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Padrões estatísticos do movimento ocular na busca visual

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Academic year: 2018

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(1)

Heitor Fernandes Credidio

Padr˜

oes Estat´

ısticos do Movimento Ocular

na Busca Visual

Fortaleza – CE

(2)

Heitor Fernandes Credidio

Padr˜

oes Estat´

ısticos do Movimento Ocular

na Busca Visual

Disserta¸c˜ao de Mestrado apresentada ao De-partamento de F´ısica da Universidade Fede-ral do Cear´a, como parte dos requisitos para a obten¸c˜ao do T´ıtulo de Mestre em F´ısica.

Orientador:

Prof. Dr. Jos´e Soares de Andrade Jr.

Mestrado em F´ısica Departamento de F´ısica

Centro de Ciˆencias

Universidade Federal do Cear´a

Fortaleza – CE

(3)

Disserta¸c˜ao de Mestrado sob o t´ıtulo “Padr˜oes Estat´ısticos do Movimento Ocular na Busca Visual”, defendida por Heitor Fernandes Credidio e aprovada em 29 de Fevereiro de 2012, em Fortaleza, Cear´a, pela banca examinadora constitu´ıda pelos doutores:

Prof. Dr. Jos´e Soares de Andrade Jr. Departamento de F´ısica – UFC

Orientador

Prof. Dr. Andr´e Auto Moreira Departamento de F´ısica – UFC

(4)

Agradecimentos

(5)

Resumo

Desde o trabalho pioneiro de Javal em 1879 sobre a leitura (E. Javal, 2010), o movi-mento ocular tem sido objeto de intensa pesquisa como uma forma de elucidar os meca-nismos internos de processos cognitivos que est˜ao intimamente relacionados com a vis˜ao (A. L. Yarbus, 1967). Entre outras, uma tarefa cognitiva que ´e muito importante para nossa vida cotidiana ´e a de buscas visuais por objetos escondidos. Na presente disserta-¸c˜ao, n´os investigamos atrav´es de experimentos de rastreamento ocular, as propriedades estat´ısticas associadas `a busca por alvos escondidos em imagens em meio a diversos distra-tores. Nossos resultados mostram que o processo dual de movimento ocular, composto por sequˆencias de saltos pequenos (fixa¸c˜oes) intercalados com saltos grandes menos frequentes (sacadas), apresenta assinaturas estat´ısticas caracter´ısticas. Mais precisamente, enquanto os saltos sac´adicos seguem uma distribui¸c˜ao log-normal de distˆancias, que ´e t´ıpica de pro-cessos multiplicativos, os comprimentos r dos saltos menores das trajet´orias de fixa¸c˜ao s˜ao consistentes com uma distribui¸c˜ao em lei de potˆencia, P(r) r−α

(6)

Abstract

Since the pioneering work of ´Emile Javal about reading in 1879 (E. Javal, 2010), the movement of the eyes has been the subject of intensive research as a way to elucidate inner mechanisms of cognitive processes that are closely related with vision (A. L. Yarbus, 1967). Among others, a cognitive task that is rather frequent in our daily life is the visual search of hidden objects. Here we investigate through eye-tracker experiments, the statistical properties associated with the search of target images embedded in a landscape of distractors. Our results show that the twofold process of eye movement, composed of sequences of small jumps (fixation) intercalated by fewer longer jumps (saccades), displays characteristic statistical signatures. More precisely, while the saccadic jumps follow a lognormal distribution of distances, which is typical of multiplicative processes, the lengthsr of the smaller steps in the fixation trajectories are consistent with a power-law distribution, P(r)r−α

(7)

Sum´

ario

Lista de Figuras

Lista de Tabelas

1 Introdu¸c˜ao p. 13 1.1 Processos Cognitivos . . . p. 13

1.1.1 A Ciˆencia Cognitiva . . . p. 13

1.1.2 O Que ´e Cogni¸c˜ao? . . . p. 14

1.1.3 Dois Sistemas Cognitivos . . . p. 16

1.2 Componentes vs. Intera¸c˜ao . . . p. 17

1.3 Movimento Ocular . . . p. 18

1.4 Buscas Aleat´orias e Buscas Visuais . . . p. 22

1.4.1 Voos de L´evy e Buscas Aleat´orias . . . p. 23

1.4.2 Buscas Visuais . . . p. 24

2 Metodologia p. 26

2.1 Equipamento . . . p. 26

2.2 Testes . . . p. 28

2.3 Filtro de Dados . . . p. 30

3 Resultados p. 33

3.1 Busca 52 . . . p. 36

(8)

4 Conclus˜oes p. 42

Apˆendice A -- Conceitos de Estat´ıstica p. 44 A.1 Probabilidade e Distribui¸c˜ao de Probabilidade . . . p. 45

A.2 M´edia e Variˆancia . . . p. 46

A.3 Algumas Distribui¸c˜oes Importantes . . . p. 47

A.3.1 Distribui¸c˜ao Gaussiana ou Normal . . . p. 47

A.3.2 Distribui¸c˜ao Log-Normal . . . p. 47

A.3.3 Distribui¸c˜ao de Pareto ou Lei de Potˆencia . . . p. 48

A.4 Histogramas . . . p. 49

A.5 Estima¸c˜ao de Parˆametros . . . p. 50

(9)

Lista de Figuras

1.1 Capa do “Report of the State of the Art Committee to the Advisors of the Alfred P. Sloan Foundation” mostrando as disciplinas comumente

inclu´ıdas no contexto da ciˆencia cognitiva. . . p. 14

1.2 Ilus˜ao de M¨uller-Lyer. A linha horizontal de cima aparenta ser maior do

que a de baixo, embora ambas sejam do mesmo tamanho. . . p. 18

1.3 Experimento realizado por Yarbus (19) ao pedir para que os participantes observassem a imagem “Um Visitante Inesperado” de Ilya Repin (a). Em (b) mostra-se o movimento ocular realizado ao permitir que o participante fizesse uma inspe¸c˜ao livre da imagem. Em (c) pediu-se que o participante

estimasse a condi¸c˜ao financeira da fam´ılia. Em (d) pediu-se que estimasse a idade das pessoas. Em (e) pediu-se que estimasse o que estava fazendo a fam´ılia antes da chegada do visitante. Em (f) que tentasse se lembrar que roupas as pessoas estavam vestindo. Em (g) que tentasse se lembrar

a posi¸c˜ao dos objetos na sala. Em (h) que estimasse h´a quanto tempo a fam´ılia n˜ao via o visitante. A diferencia¸c˜ao do padr˜ao do olhar indica que o movimento ocular varia de acordo com os objetivos cognitivos do

observador. Retirado de (19). . . p. 19

1.4 Gr´afico mostrando a coordenadaxdo olhar de um participante capturada a 60 Hz realizando uma busca visual. Nele ficam claros os per´ıodos de

fixa¸c˜ao e sacadas. . . p. 20

1.5 Gr´afico de captura de alta frequˆencia de duas sacadas (1000 Hz) realiza-das por um indiv´ıduo durante um exerc´ıcio de leitura. Nele se vˆe que, embora razoavelmente suave, a transi¸c˜ao entre sacada e fixa¸c˜ao n˜ao ´e clara. Deubel (21) sugere que o fim da sacada seja considerado nas

ime-dia¸c˜oes dos pontos de m´aximo, localizados aproximadamente em 36 ms

(10)

1.6 Gr´afico mostrando as coordenadas x ey do olhar de um dos nossos par-ticipante capturadas a 60 Hz durante uma fixa¸c˜ao de aproximadamente 70 ms onde pode se detectar uma sacada nula, isto ´e, uma sacada que n˜ao resulta em deslocamento do olhar, normalmente devido a

movimen-tos involunt´arios do olho. . . p. 21

1.7 Gr´afico mostrando as coordenadas x eydo movimento do olho esquerdo de um observador com grava¸c˜ao a 500 Hz. Em destaque, os movimentos de deriva, tremor e microssacadas. Na curva da coordenada x, uma vari-a¸c˜ao para cima significa um deslocamento para a direta e uma varivari-a¸c˜ao

para baixo significa um deslocamento para a esquerda. Retirado de (22). p. 22

2.1 Tobii T120 rastreador ocular da Universidade Federal do Cear´a, o

equi-pamento de rastreamento ocular utilizado nos testes deste trabalho. . . . p. 28

2.2 Exemplo de est´ımulos utilizados no teste Busca 52 para o n´ıvel de

difi-culdade 0 (direita), 1 (centro) e 2(esquerda). . . p. 29

2.3 Exemplo de est´ımulo utilizado no teste Wally com o detalhe mostrando o alvo a ser encontrado pelos participantes. Reproduzido com permiss˜ao

de Walker Books Ldt. . . p. 30

2.4 Imagem ilustrando os diversos passos do filtro de Olsson. (a) Os dados crus representando a trajet´oria do olhar do participante com posi¸c˜oes

capturadas a cada 17 ms. (b) Os agregados encontrados ap´os identifica-dos os picos (mostraidentifica-dos em destaque). (c) A mediana de cada agregado.

(d) As fixa¸c˜oes e sacadas finais. . . p. 32

3.1 Exemplo do padr˜ao de busca obtido no teste Busca 52 para os trˆes n´ı-veis de dificuldade: f´acil (superior), m´edio (centro) e dif´ıcil (inferior).

