PROFA. DRA. CÍNTIA ROSA PEREIRA DE LIMA
Obrigação de Fazer e
Não Fazer
RETOMANDO PARTE DA CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES:
OBRIGA Ç ÕE S DAR
Quanto à Propriedade
Entregar Restituir
Quanto ao objeto em prestação
Coisa Certa Coisa Incerta FAZER
Fungível
Infungível
NÃO-FAZER
OBRIGAÇÕES DE FAZER:
Conceito: cujo objeto mediato consiste em uma atividade humana lícita, possível e determinada.
Distinção entre obrigação de fazer e obrigação de dar (ad dandum ou ad tradendum):
Washington de Barros Monteiro:
Dar propriamente dito = consequência do fazer / da atividade humana
= obrigação de fazer;
Dar propriamente dito = independe da atividade humana desempenhada pelo devedor = obrigação de dar.
CONSEQUÊNCIAS DO INADIMPLEMENTO NAS OBRIGAÇÕES DE FAZER:
Regras do CC/02: inadimplemento voluntário da obrigação de fazer = PERDAS E DANOS (Nemo ad factum precise cogi potest).
* arts. 247 c/c 249 do CC/02
“Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exequível.
Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível.
Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido.”
Reformas do CPC: execução específica = astreintes, ou seja, a multa diária estabelecida no art. 497 do atual CPC.
“Art. 497. Na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de não fazer, o juiz, se procedente o pedido, concederá a tutela específica ou determinará providências que assegurem a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente.
Parágrafo único. Para a concessão da tutela específica destinada a inibir a prática, a reiteração ou a continuação de um ilícito, ou a sua remoção, é irrelevante a demonstração da ocorrência de dano ou da existência de culpa ou dolo.”
CONSEQUÊNCIAS DO INADIMPLEMENTO NAS OBRIGAÇÕES DE FAZER:
a) pleitear a tutela específica mediante imposição de astreintes + PERDAS E DANOS (art. 247 CC/02 c/c art. 497 do CPC);
b) reclamar PERDAS E DANOS (art. 247 do CC/02);
c) pleitear o desempenho da atividade por terceiro – obrigação de fazer não personalíssima + PERDAS E DANOS (art. 249 do CC/02).
“Art. 499. A obrigação somente será convertida em perdas e danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente.
Art. 500. A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa fixada periodicamente para compelir o réu ao cumprimento específico da obrigação.”
CREDOR DEVEDOR
CONSEQUÊNCIAS DO INADIMPLEMENTO NAS OBRIGAÇÕES DE FAZER:
a) Sem culpa do devedor: retorno ao status quo ante – fundamento: nemo ad impossibilia tenetur.
b) Com culpa do devedor: responde por PERDAS E DANOS (art. 248 do CC/02).
“Art. 248. Se a prestação do fato tornar-se
impossível sem culpa do devedor, resolver-
se-á a obrigação; se por culpa dele,
responderá por perdas e danos.”
DA AUTOTUTELA NAS OBRIGAÇÕES DE FAZER:
Novidade do CC/02: parágrafo único do art. 249 do CC/02;
Independe de autorização judicial prévia;
Demonstração da urgência (exceção à vedação da realização da justiça privada);
EXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DE FAZER:
Arts. 815 a 821 do atual CPC:
Devedor é citado para satisfazer a obrigação de fazer no prazo determinado pelo juiz;
Não cumprimento = a obrigação é realizada por terceiro à custa do devedor;
Realizada a prestação, o juiz ouvirá as partes no prazo de 10 dias (não havendo impugnação, considera satisfeita);
“Art. 821. Na obrigação de fazer, quando se convencionar que o executado a satisfaça pessoalmente, o exequente poderá requerer ao juiz que lhe assine prazo para cumpri-la.
Parágrafo único. Havendo recusa ou mora do executado, sua obrigação pessoal será convertida em perdas e danos, caso em que se observará o procedimento de execução por quantia certa.”
OBRIGAÇÃO DE PRESTAR DECLARAÇÃO DE VONTADE:
Classificação: obrigação positiva de fazer;
Conceito: conteúdo é prestar uma declaração de vontade;
Arts. 462 a 466 do CC/02;
Alternativa para a execução específica: sentença que determine o mesmo efeito da declaração de vontade a que se nega o
devedor.
Art. 464 do CC/02 (contrato preliminar): “Esgotado o prazo,
poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade da parte inadimplente, conferindo caráter definitivo ao contrato
preliminar, salvo se a isto se opuser a natureza da obrigação”;
CPC: “Art. 501. Na ação que tenha por objeto a emissão de declaração de vontade, a sentença que julgar procedente o
pedido, uma vez transitada em julgado, produzirá todos os efeitos
OBRIGAÇÃO DE NÃO-FAZER (arts. 250 a 251 do CC/02):
Classificação:obrigação negativa;
Conceito: o conteúdo é uma abstenção (obligatio non faciendi);
Ex. servidão negativa (direito real pelo qual o proprietário do imóvel serviente fica obrigado a não usar criar obstáculos ao benefício ao dono do imóvel dominante) = acordo entre as partes registrado no Cartório de Registro de Imóveis (arts. 1.378 e 1.379 do CC/02).
Obrigações de não fazer ex lege: impostas pela lei (ex. art. 1.147 do CC/02 – proíbe ao vendedor do ponto comercial de fazer concorrência ao adquirente).
DO INADIMPLEMENTO NAS OBRIGAÇÕES DE NÃO-FAZER:
Caracterização do inadimplemento: art. 250 do CC/02
“Art. 250. Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar.”
Descumprimento da abstenção sem culpa do devedor: Retorno ao status quo ante nos termos do art. 250 do CC/02
Ex. ato de império – Poder Público
Descumprimento da abstenção com culpa do devedor: Responde pelo desfazimento do que fez violando o dever de abstenção + PERDAS E DANOS (art. 251 do CC/02).
“Art. 251. Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos.”
DO INADIMPLEMENTO NAS OBRIGAÇÕES DE NÃO-FAZER:
Inadimplemento obrigações de não-fazer
(art. 251 CC/02)
Com Culpa do Devedor
Tutela específica (desfazimento)
+
Perdas e Danos
Perdas e Danos
Sem Culpa do Devedor Retorno ao Status Quo Ante
Depende do Interesse do Credor
DA AUTOTUTELA NAS OBRIGAÇÕES DE NÃO-FAZER:
“Art. 251 (...) Parágrafo único. Em caso de
urgência, poderá o credor desfazer ou mandar desfazer, independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimento devido.”
NOVIDADE DO CC/02: parágrafo único do art. 251 do CC/02;
a) urgência;
b) independe de autorização judicial;
c) desfazimento pelo credor ou por terceiro.
EXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DE NÃO-FAZER:
Arts. 497 a 500 / 822 e 823 do novo CPC;
“Art. 822. Se o executado praticou ato a cuja abstenção estava obrigado por lei ou por contrato, o exequente requererá ao juiz que assine prazo ao executado para desfazê-lo.”
“Art. 823. Havendo recusa ou mora do executado, o exequente requererá ao juiz que mande desfazer o ato à custa daquele, que responderá por perdas e danos.
Parágrafo único. Não sendo possível desfazer-se o ato, a obrigação resolve-se em perdas e danos, caso em que, após a liquidação, se observará o procedimento de execução por quantia certa.”