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A presunção de inocência e sua efetividade

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Academic year: 2018

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COORDENAÇÃO DE ATIVIDADES COMPLEMENTARES E MONOGRAFIA JURÍDICA

LEONARDO MENEZES AQUINO

A PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA E SUA EFETIVIDADE

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LEONARDO MENEZES AQUINO

A PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA E SUA EFETIVIDADE

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Direito da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, como parte integrante dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Direito. Área de concentração: Direito Processual Penal.

Orientador: Prof. Daniel Maia

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará

Biblioteca Setorial da Faculdade de Direito

A657p Aquino, Leonardo Menezes.

A presunção de inocência e sua efetividade / Leonardo Menezes Aquino. 2013. 60 f. : enc. ; 30 cm.

Monografia (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Direito, Curso de Direito, Fortaleza, 2013.

Área de Concentração: Direito Processual Penal. Orientação: Prof. Me. Daniel Maia.

1. Presunções (Direito). 2. Prisão preventiva - Brasil. 3. Processo penal Brasil. I. Maia, Daniel (orient.). II. Universidade Federal do Ceará Graduação em Direito. III. Título.

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LEONARDO MENEZES AQUINO

A PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA E SUA EFETIVIDADE

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Direito da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, como parte integrante dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Direito. Área de concentração: Direito Processual Penal.

Orientador: Prof. Daniel Maia

Aprovada em: ___ /___ /_____.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________ Prof. Ms. Daniel Maia (Orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_______________________________________________________ Prof. Dr. Francisco Régis Frota Araújo

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_______________________________________________________ Mestrando Rafael Barreto Souza

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AGRADECIMENTOS

Dispenso com o devido valor os agradecimentos àqueles que se fizeram presentes nessa caminhada longa, mas valiosa.

A Deus, razão de tudo.

A minha estimada família, Aquino, Tereza e Marcell. Pilares de minha existência.

Aos amigos que me encorajaram a nunca desistir, mas persistir.

Aos meus alunos queridos, que em minha atividade laboral de orientador pedagógico, foram sempre compreensíveis e me estimularam a sempre evoluir.

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RESUMO

O presente trabalho tem como fim discutir o instituto da Presunção de Inocência em virtude da importância de tal no mundo jurídico. Dá-se início pela discussão doutrinária existente por razão da terminologia adequada a ser empregada. Em outro momento, por meio de suas origens históricas, com efeito, procura-se remontar às causas da elevação de tal princípio ao caráter fundamental de viés constitucional. A finalidade, âmbito de proteção e extensão objetiva e subjetiva da presunção são abordados a fim de denotar a complexidade da questão. No desenvolvimento, a efetividade da presunção de inocência e suas restrições são trazidas com casos práticos dos Tribunais comprovando a aplicação ou não do princípio ora explanado. Na continuidade, embasado na dimensão da temática, assuntos correlatos como a exposição midiática afrontando a presunção, a afetação da ordem pública em caso de prevalência da presunção de inocência, bem como a principal representação da restrição à pressuposição de inocência: as prisões cautelares.

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ABSTRACT

This work has as purpose to explain about the Institute of Presumption of Innocence because of the importance of such in the legal world. Is initiated by existing doctrinal discussion by reason of proper terminology to be employed. At another time, through its historical origins, in effect, seeks to reassemble the causes of the rise of this principle to the fundamental character of the constitutional bias. The purpose, scope and extent of protection objective and subjective assumption are addressed in order to denote the complexity of the issue. In development, the effectiveness of the presumption of innocence and its restrictions are brought to practical cases that the courts proving whether or not the principle now explained. Continuity, based on the size of the subject, related subjects such as media exposure affronting the presumption, the allocation of public order in the event of prevalence of the presumption of innocence, and also the main representation of restriction assumption of innocence: the precautionary arrests.

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Sumário

1. Introdução...10

2. A Presunção de Inocência 2.1.Conceito.,...13

1.1.1. Presunção de Inocência e outras terminologias...16

2.2.Origens históricas...18

3.Conteúdo Essencial da Presunção de Inocência 3.1.Presunção de inocência como princípio fundamental...21

3.2.Suporte fático da presunção de inocência...24

3.2.1. Finalidade e função...28

3.2.2. Âmbito de proteção amplo da Presunção de Inocência...29

3.3.Extensão objetiva e subjetiva da presunção de inocência. ...30

2.3.1. Extensão objetiva...31

2.3.2. Extensão subjetiva...33

4. A Efetividade da Presunção de Inocência 4.1. Restrições ao princípio da presunção de inocência...41

5. A Presunção de Inocência e implicações práticas. 5.1. A Ordem pública e a Presunção de Inocência...45

5.2. Violação do princípio da presunção de inocência pela exposição midiática...52

5.3. Prisões cautelares e o princípio da presunção de inocência 5.3.1.Prisão preventiva...55

5.3.2. Prisão temporária...55

5.3.3. Prisão em flagrante...56

5.3.4. Confissão...58

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1.INTRODUÇÃO

Após o momento beligerante relativo às duas grandes guerras mundiais, o homem se viu diante da necessidade de construir um quadro universal que tendesse a respeitar os valores do ser humano. Precisava-se mudar a concepção de que o homem deveria sucumbir ao Estado, ente ao qual até então, diante de governos autoritários, era atribuído força maior.

Em vez disso, o aparato estatal deveria atuar no sentido de buscar sempre a valorização do homem por meio da preservação de sua dignidade, liberdade e igualdade. As nações passaram, então, a se movimentar nesse intuito, firmando tratados e elaborando convenções internacionais que buscavam pôr no campo prático as ideias abstratas relativas à dignidade do homem e às mais diversas vertentes, intituladas na maioria dos ordenamentos como direitos fundamentais. Este é o objeto de análise do primeiro capítulo.

Seguindo essa corrente, sempre partindo do conceito humanista, a atividade legislativa atuou a transpor para o campo jurídico dispositivos que ratificassem esse panorama. Referido caráter veio por meio de diplomas maiores nas mais diversas nações, configurando pilares constitucionais. Instituída de caráter axiológico e teleológico, era do interesse do legislador constituinte que a atividade estatal estivesse vinculada, senão sucumbente, ao Texto Constitucional.

Isso se daria pelo ênfase a princípios tidos como fundamentais e que sem eles não haveria estabilidade política e social, inexistindo campo suscetível de coexistência humana. O homem nasceria com determinados direitos e garantias mais fortes do que qualquer interesse, seja do próprio Estado ou de seu semelhante.

Em um segundo momento, priorizando a seara nacional, disserta-se sobre a relação entre a atividade estatal brasileira e a efetivação de princípios constitucionais, como o da presunção de inocência. É nesse sentido que ocorre o aferimento de que Estado brasileiro enquadrava-se perfeitamente nessa situação.