Percebe-se que a medida que a dificuldade aumenta, a busca se torna

menos sistem´atica. . . p. 34

3.2 Exemplo de padr˜ao de busca obtido no teste Wally em uma imagem onde havia um alvo (a imagem original era em cores, mostrada aqui em preto e branco para facilitar a visualiza¸c˜ao da trajet´oria do olhar). O c´ırculo na imagem superior mostra o local do alvo. A imagem inferior ´e um detalhe

da imagem superior nas vizinhan¸cas do alvo (mostrado em cores), onde

(11)

3.3 Distribui¸c˜ao de frequˆencia de saltos (a distˆancia entre dois pontos de olhar consecutivos) para os dados crus do teste Busca 52, para v´arios

participantes nas trˆes dificuldades. . . p. 36

3.4 Distribui¸c˜ao de frequˆencia de saltos para os dados crus do teste Busca 52 mediado por todos os participantes v´alidos nas trˆes dificuldades. O

intervalo sombreado mostra a regi˜ao onde ocorre a superposi¸c˜ao das

dis-tribui¸c˜oes de saltos grandes e saltos pequenos. . . p. 37

3.5 Distribui¸c˜ao de frequˆencias para o saltos fixacionais (esquerda) e sac´a-dicos (direita) para as trˆes dificuldades do teste Busca 52. Nos saltos sac´adicos percebe-se que o m´aximo da distribui¸c˜ao diminui `a medida que a dificuldade aumenta. Isso provavelmente se deve ao fato de que os

distratores ficam mais pr´oximos uns aos outros em dificuldades maiores. . p. 37

3.6 Distribui¸c˜ao de frequˆencia de saltos nos dados crus (a distˆancia entre dois pontos de olhar consecutivos) para o teste Wally e v´arios participantes. O intervalo sombreado mostra a regi˜ao onde ocorre a superposi¸c˜ao das

distribui¸c˜oes de saltos grandes e saltos pequenos. . . p. 39

3.7 Os gr´aficos apresentam as distribui¸c˜oes de saltos fixacionais para diversos

participantes (superior esquerdo), as distribui¸c˜oes de saltos que perten-cem a sacadas (superior direito) e as duas distribui¸c˜oes correspondentes mediadas sobre todos os participantes (inferior). A curva de saltos fixa-cionais ´e ajustada por uma lei de potˆencia, P(r) r−α

, com expoente

α = 3.07±0.01, e a curva dos saltos sac´adicos ´e bem descrita por uma

distribui¸c˜ao log-normal (Eq. A.14), com parˆametros µ= 4.44 e σ= 0.83. p. 40

3.8 Distribui¸c˜ao de frequˆencias de tempos de fixa¸c˜ao de v´arios participantes ajustada por uma curva log-normal, Eq. A.14, com parˆametrosµ= 2.61

e σ = 0.57. . . p. 41

3.9 Distribui¸c˜ao de frequˆencias de raios de gira¸c˜ao das fixa¸c˜oes de v´arios par-ticipantes ajustada por uma lei de potˆencia,P(Rg)∼Rg−β com expoente

β = 3.12. . . p. 41

A.1 Gr´aficos exemplificando as trˆes distribui¸c˜oes discutidas na Se¸c˜ao A.3 em

escala linear (linha de cima) e logar´ıtmica para ambos os eixos (linha de

(12)

A.2 Exemplo de cria¸c˜ao de um histograma de um conjunto de dados yi. (a)

Um conjunto de N = 50 dados criados aleatoriamente. (b) Os intervalos

Bi definidos para a elabora¸c˜ao do histograma e a quantidade de pontos

Yi contidos em cada um. (c) O histograma final onde a altura ˆf(x) de

(13)

Lista de Tabelas

1.1 Caracter´ısticas dos dois sistemas cognitivos como apresentado por

Kah-neman (10). . . p. 17

2.1 Especifica¸c˜oes t´ecnicas do Tobii T120 utilizado nos testes. . . p. 27

(14)

13

1

Introdu¸

ao

1.1

Processos Cognitivos

1.1.1

A Ciˆ

encia Cognitiva

O que n´os tomamos por realidade? Quando tentamos entender o que algu´em est´a falando ou lemos uma linha de texto o que o nossos ´org˜aos receptores (neste caso ouvidos e olhos) fazem ´e coletar informa¸c˜ao sobre o ambiente. O que o c´erebro faz com essas

informa¸c˜oes, isto ´e, como essa informa¸c˜ao ´e processada, ´e uma inc´ognita que s´o nas ´ultimas d´ecadas tem come¸cado a ser elucidada. Como explica Neisser:

Tudo o que sabemos sobre a realidade ´e mediada n˜ao apenas por ´org˜aos sensoriais mas tamb´em por um complexo sistema que interpreta e rein-terpreta as informa¸c˜oes captadas por eles. [...] O ponto central ´e que ver, ouvir e lembrar s˜ao todos atos de constru¸c˜ao que podem usar mais ou menos informa¸c˜ao dependendo das circunstˆancias. (1)

Neste contexto, a ciˆencia cognitiva, que tem se desenvolvido na segunda metade do s´eculo XX, se prop˜oe a estudar esse aspecto do pensamento humano atrav´es de recursos desenvolvidos por uma s´erie de disciplinas, como a psicologia cognitiva, inteligˆencia

ar-tificial, lingu´ıstica, filosofia, neurociˆencia e antropologia (como ´e evidenciado na capa do “Report of the State of the Art Committee to the Advisors of the Alfred P. Sloan Founda-tion” mostrado na Figura 1.1). Sendo uma ´area intrinsecamente multidisciplinar, ´e de se questionar se de fato h´a uma ciˆencia cognitiva ou se h´a na verdade uma s´erie de disciplinas

estudando um mesmo assunto, cada uma com sua pr´opria perspectiva. Embora n˜ao haja ainda um paradigma comum de pesquisa (2), h´a tentativas de se definir o que comp˜oe um trabalho em processos cognitivos. Segundo Miller et al. (3) trata-se de uma ´area que diz respeito `a inteligˆencia, que se utiliza de m´etodos e resultados caracter´ısticos de pelo

(15)

1.1 Processos Cognitivos 14

Figura 1.1: Capa do “Report of the State of the Art Committee to the Advisors of the Alfred P. Sloan Foundation” mostrando as disciplinas comumente inclu´ıdas no contexto da ciˆencia cognitiva.

1.1.2

O Que ´

e Cogni¸

ao?

Sendo a ciˆencia cognitiva uma ´area de estudos t˜ao descentralizada, ´e de se esperar que a pr´opria defini¸c˜ao de cogni¸c˜ao seja um tanto vaga. Felizmente uma defini¸c˜ao mesmo que superficial, ´e suficiente para despertar interesse em pesquisa sobre a natureza do assunto.

Cecilia Heyes (4) define cogni¸c˜ao como entidades te´oricas que fornecem uma caracte-riza¸c˜ao funcional do sistema nervoso central. A cogni¸c˜ao pode ou n˜ao ser foco de aten¸c˜ao

consciente, recebeinputs de outros processos cognitivos e de ´org˜aos perceptores e fornece

output para outros processos e para o comportamento.

O que diferencia a cogni¸c˜ao de outros objetos de estudo da psicologia ou neurociˆencia ´e que ela n˜ao pode ser observada diretamente, ao contr´ario de tecidos cerebrais ou formas de comportamento. Hip´oteses sobre cogni¸c˜ao s´o podem ser testadas atrav´es de predi¸c˜oes

no que dizem respeito a varia¸c˜oes no comportamento ou manipula¸c˜oes do ambiente. Como resume Chomsky (5), para entender a mente humana, ´e preciso considerar o que h´a por tr´as do comportamento e nos perguntar que tipo de regras ou processos governam os comportamentos que observamos.

Uma vez definido, mesmo que tentativamente o que ´e cogni¸c˜ao, o pr´oximo passo seria desenvolver um arcabou¸co te´orico sobre como realizar seu estudo. Como foi mencionado

na se¸c˜ao anterior, normalmente cada subdisciplina aborda o problema `a sua maneira, mas isso n˜ao quer dizer que n˜ao haja elementos comuns ao estudo dos processos cognitivos. Von Eckardt (6) cita as seguintes suposi¸c˜oes normalmente feitas no estudo dos processos cognitivos, sobre as quais faremos algumas considera¸c˜oes adicionais:

(16)

1.1 Processos Cognitivos 15

uma delas pode ser estudada isoladamente.

Inicialmente essa hip´otese parece n˜ao se sustentar. ´E dif´ıcil imaginar, por exemplo, separar um processo de leitura de um de mem´oria. Entretanto evidˆencias experimentais indicam que processos que aparentam ser intimamente relacionados, s˜ao na verdade in-dependentes, como s˜ao os casos de afasia pura (7), onde pacientes perdem a capacidade

de ler sem perder a capacidade de escrever (ou vice-versa) ap´os sofrerem danos cerebrais. Como dividir os processos cognitivos, entretanto, ´e uma quest˜ao emp´ırica.

2. A ciˆencia cognitiva tende a se focar no indiv´ıduo e a diminuir a importˆancia dos

pap´eis da cultura e sociedade.

3. Sup˜oe-se que as capacidades cognitivas podem ser estudadas independentemente de

capacidades n˜ao cognitivas.

Essas suposi¸c˜oes permitem que seja poss´ıvel estudar a cogni¸c˜ao independentemente do contexto social e de outros aspectos da mente, pelo menos at´e certo ponto. Caso seja

necess´aria, as influˆencias da cultura e da sociedade podem ser inclu´ıdas supondo que s˜ao mediadas pela percep¸c˜ao individual.

4. Sup˜oe-se que ´e ´util e significativo distinguir cogni¸c˜ao “normal” de “anormal”.

5. Sup˜oe-se que adultos s˜ao suficientemente semelhantes ao ponto de se poder falar

de um “cognitor t´ıpico”, e fazer generaliza¸c˜oes ignorando diferen¸cas individuais.

A ado¸c˜ao de um padr˜ao de cogni¸c˜ao n˜ao ´e uma op¸c˜ao trivial, embora importante, principalmente quando se trata de estudar processos cognitivos atrav´es da observa¸c˜ao de diversos indiv´ıduos. Essas suposi¸c˜oes s˜ao especialmente importantes para este trabalho.

