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03 A COEXISTÊNCIA DE PROCESSOS DE URBANIZAÇÃO EM NOVA IGUAÇU

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03 A COEXISTÊNCIA DE PROCESSOS DE URBANIZAÇÃO EM NOVA IGUAÇU

A gênese do processo de urbanização do município iguaçuano está associada ao período da laranja. O apogeu do “sonho laranja” promoveu transformações em Nova Iguaçu e dotou a cidade de elementos urbanos. A “febre imobiliária”, com novos agentes, fomentou rupturas e ditou novos ritmos ao processo de urbanização. Na contemporaneidade, as atividades associadas à indústria e aos serviços imprimem no espaço as marcas da nova etapa do processo de urbanização da cidade, singularizada pela dialética presente nesse processo.

3.1 A gênese da urbanização em Nova Iguaçu

De início, houve utilização do espaço existente, por exemplo, das vias aquáticas (canais, rios, mares), depois das estradas; na sequência, construção de estradas de ferro, para continuar pelas auto-estradas e pelos aeroportos. Nenhum meio de transporte no espaço desapareceu inteiramente, nem a caminhada nem o cavalo, nem a bicicleta etc. Contudo, um novo espaço se constituiu no século XX (...) sua produção não terminada, continua. O novo modo de produção (a sociedade nova) se apropria, ou seja, organiza para seus fins, o espaço preexistente, modelado anteriormente. Modificações lentas penetram uma espacialidade já consolidada, mas às vezes subverten com brutalidade (LEFBEVRE, 2006, p. 08-09).

O processo de ocupação, absorção e urbanização do município de Nova Iguaçu deve ser compreendido à luz do processo de transformações e expansão da cidade do Rio de Janeiro, quando a metrópole incorporou essa área ao seu domínio promovendo rupturas e incrementando novos usos à terra. Nessa trajetória, as vias de circulação - caminhos, trilhas, fluviais, férreas ou rodovias - tiveram um papel relevante no processo de produção e organização do espaço metropolitano.

A passagem da Estrada de Ferro Dom Pedro II, conectando o Campo de Santana até Queimados (à época distrito de Nova Iguaçu), em 1858, se configurou como um marco expoente no processo de expansão, transformação e ocupação da metrópole do Rio de Janeiro (ABREU, 1987). A implantação do transporte ferroviário, somada à interrupção da navegação pelo rio Iguassú, acarretou uma reorganização do espaço da Baixada Fluminense e, particularmente, de Nova Iguaçu com a transferência do centro político e econômico da Vila de Iguassú para Maxambomba (atual Nova Iguaçu).

Esse processo decretou a morte das vilas-entrepostos onde estavam presentes inúmeros portos de embarque e desembarque, trapiches e armazéns que concentravam e comercializavam os produtos oriundos de outras áreas do estado do Rio de Janeiro (PEREIRA, 1977).

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No final do século XIX e início do século XX, diante da necessidade de recuperação econômica do Rio de Janeiro, a citricultura desponta como nova fonte de riqueza para o município provocando o desenvolvimento e o crescimento populacional da cidade. Os incentivos do governo estadual à produção e exportação somados à proximidade do Rio de Janeiro, mercado consumidor e investidor, ao preço barato das terras, clima quente, aproveitamento de terras desvalorizadas e improdutivas (PEREIRA, 1977; SANTOS, 1995;

SIMÕES, 2011) foram elementos que favoreceram a expansão dos laranjais pelo município.

As terras municipais, dessa forma, são fracionadas, arrendadas e comercializadas em chácaras, com laranjais já plantados que se espraiavam por todo o município. A exportação de laranjas apresentou nesse período um crescimento expressivo e os ‘Pomos de Ouro’, tomavam conta da paisagem de Nova Iguaçu, sendo exportados para diversos países - Itália, Suécia, França, Inglaterra, Holanda, Canadá, Argentina, Uruguai, por exemplo, trazendo fama internacional para a cidade e propiciando o seu desenvolvimento.

Decorrem, desse processo, as alterações na estrutura social de Nova Iguaçu diante da emergência de uma nova classe social dotada de poder político e econômico - os laranjeiros, substitutos dos barões da cana-de-açúcar e do café, que moravam em imponentes bangalôs (ver figura 15), na Área Central da cidade.

O poder econômico dessa nova classe social da cidade já era percebido nos anos de 1930 quando “(...) era elegante fazer compras no Distrito Federal e até mesmo no exterior, havendo casos de enxovais para batizados e casamentos comprados diretamente na França...”

(PEREIRA, 1977, p. 129) ou na compra de luxuosos automóveis (ver figura 16) destinados

‘aos novos ricos’ da cidade.

É nesse contexto de crescimento e progresso que se inicia o processo de urbanização da cidade. A cidade se expande. São abertas estradas que conectam as áreas de produção de laranja até o entorno da estação ferroviária, onde a cidade fervilhava, “ganhava vida” e estavam localizados os barracões de laranja, que beneficiavam e embalavam as laranjas.

Bangalôs e imponentes residências surgiam no Centro da cidade. Há um aumento da população com a chegada dos ‘forasteiros’ atraídos pelo “pomos de ouro”. Emergem novos hábitos, valores e costumes promovendo rupturas e transformações com a sociedade oriunda da Vila de Iguassú.

À luz dessa temática, Pereira (1977, 120) assevera que “a cidade, aos poucos, ia-se transformando, exigindo um mínimo de condições em sua estrutura. O ano de 1912 assinala a fundação do Iguaçu Futebol Clube, mais tarde Esporte Clube Iguaçu”. Proprietários de chácaras de laranjas fundam bandas de música, constroem cinemas, inclusive em bairros do

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subúrbio do Rio de Janeiro. A cidade ganha um teatro. As ruas do Centro da cidade eram palco de festividades e animadas corridas de automóveis.

Figura 15- Lar de Joaquina, reminiscência do período dos laranjais

Fonte: o autor, 2014.

A residência em destaque era de propriedade de Antônio Vaz Teixeira, grande exportador de laranjas à época.

No processo de urbanização de Nova Iguaçu, esses símbolos de outrora foram subtraídos do espaço. Ganharam novos usos. Os cinemas, anteriormente presentes na Área Central da cidade, estão nos shopping centers da cidade, os clubes recreativos estão abandonados ou acabaram e não há mais bandas e orquestras municipais.

À medida que o tecido urbano espraiava e se impunha, as estruturas agrárias iam sendo corroídas, desestruturando as relações preexistentes. A chegada do novo transformava a pequena cidade, que assumia um importante papel na economia estadual. Novas ruas iam sendo abertas e sendo calçadas. São construídos hotéis para abrigar os empresários que realizavam suas transações financeiras e comercializavam as laranjas. Praças públicas iam sendo iluminadas. Segundo Lefebvre (1999, p. 17) “(...) estas palavras, “o tecido urbano”, não designam, de maneira restrita, o domínio edificado nas cidades, mas o conjunto das manifestações do predomínio da cidade sobre o campo”.

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Figura 16 - Anúncio da venda de automóveis de luxo para os segmentos mais abastados da cidade dos “Pomos de Ouro”

Fonte: 14 a 20 de abril de 2012, Correio da Lavoura, 1932, p. 03.

Nesse caminho, diante da crise dos laranjais, motivada pela baixa dos preços, pela presença da mosca do mediterrâneo nos pomares, pela eclosão da Segunda Guerra Mundial e, principalmente, pela expansão urbana do Rio de Janeiro se intensifica o retalhamento das terras (PACHECO, 1984, SANTOS, 1995, SOARES, 1962), que ganham novos usos.