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preservar o cidadão em sua esfera pessoal e social, uma vez que é deste que, segundo o mesmo texto constitucional, emana todo o poder. Se o cidadão, titular do poder, encontra-se ameaçado, não há de se falar em preservação do Estado.

Nesse contexto, da necessidade da existência de uma situação estável precípua ao cidadão é que se monta o campo fértil para o aparecimento da presunção de inocência como princípio fundamental, objeto de discussão em tópico específico do segundo capítulo.

Apesar das divergências doutrinárias a respeito da terminologia utilizada, o conteúdo é único, a saber: atribuir um status anterior e garantido perante todos inerente ao cidadão relativo a sua inocência. Ladeado pelos princípios de dignidade da pessoa humana, justiça e liberdade, a pressuposição de inocência é necessária para conferir a todo e qualquer cidadão antes de decisão final um status de inocente, uma vez que as consequências da imputação penal são, em determinadas situações, como demonstrado, imensuráveis, além, por diversas vezes, irreparáveis. Estima-se, desse modo, garantir a todos que, inexistindo prova incontestável e sem que sejam exauridos todos os meios para tal, o cidadão comum, passível de imputação, é sempre inocente, não devendo sofrer qualquer tipo de sanção que possa trazer prejuízos de caráter pessoal ou mesmo patrimonial.

Afere-se, também, no presente trabalho, o âmbito de incidência de tal princípio constitucional. A extensão deste se dá pelo viés objetivo e subjetivo. Objetivo com o teor de delimitar o campo de atuação no Processo Penal brasileiro, e subjetivo no tocante a sobre quem irá incidir o instituto de presunção de inocência, bem como àqueles que de modo direto ou indireto deverão zelar pelo cumprimento deste.

Ademais, ressalta-se o suporte fático do princípio em análise, uma vez que a busca pelo campo prático sempre torna a compreensão mais efetiva. A referência constante à jurisprudência é recurso utilizado com o fito de mostrar como o ordenamento jurídico nacional tem tratado o tema, seja na aplicação ou na desconsideração de tal princípio.

A efetividade do princípio é objeto de análise relevante em virtude do caráter constitucional e da importância do objeto de tutela deste.

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restrição, o que se dá por motivação justificada e proporcional, sempre buscando um fim maior.

É nesse olhar que o presente trabalho traz o instituto da prisão cautelar, como instrumento que, em uma visão superficial, pode parecer afrontar a presunção de inocência, mas que, se devidamente aplicada, não resultará em violação daquela, mas tão somente em uma restrição legalmente autorizada e necessária.

Reiterando quão salutar é o tema, vincula-se o mesmo a outras questões decorrentes, como a ordem pública, que como será visto, possui estreita relação com a presunção de inocência, já que aquela poderá ser afetada se esta for sobreposta injustificada e desproporcionalmente a tal.

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2.A PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

2.1.Conceito

Hodiernamente, o instituto da persecução penal tem sido utilizado em vias diversas das devidas. Nesse contexto, torna-se necessário a remição a um outro instituto com origem no Iluminismo europeu com ratificação no mundo pós-guerra: A Presunção de Inocência. A atividade do legislador encontra-se, justificadamente, orientada no sentido de preservar certos direitos tidos como fundamentais, nesse rol se encontra o tema central da presente pesquisa.

Luis Gustavo Grandinetti1 ensina, ratificando tal quadro:

A Constituição Federal inovou em inúmeros aspectos, e, substancialmente, elevou o Direito Processual ao seu devido lugar de guardião da liberdade individual. Nunca um texto constitucional, na história brasileira, preocupou-se tão profundamente em dotar o processo de meios e instrumentos indispensáveis ao direito de defesa, para que da contradição entre esta e ação pudesse surgir a verdadeira defesa.

Em uma análise etimológica, segundo o dicionário Aurélio presumir significa “ V.t.d 1.Entender, baseando-se em certas probabilidades 2. Pressupor,

prever ”. Sendo assim, com base nos núcleos significativos, tomemos como base julgar e pressupor. Aduz-se, pelo viés jurídico, então, que a presunção de inocência é um julgamento anterior à questão comprobatória irrecorrível do imputado em questão penal.

Machado2, em obra da Teoria Geral do Processo Penal, traz sua a definição da Presunção de Inocência a partir de um viés histórico:

O princípio liberal de inocência1, proclamado no artigo 9 da Declaração dos

Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, estabelece que todo homem deve ser presumido inocente até que tenha sido declarado culpado. O artigo XI da Declaração Universal do Direitos Humanos ONU (1948) garante que

“toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida

inocente”.

Tourinho Filho3 pontua, também, com relação ao tema:

1CARVALHO, Luis Gustavo Grandinetti Castanho de. O Processo Penal em Face da Constituição

(Princípios Constitucionais do Processo Penal). 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998.

2 MACHADO, Antonio Alberto. Teoria geral do processo penal. São Paulo: Atlas, 2009

3 TOURINHO FILHO, Fernando Costa. Manual de Processo Penal e Execução Penal. São Paulo:

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Contudo a expressão presunção de inocência não deve ter o seu conteúdo semântico interpretado literalmente – caso contrário ninguém poderá ser processado -, mas no sentido em que foi concebido na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789: nenhuma pena pode ser imposta ao réu antecipadamente. E a melhor doutrina acrescenta: a prisão antecipada se justifica como providência exclusivamente cautelar, vale dizer, para impedir que a instrução criminal seja perturbada ou, então, para assegurar a efetivação da pena.

Significa pressupor que o acusado, antes da concretude das provas, tenha inerente a ele o status de inocente e as consequências deste, haja visto ser prejudicial o reverso. Partindo para o viés doutrinário moderno, encontramos densa matéria a respeito do tema. Busquemos as mais concisas, as quais, de modo sucinto, objetivam retratar o conceito que por vezes se mostra por demais abstrato.

Gomes Filho4, sustenta:

A denominada presunção de inocência constitui princípio informador de todo o processo penal, concebido como instrumento de aplicação de sanções punitivas em um sistema jurídico no qual sejam respeitados; fundamentalmente, os valores inerentes à dignidade da pessoa humana; como tal as atividades estatais concernentes à repressão criminal.

Confere-se o caráter genérico dado ao princípio como norteador do processo penal, bem como o vínculo estreito estabelecido entre o princípio da presunção de inocência e outro princípio constitucional de grande relevância, o da dignidade da pessoa humana.

Em suma, a presunção de inocência é a iniciativa tomada tanto na esfera legislativa, pelo legislador, quanto na esfera judiciária, pelo julgador, que resultam na conclusão precípua, até que haja concretude do contrário, da inocência do imputado.