6. Respostas a perguntas emp´ıricas podem ser dadas em termos de processamento de

informa¸c˜ao.

Essa suposi¸c˜ao se apoia em evidˆencias bem suportadas de que para cada processo cognitivo, h´a um componente de processamento de informa¸c˜ao subjacente que o realiza

e, consequentemente, o explica.

7. Respostas a perguntas emp´ıricas devem ser justificadas com bases emp´ıricas.

Sem uma base te´orica concisa, esta s´etima proposi¸c˜ao ´e uma forma de assegurar

que resultados da ciˆencia cognitiva possam ser efetivamente ´uteis para todas as suas subdisciplinas.

(17)

1.1 Processos Cognitivos 16

Von Eckardt (6) argumenta que se os cientistas se limitarem a utilizar dados psico-l´ogicos para testar suas hip´oteses, essas hip´oteses seriam extremamente subrestringidas. A neurociˆencia, sendo uma ´area de estudo da estrutura neural de baixo n´ıvel, fornece uma poss´ıvel solu¸c˜ao para esse problema. H´a ceticismo quanto `a possibilidade de se

re-duzir modelos de processamento de informa¸c˜ao a modelos neurais (8), por´em mesmo que uma rela¸c˜ao detalhada nunca seja encontrada, h´a achados da neurociˆencia que a ciˆencia cognitiva pode utilizar.

1.1.3

Dois Sistemas Cognitivos

Antes de analisarmos mais profundamente um processo cognitivo, ´e interessante

estu-darmos um aspecto interessante que tem tomado forma nas ´ultimas duas d´ecadas, embora se baseie em no¸c˜oes que j´a tˆem mais de um s´eculo (9). Trata-se da no¸c˜ao de que o ra-cioc´ınio humano divide-se em dois sistemas distintos, chamados Sistemas 1 e 2 (tamb´em chamados Sistemas Associativo e Regrado (9), Intui¸c˜ao e Raz˜ao (10) ou Experimental e

Racional (11), entre outros (12)).

Para introduzir a no¸c˜ao de cogni¸c˜ao de dois sistemas tente responder o mais r´apido

poss´ıvel as duas perguntas que seguem.

Qual das imagens abaixo representa um rosto feliz?

Agora tente identificar qual das express˜oes matem´aticas abaixo ´e igual a 417.

121×14 + 201 √144×10 + 301 √81×15 + 282

A maioria das pessoas deve ser capaz de responder a primeira pergunta corretamente sem precisar de muito esfor¸co ou racioc´ınio l´ogico. N˜ao ´e sequer necess´ario analisar cada uma das imagens individualmente. O mesmo n˜ao pode ser dito sobre a segunda pergunta.

Mesmo que um indiv´ıduo seja muito talentoso em matem´atica, ele levar´a um tempo consi-deravelmente maior para resolver as contas, mesmo que com a ajuda de uma calculadora. Isso porque ´e necess´ario analisar cada uma das express˜oes individualmente, sempre se lembrando das regras de soma e multiplica¸c˜ao que se aprende na escola e as aplicando

(18)

1.2 Componentes vs. Intera¸c˜ao 17

A primeira pergunta ´e um exemplo t´ıpico do Sistema 1, que ´e caracterizado por ope-ra¸c˜oes que s˜ao realizadas de forma r´apida e autom´atica, requerem pouca aten¸c˜ao e podem ser realizadas em paralelo com outras tarefas. O seu meio de opera¸c˜ao ´e normalmente atrav´es de associa¸c˜ao com outras experiˆencias pessoais do indiv´ıduo.

A segunda diz respeito ao Sistema 2, que ´e lento e sistem´atico. Ele ´e normalmente

realizado de forma serial e normalmente opera atrav´es da manipula¸c˜ao de s´ımbolos apren-didos atrav´es da linguagem e cultura.

Os dois sistemas podem ser resumidos pela dicotomia percep¸c˜ao-conhecimento. A percep¸c˜ao ´e a informa¸c˜ao recebida pelos ´org˜aos receptores (olhos, ouvidos, etc) que ´e rapidamente processadas pelo c´erebro baseando-se em experiˆencias semelhantes. Conhe-cimento ´e um conjunto de regras j´a assimiladas aplicado a uma an´alise delicada das

mesmas informa¸c˜oes. O fato de que percep¸c˜ao e conhecimento s˜ao oriundos de dois siste-mas distintos e independentes, pode ser ilustrada pela ilus˜ao de M¨uller-Lyer (Figura 1.2). Nela a percep¸c˜ao nos induz a pensar que as linhas horizontais s˜ao de tamanhos distintos. Uma an´alise cuidadosa (com o aux´ılio de uma r´egua, talvez) mostra que ambas possuem

o mesmo tamanho. Por´em mesmo sabendo que as linhas tˆem o mesmo tamanho, isso n˜ao tem algum efeito sobre a percep¸c˜ao, que continua a nos dar a impress˜ao de que as linhas tˆem tamanhos diferentes. Um resumo das principais caracter´ıstica de cada sistema pode

ser visto na Tabela 1.1.

1.2

Componentes vs. Intera¸

ao

Cientistas cognitivos normalmente se focam em identificar as componentes da cog-ni¸c˜ao. A cogni¸c˜ao visual, por exemplo, ´e dividida em uma componente de aten¸c˜ao, de identifica¸c˜ao de caracter´ısticas, de reconhecimento, de integra¸c˜ao, entre outros (13). A

Sistema 1 Sistema 2

R´apido Lento

Paralelo Serial

Autom´atico Controlado Sem Esfor¸co Esfor¸coso Associativo Regrado Aprendizado Lento Flex´ıvel

Emocional Racional

(19)

1.3 Movimento Ocular 18

Figura 1.2: Ilus˜ao de M¨uller-Lyer. A linha horizontal de cima aparenta ser maior do que a de baixo, embora ambas sejam do mesmo tamanho.

informa¸c˜ao ´e processada por cada componente e passada para as seguintes, de forma que o tempo levado para realizar uma tarefa cognitiva ´e resultado do tempo necess´ario para realizar esse processamento. Recentes estudos sobre a natureza complexa dos processos

cognitivos (14) geraram interesse no estudo da intera¸c˜ao desses processos. O foco desses estudos ´e determinar se o que domina o comportamento cognitivo s˜ao as componentes em si ou se s˜ao as intera¸c˜oes entre as componentes.

O argumento mais comumente utilizado ´e que processos dominados pelas intera¸c˜oes tendem a apresentar distribui¸c˜oes de frequˆencia que reflitam efeitos multiplicativos, como log-normais e leis de potˆencia, enquanto processos dominados pelas componentes reflitam

uma natureza aditiva, aparecendo na forma de distribui¸c˜oes normais (15). Na ´ultima d´ecadas, diversos trabalhos apresentam evidˆencias de que, de fato, intera¸c˜oes dominam v´arias formas de cogni¸c˜ao (16, 17).

1.3

Movimento Ocular

Como foi dito na Se¸c˜ao 1.1.2, processos cognitivos, como a percep¸c˜ao visual, n˜ao

podem ser observados diretamente. Para estud´a-los ´e preciso observar sua influˆencia no comportamento de um indiv´ıduo. A forma mais evidente de se estudar fenˆomenos relativos `a percep¸c˜ao visual ´e observando o movimento ocular de um indiv´ıduo. No passado, tal investiga¸c˜ao era invi´avel devido `a limita¸c˜ao tecnol´ogica, j´a que os movimentos oculares

(20)

1.3 Movimento Ocular 19

(

a

)

(

b

)

(

c

)

(

d

)

(

e

)

(

f

)

(

h

)

(

g

)

Figura 1.3: Experimento realizado por Yarbus (19) ao pedir para que os participantes observassem a imagem “Um Visitante Inesperado” de Ilya Repin (a). Em (b) mostra-se o movimento ocular realizado ao permitir que o participante fizesse uma inspe¸c˜ao livre da imagem. Em (c) pediu-se que o participante estimasse a condi¸c˜ao financeira da fam´ılia. Em (d) pediu-se que estimasse a idade das pessoas. Em (e) pediu-se que estimasse o que estava fazendo a fam´ılia antes da chegada do visitante. Em (f) que tentasse se lembrar que roupas as pessoas estavam vestindo. Em (g) que tentasse se lembrar a posi¸c˜ao dos objetos na sala. Em (h) que estimasse h´a quanto tempo a fam´ılia n˜ao via o visitante. A diferencia¸c˜ao do padr˜ao do olhar indica que o movimento ocular varia de acordo com os objetivos cognitivos do observador. Retirado de (19).

Em 1969, Yarbus (19) publicou seu trabalho seminal sobre movimento ocular, onde mostrava que o movimento do olhar de um indiv´ıduo varia de acordo com o seu objetivo cognitivo (um exemplo dos testes realizados por ele ´e mostrado na Figura 1.3).

Ao longo das d´ecadas seguintes, a an´alise de movimentos oculares tornou-se ampla-mente utilizada no estudo da cogni¸c˜ao visual. Entretanto, ainda hoje n˜ao h´a consenso no

que diz respeito `a forma como as grandezas oculomotoras devem ser medidas, sendo que muitos trabalhos j´a foram feitos tentando solucionar esse problema (para uma revis˜ao veja (20, c. 2)). Felizmente a defini¸c˜ao e a forma de extra¸c˜ao de sacadas e fixa¸c˜oes a partir de dados crus permite um certo grau de liberdade, como veremos no Cap´ıtulo 2 desta

disserta¸c˜ao.

