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Impactos de mudanças climáticas globais na hidrologia do semiárido do Nordeste brasileiro para o final do século XXI

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Impactos de mudanças climáticas globais na hidrologia do semiárido do Nordeste brasileiro

para o final do século XXI

14.1 Introdução

14.2 Capacidade de armazenamento hídrico e retenção de umidade nos solos do semiárido do Nordeste brasileiro

14.3 Os cenários de mudanças climáticas sobre o Nordeste para o final do século XXI e seus impactos na disponibilidade hídrica

14.4 Previsões climáticas e de estresse hídrico crescente no semiárido do Nordeste do Brasil

14.5 Impactos de mudanças climáticas globais na vegetação do semiárido do Nordeste brasileiro, para o final do século XXI

14.6 Considerações finais Referências bibliográficas

Paulo Nobre1, Marcos D. Oyama1, Gilvan S. de Oliveira1 & Javier Tomasella1

Recursos hídricos em regiões áridas e semiáridas ISBN 978-85-64265-01-1

Instituto Nacional do Semiárido

Campina Grande - PB 2011

1 Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

14

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Impactos de mudanças climáticas globais

na hidrologia do semiárido do Nordeste brasileiro para o final do século XXI

14.1 INTRODUÇÃO

Regiões semiáridas tropicais, dentre as quais se enquadra o Nordeste do Brasil, se caracterizam por solos arenosos rasos, alta temperatura média anual e elevadas perdas de água no solo por evaporação; soma-se a essas características fisiográficas, um regime pluviométrico concentrado durante os meses de fevereiro a maio com elevada variabilidade interanual, da qual se originam as recorrentes secas sobre a região. Desta forma, a disponibilidade hídrica para abastecimento humano, animal e agrícola, é relativamente escassa, sendo sua disponibilidade controlada ano a ano pelos condicionantes climáticos globais, tais como os campos de temperatura da superfície do mar nos oceanos Pacífico e Atlântico Tropical, que regulam o deslocamento e a intensidade da zona de convergência intertropical, principal fenômeno atmosférico responsável pela ocorrência de precipitações pluviométricas sobre o semiárido brasileiro.

Assim, a detecção de variações de longo prazo das condicionantes atmosféricas (tais como a temperatura média do ar e a alteração da distribuição temporal das chuvas intrassazonalmente e interanualmente) da disponibilidade hídrica sobre o Nordeste, torna-se fundamental para o planejamento de ações governamentais e da sociedade civil para a convivência com o semiárido.

14.2 CAPACIDADE DE ARMAZENAMENTO HÍDRICO E RETENÇÃO

DE UMIDADE NOS SOLOS NO SEMIÁRIDO DO NORDESTE BRASILEIRO

A disponibilidade hídrica de longo prazo sobre uma região é o resultado do balanço entre o suprimento e a demanda de água no ciclo hidrológico. Na ausência de sistemas de interligação de bacias, as fontes de recursos hídricos para uma região, como o Nordeste, se resumem à pluviometria em primeira linha e pela exploração de águas subterrâneas em segundo lugar. Considerando, para fins deste estudo, que o

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suprimento de águas subterrâneas não se altera no cenário de algumas décadas, tem- se que as possíveis variações no suprimento de água se concentram exclusivamente sobre as águas de chuva; no que diz respeito à demanda, ela se divide em: perda evaporativa para a atmosfera, escoamento dos rios para os oceanos, percolação para o lençol freático (que, por sua vez, a longo período abastecem os cursos d’água) e o consumo para atividades agropecuárias, industriais e abastecimento humano.

Por outro lado, a disponibilidade hídrica não depende apenas do regime de chuvas, no que se refere à quantidade anual e sua distribuição temporal, mas também das características físicas do solo, que são influenciadas pelas condições climáticas.

Assim, os solos encontrados na zona da mata são profundos visto que o processo de intemperismo é mais intenso; enquanto no agreste e sertão os solos tendem a ser rasos em virtude do intemperismo ocorrer em menor intensidade e, às vezes, sódicos, devido ao intenso processo de evaporação que excede em várias ordens de magnitude, a drenagem descendente é provocada pelas chuvas. Nas regiões agreste e sertão, como as temperaturas do ar são elevadas durante o todo ano, as perdas de água para a atmosfera, através dos processos de evapotranspiração, se tornam significativas.