A presunção deve configurar, como dito anteriormente, nos campos legislativo e judiciário. No processo de elaboração das leis, o legislador deverá atuar de modo a constar no texto legal elementos que embasem tal instituto, uma vez que a subsunção, ou enquadramento de casos concretos, com base na lei tornam mais eficientes as atividades dos julgadores. Estes, por sua vez, guiados pelo corpo legal, deverão aplicar nos casos concretos os princípios lá elencados.

4 GOMES FILHO, Antônio Magalhães. Presunção de Inocência e Prisão Cautelar. São Paulo:

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Por razões claras, o não cumprimento do texto legal torna-o obsoleto, acometendo a própria sociedade, que irá sofrer com a desvalorização de conquistas do próprio homem por seus direitos em décadas.

Em momento oportuno, abordar-se-á a legislação relativa ao assunto. De modo introdutório, fica claro o viés constitucional, haja visto o teor princípiológico do tema.

Por fim, exaurindo a conceituação do tema aqui exposto, necessária é a diferenciação entre dois institutos de caráter semelhante, a presunção de inocência e o in dubio pro reo haja vista ambos visarem a beneficiar o réu na persecução

penal, não por favorecê-lo por ato realizado, mas por não prejudicá-lo em ato não efetivado.

A presunção é o conceito abstrato do caráter de inocência imaculado do imputado até que haja fatos suficientes para provar o contrário, enquanto que o in dubio pro reo não confere a ausência de culpabilidade ao imputado em caráter

prévio, mas somente o atribui sanção mais favorável diante das multiplicidades do corpo legal brasileiro. Ademais, aquele nada mais é que decorrência deste.

Não obstante a presença no dispositivo legal, o in dubio pro reo, e como

consequência a própria presunção de inocência, vem sendo desrespeitado no sistema penal brasileiro. Prova disso é o desígnio do ônus da prova àquele que fizer a alegação, como consta do art. 156 do Código de Processo Penal: "a prova da alegação incumbirá a quem a fizer."

Observa Tourinho Filho5, novamente:

a regra concernente ao onus probandi, ao encargo de provar, é regida pelo

princípio actori incumbit probatio ou onus probandi incumbit ei qui asserite,

isto é, deve incumbir-se da prova o autor da tese levantada. Se o Promotor denuncia B por haver praticado lesão corporal em L, cumpre ao órgão da acusação carrear para os autos os elementos de prova necessários para convencer o julgador de que B produziu lesão corporal em L. Se a defesa alegar qualquer causa que vise a exculpar a conduta de B, inverte-se o

onus probandi: cumprirá à defesa a prova da tese levantada.

Nesse mesmo sentido, é a posição de Gomes e Trindade, vejamos:

A incumbência da prova recairá, então, sobre a acusação, que deverá provar a existência de uma ocorrência criminosa, bem como sua autoria, ou seja, todas as alegações feitas. Tal fato decorre da inversão do ônus probandi, dado que o acusado tem a ser favor o instituto da presunção, uma

5TOURINHO FILHO, Fernando Costa. Manual de Processo Penal e Execução Penal. São Paulo:

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exigência de força constitucional no intuito de assegurar o devido processo legal. Todavia, a prova não é direito único e exclusivo da acusação. Isso se dá devido à aplicação do princípio do contraditório, segundo o qual o acusado também poderá trazer ao processo fatos modificativos ou extintivos das alegações feitas contra si. (GOMES; TRINDADE, 2007, p. 55).

Demonstra-se, então, de que modo a inversão do ônus da prova vem a ratificar o caráter probatório da presunção, compete à acusação provar a culpa, e não ao acusado sua inocência.

2.1.1.Presunção de Inocência e outras terminologias.

Em momento anterior, diante da incerteza da culpa do imputado, mas também da inocência deste, confusão terminológica veio à tona. Destarte, havia o questionamento pela preferência em adotar o termo “não-culpado” em vez de inocente, divergentes apesar da aparente igualdade entre os termos.

Contradição exposta, visto que naquele momento, as circunstâncias pendiam para a adoção de critérios sempre humanistas, nos quais se enquadraria de modo justificado a opção por pressupor inocente o imputado. Em termos práticos, o viés formal se deu pela “não consideração prévia de culpabilidade” e o material pela ”presunção de inocência”.

Delmanto Júnior6 pontua:

Realmente, foram muitas as vozes no passado que se insurgiram contra a presunção de inocência, entendendo-a inaceitável. Segundo Manzini, Gabrieli e Consentiño, lembrados por Bento de Faria, a presunção de inocência seria uma inaceitável extravagância, reflexo de exagerados e inconseqüentes excessos dos iluministas. No mesmo sentido se manifestam, também, Giuseppe Sabatini e Carlo Umberto Del Pozzo, salientando que o fato do acusado não poder ser considerado culpado antes de decisão penal condenatória passada em julgado não autoriza que ele seja, todavia, presumido inocente; ele estaria, nas palavras de Del Pozzo, em posição neutra, eqüidistante da inocência e da culpabilidade. Entre nós, podemos lembrar, ainda, Inocêncio Borges da Rosa, que igualmente assim se posiciona.

Mirabete7 continua:

... Assim, melhor é dizer-se que se trata do ‘princípio de não-culpabilidade’.

Por isso, a nossa constituição não "presume" a inocência, mas declara que

‘ninguém será culpado até o trânsito em julgado de sentença penal

condenatória’ (art. 5º, LVII), ou seja, que o acusado é inocente durante o

6DELMANTO JÚNIOR, Roberto. Desconsideração previa de culpabilidade e presunção de inocência.

Boletim IBCCRIM. São Paulo, n.70/Ed.esp., set. 1998.

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desenvolvimento do processo e seu estado só se modifica por uma sentença final que o declare culpado. Pode-se até dizer, como o faz Carlos J. Rubianes, que existe até uma presunção de culpabilidade ou de responsabilidade quando se instaura a ação penal, que é um ataque à inocência do acusado e, se não a destrói, a põe em incerteza até a prolação da sentença definitiva.

Na Doutrina, há, entretanto, plurarilidades quanto ao tema. Senão, vejamos, como aduz Machado8, em sua obra Teoria Geral do Processo:

A doutrina discute acerca da denominação do princípio que utiliza as locuções presunção de inocência ou inocência presumida. Argumenta-se que a presunção é sempre uma ilação que se extrai de algum fato antecedente, e no caso da inocência, não haveria a necessidade de qualquer fato para que ela fosse presumida. Assim, tem-se preferido a denominação em Princípio Liberal de Inocência, ou, como sugerem alguns autores, princípio da não culpabilidade presumida.