(21)

1.3 Movimento Ocular 20

50 100 150 200

Tempo (ms)

800 850 900 950 1000

P

os

ão do O

lhar

(

px

)

Fixação

Sacada

Figura 1.4: Gr´afico mostrando a coordenada x do olhar de um participante capturada a 60 Hz realizando uma busca visual. Nele ficam claros os per´ıodos de fixa¸c˜ao e sacadas.

haver pouca ambiguidade quanto `a identifica¸c˜ao de fixa¸c˜oes e sacadas. Estudos de captura de alta frequˆencia, entretanto, mostram que a transi¸c˜ao sacada-fixa¸c˜ao n˜ao ´e t˜ao trivial (21), como mostra a Figura 1.5. Outro fator importante ´e identificar quando uma sacada possui alguma funcionalidade. Ainda na Figura 1.5, notamos que a segunda sacada ´e

muito pequena, deixando d´uvidas quanto `a necessidade de consider´a-la para a extra¸c˜ao de informa¸c˜ao ´util.

Outro movimento digno de aten¸c˜ao s˜ao as chamadas sacadas nulas. Elas s˜ao movi-mentos r´apidos que, como mostrado na Figura 1.6, n˜ao resultam na realoca¸c˜ao do olhar. Assim como no caso das sacadas pequenas, n˜ao h´a meios confi´aveis de determinar se uma sacada nula constitui um evento funcional ou se ´e apenas um reflexo de irregularidades

oculomotoras. Na maior parte dos casos ela ´e considerada como parte da fixa¸c˜ao.

Al´em disso, h´a os movimentos oculares fixacionais, isso ´e, os movimentos oculares que ocorrem durante as fixa¸c˜oes e que possuem suas pr´oprias particularidades. Eles s˜ao em geral divididos em movimentos de tremor, deriva e microssacadas (22). A Figura 1.7 mostra um exemplo. As microssacadas em particular vˆem sendo alvo de muita aten¸c˜ao

dos pesquisadores devido `a aparente importˆancia destes eventos no controle das fixa¸c˜oes (23, 24).

(22)

1.3 Movimento Ocular 21

Tempo (ms)

Tempo (ms)

P

os

ão do O

lhar

(

un. ar

bi

tr

ár

ias

)

Figura 1.5: Gr´afico de captura de alta frequˆencia de duas sacadas (1000 Hz) realizadas por um indiv´ıduo durante um exerc´ıcio de leitura. Nele se vˆe que, embora razoavelmente suave, a transi¸c˜ao entre sacada e fixa¸c˜ao n˜ao ´e clara. Deubel (21) sugere que o fim da sacada seja considerado nas imedia¸c˜oes dos pontos de m´aximo, localizados aproximadamente em 36 ms e 118 ms. Retirado de (20, p. 31).

1100 1120 1140 1160 1180 1200

Tempo (ms)

800 900 1000 1100 1200

lhar

(

px

)

Sacada Nula

Coordenada X

Coordenada Y

(23)

1.4 Buscas Aleat´orias e Buscas Visuais 22

Tremor

Deriva

Microssacada

Tempo (ms)

P

os

ão (gr

aus

)

Coord. X

Coord. Y

Figura 1.7: Gr´afico mostrando as coordenadas x e y do movimento do olho esquerdo de um observador com grava¸c˜ao a 500 Hz. Em destaque, os movimentos de deriva, tremor e microssacadas. Na curva da coordenada x, uma varia¸c˜ao para cima significa um desloca-mento para a direta e uma varia¸c˜ao para baixo significa um deslocadesloca-mento para a esquerda. Retirado de (22).

crus fornecidos pelos equipamentos de medi¸c˜ao. Na realidade o olhar de um indiv´ıduo nunca fica realmente est´atico, como fica claro observando as Figuras 1.3-1.6. Para obter os dados pass´ıveis de processamento e an´alise ´e preciso passar os dados crus por um filtro

de dados. H´a atualmente uma variedade de filtros dispon´ıveis e a escolha ´e normalmente flex´ıvel, havendo filtros para prop´ositos gerais e espec´ıficos, por exemplo, para leitura (25). Mesmo escolhendo-se o filtro apropriado para o tipo de tarefa realizada, ainda resta a tarefa de determinar os parˆametros do filtro. De forma geral, filtros de dados

de movimento ocular possuem um ou dois parˆametros livres. Usualmente eles devem ser escolhidos de forma a evitar fixa¸c˜oes sem relevˆancia funcional para o processo estudado. A escolha de parˆametro pode variar muito, por exemplo, eliminando-se fixa¸c˜oes com menos de 50ms (26), 100ms (27) e at´e 140mns (28). A escolha de parˆametro corretos ´e crucial

mesmo que n˜ao haja estudos comparativos para os diversos valores (20).

1.4

Buscas Aleat´

orias e Buscas Visuais

(24)

evo-1.4 Buscas Aleat´orias e Buscas Visuais 23

lu´ıdos tendem a apresentar boa eficiˆencia ou, pelo menos, uma boa rela¸c˜ao entre eficiˆencia e robustez (32). Uma estrat´egia de busca muito investigada ´e aquela que pode ser repre-sentada na forma de voos de Levy, onde o tamanho de cada passo segue uma distribui¸c˜ao de probabilidade na forma de uma lei de potˆencia, P(d)∝ d−α. Viswanathanet al. (29)

mostraram que, para α= 2.0, o voo possui um m´aximo de eficiˆencia.

1.4.1

Voos de L´

evy e Buscas Aleat´

orias

No modelo apresentado por Viswanathanet al. (29), um buscador percorre um espa¸co preenchido com alvos pontuais uniformemente distribu´ıdos. O buscador se move para a posi¸c˜ao do alvo mais pr´oximo dentro do seu raio de vis˜aorv. Caso n˜ao haja alvos dentro

do seu raio de vis˜ao, o buscador se move em uma dire¸c˜ao aleat´oria por uma distˆancia que obedece a uma lei de potˆencia

P(l)l−α

. (1.1)

Essa distribui¸c˜ao ser´a melhor estudada na se¸c˜ao (). Esse tipo de movimento ´e comumente chamado Voo de L´evy. Enquanto percorre a distˆancia sorteada de acordo com a Eq. 1.1, o buscador continua procurando o alvo, movendo-se para a posi¸c˜ao do primeiro que

avistar. Seja λ o caminho livre m´edio do buscador entre dois alvos consecutivos. Para duas dimens˜oes esse valor ´e igual a

λ= 1 2rvρ

, (1.2)

ondeρ ´e a densidade de alvos. A distˆancia m´edia percorrida pelo buscador ser´a ent˜ao,

hli ≈

rvl

1−α

dl+λR∞

λ l

−α

dl

R∞

rv l

−αdl =

α1 2α

λ2−α

−r2−α

v

r1−α

v

2−α

r1−α

v

(1.3)

Neste ponto, Viswanathan et al. (29) definem a eficiˆencia de uma busca como

η= 1

hliN, (1.4)

onde N ´e o n´umero m´edio de passos dados entre dois alvos consecutivos. Para buscas destrutivas, isto ´e, buscas onde cada alvo s´o pode ser visitado uma vez, obtemos,

Nd≈(λ/rv)α

−1

, (1.5)

e para buscas n˜ao-destrutivas,

(25)

1.4 Buscas Aleat´orias e Buscas Visuais 24

Supondo-se que os alvos s˜ao esparsamente distribu´ıdos, isto ´e, λ rv, e substituindo

a Eqs. 1.3 e 1.5 em 1.4, encontra-se que n˜ao h´a m´aximo de eficiˆencia para o caso de busca destrutiva, e a busca ´e t˜ao eficiente quanto menor forα. Para o caso da busca n˜ao-destrutiva encontra-se, substituindo as Eqs. 1.3 e 1.6 em 1.4, que a eficiˆencia ´e m´axima

para

αopt = 2 +

1 log (λ/rv)

. (1.7)

Assim, dado que a densidade de alvos seja suficientemente baixa, o expoente ´otimo para a busca deve serαopt = 2.

B´enichou et al. (31) apresentam um modelo que aparenta estar mais em sintonia com o que se conhece sobre o movimento ocular. Nele, o processo de busca ´e dividido em duas

fases: uma difusiva que corresponde a uma fase perceptiva, onde o buscador ´e capaz de encontrar o alvo, e uma bal´ıstica, que corresponde a um processo de realoca¸c˜ao, onde o observador ´e incapaz de encontrar o alvo. Neste trabalho, argumenta-se que buscas intermitentes s˜ao mais eficientes que voos de Levy.

1.4.2

Buscas Visuais

No contexto de busca visuais, durante muito tempo o foco de pesquisa nessa ´area foi

o de aten¸c˜ao visual encoberta, isto ´e, a de mudan¸ca do foco de aten¸c˜ao sem movimentos oculares (20, c. 13). Um dos trabalho mais importantes dessa ´area foi realizado por Treisman e Gelade (33), que foram capazes de distinguir processos paralelos e seriais em processos de busca. Enquanto algumas tarefas de busca parecem f´aceis, outras podem ser

muito dispendiosas. ´E muito mais f´acil, por exemplo, achar um alvo vermelho quando n˜ao h´a outro alvo vermelho entre os distratores, enquanto ´e muito mais dif´ıcil encontrar uma linha vertical vermelha no meio de uma multitude de linhas com diversas orienta¸c˜oes, vermelhas e verdes. Al´em disso, estes autores mostraram que, para buscas do primeiro

tipo, o tempo de busca independe do n´umero de distratores, indicando a presen¸ca de um processo de an´alise em paralelo, onde toda a imagem ´e analisada de uma ´unica vez atrav´es da aten¸c˜ao visual coberta. Isso ocorre pois ´e necess´ario identificar uma ´unica caracter´ıstica do alvo (no caso do exemplo acima, a cor). No segundo caso, quando o alvo

n˜ao ´e definido por uma ´unica caracter´ıstica, mas por um conjunto de caracter´ısticas (no caso do exemplo, cor e orienta¸c˜ao), o tempo de busca aumenta linearmente com o n´umero de distratores. A teoria recebeu o nome de Teoria de Integra¸c˜ao de Informa¸c˜ao (Feature

Integration Theory no original). O c´erebro humano ´e capaz de identificar caracter´ısticas

(26)

1.4 Buscas Aleat´orias e Buscas Visuais 25

arcabou¸co, o movimento ocular propriamente dito n˜ao possui nenhum papel. Isso porque a aten¸c˜ao pode ser relocada mais rapidamente atrav´es de um processo atentivo coberto. Atualmente a Teoria de Integra¸c˜ao de Informa¸c˜ao ´e considerada como um ponto de partida para tratamentos mais elaborados sobre busca visual, pois trata-se de um modelo muito

simplificado (34).