Na estimativa da capacidade de armazenamento de água dos solos do semiárido brasileiro calcularam-se as médias anuais de precipitação para o período 1960 - 1990 usando-se os dados das estações operadas pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE, Instituto Nacional de Meteorologia – INMET e Agência Nacional de Águas – ANA. Os dados foram submetidos a uma análise de consistência tendo-se descartados os postos com mais de 3 falhas no período, obtendo-se um conjunto de dados de precipitação mensais e anuais de 1.135 postos distribuídos por todo o Nordeste brasileiro (Figura 14.1).

O solo é caracterizado a partir dos levantamentos de solos disponíveis na região.

O mapa na Figura 14.2 mostra os perfis de solo e os principais grupos conforme definidos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa. Cada perfil de solo é utilizado para estimar parâmetros do balanço hídrico através de relações matemáticas que relacionam informação pedológica básica e parâmetros, tais como porosidade, capacidade de campo, etc. A informação de perfis de solo é interpolada tendo em vista a abrangência geográfica de cada grupo de solo definida pelo mapa de solos da Embrapa. A Figura 14.3 apresenta a distribuição geográfica da capacidade máxima de armazenamento e a capacidade de campo para o primeiro metro de solo, em mm. Em uma primeira análise da Figura 14.3, observa-se que as áreas de afloramento do cristalino apresentam menor capacidade de armazenamento.

Através dos dados meteorológicos do INMET, do método de Penman-Monteith para estimar a evapotranspiração potencial diária e as séries de precipitação diárias disponíveis na região no período 1970 - 1990, estimou-se a variação diária de armazenamento de água no solo. Para todo o período, calculou-se o número de dias com déficit hídrico. Dividindo-se o número de dias com déficit hídrico no período pelo número total de dias, resulta em um número que varia entre 0 e 1 e que determina

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Figura 14.1 Distribuição espacial dos postos pluviométricos (A) e total anual de precipitado na região de atuação da SUNEDE (B)

Figura 14.2 Distribuição espacial dos perfis de solo usado na caracterização dos parâmetros de balanço hídrico (A) e mapa de solos, indicando os principais grupos (B)

A. B.

A. B.

Fonte: Embrapa, xxxx

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a frequência em que ocorre déficit hídrico. Este número é indicativo da duração da estação de secas e da irregularidade das chuvas durante a estação chuvosa. O resultado deste cálculo é mostrado na Figura 14.4, indicando que a área que hoje é delimitada como semiárida é muito próxima à região que apresentou déficit hídrico severo em pelo menos 60% do período (1970 - A.B.1990). Para fins de comparação, áreas de cerrado tendem a apresentar déficit hídrico em torno de 50 % do tempo (em cor verde-claro) e, ocasionalmente, até 60 % (Figura 14.4).

O semiárido brasileiro é uma área dominada pelo bioma caatinga; a Figura 14.4 indica que esse tipo de vegetação se estabeleceu nessa região em decorrência das condições de estresse hídrico severo em pelo menos 60% do tempo, ficando claro que a principal restrição nesse tipo de ambiente se relaciona ao estresse hídrico e não a limitações na disponibilidade de nutrientes. O tipo de ambiente é, evidentemente, bastante vulnerável às mudanças climáticas, visto que alterações na disponibilidade hídrica podem acarretar deslocamento dos limites entre o cerrado e a caatinga, sem esquecer as enormes implicações sobre a demanda de água para irrigação e na agricultura de sequeiro, em geral.

14.3 OS CENÁRIOS DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS SOBRE O NORDESTE PARA O FINAL DO SÉCULO XXI E SEUS IMPACTOS NA

DISPONIBILIDADE HÍDRICA

As projeções de disponibilidade hídrica sobre o Nordeste para o século XXI constituem um balanço entre as projeções de alterações em dois campos fundamentais, Figura 14.3 Capacidade de campo (em mm) estimada a partir de informação pedológica (A) e capacidade máxima de armazenamento no primeiro metro superior do perfil de solo (B)

A. B.

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que são das características dos sistemas causadores de chuvas sobre o Nordeste em que, tornando-se mais intensos e/ou frequentes, como é o caso do ENSO (El Niño Oscilação Sul), podem causar um déficit anual dos totais pluviométricos sobre a região ou pelo aumento da intensidade dos episódios de chuva, associados a uma atmosfera mais quente. Com mais vapor d’água dissolvido no ar, podem ocasionar maior escoamento superficial sobre a região com decorrente aumento do volume armazenável em obras hídricas, muito embora em tal cenário o aumento do escoamento superficial sobre terras agriculturáveis ou de qualquer forma, desnudadas de cobertura vegetal nativa, também represente processos erosivos mais intensos, que resultam em perdas do solo originalmente de características rasas do Nordeste e consequente aumento do transporte de sedimentos e assoreamento no leito dos rios e lagos/

barragens.