No tocante à jurisprudência brasileira, ora se faz referência ao princípio da presunção de inocência9, ora ao princípio da presunção de não culpabilidade.10

Por último, trazendo mais uma vez a discussão sobre a temática, Renato Brasileiro de Lima11, versa claramente:

Comparando-se a forma como referido princípio foi previsto nos Tratados Internacionais e na Constituição Federal, percebe-se que, naqueles, costuma-se referir à presunção de inocência, ao passo que a Constituição Federal em momento algum utiliza a expressão inocente, dizendo, na verdade, que ninguém será considerado culpado. Por conta dessa diversidade terminológica, o preceito inserido na Carta Magna passou a ser denominado presunção de não culpabilidade.

Em assim sendo, o presente trabalho caminha no mesmo sentido de Delmanto Júnior, supracitado, uma vez que apesar de não poder ser considerado culpado, haverá também um pré-julgamento, nesse caso favorável ao réu, considerando-o inocente. Ratifica-se, aqui, o posicionamento da equidistância que deverá existir do réu para o polo da culpa, bem como para o polo da inocência.

Ademais, o próprio texto constitucional em que se baseia o instituto aqui em análise, como bem pontua Mirabete, não traz referência alguma sobre a inocência

8MACHADO, Antonio Alberto. Teoria geral do processo penal. São Paulo: Atlas, 2009

9 Vide Súmula n 09 do STJ. E também: STF, 1 Turma, HC-ED 91.150/SP, Rel. Min. Menezes Direito,

DJe 018 01/02/2008

10 A título de exemplo: STF, 1 Turma, Al

– AgR 604.041/RS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe 092

– 31/08/2007; STF 2 Turma, HC n 84.029/SP, REl Min. Gilmar Mendes, DJ 06/09/2007

11 LIMA, Renato Brasileiro de. Nova prisão cautelar Doutrina, jurisprudência e prática. Niterói RJ:

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do imputado, mas sim de que ele não será declarado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.

2.2.Origens históricas

Até o ano de 1941, o que existia no Brasil era um sistema processual penal que pregava a não recepção do princípio da presunção de inocência. Em termos de legislação infraconstitucional, notável era a ausência de princípios instituídos do caráter humanístico decorrente da pressuposição de inocência.

Tratando-se de um panorama mundial, em caráter originário, já no século XVIII, o homem abordava a presunção de inocência como devida e a positivava. O momento mais relevante na questão histórica é a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789.

Bem disse Tourinho Filho12:

Na verdade, há mais de duzentos anos, o artigo 9 da Declaração dos Direitos do Homem, de 26-8-1789, proclamava: “Tout homme étant présume innocent jusqu’a ce qu’il ait été declaré coupable; s’il est jugé indispensable

de l’arrêter, toute rigueur qui ne serait nécessaire pour s’assurer de sa

personne, doit être sévèrement reprime par la loi (Todo homem é considerado inocente, até o momento em que, reconhecido como culpado, se for indispensável sua prisão, todo rigor desnecessário, empregado para efetuá-la, deve ser severamente reprimido pela lei).

Naquele contexto, após o período de intensos conflitos bélicos, era consenso geral a necessidade da construção de valores ético-sociais que estruturassem a convivência pacifica dos povos, independente das características culturais, religiosas, sociais, linguísticas ou geográficas.

Destarte, passou a figurar em patamar mundial a busca pela concretização de direitos universais, de abrangência generalizada a todo ser humano no planeta. Imprescindível, então, a iniciativa de instituições internacionais no sentido de elaborar convenções e tratados internacionais que inscrevessem os direitos humanos de forma a vincular todas as nações que aderissem a tais.

Pretendia-se evitar o surgimento de Estados totalitários e, em assim sendo, a ordem deveria vir em um direcionamento de um patamar maior para um menor, evitando que as legislações internas concretizassem um sistema criminal

12TOURINHO FILHO, Fernando Costa. Manual de Processo Penal e Execução Penal. São Paulo:

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permissivo a perseguições políticas e violações a direitos essenciais dos cidadãos. Enraizado por essa vertente, a presunção de inocência, em caráter claramente humanista, foi ratificada como um dos primados juspolíticos de extrema importância com o fito de constituir uma comunidade internacional arreigada pela democracia e liberdade.

A representação prática dessa atmosfera se deu na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, ápice do humanismo pós-guerra. Após elaborada e promulgada pela ONU (Organização das Nações Unidas), o princípio da presunção de inocência adquiriu status de direito da universalidade humana, o qual deveria ser seguido e respeitado pelos Estados membros em sua totalidade, tanto na atividade legislativa e judiciária interna, como na relação entre Estados-nação.

Importante passo foi dado, haja vista a presunção de inocência deixar de ter como base tão somente o pensamento iluminista do século XVIII, por demais abstrato e idealizado, passando a usufruir de caráter mais concreto, moderno e vinculante, induzindo todas as nações a aderir em seus ordenamentos internos os valores humanistas referentes de modo direto e indireto à presunção de inocência.

Significa, destarte, uma restrição imposta aos Estados, os quais não encontram mais total liberdade para deliberar em questões relacionadas, uma vez que contrariando princípios de consenso internacional, estariam divergindo de uma corrente a qual poderia antipatizá-lo num contexto em que se busca a aproximação da comunidade internacional. Em termos nacionais, o Brasil sempre se mostrou presente em trabalhos e debates preparatórios de formações dos Tratados e Convenções Internacionais de direitos humanos na Organização das Nações Unidas. O desinteresse de corroborar com tal tendência não se daria nesse momento.

A adesão concreta do Brasil se deu em momento posterior, passado o regime totalitarista militar. No ano de 1992, após a edição da atual Carta Magna, datada de 1988, houve o implemento do texto, praticamente total, do rol de direitos da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica).

Mauricio Zanoide de Moraes13 aduz:

13MORAES, Mauricio Zonaide de. Presunção de Inocência no Processo Penal Brasileiro: análise de

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Importante ressaltar, no âmbito do presente estudo, que o direito à presunção de inocência é reafirmado como primado juspolítico essencial à proteção da dignidade da pessoa humana em ambas as esferas de proteção internacional (global e regional). Está inserido tanto no art. 14.2 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Politicos, quanto no art. 8.2 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos. Logo, na medida em que o Brasil incorpora ambos os diplomas internacionais humanistas em seu ordenamento jurídico, também assume a obrigação perante os organismos internacionais de efetivar e garantir em sua ordem interna, plenamente, dentre outros direitos humanos, a presunção de inocência. (pagina 184)

(22)

3. CONTEÚDO ESSENCIAL DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

3.1.Presunção de inocência como princípio fundamental

Interessante ressaltar, mais uma vez, o contexto histórico que propiciou a elevação do instituto da presunção de inocência à seara de direitos fundamentais. Em termos de Brasil, a Carta Magna elenca em seu artigo 5°, inciso LVII, de modo bastante claro: “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória”.

