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A IMPORTÂNCIA DOS MEDICAMENTOS GENÉRICOS

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Academic year: 2021

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Muitos países têm utilizado a promoção de medicamentos genéricos como uma das medidas dirigidas à redução ou controlo do crescimento da despesa com medicamentos, na medida em que os genéricos são menos dispendiosos do que os ditos inovadores.

Alguns países europeus, como o Reino Unido, têm, desde há muito, uma política que favorece o mercado dos medicamentos genéricos, através de medidas como orientações terapêuticas, estímulo à prescrição e incentivos financeiros. Estas medidas são apoiadas por incentivos a nível da dispensa nas farmácias, como sejam os descontos feitos pelos distribuidores e produtores de genéricos(1).

Por outro lado, têm sido instituídas vantagens financeiras para os doentes, designadamente, estabelecendo diferenças significativas entre os preços dos medicamentos de marca e os dos genéricos, bem como reduzindo a percentagem que deve ser suportada pelos consumidores. Vários estudos mostram que este tipo de medidas representa um incentivo importante à mudança na utilização de medicamentos de marca para genéricos(2).

Outro aspecto importante tem sido a criação dos preços de referência baseados nos preços dos genéricos, com o objectivo de promover competição com os medicamentos de marca e induzir a redução do preço destes. No entanto, os resultados obtidos nem sempre são consistentes com os objectivos definidos(3). De facto, alguns estudos realizados mostram que a dinâmica dos preços dos

medicamentos e a competição induzida pelos medicamentos genéricos variam consideravelmente de país para país, dependendo da organização dos respectivos sistemas de saúde e do sistema de preços(4).

As maiores quotas de mercado dos medicamentos genéricos verificam-se em países em que os preços se encontram liberalizados(5, 6).

VASCO MARIA

PROFESSOR DA FACULDADE DE MEDICINA DE LISBOA. PRESIDENTE DO INFARMED.

A IMPORTÂNCIA

(2)

De acordo com o Estatuto do Medicamento (decreto-lei n.º 176/2006), alínea nn, considera-se medicamento genérico “o medicamento com a mesma composição qualitativa e quantitativa em substâncias activas, a mesma forma farmacêutica e cuja bioequivalência com o medicamento de referência haja sido demonstrada por estudos de biodisponibilidade apropriados”. Daqui resulta, portanto, que os medicamentos genéricos têm a mesma qualidade, a mesma eficácia e a mesma segurança dos medicamentos originais, apresentando a vantagem de terem um preço mais baixo.

E

VOLUÇÃO HISTÓRICA

DOS MEDICAMENTOS GENÉRICOS

EM

P

ORTUGAL

Uma adequada política nacional de medicamentos deverá perseguir os seguintes objectivos: i) melhorar o acesso aos medicamentos; ii) garantir a qualidade, a eficácia e a segurança; iii) promover a utilização informada e segura dos medicamentos junto dos doentes e consumidores; iv) contribuir para a sustentabilidade do sistema, promovendo a eficiência e a racionalidade; e v) apoiar o desenvolvimento do sector farmacêutico.

A promoção da utilização de medicamentos genéricos integra-se, assim, no objectivo de utilização racional e eficiente, contribuindo para a sustentabilidade dos sistemas de saúde.

Em Portugal, o primeiro diploma legal a regular a produção, autorização de introdução no mercado, distribuição, preço e comparticipação de medicamentos genéricos foi o decreto-lei n.º 81/90, de 12 de Março. Posteriormente, o decreto-decreto-lei n.º 72/91, de 8 de Fevereiro, veio proceder à definição de medicamento genérico e estabelecer as condições de prescrição e dispensa.

A portaria n.º 623/92, de 1 de Julho, veio alterar o regime de formação dos preços dos medicamentos genéricos, estabelecendo que estes deverão ser 20% abaixo do PVP do medicamento de referência.

O decreto-lei n.º 249/93, de 9 de Julho, altera as condições de autorização de introdução no mercado (demonstração de bioequivalência quando necessário e autorização de passagem a genérico).

Mais tarde, o decreto-lei n.º 291/98, de 17 Setembro, veio alterar a identificação do medicamento genérico, permitindo a utilização do nome do titular ou de um nome de fantasia associados à denominação comum do medicamento.