Corroborando com essa ideia, Soares (1962, p. 1970) atesta

a baixada era preciosa demais para que lhe confiasse apenas o puro e simples papel de zona rural. A metrópole necessitava dessa área para instalar sua população em rápido crescimento e para localizar as suas indústrias... Iniciados, intensivamente, a partir de 1936, os trabalhos de saneamento da baixada, constituíram, eles o primeiro passo para sua recuperação...

O processo de incorporação da Baixada Fluminense e, particularmente Nova Iguaçu, à expansão urbana da metrópole fluminense combinou a ação de inúmeros agentes que atuam na produção social do espaço, dentre os quais, o Estado e o capital imobiliário. Já nos anos de

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1930, durante o apogeu da citricultura, esses agentes antecipavam o parcelamento das terras (ver figura 17) redefinindo esta área espacialmente, que deixava à retaguarda as atividades agrícolas e se configurava como lócus de moradia dos estratos de baixa renda e também fronteira da expansão industrial.

Figura 17 - Anúncio da venda de terras em Nova Iguaçu nos anos de 1930

Fonte: Jornal do Brasil, 04 Jun. 1938.

Diante do exposto, o espaço foi apropriado a partir da fragmentação de antigas chácaras e propriedades agrícolas e com a explosão imobiliária ganhou novos usos e o valor de troca se impôs ao valor de uso. Tornou-se mercadoria sendo, gradativamente, incorporado à metrópole, abrigando em seu interior as “cidades-dormitórios” e atividades industriais que ditavam novos ritmos ao processo de urbanização.

Com efeito, os loteamentos se tornariam rapidamente no modelo de incorporação dessa área pela metrópole carioca, sendo a solução para a recuperação do capital investido nas chácaras de laranjas, para a implantação de inúmeras indústrias e para o assentamento da população de baixa renda expulsa da Área Central do Rio de Janeiro. Acrescentamos ainda que esse processo movimentaria o mercado de terras realizando fortunas para as pequenas

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companhias imobiliárias, algumas de propriedade de antigos exportadores de laranjas, que iam surgindo.

O município iguaçuano, dessa forma, deixa à retaguarda a fase agrícola e os loteamentos despontam como novo eldorado da economia iguaçuana. Encerrava-se, desse modo, o período dos laranjais64 em Nova Iguaçu, “(...) o último suspiro agrário” (ALVES, 2003, p. 48) do município e se iniciava uma fase de intensa fragmentação das terras cujos lotes são vendidos em longas prestações e destinados à ocupação urbana dando outros usos às extensas áreas rurais.

A explosão desse processo nos municípios dessa área, entretanto, não foi acompanhada de melhores condições de vida para a população local, posto que os serviços relacionados à educação, transportes, saneamento básico, iluminação pública e segurança de competência do Estado, apresentavam condições precárias. A incapacidade do Estado em prover essas áreas de bens e equipamentos de consumo coletivo sinaliza o colapso social presente nessa fração do espaço face à ausência do poder público.

Decorrem, desse processo, o surgimento de lideranças populares e os movimentos sociais, através dos Movimentos Amigos de Bairros (MAB’s), que questionavam as ações de despejo e a realidade local, singularizada pelas péssimas condições de vida. Assim, além de abaixo-assinados e depoimentos à imprensa, eclodem formas outras de manifestações como a depredação e quebra-quebra dos trens diante dos atrasos e da superlotação e os saques aos estabelecimentos comerciais durante os anos de 1970 e 1980. Alves (2003, p. 67), ao analisar esse quadro, atesta que

em 1950, dos 78.042 domicílios da região, apenas 19% contavam com abastecimento de água a partir de uma rede geral. Dez anos depois, menos de 1/3 (26%) dos domicílios tinham acesso a água encanada. É nesse ano, também, que se tem o primeiro índice quanto aos domicílios servidos por uma rede geral de esgoto na região. Eles representavam apenas 10% do total.

Nas áreas loteadas, predominava o padrão da autoconstrução - prática que designa a construção descontínua da moradia do trabalhador pelos próprios trabalhadores auxiliados por profissionais (eletricistas, pedreiros, encanadores, pintores) - principalmente aos finais de semana estendendo, desse modo, a jornada de trabalho do mesmo. Essa prática ainda é comum nos bairros mais distantes da Área Central da cidade de Nova Iguaçu quando o grupo

64 A instituição da data de 22 de setembro em 1946 pela prefeitura local como o “Dia da Laranja” foi a última tentativa de retomar a vitalidade da citricultura no município de Nova Iguaçu. Atualmente, a data não apresenta nenhum significado para a população local que desconhece esse fato. Inclusive, no calendário de festas, onde estão inclusas a Festa do Aipim e a Festa de Santo Antônio, não há nenhuma referência a essa data.

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de trabalhadores se reúne nos finais de semana e feriados, em mutirão, para terminar a construção da casa.

A autoconstrução corresponde a uma estratégia e a uma resposta adotada pelos trabalhadores ao Estado e ao capital imobiliário quanto à questão habitacional. Nesse sentido, as moradias ou abrigos, presentes nesses loteamentos apresentam singularidades: casas ainda em fase de acabamento, precárias condições de equipamentos de luz, esgoto e abastecimento de água que, quase sempre estão presentes, nas ligações clandestinas - os “gatos”.

A forma de comercialização dos lotes ocorria em prestações que duravam, quase sempre, 10, 15, 20 anos da vida do trabalhador em valores pré-fixados. No entanto, com o avanço da inflação ocorreu, simultaneamente, o aumento das prestações através da correção monetária. Esse fato levou a conflitos entre os agentes loteadores que passaram a cobrar, ilegalmente, novos valores e os proprietários dos lotes que haviam comprado os terrenos em valores anteriormente pré-estabelecidos.

3.2 A urbanização desurbanizada em Nova Iguaçu: os loteamentos, rupturas e novos usos para o espaço

Deflagrada a crise dos laranjais, a “Cidade Perfumada” vai ficando no passado e a cidade rapidamente se transforma e, assim, “(...) a entrada e a ação das máquinas das firmas de terraplanagem (...) concretizam a transformação, o fim da chácara, a implantação de um loteamento” (SOUZA, 1992, p. 99). Os loteamentos substituem os pomares, os barracões silenciam65 e cedem lugar às indústrias. Surgem novos bairros e agentes. O espaço ganha conteúdos outros.

O panorama no município já não era mais o mesmo, dando origem e intensificando a urbanização desurbanizada. Intensificava-se, desse modo, a vida urbana em Nova Iguaçu trazendo consigo novos valores e hábitos66 que rivalizavam com as ideias da sociedade rural.

A esse respeito, Lefebvre (1999; p. 19) atesta que

65 Hoje esses barracões, símbolos do período da citricultura, são destruídos atendendo aos interesses do capital imobiliário, por exemplo, posto que, em seus lugares, são construídos condomínios residenciais. Esse processo apaga esses importantes referenciais da cidade. Como exemplo, mencionamos o barracão localizado nas proximidades da estação rodoviária de Nova Iguaçu para o qual estava sendo projetada a construção de um novo centro cultural. A destruição desse patrimônio da cidade ocasionou manifestações de historiadores, professores, agentes de movimentos culturais contrários a esse processo.