Entretanto, para que chegasse a esse patamar, a sociedade flutuou sob diferentes momentos. Passados o momento bélico, era necessário que a humanidade buscasse, de modo unitário, estabelecer conceitos universais que visassem a estabelecer a convivência pacífica entre todos.

Em suporte ao princípio da presunção, aferem-se o Estado Democrático de direito e a dignidade da pessoa humana. O texto constitucional pondera, em seu artigo 1, caput, a República Federativa do Brasil em um Estado Democrático de Direito baseado na dignidade da pessoa humana, atrelada à notável presença de outros termos consoantes ao caráter fundamental intrinsecamente relacionados ao viés humanista, a saber: a intenção de construir uma sociedade livre, justa e solidária, além da promoção do bem geral, destituído de preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e qualquer outra forma de discriminação.

Por fim, coadunando com o caráter convergente mundial em busca do bem humano comum, o Brasil, por meio de seu maior documento legal, a Constituição Federal, ratifica o compromisso figurado entre as demais nações em dar prioridade, sempre que necessário, aos direitos humanos. O Estado Democrático de Direito subsiste no fim de propiciar melhores condições para a população. Nos dizeres de Mauricio Zanoide de Moraes14:

Nesse contexto, em um Estado Democrático de Direito não há um governo dos homens (mesmo estando em maioria) ou de qualquer lei, mas de supremacia das leis tidas pela população como as mais relevantes para sua pacifica convivência em busca da felicidade. Essas leis, soberanamente escolhidas e limitadoras da atuação ou do poder do homem, mesmo em eventual ou momentaneamente maioria, são as leis postas a nível constitucional e, de modo mais especial, os direitos fundamentais consagrados desse nível hierárquico.

14 MORAES, Mauricio Zonaide de. Presunção de Inocência no Processo Penal Brasileiro: análise

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Em específico, da democracia, essência do Estado Democrático de Direito, José Afonso da Silva15 afirma:

A democracia, em verdade, repousa sobre dois princípios fundamentais ou primários, que lhe dão a essência conceitual: (a) o da soberania popular, segundo o qual o povo é a única fonte de poder, que se exprime pela regra de que todo o poder emana do povo; (b) a participação direta ou indireta, do povo no poder, para que este seja efetiva expressão da vontade popular; nos casos em que a participação é indireta, surge um princípio derivado ou secundário: o da representação. As técnicas que a democracia usa para concretizar esses princípios tem variado, e certamente continuarão a variar, com a evolução do processo histórico, predominando, no momento, as técnicas eleitorais com suas instituições e o sistema de partidos políticos, como instrumentos de expressão e de coordenação da vontade popular.

No mesmo tom, em instâncias axiológicas e teleológicas, a dignidade da pessoa humana concretiza e direciona o trabalho legislativo no sentido da promoção e tutela do respeito ao ser humano em suas essência e decorrências. Consequentemente, traz para o Estado Democrático de Direito um limite e uma finalidade.

Mais uma vez, Mauricio Zanoide de Moraes16 esclarece com propriedade: “Por maior eficientismo, utilitarismo ou funcionalismo que se queira empreender nas ações (públicas ou privadas), se elas não respeitarem o cidadão em sua integralidade carecerão de legitimidade e resultarão inconstitucionais por violação direta da dignidade da pessoa humana”.

Após uma compreensão macro dos direitos fundamentais em dois de seus pilares, Estado Democrático de Direito e a dignidade da pessoa humana, torna-se mais acessível o entendimento do caráter humanista do qual a presunção de inocência, já que princípio fundamental, mostra-se eivada.

Partindo do ponto em que o processo penal tutela o direito vinculado à sociedade, é explicita a correlação que existe entre o Direito Processual Penal e a Ordem Constitucional com ênfase para os direitos fundamentais.

Nos dizeres de Julio Fabbrini Mirabete17:

15 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 2013. 16 MORAES, Mauricio Zonaide de. Presunção de Inocência no Processo Penal Brasileiro: análise

de sua estrutura normativa para a elaboração legislativa e para a decisão judicial. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010

(24)

O conjunto dos princípios constitucionais forma um sistema próprio, com lógica e autorregulação. Por isso, torna-se imperioso destacar dois aspectos: a) há integração entre os princípios constitucionais penais e os processuais penais; b) coordenam o sistema de princípios os mais relevantes para a garantia dos direitos humanos fundamentais: dignidade da pessoa humana e devido processo legal.

Os direitos fundamentais, com destaque para aqueles de cunho processual penal, têm como escopo fornecer aos seus jurisdicionados uma posição jurídica de direito subjetivo, material em maior recorrência, processual em menor, e assim dar limite a atividade estatal por meio de seus órgãos.

Citando, novamente, Mirabete18:

O Processo Penal constitui o amálgama do Direito Penal, pois permite a aplicação justa das normas sancionadoras. A regulação dos conflitos sociais, por mais graves e incômodos, depende do respeito aos vários direitos e garantias essenciais à formação do cenário ideal para a punição equilibrada e consentânea com os pressupostos do Estado Democrático de Direito, valorizando-se, acima de tudo, a dignidade humana.

Em termos funcionais, os chamados direitos fundamentais processuais penais são irrelevantes na prática para o indivíduo por si mesmo desde que não haja qualquer ato de persecução penal. Até esse momento, trata-se de previsão abstrata do sistema para possível utilização em caso de necessidade futura.

É assente que o processo penal, em um viés teleológico, existe para verificar a ocorrência de um fato tido como delituoso e quem foi seu autor. Substancia-se a verificação em busca da verdade estatal quanto a necessidade de aplicar a pena, e não o meio de aplicar essa pena ou de evitar tal aplicação. Desta feita, é desnecessário que haja no ordenamento um caráter despótico, pondo os cidadãos em um estado de insegurança caso ocorra a não efetivação dos direitos fundamentais.

Relatando a presunção de inocência, não se pressupõe inocente um imputado especifico, mas tão somente se concede o estado de inocência a todos,

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imputados e inimputáveis, de modo generalizado em vias precípuas, ou seja, antes mesmo e desvinculado da persecução penal.

A atividade estatal na busca pela verdade dos fatos eivado pela presunção de inocência, inere ao imputado e a quem for necessário à imprescindibilidade de um processo penal anterior à possível condenação, além de destituir de tal processo vertentes arbitrárias e pré-conceituais de caráter condenatório.

