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Impactos do trabalho em turnos na qualidade do sono e atenção sustentada de operadores paineleiros de uma empresa petroquímica

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Academic year: 2021

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Submetido em 20/12/2013│Aceito em 12/01/2015 ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 30/04/2015

Impactos do trabalho em turnos na qualidade do sono e

atenção sustentada de operadores paineleiros de uma

empresa petroquímica

Impact of shift work on sleep quality and sustained attention of panel operators in the petrochemical company

Cibele Siebra Soares *, Katie Moraes de Almondes

Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Departamento de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil.

Resumo

Este trabalho se propõe a analisar os efeitos do trabalho em turnos na qualidade de sono e na atenção sustentada de trabalhadores em turnos alternantes. Dados referentes a este esquema de trabalho, em ambiente operacional real, ainda são escassos na literatura. O recorte amostral consti tui-se de 21 trabalhadores, subdivididos em 10 parti cipantes alocados no turno diurno e 11 no turno noturno. Uti lizou-se o Índice de Qualidade de Sono de Pitt sburgh (IQSP), o diário do sono e o Teste de Vigilância Psicomotora (PVT). A qualidade do sono foi pior no turno noturno do que no diurno. A atenção sofreu oscilação no desempenho, em função da hora do dia, da idade e dos anos de trabalho em esquema de turnos alternantes, para os dois turnos. O pior desempenho na atenção foi associado com o sono de curta duração no trabalho durante o turno noturno. Sugere-se que o trabalho noturno cause mais prejuízos ao sono dos trabalhadores e que a privação do sono pode afetar o desempenho cogniti vo de funções como a atenção sustentada.

Abstract

This work aims to analyze the eff ects of shift work on sleep quality and sustained att enti on of workers on shift rotati on. Data relati ng to this shift work, in a real operati onal environment, are sti ll scarce in the literature. The sample cut is made up of 21 workers, subdivided into 10 parti cipants allocated to the day shift and 11 workers on night shift . The Pitt sburgh Sleep Quality Index (PSQI), the Sleep Diary and the Psychomotor Vigilance Task (PVT) were used. Sleep quality was worse on the night shift than day shift . Att enti on showed variati on in performance, depending the ti me of day, age and years of work in shift rotati on for the two shift s. The worst att enti on performance was associated with short sleep durati on the night shift . It is suggested that the night work causes more harm to the workers’ sleep and that sleep deprivati on may aff ect cogniti ve performance of functi ons such as sustained att enti on.

Autores de Correspondência:

C. S. Soares – Rua Edmundo Pereira de Assis, 205/503, Universitário, CEP 58429-153, Campina Grande,

PB, Brasil. E-mail: cibelesiebrass@gmail.com

K. M. de Almondes – Departamento de Psicologia, Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, Campus Universitário, Caixa Postal 1622, Lagoa Nova. CEP 59078-970, Natal, RN, Brasil. E-mail: kati e.almondes@gmail.com

Palavras-chave: Qualidade de sono; atenção; tra-balhadores em turnos; teste de vigilância psico-motora.

Keywords: Sleep quality; shift workers; att enti on; psychomotor vigilance task.

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1. Introdução

O trabalho em turnos é uma prática comum na sociedade moderna e se caracteriza pela organização temporal dos horários de trabalho, nos quais equipes se revezam, objetivando a manutenção da produção ininterrupta, mesmo a noite e nos finais de semana (OIT, 2009; Pati, Chandrawanshi & Reinberg, 2001). Numerosos estudos apontam que, devido à necessidade de cumprir extensas horas de trabalho, em horários não usuais e sempre variantes, o trabalho em turnos, quer seja diurno ou noturno, pode interferir no sono normal dos indivíduos, resultando em privação, irregularidades no ciclo sono e vigília e/ou distúrbios do sono (Akerstedt, 2003; Almondes & Araujo, 2011; Benedito-Silva, 2008; Waage, Pallesen, Moen & Bjorvatn, 2013).

Esta afirmação é compreendida em função dos mecanismos reguladores do ciclo sono e vigília: os processos homeostático e circadiano. O processo homeostático é responsável pela pressão do sono quando a vigília é alongada e a redução dessa propensão em resposta a um adequado período de sono. O processo circadiano, por sua vez, controla o início do sono à noite e o seu término ao amanhecer, por meio de um conjunto de osciladores que compõem o Sistema de Temporização Circadiano, que incluem o núcleo supraquiasmático do hipotálamo anterior (entre outras áreas do cérebro e outros órgãos), favorecendo a alternância do sono e da vigília em sincronização com o claro e escuro ambiental com um período de 24 horas (Van Dongen & Dinges, 2000).

No trabalho noturno, quando a vigília é deslocada para a noite e o repouso para o dia, ocorre um desalinhamento entre esses dois mecanismos, resultando em dessincronizações, tendo como consequência reduções crônicas das horas de sono e menor eficiência do sono (Benedito-Silva, 2008; Menna-Barreto, 2004). Por isso, embora alterações no sono sejam descritas em todos os esquemas de turnos (alternante ou fixo) (Almondes & Araujo, 2011), os prejuízos associados ao trabalho noturno parecem ser mais acentuados (Baulk, Fletcher, Kandelaars, Dawson & Roach, 2009; Guyette, Morley, Weaver, Patterson & Hostler, 2013). As pesquisas de Van Dongen, Belenky & Vila (2011), Oliveira & De Martino (2013) e Darwent, Lamond & Dawson (2008),

por exemplo, demonstraram que trabalhadores alocados no turno noturno apresentaram sono de menor duração e de pior qualidade, quando comparados aos trabalhadores no turno diurno.

