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Contra o conselho e a favor do conteudo

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Academic year: 2018

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CONTRA O CONSELHO DE CLASSE E A FAVOR DO CONTEÚDO

“Tche! Larga disso ai, não tem nenhum conteúdo”.(Meus pais e amigos há muito tempo atrás).

Quando eles falavam isso, eu ficava pensando: o que será que querem me dizer? Conteúdo é muita coisa, coisa importante. Para o resto da vida. Era necessário ter conteúdo! Ponto.

O filme não tem conteúdo, o livro não tem conteúdo, fulano é sem conteúdo, o quadro é sem conteúdo, a teoria, etc.

Quando meus alunos, (com meus filhos também) questionam conteúdos escolares, entro rachando: “tem que saber! O problema é não saber”. Ponto.

Saber tudo é impossível, todo mundo sabe, mas tentar entender o Mundo e o que o cerca é a função da escola em todos os níveis. Não é função da escola a substituição dos pais ou quaisquer tipos de parentes, em outras palavras, NÃO CABE A ESCOLA TER VÍNCULOS EMOTIVOS COM OS SEUS ALUNOS. Na escola, temos (ou deveríamos ter) profissionais em diversas áreas do conhecimento humano que compartilham aquilo que mais sabem com os que querem aprender. Em outras palavras, na sala de aula temos aquele que sabe (ou que deveria saber) sobre a sua área de conhecimento humano (máquinas elétricas, por exemplo) e aqueles que não sabem: os alunos. O professor deve considerar que atingiu seus objetivos, quando aquele que não sabia passa saber como ele ou, ainda, mais do que ele, objetivo máximo de todo o bom professor, pelo menos em minha opinião. Por este motivo atividades como “pré-conselho” ou “conselhos de classe” , como atualmente ocorrem, devem ser extintos, pois basicamente se atêm a questões de comportamento (emocionais) e muito raramente a questões relativas ao conhecimento ou ao processo de como este se efetua. Nos conselhos todos se protegem: os alunos, os professores e as direções. Os alunos fazem pressão para a frouxidão nos conteúdos com exigências de diversas formas, a mais comum é se queixando de professores relapsos ou dos professores mais exigentes, naturalmente que eles não fazem isso diretamente, para isso usam o orientador educacional que media a negociação. Com os professores relapsos nada acontece, pois no final do ano, todos os alunos serão aprovados. Já os professores exigentes, o que se observa é que, a cada dia que passa tornam-se mais e mais frouxos, por vários motivos, até mesmo por puro cansaço (inclui-se aí alguns orientadores). Já as direções se eximem de toda responsabilidade, pois o assunto foi “amplamente discutido” no conselho e certamente lá algumas decisões foram tomadas, que obviamente não serão cumpridas. Portanto proponho o fim do conselho de classe atual, sendo substituído por apenas dois outros, que deverão ocorrer no final do ano letivo. Um para avaliar em conjunto o conhecimento adquirido pelos alunos e outro para uma auto-avaliação dos professores, neste obviamente, deverão estar presentes os alunos.

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Na verdade, essa questão de nota ou conceito ocorre para que não se discuta e atue no PROBLEMA: o aprendizado, o ato de ensinar.

Partindo do pressuposto de que na escola temos profissionais e não “tios e tias”, muito melhor usar a nota, com uma casa, pelo menos, depois da vírgula. A nota é, por natureza, fria e distante, ela avalia se você acertou ou errou: 1+1 = 2, dez se acertou e zero se errou. Se for pedido que se demonstre o seguinte teorema: A soma dos ângulos internos de um triângulo é 180 graus. Neste caso há várias etapas a serem apresentadas: a hipótese, tese, o desenvolvimento, a conclusão, a história relacionada ao teorema, etc. Portanto o aluno poderá receber um zero, um 1,5 , um 8,2 (não chega a ser 8,5 por que foi descontado que o mesmo esqueceu do acento agudo em hipótese) ou até um 10. Hoje se você perguntar a um aluno do curso de eletrônica, o que é um teorema, verificará que 100% dos alunos não sabem!

Haverá alunos distribuídos ao longo de toda a faixa. É medíocre, sacana e discriminatória a menção como hoje é feita. Todos são iguais de zero a 6,0 e também de 6,0 a dez. Acontecerá o que já é previsto e que já acontece: “Por que preciso trabalhar tanto quanto o meu colega medíocre e preguiçoso, se ganho tanto quanto ele”? “Por que preciso estudar mais se serei igual àquele que tira 6,0 para ser aprovado?” Além do mais tenho a chance de “passar no conselho”! É muito estranho, pelo menos no meu entendimento, uma professora de inglês, decidir , pelo seu voto, que o aluno X deve ser aprovado ou reprovado em Eletrônica de potência, e vice-versa. Este “democratismo” estúpido certamente colabora com o rebaixamento de nível de todos os níveis de ensino, desde o fundamental até o superior e colabora também para avacalhar com o conceito de Democracia.