Irrecusável, entretanto, a ideia de tornar absoluta a presunção, tendente a tornar prejudicada a eficiência persecutória. O que seria por demais temerário à ordem devida. Com efeito, percebe-se, de modo contrário, que a pressuposição de inocência a vertente de “absolutização” supracitada, uma vez que são legítimas, como há de ser visto posteriormente, prisões no curso persecutório, desde que justificadas e excepcionais.

3.2.Suporte fático da Presunção de Inocência

O suporte fático de uma norma de natureza fundamental é composto pelo chamado âmbito de proteção dessa norma e pelas restrições à ela impostas, as quais nada mais são que intervenções estatais justificadas e proporcionais.

Tais são, também, composição do norma fundamental que é o princípio da presunção de inocência. Importante notar que os direitos fundamentais possuem interdependência entre si, com destaque para aqueles que possuem mesma natureza.

No que diz respeito à presunção de inocência, houve outros princípios fundamentais que ensejaram a gênese do tema aqui em análise. Seriam eles: O princípio da dignidade da pessoa humana, a liberdade, a igualdade e o Estado Democrático de Direito, aqui figurado pelo “devido processo penal”.

(26)

Mauricio Zanoide de Moraes19 assevera:

A sua efetivação está garantida pelos direitos fundamentais que lhes justificaram a autonomia e, ao mesmo tempo, é na sua realização que referidos direitos se concretizam no espaço processual penal ao qual a presunção de inocência projeta sua tutela.

A efetivação, então, do princípio da presunção de inocência confere aos jurisdicionados um processo justo, com respeito à liberdade, igualdade e dignidade do ser humano submetido à persecução penal.

Respeitar o princípio da presunção de inocência significa atender aos anseios de igualdade entre todos, respeitar a dignidade humana, não ir de encontro à liberdade do cidadão, bem como respeitar, também, o devido processo penal.

O resultado de tudo isso seria o equilíbrio na relação jurídica entre o imputado e os órgãos persecutórios (a atuação do poder público iria se limitar àquilo que fosse necessário para a apuração dos fatos), o impedimento, a princípio, do tratamento como condenado do imputado antes mesmo do reconhecimento definitivo da culpa deste (contrariando a dignidade da pessoa humana), a imposição de um processo justo e condizente com os padrões constitucionais de justiça (aplicação efetiva do devido processo legal) e, por último, mas não menos importante, a observância do princípio da presunção de inocência irá importar em uma decisão menos prejudicial ao imputado toda vez que houver dúvidas quanto à verdade dos fatos, o que representa uma ratificação do prestigio à dignidade da pessoa humana.

Após a análise de todo o exposto, afere-se que o princípio da presunção de inocência, ao contrário do que se possa pensar, não confere vantagem a nenhum polo na relação jurídica penal, mas sim buscar trazer equilíbrio para a relação que, de algum modo, pode se mostrar desequilibrada, haja vista que, desde o início da persecução penal, um desequilíbrio já foi estabelecido. Afinal, desde o início daquela, há atos de restrição em relação ao imputado.

A presunção de inocência seria, então, uma defesa inicial ao imputado, ao qual a antecipação do status de condenado traz diversas consequências negativas.

19MORAES, Mauricio Zonaide de. Presunção de Inocência no Processo Penal Brasileiro: análise

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Busca-se reestabelecer o equilíbrio na relação cidadão-Estado. É como desdobramento disso que se determina que o julgador, em qualquer decisão restritiva de direitos, decida em favor dele em caso de dúvida fática, bem como a aplicação e interpretação da norma jurídica mais favorável em caso de multiplicidade normativa.

A vedação da prima facie faz com que a persecução penal mostre-se

mais justa, pois contrariar isso seria considerar o imputado culpado antes mesmo da apuração fática. Em outros termos, por fim, como se sabe o Brasil deve, por meio de todas as esferas, o Executivo, Legislativo e judiciário, promover todos os meios para a implementação dos direitos fundamentais, bem como a fruição por todos os indivíduos.

Além do que o Brasil sempre participou ativamente de debates e trabalhos preparatórios de formação dos Tratados e Convenções Internacionais de direitos humanos, sendo assim, a não observância do princípio da presunção de inocência faria o Brasil descumprir os compromissos internacionais assumidos pelo Estado Brasileiro.

Nesse mesmo sentido, costuma-se considerar a presunção de inocência como a defesa do particular em detrimento do público, figurado pela defesa da segurança pública, da ordem pública e da ordem social. Tal conceito é, no mínimo, incoerente, pois a presunção de inocência é formada por interesses públicos, de base constitucional.

A restrição desse princípio deverá figurar na medida em que seja necessária a tutela de outros interesses mais relevantes nas condições fático-jurídicas do caso específico. Existem outros princípios que guardam relação com a presunção de inocência a medida que garantem a esta o nível máximo de efetivação.

Analisaremos de modo sucinto cada um deles. São eles: direito ao prazo razoável e o direito à liberdade. Reitera-se, também, aqueles anteriormente citados: a igualdade, devido processo legal e respeito à dignidade da pessoa humana.

(28)

que haja plena convicção por parte do julgador. Convicção essa sempre baseada em provas oriundas de um processo efetivo, justo e coerente.

Não se deve relacionar, de modo estreito, o tempo da persecução penal à efetivação da presunção de inocência. Não é ela quem determina o tempo. A presunção de inocência só garante que até o final não se antecipe a punição ao imputado. Ao contrário do que se possa imaginar, ao optarmos pela presunção, estamos, de modo indireto, exigindo que o Estado promova a persecução de modo mais célere, haja vista que a própria existência daquela já é por si só uma situação desfavorável ao imputado, o qual, como detentor de direitos, deve ter essa mesma situação o mais rápido possível resolvida através da apuração coerente.

Novamente, Mauricio Zanoide de Moraes20:

É cediço que a demora e o prolongamento excessivo do processo penal vai, paulatinamente, sepultando a credibilidade em torno da versão do acusado. Existe uma relação inversa e proporcional entre a estigmatização e a presunção de inocência, na medida em que o tempo implementa aquela e enfraquece esta.

Conclui-se, então, que o julgamento final, em tempo, é uma das formas de se atribuir maior efetividade ao princípio da presunção de inocência, pondo fim de modo definitivo na ideia de que presunção e procrastinação estão relacionadas.

Na outra verdade, o direito à liberdade também se encontra ligado à presunção. Deve-se destacar de que modo a presunção de inocência influencia as hipóteses constitucionais de prisão provisória.

Do texto legal, extraímos versos que trazem: “ninguém será preso (provisoriamente) senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciaria competente” e mais “a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciaria”. Do texto constitucional, com força maior, extrai-se “a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada”, bem como “o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de

20MORAES, Mauricio Zonaide de. Presunção de Inocência no Processo Penal Brasileiro: análise

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advogado”, além, ainda, do “direito a identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial”.

