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Socorros de urgência

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Academic year: 2021

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(BREVES MOTHS)

JtfSrf* t*HC~

IMPRENSA

nncioiinL

de Jayme Vasconcellos 35, Rua da Picaria, 37 — PORTO

(3)

DIRECTOR INTERINO A U G U S T O H E N R I Q U E D ' A L M E I D A B R A N D Ã O LENTE SECRETARIO T h i a g o A u g u s t o d ' A l m e i d a CORPO DOCENTE Lentes cathedraticos l.a Cadeira—Anatomia descriptiva

geral Luiz de Freitas Viegas. 2." Cadeira —Physiologia . . . . Antonio Placido da Costa. 3.a Cadeira —Historia natural dos

medicamentos e materia

me-dica José Alfredo Mendes de Magalhães. 4.a Cadeira —Pathologia externa e

therapeutica externa . . . Carlos Alberto de Lima. 5." Cadeira —Medicina operatória. Antonio Joaquim de Souza Junior. 6." Cadeira —Partos, doenças das

mulheres de parto e dos

re-cem-nascidós Cândido Augusto Corrêa de Pinho. 7.a Cadeira —Pathologia interna e

therapeutica interna. . . . José Dias d'Almeida Junior. 8." Cadeira —Clinica medica . . . Thiago Augusto d'Almeida. 9." Cadeira —Clinica cirúrgica . . Roberto B. do Rosário Frias. 10." Cadeira— Anatomia

pathologi-ca Augusto H. d'Almeida Brandão. 11." Cadeira —Medicina legal . . . Maximiano A. d'Oliveira Lemos. 12.a Cadeira —Pathologia geral,

se-meiologia e historia medica . Alberto Pereira Pinto d'Aguiar. 13." Cadeira —Hygiene João Lopes da S. Martins Junior. 14." Cadeira —Histologia e

physio-logia geral Vaga. 15.a Cadeira—Anatomia

topogra-phica Joaquim Alberto Pires de Lima.

Lentes jubilados

«ípcrãn moriira I Jo s é d'Andrade Gramaxo. becçao medica , A n t o n i o d'Azevedo Maia.

I Pedro Augusto Dias.

Secção cirúrgica Dr. Agostinho Antonio do Souto.

I Antonio Joaquim de Moraes Caldas.

Lentes substitutos

Secção medica lVala! Sprrãn rirurfflra U°^° Monteiro de Meyra. becçao cirúrgica Ijosé d'Oliveira Lima.

Lente demonstrador

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A MIMRA MftDRINRft

J\ MINRÏÏ FHMILIÏÏ

(7)

O I L L .m o E E X .m 0 SNR.

(8)

Dada a importância que hoje vêm merecendo, nos diversos paizes, os serviços de primeiro soccorro, já com organisação propria, já mesmo individuaes, affigu-ra-se-me de vantagem, visto taes serviços serem entre nós em extremo precários, tomal-os para assumpto da obrigada prova final.

Demais, a experiência demonstra, dia a dia, quão necessário se torna attender a essa espécie de soccor-ros, cujo melhor elogio está patente nos magniticos re-sultados colhidos, que são, além de um incitamento para novos emprehendimentos, uma coroa de gloria para os seus iniciadores. D'ahi o decidir-me, confiado em que estas laudas, embora mal tracejadas, calarão fundo no espirito dos generosos, dos bons e dos philantropos.

Entre nós taes soccorros seriam de proveitosos effeitos, quer na margem ribeirinha e marítima, quer no seio da população. Em uma e outra parte ha, por fortu-na, sempre a contar com indivíduos prestimosos que encaram o risco para valer a uma vida. Mas bem bastas vezes o esforço resulta inutil, por não ser racionalmente

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completado. E como deverá ser cruel e doloroso para o dedicado salvador, vêr perdido o seu denodo e bal-dado o seu sacrifício! O ente desfallecido e inane que tanto lhe custou a arrancar ao perigo, umas vezes em frágil casca de noz ou em pleno elemento defrontando o arremetter das vagas, outras vezes em débil escada mordido pelas labaredas, não mais accordou do somno profundo em que cahira. É que o acto da generosidade fora incompleto.

Vencida a parte mais difficil pela força e pela des-treza, requeria-se para complemento a intervenção da intelligencia e da arte. Sem a conjugação d'estes facto-res o facto-resultado estará sempre dependente d u m capri-cho da fortuna. Felizmente que muitos casos desmen-tem este acerto. Mas outros, por sua vez, trisdesmen-temente o confirmam. Rememoremos.

Dois casos apenas. O desastre succedido num diá-rio d'esta cidade, onde em um aluimento foram arrasta-das dezenas de pessoas da altura de um andar. Conta-ram-se numerosos feridos e dez mortos.

Accorreram prestes os bombeiros, libertando os desventurados do pavoroso amontoado em que jaziam. Successivamente iam sendo transportados em macas para o hospital os que não podiam caminhar por seu pé. Ferimentos, fracturas, asphyxias, tudo foi, se bem que mal, a caminho da Misericórdia, numa extensa ca-ravana desoladora. Eis a questão. Se houvesse um ser-viço de soccorro organisado, com pessoal idóneo, me-dicos e auxiliares, uma selecção teria sido feita no mo-mento, e não haveria por certo a registar um numero tão elevado de mortos.

Aventarei mesmo, que todos escapariam... Algu-mas das victiAlgu-mas, as suffocadas pela asphyxia, deviam ser soccorridas immediatamente nas casas próximas.

Matou-as a longa caminhada para o hospital. As conclusões das autopsias o confirmam: das dez

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victi-mas, nove morreram devido a asphyxia por suffocaçao e uma pela hemorrhagia proveniente dos ferimentos. Outro caso. Por occasião da cheia do Douro, ainda o anno passado. De bordo de um vapor, que a corrente arrumara para uns cachopos, alguns homens, perdida a esperança de auxilio, apesar dos seus signaes, no mo-mento afflictivo em que o navio adornou, aventuram-se num bote a demandar terra. Despedaçado o lenho, em lucta com as vagas, très d'esses homens conseguem al-cançar a praia. Encontrados providencialmente por uns cavalheiros que, nessa hora da noite, contemplavam a magestade horrífica do mar, são de prompto conduzidos ao posto onde se prestam soccorros aos afogados.

Aberta a porta ao fim de umas dezenas de minutos, verificou-se pouco haver no estabelecimento que con-dissesse com o fim a que era destinado. Nem uma be-bida reconfortante, que foi preciso procurar fora... Pe-las suas camas, alinhadas, poderia ser util—como alber-gue nocturno. Mas como posto de soccorro, não, visto a carência de material e ausência de pessoal idóneo. E isto em plena quadra invernosa, quando os elementos em fúria ameaçavam victimas! Criminoso desleixo! Se os náufragos fossem encontrados asphyxiados e o acaso não fizesse apparecer algum medico, pois que a estação pomposamente rotulada de "Soccorros a náufragos,, não o tinha, contar-se-hiam mais três victimas, immola-das estultamente á luz da civilisação mundial !

Proclamar, pois, as summas vantagens da organisa-çâo dos soccorros medicos nos sinistros, do estabeleci-mento de postos nas margens, fluviaes e marítimas, e da vulgarisaçâo dos soccorros de urgência, taes são os intentos d'esté desprendido tentamen que a lei deter-minou, mas que a razão dos factos concebeu, embora precipitadamente, atabalhoadamente...

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Necessidade e vantagens do

serviço de prompto

soccor-ro. 5ua organisação em

di-versos paizes.

Na epocha presente, de vicia activa e laboriosa, onde os serviços de assistência social são por demais necessários, assignalam-se como dos não menos im-portantes aquelles que visam um soccorro rápido e efficaz. Augmentadas as causas do perigo, pelo uso assombroso do vapor e da electricidade, nas indus-trias e nos transportes, devia consequentemente cres-cer o numero dos accidentes. D'ahi a necessidade de um soccorro prompto, em harmonia com as exigên-cias imperiosas do viver moderno. Assim o compre-henderam algumas nações organisando os seus soc-corros públicos, quer officialmente, como a França, sobretudo, quer á custa de instituições particulares, como a America do Norte, a Inglaterra, a

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Hungria e a Allemanha mesmo, onde taes institui-ções vivem de accordo com os poderes públicos, prestando-se um mutuo auxilio. Cabe notar que jus-tamente nas nações em que os soccorros se devem á iniciativa privada é que estes mais teem progre-dido. É que o sentimento altruísta que tanto agita as fibras do coração humano parece estiolar-se nas altas regiões do E s t a d o . . .

Entre nós, mesmo, o pouco que na materia nos dá foros de civilisados, á iniciativa particular se deve. Se não fosse ella talvez se morresse ao abandono pelas ruas. . .