Figura 14.4 Percentual de dias com déficit hídrico no período 01/10/1970 - 31/12/1990

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Em relação às perdas evaporativas, tanto o aumento da temperatura do ar já registrado sobre o Nordeste durante os últimos 40 anos, que variaram entre décimos de grau por década até próximo a um grau por década em regiões do semiárido de Pernambuco (Lacerda & Nobre, 2007), quanto o aumento projetado nos cenários globais do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) e regionais para o Nordeste (Marengo, 2007), constituem uma indicação segura de que a perda de água por evaporação deve aumentar significativamente sobre o Nordeste, durante as próximas décadas, aumentando o potencial de desertificação de áreas hoje classificadas semiáridas e de aridização de zonas do agreste e zona da mata.

Desta forma e embora haja um considerável nível de incertezas quanto aos detalhes de como a componente aérea do ciclo hidrológico sobre o Nordeste venha a se alterar em décadas vindouras, se através da redução generalizada dos totais anuais pluviométricos sobre a região, ou se pela maior irregularidade espacial e temporal das chuvas sobre o Nordeste durante os períodos chuvosos do ano; no entanto, há maior convergência nos cenários de aumento generalizado da temperatura média do ar e da frequência de ondas de calor e noites quentes (Marengo, 2007), impactando, assim e de forma consistente, no aumento da perda de água por processos evaporativos e contribuindo para diminuir a disponibilidade hídrica, sobretudo na forma de umidade do solo.

A mudança esperada no balanço anual de disponibilidade hídrica no semiárido do Nordeste entre condições atuais e projetadas de aquecimento global, com base nos resultados de conjunto de modelos globais para cenarização das mudanças climáticas globais (Salati et al., 2007), indica claramente o cenário de aumento do déficit hídrico anual sobre a região Nordeste, para o final do século XXI (Figura 14.5).

Assim, sob um cenário de aumento de temperatura do ar e consequente aumento da perda de água por evaporação, as soluções de armazenamento hídrico através de grande número de pequenos açudes e barragens se tornam inviáveis, na medida em que a pouca água armazenada estará, de pronto, sujeita a maior evaporação devido ao aumento de temperatura do ar, reduzindo o espaço de tempo no qual tal corpo d’água pode ser utilizado para atividades produtivas.

14.4 PREVISÕES CLIMÁTICAS E DE ESTRESSE HÍDRICO CRESCENTE NO SEMIÁRIDO DO NORDESTE DO BRASIL

Uma forma de adaptação a uma provável redução da disponibilidade hídrica sobre o Nordeste ao longo do século XXI, é o conhecimento e a capacidade prognóstica das variações climáticas sazonais do clima presente. Para tanto, ferramentas de previsão climática sazonal foram desenvolvidas durante as últimas décadas, tanto no Brasil quanto no exterior, as quais são utilizadas para prever anomalias pluviométricas e termométricas sazonais que contribuam para orientar ações preventivas e o planejamento de setores da sociedade, que vão desde o setor agrícola, perpassando por sistemas de abastecimento de água, até a Defesa Civil (na prevenção de deslizamento de encostas e alagamentos urbanos).

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Figura 14.5 Balanços hídricos obtidos pelos valores de temperatura e precipitação no Século XXI para o Nordeste Brasileiro, utilizando-se as médias dos valores dos modelos HadCM3, GFDL, CCCma, SCIRO e NIES para o cenário A2 utilizado-se dados do período de 1961 a 1990 (dados das Normais Climatológicas)

Fonte: Salati et al., 2007

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Tais ferramentas de previsão climática sazonal se constituem de modelos matemáticos, dinâmicos e estocásticos, que utilizam o conhecimento da lenta evolução dos campos de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) tropicais na modulação da precipitação sobre o Nordeste do Brasil durante o período chuvoso, compreendido entre os meses de fevereiro a maio. Tais modelos foram desenvolvidos ao longo de décadas e já alcançam surpreendente grau de acerto de previsões de anomalias sazonais de precipitação para a região Nordeste, em escala sazonal (Marengo et al., 2003; Nobre et al., 2006). O desenvolvimento da metodologia para previsão climática sazonal iniciou-se a partir de trabalhos científicos que indicavam a forte dependência da variabilidade interanual das precipitações sazonais sobre o semiárido do Nordeste de padrões globais de variáveis atmosféricas e oceânicas (Namias, 1963; Hastenrath

& Heller, 1977; Moura & Shukla, 1981; Ward & Folland, 1991; Nobre & Shukla, 1996).