66 Frisamos, no entanto, que os novos padrões de comportamento, hábitos e valores - o consumo de utensílios de plásticos e a implantação de novas indústrias, por exemplo, repercutem no espaço local. A inserção na sociedade urbana ocasiona o consumo das garrafas pet que ora são comercializadas nos diversos ferros-velhos da cidade ou tem como destino os rios que cortam Nova Iguaçu ocasionando grandes inundações no período de chuvas. Outro

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na base econômica do “tecido urbano” aparecem fenômenos de uma outra ordem, num ouro nível, o da vida social e “cultural”. Trazidas pelo tecido urbano, a sociedade e a vida urbana penetram nos campos. Semelhante modo de viver comporta sistemas de objetos e sistemas de valores (...) a água, a eletricidade (...) televisão, utensílios de plástico, pelo mobiliário “moderno”, o que comporta novas exigências no que diz respeito aos “serviços”. Entre os elementos dos sistemas de valores, indicamos os lazeres ao modo urbano (danças, canções). E também as preocupações com a segurança, as exigências de uma previsão referente ao futuro.

Nessa lógica, a conversão das terras rurais para loteamentos destinados à ocupação urbana simbolizou a ruptura com uma cidade idealizada pela elite agrária do município “(...) com as ideias de uma cidade e de um mundo agrário” (SOUZA, 1992, p. 08). Nessa inflexão, a vida urbana emerge, gradativamente, as transformações ocorrem no tempo e no espaço e a cidade ganha novos aspectos e dinâmicas. Os novos usos da terra em Nova Iguaçu transformaram paisagens rurais em loteamentos urbanos e também terrenos baldios67 (GEIGER E MESQUITA, 1956).

Dentre outras transformações fomentadas por essa transição da “Cidade dos Laranjais”

para “Cidade-Dormitório” cumpre mencionar que, com a intensa fragmentação das terras, despontaram novas formas de economia que movimentavam o mercado de trabalho local, estratégias para a inserção na produção social do espaço. Com efeito, no entorno dos loteamentos proliferaram vendinhas, mercadinhos, biroscas, pequenos bares e lojas de material de construção que atendiam, através do ‘pendura’, do ‘fiado’ e outras formas de crédito, à população que passava a residir nessas áreas. Segundo Soares (1962, p. 37)

(...) verdadeira febre de construções proporciona trabalho em Nova Iguaçu a 27 firmas construtoras, 11 fabricantes de esquadrias, assim como a inúmeras olarias e pequenas fábricas de artefatos de cimento, existentes em localidades próximas. Muitos são aqueles, em Nova Iguaçu, que vivem de atividades ligadas à indústria de construção e aos negócios imobiliários. Numerosas, também, são lojas-escritórios, instaladas no centro, que exibem planos de numerosos loteamentos, muitos deles situados em outros distritos...

Se, durante o período da citricultura, a fragmentação das terras teve menor intensidade, após a decadência dos laranjais, os loteamentos ganharam maior velocidade e

exemplo é a falta de água, problema histórico em frações do espaço metropolitano fluminense, em determinados bairros de Nova Iguaçu. Há relatos de moradores que isso passou a “existir com a chegada de indústrias aqui” e, como consequência, aumentou o consumo de luz elétrica, pois esses moradores tiveram que usar bombas d`´agua para “puxar água da rua”. Para além destes, acrescentamos a poluição dos rios e atmosférica oriunda destas indústrias agravando os problemas de saúde e o atendimento médico-hospitalar nas Unidades de Pronto Atendimento em Nova Iguaçu.

67 Nos dias atuais, esses espaços são utilizados como campinhos de futebol, áreas de “lazer” para as crianças e adultos soltarem pipas, pastagem do gado e de cavalo, despejo de lixo, dentre outros usos menos agradáveis.

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transformaram de forma vertiginosa as terras do município (ver quadro 6). Diante da febre imobiliária, o município em nada mais lembrava aquela cidade do início do século, com apenas duas ruas margeando a via férrea por onde se distribuíam o pequeno comércio e algumas residências.

Quadro 6 - Número de loteamentos aprovados - Nova Iguaçu

Fonte: Costa (1979).

O que se constata através dos dados apresentados é que até os anos de 1939 o número de loteamentos era bastante reduzido, processo explicado pela valorização da terra durante o período de sucesso e apogeu da citricultura, que resguardou as terras municipais da onda loteadora crescente. Posteriormente, se observa uma intensificação do parcelamento das terras atingindo o seu ápice no período compreendido entre os anos de 1950 até os anos de 1960 quando a “(...) onda urbanizadora tinha, pois, atingido os seus limites atuais. Os anos seguintes iriam se caracterizar mais pelo adensamento dessa frente pioneira urbana do que pelo seu avanço no espaço” (ABREU, 1987, p. 111).

Ao ser entrevistado sobre essa questão, Jonas Farias, proprietário da companhia imobiliária Jonazzer, nos respondeu: “- Nessa época abriam muitos loteamentos. Nas décadas de 1960, 1970, 1980 a Baixada Fluminense - Nilópolis, Queimados, Belford Roxo. Tudo explodiu em loteamentos.”

A onda loteadora não trouxe uma rentabilidade imediata, posto que havia áreas que foram loteadas em péssimas condições de infraestrutura, sem arruamentos, iluminação pública e calçamento, dificultando a venda dos lotes.

Esse processo contou com a conivência e omissão da prefeitura local, que facilitava o processo de construção de casas, fazia “vista grossa” ao abandono das obras de urbanização e às exigências para a legalização do loteamento gerando conflitos entre os diversos agentes envolvidos, que reivindicavam a regularização e a urbanização dos loteamentos. Diante do exposto, “(...) nessas relações entram em jogo mecanismos de negociação, cooptação e clientelismo, aos quais a corrupção não é estranha” (CORRÊA, 2011, p. 46) e faz parte da dinâmica, das ações e estratégias, nem sempre legais, que os envolvem.

Até 1939 40-49 50-59 60-69 70-76 TOTAL

Loteamentos 10 317 874 430 204 1.835

Lotes 1.177 25.592 166.816 72.293 45.572 311.450

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Alguns desses foram realizados clandestinamente68 e, até hoje, permanecem quase que na mesma condição precária de outrora não obedecendo às exigências mínimas para sua implantação. Em alguns casos, havia apenas a assinatura de um termo de compromisso no qual o agente loteador se comprometia a realizar as obras exigidas pela prefeitura municipal.

Ao analisar essa relação, Josimar Farias nos informou que

- No passado, a relação com a Prefeitura era muito boa. A Prefeitura de Nova Iguaçu não dificultava os loteamentos. Os novos prefeitos (...) dificultavam a legalização das terras. Incentivava a população a invadir e quebraram os loteamentos. Ocorreram invasões que viraram favelas.

Nessa trajetória, ruas perpendiculares à via férrea iam sendo abertas por pequenas empresas imobiliárias e a forma linear ia, gradativamente, sendo substituída por um novo traçado, que se direcionava ao ‘interior’ da cidade diante dos loteamentos alterando, assim, a morfologia da cidade que crescia vertiginosa e desorganizadamente (ver figura 18).

As áreas mais próximas do Centro foram preservadas como reserva de valor e destinadas aos segmentos de alta renda que construíram nessa área suas mansões, que, se configuram como capital simbólico, reminiscências do período da citricultura.

O embrião do processo de urbanização do município nos remete ao período áureo da citricultura que fomentou uma época de progresso e desenvolvimento para a cidade. Para uma melhor compreensão desse processo é necessário recorrer ao período dos laranjais. Dotada de infraestrutura e aparelhada por indústrias, agências bancárias e hospitais, iluminação pública e implantação da rede de esgotos a cidade passa a atrair migrantes que chegavam ao Rio de Janeiro, atraídos pela oferta de trabalho na citricultura e também no setor industrial.