Comtudo, no sentido de soccorros de urgência, nenhuma tentativa séria ainda foi feita. Os estabele-cimentos hospitalares que tentam supprir esta falta, são, sob tal ponto de vista, o que todos sabem — in-suficientes. A ineficácia da sua acção resulta sim-plesmente de ser—demasiado tardia.

Tal succède aqui, no hospital de Santo Antonio. Único oasis no meio de um enorme deserto, muitas vezes a sua lympha nem chega a humedecer os lábios d'aquelles que o demandam. O ultimo sopro de vida extinguiu-se no caminho. Concretisemos. Afoga-se uma creatura no Douro, e por qualquer meio é agarrada e conduzida a terra. Que é de uso fazer-se em tal conjectura? Apitar, para acudir a policia que manda buscar uma maca á esquadra mais próxima e faz transportar, com uma duvidosa ligeireza, o desventurado para o hospital da Misericórdia.

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sue-cedido no trabalho, dá-se invariavelmente o mesmo; arranja-se uma padiola e toca arrastar sem os me-nores cuidados da accommodação e transporte, o pobre ferido para o pesado casarão da Cordoaria.

Consequências ?

Morte por asphyxia na primeira hypothèse, por carência d'um soccorro conveniente e rápido; morte provável por hemorrhagia, na segunda, por falta de uma compressão conscientemente feita, e ainda na circumstancia mais favorável, a infecção secundaria da ferida, que arrasta complicações e protela a cura.

Como evitar estes inconvenientes de tamanha res-ponsabilidade moral? Simplesmente.

Estabelecendo postos de soccorro aos afogados na margem rio, instruindo os agentes da ordem (o que será difficil) e divulgando os processos de pri-meiro soccorro. Creando, por sua vez, postos de soc-corro na cidade, e montando um serviço de ambu-lâncias com o fim de ir buscar o ferido ao local do desastre, de o preparar convenientemente e o conduzir com as devidas precauções ao posto mais proximo. A falta de postos de soccorro parece estar em via de ser remediada pela Santa Casa da Miseri-córdia, que tenciona estabelecer alguns distribuídos pela cidade \

Será uma grande passada, indubitavelmente, no campo dos serviços de urgência. Mas pena é que

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essa passada não seja seguida de outras. O rio Douro continuará a concorrer enormemente com os seus funèbres tributos para a morgue apesar das pro-videncias, insufficientes sem duvida, do Real Insti-tuto de Soccorros a Náufragos, que espalhou ha pouco apparelhos de salvação e umas breves ins-trucções de soccorro por algumas praias de banhos.

Só alguns postos, poderão exercer uma acção efficaz. Assim fosse tomada a iniciativa de os orga-nisai-.

Por estar de harmonia com o seu destino, ouso lembrar para tal fim, a benemérita Real Sociedade

Humanitária, d'esta cidade, que assim dilataria a

sua acção praticamente, não só galardoando os sal-vadores, como costuma, mas contribuindo poderosa-mente para o maior numero de salvamentos. O convite feito aos facultativos officiaes para que for-mulassem instrucções sobre soccorros aos afogados ', como até agora, creio, não tenha sido ouvido, sugge-riu-me a ideia de pôr em vulgar as instrucções insertas no final d'esté trabalho, d'onde, parece-me, se não encontrarão deslocadas. Além d'isso a sua vulgarisação nunca será demasiada.

Os soccorros de momento a prestar nos variados accidentes, não deviam ser por ninguém ignorados sobretudo por aquelles que, pelas suas attribuiçôes

1 Relatório da Real Sociedade Humanitária, Porto,

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(guardas de segurança, bombeiros, banheiros, etc.) melhor occasião tivessem de os pôr em pratica. No livro portuguez mais antigo que ha sobre o assumpto accentua-se esta indiscutível vantagem '. A obra foi dirigida ao povo sob a forma de aviso ou ins-trucção, lembrando-se o auctor de a dedicar ao intendente da policia, em vista da conveniência d'esta saber accudir aos sinistrados. Os soccorros dispensados a tempo, são pois de uma excepcional importância. A maior parte das vezes elles conse-guiriam triumphar d'uma existência ameaçada.

Em face de um desventurado, victima de qual-quer accidente, o homem de consciência, com o coração confrangido, deve sentir-se amesquinhado por se encontrar impotente para um auxilio efficaz. Um primeiro movimento instinctivo como se sus-pende, ao lembrar que vae agir sem um destino, sem saber o que fazer.

E comtudo o soccorro salvador está innumeras

1 e/lviso ao povo sobre as asphyxias ou mortes

appa-rentes, por M. J. H. P. Lisboa 1786. Aclara o auctor tel-o

escripto por não haver na nossa lingua livro algum sobre a matéria. M. J. H. P. são as iniciaes do nome de Manoel Joaquim Henriques de Paiva, que, segundo as indicações do snr. A- J- d'Oliveira no seu livro Homens

e livros da Medicina Portuguesa, (Coimbra, 1885), "foi dos

auctores que mais escreveu em litteratura medica por-tugueza, podendo dizer-se que tocou todos os pontos da vasta sciencia medica e das sciencias accessorias„.

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vezes n'iima coisa bem simples, que depois de com-prehendida pôde ser posta em pratica n'uni instante.

Mas estas difficuldades constrangidoras, tanto as experimenta o diplomado, o homem de posição, como o analphabète obscuro e ignorante. Sob este ponto de vista, é singular, dois elementos tão distan-tes ria escala social, paradoxalmente se nivelam...

Se um apresenta a desculpa de lhe não terem ensinado nada, de nem sequer as lettras diferençar, o outro, com cursos feitos, assas distinctamente, só pôde ter um gesto de indignação ao pensar na va-cuidade arripiante dos seus conhecimentos. A in-strucção que lhe ministraram a peso de ouro e de sacrifícios, foi incompleta.

Não valia quanto suppunha . . .

A parte util, pratica, que lhe seria necessária pela vida fora, essa, foi de todo esquecida pelos preceptores.

E talvez a elle passasse despercebida também, se um capricho do acaso o não collocasse em face d'um afogado, que morreu á mingua de soccorros promptes.

As mãos bem intencionadas que lh'os preten-diam prestar, nada de util poderam fazer. ..

Por isso, quer no bulício das cidades, onde os sinistros se multiplicam, quer no isolamento das al-deias, onde os soccorros tardam, todo o homem de mediana illustração devia saber a maneira de ata-lhar os accidentes antes da chegada do medico.

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afoga-dos, diz um distincto escriptor nacional 1: «seria estremamente util que essas indicações succinta e claramente formuladas de modo que podessem ser facilmente comprehendidas e decoradas por toda a gente, fossem expostas ao publico em cartaz, ensina-das nas escolas e liensina-das pelos padres á hora da missa, em todas as povoações de pesca e banhos». Lá fora muitíssimo se tem conseguido respeitantemente a soccorros de urgência, como será fácil verificar percorrendo, de relance embora, n'uma digressão instructiva e edificante, as organisações dos diffé-rentes paizes.

A prioridade d'esta espécie de soccorros cabe á Hollanda, que os instituiu para os afogados em IÕ67. Também foi n'este ramo que se fizeram os primeiros ensaios em-França.

Tratado o assumpto n'uma memoria apresentada por Littré em 1719, á Academia das Sciencias, ape-sar de versado de novo em outra memoria de Petit em 1741, só teve a sua solução pratica, no anno de 1772, pelo pharmaceutic© Pia, edil da cidade de Pa-ris, com a distribuição por différentes logares de cai-xas de soccorro acompanhadas de instrucções para o publico.

Desde então o serviço foi sendo, com algumas alternativas, melhorado até attingir o desenvolvimento

1 Ramalho Ortigão. As praias de Portugal. Porto,

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actual. Dezenove pavilhões de soccorro estão repar­ tidos ao longo do cães do Senna e dos diversos ca­ naes de Paris.

Para se avaliarem os resultados d'esta organisa­ ção bastará trasladar as seguintes cifras referentes aos annos de 1875 a 1892, inclusive, isto ainda quando só desesseis pavilhões estavam construídos: sendo o numero dos afogados conduzidos aos vários postos, de 3:573, apenas 185 não poderam ser cha­ mados á vida; cabe notar que alguns dos 3:388 sal­ vos encontravam­se em circumstancias graves tendo por vezes permanecido 5 a 12 minutos debaixo de agua ou entre duas aguas, o que leva o afogado a inspirar agua e ar augmentando por consequência os perigos da submersão pela presença de liquido nas ramificações bronchicas.

Estes resultados são assas lisonjeiros, pois que a duração de 5 minutos considerada pelos inglezes como maxima, depois da qual os cuidados são por assim dizer inúteis, foi excedida, graças á boa insta­ lação e á cooperação vigilante e diligente do pessoal encarregado.