Inicialmente calcada em relações empíricas entre precipitação sazonal sobre o Nordeste e campos de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) e ventos, a metodologia de previsão foi aprimorada e sofisticada ao longo do tempo, passando a contar com o auxílio de resultados de modelos de circulação geral da atmosfera e, mais recentemente, de modelos acoplados oceano-atmosfera globais (Nobre et al., 2006).

O método de previsão numérica do clima utiliza o conceito de previsão por conjunto, em que integrações dos modelos globais atmosféricos e acoplados oceano-atmosfera, são utilizadas para estimar a classe mais provável de anomalias pluviométricas sobre uma região durante a estação imediatamente à frente. Os procedimentos para gerar os conjuntos de integrações, são: (i) iniciando-se cada membro do conjunto com condições iniciais ligeiramente diversas (exemplo tomando campos de condições iniciais – CI um dia à parte) e (ii) utilizando-se diversas parametrizações físicas de um mesmo modelo (exemplo: Kuo, RAS e Grell) e diversos modelos atmosféricos (exemplo: CPTEC, NCAR, COLA, NCEP e NASA) e acoplados oceano-atmosfera (exemplo: CPTEC, UKMET, CFS e MétéoFrance). Assim, através da utilização de ambos os métodos citados acima para geração de membros da previsão por conjunto, efetua-se a combinação de centenas de membros através de métodos mais elaborados (análise de clusters) ou mais simples (média aritmética entre todos os membros), para se avaliar qual a condição mais provável de ocorrência em três classes: acima da média, em torno da média e abaixo da média climatológica do período, para cada região.

Outro salto qualitativo no processo de geração de previsões climáticas sazonais, não somente para o Nordeste mas para todo o Brasil, foi o desenvolvimento de previsões de consenso, em que climatologistas ponderam aspectos relevantes à previsão climática, os quais não são representados nas formulações dos atuais modelos de circulação geral da atmosfera e dos oceanos. As previsões climáticas sazonais de consenso sobre o Nordeste do Brasil se originaram do trabalho pioneiro do INPE, em meados da década de 1980, quando se contava apenas com modelos conceituais da influência dos oceanos tropicais no clima do Nordeste (Namias, 1963; Namias, 1972; Hastenrath & Heller, 1977;

Markham & Mclain, 1977). A mudança paradigmática que levou ao uso de modelos de circulação geral da atmosfera desenvolvidos na década de 1950 como ferramenta de

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previsão numérica de tempo, da ordem de dias a semanas, para previsões numéricas de clima, da ordem de meses a estações, foi o trabalho pioneiro de Shukla (Moura &

Shukla, 1981; Shukla, 1981), que mostrou que o comportamento médio sazonal da atmosfera tropical era fortemente modulado pelos campos de TSM tropicais, mostrando evidências de modelos atmosféricos globais da importância dos gradientes meridionais de anomalias de TSM na modulação da precipitação sobre o Nordeste do Brasil (Moura

& Shukla, 1981; Nobre & Shukla, 1996).

Em adição aos modelos atmosféricos e acoplados oceano-atmosfera globais, cujas grades de integração são da ordem de 200 km de lado, incompatíveis para aplicações em modelagem hidrológica de pequenas bacias, como na região Nordeste, surgiram aplicações de modelos atmosféricos regionais aninhados em resultados de modelos atmosféricos globais para o detalhamento em grades mais finas da previsão climática sazonal, gerada pelos modelos globais (Nobre et al., 2001; Sun et al., 2005), cujas grades alcançam dezenas de quilômetros de lado. O principal aspecto do uso de modelagem regional, além da escala espacial resolvida que se aproxima daquela necessária para modelos hidrológicos distribuídos, é a melhor representação de processos de superfície e uma simulação mais acurada de momentos mais elevados da distribuição temporal da chuva, como mostrado por Nobre et al. (2001).

