoio significou publicações no Semanário escrito por estudantes, professores, organizações e padres que representavam os ideais das manifestações, mas que foram censurados.

Segundo a matéria intitulada: “A questão universitária e o movimento estudantil”, que trata sobre a atuação desse movimento e seus objetivos, são visíveis nesse documento que as

8O São Paulo, 1977, lauda 09.Matéria intitulada “Declaração ao povo brasileiro”, discurso do Pe. Heleno Fragoso

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reivindicações dos estudantes tinham um caráter político em luta pela liberdade e redemocratização do país.

A nova iniciativa política dos estudantes mantém firmes os objetivos de caráter mais geral, insistindo na reivindicação de liberdades democráticas, de anistia dos presos políticos, etc. Tendo, porém como focalizador problemas mais especificamente ligados á universidade e à sua estrutura (OSP9).

Percebe-se nesta citação que o movimento dos estudantes universitários estava também ligado às questões dos movimentos sociais, mas davam ênfase nas discussões voltadas para os problemas internos das universidades: sua precariedade, suas finalidades e o baixo investimento vindo dos órgãos públicos.

Com a criação da Operação Bandeirantes (OBAN), Destacamento de Operações de Informação e Centro de Operação Interna (DOI-CODI) no Governo Médici (1969-1974), as manifestações estudantis foram fortemente reprimidas

A primeira metade da década de 70 foi governada pelo General Emílio Garrastazu Médici. Neste governo foram criados a Operação Bandeirantes (OBAN) e os DOI-CODI (Destacamento de Operações e Informações- Informações Centros de Operações de Defesa Interna) que matizaram o recrudescimento da repressão contra os movimentos sócias contra as organizações e partidos de esquerda etc. Durante o Governo de Médici houve maior número de prisões, mortes e tortura, por isso a esquerda entrou num período de revisão e o movimento estudantil silenciou (Santos, 2009 p.6).

Nesse contexto as universidades brasileiras foram alvo de invasões, houve na Pontifícia Universidade Católica-SP, na Universidade de São Paulo e na Fundação Getúlio Vargas – SP, como nos mostra um ofício destinado ao ministro da educação em 26 de setembro de 1977, assinado por entidades e representantes do meio universitário.

Acontecimentos recentes em diversos pontos do país têm configurado uma verdadeira escala de violência contra a universidade brasileira. Vemos de um lado, a massa de estudantes e o corpo docente, desarmados de tudo, menos da palavra que é para eles o único e digno instrumento de ação e de trabalho; e de outro, a agressividade policial garantida por um poderoso aparato material de intimidação e de repressão (OSP10).

Nesse mesmo ofício, representando os interesses de organizações em apoio à luta do movimento estudantil universitário, relata a invasão da PUC-SP em 1977.

A invasão brutal, a devassa de arquivos administrativos e de bibliotecas, a depredação indiscriminada, a detenção em massa de alunos, espancados e feridos, retirados à força, até de salas de aula (OSP11).

9O São Paulo, [s/d], lauda 01. Matéria intitulada “A questão Universitária e o M.E”, sob autoria Comunidades

Universitárias de Base, não consta data, contém 7 laudas.

10O São Paulo, 1977, lauda 02. Matéria intitulada “Ofício ao Ministro da Educação” em 26/09/1977, contém 5 laudas. 11O São Paulo, 1977, lauda 02. Matéria intitulada “Ofício ao Ministro da Educação” em 26/09/1977, contém 5 laudas.

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Como podemos destacar, o Movimento Estudantil universitário passa a fazer suas manifestações nas próprias universidades temendo uma onda de violência nas ruas devido à criação dos aparelhos repressores DOI-CODI, mas como percebemos nessas citações as próprias universidades não deixaram de ser mira dos censores. Os estudantes foram privados do direito de expressão, agredidos violentamente e o espaço acadêmico foi deteriorado.

Segundo uma reportagem do jornal O São Paulo em comentário à manifestação dos estudantes da Universidade de Brasília em que Cecília Lolio faz crítica à forma como o direito de opinião é negada condicionada pela Lei de Segurança Nacional retratado também os motivos pelas quais os estudantes estavam sendo punidos.

Sessenta e quatro alunos da Universidade de Brasília que participavam do movimento estudantil foram punidos coma suspensão ou com expulsão por medida do reitor da UNB. [...] acusados de incitação à agitação ou de sublevação do meio estudantil. [...]julgados na Justiça Militar, por terem ferido dispositivos da Lei de Segurança Nacional(OSP12, sem data específica, lauda 1).

A partir desse exemplo podemos visualizar como eram tidos os movimentos estudantis durante o regime militar, uma ameaça, colocando em risco a Lei de Segurança Nacional por praticarem movimentos de revoltas contra os ideais estabelecidos.

Os movimentos sociais e principalmente o Movimento Estudantil universitário foi um forte instrumento que combateu a injustiça, e lutou pelo direito de liberdade, direto de expressão, a anistia dos presos políticos, melhorias na educação superior se opondo a educação tecnicista com objetivo de formar trabalhadores, em luta por uma educação que condissesse com uma formação crítica que levassem em consideração as questões políticas e sociais do país.

