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A avifauna das florestas de restinga de Itanhaém/Mongaguá, Estado de São Paulo, Brasil

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Academic year: 2021

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Bruno Lima

No litoral médio do Estado de São Paulo, a área de Itanha-ém/Mongaguá foi recentemente considerada como uma área impor-tante para a conservação das aves no Brasil (Bencke et al., 2006).

Ela engloba a extensa planície arenosa localizada entre a rodovia Pa-dre Manuel da Nóbrega (SP-55) e as encostas baixas adjacentes não protegidas pelo Parque Estadual da Serra do Mar sob as coordenadas: 24º06'S, 46º45'W. (Figura 1)

Os municípios de Itanhaém/Mongaguá estão localizados na Região Metropolitana da Baixada Santista -SP, que engloba oito cidades: Ber-tioga, Guarujá, Santos, São Vicente, Praia Grande, Mongaguá, Itanha-ém e Peruíbe, onde originalmente esta vegetação estendia-se por um

2 território de aproximadamente 423 km .

Da totalidade das florestas de restinga originalmente existentes na Ba-ixada Santista restam, com estrutura fisionômica e composição

florísti-2

ca preservadas, aproximadamente 22% (90km ) (Guedes et. al, 2006). Essa parte da planície litorânea paulista ainda apresenta remanes-centes significativos de floresta de restinga, cujo dossel atinge até 20 m de altura nos trechos menos alterados (Buzzetti, 1996).

Entretanto, o conhecimento sobre sua avifauna ainda é escasso, res-tringindo-se a um resumo publicado por Buzzetti (1996) no V Con-gresso Brasileiro de Ornitologia.

Com a finalidade de divulgar o conhecimento qualitativo da avifau-na dessas florestas de restinga, foram realizadas visitas à região, entre março de 2006 e maio de 2009.

Os registros de aves basearam-se em observações visuais, feitas com o auxílio de binóculos Zeiss 10 X 50, além de identificação de vo-calizações, registradas com um gravador Sony TCM-5000 EV, equi-pado com um microfone Azden ECZ-660. Foram feitas observações durante todos os períodos do dia, incluindo observações noturnas.

Foram registradas 262 espécies de aves durante os levantamentos duzidos no presente estudo (Figura 2). Estão compreendidas neste con-junto, desde espécies com populações localmente reduzidas até algumas que aparentemente apenas mais recentemente colonizaram a região.

Foram encontradas 12 espécies ameaçadas: Crypturellus noctiva-gus, Aburria jacutinga, Leucopternis lacernulatus (Figura 3), Touit melanonotus, Amazona brasiliensis (Figura 4), Myrmotherula minor, Platyrinchus leucoryphus (Figura 6), Carpornis melanocephalus (Fi-gura 5), Procnias nudicollis, Tangara peruviana (Fi(Fi-gura 7), Sporophi-la frontalis e SporophiSporophi-la falcirostris.

Além disso, 12 fazem parte da categoria de quase-ameaçado:Tinamus so-litarius, Triclaria malachitacea, Ramphodon naevius, Baillonius bailloni, Dysthamnus stictotoraxm, Myrmotherula unicolor (Figura 8), Merulaxis ater, Scytalopus indigoticus (Figura 9), Hemitriccus orbitatus, Phylloscar-tes paulista, Cyanocorax caeruleus (Figura 10) e Thraupis cyanoptera.

As restingas da região também abrigam a população mais setentrio-nal de Amazona brasiliensis (papagaio-de-cara-roxa), psitacídeo seri-amente ameaçado, atualmente restrito a estreita faixa costeira entre Mongaguá e o litoral sul do Paraná (Martuscelli, 1995).

Em citação de Buzzetti (1996), haviam pelo menos 80 indivíduos em Itanhaém em meados da década de 1990. Em censos realizados ma-is recentemente (2006-2009), foram encontrados 128 indivíduos, que habitam desde as restingas do Rio Aguapeú, em Mongaguá, até Peruí-be. A espécie reproduz-se nas proximidades do Rio Preto, em Itanha-ém, onde também há um conhecido local de repouso coletivo.

A avifauna das florestas

de restinga de

Itanhaém/Mongaguá,

Estado de São Paulo, Brasil

Figura 1. Mapa do Estado de São Paulo, localizando a Região Metropolitana da Baixada Santista. Em verde, a área de estudo.

Figura 3. Entre os gaviões, destaca-se o ameaçado gavião-pombo-pequeno (Foto: Rafael Bessa).

9 771981 887003 00153

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Atualidades Ornitológicas On-line Nº 153 - Janeiro/Fevereiro 2010 - www.ao.com.br

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Atualidades Ornitológicas On-line Nº 153 - Janeiro/Fevereiro 2010 - www.ao.com.br

Am: espécies ameaçadas de extinção, de acordo com a BirdLife International

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NT: espécies quase-ameaçadas(near threatened), de acordo com a IUCN

( )

* : espécies incomuns para o litoral de São Paulo

** : primeiro registro documentado para o Estado de São Paulo E: provável escape ou soltura de cativeiro

R: registrado por Buzzetti (1996)

http://www.birdlife.org/datazone/species/index.html

http://www.iucnredlist.org/static/categories_criteria_3_1

Figura 4. A região é o limite setentrional do papagaio-de-cara-roxa (Foto: Robson Silva & Silva).