Os balanços hídricos para a região Nordeste (Figura 14.5) sugerem que o volume total de água disponível para utilização na produção agrícola e para consumo humano, deverá diminuir ao longo do século XXI, fazendo com que o conhecimento antecipado de variações interanuais da pluviometria esperada sobre a região se torne mais e mais importante para a convivência com o clima aridizado do Nordeste. Assim, investimentos na melhoria da capacidade de monitoramento e prognóstico climático sazonal sobre o Nordeste e o Oceano Atlântico Tropical, são essenciais para apoiar ações de mitigação das causas e adaptação às consequências das mudanças climáticas. A partir de então, torna-se oportuno considerar que, não obstante o aumento da capacidade em prever anomalias pluviométricas sazonais, contribui para tornar a sociedade e a economia da região mais resilientes às variações e mudanças do clima atual e futuro, em que o aumento gradual da temperatura do ar e o respectivo aumento da perda evaporativa de água do solo poderão inviabilizar completamente um número de práticas agrícolas ainda presentes no semiárido do Brasil como, por exemplo, os cultivos de sequeiro (milho, feijão etc.) que demandam grande volume e regularidade da distribuição temporal das chuvas.

14.5 IMPACTOS DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS GLOBAIS NA VEGETAÇÃO DO SEMIÁRIDO DO NORDESTE BRASILEIRO, PARA O FINAL DO SÉCULO XXI

Os impactos climáticos previstos para o século XXI, por exemplo, pelo IPCC AR4, poderão afetar a vegetação do semiárido do Brasil (SAB). Segundo Ambrizzi et al.

(2007), as mudanças climáticas mais intensas para o final do século XXI, relativas ao clima atual, vão ocorrer na região tropical, especificamente na Amazônia e no Nordeste

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do Brasil. Essas duas regiões constituem o que se poderia chamar de “climate change hot spots” e representariam as regiões mais vulneráveis do Brasil às mudanças climáticas, tanto na componente social como em termos da biodiversidade. Nesse contexto, uma pergunta pertinente é: considerando o SAB coberto somente pela sua vegetação natural (predominantemente caatinga), quais seriam os impactos se ocorressem as mudanças climáticas previstas para o final do século XXI? A presente seção revisa alguns trabalhos que enfocam esta questão. Um quadro-resumo dos trabalhos se encontra na Tabela 14.1.

Tabela 14.1 Quadro-resumo dos trabalhos que enfocam os impactos na vegetação do samiárido brasileiro decorrentes de mudanças climáticas globais para o final do século XXI (MCGAO: modelo acoplado de circulação geral da atmosfera e do oceano)

Estudo Cramer et al.

(2001)

Sitch et al.

(2008)

Schaphoff et al. (2006) Salazar et al.

(2007)

Lapola et al.

(2009)

Cook e Vizy (2008)

Salazar (2009)

Abrangência Global

Global

Global

Global

Global

Regional

Regional

Forçantes atmosféricas

1 MCGAO (HadCM2 SUL)

1 MCGAO (HadCM3LC)

5 MCGAO

15 MCGAO

14 MCGAO

1 modelo regional (downscaling de 1 MCGAO) 3 modelos

regionais (downscaling de 1 MCGAO)

Cenários de missões

IS92a

SRES A1 F1 SRES A2 SRES B1 SRES B2 IS92a

SRES B1 SRES A2

SRES B2 SRES A2

SRES A2

SRES B2 SRES A2

Modelos de vegetação

6 DVGM

5 DVGM

1 DVGM

1 PVM

1 PVM

1 PVM

1 PVM

Impacto no SANEB para o final do século XXI Nenhuma mudança

(efeito climático compensado pelo de

fertilização do CO2) Redução do estoque de carbono terrestre para a maioria dos modelos de

vegetação Redução do estoque de carbono terrestre para a maioria dos MCGAO Aridização devida ao efeito climático para a maioria dos MCGAO;

falta de consenso em razão da incerteza nas

anomalias de precipitação Redução da aridização obtida por Salazar et al.

(2007) em virtude do efeito de fertilização do CO2

Aridização

Aridização para a maioria dos modelos

regionais

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Estudos envolvendo modelos globais de vegetação dinâmica (dynamic global vegetation models – DGVM; Ostle et al., 2009) apontam para uma redução do estoque de carbono terrestre sobre o SAB (Schaphoff et al., 2006; Sitch et al., 2008), no entanto, trata-se de um resultado que não é consensual (Cramer et al., 2001), mas chama a atenção para a necessidade de estudos mais detalhados e específicos para o SAB.