Os pavilhões de soccorro são confortáveis e lu­ xuosamente instalados; contém um leito, uma maca, uma banheira e um apparelho de aquecimento que consiste n'uni estiado de cobre polido sobre o qual se deita o afogado envolvido em um cobertor de lã; o apparelho é aquecido progressivamente por agua ou por uma corrente eléctrica.

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Uma caixa de soccorro encerra, entre outras coi-sas, uma pinça de lingua, uma lanceta, uma serin-ga para injecções hypodermicas, agua de melissa, alcool, simples e camphorado, sinapismos, ipeca em papeis, etc.; alguns pavilhões dispõem de oxygenic Na parede encontram-se afflxadas ínstrucções ge-raes sobre os cuidados a dai- aos afogados e uma noticia redigida por M. Laborde sobre o modo de praticar as tracções rythmicas da lingua.

O serviço de salvamento está a cargo d'uma

bri-gada fluvial, cujos agentes, excellentes nadadores,

são também acompanhados por cães da Terra Nova. Ha também em Paris, organisados á semelhança dos de New-York, uns carros de soccorro denominados

ambulâncias urbanas, destinados a soccorrer os

fe-ridos ou os doentes attingidos de subito na via pu-blica. Prestam itnmediatos cuidados ao sinistrado, applicam-lhe um penso conveniente no caso de fe-rida ou de fractura, e, por fim, conduzem-no ao hos-pital ou á sua residência segundo as circumstancias; são notáveis os seus serviços em caso de parto na rua. A mais importante das estações de ambulâncias urbanas é a do hospital de S. Luiz, funccionando os seus carros dia e noite. Recebido o aviso telephoni-co, uma viatura acompanhada d'um interno dirige-se immediatamente para o local do sinistro. A par d'estas providencias outras existem, que não será ocioso mencionar. Taes os postos de soccorro

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so-ciedades de salvadores voluntários, organisadas por occasião das grandes festas, revistas, reuniões espor-. tivas, e os serviços nos theatros e nos caminhos de

ferro.

Na Allemanha os serviços de pronto soccorro, d'uma modelar organisação, tomaram um desenvolvi-mento maravilhoso graças á admirável iniciativa do celebre cirurgião von Esmarch, que teve a generosa ideia de fundar em Kiel no anno de 1882 a

Socie-dade Allemã dos Samaritanos (Deutscher Samari-ter Verein) destinada a diffundir no publico as

no-ções dos primeiros cuidados em casos de accidentes súbitos antes da presença do medico. Reconhecidas as suas vantagens em breve se estendia por todo o império o seu louvável exemplo, comprovado pela creação de escolas similares em quasi todas as cida-des germânicas. A nobre ideia do Dr. von Esmarch obteve por fim a consagração officiai pela introdu-cçâo obrigatória do ensino dos primeiros soccorros nas différentes escolas technicas, no exercito, na ad-ministração dos correios e caminhos de ferro, na po-licia e nos corpos da guarda, sem fallar nas diver-sas corporações de voluntários, taes como os cor-pos de bombeiros e outras, que tanto exuberam no solo allemão. Para dar maior impulso á sua propaganda, verdadeiramente evangelisadora, publi-cou o Dr. von Esmarch um livro onde se acham compendiadas as suas conferencias sobre os primei-ros cuidados.

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edições e o numero de traducções feitas 1. Um di-ploma com o titulo de «Samaritano» é concedido a quem tiver satisfeito um exame especial. Em Ber-lim, bombeiros e agentes de policia seguem esse curso, possuindo muitissimos d'elles o seu certificado de samaritano.

Além das caixas de soccorro, a cargo dos bom-beiros e da policia, a Sociedade manda collocar qua-dros de salvação, de zinco, no locaes mais sujeitos a desastres (em 1895 havia 3500!), onde se acham estampadas as instrucções para soccorrer os afoga-dos, acompanhadas de figuras explicativas.

Merecem ainda ser mencionadas na Allemanha a Sociedade da Cruz Vermelha, que dilata a sua acção com serviços em tempo de paz e a

Rettunggesells-ckaft, fundada em Berlim pelo professor Bergmann,

especialmente destinada a transportar doentes e feri-dos victimas de accidentes.

Por fim, estas corporações tão importantes hoje na Allemanha motivaram a creação dos

Unfallsta-tionen, postos de soccorro destinados a assegurar

di-rectamente os cuidados necessários aos feridos logo após o momento do accidente. Cada posto, dotado de medico permanente, comprehende um pavilhão, com uma salla de pensos, dispondo também de

al-1 Em 1908, o livro do Dr. von Esmarch, Primeiros cuidados a prestar nos accidentes, tinha 23 edições e

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guns leitos onde se recolhem os feridos que não pos-sam ser transportados sem perigo.

Os soccorros em Inglaterra estão assegurados em todas as cidades de população superior a 10:000 habitantes por uma sociedade particular que vive de subscripções : a Saint John s Ambulance

Associa-tion, creada em 1877 com o auxilio de vários

me-dicos, e que é, por assim dizer, uma transformação da ordem dos Hospitalarios de São João de Jeru-salém.

Esta sociedade encontra-se dividida em secções correspondentes ás principaes cidades e colónias.

Ensina a arte dos primeiros soccorros, habilita enfermeiros de ambos os sexos, distribue material de soccorro, concedendo um certificado de aptidão após um exame e medalhas por serviços distinctos. Admi-ráveis resultados têm sido colhidos graças ao apoio dado por todas as classes da população e mesmo pela família reinante da qual alguns membros se prestaram a satisfazei' as provas exigidas.

Emula na sua obra de philantropia sobresae também em Inglaterra a celebre Royal Humane

So-ciety, que, fundada em 1774 pela iniciativa de

Jo-hnson inspirada pelo exemplo da obra hollandesa e da organisação parisiense, tem até hoje installado mais de 260 casas de soccorro por meio de subscri-pções privadas que sobem a enormes quantias an-nuaes. Nos seus numerosos postos, dotados de to-dos os aperfeiçoamentos modernos, tendo cada um, continuamente, 2:000 litros de agua quente para as

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necessidades de momento, são soccorridas todas as pessoas em risco de perder a vida de um modo vio-lento.

Quando um accidente surge, e emquanto os sal-vadores da Sociedade se occupam em retirar o afo-gado da agua e a dar começo aos seus cuidados, um mensageiro é enviado prestes a uma das esta-ções onde se encontra permanentemente um medico de serviço.

As instrucções da Sociedade Humana, muito concisas e claras, expõem, acompanhadas de gravu-ras, o methodo de Sylvester.

O relatório de 1909, que tenho á vista, mostra, terem sido salvas no anno passado 717 pessoas; que não o poderam ser 65, e que dez dos salvadores encontraram a morte na sua dedicação.

Na sua simplicidade estes números mostram elo-quentemente a importante funcção altruísta da velha e celebrada Sociedade Humana l.

Passando á Hollanda, vemos que a Sociedade de

Amsterdam é uma das mais antigas, pois teve a sua

1 Esta Sociedade creou logo após a sua fundação

grande nomeada, sendo as instrucções que vulgarisava trasladadas para varias línguas. A versão portugueza in-titula-se :

Avisos interessantes sobre as mortes apparentes ; recopi-lados da collecçâo da Sociedade Humana de Inglaterra, das

obras de M. cPia e M. Gardanne. Impresso em Lisboa, no

anno de 1790, na officina da Academia Real das Scien-cias.

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fundação em 1767, devido á iniciativa de Claude Noortwigh, de Jacob de Clercq e do medico Jean Scipion Vernede.

Como as suas similares esforça-se por diffundir no publico-os cuidados a prestar aos afogados, tendo distribuídas pelas pharmacias e vários estabelecimen-tos, caixas acompanhadas de instrucções, com o ne-cessário para um tratamento immediato.

A Sociedade paga os honorários dos medicos chamados e indemnisa as pessoas, em cujas casas forem recolhidos os afogados, dos prejuízos que por ventura possam ter com o fornecimento de roupas. A organisação dos soccorros públicos na Austria-Hungria está garantido, concorrentemente, por socie-dades particulares e pela policia. Referirei apenas o serviço das primeiras nas duas grandes capitães, Vienna e Budapesth.

Em Vienna existe a Sociedade dos Salvadores

Vohmtarios{ Wiener Freiwillige Rettungs-Gesellschapt)

que foi fundada em 1881, pelo conde Hans Wilezeck sob a impressão emotiva causada pelo incêndio do Ring-Theater, onde quatrocentas e quarenta e nove pessoas pereceram.

A Sociedade está subdividida em ties secções : soccorros de incêndio, de innundações e de accidentes públicos. Esta ultima, a mais importante e que pou-co a poupou-co substituiu o antigo serviço prestado pela policia, comprehende 200 medicos e 200 homens sanitários, exclusivamente recrutados entre estudan-tes de medicina.