Para Abreu (1987, p. 96) o crescimento populacional da Baixada Fluminense e de Nova Iguaçu estava relacionado ao crescimento demográfico do Rio de Janeiro motivado pelos seguintes fatores:

(...) o mais importante de todos foi, sem dúvida, o crescimento industrial da cidade, que passou a atrair mão-de-obra numerosa, de início proveniente dos estados mais próximos e, a partir da década de 1940, com a construção da Rodovia Rio-Bahia, também dos estados nordestinos. Este aumento populacional via migração, por sua vez contribuiu em muito para o crescimento dos subúrbios, especialmente daqueles situados nas proximidades das fronteiras do Distrito Federal (Pavuna, Anchieta) ou além dela já nos municípios da Baixada Fluminense.

68Segundo Lago (1990, p. 24), os loteamentos são considerados clandestinos quando: “(...) não tem projeto aprovado pela autoridade municipal. Neste caso, além da não conclusão das obras de urbanização há, normalmente, irregularidades quanto ao título de propriedade da terra”.

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Figura 18 - A expansão da cidade na primeira metade do século XX

Fonte: Soares, 1962.

As ações do Estado, através da eletrificação da via férrea, abertura de rodovias e do saneamento de extensas áreas da Baixada Fluminense e também de Nova Iguaçu, representaram condições favoráveis para a dilatação da metrópole em direção à cidade favorecendo a implantação de indústrias.

3.3 Da desindustrialização relativa à expansão do terciário

A transição da sociedade agrária-rural-exportadora para uma sociedade urbana- industrial no país ocorre, num processo dialético, com rupturas e permanências face aos novos ideias que emergiam e a manutenção de estruturas sociais e econômicas arcaicas que dificultavam o avanço da sociedade.

Segundo Simões (2011, p. 152) “na Baixada Fluminense começa a instalação de algumas indústrias próximas ao centro dos distritos, mas de forma ainda bastante incipiente”.

Posteriormente, essas indústrias irão se instalar às margens dos grandes eixos rodoviários,

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Washington Luís e Presidente Dutra, por exemplo. A ampliação da malha rodoviária e a oferta de terras baratas provocaram uma desconcentração industrial, evidenciando a relocalização industrial, guiada por interesses de cunho estatal ou do capital privado.

As riquezas oriundas da citricultura fomentaram, à epóca, um pequeno surto industrial com a instalação de indústrias de embalagens, bebidas, alimentos e vestuário que atendiam às necessidades da cidade. Pereira (1977, p. 141/142) atesta que

Para atender às necessidades dos exportadores de frutas, surgia a indústria de fabricação de caixas (...) instalação dos primeiros estabelecimentos industriais (...) dezenove indústrias estavam operando no município (...) 10 de cerâmica, 2 de banha, 2 de explosivos, 2 de produtos químicos, 1 de biscoitos, 1 de cerveja e 1 de curtume.

Acompanhando as transformações presentes no país - intensificação da urbanização e crescimento econômico - a cidade apresenta, pós anos de 1950, um novo surto industrial, na tentativa de reverter a queda de tributos face a emancipação dos municípios de Duque de Caxias, São João de Meriti e Nilópolis (ABREU, 1987). À luz dessa temática, Rodrigues (2006, p. 76) afirma que

entre os grandes estabelecimentos industriais localizados em Nova Iguaçu destacam-se a Bayer do Brasil Indústrias Químicas S.A., Cia Dirce Industrial, Cia Mercantil e Industrial Ingá, Cia de Canetas Compactor, Forjas Brasileiras S.A., Indústrias Granfino S.A., Duque Industrial e Comercial S.A., Brasferro Laminação de Ferro S.A., Indústria de Pneumáticos Firestone S.A., S.A. Marvin (parafusos e pregos), Rupturistas S.A.

(explosivos), Usimeca (Usina Mecânica Carioca S.A.), Fábrica de Tecidos Cachambi e Fábrica de Cigarros Souza Cruz.

A industrialização deu uma identidade à cidade, criou novos sistemas de objetos e valores e provocou uma ruptura com a cidade idealizada por esse segmento - a cidade onde todos se conheciam e as relações eram cordiais e que, posteriormente, foram deterioradas diante da chegada dos “forasteiros” (SOUZA, 1992).

O período áureo da industrialização na cidade ocorreu nos anos de 1970, quando a indústria local empregou 19.000 trabalhadores, com destaque para as metalúrgicas e de gêneros alimentícios. Após o “boom industrial”, observa-se, nos anos de 1980, a redução do fôlego do setor industrial da cidade com o fechamento ou a perda de importantes indústrias para outros municípios - Forjas Brasileiras S.A. (em Queimados) e a Bayer do Brasil (em Belford Roxo), indicando uma “desindustrialização relativa”, a partir de um processo de emancipações que afetou o município.

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A indústria em Nova Iguaçu, no entanto, não perdeu a sua força no âmbito municipal se constituindo como um elemento importante na composição do PIB do município, embora o setor de serviços tenha suplantado a indústria (ver quadro 7).

Quadro 7- Produto Interno Bruto (Valor Adicionado) em Nova Iguaçu

Variável Nova Iguaçu

Agropecuária 6.497

Indústria 1.831.749

Serviços 6.115.492

Fonte: http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/economia, 201369.

No setor industrial, ganham destaque os seguintes segmentos no município:

cosméticos e artigos de perfumaria, madeira e mobiliário, material de transporte, produtos alimentares, metalurgia e química, dentre outras. Em contrapartida, os setores de calçados, fonográfico, ourivesaria e bijuterias, equipamento de material médico-hospitalar, papel e celulose, bebidas e farmacêutica têm pouca expressividade no cenário municipal (ver gráfico 1).

A desindustrialização relativa decorre da fragmentação (ver figura 19) municipal face à emancipação dos municípios de Queimados (1990), Japeri (1993), Belford Roxo (1993) e Mesquita (2001). Esse processo resultou na perda de frações do território e, consequentemente, impactou a economia local, com a redução de postos de empregos e arrecadação municipal, por exemplo. Diante disso, a prefeitura local buscou novas estratégias e possibilidades com o intuito de atrair investimentos e novas indústrias à cidade somando-se às indústrias anteriormente estabelecidas.

Ao capital local onde estão presentes a Niely Cosméticos, Skaff, Aroma do Campo e Granfino se somam novas indústrias - L` Óreal, Danone e Ambev e empresários oriundos de outros locais, de outras regiões do país e, até mesmo, de outras nacionalidades, que também contribuem para a produção do espaço e o avanço da urbanização em Nova Iguaçu.

69 Disponível em:http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/economia.php?lang=&codmun=330350&search=rio-de- janeiro|nova-iguacu|infográficos:-despesas-e-receitas-orçamentárias-e-pib. Acesso em: 12 de julho de 2016.

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Gráfico 1 - Participação de diferentes gêneros na Indústria de Transformação na composição do PIB

Fonte: TCE, 2008.

Apesar da relevância do setor de madeirae mobiliário este não será tratado nesta tese.

Secretario Municipal de Urbanismo, Geovani Guidone, quando questionado sobre a chegada de novas indústrias respondeu desta forma

- Infelizmente Nova Iguaçu na sua divisão (...) começou com Belford Roxo, que levou o Distrito da Bayer (...) depois veio Queimados e levou o distrito (...) Depois vem Mesquita que levou o Porto Seco. Pela posição geográfica de Nova Iguaçu a gente está esperando que o Arco Metropolitano responda (...) porque ele seria mais um vetor para atrair indústrias de médio e grande porte que precisam estar localizados em lugares de fácil escoamento70.