A ditadura militar impediu que atividades intelectuais e artísticas se desenvolvessem, mas não a esperança de uma juventude que lutou por condições de liberdade e democracia.

Considerações finais

Com base nas matérias analisadas do semanário O São Paulo, pode-se perceber que houve certo apoio por parte de sua direção às questões colocadas por segmentos sociais insatisfeitos com a maneira como o país estava sendo dirigido pelos militares, ou seja, a utilização de métodos de coerção violentos, física e simbolicamente, contrários às determinações encontradas nos Direitos Humanos de 1948, visando à manutenção e legitimidade do poder.

Assim, buscando a publicação de textos criticando tal governo, o Semanário católico contribuiu para popularizar tais reinvindicações sociais no âmbito religioso, que muitas vezes se via

12O São Paulo, [s/d], lauda 01. Matéria intitulada “Contra a verdade não há armas” sob autoria Cecília Lolio, com duas

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alheio a tais questões. A discussão que envolveu a Teologia da Libertação em alguns setores da Igreja Católica pode ser percebida nesse posicionamento adotado pelo O São Paulo, que se distanciava dos grupos que adotaram uma postura de apoio aos militares, mostrando com isso, ser uma instituição religiosa heterogênea, possuindo maneiras distintas, de acordo com o segmento, de perceber a relação entre religião e política.

Nesse sentido, a luta dos estudantes secundaristas e universitários pela transformação da qualidade da educação, com oposição à perspectiva tecnicista, adotada pelos militares, a ampliação do número de vagas nas universidades e sua autonomia, bem como a defesa pela liberdade de expressão e a anistia dos presos políticos, foi aderida pela direção d’O São Paulo, a partir do momento em que, um número considerável de textos referente a tais questões foram recebidos para publicação. Tais matérias não foram escritas apenas por militantes políticos que não pertencesse ao campo religioso, mas, também, de lideranças católicas, envolvidas com a perspectiva da Teologia da Libertação, se colocaram também contrários aos militares por meio de textos produzidos criticamente a tal regime, que também tiveram aceitação no Semanário.

Nos documentos analisados, percebe-se também quantidade considerável de produções sobre educação especialmente após a invasão dos militares à PUC-SP em 1977, o que pode ter fomentado de forma específica a questão da educação e a repressão militar naquele período, que já existia antes mesmo de tal acontecimento.

Segundo os dados coletados pode-se dizer que durante o período da ditadura militar, o Brasil foi um dos países que menos investiu em educação na América Latina, apesar do discurso dos militares evidenciar tal preocupação.

A censura coibia os movimentos estudantis contra a Ditadura Militar, e impedia que atividades intelectuais e artísticas se desenvolvessem no país. Mesmo com a censura, a juventude não deixou de se expressar sua revolta contra os militares, pois, sempre buscou por justiça fazendo manifestações.

Os estudantes fizeram manifestações dentro das próprias universidades para tentar escapar da mira dos censores, mas não conseguiram. Porque mesmo com as invasões nas universidades os censores coibiram essas manifestações e por esse motivo, houve punições e expulsões de alunos das universidades.

Esses movimentos foram muito importantes para combater as injustiças e defender o direito à liberdade de expressão.

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CELLARD, André. A análise documental. In: POUPART, Jean et all. A Pesquisa Qualitativa: Enfoques epistemológicos e metodológicos, 3° ed. Rio de Janeiro: Petrópolis, Editora Vozes, 2012, pg 295-316.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo, editora da USP, 1994.

GUIMARÃES, Frei Almir Ribeiro. Comunidades de Base no Brasil: uma nova maneira de ser em Igreja. Petrópolis, Vozes, 1978.

LANZA, Fábio. Matrizes ideológicas dos arcebispos paulistanos (1956-85): Um olhar sob o prisma do semanário "O São Paulo". Tese de Doutorado apresentada à PUC/SP, São Paulo. 2006.

NEVES JR, José. Os bastidores da ditadura militar no Brasil (1964-85): Dos documentos dos DEOPS às matérias vetadas no semanário O São Paulo. 2013. Monografia (Bacharel) em Ciências Sociais apresentada a UNIVERSIDADE ESTADUAL de LONDRINA.

ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da Educação no Brasil (1930/1973), 8° ed. Petrópolis, Vozes, 1986.

SANTOS, Jordana de Souza. A repressão ao Movimento Estudantil na ditadura militar. Revista Aurora, São Paulo,v.3,n.1,p. 06. 2009.

WANDERLEY, Luiz Eduardo W. “A Igreja Católica em São Paulo (1900-1964): associações operárias católicas, Ação Católica e Partido Democrata-Cristão”. In: VILHENA, Maria Ângela; PASSOS, João Décio (Orgs.). A Igreja de São Paulo: presença católica na cidade. São Paulo, Paulinas/PUC-SP, 2005.

FONTES DOCUMENTAIS

OSP8. Declaração ao povo brasileiro.01 de março de 1977, 11 laudas.

OSP9. A questão universitária E O M.E,[s.d -- de - 197-], 7 laudas.

OSP10. Ofício ao ministro da educação, Divulgado por Todos os Jornais. Assinado por Numerosas Entidades de Notória Respeitabilidade. 26 de setembro de 1977, 5 laudas.

OSP11. ______________. 26 de setembro de 1977, 5 laudas.

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