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A Sociedade possue vima única estação ligada telephonicamente com a direcção da policia, onde ha um pavilhão medico para o pessoal de serviço, me-dicos, estudantes e enfermeiros diplomados.

Os homens sanitários (estudantes de medicina), três de serviço e três de reserva, prestam os primei-ros soccorprimei-ros antes da chegada do medico ; como recompensa são alimentados gratuitamente.

A Sociedade tem á disposição do publico macas em différentes pontos, além dos carros de ambulância existentes na sua sede. A mesma aggremiação pro-move conferencias publicas seguidas de exercícios práticos e publica uma revista trimensal.

A cidade de Vienna concede annualmente aos Salvadores Voluntários um subsidio importante, mas as subscripções particulares bastam para cobrir as suas grandes despezas.

A sua congénere de Budapesth denomina-se tam-bém Sociedade dos Salvadores Voluntários ; fundada em 1887 pelo Dr. Géza Kresz, destina-se a prestar soccorros aos feridos e afogados.

Possue vários postos, com sallas de pensos, de operações e quartos para os sinistrados, cujo estado não permitta a sua remoção.

O serviço clinico está a cargo de 2 medicos e 4 estudantes de medicina ; sendo necessário é chamada uma espécie de reserva constituída por 8 estudantes. Em caso de catastrophe, n'um momento dez viatu-ras estão promptas e a breve trecho 60 pessoas com-petentes podem prestar os seus cuidados ás victimas.

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Pavilhões de soccorro aos afogados estão estabe-lecidos ao .longo do Danúbio, onde incessantemente cruza um vaporsinho da Sociedade com salvadores vigilantes.

Na America do Norte os soccorros devem-se quasi totalmente a sociedades particulares. Citarei apenas o serviço de New-York constituído por car-ros de ambulância e dispensários, verdadeicar-ros hospi-taes de urgência. As ambulâncias, recebido o aviso, atreladas automaticamente, dirigem-se para o local do accidente com espantosa rapidez ; cada uma mu-nida de material de penso, é acompanhada por um cirurgião e um enfermeiro.

Como os hospitaes se encontram distantes, ha no centro da cidade casas de soccorro, pequenos hospi-taes, com trinta leitos, onde se fazem as operações de urgência, transportando-se depois o ferido, quando possa ser, para um hospital ordinário.

Taes são, singelamente esboçados, os serviços de prompto soccorro nos variados paizes que lhes têm dedicado o interesse que merecem. Muito seria para estimar que alguma coisa n'este sentido fosse ten-tada em Portugal, não esquecendo também a divul-gação dos cuidados de urgência * que é d'utna pro-vadissima utilidade.

1 Sobre a materia apenas conheço, entre nós, o Manual do Socio Activo das Corporações Humanitárias,

de-vido á penna do Ex.mo Snr. Dr. Domingues de Oliveira

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A asphyxia: considerações geraes. — Asphyxia toxica pelo oxydo de carbono. — Asphyxia por suffocação.—

Asphyxia por submersão.

Na impossibilidade de abordar, visto a sua exten-são, mesmo os principaes accidentes que sollicitam cuidados promptos e dada a importância d'um d'el-les — a asphyxia, pela sua frequência e gravidade, resolvi destacar algumas das suas variedades, estu-dando-as sobretudo, nas causas, mechanismo e con-sequências.

Para que a funcção respiratória se realise de ma-neira a conservai' a vida, são precisas as seguintes condições: que o ar contenha em quantidade sufi-ciente os gazes necessários á respiração; que os gló-bulos estejam sãos e cheguem aos alvéolos; e que o ar circule francamente nas vias respiratórias

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trando até aos confins do pulmão. A perturbação de um d'estes factores bastará para determinar a as-phyxia.

Baseado n'esta definição Brouardel considera os subsequentes grupos : asphyxias devidas á ausên-cia na atmosphera dos gazes necessários á respi-ração, a uma lesão dos glóbulos sanguíneos, e resultantes d'um obstáculo mechanico oppondo-se á entrada do ar na trachea. Não é tenção minha se-guir com minúcia este importante estudo, pois ape-nas desejo tocar, e muito pela rama, alguns dos pontos principaes.

N'este propósito vejamos a respiração n'um meio anormal constituído quer por um gaz toxico, quer por um gaz indifférente.

Entre os gazes tóxicos, o oxydo de carbono occupa o primeiro logar, seguindo-se-lhe depois o gaz de illuminação, e o hydrogenio sulfurado (gazes das fossas).

Os phenomenos produzidos n'esta serie são bas-tante complexos.

O sangue carregado de oxydo de carbono não mais é capaz de tomar o oxygenio do meio onde elle se encontra, o que equivale a dizer que o glóbulo sanguíneo não pôde oxygenar-se.

Ha pois uma intoxicação, sendo apenas a asphy-xia um phenomeno secundário.

No caso do meio respiratório ser constituído por acido carbónico, não ha intoxicação.

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sobrecarregava, o glóbulo sanguíneo retoma com muita facilidade o oxygenic

Mas a morte, a dar-se, não é o resultado d'uma asphyxia simples.

As experiências de Paulo Bert mostram que a morte se dá no momento em que o plasma do san-gue encarregado de conduzir o acido carbónico aos pulmões não se pode desembaraçar do gaz, porque n'este momento ha equilíbrio entre a tensão do acido carbónico no sangue e a do acido carbónico contido no meio exterior. Mesmo n'uma atmosphera artificial na qual a proporção normal de oxygenio tivesse tri-plicado, a morte sobreviria rápida desde que a ten-são do gaz acido carbónico contido no sangue fosse egual á tensão do gaz contido no ar.

O mechanismo da morte não é pois a simples privação do oxygenio.

N'um outro agrupamento figuram os casos em que um obstáculo mechanico se opõe á entrada do ar nas vias respiratórias.

Tal a suffocação produzida, por exemplo, por soterramento em saibro. Suppoz-se que haveria iden-tidade entre o mechanismo da suffocação e o da submersão ; não ha ; quando um individuo se encon-tra mergulhado n'um liquido os phenomenos são mais complexos; effectivãmente, na arvore trachéo-bronchica e nos alvéolos pulmonares penetra uma certa quantidade de liquido que é preciso ter em conta quando se quer explicar as condições em que o afogado succumbiu.

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É um facto conhecido apresentarem-se os afoga-dos, ou com uma côr cyanosica ou muito pallidos: são os afogados azues ou os afogados brancos.

Estes poderiam haver soffiido uma inhibição no momento de cahirem á agua, tiveram uma syncope que os fez mergulhar até ao fundo rapidamente e se não permaneceram muito tempo na agua podem ser chamados á vida porque a propria syncope impediu a entrada do liquido nas vias respiratórias.

Ha exemplos de enforcados terem sido salvos de-pois de quinze e vinte minutos de penduração ao passo que outros succumbiram após uma estada de um a dois minutos. Estas variações são explicáveis por uma differença no mechanismo da morte.

Brouardel, estribado na observação e na experi-mentação, mostra a existência de três maneiras dis-tinctas podendo determinar a morte: por falta de

pe-netração do ar nos pulmões; por inhibição e por syn-cope.

Falta de penetração do ar nos pulmões. — Desde

que o oxigénio não pôde chegai' ao contacto dos glóbulos sanguíneos e o acido carbónico produzido pela economia não pode ser expulso, a vida é impos-sível.

Quando a morte sobrevem em alguns minutos, o phenomeno dominante é a dyspnéa; ás inspirações violentas, primeiro, succedem-se enérgicos esforços respiratórios, que pouco e pouco enfraquecem, se es-paçam e extinguem. Ao mesmo tempo a circulação perturba-se ; o coração nos primeiros momentos

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bate com precipitação para em seguida enfraquecer e extinguir-se por completo.

O coração ainda bate depois da respiração ter cessado.

Na suffocação, quando todos os orifícios pelos quaes o ar pôde penetrar nas vias respiratórias estão tapados, a morte demora uns sete a oito minutos.

Inhibição. — O facto conhecido, de alguns

indiví-duos morrerem instantaneamente depois de apanha-rem em certas regiões uma pancada, ás vezes tão ligeira que nem d'ella ficam vestígios, por muito tempo inexplicado, é hoje comprehendido como um phenomeno de inhibição. A inhibição, verdadeiro acto reflexo, é a suspensão d'uma funcção provo-cada a distancia por uma excitação do systema ner-voso. Sendo a excitação suficientemente intensa as funcções podem desapparecer e produzir-se a morte. Ha algumas regiões do corpo particularmente dis-postas a produzir a inhibição, como certos ramos do trigemeo, o nervo laryngeo superior, os nervos cutâ-neos, supra e infra-hyoideus, do epigastro, dos testí-culos e do utero.