70 No entanto, face às calamidades presentes no estado do Rio de Janeiro resultantes da grave crise política e econômica projetos de novos empreendimentos imobiliários e instalações industriais, como a instalação de uma

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Figura 19- A fragmentação territorial de Nova Iguaçu

Fonte: Material de propaganda da PMNI, 2016.

Prossegue o referido entrevistado ao informar quais as condições vantajosas oferecidas pela prefeitura local

- A gente já fez um planejamento para atrair essas empresas de grande porte (...) A gente vinha negociando com indústrias a instalação ao longo do Arco Metropolitano. A Dutra hoje está zerando o seu estoque de terras. No sentido Rio eu tenho duas grandes áreas vazias (...) A primeira grande área vazia é a de Furnas. A gente tá tentando negociar com Furnas e a Codin (...) Já fizemos até um projeto pro Distrito Industrial (...) Mas a gente tem que resolver a questão da terra (...) Inclusive era uma montadora de veículos internacional (...) A ideia era expandir o Distrito Industrial ( de Queimados -

montadora de automóveis internacional às margens da Rodovia Presidente Dutra foram paralisados, nas proximidades do Art Sul Futebol Clube.

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grifo nosso) pra Nova Iguaçu com uma ponte sobre o rio Guandú, interligando as duas áreas.

Nesse caso, evidencia-se a relação entre o Estado, representado pela Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu, que atua como negociante com outros agentes tendo como intuito o interesse do capital, alterando a legislação local e criando espaços apropriados às grandes empresas.

Com a implantação de novas unidades industriais, despontam novas necessidades com relação aos serviços destinados às empresas e, como exemplo, mencionamos as empresas de táxis aéreos, criadas nos anos de 1990. Essas empresas prestam serviços aos empresários locais e elementos exógenos através de uma rota que conecta Nova Iguaçu à Barra da Tijuca, reduzindo o tempo de deslocamento entre essas áreas.

O depoimento do Comandante Silva, presidente do heliporto da cidade, criado no ano de 2011 e o único da Baixada Fluminense credenciado junto a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) enriquece esse quadro

- Os voos atendem aos empresários locais que moram na Barra e que tem suas empresas aqui em Nova Iguaçu. São, em média, três voos diários. São diversos empresários. O Daniel de Jesus da Niely. O Bruno da Skaff. O prefeito também tem uma aeronave que pousa aqui (...) Eles saem do Recreio dos Bandeirantes através de uma companhia de táxi aéreo. Alguns têm helicópteros particulares. Descem aqui e vão para as suas empresas. Para o Distrito Industrial (de Queimados - grifo nosso). Eles sobrevoam a área quando querem comprar.

Face à expansão das indústrias e dos serviços, indutores do atual processo de urbanização em Nova Iguaçu, há estudos juntos a ANAC para a implantação de voos regionais no aeroporto local conectando a cidade ao Norte fluminense e às cidades de outros estados (ver mapa 7). Salientamos, no entanto, que devido à grave crise política e econômica no cenário nacional e, principalmente, no Estado do Rio de Janeiro, esse projeto foi adiado.

Prossegue o referido comandante quando questionado a respeito da ampliação do número de voos

- São voos regionais. Tem uma possibilidade da Azul colocar (...) porque 70% da mão- de-obra das plataformas de petróleo moram na Baixada Fluminense. E aí existe uma possibilidade da Azul colocar um avião para atender aqui... Macaé, Campos, Vitória (ES), Juiz de Fora e Belo Horizonte (MG), Campinas e São josé dos Campos (SP).

(17)

Nesse contexto de mudanças, se redefine a divisão territorial do trabalho e ganha força a lógica da distribuição espacial dos investimentos e da indústria, beneficiada por ações do Estado - implantação de infraestruturas, abertura de rodovias, isenção fiscal e redução de impostos - que se desloca para espaços atrativos e selecionados do espaço metropolitano - Duque de Caxias, São Gonçalo e Nova Iguaçu, po exemplo, alterando os seus usos e funções.

Mapa 7- Projetos de voos regionais em Nova Iguaçu

Fonte: IBGE, 2013. Adaptado por Santos, 2016.

Esse processo estende a presença da metrópole, fomentando a articulação entre pontos diferentes desta fração do espaço, que se desenvolve a partir das atividades relacionadas ao setor da indústria e serviços, incorporando frações do território anteriormente desvalorizadas, espaços marginais, onde se promove a reprodução do capital.

(18)

Com efeito, novos espaços vão sendo (re) produzidos, novas áreas vão sendo integradas e/ou excluídas desse processo. A chegada de modernas indústrias e também de atividades terciárias alteram a Geografia local, modificam as relações cotidianas e desconstroem as relações anteriormente estabelecidas. São impostas novas dinâmicas, relações e fluxos que articulam o local às escalas regional, nacional e ao global.

Apesar da retomada do fôlego industrial com a chegada de novas indústrias, o que se observa é uma reestruturação produtiva na metrópole fluminense que repercute na escala local com o avanço do terciário em Nova Iguaçu. Expandem-se os serviços pessoais (agências de turismo, bus party, limousines, buffets, academias de ginástica, escritórios de arquitetura e clínicas de estéticas) e destinados às empresas (locadora de automóveis, empresas de segurança, de táxi aéreo, casas de câmbio e setor de hotelaria, entretenimentos), indicadores que comprovam o avanço do terciário na cidade.

A chegada de novos estabelecimentos associados ao terciário, prestando serviços pessoais, como por exemplo as delicatessen, (ver figura 20), repercutem no espaço local, alterando os padrões de comportamento, valores e hábitos cotidiano. Aos finais de semana é comum observar a presença de famílias se deslocando para estes espaços para saborear o

“café da Juju” ou, então, após o horário escolar constatar a presença de jovens da classe média local, consumindo estes espaços ou as lanchonetes de marcas renomadas - Subway, Mc Donald`s, Bobs, Giraffas e Vikings71.

Antigas instalações de fábricas, indústrias e parking houses, anteriormente abandonados, foram materialmente apagadas do espaço e outras refuncionalizadas, sendo apropriadas e transformadas segundo diversos interesses. Ganharam novos usos e conteúdos com a presença de galerias comerciais, revendoras de automóveis, estacionamentos, danceterias, casas de festas e espaços de entretenimento - paint ball e corridas de kart. Essas instalações, anteriormente capital inerte e entraves ao desenvolvimento do capital, cederam lugar a novos investimentos, alteraram o valor do solo urbano e imprimiram novos conteúdos à urbanização da cidade.

71 Ocorre, desse modo, uma (re) descoberta da periferia e, por Nova Iguaçu, recorte espacial desta pesquisa.

Essas lanchonetes estão presentes nos bairros de Comendador Soares, Miguel Couto e nas ruas do Centro e também nos shopping centers da cidade. Nos bairros periféricos ainda é comum ir aos trailers, às lanchonetes e às padarias para consumir hamburgers, hot dogs e outros lanches. Mas, num processo inverso há investimentos locais - Vikings de propriedade de um ex - professor de Geografia da cidade, que já planejam se deslocar para bairros da cidade do Rio de Janeiro.

(19)

As transformações atualmente em curso no espaço iguaçuano não devem ser analisadas isoladamente, apenas pelos pequenos movimentos realizados no âmbito local, também produtores do espaço. Devem ser, também, compreendidas à luz das dinâmicas das ações exógenas, grandes movimentos que conduzem a cidade em sua relação com o global.