Para que possamos introduzir um modelo de busca visual onde o movimento ocular possui um papel central, ´e preciso entender como o olho ´e capaz de capturar informa¸c˜ao. Ao contr´ario do que normalmente se pensa, n˜ao somos capazes de analisar toda a imagem captada pela retina para uma an´alise extensiva. Na verdade, somos capazes de analisar

apenas uma pequena ´area, chamada f´ovea, que se resume a ´area dentro de 2◦

a partir do ponto de fixa¸c˜ao. Fora dela, a acuidade visual decai rapidamente (35). A consequˆencia disso ´e que, em algumas situa¸c˜oes, um alvo n˜ao ser´a identificado at´e que esteja dentro de uma ´area centrada na f´ovea. Essa ´area ´e chamada regi˜ao de conspicuidade (36). O

tamanho da regi˜ao de conspicuidade pode variar de acordo com uma s´erie de parˆametros. Al´em disso sabe-se que se a ´area onde pode estar o alvo for maior do que a zona de conspicuidade, movimentos oculares ser˜ao essenciais para trazer o alvo de volta `a zona de conspicuidade. ´E de se esperar, portanto, que o tamanho das sacadas esteja relacionado

(27)

26

2

Metodologia

2.1

Equipamento

Para testar nossas hip´oteses, foram elaborados dois testes envolvendo buscas aleat´o-rias. Para a realiza¸c˜ao dos testes utilizamos um equipamento de rastreamento ocular. O modelo utilizado foi o Tobii T120 da companhia sueca Tobbi Technology. O equipamento ´e composto por uma tela TFT LCD de 17” com resolu¸c˜ao m´axima de 1280×1024 pixels

onde s˜ao exibidos os est´ımulos do teste (ver Figura 2.1). Este equipamento tem taxa de captura de de 60Hz ou 120Hz, ou seja, pode capturar a posi¸c˜ao do olhar do participante a cada 17msou 8ms, respectivamente. O rastreador ocular tamb´em ´e capaz de compen-sar movimentos de cabe¸ca, piscadas e outras fontes de ru´ıdo que normalmente alteram a

medida. Outras especifica¸c˜oes t´ecnicas importantes do Tobii T120 s˜ao as seguintes:

• Precis˜ao: ´e definida como a diferen¸ca m´edia entre a posi¸c˜ao do olhar medido pelo rastreador ocular e a posi¸c˜ao real. No equipamento T120, o valor ´e de 0.5◦

;

• Deriva: ´e a mudan¸ca na precis˜ao devido a mudan¸cas de luminosidade, como quando se utiliza est´ımulos de muitas cores diferentes. No T120, a deriva ´e menor do que 0.2◦

;

• Resolu¸c˜ao Espacial: representa a varia¸c˜ao do ponto do olhar entre cada quadro. No T120 este parˆametro corresponde a 0.3◦

;

• Angulo M´aximo: ´e o ˆangulo m´aximo entre o olhar do participante e o eixo centralˆ da tela para o qual o equipamento ´e capaz de capturar a posi¸c˜ao de pelo menos um dos olhos. No T120 o angulo m´aximo ´e de 35◦

;

• Latˆencia: ´E o tempo m´edio entre a exibi¸c˜ao do est´ımulo e o momento em que a primeira posi¸c˜ao do olhar v´alida ´e capturada pelo Eye Tracker. No T120 o tempo

(28)

2.1 Equipamento 27

Tobii T120 Precis˜ao 0.5◦

Deriva <0.3◦

Resolu¸c˜ao Espacial 0.3◦ ˆ

Angulo M´aximo 35◦

Taxa de Captura 60Hzou 120Hz Latˆencia min. 33ms

Liberdade de

Movi-mento da Cabe¸ca 30×20×30cm

Tempo de

Recupe-ra¸c˜ao de Piscada m´ax. 8ms Tempo de

Recupe-ra¸c˜ao de Rastrea-mento

∼300ms

Erro Devido a Mo-vimentos da Ca-be¸ca

0.2◦

Captura Binocular Sim Monitor TFT-LCD 17”, 1280×1024

Tabela 2.1: Especifica¸c˜oes t´ecnicas do Tobii T120 utilizado nos testes.

• Liberdade de Movimento da Cabe¸ca: A regi˜ao onde pelo menos a posi¸c˜ao de um dos olhos ´e captado pelo rastreador ocular. No T120 esta regi˜ao ´e de 30×20×30cm;

• Tempo de Recupera¸c˜ao de Piscada de Olhos: o tempo m´edio levado pelo rastreador ocular para voltar a capturar o olhar ap´os uma piscada de olhos involunt´aria. No T120 este tempo ´e de no m´aximo 8ms;

• Tempo de Recupera¸c˜ao de Rastreamento: o tempo m´edio levado pelo Eye Tracker ap´os uma interrup¸c˜ao da captura, como quando o participante move o olhar para

fora da ´area de captura. No T120 este tempo ´e de aproximadamente 300ms;

• Erro Devido ao Movimento da Cabe¸ca: ´e a mudan¸ca na precis˜ao nas bordas da tela comparado com a precis˜ao no centro. Isso inclui movimentos da cabe¸ca nas trˆes dimens˜oes. No T120 ´e de 0.2◦

.

Um resumo das especifica¸c˜oes t´ecnicas do rastreador ocular pode ser visto na tabela 2.1.

Durante os testes, o equipamento utiliza diodos de infravermelho localizados na parte inferior do aparelho para gerar padr˜oes de reflex˜ao nas c´orneas do participante. O T120

utiliza duas t´ecnicas para realizar o rastreamento: A primeira ´e o m´etodo de pupila clara, que emprega um iluminador pr´oximo ao eixo ´otico do aparelho, fazendo com que a pupila pare¸ca iluminada (semelhante ao que causa o efeito dos olhos vermelhos em fotografias). O segundo ´e o m´etodo de pupila escura, onde o iluminador ´e colocado distante

(29)

2.2 Testes 28

Figura 2.1: Tobii T120 rastreador ocular da Universidade Federal do Cear´a, o equipamento de rastreamento ocular utilizado nos testes deste trabalho.

Complexos algoritmos de processamento de imagem identificam as informa¸c˜oes relevantes

incluindo os padr˜oes de reflex˜ao das c´orneas, identificando a posi¸c˜ao tridimensional do globos oculares do participante e finalmente calculando a posi¸c˜ao do olhar.

Antes de cada teste, cada participante passa por um processo de calibra¸c˜ao. Durante esse processo, ´e pedido ao participante que fixe o olhar em certos pontos da tela chamados

pontos de calibra¸c˜ao, enquanto v´arias imagens dos olhos s˜ao coletadas e analisadas. Essa

informa¸c˜ao ´e aplicada a modelos internos do sistema para gerar as posi¸c˜oes do olhar

durante o teste. O processo de calibra¸c˜ao utilizado em todos os testes deste trabalho consiste na apresenta¸c˜ao de nove pontos de calibra¸c˜ao em um fundo simples com apenas uma cor. Um ponto desliza sobre a tela parando em cada ponto de calibra¸c˜ao e solicita-se ao participante que acompanhe o movimento do ponto. O procedimento ´e ent˜ao repetido

at´e que a calibra¸c˜ao seja considerada satisfat´oria. Caso os testes sejam realizados ainda com uma m´a calibra¸c˜ao ao final, os dados do participante s˜ao descartados.

2.2

Testes

No primeiro teste, que denominamos Busca 52, cada participante foi apresentado a uma s´erie de imagens compostas por uma rede quadrada preenchida com diversos n´umeros

2, e escondido entre eles um ´unico n´umero 5. Foi pedido ao participante que achasse o

n´umero 5 na imagem. Esse teste foi adaptado do trabalho de Treisman e Gelade sobre integra¸c˜ao de elementos em aten¸c˜ao seletiva (33).

(30)

2.2 Testes 29

Figura 2.2: Exemplo de est´ımulos utilizados no teste Busca 52 para o n´ıvel de dificuldade 0 (direita), 1 (centro) e 2(esquerda).

n´umeros de 38 pixels de lado, e no n´ıvel de dificuldade 2, havia 35×40 n´umeros de 25

pixels de lado. Exemplos de est´ımulos podem ser vistos na Figura 2.2. Foi avisado a cada participante que haveria um tempo limitado para encontrar o alvo em cada imagem, embora n˜ao tenha sido revelado quanto tempo teriam dispon´ıvel. Na verdade, este tempo variava de acordo com o n´ıvel de dificuldade: 1 minuto para o n´ıvel 0, 1 minuto e 30

segundos para o n´ıvel 1 e 2 minutos para o n´ıvel 2. Ao todo 15 imagens foram apresentadas a cada participante, sendo 8 no n´ıvel de dificuldade 0, 4 de dificuldade 1, e 3 de dificuldade 2. Um resumo do teste pode ser visto na tabela 2.2.

As cores utilizadas nas imagens e os espa¸camento entre os n´umeros foram escolhi-dos com o intuito diminuir os esfeitos de fadiga ocular durante os testes e evitar que o

participante fosse capaz de encontrar o alvo atrav´es da identifica¸c˜ao de padr˜oes na vis˜ao perif´erica.