E por um phenomeno inhibitorio que se dá o facto, vulgar no inverno, d'um individuo cahir á agua e não reapparecer á superficie.

Quando não mata, a inhibição, impedindo a en-trada de liquido nos pulmões, é por vezes favorável ao afogado, caso os soccorros sejam promptos.

Nem todos estão de egual modo sujeitos a mor-rer por inhibição. A impressionabilidade varia com a

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edade, com o sexo e com as circumstancias mór-bidas.

Syncope. — Emfim a morte pôde sobrevir nas

as-phyxias mechanicas, por syncope. Este género de morte approxima-se bastante da inhibição. Quando não supprime definitivamente as principaes funcções orgânicas a inhibição pôde determinar as variedades de syncope : do coração, da respiração e dos tecidos. Assim um individuo pôde permanecer bastante tem-po submerso sem ser victimado, visto o choque ner-voso ter suspendido as trocas vitaes entre o sangue e os tecidos.

ASPHYXIAS TOXICAS. — Asphyxia toxica é a desi-gnação com que se pretende harmonisai' a antiga e pouco rigorosa ideia de asphyxia pelo oxydo de carbono e outros gazes, com a moderna e justa in-terpretação hoje dada, d'uma verdadeira intoxicação. «Nas asphyxias pelo oxydo de carbono, diz Brouar-del, trata-se com effeito d'uma intoxicação, como o demonstrou Claude Bernard, que deve ser collocada ao lado dos envenenamentos pelo phosphoro, arsé-nio, estrychnina, etc.» Porém como o seu tratamento de urgência reclama a respiração artificial e como a designação de asphyxia é ainda adoptada em medi-cina legal, d'ahi o incluil-a eu n'este estudo.

De todos os gazes espalhados na atmosphera, o oxydo do carbono é sem duvida o mais perigoso. As suas propriedades organolepticas contrastam com O seu poder toxico : sem cheiro, nem sabor, nem

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côr, é comtudo um dos mais poderosos e subtis ve-nenos. Vejamos o que se passa na combustão do carvão. Quando se accende uma estufa carregada de carvão, coke ou choça, produz-se simultaneamente acido carbónico, oxydo de carbono e vestígios de hydro-carbonetos, em proporções variáveis segundo as phases da combustão. Na primeira phase, a de accendimento, uma camada de carvões não accesos acha-se em contacto com outros que já o estão : faz-se então uma combustão incompleta durante a qual a producção do oxydo de carbono ultrapassa muito a do acido carbónico; o oxydo de carbono passa atravez das camadas de carvão ainda não in-flamadas e arde á superficie com uma chamma azul. Na segunda phase o foco arde e flammeja ; a com-bustão é completa ; forma-se pouco oxydo de car-bono, a chaminé aquece e a tiragem arrasta os pro-ductos da combustão. Na terceira phase quasi tudo está queimado, o foco extingue-se, as cinzas inter-põem-se entre os últimos pedaços de carvão em combustão. A producção de oxydo de carbono é de novo superior á do gaz carbónico e por pouco que a corrente de ar ascendente seja diminuída ou con-trariada o oxydo de carbono desce no aposento. Segundo cálculos feitos produz-se na primeira e na terceira phases, três vezes mais oxydo de carbono que gaz carbónico ; na segunda phase, a da com-bustão verdadeira, a proporção de oxydo de car-bono não é mais que >/5 contra 4/5 de gaz

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Como disse, o oxydo de carbono é um dos gazes mais perigosos. A sua toxicidade é enorme. Devido a uma experiência de Leblanc que se tornou clássica, sabe-se que o oxydo de carbono tem uma potencia toxica sessenta vezes maior que a do acido carbónico. Antes das memoráveis experiências de Claude Bernard, admittia-se que o oxydo de car-bono actuava como um gaz asphyxiante, impróprio para a respiração.

Foi este experimentador que demonstrou que o oxydo de carbono forma com a hemoglobina, uma combinação muito mais estável que o que a hemo-globina forma com o oxygenio. Pôde pois dizer-se que um glóbulo sanguíneo carregado de oxydo de carbono é um glóbulo morto: o sangue oxycarbo-nado recusa-se a absorver o oxygenio posto em seu contacto nos pulmões: a hematose torna-se impossí-vel. Sabe-se todavia hoje que fazendo passar uma forte corrente de oxygenio no sangue carregado de oxydo de carbono, este chega a ser em parte expul-so. Quando um animal penetra em uma atmosphera fortemente oxycarbonada, immediatamente o seu sangue se carrega d'uma tal quantidade de gaz toxico, que a hematose se torna impossível : é como que fulminado. Fazendo respirar um cão n'iima atmosphera que não contenha mais de 2 %n de

oxydo de carbono, elle tem, em virtude da avidjz dos glóbulos sanguíneos para se combinar co:n o oxydo de carbono, libertado a atmosphera de todo o oxydo de carbono que continha. D'aqui se infere

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que todas as vezes que se respira n'uma atmos-phera carregada de oxydo de carbono se mata a cada inspiração um certo numero de glóbulos san-guíneos.

É o que se dá com as intoxicações lentas, por exemplo, as dos mineiros e das cosinheiras.

Mesmo ao ar livre o individuo pôde intoxiear-se respirando oxydo de carbono.

Abordemos agora os symptomas da intoxicação oxycarbonada.

São muito nítidos, convindo referil-os n'estas hy-potheses: na da atmosphera estar sobrecarregada de gaz; na de estar relativamente pouco carregada, e por fim na de estar ligeiramente impregnada.

Na intoxicação massiça, o symptoma predomi-nante, posto em duvida por Brouardel nas condições ordinárias, são as convulsões.

Algumas experiências e vários factos confirmam a sua existência.

Quando a intoxicação é gradual, progressiva-mente crescente, podem observar-se as seguintes successivas phases :

Primeiro uma cephalalgia violenta ; o intoxicado sente-se tomado d'uma dolorosa constricção das fontes, tem vertigens, perturbações oculares e por vezes auditivas; pôde ter allucinações e arripios; a tendência ao somno accentua-se cada vez mais.

Se o individuo comprehende a sua situação, se tem a consciência do perigo, pôde executar os actos necessários á sua salvação. Depois, é-lhe impossível

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fazer o menor movimento, visto dominal-o uma no-tável impotência.

Se está deitado no leito pôde, é verdade, ainda movimentar-se mas, se se levantar, as pernas cedem, e cáe ao chão.

Os membros inferiores são attingidos d'uma im-potência maior que os superiores; mesmo que o in-dividuo tenha conservado a sua intelligencia e a no-ção real e exacta do perigo, está impossibilitado de fugir.

Esta impotência é absoluta.

Quando do incêndio da Opera-Comica em Paris, desde que foi possível penetrar no edifício, apparece-ram vinte e sete cadáveres na sala de buffete, junto da grande escadaria, sem os menores vestígios de queimadura, pois mesmo as rendas se achavam in-tactas.

Todas estas pessoas succumbiram sem ter podido tentar um esforço salvador.

O inquérito medico legal demonstrou que todas tinham sido victimas da intoxicação

oxycarbonada-N'esta segunda phase assignalam-se ainda vómitos. O periodo de impotência muscular dura um tempo variável; depois o intoxicado perde o conhecimento e cáe no coma.

O coma, que constitue o terceiro periodo, pôde durar mais ou menos tempo. Por vezes prolonga-se durante dois a três dias. Mesmo n'este considerável lapso de tempo o doente pôde ser salvo.

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into^-xicação oxycarbonada estão sujeitos a alterações nervosas, como o esquecimento do succedido e per-turbações, durante ura certo tempo, da intelligencia e da motilidade que recordam singularmente as da em-briaguez. Ao lado d'estes accidentes, que são uma consequência immediata da intoxicação parcial pelo oxydo de carbono, outros ha que podem sobrevir sem que os primeiros se tenham manifestado. Taes são as paralysias, que apresentam a particularidade do exagero dos reflexos, e as perturbações da intel-ligencia, que pôde ser tão profundamente affectada que constitua um verdadeiro estado de demência.

Será sempre possível chamar á vida um asphy-xiado pelo oxydo de carbono? Lembrando-nos da theoria de Claude Bernard, de que todo o glóbulo carregado de oxydo de carbono é glóbulo morto, pa-recer-nos-ha pouco provável. Comtudo Quinquaud e Gréhant mostraram, pelas suas experiências, que esta theoria nada tinha da absoluta, e de Saint-Martin provou que se pôde produzir, fazendo passar uma forte corrente de oxygenio sobre o sangue carregado de oxydo de carbono, uma oxydação superior e o oxydo de carbono pôde ser transformado em acido carbónico. Em face de um individuo victima d'uma intoxicação oxycarbonada o medico não deve inves-tigar se a hematose é ainda possível: opéra como se estivesse d'isso convencido e dá oxygenio em abun-dância, tanto quanto puder. A respiração artificial secundada pelas tracções rythmicas da lingua são indispensáveis. Os casos de mais suecesso do Dr.