Segundo Santos (2008a, p. 339), a apreensão da nova realidade do lugar deve compreender o tratamento localista e o mundial, posto que “(...) cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão global e de uma razão local, convivendo dialeticamente”.

Figura 20 - Novas ofertas de serviços pessoais presentes na cidade

Fonte: o autor, 2015.

A presença de novos empresários endógenos e exógenos, a maior heterogeneidade social e os modernos empreendimentos imobiliários presentes nessa fração do espaço devem,

(20)

portanto, ser compreendidos face às transformações que ocorrem na metrópole fluminense diante da sua inserção no mercado global.

Esse processo ocorre via novas dinâmicas do setor industrial e a crescente modernização do terciário que repercute na estrutura econômica estadual e na reconfiguração espacial do espaço metropolitano (ver gráfico 2) com a desconcentração de atividades anteriormente polarizadas no núcleo metropolitano, vide o setor de hotelaria. As mudanças na estrutura econômica do Estado do Rio de Janeiro impactam o espaço metropolitano e provocam

(...) o surgimento de novas centralidades, associadas ao setor de comércio e serviços, bem como à revitalização de atividades industriais tradicionais (estaleiros e indústria pesqueira) e à implantação de novos empreendimentos (siderurgia, petroquímica, terminais marítimos, portos comerciais e infraestrutura viária). Merecem destaque o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), o Arco Metropolitano e o Porto Centro Atlântico do Complexo Industrial da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) (IPEA, 2015, p. 2015).

Gráfico 2 - Municípios com maiores participações no setor de serviços - RMRJ (%).

Fonte: IPEA, 2015. Adaptado por Santos.

Essas transformações expressam a relevância do setor de serviços no espaço metropolitano fluminense com destaque para a diferença entre a cidade do Rio de Janeiro e os

0 10 20 30 40 50 60

Rio de Janeiro Duque de Caxias São Gonçalo Niterói Nova Iguaçu

(21)

municípios supracitados, justificado historicamente pela relevância histórica, política e econômica da metrópole fluminense. No cenário contemporâneo, o terciário dinamiza a economia da metrópole fluminense (ver quadro 8) e dos municípios periféricos, como Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Itaguaí, Saõ João de Meriti e São Gonçalo, criando novos eixos de deslocamento interurbanos (IPEA, 2015).

Quadro 8 - Região Metropolitana do Rio de Janeiro: VAB (Valor Adicionado Bruto), por atividade econômica, por municípios selecionados (2010)

Municípios Total Agropecuária Indústria Serviços Administração Pública RM Rio de

Janeiro

223.251.952 217.436 39.431.400 183.603.11 7

46.784. 823

Rio de

Janeiro

147.725.431 59.037 22.461.765 125.204.62 9

26.013.040 Duque de

Caxias

23.385.796 7.923 8.456.113 14.921.760 3.434.869

Guapimirim 451.940 8.110 77.858 365.972 195.074

Itaboraí 2.036 10.718 352.041 1.673.618 827.812

Itaguaí 2.657.054 51.332 271.244 2.370.478 489.996

Japeri 856.779 2.585 85.351 768.842 353.681

Mesquita 1.444.429 365 183.186 1.260.877 598.263

Nilópolis 1.573.875 --- 176.785 1.397.090 585.061 Niterói 9.706.492 15.696 1.767.084 7.923.713 2.893.927 Nova Iguaçu 8.577.247 8.321 1.246.947 7.321.979 2.893.927 Queimados 1.515.589 2.967 463.179 1.049.443 513.858 São Gonçalo 9.643. 28.491 1.434.855 8.180.538 3.509.938 São João de

Meriti

4.448.482 908 433.225 4.014.349 1.620.412 Belford

Roxo

4.160.474 2.357 974.480 3.183.638 1.702.875 Fonte: CEPERJ, 2010 apud IPEA, 2015, p. 14.

Esse processo ganha repercussão e a periferia metropolitana do Rio de Janeiro é, então, apropriada pela metrópole no sentido da produção do espaço abrigando outros conteúdos e sinalizando uma urbanização que se exprime face às novas dinâmicas na metrópole da indústria e do terciário.

A inserção da cidade no cenário competitivo metropolitano, via indústria e o terciário, amplia e promove uma reestruturação, uma guinada nos caminhos econômicos do município, impactando nos contornos da urbanização iguaçuana. Esse aspecto se evidencia na proposta presente no Plano Estratégico da Cidade de Nova Iguaçu (2000, p. 43) que tem como objetivo

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“(...) tornar a cidade importante centro logístico e industrial, tirando partido de suas potencialidades (...) pólo de perfumaria e cosméticos (...) reforçar o papel histórico de pólo comercial e de serviços”, no cenário metropolitano.

Nesse processo de transformações, a ordem local penetrada pela ordem global não desaparece por completo e os territórios resistem ou são absorvidos pelas forças regionais, nacionais e/ou globais que fomentam a produção do espaço, articulando novos fluxos que conectam a escala local às diferentes escalas, tornando a arquitetura entre as cidades metropolitanas mais dinâmica e complexa. Gottdiener (2010, p. 66) corrobora com essas ideias “(...) as mudanças importantes da padronização social e da reestruturação urbana ocorreram porque são funções de mudanças do sistema social maior, e não porque sejam produtos de processos internos aos próprios lugares.”

A contemporaneidade distingue-se dos períodos precedentes quando, inicialmente, a agricultura e, posteriormente, a indústria, moldaram a produção social do espaço na cidade iguaçuana. No momento atual, as atividades industriais e terciárias se constituem como fio condutor do processo de urbanização da cidade e essa, então, se transforma e ganha uma nova morfologia e arquitetura, embora tragam consigo heranças de outras sociedades. Como consequência, “(...) o ambiente construído se constitui como um palimpsesto de paisagens moldadas segundo os ditames de diferentes modos de produção em diferentes estágios do seu desenvolvimento histórico (HARVEY, 2013, p. 315).

As transformações recentes no processo de urbanização da cidade acompanham as suas novas orientações econômicas com a transição da indústria para o terciário posto que:

“(...) a estrutura econômica define (des) contornos da cidade, interferindo na produção do espaço urbano e tomando parte de novos modos de urbanização” (PACHECO, 2003, p. 02).

Conforme foi dito anteriormente, vale salientar que os conteúdos são outros, surgem novos agentes sociais, despontam novas formas de lazer, de morar, modernas formas de consumo, da fruição do tempo e relações de sociabilidade, enquanto outras são desconstruídas.

A contemplação das fachadas e das vitrines, da beleza da cidade e o flâneur, desaparecem, os ritmos mais lentos perdem espaço nas metrópoles e a vertigem se torna hegemônica alijando os menos favorecidos e os mais lentos. Lefebvre (2006, p. 50) assevera que “(...) no seio desse espaço, a reprodução das relações sociais de produção não se consuma sem um duplo movimento: dissolução de relações, nascimento de novas relações”.

O espaço público, então, quase que desaparece e apresenta usos limitados, as praças, ruas ganham novos usos e funções, o sentimento de pertencimento se esvai tomado pelas novas relações de produção, pela moradia nos clubes residências, cercados de grades e

(23)

aparelhos modernos de segurança, que monitoram as ruas evitando o outro lado do muro e agudizando o processo de autossegregação.