Apesar da legislação vigente e de manifestações esporádicas dos diferentes governos no sentido de promover estes medicamentos, até 2000 o mercado de medicamentos genéricos em Portugal manteve-se estagnado, com quotas de mercado praticamente residuais (inferiores a 0,5%).

A partir de 2000, o Ministério da Saúde, através do INFARMED, definiu um Programa Integrado de Promoção dos Medicamentos Genéricos que envolveu intervenções dirigidas essencialmente a três populações-alvo: i) indústria farmacêutica; ii) profissionais de saúde; e iii) público em geral.

As alterações legislativas que se verificaram na sequência deste programa tiveram por objectivo dar um impulso significativo e consistente ao mercado dos genéricos em Portugal.

Assim, o decreto-lei n.º 205/00, de 1 de Setembro, veio introduzir uma majoração de 10% na comparticipação do Estado no preço dos medicamentos genéricos. Este terá sido um dos factores determinantes no arranque e desenvolvimento do mercado de genéricos que se veio a verificar de seguida.

O decreto-lei n.º 242/00, de 26 de Setembro, introduziu alterações à definição, à identificação e ao modo de prescrição e dispensa dos medicamentos genéricos. Pela primeira vez foi utilizada a sigla “MG” para identificar estes medicamentos.

(3)

A Lei n.º 84/01, de 3 de Agosto, veio permitir e promover a passagem de especialidades farmacêuticas já existentes no mercado a medicamentos genéricos.

O Sistema de Preços de Referência (SPR) foi criado pelo decreto-lei n.º 270/02, de 2 de Dezembro. O Preço de Referência (PR) é determinado pela existência de medicamentos genéricos disponíveis no mercado, sendo o PR definido a partir do genérico que detém o preço mais elevado no respectivo grupo homogéneo.

Finalmente, o decreto-lei n.º 271/02, de 2 de Dezembro, veio instituir a prescrição obrigatória por Denominação Comum Internacional (DCI) para substâncias activas com medicamentos genéricos autorizados.

O Programa Integrado de Promoção de Medicamentos Genéricos definido em 2000, começou a ser implementado em 2001 e, a par das medidas legislativas atrás referidas, representou um sinal claro para os agentes económicos da vontade do Governo na promoção dos medicamentos genéricos em Portugal.

Uma das medidas dirigidas aos profissionais de saúde desenvolvidas pelo INFARMED consistiu no recrutamento, formação e treino de Técnicos de Divulgação de Genéricos (TDG), que ao longo de 2001 e 2002 realizaram mais de 500 sessões por todo o território nacional do continente, envolvendo 6.282 médicos de centros de saúde e de hospitais e 913 farmacêuticos. As sessões tiveram por objectivo promover os genéricos como medicamentos de qualidade,eficazes e seguros.

Por outro lado, iniciou-se a publicação trimestral, que ainda se mantém, do Guia de Medicamentos Genéricos dirigida a médicos e farmacêuticos, com a introdução posterior de um capítulo sobre o Sistema de Preços de Referência.

Para além destas medidas, criou-se uma linha telefónica directa e, posteriormente, um endereço na Internet, para informação sobre medicamentos genéricos; desenvolveu-se um plano de acção em colaboração com as ARS para visitas

ao Laboratório de Comprovação da Qualidade do INFARMED, com sessões informativas dirigidas a médicos sobre “qualidade dos medicamentos genéricos” e “utilização racional de medicamentos”; foram feitas publicações técnicas, incluindo “Medicamentos Genéricos: conceitos, avaliação e controlo” e ”Prontuário Terapêutico”.

Junto dos consumidores e do público em geral, foram feitas as seguintes campanhas publicitárias e de informação: em 2001,“Medicamentos Genéricos: descubra as diferenças”; em 2002/2003, “Medicamentos Genéricos, porque as pessoas merecem”; em 2004, ”Genéricos: iguais na qualidade, diferentes no preço”.

Como medidas dirigidas à indústria farmacêutica, procedeu-se à melhoria do processo de avaliação e aprovação de medicamentos genéricos, com reforço da capacidade de avaliação, redução dos prazos de concessão de AIM, reforço da utilização de meios electrónicos,simplificação de procedimentos administrativos e simplificação do processo de comparticipação.