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Laborde são aquelles em que se tratava d'uma inhi-bição: excitando o centro bulbar, despertam-se os centros dos movimentos respiratórios. As injecções subcutâneas de ether e a transfusão do sangue têm dado bons resultados. Terminando, citarei as lesões reveladas nas autopsias de indivíduos intoxicados peio oxydo de carbono; são pouco características, ex-cepto as tiradas do exame do sangue. Com effeito o sangue do cadaver oxycarbonado é rutilante, como o sangue arterial, conservando por muito tempo esta apparencia. A coloração mostra-se atravez da pelle, que se torna rosada; os lábios ficam vermelhos e a s ' maçãs do rosto coradas como foi observado em duas meninas mortas por asphyxia no incêndio da Opera Cómica, que conservaram durante oito dias uma apparencia de vida tal que sua família as suppunha n'um estado de catalepsia. Além da sua rutilancia o sangue apresenta a particularidade de se decompor muitíssimo lentamente, o que faz com que os cadá-veres, talvez por o sangue se tornar mau caldo de cultura, resistam á putrefacção.

ASPHYXIA POR SUFFOCAÇÃO.—A morte por este

gé-nero de asphyxia dá-se sempre que um obstáculo mechanico se opponha á entrada do ar nos órgãos respiratórios, salvo no caso de enforcamento, de es-trangulação e de submersão.

A suffocação pôde produzir-se por occlusâo das vias aéreas quando um corpo estranho penetrou na trachea, por occlusâo dos orifícios da respiração, por

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soterramento, e finalmente por compressão das pare-des thoraxicas e abdominaes, nas multidões.

O mechanismp da morte, quando ha occlusão da trachea, das narinas e da bocca é Um só : uma suf-focação brusca mais ou menos rápida motivada pela falta de penetração do ar nos bronchios.

Ao inverso do que se passa no enforcamento e na estrangulação por um laço, a circulação encepha-lica não é perturbada, pulsando o coração muito tempo depois da cessação dos movimentos respirató-rios. Por isso não é raro poderem ser reanimados indivíduos que tenham permanecido durante algu-mas horas debaixo d'um aterro.

Estes factos não são para admirar quando sabe-mos que os fakirs da índia, se enterram voluntaria-mente durante alguns dias e por vezes durante duas e:tres semanas, ao fim das quaes são retirados vivos. É certo que em determinadas condições, quando a espessura da crosta de terra não é considerável, quando ha fissuras atravez das quaes o ar pôde fil-trar-se, os indivíduos soterrados podem conservar a vida durante um certo tempo. Evidentemente estes fa-ctos, observados por vezes, não podem ser compa-rados aos dos fakirs, que se encontram em condi-ções muito particulares só a elles adstrictos.

Comtudo é para notar que se possa conservar a vida durante tanto tempo sob um aterro.

Em condições vulgares quanto tempo se pôde estar enterrado antes de morrer?

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nume-rosos: Tardieu avalia que se a camada de terra não é muito considerável uma creança soterrada pôde viver quatro a cinco horas.

Notou, d'uma vez, uma sobrevivência de 8 horas. Ahi temos pois factos que recordam, bem que de longe, aquelles a que os fakirs estão acostumados.

Paulo Bert verificou que os tecidos dos jovens animaes consomem dez vezes menos oxygenio que os d'um animal adulto: a sua nutrição encontra-se enfraquecida como a dos fakirs.

O soterramento accidental, o dos operários sur-prehendidos n'uma saibreira ou n'uma mina, requer sempre uma tentativa de salvamento mesmo que se-jam julgados mortos.

E dever dos medicos e dos engenheiros intervir impondo a continuação dos trabalhos.

Têm sido retirados vivos operários que estiveram soterrados durante seis ou sete dias.

E verdade que na grande maioria dos casos não é bem um soterramento tal como o comprehendemos; trata-se antes de indivíduos encarcerados, bloqueados n'um espaço confinado, onde têm ainda á sua dispo-sição uma certa quantidade de ar, que algumas fis-suras deixam penetrar.

Chega mesmo a ouvir-se, pelo menos nos pri-meiros dias, gritar e fallar.

Um exemplo demonstrativo de quanto vale a per-sistência nos trabalhos de salvamento.

Em França n'umas obras de caminho de ferro, cinco operários foram colhidos n'um desabamento.

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Retirados dois, disse-se que era inutil continuar os trabalhos, visto os restantes homens deverem es-tar já mortos.

Um medico que se achava presente insistiu, e com razão, para que continuassem, apodando de im-becil p individuo que se oppunha ao proseguimento dos trabalhos. Era o maire.

O medico teve de responder perante a justiça pelo delicto de offensa a um funccionario no exercício das suas funcçôes; porém sentiu a satisfação de vêr pro-seguir os trabalhos de desaterro e a felicidade de po-der chamar á vida, um dos operários, que sem elle, teriam sido abandonados.

Sem desfalecimentos, é necessário continuar o desaterro, emquanto scientificamente, haja a

espe-rança de retirar alguém vivo.

As auptosias têm revelado que qualquer que seja a espécie de soterramento o individuo vivo faz sem-pre esforços consideráveis para respirar.

Vejamos agora a morte nas multidões felizmente que cada vez mais rara. Alguns d'estes accidentes nos cita a historia, sobretudo por occasião das gran-des festas ' publicas. Uma das mais recentes e das maiores hecatombes conhecidas n'este género, foi a que se deu em 1896, quando do coroamento do im-perador Nicolau II, na qual succumbiram 3:000 pes-soas, entre grande numero de feridos.

O mecbanismo da morte, em taes casos, é muito complexo. Em geral, quando se é presa d'uma mul-tidão o primeiro perigo é a queda, porque, se ha um

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espaço sufficiente para que um individuo possa cahir por terra, a multidão passa sobre elle e esmaga-o. Se não se é esmagado pôde ser-se enucleado.

N'um momento dado os pés d'uma pessoa, per-mida na massa, incessantemente impelida com ella, perdem o apoio no solo. Observando uma multidão em movimento é fácil vêr de ora em quando uma pessoa emergir acima do nivel geral. Essa pessoa não assenta os pés em terra e soffre uma compressão considerável das paredes thoraxica e abdominal. As mulheres e as creanças são as victimas mais com-muns. Parecerá difficil que as costellas e o diaphra-gma sejam comprimidas a ponto de não mais pode-rem fazer penetrar na cavidade thoraxica uma quan-tidade de ar sufficiente para a respiração ; comtudo só se tem revelado fracturas de costellas nas victi-mas d'esté género quando hajam sido calcadas.

Fora de toda a violência apparente e apreciável, um certo numero de pessoas tem succumbido e pa-receram succumbir unicamente á compressão das paredes thoraxicas. Mas ha outros factos não menos dignos de menção. São os accidentes que se dão a um signal de perigo nas offkinas, nos theatres, nos locaes de reuniões onde uma massa de gente se pre-cipita para as sahidas, premindo-se, esmagando-se, atropellando-se, em busca da salvação propria.

N'estes casos, quando a morte se não dá, as con-sequências da suffocação. por compressão, por vezes longas e custosas, traduzem-se por uma semi-demen-cia, por uma amenesia, e ainda por crises de hysteria.

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Entre as edificações onde taes perigos são mais para temer, contam-se os ateliers de madeira e as barracas de hospitaes. Estes perigos são tamanhos que as construcções de madeira foram banidas por completo dos hospitaes de Paris.

Em 1876, três barracas, occupadas por mulhe-res, do hospital de Santo Antonio d'aquella capital, incendiaram-se, perecendo duas doentes que não po-deram fugir ; as barracas foram presa das chammas em menos de cinco minutos.'N'estes incêndios o risco é enorme quer para os doentes que não pos-sam levantar-se quer para os outros.

Aqui no Porto, o hospital do Bomfim periga bastante por se encontrar nas mesmas deploráveis condições. Não devemos esquecer a auctorisada opi-nião de Brouardel : «Caso sejaes consultado sobre o estabelecimento e as condições de segurança d'uma barraca de madeira e se vos pedirem a vossa opi-nião nas commissões de hygiene de que tereis de fazer parte, deveis dizer que não é possível contar, em caso de fogo, nem com bombeiros nem com boccas de agua.

Quando o incêndio rebenta é uma verdadeira explosão; só n'este momento as pessoas capazes de se salvar, terão possibilidade de o fazer. Alguns

mi-nutos depois será demasiado tarde».