Há evidências de que a perda de sono e o desalinhamento circadiano ocasionam o comprometimento do desempenho cognitivo de funções como a atenção sustentada, também chamada de vigilância (Alhola & Polo-Kantola, 2007; Ferguson, Kennaway, Baker, Lamond & Dawson, 2012). Ela se refere à capacidade de manter uma resposta estável durante uma tarefa repetitiva e contínua, por um determinado período de tempo (Fuentes, D’Alcante, C. C. & Savage, 2010). Modulada por fatores circadianos e em condições de normalidade, a capacidade de sustentar a atenção oscila diariamente, podendo aumentar ou diminuir o desempenho a cada 90 minutos (Van Dongen & Dinges, 2000; Wright, Lowry & LeBourgeois, 2012). No entanto, sob efeito do sono insuficiente e das alterações circadianas, ocasionadas pelo trabalho em turnos, os processos cognitivos ligados à atenção tornam-se mais lentos, instáveis e propensos a erros. Como resultado, há um declínio na capacidade de sustentar a atenção e de responder a estímulos do ambiente em um tempo hábil, sendo manifestado através de lapsos e lentificação de respostas (Nielson, Deegan, Hung & Nunes, 2010; Ratcliff & Van Dongen, 2009).

O Teste de Vigilância Psicomotora (Psychomotor Vigilance Task – PVT), que consiste na estimativa do tempo de reação de um indivíduo frente à apresentação de um estímulo, é uma ferramenta eficaz para a avaliação da atenção sustentada em trabalhadores em turnos, pois é sensível aos efeitos da restrição de sono e das variações homeostáticas e circadianas no desempenho (Van Dongen & Dinges, 2005; Drummond et al., 2005). A pesquisa de Ferguson, Paech, Dorrian, Roach & Jay (2011), por exemplo, avaliou o impacto do trabalho em turnos alternantes de 12 horas sobre o sono, utilizando um diário do sono, e a atenção sustentada (por meio do PVT) de operadores de minas. Os resultados demonstraram que os tempos de reação foram mais lentos no final do turno noturno, do que no seu início e do que em todo turno diurno, demonstrando a influência

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do horário de aplicação do teste nos resultados. Além disso, a menor quantidade de sono, antes do turno noturno, foi relacionada a tempos de resposta mais lentos, fornecendo evidências de que o sono é um mediador primário da

performance cognitiva.

Semelhante a esse trabalho, o estudo de Anderson et al. (2012) encontrou diminuição crônica das horas de sono após três semanas de trabalho em turnos alternantes, associada com a degradação progressiva dos tempos de reação e lapsos, avaliados por meio do PVT. Baulk et al. (2009), utilizando um diário do sono e actigrafia para avaliação do sono e o PVT para avaliar a atenção, encontraram maior tempo total de vigília e o pior desempenho no PVT no turno noturno, em relação ao diurno.

O declínio do desempenho em processos atencionais pode estar associado ao risco aumentado de falhas e acidentes de trabalho (Killgore, Kahn-Greene, Grugle, Killgore & Bailkin, 2009), principalmente para profissões ligadas a ambientes operacionais complexos, cujos erros podem ter graves consequências

para a segurança dos trabalhadores. É o caso do trabalho de operadores paineleiros de empresas petroquímicas, em que a atividade requer monitoramento constante do funcionamento dos aparelhos industriais, tornando-os uma população especialmente importante para a avaliação.

No entanto, a maioria das pesquisas tem avaliado os efeitos prejudiciais do trabalho em turnos em ambiente controlado de laboratório, sendo escassos estudos que avaliem os profissionais em condições reais de trabalho, sobretudo em esquema de turnos alternantes, considerando variáveis do ambiente operacional e das rotações dos turnos que possam interferir no desempenho. Neste sentido, este estudo teve como objetivo avaliar o impacto do trabalho em turnos alternantes no sono e na atenção sustentada de operadores paineleiros de uma empresa petroquímica. Espera-se encontrar diferenças entre o trabalho no horário diurno e noturno, que haja oscilação no desempenho ao longo do dia e que haja correlações entre o sono e atenção.

2. Materiais e Método Amostra

A amostra por conveniência foi composta de 21 participantes, do sexo masculino, na faixa etária de 19 a 53 anos (M = 38, DP = 10,3), cuja profissão era a de operadores paineleiros de uma empresa petroquímica, localizada no município de Guamaré-RN. As atividades dos operadores paineleiros envolvem o controle e monitoramento das variáveis de processo (temperatura, pressão, vazão, volume) referentes aos equipamentos instalados na área industrial, por meio de acompanhamento visual de telas de computador.