Como DGVM são modelos muito complexos, uma possibilidade é o uso de modelos de vegetação potencial (potential vegetation models – PVM) para investigar as relações de causa e efeito na vegetação do SAB. Os PVM diagnosticam o bioma em equilíbrio com um clima prescrito. Na literatura, encontram-se vários PVM: por exemplo, BIOME (Prentice et al., 1992) e CPTEC-PVM (Oyama e Nobre, 2004). No final do século XXI, devido a mudanças climáticas globais os PVM poderão ser uma ferramenta para diagnosticar um bioma diferente da caatinga em equilíbrio com o novo clima.

Chama-lo-emos de aridização, se o novo bioma for de menor porte (semidesertos ou desertos) e de umidificação, se de maior porte (savanas ou florestas tropicais). A aridização (umidificação), portanto, significa a existência de condições climáticas favoráveis ao estabelecimento de vegetação de menor (maior) porte que a caatinga, e não deve ser interpretada como mudança de bioma pois os PVM não são capazes de representar os transientes da mudança de vegetação.

Por simplicidade, pode-se considerar três componentes básicos que afetam os biomas: temperatura, precipitação e concentração de [CO2]. Em primeira ordem, o aumento (redução) de temperatura, redução (aumento) de precipitação e redução (aumento) da concentração de [CO2] reduziriam (aumentariam) a produtividade primária líquida – PPL da vegetação e, assim, favoreceriam a aridização (umidificação). Para a temperatura, as projeções dos diversos modelos do IPCC AR4 para o final do século XXI sob o cenário de emissões SRES A2, indicam um aumento consensual entre 2 e 6°C no SAB; para a precipitação não há consenso entre os modelos – as anomalias anuais variam de -2 a + 2 mm dia-1 (Vera et al., 2006; Salazar, 2009). Para a concentração de [CO2], o aumento depende do cenário de emissões; no SRES A2, a concentração de [CO2] seria em torno de 730 ppmv no final do século XXI; já no SRES B2, em torno de 535 ppmv. Considerando-se as anomalias de temperatura, precipitação e concentração de [CO2] em um PVM, qual seria o efeito na caatinga?

Considerando as anomalias de temperatura e precipitação (“efeito do clima”), sem considerar o aumento da concentração de [CO2] e seu efeito no aumento de PPL (que é chamado “efeito de fertilização do CO2”), Salazar et al. (2007) demostraram, utilizando o CPTEC-PVM, que cerca de 2/3 dos modelos do IPCC AR4 indicam aridização de partes do SAB (caatinga para semideserto). A falta de consenso seria decorrente da incerteza nas anomalias de precipitação, pois anomalias positivas de precipitação contrabalançariam os efeitos do aumento de temperatura, inclusive para 2 modelos haveria umidificação (caatinga para savana) devido a altas anomalias positivas de precipitação.

Lapola et al. (2009) mostraram, utilizando o CPTEC-PVM2 (CPTEC-PVM com ciclo de carbono), que o efeito de fertilização seria muito importante na estimativa dos

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impactos na vegetação do SAB. Como ainda há muita incerteza quanto ao realismo da magnitude do efeito de fertilização calculado em modelos de vegetação (Nowak et al., 2004), mesmo reduzindo o efeito de fertilização à metade de forma ad hoc, a aridização diminuiria substancialmente em relação aos resultados, considerando-se apenas o efeito climático (exemplo para 1 modelo do IPCC AR4, que se encontra na Figura 14.6).

Figura 14.6 Vegetação potencial obtida pelo CPTEC-PVM2: atual (A); final do século XXI, considerando-se apenas o efeito climático (B); considerando-se efeito climático e metade do efeito de fertilização (C) (MCGAO: NCAR-CCSM3)

A. B.

C.

Fonte: Adaptado de Lapola et al. (2009)

(14)

Os efeitos do aumento da concentração de [CO2] na redução da condutância estomática e no aumento da produtividade primária bruta, seriam igualmente relevantes para o efeito de fertilização no SAB.