O que se aduz do supracitado é que, mesmo na situação excepcional da prisão, ainda há direitos a serem respeitados, com força constitucional, no intuito de, mais uma vez, atender à dignidade da pessoa humana.

A restrição da presunção de inocência, figurada pelo instituto da prisão provisória, é excepcional, enquanto que a liberdade no decorrer da persecução penal é a normalidade. Tornar a prisão provisória como regra resultaria na restrição de uma gama de outros direitos fundamentais, como o direito ao exercício da profissão, da intimidade e privacidade, da dignidade da pessoa (a saber as condições do sistema carcerário brasileiro), da comunicação e convivência familiar, além do uso e disposição do patrimônio próprio do imputado.

A natureza de ultima ratio deverá ser implementada pelo legislador

infraconstitucional uma vez comprovados os danos e afetações relativos à aplicação da prisão provisória que não em caráter excepcional e justificadamente necessário.

3.2.1.Finalidade e função

Aduz diante de todo exposto que a presunção de inocência é um conceito cogente ao legislador e ao julgador, a medida que impõe a estes uma aplicação da forma mais abrangente possível nos casos em que se mostre necessária. A finalidade da presunção de inocência é, antes de mais nada, político ideológica.

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penal. Ademais, em todas as esferas do poder público, demanda-se a aplicação da presunção de inocência, não havendo qualquer escusa injustificada.

É errôneo crer que a Constituição garanta ao indivíduo o direito à presunção. Na realidade, o legislador constituinte quis conferir ao cidadão, no Estado democrático de direito, um estado de inocência precípuo, desde seu nascimento.

Em termos de função, a presunção de inocência deve ser tida como eixo estrutural do processo penal conforme a Constituição. Sua função seria, então, adequar o processo penal ao texto constitucional em seu caráter humanista. Deve servir de norte em todo o desenvolvimento da persecução penal, não devendo ser destituído em nenhum momento, antes da condenação definitiva, do imputado.

3.2.2 Âmbito de proteção amplo da presunção de inocência

O primeiro questionamento a ser feito consiste em indagar-se em que níveis estatais a aplicação do princípio da presunção mostra-se mais necessária, se na elaboração legislativa, ou na aplicação destas no judiciário.

É fruto do Legislativo leis que estejam em conformidade com o princípio constitucional da presunção, porém, há de se perceber que de nada adiantam leis criadas com base em tal princípio se elas não forem interpretadas e aplicadas em conformidade com aquele. De forma concisa, apenas o judiciário detém a qualidade de aplicador efetivo do princípio, pois, mesmo em caso de existência, o princípio irá ser obsoleto caso não aplicado.

É impossível tratar do tema em questão e não citar o conceito histórico do

in dubio pro reo. Tal conceito não possui aplicação na gênese legislativa, uma vez

(31)

Infelizmente, uma triste realidade traz a banalização da coação no persecução penal, haja vista a aplicação indiscriminada de prisões provisórias que tendem a atender um anseio popular que vai de encontro a princípios constitucionais inerentes ao ser humano. A presunção de inocência não exclui a possibilidade que o imputado tenha sua liberdade restrita, deve-se, entretanto, aplicar tais restrições de forma justificava e proporcional.

Por fim, Mauricio Zanoide de Moraes21:

O direito constitucional da presunção de inocência exige que suas restrições sejam elaboradas, interpretadas e aplicadas de modo estrito e rigoroso porquanto se está no campo excepcional da redução do âmbito de proteção de um direito fundamental. Se a sua redução é inevitável em sistema de princípios interdependentes, ela deve sempre ocorrer da menor forma possível.

Afere-se, novamente, o caráter excepcional intrínseco da restrição à presunção de inocência.

3.3.Extensão subjetiva e objetiva da Presunção de Inocência

Menciona-se discorrer a respeito das extensões subjetivas e objetivas da presunção de inocência com o fim de analisar a quem esse direito é direcionado de forma passiva e ativa (extensão subjetiva), bem como os limites de atuação de tal princípio na esfera processual penal (extensão objetiva).

3.3.1.Extensão Subjetiva

Afere-se, de modo superficial, que o sujeito passivo da presunção seria toda pessoa que estivesse submetida à persecução penal, enquanto que o sujeito

21MORAES, Mauricio Zonaide de. Presunção de Inocência no Processo Penal Brasileiro: análise

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ativo estaria configurado pelos agentes públicos responsáveis pela aplicação prática da persecução penal em questão. Em virtude do aferimento simples e claro, a questão torna-se incompleta, exigindo maior aprofundamento, a fim de exaurir a temática.

De início, não se deve restringir o dever de respeitar um dispositivo legal, ainda mais constitucional eivado de caráter fundamental, aos agentes públicos, não obstante esses por razões legais deverem ser os primeiros e principais a fazer tal.

Todos aqueles que, de modo direto ou indireto, detenham alguma relação com o princípio devem atuar no sentido de preservá-lo, aplicando-o quando necessário. Exemplos de agentes que não atuam como representantes do Estado, mas que devem fazê-lo como tal são os jornalistas, agentes de segurança e até mesmo os familiares da vítima em casos em que haja desconfiança destes em relação à autoria do crime.

Não é incomum, como será visto em tópico próprio, que os meios midiáticos propaguem de início que o sujeito passivo possua status de culpado, nem que agentes de segurança, principalmente na esfera privada, atuem de modo incoerente com o suspeito, atribuindo a esse a culpa incomprovada. É por demais compreensível um discurso eivado de emoção por parte dos familiares no decorrer dos fatos e da persecução. Não obstante ao senso comum da tolerância disto, a exposição a mídia não deverá ser tolerada.

Importante questão a ser levantada é que a Carta Maior do Estado brasileiro, ao prever o termo ninguém em seu dispositivo relator do tema da

presunção de inocência22, o legislador afirmou que nem mesmo do estrangeiro não residente no país poderá ser destituído o direito fundamental que o presume inocente em caso de figurar no pólo passivo da persecução penal, haja vista o caráter universal que preenche os direitos fundamentais.

Na mesma temática, indaga-se se existe a possibilidade de dentro da seara dos sujeitos passivos, haver quem detenha mais ou menos direito de ser presumido inocente.

Diante dessa perspectiva, por vezes, pode parecer evidente, uma vez que pelo senso comum, que aquele reincidente deverá ser presumido como inocente

22Constituição Federal, artigo 5 inciso LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em

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com menor intensidade, atitude justificada pelos seus atos pretéritos. Apesar dos costumes apontarem para a direção supracitada, negativo é o entendimento quanto a isso. Agregado ao valor universal conferido aos direitos fundamentais, tem-se a questão da igualdade, em que todos devem usufruir de isonomia quanto a presunção de sua inocência.