Todos os trabalhadores estavam submetidos a esquemas de turnos alternantes (diurno e noturno) de 12 horas ininterruptas, durante sete dias corridos, em que os sete dias de trabalho diurno eram sucedidos de sete dias de folga e os sete dias de trabalho com alocação noturna eram sucedidos de 14 dias de folga. Os participantes ficavam alojados dentro da empresa, durante a semana de trabalho. Os turnos diurnos tiveram início às 07h e término às 19h e os turnos noturnos iniciaram-se às 19h,

encerrando-se às 07h. A amostra foi dividida em dois grupos, com o intuito de verificar possíveis influências do horário de aplicação dos testes (dia ou noite) no sono e na atenção sustentada: 1) participantes que, no momento da realização da pesquisa, estavam alocados no turno diurno (n = 10); e 2) trabalhadores que, no momento da aplicação dos testes, estavam sob esquema de turno noturno (n = 11). Por conta da natureza das tarefas desempenhadas, não era permitido aos trabalhadores ausentarem-se da sala de controle em intervalos para alimentação ou descanso. Assim, todas as refeições realizadas no horário de trabalho eram feitas dentro da sala de controle e não havia um horário preestabelecido para fazê-las.

Os critérios de inclusão empregados no estudo foram possuir acuidade visual normal ou corrigida, avaliada por meio da cartela de optotipos “E” de Raskin (formada por caracteres que diminuem de tamanho progressivamente, os quais devem ser identificados pelos participantes),

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ser livre de doenças oculares identificáveis e estar submetido ao esquema de turno alternante. Os critérios de exclusão da amostra foram: i) presença de qualquer transtorno neuropsiquiátrico ou patológico (depressão, distúrbios do humor, diabetes, hipertensão, problema cardiovascular, etc.); ii) presença de distúrbios ou perturbações do sono (insônia, ronco excessivo, apneia do sono, pesadelo, despertares noturnos, etc.); e iii)

participantes que, independentemente do motivo, desistiram de participar em qualquer etapa da pesquisa. Estas informações foram obtidas por meio de entrevista, questionário de hábitos de sono e de avaliações feitas periodicamente pela própria empresa. A participação dos voluntários foi feita mediante a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.

Protocolos e Instrumentos

A pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN (protocolo nº 322/2011) utilizou para a avaliação do sono: um Diário do Sono, o qual consiste em um registro diário feito pelos trabalhadores a respeito de informações sobre o horário de dormir e acordar, cochilos ao longo do dia e despertares noturnos. Para a presente pesquisa, foram elaborados dois diários de sono, um para quando os trabalhadores estivessem sob o esquema diurno de trabalho e outro adaptado para quando estivessem alocados no turno noturno; e o Índice da Qualidade do Sono de Pittsburgh (IQSP), utilizado para quantificar a qualidade do sono dos indivíduos. Ele é formado por 10 questões relacionadas aos hábitos normais de sono, referentes ao mês anterior em que o indivíduo estava alocado. A pontuação do IQSP varia de 0 a 20, em que pontuações de 0-4 indicam boa qualidade do sono, de 5-10 indicam qualidade ruim e acima de 10 indicam distúrbios do sono.

Para a avaliação da atenção foi utilizado o Teste de Vigilância Psicomotora (PVT), que avalia o tempo de resposta de um indivíduo ao ser apresentado a um estímulo que aparece na tela de um computador de mão. Neste estudo, o teste foi realizado em um palm top do modelo Zire 22 (Owens, 2007) e as variáveis fornecidas pelo PVT utilizadas nas análises foram o tempo médio de reação (RT), o qual consiste na média do tempo de resposta do indivíduo para cada estímulo visual e o número de lapsos (LP), que são as respostas com tempo de reação superiores a 500 milissegundos (ms). A presente versão do teste teve, em média, cinco minutos de duração.

Antes de iniciar a coleta de dados, foi feito o contato com os trabalhadores para comunicá-los a respeito dos objetivos da pesquisa e apresentar o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Para aqueles que manifestaram o desejo

em participar do estudo, foram fornecidas instruções sobre as tarefas que deveriam executar e solicitado o preenchimento de uma ficha de identificação e de um questionário de hábitos de sono. Ambos continham questões sobre dados sociodemográficos, sobre o esquema de trabalho, condições de saúde e fatores relacionados aos hábitos e episódios de sono diários.

O diário de sono foi respondido pelos participantes durante 14 dias consecutivos, de modo a englobar uma semana de trabalho e uma semana de folga, para ambos os turnos. Ou seja, mesmo os trabalhadores noturnos, tendo 14 dias de folga, o diário de sono foi preenchido apenas durante a sua primeira semana de folga. Os questionários foram recolhidos após os trabalhadores retornarem da sua folga. O IQSP foi aplicado no primeiro dia de trabalho, em ambos os turnos.

O PVT foi aplicado durante três dias consecutivos, a partir do primeiro dia de trabalho, com medidas às 11h, 14h e 17h (turno diurno) e 23h, 02h e 05h (turno noturno). Os trabalhadores tiveram acompanhamento da responsável pela pesquisa durante o primeiro dia de avaliação do PVT, em todos os horários em que ele foi executado, com o intuito de auxiliá-los no manuseio do equipamento e esclarecer possíveis dúvidas. Nos dois dias subsequentes da avaliação, já treinados, os trabalhadores realizaram, sozinhos, a atividade do PVT, tendo os equipamentos recolhidos ao final do terceiro dia. O aparelho do PVT foi programado para acionar um alarme nos horários previstos para a execução do teste, com o intuito de lembrar os participantes da tarefa que deveriam desempenhar. Como também, para controle da pesquisa, foi registrado no aparelho o horário exato da execução de cada sessão de teste.