Dificuldade N´umero de Imagens

Tamanho da Rede

Tamanho dos Distratores

Tempo Dispon´ıvel

0 8 16×13 76px 1min

1 4 33×26 38px 1min30s

2 3 35×40 25px 2min

Tabela 2.2: Parˆametros utilizados no teste Busca 52.

No segundo teste, que denominamos Wally, cada participante foi apresentado a uma s´ere de ilustra¸c˜oes da s´erie de livrosOnde Est´a Wally? do ilustrador inglˆes Martin Hand-ford (38, 39). Os livros contˆem ilustra¸c˜oes grandes, coloridas e extremamente detalhadas com dezenas de personagens realizando alguma a¸c˜ao em um determinado local (ver

exem-plo na Figura 2.3). O objetivo do participante ´e encontrar o personagem Wally em meio aos in´umeros distratores da imagem (40).

(31)

estives-2.3 Filtro de Dados 30

sem o mais uniformemente poss´ıvel distribu´ıdos no campo da ilustra¸c˜ao. Assim como no teste anterior, cada participante tinha um tempo limitado para achar o alvo, neste caso 2 minutos para cada imagem. Foram exibidas 6 imagens para cada participante, sendo que em apenas duas delas havia de fato um alvo.

Figura 2.3: Exemplo de est´ımulo utilizado no teste Wally com o detalhe mostrando o alvo a ser encontrado pelos participantes. Reproduzido com permiss˜ao de Walker Books Ldt.

2.3

Filtro de Dados

Um processo importante na an´alise de dados de testes de rastreamento ocular ´e a

filtragem dos dados. Como mencionado na Se¸c˜ao 1.3, ´e importante determinar quais s˜ao os pontos de fixa¸c˜ao e as sacadas de uma observa¸c˜ao. Devido `a presen¸ca de ru´ıdos e ao fato de que o olhar de uma pessoa n˜ao permanece fixo em um ´unico ponto, ´e necess´ario filtrar as posi¸c˜oes dos olhares afim de extrair as informa¸c˜oes relevantes. Como veremos

no Cap´ıtulo 3, neste trabalho foi utilizado uma variante do filtro desenvolvido por Olsson (25), o qual, por completude descreveremos aqui.

O output fornecido pelo Eye Tacker ´e uma sequˆencia de pontos si que representam a

posi¸c˜ao do olhar nai-´esima medida. Denota-se a real posi¸c˜ao do olhar ti, de forma que o

objetivo do filtro ´e criar uma estimativa ˆti o mais pr´oxima poss´ıvel deti. Para identificar

pontos de fixa¸c˜ao e sacadas na sequˆencia si, analisa-se a diferen¸ca entre as m´edias das amostras dentro de duas janelas m´oveis, isto ´e,

mdepoisi = 1

r

r

X

k=1

(32)

2.3 Filtro de Dados 31

mantesi = 1

r

r

X

k=1

si+k (2.2)

di =

m

depois

i −mantesi

, (2.3)

onde r ´e o tamanho da janela. Quanto maior for o tamanho da janela, menor ´e o efeito do ru´ıdo. A janela no entanto n˜ao deve ser muito longa, pois corremos o risco de agrupar v´arias sacadas em um ´unico intervalo. Pesquisas anteriores indicam que fixa¸c˜oes duram de

150 a 600 ms (41), entretanto fixa¸c˜oes mais curtas podem ocorrer ocasionalmente. Olsson (25) mostrou que fixa¸c˜oes menores do que 80 ms s˜ao muito raras, portanto uma janela de 5 pontos para medidas a 60 Hz ´e suficiente para identificar a maioria das fixa¸c˜oes. Sempre que uma diferen¸cadi for maior do que um limitehpreestabelecido, ser´a considerada como

um pico. Se houver mais de um pico dentro de uma dada janela, apenas o maior pico ´e considerado.

A essa altura, os pontos si est˜ao divididos em agregados separados pelos picos di.

Cada agregado ´e associado a uma fixa¸c˜ao. Sejaik o ´ındice do k-´esimo pico, neste caso a

k-´esima fixa¸c˜ao fk ´e estimada atrav´es da mediana dos pontos localizados entre ik e ik+1

fk =mediana(sik,sik+1,sik+2, ...,sik+1). (2.4)

Se houver duas fixa¸c˜oes consecutivas mais pr´oximas do que um outro limite preestabelecido

D, ent˜ao os dois agregados que deram origem `as duas fixa¸c˜oes s˜ao fundidos e uma nova fixa¸c˜ao ´e calculada de acordo com a Eq. 2.4.

Uma vez identificadas as fixa¸c˜oes, as sacadas s˜ao trivialmente definidas como a dis-tˆancia entre duas fixa¸c˜oes. Uma sequˆencia resumida das etapas que constituem o filtro de Olsson poderia ser escrita da seguinte forma:

1. Para cada ponto si, calcule di de acordo com as Eqs. 2.1, 2.2 e 2.3;

2. Se di > h,di ´e um pico;

3. Se houver picos dentro de uma mesma janela, considere apena o pico maior;

4. Os pontos de fixa¸c˜ao fk s˜ao as medianas dos pontos localizados entre dois picos;

5. Caso haja |fk−fk+1|< D, as duas fixa¸c˜oes s˜ao unidas em uma.

(33)

2.3 Filtro de Dados 32

(

a

)

(

b

)

(

c

)

(

d

)

(34)

33

3

Resultados

Os teste descritos no cap´ıtulo anterior foram realizados com 10 estudantes saud´aveis

com idade m´edia de 23 anos do Departamento de F´ısica da Universidade Federal do Cear´a. A trajet´oria do olhar de cada participante foi capturada em um Tobii T120 com resolu¸c˜ao 1280×1024 a 60 Hz, ou seja, ´e obtido um ponto a cada 17 ms. As dimens˜oes de espa¸co s˜ao dadas em pixels, o que para a resolu¸c˜ao utilizada equivale a aproximadamente 0.26 mm.

Exemplos do padr˜ao de busca encontrados podem ser vistos nas Figuras 3.1 e 3.2.

Para extrair uma assinatura estat´ıstica do movimento do olhar durante uma busca

visual ´e preciso tratar os dados diferentemente de como os filtros normalmente o fazem. O filtro de Olsson como descrito na se¸c˜ao 2.3 foi utilizado para separar os pontos em agregados, cada agregado equivalendo a uma fixa¸c˜ao. Aqui, n˜ao estamos interessados em calcular a posi¸c˜ao das fixa¸c˜oes, mas queremos identificar quais pontos do olhar pertencem

a fixa¸c˜oes e quais pertencem a sacadas, tarefa que o filtro de Olsson n˜ao realizaria com a precis˜ao desejada. Com esse objetivo, introduzimos neste ponto uma pequena modifica¸c˜ao no filtro de Olsson. Calculamos inicialmente o raio de gira¸c˜ao de cada agregado de fixa¸c˜ao na seguinte forma:

R2g = 1

N

N

X

k=1

|rk−r|2, (3.1)

ondeN ´e o n´umero de pontos pertencente a um agregado erk suas posi¸c˜oes. O centro de

massa de um agregador ´e definido como,

r= 1

N

N

X

k=1

rk. (3.2)

Quando um ponto est´a a menos de um raio de gira¸c˜ao de distˆancia do centro de massa do agregado, isto ´e, quando |rk−r| ≤ Rg, o ponto ´e considerado como parte da fixa¸c˜ao.

Caso contr´ario ele ´e considerado como parte de uma sacada. No caso de uma sacada nula, todos os pontos envolvidos, mesmo os que se situam al´em do raio de gira¸c˜ao, s˜ao

(35)

3 Resultados 34

(36)

3 Resultados 35

(37)

3.1 Busca 52 36

3.1

Busca 52

Analisando o padr˜ao de busca obtido no teste Busca 52 (exemplos na Figura 3.1),

percebeu-se que, para os n´ıveis de dificuldade menores, a maioria dos participante realizava uma busca sistem´atica, varrendo a imagem da esquerda para a direita, de cima para baixo, analisando cada distrator at´e achar o alvo. No n´ıvel de dificuldade mais alto, esse comportamento ´e menos comum e buscas aleat´oria s˜ao preferidas pelos observadores.

Inicialmente analisamos a distribui¸c˜ao de frequˆencia de saltos (a distˆancia entre dois pontos de olhar consecutivos) para os trˆes n´ıveis de dificuldade. A Figura 3.3 mostra os

resultados obtidos. N˜ao s´o foi encontrada uma not´avel semelhan¸ca entre participantes diferentes, mas tamb´em entre n´ıveis de dificuldade diferentes. O comportamento geral do olhar fica mais evidente observando as m´edias sobre todos os participantes (Figura 3.4). Percebe-se na regi˜ao de saltos entre 20 px e 100 px uma depress˜ao na curva de

frequˆen-cia, que supomos indicar a superposi¸c˜ao de duas distribui¸c˜oes: uma relativa aos saltos pequenos pertencentes `as fixa¸c˜oes, e outra correspondente aos saltos maiores referentes `as sacadas. Para testar essa hip´otese, aplicamos inicialmente o filtro de Olsson na forma que foi explicada na Se¸c˜ao 2.3, com o objetivo de identificar quais pontos do olhar pertencem

a fixa¸c˜oes e a sacadas. No caso do movimento fixacional, calculamos o comprimento de cada trajet´oria que liga duas fixa¸c˜oes e a respectiva distribui¸c˜ao de frequˆencias, ver Figura 3.5.