Assim estas palavras fossem ouvidas e pondera-das como merecem. Evitar-se-hiam, pur certo, arre-pendimentos inúteis.

Deve-se todavia não exagerar n'estes accidentes

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a importância da compressão; outros factores entram em jogo, como a elevação demasiada da temperatura e o enorme desenvolvimento do oxydo de carbono.

ASPHYXIA POR SUBMERSÃO. — Á morte por

suffoca-ção em um liquido dá-se o nome de submersão. Para que esta se verifique nem sempre é necessá-rio que o individuo mergulhe por completo, pois a simples immersão da cabeça muitas vezes basta.

As formas como a submersão se réalisa, especial-mente estudadas por Brouardel e Loye são estas: mor-te súbita; mormor-te brusca; mormor-te lenta; mormor-te accidental.

Morte súbita. — E resultante d'uma inhibição. Morte brusca. — Tem logar quando o afogado

se encontra com os membros atados ou com um corpo pesado preso aos pés.

Experiências feitas em cães permittem notar que a morte, contada do momento da suspensão respira-tória definitiva á annullação da pressão senguinea, sobrevem d'uma maneira constante entre 3 minutos e meio a 4 minutos.

Durante este intervallo apresentam-se ao observa-dor perturbações que se podem assim dispor chrono-logicamente :

/." phase. — Logo após a immersão o animal executa uma ou duas inspirações, debatendo-se pouco activamente.

Duração cinco a dez segundos.

2." phase. — Agitação violenta e resistência

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J." phase. — A respiração reapparece, o animal

faz profundas inspirações e deglutições e lança espuma á superficie da agua; os movimentos geraes suspen­ dem­se.

Duração um minuto.

4." phase. — Nova suspensão da respiração com

immobilisação do thorax ; perda da sensibilidade (pu­ pilla dilatada, cornea insensível).

Duração um minuto.

5" phase. — O animal exhala o ultimo suspiro

precedido de três ou quatro movimentos respiratórios, com contracções fibrilares das maxillas e lábios.

Duração meio minuto.

São pois as modificações respiratórias que diffe­ renciam sobretudo estes períodos, também chamados, por sua ordem, de surpreza, de resistência, das gran­

des inspirações, da suspensão respiratória, e do der­ radeiro suspiro.

Essas modificações, rigorosamente obtidas por meio de graphicos, mostraram que a respiração dia­ phragmatica é a predominante em todas as phases da submersão, intervindo pouco os músculos da região superior do peito e os das paredes thoraxicas.

Na morte por qualquer dos outros modos de as­ phyxia mechanica, como por exemplo a occlusâo das vias respiratórias, dá­se o contrario, pois as partes superiores do thorax alargam muitíssimo de maneira a provocar a entrada Io ar.

Cottejando o modo de respiração do afogado e do asphyxiado, na phase de resistência, vemos que

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os esforços respiratórios conscientes devem actuar em sentido inverso dos da asphyxia.

O animal privado do ar por occlusão mechanica das vias aéreas põe voluntariamente todas as suas potencias inspiratorias á procura do oxygenio au-sente: dilata ao máximo o seu thorax de maneira a augmentai' as suas forças de respiração. Ao contra-rio, o animal que mergulhou e que tem a consciên-cia do perigo reúne toda a sua energia para evitar a entrada do liquido ambiente nas suas vias tracheo-bronchicas.

Ha pois uma opposição manifesta nos esforços respiratórios durante as phases conscientes da asphy-xia por occlusão mechanica e da asphyasphy-xia por submer-são. Mas a resistência pouco dura ; o sangue despo-ja-se do seu oxygenio, carrega-se de gaz carbónico,

e tornado asphyxico vae excitar os centros respira-tórios cuja acção foi até então retida quer pela von-tade do animal, quer pela irritação inhibidora dos nervos sensitivos cutâneos, nasaes e laringo-tracheaes.

Esses centros entram em actividade, pondo em jogo a contracção do diaphragma, augmentando a amplitude da cavidade thoraxica, e chamando tam-bém o liquido ambiente no interior da trachea e dos bronchios.

O liquido penetra a cada inspiração e vae mistu-rar-se com o ar do pulmão até ao fundo dos alvéo-los. É uma mistura de agua e ar lançada a cada inspiração, sob a forma de espuma branca, na ter-ceira phase da submersão.

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Estas respirações, longe de ser benéficas, tornam a asphyxia mais rápida, pois que corn as inspirações espumosas vem uma certa quantidade de ar pulmo-nar com os últimos restos do vivificante oxygenio.

A esta causa se deve attribuir a sobrevivência um pouco menos longa nos animaes afogados que n'a-quelles em que se obstruem as vias aéreas.

O afogado pôde exgotar somente uma parte do ar contido nos pulmões no começo da submersão ; o restante ar é expulso pelas respirações e substi-tuído pelo liquido ambiente.

Ao contrario, o asphyxiado por occlusão me-chanica conserva até ao ultimo suspiro o mesmo volume de ar no seu apparelho respiratório. Além d'isso, uma condição desfavorável nos afogados é uma mistura de agua e ar nos alvéolos, nada propicia ás trocas pulmonares.

Suppoz-se a principio que o período de resistên-cia do animal submerso, que fica quasi um minuto sem respirar, era devido ao encerramento da glotte, provocado pela consciência do perigo, que se oppu-nha á penetração do liquido na arvore aérea.

Hoje está provado, que mesmo n'um cão tracheo-tomisado, o que equivale á suppressão da glotte, nenhuma modificação ha nos diversos períodos da morte por submersão.

O que se oppõe á invasão do apparelho respira-tório, durante a phase de resistência, é a immobilisa-Ção do thorax, de resto secundada pela força expi-radora do animal que comprime o ar das vias aéreas

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de maneira a contrabalançar sufficientemente a pres-são liquida que se exerce sobre o orifício da en-trada.

A immobilisação do thorax, dependente em grande parte de vontade, é sobretudo posta em jogo pela acção do liquido ambiente sobre os nervos sensitivos da pelle, da mucosa naso-pharyngea e tracheo-laryn-go-bronchica. A excitação produzida, é transmittida d'uma parte ao cérebro, o qual reage por uma sus-penção voluntária dos movimentos respiratórios, e d'outra parte communicada aos centros bulbo-protu-beranciaes, que, por via reflexa, suspendem a respira-ção.

A resistência é pois, ao mesmo tempo, de origem voluntária e involuntária.

Para averiguarem o momento da entrada da agua nos pulmões dos afogados, Brouardel e Loye reto-maram uma conhecida experiência de Paulo Bert, conseguindo determinar, por meio de graphicos, a 3." phase no começo, como aquella em que o ani-mal faz alguns rápidos e profundos movimentos res-piratórios. E pois com a solicitação dos primeiros movimentos respiratórios executados pelo animal, que mais não pôde resistir, que penetra a maior quantidade de agua.

A conclusão que Paulo Bert tirava da sua expe-riência, de que «a agua só era introduzida no mo-mento em que o' animal deixava de resistir» foi en-tão completada por Brouardel d'esta maneira:

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nas vias aéreas desde o começo de immersão graças a inspirações de surpresa; porém são as primeiras respirações que se succedem á phase de resistência que fazem, em alguns segundos, penetrar brusca-mente a maior quantidade de agua nos pulmões ; as respirações seguintes por mais amplas que sejam, quasi nenhuma influencia exercem na introducção do liquido».

Eíis porque é difficil chamar á vida um afogado que tenha ultrapassado a phase de resistência e que chegou á phase das grandes inspirações. Desde que inspirou, a agua engolphou-se-lhe violentamente nas vias aéreas. Se o retiram n'este momento, continua algumas respirações, mas, quasi sempre morre; a pratica da simples respiração artificial, não faz mais que movimentar nos seus pulmões uma espuma, que por mais arejada que seja não impede as mais das vezes de se dar a asphyxia.

Morte lenta. — N'esta forma de submersão

en-contram-se as mesmas phases da submersão brusca com a differença de serem irregulares. Na phase de

surpresa, o animal faz uma ou duas inspirações e tosse.

O período de resistência é muito alterado pela interrupção que soffre cada vez que o animal reap-parece ao ar e faz uma nova inspiração ; verdadei-ramente, os períodos de surpresa e resistência são subintrantes.

Quando a terceira phase, a das grandes

inspi-rações, se estabelece o quadro torna-se idêntico ao

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Como complemento d'estas notas, convém dizer, que, em qualquer dos períodos da submersão, as pulsações cardíacas são mais espaçadas e enérgicas que normalmente, que a temperatura ao fim de qua-tro minutos de immersão abaixa em média 3 graus, motivo porque o cadaver d'um afogado arrefece mais depressa do que o d'um asphyxiado, e que, fi-nalmente, o sangue arterial no momento da morte apresenta os caracteres do sangue asphyxico, achan-do-se também muito diluído pela passagem atravez dos pulmões engorgitados de agua.