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Análise dos Dados

No presente estudo, utilizou-se o SPSS

– Statistic, Statistical Package for the Social Sciences (versão 17.0) para a análise estatística

dos dados obtidos. Foram realizadas análises descritivas (frequências, médias e desvio-padrão) e inferenciais. Devido ao pequeno tamanho da amostra, optou-se por submeter os dados a análises estatísticas não paramétricas.

O Teste de Wilcoxon foi utilizado para a comparação das médias das variáveis de sono (horários e duração do sono) entre os dias de trabalho e de folga, em amostras pareadas. Empregou-se o Teste U de Mann-Whitney para

analisar as diferenças entre as médias do IQSP, diário de sono e para analisar as diferenças entre as médias do PVT das duas condições em estudo (turno diurno e turno noturno). As médias das variáveis do PVT (tempo de reação e número de lapsos), para os três horários, foram comparadas por meio do Teste de Friedman. O Teste de Correlação de Spearman foi utilizado para verificar a ocorrência de correlações entre os dados sociodemográficos (idade e tempo de trabalho em turno alternante), as variáveis de sono (qualidade, duração e irregularidade do sono) e os resultados do PVT.

3. Resultados

Os dados sociodemográficos obtidos dos 21 participantes permitiram identificar uma média de idade de 38 anos (DP = 10,3). A maioria dos participantes era casada (72,2%), 57,1% tinha de 6 a 10 anos de tempo de trabalho em esquema de turno alternante e 33,3% estava trabalhando há mais de 20 anos sob o esquema de turno alternante.

A partir dos resultados do IQSP, demonstrou-se que, no turno diurno, houve qualidade do sono boa (Md = 4,1, DP = 2,07) e no turno noturno qualidade do sono ruim (Md = 7,63, DP = 1,77). As diferenças entre as médias dos dois turnos foram estatisticamente significativas (U = 12,5, p < 0,05), sugerindo que os trabalhadores alocados no turno noturno tiveram

pior qualidade do sono, quando comparados aos trabalhadores no turno diurno. Os dados do Diário de Sono forneceram informações sobre o horário de dormir, a duração e regularidade do sono. No turno diurno (Figura 1), verificou-se que os participantes iniciaram o sono mais tarde nos dias de folga, quando comparados aos dias de trabalho (Z = -2,37, p < 0,05). Os pequenos valores dos desvios-padrão das médias dos horários de dormir sugerem regularidade quanto aos horários de início do sono, nos dias de trabalho e de folga. Houve duração do sono adequada na semana de trabalho, mas na semana de folga, os participantes dormiram um pouco menos, contudo, as diferenças não foram estatisticamente significativas (Z = -1,01; p = 0,30).

Figura 1. Médias dos horários do sono em trabalhadores no turno diurno, durante 14 dias consecutivos

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No turno noturno (Figura 2), não foi possível comparar as médias de início do sono entre os dias de trabalho e de folga, já que, nos dias de trabalho, os participantes dormiam no período diurno e, na semana de folga, iniciavam o sono à noite. Observou-se que os pequenos valores dos desvios-padrão das médias do horário de dormir, para os dias de trabalho e de folga, indicam regularidade nos horários de

início do sono. Os participantes não dormiram uma quantidade de horas suficientes na semana de trabalho, mas tiveram uma duração adequada na semana da folga. As diferenças foram estatisticamente significativas (Z = -2,19; p < 0,05), sugerindo que, no turno noturno, a duração do sono foi menor na semana de trabalho, do que na folga.

Figura 2. Médias dos horários do sono em trabalhadores no turno noturno, durante 14 dias consecutivos

Nota: 1. IS = Início do sono. 2. DS = Duração do sono. 3. IR = Irregularidade do sono.

Comparou-se a média de duração do sono entre os participantes nos turnos diurno e noturno, para os dias de trabalho e de folga, por meio do teste de Mann-Whitney. Não houve diferenças estatisticamente significativas entre as médias nos dois turnos, na semana de trabalho (U = 24; p = 1), mas houve na semana de folga (U = 4,5; p < 0,001). Sugere-se que os trabalhadores no turno noturno tiveram duração do sono maior na folga, quando comparados aos trabalhadores no turno diurno.

Os resultados do PVT no turno diurno indicaram uma diminuição nos tempos de reação no decorrer do turno de trabalho (Figura 3). Por meio do Teste de Friedman, observou-se que o tempo de reação obtido pelos participantes foi maior às 11h, quando comparado ao horário das 14h (χ² = 3,6; p < 0,05) e 17h (χ² = 6,4; p < 0,05). Para o turno noturno, observa-se que o tempo de reação obtido foi maior no horário de 23h, do que às 02h (χ² = 7,36; p < 0,001) e foi maior às 05h, do que às 02h (χ² = 4,45; p < 0,05).

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Figura 3. Média do tempo de reação em trabalhadores no turno diurno e noturno para o primeiro (11h e 23h), segundo (14h e 02h) e terceiro horário de aplicação (17h e 05h)

Nota: 1. O eixo das ordenadas corresponde aos valores do tempo de reação e o eixo das abscissas corresponde aos horários em que o PVT foi aplicado.