100 101 102 103 10-6

10-4 10-2 100

100 101 102 103 100 101 102 103

F

re

quê

nc

ia

Tamanho do Salto (px)

Dif. 0

Dif. 1

Dif. 2

(38)

3.1 Busca 52 37

1 10 100 1000 10000

1e-08 1e-06 0.0001 0.01 1

Dificuldade 0

Dificuldade 1

Dificuldade 2

Tamanho do Salto (px)

F

re

quê

nc

ia

Figura 3.4: Distribui¸c˜ao de frequˆencia de saltos para os dados crus do teste Busca 52 mediado por todos os participantes v´alidos nas trˆes dificuldades. O intervalo sombreado mostra a regi˜ao onde ocorre a superposi¸c˜ao das distribui¸c˜oes de saltos grandes e saltos pequenos.

101 102 103

10-8 10-6 10-4 10-2 100

F

re

quê

nc

ia

100 101 102

Tamanho do Salto (px)

10-6 10-4 10-2 100

F

re

quê

nc

ia

Dificuldade 0 Dificuldade 1 Dificuldade 2 Dificuldade 0 Dificuldade 1 Dificuldade 2

Tamanho do Salto (px)

(39)

3.2 Wally 38

Observamos que a curva de distribui¸c˜ao para os saltos fixacionais apresenta um com-portamento t´ıpico em lei de potˆencia (Eq. A.15) com um expoente α = 2.87± 0.01. Por sua vez, os movimentos sac´adicos s˜ao muito bem descritos por uma distribui¸c˜ao log-normal (Eq. A.14) onde µ = 4.81 e σ = 0.82 para a dificuldade 0, µ = 4.59 e σ = 0.85 para a dificuldade 1 eµ= 4.51 e σ = 0.91 para a dificuldade 2. A moda da distribui¸c˜ao se desloca para a esquerda a medida que a dificuldade aumenta, refletindo o fato de que os distratores est˜ao mais pr´oximos, assim ´e necess´ario sacadas mais curtas para mudar a ´area de busca.

Distribui¸c˜oes log-normais s˜ao t´ıpicas de processos multiplicativos de vari´aveis

indepen-dentes, e leis de potˆencia surgem de processos multiplicativos de vari´aveis interdependentes (42). A emergˆencia desse tipo de comportamento em cogni¸c˜ao visual ´e normalmente atri-bu´ıda ao fato de que a dinˆamica dos processos cognitivos ´e dominada pela intera¸c˜ao entre os componentes da cogni¸c˜ao (43). A ocorrˆencia destas distribui¸c˜oes j´a foi observada em

diversas tarefas cognitivas (16, 17, 44).

3.2

Wally

O mesmo tratamento foi feito para o teste Wally. Observou-se que o tamanho dos saltos obedece uma distribui¸c˜ao de frequˆencias bimodal semelhante ao obtido no teste Busca 52, como pode ser visto na Figura 3.6.

Aplicando-se o modelo descrito na se¸c˜ao anterior para separar movimentos fixacionais de sac´adicos, obtivemos os resultados mostrados na Figura 3.7, que apresentam

compor-tamento muito semelhante ao teste Busca 52.

Al´em disso, analisamos tamb´em a distribui¸c˜ao dos tempos de fixa¸c˜ao. No filtro utili-zado isso equivale ao n´umero de pontos pertencentes a um agregado (Figura 3.8). Encon-tramos novamente um padr˜ao log-normal com parˆametrosµ= 2.61 e σ = 0.57.

Tamb´em analisamos a distribui¸c˜ao de raios de gira¸c˜ao dos agregados. O comporta-mento encontrado se assemelha a uma lei de potˆencia com expoente o que pode indicar uma correla¸c˜ao. Sendo os saltos fixacionais da ordem dos raios de gira¸c˜ao, isso indicaria

(40)

3.2 Wally 39

1 10 100 1000 10000

T

amanho do Salto (px)

1e-08 1e-06 0.0001 0.01 1

F

re

quê

nc

ia

(41)

3.2 Wally 40

T

am. Salto (px)

10

0

10

1

10

2

10

3

Tamanho do Salto (px)

10

-6

10

-4

10

-2

10

0

F

re

quê

nc

ia

10

0

10

1

10

2

Tam. Salto (px)

10

-6

10

-4

10

-2

10

0

F

re

quê

nc

ia

fixações

10

1

10

2

10

3

sacadas

-3.13

Ajuste Lei de Potência

Ajuste Log-Normal

-3.07

Figura 3.7: Os gr´aficos apresentam as distribui¸c˜oes de saltos fixacionais para diversos par-ticipantes (superior esquerdo), as distribui¸c˜oes de saltos que pertencem a sacadas (superior direito) e as duas distribui¸c˜oes correspondentes mediadas sobre todos os participantes (in-ferior). A curva de saltos fixacionais ´e ajustada por uma lei de potˆencia, P(r) r−α

(42)

3.2 Wally 41

10 100

Tem

po de Fi

ão (passos)

1e-06

0.0001 0.01 1

F

re

quê

nc

ia

Ajuste Log-Normal

Dados Experimentais

Figura 3.8: Distribui¸c˜ao de frequˆencias de tempos de fixa¸c˜ao de v´arios participantes ajus-tada por uma curva log-normal, Eq. A.14, com parˆametros µ= 2.61 e σ= 0.57.

1 10 100 1000

Raio de Giração (px)

1e-05

0.0001 0.001 0.01 0.1 1

F

re

quê

nc

ia

-3.13

Ajuste Lei de Potência

Dados Experimentais

-3.12

(43)

42

4

Conclus˜

oes

Neste trabalho estudamos as principais propriedades estat´ısticas do movimento ocular

durante uma tarefa de busca visual. Encontramos diversas caracter´ısticas t´ıpicas de sis-temas complexos, como invariˆancia de escala e presen¸ca de processos multiplicativos, que j´a foram observadas em diversas tarefas cognitivas (43, 45), inclusive em buscas visuais (46).

No teste Busca 52 vimos que o padr˜ao de busca dos indiv´ıduos muda de acordo com a

complexidade da imagem, sendo que em imagens mais simples (com menos distratores) os participantes tendem a efetuar buscas sistem´aticas, enquanto em imagem mais complexas a busca passa a ser aleat´oria. Qual seria a natureza dessa mudan¸ca de comportamento e de que forma o processo de busca se beneficia dela ainda permanece uma inc´ognita. Al´em

disso, achamos que as buscas sistem´aticas s˜ao indistingu´ıveis de buscas aleat´orias no que diz respeito `a distribui¸c˜ao de frequˆencia de saltos.

Encontramos um comportamento bimodal nas distribui¸c˜oes de saltos do olhar, re-fletindo o padr˜ao de fixa¸c˜oes e sacadas do movimento ocular. Ao usar filtros de dados para analisar separadamente os dois movimentos, encontramos uma distribui¸c˜ao em lei de potˆencia para os movimentos fixacionais e uma forma log-normal para os movimentos

sac´a-dicos, indicando que o primeiro provavelmente ´e o resultado de um processamento serial de informa¸c˜ao, enquanto o ´ultimo resulta de processamento em paralelo. Tais resulta-dos pareceram independentes do participante efetuar uma busca sistem´atica ou aleat´oria, como foi observado nos dois testes realizados.

Apesar de algumas diferen¸cas individuais, todos os resultados referentes `as

distri-bui¸c˜oes de saltos apresentam uma similaridade not´avel entre os participantes. Poss´ıveis trabalhos futuros podem se dedicar `a investiga¸c˜ao do motivo por tr´as de tamanha uni-formidade no movimento ocular, possivelmente devido a algum processo de otimiza¸c˜ao, como j´a existe evidˆencias (47). Tais trabalhos devem ser focados em testes que enfoquem

(44)

liga-4 Conclus˜oes 43

¸c˜ao entre o movimento ocular em buscas visuais e os principais modelos j´a estabelecidos de buscas aleat´orias.

Por fim, um estudo das propriedades difusivas dos movimentos oculares fixacionais pode ajudar a elucidar perguntas sobre como se d´a o controle das fixa¸c˜oes e como isso est´a ligado `a eficiˆencia de busca visuais, j´a que um processo sub-difusivo significaria uma

(45)

44

AP ˆ

ENDICE A -- Conceitos de Estat´

ıstica

Isaac Newton afirmou em sua ´obra m´axima, Princ´ıpios Matem´aticos da Filosofia

Natural, que na natureza devem ser entendidas como verdadeiras as conclus˜oes que se

extraem atrav´es da indu¸c˜ao geral, at´e serem refutadas por um fenˆomeno qualquer (48). Esta afirma¸c˜ao ´e parte de um conjunto regras desenvolvidas por Newton para guiar o racioc´ınio cient´ıfico, uma formaliza¸c˜ao inicial do que hoje ´e conhecido como o m´etodo

cient´ıfico.

O m´etodo cient´ıfico, possui um papel central no desenvolvimento de teorias relacio-nadas `a cogni¸c˜ao humana, assim como em todas as ciˆencias naturais. Ele ´e normalmente divido em quatro est´agios: observa¸c˜ao de um fenˆomeno natural, formula¸c˜ao de hip´oteses que expliquem esse fenˆomeno, determina¸c˜ao de consequˆencias l´ogicas das hip´oteses, e

rea-liza¸c˜ao de testes com o intuito de observar tais consequˆencias. Caso elas sejam observadas, a hip´otese ´e tomada como verdadeira at´e que seja observado um fenˆomeno que contradiga a hip´otese, que ´e ent˜ao rejeitada ou adaptada `as novas observa¸c˜oes.

Os testes de hip´oteses, entretanto, raramente fornecem resultados simples na forma de um ”sim” ou ”n˜ao”. Nossa compreens˜ao da natureza ´e limitada pelo fato de que o nosso conhecimento ´e sempre incompleto, sujeito `as imprecis˜oes das medidas e a outras

limita¸c˜oes f´ısicas (pode-se argumentar, por exemplo, que h´a uma infinitude de experimen-tos capazes de testar uma hip´otese, e que a sua veracidade s´o pode ser definitivamente atestada com a realiza¸c˜ao de todos eles, o que ´e imposs´ıvel).