Visando ao maior detalhamento espacial dos impactos na vegetação, alguns trabalhos realizam downscaling das projeções de modelos de IPCC AR4 para gerar anomalias das variáveis climáticas em resolução mais alta (Ambrizzi et al., 2007) e utilizar essas anomalias como entrada de um PVM. Esses trabalhos apontam para uma aridização do SAB (Cook & Vizy, 2008; Salazar, 2009). Em parte, isto reflete as anomalias do modelo do qual se faz downscaling.

Considerando que haverá aumento de temperatura e da concentração de [CO2], qual seria o valor de anomalia de precipitação a partir do qual haveria aridização ou umidificação no SAB? A Tabela 14.2 apresenta uma tentativa de se estabelecer esses limiares: considerando-se início de aridização (umidificação) quando 10% da área do SAB estiverem cobertos com semidesertos (savanas) segundo o CPTEC-PVM2Reg (Salazar, 2009), que é o CPTEC-PVM2 com melhorias na parte hidrológica, uma redução de precipitação superior a 30 e 40% seria necessária para aridização do SAB, até o final do século XXI. Devido ao efeito de fertilização do CO2, mesmo pequena redução de precipitação levaria à umidificação do SAB. A faixa de anomalias de precipitação para a manutenção da caatinga tornar-se-ia mais estreita; enquanto nos dias atuais a caatinga se manteria em uma faixa de 25% de anomalias de precipitação (de -20 a +5%), a faixa diminuiria para 5% no caso mais extremo (de -35 a -30%), o que indicaria perda de resiliência do bioma de caatinga, ou seja, o estado de equilíbrio bioma-clima mais seco para o SAB nos dias atuais (Oyama e Nobre, 2003) poderia tornar-se o único; entretanto, tal possibilidade precisaria ser confirmada através de estudos adicionais.

Tabela 14.2 Anomalias relativas de precipitação (em relação ao total anual climatológico atual) necessárias para iniciar a aridização ou a umidificação do semiárido brasileiro, em função das anomalias de temperatura e da concentração de [CO2]. Elaborado com base nas informações de Salazar (2009)

Ecossistemas naturais não têm capacidade intrínseca de migração ou adaptação à magnitude das mudanças climáticas projetadas na escala de tempo em que estão ocorrendo, isto é, décadas. Ecossistemas migram ou se adaptam naturalmente a flutuações e tendências climáticas ocorrendo na escala de séculos a milênios. Portanto, pode-se esperar rearranjos significativos dos biomas, em particular da caatinga no SAB, até o final do século XXI.

Anomalia de temperatura

(°C) 0 +2 +4

[CO2] (ppmv)

350 535 730

Anomalia relativa de precipitação para iniciar aridização

-20 -25 -35

Anomalia relativa de precipitação para iniciar umidificação

+5 -15 -30 (%)

(15)

14. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estudos baseados em observações revelam que o semiárido do Brasil é um ecossistema no qual o equilíbrio entre o clima e a vegetação é muito frágil, e onde ligeiras mudanças climatológicas podem acarretar fortes impactos sobre a vegetação.

Por outro lado, diferentes cenários de mudanças climáticas sugerem que as condições de semiaridez da região deverão tornar-se mais acentuadas e generalizadas, o que irá provocar um colapso da caatinga em algumas regiões ou mesmo o avanço desse tipo de ecossistema sobre áreas de cerrado.

Dada a alta concentração populacional do semiárido brasileiro, certamente esses cenários exercerão forte influência sobre o comportamento demográfico na região.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Ambrizzi, T. et al. Cenários regionalizados de clima no Brasil e América do Sul para o Século XXI: Projeções de clima futuro usando três modelos regionais. Relatório N° 3, Ministério do Meio Ambiente, 2007.

Chu, P. S. Brazil’s climate anomalies and ENSO. Teleconnections linking worldwide climate anomalies. In: Glantz, M. H.; Katz, R. W.; Nicholls, N. (ed.), Cambridge University Press, 1991. p.43-71.

Coelho, C. A.; Uvo, C. R. B.; Ambrizzi, T. Exploring impacts of the tropical SST on the precipitation pattern of South America during ENSO periods. Theor. Applied Climatology, v.71, p.185-197, 2002.

Cook, K.H.; Vizy, E.K. Effects of twenty-first century climate change on the Amazon rain forest. Journal of Climate, v.21, p.542-560, 2008.

Cramer, W. et al. Global response of terrestrial ecosystem structure and function to CO2 and climate change: Results from six dynamic global vegetation models.

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