2. RT1 = Tempo de reação do primeiro horário de aplicação. 3. RT2 = Tempo de reação do segundo horário de aplicação. 4. RT3 = Tempo de reação do terceiro horário de aplicação.

Comparou-se a média do tempo de reação entre os trabalhadodes nos turnos diurno e noturno para os três horários de aplicação do PVT, por meio do teste de Mann-Whitney (Figura 3). Não houve diferenças estatisticamente signifivativas nas comparações entre os horários: de 11h00min e 23h00min (U = 33; p = 0,12), 14h00min e 02h00min (U = 38,5; p = 0,24) e 17h00min e 05h00min (U = 31,5; p = 0,09), o que sugere que os participantes no turno noturno não apresentaram maior tempo de reação, do que os

participantes no turno diurno.

Semelhante ao tempo de reação, observou-se uma diminuição nos lapsos cometidos pelos participantes no turno diurno no decorrer do turno de trabalho (Figura 4). Por meio do Teste de Friedman, observou-se que estes participantes cometeram mais lapsos às 11h, quando comparados aos horários das 14h (χ² = 3,6; p < 0,05) e 17h (χ² = 5,44; p < 0,05), e cometeram mais lapsos às 14h, do que às 17h (χ² = 3,6; p < 0,05).

Figura 4. Média do número de lapsos em trabalhadores no turno diurno e noturno de uma empresa petroquímica para o primeiro (11h e 23h), segundo horário de aplicação (14h e 02h) e terceiro horário de aplicação (17h e 05h) Nota: 1. O eixo das ordenadas corresponde aos valores do número de lapsos e o eixo das abscissas corresponde aos

horários em que o PVT foi aplicado.

2. LP1 = Número de lapsos do primeiro horário de aplicação. 3. LP2 = Número de lapsos do segundo horário de aplicação. 4. LP3 = Número de lapsos do terceiro horário de aplicação.

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Com relação aos trabalhadores no turno noturno, na Figura 4, é possível verificar que o número de lapsos cometidos no horário de 23h foi significativamente maior do que os lapsos cometidos às 02h (χ² = 9; p < 0,001). De forma similar, houve um aumento estatisticamente significativo nas médias dos lapsos cometidos às 05h, quando comparado aos lapsos às 02h (χ² = 3,6; p < 0,05).

Embora o número de lapsos cometidos pelos trabalhadores no turno noturno tenha sido maior no primeiro e terceiro horários, 23h e 05h, de avaliação do PVT, do que o número de lapsos no turno diurno, em seus horários correspondentes (11h e 17h), o teste de Mann-Whitney não demonstrou haver um aumento significativo no número de lapsos cometidos pelo turno noturno, em comparação ao turno diurno para os três horários de aplicação: de 11h00min e 23h00min (U = 44; p = 0,44), 14h e 02h (U = 39; p = 0,25) e 17h e 05h (U = 33,5; p = 0,12).

Foi investigada a existência de correlações entre os dados sociodemográficos, idade e o tempo de trabalho em esquemas de turnos alternantes, com as variáveis do sono (qualidade, duração, e regularidade) e do PVT (tempo de reação e lapsos). Foi analisada também a existência de correlações entre as variáveis do sono e do PVT.

Os dados apresentados na Tabela 1 demonstram que não houve interação entre a idade e o tempo de trabalho em turno alternante, para os trabalhadores alocados no turno diurno. No turno noturno, foram encontradas correlações negativas estatisticamente significativas entre a duração do sono nos dias de trabalho, a idade (rho = -0,83; p < 0,05) e o tempo de trabalho em esquema de turnos alternantes (rho = -0,84; p < 0,05). Portanto, sugere-se que quanto maior a idade e o tempo de trabalho em esquema de turnos alternantes, menor a duração do sono dos trabalhadores com alocação de trabalho noturno.

Turno diurno

(n = 10) Turno noturno(n = 11)

Idade Tempo em turno alternante Idade Tempo em turno alternante

rho p rho p rho p rho P

Qualidade do sono 0,34 0,33 -0,25 0,48 -0,32 0,32 -0,20 0,54 Duração do sono trabalho 0,25 0,58 -0,06 0,88 -0,85 0,01* -0,86 0,01* Duração do sono folga 0,50 0,24 0,12 0,79 -0,35 0,43 -0,28 0,53 Regularidade do sono trabalho 0,43 0,20 0,24 0,42 -0,65 0,11 -0,65 0,11 Regularidade do sono folga -0,34 0,45 0,24 0,42 0,14 0,76 0,07 0,87

Tabela 1. Correlações entre os dados sociodemográficos e as variáveis do sono em trabalhadores no turno diurno e noturno

* Correlações estatisticamente significativas (p < 0,05).

Por meio da Tabela 2, observa-se correlações positivas estatisticamente significativas entre o tempo de trabalho em esquema de turnos alternantes e a média dos tempos de reação do segundo horário (rho = 0,66; p < 0,05) e terceiro horário (rho = 0,71; p < 0,02), para os participantes no turno diurno. Portanto, quanto menor o tempo de trabalho em turno

alternante, menor os tempos de reação obtidos para os participantes nos horários das 14h e 17h.