Frente a essa limita¸c˜ao fundamental foi desenvolvida a inferˆencia estat´ıstica, que ´e o processo de inferir a veracidade de uma hip´otese a partir do nosso conhecimento

(46)

A.1 Probabilidade e Distribui¸c˜ao de Probabilidade 45

A.1

Probabilidade e Distribui¸

ao de Probabilidade

Dado que toda informa¸c˜ao obtida atrav´es de experimentos ´e inerentemente

incom-pleta, ´e poss´ıvel encarar o nosso conhecimento do universo atrav´es de um arcabou¸co probabil´ıstico, isto ´e, ao inv´es de se perguntar se uma hip´otese A ´e verdadeira ou falsa, ´e mais vi´avel se perguntar com que probabilidade, tendo em vista os dados dispon´ıveis, pode-se dizer que a hip´otese A ´e verdadeira. Para issso nos utilizaremos de conceitos de

probabilidade e estat´ıstica desenvolvidos ao longo dos s´eculos.

Suponha que desejamos realizar a medida de uma grandeza que admite valores

discre-tosYi. Define-se a probabilidadepi associado a cada resultado poss´ıvel como um n´umero

real que deve obedecer `as seguintes propriedades

pi ≥0 (A.1)

X

i

pi = 1, (A.2)

isto ´e, a probabilidade de um resultado poss´ıvel ´e sempre maior ou igual a zero, e a soma

das probabilidades de todos os resultados poss´ıveis deve ser igual `a unidade.

Pode-se tomar como exemplo um dado comum de seis lados, isto ´e,Y ={1,2,3,4,5,6}. Um dado ´e considerado justo se ele possui a mesma probabilidade de retornar qualquer um dos seis valores quando rolado. Usando ent˜ao a Eq. A.2, obt´em-se que a probabilidade de o dado rolar qualquer valor ´ep= 1/6.

No caso de grandezas que admitem valores cont´ınuos ao longo da reta real, uma probabilidade ´e atribu´ıda a todos os intervalos poss´ıveis da reta. Essas probabilidades s˜ao

regida por uma fun¸c˜aof(x) denominada fun¸c˜ao de densidade de probabilidade. Assim, a probabilidade de que uma grandeza Y seja encontrada no intervalo [a, b] ´e dada por

p(Y [a, b]) =

Z b

a

f(x)dx. (A.3)

A densidade de probabilidade deve obedecer o equivalente cont´ınuo das propriedades dadas pelas Eqs. A.1 e A.2,

f(x)0 (A.4)

Z ∞

−∞

f(x)dx= 1. (A.5)

(47)

A.2 M´edia e Variˆancia 46

A.2

edia e Variˆ

ancia

A m´edia e a variˆancia de uma distribui¸c˜ao s˜ao informa¸c˜oes importantes sobre uma

distribui¸c˜ao. Elas funcionam como uma esp´ecie de “resumo” da distribui¸c˜ao.

A m´edia (tamb´em chamada de valor esperado ou primeiro momento) de uma

distri-bu¸c˜ao, denominadoE(X) ou µ, ´e um definido como

E(X) =

N

X

i=1

Xipi, (A.6)

ou no caso cont´ınuo

E(X) =

Z ∞

−∞

xf(x)dx. (A.7)

Essa rela¸c˜ao n˜ao ´e chamada de m´edia levianamente. O fato de que

1

N

X

i

Xi ≈E(X) (A.8)

dado um conjunto grande de N vari´aveis aleat´orias independentemente distribu´ıdas{Xi}

´e chamado Lei do Grandes N´umeros.

´

E importante entretanto n˜ao se deixar ser enganado pelo termo “valor esperado”, pois

E(X) n˜ao ´e necessariamente o valor mais prov´avel dado pela distribui¸c˜ao. De fato, o valor

m´edio pode ter probabilidade nula, como ´e caso do dado justo citado anteriormente, que possui valor esperado de 3.5, mesmo que as faces do dado s´o possuam valores inteiros. O valor para o qualf(x) ´e m´aximo ´e chamado a moda de uma distribui¸c˜ao.

A variˆancia, por sua vez, ´e chamada V(X) ou σ e ´e dada por

V(X) = pE(Xµ)2 =

v u u t N X i=1

(xi−µ)2pi. (A.9)

No caso cont´ınuo

V ar(x) =

x2

− hxi2 =

Z ∞

−∞

x2f(x)dx

Z ∞

−∞

xf(x)dx

2

. (A.10)

(48)

A.3 Algumas Distribui¸c˜oes Importantes 47

A.3

Algumas Distribui¸

oes Importantes

A.3.1

Distribui¸

ao Gaussiana ou Normal

A distribui¸c˜ao Gaussiana, tamb´em chamada distribui¸c˜ao Normal, ´e provavelmente a

distribui¸c˜ao de probabilidade mais presente na natureza. Isso ocorre devido ao Teorema do Limite Central. Esse teorema afirma que a soma de uma s´erie de vari´aveis aleat´orias com m´edia e variˆancia bem definidas tende a se distribuir na forma de uma distribui¸c˜ao normal, que ´e dada pela equa¸c˜ao

f(x) = √ 1

2πσ2 exp

−(x−µ)

2

2σ2

. (A.11)

Assim, fenˆomenos naturais que sejam consequˆencia de processos aditivos, tendem a

obe-decer distribui¸c˜oes normais, como ocorre em processos difusivos (49) e na distribui¸c˜ao de QI (50). Substituindo a Eq. A.11 em A.7 e A.10 obtemos quehxi=µe V ar(x) = σ2.

A.3.2

Distribui¸

ao Log-Normal

Embora seja habitual que as influˆencias que resultem em uma medida sejam aditivas, e portanto resultem em uma distribui¸c˜ao normal, esse nem sempre ´e o caso. Tomemos

o exemplo que West e Schlesinger (42) fornecem baseado no trabalho de Shockley (51), que afirma que a lista de habilidades importantes para um pesquisador ´e: (1) capacidade de pensar em um bom problema, (2) a capacidade de trabalhar nele, (3) a capacidade de reconhecer um resultado significativo, (4) saber reconhecer a hora de parar e escrever os

resultados, (5) saber escrever adequadamente, (6) saber se aproveitar construtivamente de cr´ıticas, (7) ter determina¸c˜ao para submeter um artigo para um jornal e (8) ter disposi¸c˜ao para responder `as obje¸c˜oes dos referees. Cada uma dessas capacidades est´a associada uma probabilidadepi de que um indiv´ıduo realizar tal capacidade. Assim a produtividade

cient´ıfica de um indiv´ıduo seria

P =p1p2p3...p8, (A.12)

de forma que

logP = logp1+ logp2+ logp3+...+ logp8. (A.13)

(49)

A.3 Algumas Distribui¸c˜oes Importantes 48

pela express˜ao

f(x) = 1

x√2πσ2exp

−(logx−µ)

2

2σ2

. (A.14)

Devido aos processos multiplicativos possu´ırem uma resposta n˜ao linear a varia¸c˜oes dos coeficientes, a distribui¸c˜ao log-normal ´e assim´etrica como mostra a Figura A.1. A m´edia da distribui¸c˜ao log-normal ´e hxi = exp(µ+σ2/2) e a variˆancia ´e dada por V ar(x) =

(exp [σ2]1) exp (2µ+σ2).

Diversos sistemas f´ısicos apresentam padr˜oes log-normais, como a distribui¸c˜ao de ta-manho de part´ıculas de min´erios sujeitos a fragmenta¸c˜ao (52), diversas medidas de tecidos

biol´ogicos, como massa e comprimento (53) e at´e tamanhos de part´ıculas em um aerosol (54).

A.3.3

Distribui¸

ao de Pareto ou Lei de Potˆ

encia

A ´ultima distribui¸c˜ao que abordaremos aqui ´e a distribui¸c˜ao de Pareto, tamb´em co-nhecida como lei de potˆencia. As distribui¸c˜oes de Pareto s˜ao dadas pela express˜ao

f(x)x−α

. (A.15)

A primeira observa¸c˜ao importante a se fazer ´e que se α= 1, a distribui¸c˜ao n˜ao pode satisfazer a condi¸c˜ao dada pela Eq. A.5. Isso significa que um sistema real que obede¸ca a uma distribui¸c˜ao desse tipo, deve obrigatoriamente obedecer a outras distribui¸c˜oes bem comportadas nos limitex0 e x→ ∞, ou ainda deve obedecer a uma distribui¸c˜ao que, para valores intermedi´arios dex, se comporte como a Eq. A.15. Mostraremos aqui que a distribui¸c˜ao log-normal apresenta essa propriedade (42).

Para isso tomemos a vari´avel auxiliar τ = x/eµ de forma que podemos reescrever a

Eq. A.14 na forma

f(τ)dτ = √ 1

2πσ2 exp

−(logτ)

2

2σ2

d(logτ). (A.16)

Fazendo o logaritmo da Eq. A.16 obtemos,

logf(τ) = logτ (logτ)

2

2σ2 −

1

2log(2πσ

2). (A.17)

Se tomarmos σ2 como muito grande, por´em finito, vemos que (logτ)2/2σ2 torna-se

des-prez´ıvel, e obtemos por fim que,

f(τ) 1

Imagem

Figura 1.1: Capa do “Report of the State of the Art Committee to the Advisors of the Alfred P
Tabela 1.1: Caracter´ısticas dos dois sistemas cognitivos como apresentado por Kahneman (10).
Figura 1.2: Ilus˜ao de M¨uller-Lyer. A linha horizontal de cima aparenta ser maior do que a de baixo, embora ambas sejam do mesmo tamanho.
Figura 1.3: Experimento realizado por Yarbus (19) ao pedir para que os participantes observassem a imagem “Um Visitante Inesperado” de Ilya Repin (a)
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Referências

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