Antes de propor, quero alertar, que na minha opinião, na escola “ideal” não há lugar para avaliação. Seria aquele lugar onde as pessoas iriam buscar o conhecimento por que ele estaria ali. Assim como havia uma vez a Escola Pitagórica, junto a ele muitos buscaram o conhecimento, certamente o próprio Pitágoras aprendeu durante as suas “aulas”.

Agora pense por um momento: chega o Pitágoras e começa: “Atenção pessoal, vou fazer a chamada: Arquitas, Filolau...não se esqueçam, quinta é a nossa prova e na próxima quinta a recuperação”.

O que proponho é simples, é uma modernização do que já existia antes, porém mais exigente e não menos. Como era:

Provas mensais, com notas de 0 a dez. Média 7,0 no final do ano letivo, com o conselho de classe para verificar se o 7,0 é realmente 7,0. Quem não conseguiu vai a exame. Todo o conteúdo do ano é exigido, a média agora é feita pela média anual mais a nota do exame, isto deve dar 5,0. Não conseguindo, o aluno tem a segunda chance. Passa-se uma borracha em tudo, e ele deve tirar 6,0. Não conseguindo está reprovado. Ponto.

Faz-se agora um conselho de classe, desta vez de avaliação dos professores. Na mira, os que passam poucos alunos e os que passam muitos, pois certamente há aí problemas de didática.

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O mundo mudou sim. Os alunos e os professores têm acesso à informação como nunca tiveram há cinco ou dez anos atrás! A Internet é uma fonte de informação fantástica, mas o que é visto ou consultado é puro lixo. Há programas gratuitos em todas as áreas do conhecimento. Os equipamentos para experimentos tornam-se baratos. Por exemplo, quando eu poderia, enquanto estudante secundário comprar um multímetro por cerca de R$10,00? Agora é possível baixar livros inteiros pela Internet, ler jornais, assistir TV de diversos continentes.Você pode aprender idiomas se quiser Até um tempo atrás, o aluno do Curso de Eletrônica tinha a meta de comprar uma calculadora HP, era um sonho. Hoje não, não são mais necessárias. Não há nada que um celular não faça, além do mais podem ficar cacarejando inutilidades e sendo lembrados pela mamãe que está na hora de tomar o remedinho ou o iogurte, tal qual seus professores, que muitas vezes chamam a atenção quando seus celulares tocam com o hino do time em reuniões ou em sala de aula. Triste isso, em uma escola técnica, a necessidade de eu precisar mostrar que sou do Inter ou do Grêmio e esquecer da HP!

Habilidades e competências sem conteúdo é uma imbecilidade. Aliás, na minha opinião habilidade tem muito a haver com genética. Não sou professor para desenvolver Einsteins, Mozarts, Beethovens, Picassos e etc.,eles nasceram para isso, está no DNA deles. Sou professor de pessoas comuns, como eu!

Isto significa que é mais difícil o aprendizado e não menos, não somos gênios, portanto mais disciplina e dedicação são necessários. Para quem pensa que isso é fascismo ou coisa do gênero, é bom lembrar Gramsci:

“A criança que quebra a cabeça com os Bárbara e baralipton fatiga-se, certamente, e deve-se fazer com que só ela só se fatigue quando for indispensável e não inutilmente; mas é igualmente certo que será sempre necessário que ela se fatigue a fim de apreender e que se obrigue a privações e limitações de movimento físico, isto é, que se submeta a um tirocínio psicofísico. Deve-se convencer muita gente que o estudo é um trabalho, e muito fatigante, como um tirocínio particular próprio, não só muscular nervoso, mas intelectual: é um processo de adaptação, é um hábito adquirido com esforço, aborrecimento e mesmo sofrimento.”

Na conversa com ex-alunos que tive (e que continuo tendo) o que mais chama a atenção é o carinho dos mesmos com a escola. O respeito por aqueles professores que durante o curso foram considerados “duros” e o desprezo pelos molengas. Sempre valorizam as horas a mais que tiveram de ter para concluir seus trabalhos.

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Para terminar quero lembrar Paulo Freire:

“...que pronuncia a palavra da sua educação. É o que chamo de implicação do sujeito...Por isso há uma diferença em falar de educação ou sobre educação.

Falar sobre a educação significa que aquele que fala em educação fala como se estivesse exterior à educação, como se ele não fizesse parte do processo. Falar de educação significa que aquele que fala em educação está profundamente implicado nela. Falar de educação para o educador significa falar de si mesmo. Ele não pode fazer abstração do próprio caminho percorrido. Chega o momento em que este caminho percorrido torna-se palavra: então o educador fala. Aí então pode-se dizer que não existe um discurso sobre a educação mas um discurso da educação feita, resultado de quem tomou o risco de a fazer.”[

Meu caminho percorrido já é bem longo, creio até que esteja próximo do fim. Olho para trás com muito orgulho, pois o resultado, no geral foi bom, mas quando olho para o futuro fico com medo.

Prof. Irineu

Referências

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