Os trabalhadores no turno noturno apresentaram correlações positivas estatisticamente significativas entre a idade e a média dos tempos de reação às 23h (rho = 0,62; p < 0,05) e às 05h (rho = 0,64; p < 0,03), entre o tempo de trabalho em esquema de turno e a média dos

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tempos de reação avaliados às 23h (rho = 0,75, p < 0,001) e às 05h (rho = 0,75, p < 0,001), entre a idade e o número de lapsos cometidos às 23h (rho = 0,84; p < 0,001) e entre o tempo de trabalho em esquemas de turno e o número de lapsos

cometidos às 23h (rho = 0,86; p < 0,001). Neste sentido, quanto maior a idade e tempo de trabalho em esquema de turno alternante, maior a média dos tempos de reação e maior o número de lapsos cometidos pelos participantes (Tabela 2).

Variáveis Turno Diurno(n = 10) Turno Noturno(n = 11)

Idade Tempo em turno alternante Idade Tempo em turno alternante

rho p rho p Rho p rho p

RT1 0,08 0,80 0,05 0,88 0,62 0,03* 0,75 0,001** RT2 0,12 0,72 0,66 0,03* 0,31 0,35 0,18 0,57 RT3 0,47 0,17 0,71 0,02* 0,64 0,03* 0,75 0,001** LP1 0,40 0,25 0,38 0,26 0,84 0,001** 0,86 0,001** LP2 0,06 0,86 0,39 0,26 0,33 0,30 0,23 0,48 LP3 0,27 0,44 -0,19 0,58 0,44 0,17 0,43 0,18

Tabela 2. Correlações entre os dados sociodemográficos e o desempenho no PVT em trabalhadores no turno diurno e noturno

Nota: 1. RT1 = Tempo de reação do primeiro momento de aplicação (11h e 23h). 2. RT2 = Tempo de reação do segundo momento de aplicação (14h e 02h). 3. RT3 = Tempo de reação do terceiro momento de aplicação (17h e 23h). 4. LP1 = Número de lapsos do primeiro momento de aplicação (11h e 23h). 5. LP2 = Número de lapsos do segundo momento de aplicação (14h e 02h). 6. LP3 = Número de lapsos do terceiro momento de aplicação (17h e 05h).

*Correlações estatisticamente significativas (p < 0,05). **Correlações estatisticamente significativas (p < 0,001).

Não houve correlação entre o sono e o PVT, no turno diurno, mas conforme apresentado na Tabela 3, no turno noturno foram encontradas correlações negativas estatisticamente significativas entre a duração do sono, nos dias de trabalho, e o tempo médio de reação obtido às

23h (rho = -0,78; p < 0,05) e os lapsos cometidos pelos participantes às 23h (rho = -0,95; p < 0,001), sugerindo que, quanto menor a duração do sono durante a semana de trabalho, maiores os tempos de reação e lapsos obtidos às 23h.

Turno Noturno (n = 11)

RT1 RT2 RT3 LP1 LP2 LP3

rho p rho p rho p rho P rho p rho p

Qualidade do sono -0,37 0,25 -0,30 0,36 -0,20 0,54 -0,19 0,55 0,09 0,78 -0,28 0,39 Duração do sono trabalho -0,78 0,03* 0,57 0,18 0,57 0,018 -0,95 0,001** 0,25 0,57 0,52 0,22 Duração do sono folga -0,14 0,76 0,25 0,58 -0,53 0,21 -0,09 0,80 0,14 0,73 -0,37 0,40 Regularidade do sono trabalho -0,36 0,42 -0,50 0,24 0,07 0,84 -0,61 0,13 0,13 0,78 0,08 0,86 Regularidade do sono folga 0,21 0,64 0,64 0,11 0,31 0,35 0,09 0,84 -0,11 0,81 -0,09 0,84

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Tabela 3. Correlações entre o PVT e sono em trabalhadores no turno noturno Nota: 1. RT1 = Tempo de reação do primeiro momento de aplicação (23h).

2. RT2 = Tempo de reação do segundo momento de aplicação (02h). 3. RT3 = Tempo de reação do terceiro momento de aplicação (23h). 4. LP1 = Número de lapsos do primeiro momento de aplicação (23h). 5. LP2 = Número de lapsos do segundo momento de aplicação (02h).

6. LP3 = Número de lapsos do terceiro momento de aplicação (05h). *Correlações estatisticamente significativas (p < 0,05). **Correlações estatisticamente significativas (p < 0,001). 4. Discussão

A presente pesquisa foi realizada com trabalhadores em turnos alterantes de uma empresa petroquímica. Optou-se por separá-los em um grupo de trabalhadores alocados no turno diurno e outro com alocação noturna, objetivando identificar diferenças na qualidade do sono e atenção sustentada, em função do horário de aplicação dos testes.