As transformações também estão presentes na arquitetura e nas coberturas iluminadas da cidade quando despontam empreendimentos residenciais, comerciais e de serviços atendendo, principalmente, aos privilegiados e “notáveis” da cidade. A fusão entre o capital imobiliário e o capital financeiro ganha força e provoca a reestruturação da cidade, hierarquizando e fragmentando o espaço, intensificando as distâncias físicas e sociais da mesma.

A ação desses não se distribui igualitariamente do ponto de vista espacial, pois estão concentrados nas áreas mais valorizadas da cidade e se materializam através de grandes empreendimentos associados à gestão do capital, à moradia, aos serviços e ao lazer reforçando, num duplo caminho, a fragmentação e a homogeneização do espaço posto que esses se relacionam com a ordem distante e não dialogam com o seu entorno.

Em Nova Iguaçu, esses espaços estão concentrados, historicamente, no sopé da Serra de Madureira, lócus residencial dos segmentos de alta renda e dos empresários da cidade (ver figura 21), embora se observe um movimento incipiente de desconcentração dessas classes e a chegada de novos moradores, oriundos de bairros como Miguel Couto e Comendador Soares.

Reportando-nos a Soares (1962, p. 234)

(...) em uma parte da encosta se instalou o bairro residencial elegante de Nova Iguaçu (...) aí surgiu uma área de belas residências, onde habita o escol da cidade, constituído por aqueles que exercem com êxito, em Nova Iguaçu, profissões liberais, ou por elementos abastados do comércio, da indústria e da administração locais (...) A instalação recente de uma classe abastada neste local pode ser atribuída ao fato de ter sido a única área disponível, vizinha do “centro” (...) Além disso, a situação elevada deste bairro faz com que seja beneficiado por permanente ventilação...

Esse quadro é enriquecido pelo depoimento de José Ricardo Ferreira, construtor civil e morador desse bairro, ao ser indagado a respeito da escolha dessa área pelos segmentos de alta renda da cidade, respondeu que

- A rua Doutor Thibaú era acesso direto ao Centro. O pessoal mais abastado foi parar ali pela proximidade do Centro. Quem morava ali era a Família Rosalém. O seu Leca, ex- vereador e dono de metalúrgica. O Paulo Fróes de Machado, que era advogado. O seu Agostinho, dono do Areal Brasil. Luís Mello, dono de companhia imobiliária no período da laranja. O exportador Vaz Martins, que era um grande laranjeiro.

Nas ruas desse bairro, dentre elas a rua Ivan Vigné (antiga Dr. Thibaú- ver mapa 8) instalou-se a elite local, fixando suas residências aproveitando-se da proximidade da Área

(24)

Central e também das amenidades naturais, como por exemplo, a ventilação e as áreas verdes da Serra de Madureira, o silêncio, o canto dos pássaros e a oferta de serviços qualificados (SANTOS, 2008).

Figura 21 - Vista parcial do bairro residencial elegante de Nova Iguaçu, destacando a Rua Ivan Vigné no Centro da cidade

Fonte: o autor, 2015.

Nessa área, foi criado o bairro produzido para atender a porções de renda mais elevadas da cidade onde estão presentes imponentes edifícios residenciais que modificam a paisagem e denotam status, posto que são

(...) símbolos da modernidade e status social, os prédios residenciais tendem (...) a ratificar o valor simbólico, e de mercado, de áreas adjacentes ao núcleo central de negócios, áreas que em um passado recente eram habitadas pela população de alto padrão social. O sentido simbólico transparece nos folhetos de publicidade dos imóveis e nos nomes a eles conferidos, nomes de personalidades locais ou de expressão nacional - proprietários fundiários, nobres, burgueses e intelectuais - ou de lugares e objetos que denotam poder, prestígio e status social (CORRÊA, 2005, p. 154/155).

A criação desses bairros atende às intencionalidades do capital imobiliário e dos segmentos de alta renda que podem pagar pelos serviços ofertados, pela residência em áreas exclusivas, pelo prestígio social dos vizinhos e de estar entre os seus, pela qualidade dos

(25)

equipamentos coletivos presentes e representações simbólicas que os seus habitantes fazem do bairro.

Mapa 8 - Localização espacial da Rua Ivan Vigné, na Área Central de Nova Iguaçu

Fonte: o autor, 2016.

O crescimento e a concentração desses condomínios, no entanto, agravam os problemas associados ao trânsito caótico, à insegurança, à poluição sonora, ao esgotamento sanitário e à escassez de água (SANTOS, 2008). Em relação ao abastecimento de água, a Região Metropolitana do Rio de Janeiro é atendida em

(...) 88% de sua população, por meio de uma rede de 18.518,90 km de extensão, que representa aproximadamente 62% do total do estado (Ceperj, 2012). Em termos absolutos, os municípios com a maior quantidade de pessoas atendidas são: Rio de Janeiro, São Gonçalo, Nova Iguaçu e Duque de Caxias. De acordo com a empresa Águas de Niterói, responsável pelo abastecimento de água neste município, 100% da população niteroiense é atendida por este serviço. Seguem-se os municípios de Nilópolis, Rio de Janeiro e Nova Iguaçu, com mais de 90% cada (IPEA, 2015).

Nesse caminho, incrementa-se o consumo de serviços como fornecimento de carros pipas (ver figura 22) obrigando, em algumas situações, num processo dialético, os moradores a subir nos elevadores dos condomínios residenciais com baldes de água. Essas contradições se expressam também no discurso de moradores: “(...) não adianta nada morar em

(26)

apartamentos ou casas no valor de 1 milhão e não ter água e a rua enche quando chove meia hora” ao criticar o processo de urbanização da cidade.

Figura 22 - Contratação de carros pipas nos condomínios de Nova Iguaçu

Fonte: o autor, 2015.

Na dialética presente, a produção social do espaço não aboliu as questões e os problemas da sociedade anterior. As crises não foram solucionadas e se superpõem e a falta d`água, problema histórico, que atinge os desfavorecidos afeta também às classes privilegiadas e às periferias, entrelaçando a dupla face desse processo.

Na etapa atual da urbanização, a implantação de novas indústrias, principalmente a expansão do setor de cosméticos, em diferentes frações do território, impactam e remodelam o espaço urbano, induzindo e desencadeando, assim, demandas de outros serviços e propondo uma nova etapa da urbanização em Nova Iguaçu.

(27)

3.4 Novas dinâmicas industriais: a indústria de cosméticos em Nova Iguaçu

Nesse caminho da produção social do espaço, ganha destaque a expansão das indústrias de cosméticos e perfumaria localizadas em Nova Iguaçu, expoente polo desse setor no país, que atuam na escala regional, nacional e internacional escoando parte da sua produção para o mercado mundial. O desenvolvimento dessa indústria se articula à implantação da indústria química e sua cadeia produtiva no Rio de Janeiro, com destaque para a Refinaria da Petróbras, no município de Duque de Caxias.

Essa refinaria processa e transforma o óleo bruto em derivados básicos sendo, então, re-elaborado por outras empresas de diferentes portes, dentre elas a Bayer, localizada no município de Belford Roxo (SIMÕES, 2011). Assim

(...) no entorno do município, na região da Baixada, há, porém, especialização em petróleo, gás e derivados em Duque de Caxias e plástico em Duque de Caxias, Nova Iguaçu e São João de Meriti, atividades que são relacionadas à química. O cluster de cosméticos em Nova Iguaçu (...) representa capacitação deste município na fabricação de cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene pessoal e no comércio atacadista e varejista destes produtos (SEBRAE, 2014, p. 40).