Simultaneamente, o INFARMED investiu fortemente na consolidação do seu Sistema de Controlo e Garantia da Qualidade dos Medicamentos, aumentando as acções inspectivas, de controlo de qualidade e de farmacovigilância. Estas medidas tiveram um efeito imediato no mercado. O número de pedidos de autorização e de comparticipação de novos genéricos aumentou consideravelmente, apareceram novas empresas interessadas na comercialização destes medicamentos, e a prescrição e utilização de genéricos cresceram significativamente (figuras 1 e 2).

S

ITUAÇÃO ACTUAL

Este rápido desenvolvimento do mercado é ainda mais evidente quando analisamos a evolução das quotas de mercado dos medicamentos genéricos desde 2000 (figura 3).

(4)

Figura 1

MERCADO DE MEDICAMENTOS GENÉRICOS

EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE MEDICAMENTOS AUTORIZADOS, COMPARTICIPADOS E PRESCRITOS

Fonte: INFARMED – Observatório do Medicamento e Produtos de Saúde, 2007 (7). 7.000 6.000 5.000 4.000 3.000 2.000 1.000

DEZ 01 MAR 02 JUN 02 SET 02 DEZ 02 MAR 03 JUN 03 SET 03 DEZ 03 MAR 04 JUN 04 SET 04 DEZ 04 MAR 05 JUN 05 SET 05 DEZ 05 MAR 06 JUN 06 SET 06 DEZ 06 0

●Autorizados ●Comparticipados ●Prescritos

Figura 2

MERCADO DE MEDICAMENTOS GENÉRICOS

EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE TITULARES DE AIM

Fonte: INFARMED – Observatório do Medicamento e Produtos de Saúde, 2007 (7). 160 120 80 40 2001 2002 2003 2004 2005 2006 0

Estes dados colocam Portugal na 11ª posição entre 20 países europeus, de acordo com os dados divulgados pela EGA – Associação Europeia de Genéricos (figura 4).

No entanto, uma leitura mais atenta permite verificar um fenómeno único em Portugal. Ao contrário dos restantes

(5)

das quotas de mercado, não mostra qualquer tendência de atenuação nos anos mais recentes (figura 3).

Por outro lado, se tivermos em consideração a quota em volume de vendas, verificamos que esta é cerca de 10%, o que reduz consideravelmente a posição de Portugal no ranking, colocando-nos muito longe, portanto, do grupo de países que detêm quotas de mercado em volume superiores a 40%.

I

MPERFEIÇÕES DO MERCADO

Estes dados traduzem algumas “imperfeições” que ainda caracterizam o actual mercado de genéricos em Portugal,

Quadro 2

DIFERENCIAL ENTRE O PREÇO DE REFERÊNCIA E O PREÇO DOS GENÉRICOS

(valores de PVP, dados do mercado total em 2006)

PVP < PR (unitário)

Diferencial entre PR e PVP PVP > PR PVP = PR < 0,10 0,10 EUR 0,50 EUR

(unitário) (unitário) (unitário) EUR a 0,49 EUR a 2,87 EUR Sub-total Total

Volume (embalagens) 0,0% 53,8% 34,7% 10,5% 1,0% 46,2% 100% Intervalor de Preço (PVP) <= 4,99 EUR 0,1% 16,8% 17,9% 0,0% 0,0% 13,5% 15% 5 EUR a 24,99 EUR 96,9% 40,7% 50,8% 45,3% 97,7% 50,5% 45% 25 EUR a 49,99 EUR 2,6% 33,9% 26,3% 50,9% 0,0% 31,3% 33% >= 50 EUR 0,4% 8,7% 5,1% 3,8% 2,3% 4,7% 7% Diferencial médio (%) 14,5% - 2,5% 22,4% 93,4% 8,5% -Diferencial médio (valor) 0,15 - 0,03 0,22 0,93 0,08

-Quadro 1

NÚMERO DE MEDICAMENTOS GENÉRICOS E VOLUME DE VENDAS POR INTERVALO DE PREÇO

(dados do mercado total em 2006)

N.º de apresentações

Intervalo de preço comercializadas Embalagens Valor PVP

<= 4,99 EUR 14,4% 22,7% 3,5%

5 EUR a 24,99 EUR 55,4% 43,7% 27,1%

25 EUR a 49,99 EUR 24,0% 27,9% 52,0%

>= 50 EUR 6,1% 5,7% 17,3%

Total 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: INFARMED - Observatório do Medicamento e Produtos de Saúde 2007.

designadamente: preços elevados, colagem dos preços ao preço de referência, elevado número de medicamentos com preços semelhantes, ausência de concorrência, número excessivo de genéricos na mesma substância activa e elevado número de substâncias activas sem genéricos.