Os resultados da qualidade do sono demonstraram que os participantes alocados no turno noturno apresentaram qualidade do sono ruim, com média inferior à do turno diurno. Estes resultados estão de acordo com pesquisas anteriores, que também encontraram mais prejuízos na qualidade do sono dos profissionais trabalhando à noite (Darwent et al., 2008; Oliveira & De Martino, 2013). Nesta circunstância, o sono é deslocado para o dia causando uma dessincronização com outros ritmos internos (ex.: melatonina e temperatura corporal), levando ao sono fragmentado, irregular e de reduzida duração, tendo como resultado, mais queixas de sonolência excessiva durante o trabalho e dificuldades para dormir durante o dia (Farbos, Bougrine, Cabon, Mollard & Coblentz, 2000; Mauss, Litaker, Jarczoc, Bosch & Fischer, 2013).

Como consequência de estar trabalhando em um horário invertido, do ponto de vista circadiano, os trabalhadores no turno noturno tiveram sono considerado de curta duração na semana de trabalho, enquanto os trabalhadores no turno diurno dormiram uma quantidade de horas adequada. Embora as diferenças entre os dois turnos não tenham sido significativas, os resultados corroboram dados da literatura, os quais demonstraram que o trabalho noturno tende a diminuir em média 1 hora de sono, quando comparado ao trabalho diurno (Akerstedt, 2003). Como tentativa de recuperar o sono perdido, os trabalhadores no turno noturno dormiram mais

na semana de folga, do que na semana de trabalho e mais do que os participantes no turno diurno, também na folga. Esse sono de recuperação na folga, chamado de rebote do sono, demonstra o padrão conhecido como restrição-extensão do sono, ou seja, restrição do sono durante os dias de trabalho e a extensão do mesmo durante a folga, servindo de indício de que os participantes estavam privados de sono (Alhola & Polo-Kantola, 2007; Orzel-Gryglewska, 2010).

Pesquisas têm mostrado que a privação do sono pode afetar substancialmente a capacidade de manter a atenção e responder aos estímulos do ambiente em tempo hábil (Ratcliff & Van Dongen, 2009; Van Dongen & Dinges, 2000). Portanto, as correlações encontradas entre o sono de curta duração na semana de trabalho e o pior desempenho no PVT, para os participantes alocados no turno noturno, são consistentes com a literatura e com os estudos de Anderson et al. (2012), Ferguson et al. (2011) e Vetter, Juda & Roenneberg (2012), demonstrando o papel mediador do sono no desempenho cognitivo.

Um dos fatores que pode justificar a vulnerabilidade do desempenho cognitivo à privação do sono, é o fato desta condição afetar o funcionamento de algumas áreas cerebrais, como o córtex pré-frontal (Babkoff, Zukerman, Fostick & Ben-Artzi, 2005; Killgore et al., 2009). Esta região está envolvida com o planejamento de ações sequenciais, memória, habilidade de priorizar e selecionar as tarefas e sustentar a atenção em uma tarefa selecionada, dentre outras, comprometendo as funções cognitivas que dela dependem (Orzel-Gryglewska, 2010). Além disso, a vigília alongada e a pressão ao sono, durante o turno da noite, pode ter deixado os indivíduos mais sonolentos e mais propensos a cometerem falhas.

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houve influência do horário e de fatores homeostáticos e circadianos, nas oscilações de desempenho no PVT, para os participantes dos dois turnos. O fator circadiano influencia nas oscilações orgânicas dos níveis de atenção no decorrer das 24 horas e a pressão homeostática para o sono faz com que os indivíduos tornem-se mais sonolentos, deixando-os com os reflexos para as respostas mais lentos e desatentos (Santhi, Aeschbach, Horowitz & Czeisler, 2008).

No turno diurno, o tempo de reação e os lapsos foram mais elevados no primeiro horário de avaliação do PVT e melhoraram ao longo do turno. Estes resultados foram semelhantes à pesquisa de Vetter et al. (2012), feita com trabalhadores em turnos alternantes, que também encontrou pior desempenho no PVT no início do turno da manhã e uma melhora com o aumento do tempo em vigília. Segundo achados da pesquisa dos autores, os resultados do PVT foram influenciados pelo débito de sono anterior ao início do turno da manhã. Este fato também pode ter ocorrido com os trabalhadores desta pesquisa, pois eles iniciavam o turno às 07h e precisavam acordar algum tempo antes. Em decorrência disso, pode ter havido antecipação do horário de acordar e a consequente duração do sono encurtada, o que pode ter levado à sonolência diurna e contribuído para o maior número de erros no primeiro horário da manhã (Dorrian, Rogers & Dinges, 2005).

Além disso, os lapsos cometidos às 14h, pelos trabalhadores no turno diurno, foram significativamente maiores do que às 17h. Estes resultados são consistentes com dados na literatura que mostram que, entre 13h e 16h, há, organicamente, um aumento da sonolência, o qual favorece o declínio do desempenho cognitivo, como da atenção, nesta mesma fase. Portanto, estes resultados demonstram o efeito das oscilações circadianas da atenção, em função da hora do dia (Wright et al., 2012).