Figura 5. O sabiá-pimenta é um Cotingídeo ameaçado, que tem nas matas da região um importante refúgio (Foto: Rafael Bessa).

Figura 6. Raro, o patinho-grande habita o sub-bosque das matas de restinga (Foto: Rafael Bessa).

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Neste local também foi realizado o primeiro registro documentado do gavião-de-rabo-barrado (Buteo albonotatus) (Figura 11) para o Estado de São Paulo, fotografado em 14/05/2009. Essa espécie já foi avistada anteriormente por alguns pesquisadores, mas ainda permane-cia sem registros documentados.

Segundo consta na “Lista das Aves do Estado de São Paulo” (CEO, versão 15/01/2009), o registro dessa espécie em São Carlos é questio-nado por Willis & Oniki (2003), que consideram poder tratar-se de Bu-teo albicaudatus. Há entretanto registros mais recentes na Ilha do Car-doso (Martusceli, Olmos & Galetti 2001), na Casa da Bocaina (Serra da Bocaina), Itapetininga e Morro Grande (CEO), Brotas em 2005 e 2006 (Marco Granzinolli, Ornitobr). Há uma comunicação pessoal de Fabio Olmos na Billings e outra em Pilar do Sul-SP, além da mais recente ob-servação no Parque do Ibirapuera em São Paulo-SP, em 08/08/2009 (Fernando Igor, com.pess).Um registro documentado é, portanto, de in-teresse para a confirmação definitiva da ocorrência dessa espécie no es-tado, o que já é esperado por sua distribuição geográfica conhecida.

Trata-se de uma área de extrema importância, principalmente devi-do à presença de populações de 11 espécies de aves ameaçadas, inclu-indo endemismos (ou quase endemismos) das florestas de baixada. A maioria dessas aves ocorre em poucas áreas protegidas na Mata Atlân-tica devido à exclusão sistemáAtlân-tica das matas de baixada das unidades de conservação existentes (Aleixo & Galetti, 1997).

No entanto, apesar de as formações florestais de restingas serem pro-tegidas por diversos diplomas legais, em parte por serem consideradas Áreas de Preservação Permanente (APPs) pelo Código Florestal (Lei Federal nº 4.771) e pela Resolução nº 303/2002 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), essa proteção, não constitui, por só uma garantia de proteção desse ecossistema, o qual deve ser preservado por meio da criação de reservas e unidades de conservação, públicas e privadas, de forma a assegurar sua perpetuação (Sampaio et al., 2005). Agradecimentos

Muitos pesquisadores me ajudaram e contribuíram para o conheci-mento da avifauna desta região: Antônio Silveira, André de Luca, Car-los Gussoni, CarCar-los Aulicino, Fábio Olmos, Fábio Schunck, Lafaiete Alarcon, Luiz Fernando de A. Figueiredo, Rafael Bessa, Robson Silva & Silva e Tatiana Pongiluppi.

Referências Bibliográficas

Aleixo, A. & Galetti (1997) The conservation of the avifauna in a lowland Atlantic Fo-rest in south-east Brazil. Bird Conservation International, 7: 235-261

Bencke, G.A., Maurício, Develey & Goerck (2006) Áreas Importantes para

a Conservação das aves no Brasil: parte I - estados do domínio da Mata Atlântica. São Paulo: SAVE Brasil.

Buzzetti, D.R.C. (1996) Aves de floresta de restinga em Itanhaém, litoral sul do Estado de São Paulo, Brasil. Resumos do V Congresso Brasileiro de Ornitologia, Campinas, p.17.

Guedes, D., Barbosa, Martins (2006). Composição florística e estrutura

fitosso-ciológica de dois fragmentos d floresta de restinga no Município de Bertioga, SP, Brasil. ACTA Botânica Brasílica, vol 20 (2): 299-311.

Martuscelli, P. (1995) Ecology and conservation of the Red-tailed Amazon Amazona bra-siliensis in southeastern Brazil. Bird Conserv. Internat. 5:405-420.

Sampaio, D, Souza, Oliveira, Souza-Paula, Rodrigues (2005). Árvores

da Restinga – Guia de Identificação. Editora Neotrópica. São Paulo-SP.

1. Rua Teixeira de Freitas, 05, apt.13. Bairro: Campo Grande CEP:11075-720. Santos-SP e-mail: buiolima@gmail.com M. G.N. P.F. J.M. M.L. E.S. V.C. A.A. J. R.R.

Figura 7. A saíra-sapucaia é um ameaçado habitante das restingas da região (Foto: Públio Penha)

Figura 8. A choquinha-cinzenta pode ser ouvida com freqüência no sub-bosque (Foto:Rafael Bessa).

Figura 9. O discreto macuquinho ainda é comum na região (Foto: Alexandre Faitarone).

Figura 10. A gralha-azul é um típico habitante das matas de restinga (Foto: Robson Silva & Silva).

Figura 11. Primeiro registro documentado de gavião-de-rabo-barrado para o Estado de São Paulo. Foto: Robson Silva & Silva.

Referências

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