(6)

Figura 3

MERCADO DE MEDICAMENTOS GENÉRICOS

EVOLUÇÃO DAS QUOTAS DE MERCADO

Fonte: INFARMED – Observatório do Medicamento e Produtos de Saúde, 2007 (7).

16% 14% 12% 10% 8% 6% 4% 2% 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 0%

●Valor (Û) ●Volume (embalagens)

Figura 4

QUOTAS DE MERCADO DE MEDICAMENTOS GENÉRICOS NA EUROPA

Fonte: EGA – Market Revue, 2006. 70 60 50 40 30 20 10 IE GR FI CH IT AT ES FR BE PT SE DK NL GB HU DE TR SI SK PL 0

●% Share (Value) ●% Share (Volume)

Para esta realidade poderá ter contribuído a introdução do Sistema de Preços de Referência (SPR), ao estabelecer para preço de cada grupo homogéneo o preço do medicamento genérico mais elevado.

De facto, e como pode observar-se no quadro 2, os preços

(7)

>

P

ERSPECTIVAS FUTURAS

Algumas medidas correctivas do mercado foram entretanto introduzidas. Destas, destacam-se:

i) o estímulo à entrada no mercado de genéricos de medicamentos que têm preços inferiores a 10,00 euros, através da redução para 20% da diferença de preço entre o genérico e o medicamento de referência;

ii) a introdução de novos genéricos a preços mais baixos decorrentes da aplicação do artigo 14.º do decreto-lei n.º 65/07, de 14 de Março, que determina que o preço dos novos medicamentos a entrar nos grupos homogéneos deve ser 3% inferior ao preço mais baixo do genérico que detenha pelo menos 10% de quota de mercado de medicamentos genéricos no respectivo grupo homogéneo;

iii) a redução do preço dos medicamentos genéricos baseada na evolução da quota de mercado, determinada em função dos valores das vendas dos genéricos na respectiva substância activa, a partir de 50% da quota de mercado, em virtude da aplicação do artigo 5.º da Portaria n.º 300-A/2007, de 19 de Março.

Espera-se que estas medidas e outras que venham a ser introduzidas, decorrentes da monitorização do mercado, mas sempre na perspectiva de uma maior liberalização e maior concorrência, se traduzam em resultados que levem a um desenvolvimento e consolidação do mercado de genéricos em Portugal.

Seguramente assistiremos no futuro ao aparecimento de

genérico em novas áreas terapêuticas, levando a uma progressiva dessaturação do mercado em torno das actuais substâncias activas, verificar-se-á uma maior concorrência nos preços, bem como uma progressiva reversão das quotas de mercado.

Deste modo, o objectivo para os próximos cinco anos é aproximarmo-nos do grupo de países como o Reino Unido, a Alemanha e os Estados Unidos que detêm quotas de mercado de genéricos superiores a 40% e, desta forma, contribuir para uma maior acessibilidade dos doentes e consumidores a medicamentos de qualidade eficazes e seguros a preços sustentáveis. ><

NOTAS

(1) Kanavos, P., 2007. Do generics offer significant savings to the UK National

Health Service?. Curr Med Res Opin 2007; 23: 105-16.

(2) O’Malley, A.J., Frank, R.G., Kaddis, A., Rothenberg, B.M. e McNeil, B.J., 2006.

Impact of alternative interventions on changes in generic dispensing rates.

Health Serv Res 2006; 41: 1876-94.

(3) Kaló, Z., Muszbek, N., Bodrogi, J. e Bidló, J., 2007. Does therapeutic reference

pricing always result in cost-containment? The Hungarian evidence. Health

Policy 2007; 80: 402-12.

(4) Magazzini, L., Pammolli, F. e Riccaboni, M., 2004.Dynamic competition in pharmaceuticals. Patent expiry, generic penetration, and industry. Eur J

Health Econ 2004; 5: 175-82.

(5) Lexchin, J., 2004. The effect of generic competition on the price of brand-name

drugs. Health Policy 2004; 68: 47-54.

(6) Anis, A.H., Guh, D.P. e Woolcott, J., 2003. Lowering generic drug prices: less

regulation equals more competition. Med Care 2003; 41: 135-41.

Referências

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