Já na condição de trabalho noturno, os valores mais altos das medidas do PVT, no primeiro horário, podem ter sido influenciados pelos resultados do primeiro dia de trabalho e também de avaliação, em que os participantes vinham de um longo momento de vigília, já que muitos acordaram de manhã, para só iniciar o trabalho à noite. Vale salientar que, no primeiro dia de trabalho, os participantes vinham de sete dias de folga, dificultando a adaptação ao

horário de trabalho e influenciando os resultados do teste. A melhora no desempenho às 02h, em comparação ao horário das 23h, pode ter ocorrido devido à progressiva adaptação ao horário de trabalho após o longo período de vigília e a folga. Já o aumento do tempo de reação e do número de lapsos cometido às 05h, quando comparadas ao horário das 02h é justificado, pois este último horário em que o teste ocorreu é o momento em que o ritmo circadiano de alerta está se aproximando dos seus valores mais baixos (Postnova, Robinson & Postnov, 2013). Como também, este último horário é o de maior pressão ao sono, acentuando o nível de desatenção. Estes resultados são semelhantes aos encontrados na pesquisa de Anderson et al. (2012), realizada com 34 médicos residentes sob o esquema de turno alternante. O estudo utilizou o PVT, no início, meio e fim dos turnos e encontrou que o tempo de reação e o número de lapsos se deterioraram nas últimas horas do turno de trabalho.

Esperava-se que os trabalhadores no turno noturno tivessem pior desempenho no PVT, quando comparados ao turno diurno, já que à noite, os indivíduos tornam-se mais propensos a cometerem falhas (Akerstedt, 2003; Postnova et al., 2013). No entanto, dados da literatura ainda demonstram resultados conflitantes, com relação a esta questão, já que algumas pesquisas anteriores também não encontraram diferenças no desempenho no PVT, entre o turno diurno e noturno. Enquanto o trabalho de Vetter et al. (2012), por exemplo, encontrou pior desempenho no PVT no horário da manhã, em comparação à noite. As variações nos resultados podem estar relacionadas às diferenças individuais dos participantes, como maior ou menor tolerância ao trabalho em turnos, a idade ou o cronotipo. Ou, ainda, ao número reduzido de participantes nesta pesquisa, que pode ter dificultado a obtenção de comparações com maior nível de significância.

No presente estudo, os indivíduos mais velhos e com maior tempo de trabalho em esquema de turno alternante foram correlacionados significativamente com a curta duração do sono no trabalho, com o tempo de reação mais lento e com a maior quantidade de lapsos no turno noturno. Estes dados são consistentes com as evidências encontradas na literatura, as quais têm mostrado que várias características do sono, como duração e estrutura sofrem alterações com

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o aumento da idade, principalmente a partir dos 40 anos de idade ou de 20 anos sob o esquema de trabalho em turnos (Ansiau, Wild, Niezborala, Rouch & Marquié, 2008; Dula, Dula, Hamrick & Wood, 2001; Orzel-Gryglewska, 2010; Rouch, Wild, Ansiau & Marquié, 2005). O declínio do desempenho no PVT também tende a ser mais acelerado em indivíduos mais velhos (Vetter et al., 2012). Tais prejuízos ocorrem pela perda da plasticidade, ou seja, com o passar dos anos, os trabalhadores tornam-se menos capazes de se adaptar aos efeitos fisiológicos da perda do sono e às constantes mudanças nos horários de dormir, devido ao esquema de turno alternante, tornando-se mais vulneráveis aos impactos que estes problemas acarretam ao desempenho cognitivo (Van Dongen & Dinges, 2000; Waage et al., 2013).

Uma limitação deste estudo diz respeito à questão de que a avaliação dos trabalhadores não foi realizada em um ambiente livre de barulho ou de outras variáveis que pudessem interferir nos resultados do teste, já que os trabalhadores não puderam se ausentar da sala de operação. Por outro lado, essa condição é válida no sentido de que possibilitou investigar o desempenho dos participantes em situações concretas de trabalho, diferenciando-se da maioria dos estudos desta natureza, que são realizados em laboratório e podem não representar de forma completa a realidade dos trabalhadores. Outra limitação consiste no fato de que os dados desta pesquisa restringem-se a uma amostra relativamente pequena de participantes, o que pode limitar as

comparações e generalizações para a população geral de trabalhadores em turnos. Como também, devido a questões logísticas, não foi possível obter dados do PVT durante os sete dias de turnos dos trabalhadores, limitando a avaliação das variações na atenção sustentada aos três primeiros dias de trabalho. Portanto, seria interessante que pesquisas futuras incluíssem maior número de trabalhadores e os avaliassem durante todos os dias de trabalho em esquema de turnos, para que as generalizações dos resultados e avaliação do desempenho cognitivo fossem mais amplas.

Em suma, este estudo demonstrou que o trabalho no turno noturno pode ser mais prejudicial para a qualidade do sono dos indivíduos, do que o trabalho diurno. Os indivíduos mais velhos e com maior tempo de trabalho em turnos alternantes foram relacionados com o pior desempenho da atenção sustentada, no turno noturno. Além disso, a restrição do sono dos profissionais que trabalharam à noite foi associada com maior quantidade de lapsos e respostas mais lentas no PVT e o desempenho na atenção sustentada também foi influenciado pela hora do dia, para ambos os turnos. Estes resultados reforçam o valor preditivo do sono no desempenho cognitivo e são de fundamental relevância, já que os problemas relacionados ao sono, em trabalhadores em turno, são frutos de grande preocupação, em decorrência dos prejuízos diretos ao desempenho cognitivo de habilidades ligadas à manutenção da atenção, colocando em risco a segurança dos trabalhadores.

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Referências

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