Morte accidental. — E devida a um traumatismo,

no acto da cahida á agua.

Um pormenor interessante, mas cuja authentici-dade me parece duvidosa á falta de provas precisas, é o referido por Lopes Vieira no seu Manual de

Me-dicina Legal, de que o afogado só soffre nos

primei-ros momentos, experimentando depois, até, um ex-traordinário prazer.

Em abono d'esta affirmativa apenas conheço o que referiu uma publicação ingleza atravez d'uma magistral traducção feita por Camillo Castello Branco, e que o auctor também cita '.

Pela ponta de interesse que desperta não posso

1 Scenas da hora final, traduzidas do inglez e

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furtar-me ao desejo de trasladar para aqui alguns períodos:

«O natural impulso que leva um individuo que se afoga a escabujar ao principio é u:n sentimento de medo e não de dôr; a dôr vem mais tarde, e é logo seguida de um languor agradável : e até alguns senão o maior numero, chegam a não experimentar essa ligeira sensação de dôr.

Certa pessoa que nos merece plena confiança nos affirm ou não ter sentido o minimo sentimento de suffocação. O rio estava transparente, o dia explen-dido e como elle se achava em posição vertical po-deria vêr a luz solar penetrando na agua, com a vaga consciência de que seus olhos iam para sempre fechar-se áquella luz.

No emtanto, nem o apavorava o seu destino, nem sentia o desejo de lhe esquivar. Uma doce sensação de somnolencia parecia transformar-lhe a vaga em repousado leito. Um dos amigos de Lamothe de Vayer assegurou a este escriptor que experimen-tava tal prazer em tatear no fundo da agua que mal pôde soffrer um sentimento de raiva quando o tiraram de lá. Vive ainda um official distinctis-simo que deu á estampa a narrativa mui notável de uma asphyxia temporária por submersão. Men-ciona egualmente a completa ausência de soffri-mento emquanto esteve debaixo d'agua, mas, afora isso, revela-nos um pormenor singular : é que, du-rante os momentos em que esteve em seu accòr-do, todos os successos da sua vida desde a

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cia lhe .perpassaram pelos olhos com a velocidade do relâmpago».

Que haverá de verdade em tudo isto ? Quererá alguém, arrojadamente, prestar-se a experiências ?.. .

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tratamento das asphyxias; processos antigos e

moder-nos.

Antes dos modernos e simples processos de soc-correr os indivíduos no estado apparente de morte, o tratamento das asphyxias era de uma efficacia du-vidosa, mal merecendo mesmo esse nome. Consistia n'uma serie de indicações, toleráveis umas, dispara-tadas outras, mas aleatórias todas que visavam, como necessário era, o aquecimento do sinistrado e a retomada da sua respiração abolida. Nos asphy-xiados por submersão o grande cuidado era liber-tar o doente da agua absorvida. Para isso nada

mais fácil aos olhos dos soccorristas boçaes do que dar ao afogado uma posição que facilitasse a sahida do liquido : a suspensão pelos pés, que pal-madas fortes em variadas regiões acompanhavam. Este bárbaro processo desde muito tempo combatido

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por quem com alguma consciência tem formulado instrucções para accudir aos afogados é ainda aquelle para que appella muitas vezes o povo ignorante. No livro anteriormente citado 1 condemna-se essa pra-tica apodando-a de mortal, bem como o uso, do mesmo modo bárbaro, de rolar as victimas em pipas ou ainda de as agitar immoderadamente.

A indicação formal do aquecimento da victima deu margem aos mais phantasiosos e bizarros re-cursos.

Depois da cama de cinzas, vinham, a pelle de um animal recentemente sacrificado, o azeite fer-vente gotta a gotta sobre o corpo, o arrancamento de pelles, as picadas com alfinetes, a flagellação com ortigas, a applicação sobre o estômago de um pão fervido em aguardente ou de uma torrada com assucar . . . Eram esses os meios extremos, só pos-tos em execução (para que não houvesse arrependi-mentos) quando os outros, mais «simples e efficazes» tivessem por completo falhado. E esses consistiam, singelamente, em tijolos e ferros aquecidos . . . como ainda hoje se usa!

Ao vomitório e á sangria recorria-se frequente-mente, mas com prudência, pois que aquelle só de-veria ser applicado quando a respiração estivesse restabelecida, e esta, feita por um cirurgião, seria

1 Aviso ao povo sobre as asphyxias ou mortes

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util nos estados congestivos com a condição de se não tornar debilitante.

Com essa espécie de cuidados emparelhavam as fumigações de tabaco atravez do anus, á custa d'uni folie que impellia o fumo obtido n'um forno apro-priado, a applicaçâo de vapores ammoniacaes, de alkali fluor, levados por meio de mechas ás ventas do afogado, e bem assim a irritação das mucosas nasal e pharyngea, quer por fumo de tabaco quer por uma penna de pato.

Visando a tornada da funcção respiratória fize-ram sua epocha, a aspiração pulmonar pela liberta-ção dos conductos aéreos da espuma lá formada e a insuflação de ar nos pulmões. O primeiro processo executava-se ou com o auxilio de apparelhos, ou com um tubo munido d'uma emboccadura ou mes-mo bocca a bocca; por vezes a tracheotomia, quando o obstáculo na parte superior da trachea resistisse, era posta em uso. A introducção de ar nos pulmões realisava-se, ore ab ore ou por meio de um folie adaptado a uma cânula; quando o operador reco-nhecia que o ar recheava já os pulmões, premia o peito do soccorrido para de novo o expellir; este meio demandava alguma prudência, pois que um excesso de ar podia produzir um emphysema ou mesmo a ruptura das vesículas pulmonares. A insu-flação ore ab ore ainda não está de todo abando-nada, de preferencia nas asphyxias dos recemnascidos, apesar de scientificamente condemnada por introdu-zir ar expirado, carregado de detrictos gazosos,

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so-bretudo de acido cai'bonico, elemento essencial da asphyxia sanguínea. A maior perseverança foi sem-pre aconselhada na applicação dos soccorros que, por vezes, só ao fim de horas mostram o seu êxito.

Modernamente, variados processos tem sido pre-conisados como regeneradores da respiração nas va-riadas formas de asphyxia. Passal-os-hei ligeiramente em revista, accentuando os mais recommendaveis pela sua utilidade pratica. lïmbora de resultados se-cundários, e pouco usados por exigir o auxilio de três pessoas, citarei o processo de MARSHALL-HALL,

baseado nas mudanças de posição do corpo proprias a dilatar e a diminuir alternadamente a cavidade pulmonar. Executa-se assim: deita-se o asphyxiado de ventre, depois de lhe haver sido collocada por de-baixo do peito, afim de o levantar, uma travesseira, ou roupa enrolada.

Em seguida volta-se o corpo, vagarosamente, de lado, quasi sobre o dorso, levando-o depois subita-mente á posição primitiva. Esta manobra é repetida com regularidade e perseverança cerca de 16 vezes por minuto, variando de ora em quando o lado so-bre que se volta.

Estando o corpo na posição de ventre exerce-se uma pressão viva e firme entre os omoplatas, pres-são que cessa logo ao mudar de posição.

Comprehende-se que no primeiro movimento a cavidade pulmonar diminua, dilatando-se no segundo.

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applicação mais difflcil, por reclamar alguns conhe-cimentos anatómicos é o de PACINI. Vejamos como

o auctor o descreve: «Mantida a cabeça na direcção ordinária do tronco, e collocado o operador atraz, empunha este fortemente a parte superior dos dois braços, proximo do coto das espáduas, collocando o pollegar á frente sobre o collo do humero, e os ou-tros dedos posteriormente. Então, puchando para si e levantando ao mesmo tempo o coto das espáduas, procura-se utilisai- a connexão das clavículas com o esterno, para elevar este osso de conjuncto com as costelas correspondentes.

Em breve se ouve penetrar o ar, com ruido, nos pulmões, produzindo a inspiração.

Cessando então a acção inspiratória permitte-sê que a elasticidade das costellas produza a expiração tal como elle se dá naturalmente.

Repetindo alternativamente estes movimentos com o rythmo ordinário da respiração, ou com um ry-thmo mais accelerado quando se julgue opportuno, parece que o individuo asphyxiado, quando mesmo a morte seja real, volta na verdade á vida, pois se ouve respirar como vivo de modo que, se elle ainda conserva alguma scentelha de vida é impossível que esta se não reanime.

Se o asphyxiado for uma creança comprehende-se que um ajudante lhe deva fixar as pernas, para que o corpo resista á tracção inspiratória; ao contrario, as manobras indicadas deverão ser executadas simul-taneamente, por duas pessoas, cada uma d'ellas

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