Essas indústrias assinalam um crescimento vertiginoso no país, apresentando índices superiores (9,2% a.a.) ao Produto Interno Bruto (2,8% a.a. ) e aos demais setores industriais (1,9% a.a.), respectivamente. Segundo Rios (2010, p. 18), esse cenário também tem atraído

“(...) novos investidores, como o empresário Henrique Alves Pinto, ex-controlador da construtora Tenda - adquirida pela Gafisa - que comprou a mineira Água de Cheiro. Depois de um período de decadência, a empresa voltou à mídia, mudou o logotipo, o layout das lojas e abriu 30 unidades pelo país”.

Acrescentamos ainda a financeirização desse setor que pode ser constatada na entrevista concedida por Marcelo Rago, gerente comercial da Aroma do Campo. Segundo ele, houve a compra e a fusão das empresas Aroma do Campo e Vitta A, por um grupo de acionistas da área financeira (IMS).A expansão desse mercado está associado ao

acesso das classes D e E aos produtos do setor, devido ao aumento de renda; Os novos integrantes da classe C passaram a consumir produtos com maior valor agregado;

Participação crescente da mulher brasileira no mercado de trabalho; A utilização de tecnologia de ponta e o consequente aumento da produtividade, favorecendo os preços praticados pelo setor, que tem aumentos menores do que os índices de preços da

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economia em geral; Lançamentos constantes de produtos atendendo cada vez mais às necessidades do mercado; Aumento da expectativa de vida, o que traz a necessidade de conservar uma impressão de juventude; Os preços dos produtos associados a este setor apresentaram crescimento menor que os índices da inflação (ABIHPEC, 2015).

Segundo Valderlene Hilário de Souza, coordenadora do Projeto Sebrae Beleza, essa expansão se relaciona também à crise econômica e à informalidade, que não exige burocracias trabalhistas e quando perguntada sobre esse crescimento, assim respondeu

- Na verdade, este setor é o segundo setor econômico do Brasil. Salão de Beleza (...) Só perde para o comércio de roupa. No caso do Rio de Janeiro é o setor de maior atividade econômica (...) A falta de trabalho faz com que as pessoas comecem a trabalhar por conta própria.

A expansão desse segmento industrial fomenta o crescimento do mercado de emprego e atrai para o país empresas expoentes do mercado internacional - L’ Óréal e Avon, por exemplo, que se somam às gigantes do mercado nacional - Boticário, Natura e Jequiti, por exemplo, que dinamizam a economia do país.

As empresas desse setor (2.540) estão distribuídas desigualitariamente pelo território nacional e estão concentradas na Região Centro-Sul (2.230 empresas) do país com destaque para os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. Nesses estados, estão localizadas importantes empresas - P & G, L’ Óreal, Boticário - do setor de higiene, perfumarias e cosméticos que destinam sua produção para o mercado externo, principalmente para a América Latina, que se constitui como um expoente mercado consumidor dos produtos associados à beleza (SEBRAE, 2015).

No caso específico da Baixada Fluminense e de Nova Iguaçu, a implantação do setor de higiene, perfumaria e cosméticos ocorre a partir dos anos de 2000, se associando à retomada do crescimento da economia fluminense, com a chegada de empresas desse setor e toda a sua cadeia produtiva (ver quadro 09), dinamizando a economia da Região.

A implantação dessas empresas em Nova Iguaçu formou um polo com 12 empresas de grandes, médias e pequenas (ver quadro 10) indicando uma possibilidade para o município, atraídas por isenção fiscal, alteração na legislação local, terrenos amplos, planos e baratos articulando uma relação entre a prefeitura municipal e os empresários desse setor.

O gerente de produtos da Skaff Cosméticos, Mario Moraes, quando questionado sobre essa questão, nos respondeu

(29)

A empresa veio para Nova Iguaçu no ano de 2002 atraída pela expansão do consumo e também oferta de terrenos baratos na proximidade da Rodovia Presidente Dutra, quando comprou um terreno de 10.000 metros quadrados. Há um projeto para a criação de uma nova fábrica no Distrito Industrial de Queimados por que a Prefeitura Municipal de Queimados está oferecendo incentivos fiscais para atrair novas indústrias. E lá as terras são mais baratas.

Quadro 09 - Números da Beleza na Baixada Fluminense (MEI - Microempreendedores Individuais)

Municípios Cabelereiro (Barbeiro,

manicure e pedicure)

Outras atividades (depilador, esteticista e maquiador)

Belford Roxo 1654 337

Mesquita 637 226

Nilópolis 632 192

Nova Iguaçu 2943 797

Queimados 444 86

Japeri 222 45

Paracambi 119 31

Seropédica 217 44

Itaguaí 449 112

Duqe de Caxias 3158 750

Guapimirim 192 40

Magé 808 185

São João de Meriti 1750 439

Total 13.225 3.324

Fonte: Sebrae, 2016

O gerente comercial da Aroma do Campo, Marcello Rago, à época, corrobora com essa ideia

A Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu tem ligações com antigos empresários da cidade (...) Então a prefeitura dá incentivos sim. Redução de impostos e cede terrenos de área pública.

É possível observar as relações de proximidade entre os antigos empresários da cidade alguns oriundos do período dos laranjais e o Estado, representado pela Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu no processo de produção social do espaço.

As relações políticas, a oferta de terras baratas e a expansão do consumo com a ascensão da classe C, associados à heterogeneização social e ao aumento da renda da população local se constituem como elementos atrativos para esse segmento industrial. A produção dessas indústrias é destinada tanto para o mercado nacional quanto para o mercado

(30)

internacional atendendo a diferentes segmentos de renda, faixas etárias e gênero. Segundo Mario Moraes, quando perguntado sobre esta questão nos respondeu

A produção é para todo o país. Mandamos a produção para a Região Nordeste (21%), Norte (22%). Os estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais ficam com 9% a 12%. A capital de São Paulo e o interior é o destino de 15% da produção. E para a Região Sul mandamos de 3% a 6%. Neste momento (desde 2013), estamos exportando para a Espanha, em 60% das lojas, para uma rede de lojas Corte Inglês uma quantidade de 1%

da nossa produção (6.000 a cada 3 meses). E também para Portugal. Foram enviados, recentemente, três contêiner de produtos. Há um projeto voltado para a Região do Caribe.

Quadro 10 - Empresas representativas do setor de cosméticos em Nova Iguaçu

Empresas Origem do Capital

Destino da Produção Classificação por faixa de renda

Número de funcionários

Sede da empresa

Skaff Externo Mercado nacional e internacional

(Espanha - rede de lojas Corte Inglês)

B e C 500 Nova

Iguaçu

Vitta A Híbrido Mercado: nacional e internacional

(Portugal e África).

B e C 200 Nova

Iguaçu

NIelly Local Europa, Mercosul e nacional

A e B 2.000 Barra da

Tijuca Embelleze Local Mercado nacional

e internacional

A e B 1.600 Barra da

Tijuca

Sannabel Local Mercado nacional B e C 20 Nova

Iguaçu Fonte: Embelleze, NIelly, Sannabel, Skaff, Vitta A, Dezembro, 2015.

Marcelo Rago também respondeu a essa questão ao ser perguntado sobre quais classes sociais consomem esses produtos

- A maior parte dos produtos são para as classes B e C através de perfumarias e redes de farmácias. Mas também uma parte dos nossos produtos são voltados para outras classes sociais.

Ainda segundo o referido entrevistado, a mão-de-obra contratada para a produção é constituída de trabalhadores de municípios adjacentes e dos bairros iguaçuanos, que consolida

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