Em assim sendo, irrelevantes, e tão somente assim, deverão ser considerados os atos pretéritos do imputados na atividade persecutória de determinado ato delituoso, no que diz respeito à presunção ou não de sua inocência. Em caso de inobservância do princípio acima, os atos e decisões judiciais violadores são ilegais e nulos por vício de inconstitucionalidade, respectivamente. Em decorrência do ato ilegal poderá advir indenização ao lesado, enquanto que da decisão judicial a anulação será esperada, independente de indenização.

Nesse sentido, o autor Mauricio Zanoide de Moraes23 profere:

A presunção de inocência, portanto, na já citada relação de complementariedade e interdependência com o direito fundamental à igualdade, estará violada de forma direta sempre que para uma pessoa for emprestado tratamento (antecipado) de culpado em decorrência do que ela foi ou fez no passado, do que ela representa política, social ou economicamente, ou – pior ainda – por sua cultura, por seu meio social, por seus parentescos ou amizades, pela religião ou seita que professe. Enfim: a presunção de inocência sempre será violada se a sua compreensão for motivada pelo que a pessoa é ou foi no passado, e não devido ao ato a ela imputado, com suas circunstancias. A presunção de inocência somente poderá existir em sistemas jurídicos baseados no direito penal e processual do fato.

Deste modo, destacar-se-á o caráter perpétuo e pétreo da presunção de inocência de todos os cidadãos, quantas vezes este figurar na persecução penal. Coerente atribuir ao imputado sua inocência presumida, assim como é feito com o direito à ampla defesa, ao contraditório, à publicidade dos atos, ao duplo grau de jurisdição , etc. Não se deve tratar a persecução penal pretérita como mácula ao imputado em persecuções futuras. Constitui claro preconceito e agir inconstitucional. Outra temática a ser posta em questão é a possiblidade ou não de a pessoa jurídica poder ser titular do direito à presunção de inocência. A doutrina

23MORAES, Mauricio Zonaide de. Presunção de Inocência no Processo Penal Brasileiro: análise

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acredita que sim. Destaque para a lei 9.605/98 (Lei de Crimes ambientais) a qual prevê a possiblidade da pessoa jurídica ser autora de crimes ambientais.

Nesse tom, mais uma vez, em obra sobre o tema, Mauricio Zanoide de Moraes24, destaca que:

(...) a presunção de inocência, nos seus vários desdobramentos, vem sendo aplicada para além do campo processual penal, notadamente na esfera administrativa sancionadora. Dessa forma, como a persecução penal é atividade com claro potencial sancionador, não se vê razão para mitigar a presunção de inocência quando o imputador for pessoa jurídica. (...) cabe recordar que esse direito fundamental existe devido a uma opção

constitucional de “como” deve ser concebido e aplicado um sistema criminal

(penal e processual e penal) a qualquer pessoa (física ou jurídica) a ele submetido. É, portanto, uma decorrência do Estado Democrático de Direito, fixado como primado de nossa atual Constituição. Não se trata, dessa forma, de se indagar se a pessoa é ou não física, mas qual o tipo de devido processo penal que se espera ver projetado e aplicado no Brasil.

Nessa vertente, confirma-se a possibilidade da pessoa jurídica possuir o direito fundamental a sua presunção de inocência.

3.3.2. Extensão Objetiva

Na análise da extensão objetiva do princípio da presunção de inocência, intenciona-se a delimitar a área de incidência de tal instituto na área processual penal. A princípio, a persecução penal será fracionada em fases, nas quais sempre deverá ser aplicado, em caso de cabimento, o princípio da presunção. São as fases: investigativa; instrutório-judicial; recursal; e revisional.

Na fase da investigação preliminar, há, precocemente imputação penal em face do cidadão alvo da persecução. Trata-se do caráter de juízo atribuído à imputação e não caráter de ato. A imputação tem início a partir de qualquer ato do qual resulte juízo de atribuição de um crime a uma pessoa determinada.

Zonoide25aduz que “O juízo de atribuição de uma infração a alguém é o primeiro passo da persecução penal e, de ordinário, vem representado por alguma forma de investigação preliminar, como o inquérito policial, a título de exemplo”.

24MORAES, Mauricio Zonaide de. Presunção de Inocência no Processo Penal Brasileiro: análise

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Questiona-se se há de fato algo relevante de caráter jurídico na fase investigativa na esfera pessoal do cidadão alvo da persecução penal. No momento da investigação, pode haver algum ato de constrição no tocante aos direitos de liberdade, dignidade ou igualdade do cidadão? Não há outra alternativa que não a positiva, uma vez que já existente um juízo de valor e uma imputação penal consequente.

Em assim sendo, exemplificar-se-á essa situação quando, ante a fase investigava, certos atos são dispostos ao cidadão antes mesmo da constatação do seu envolvimento com o fato criminoso. O tratamento dispensado a este ao ser intimado para depor, ou sua exposição à mídia quando não há seu vínculo formal no rol de suspeitos, remontam o juízo de atribuição de uma conduta tratada como crime a ele.

Ratificando esse contexto, de preservação do cidadão quanto a sua inocência, a fase investigativa deve ser eivada de proteção constitucional evitando possíveis abusos e excessos da atividade do Estado26. Em resumo, ao imputado não poderá ser despejado, de forma alguma, tratamento relativo ao status de culpado.

Em relação as outras fases, a instrutória-judicial e a recursal, não cabe maiores explanações, pois, por motivos claros, essas fases devem estar preenchidas do princípio da presunção. Todo o trabalho aqui exposto refere-se mais expressamente a essas duas fases da persecução. A instrutória, de apuração, o imputado será resguardado pela garantia constitucional.

A mencionar o momento recursal, se há de se falar de intensidade do crédulo na presunção, é nessa situação que esta crença se mostra mais forte. Acredita-se veementemente na inocência do acusado, ao ponto de que a presunção

25 MORAES, Mauricio Zonaide de. Presunção de Inocência no Processo Penal Brasileiro: análise

de sua estrutura normativa para a elaboração legislativa e para a decisão judicial. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010

26 Reiterando todo o exposto, tem se manifestado o Supremo Tribunal Federal em várias

oportunidades. Nesse contexto, citar-se-á trechos da relevante decisão do HC 79.589-7/DF (Tribunal Pleno – rel. Octavio Galloti – j. 05.04.200 – DJU 06.10.2000), no qual se reconhece a necessária aplicação das garantias constitucionais, inclusive e principalmente a presunção de inocência na fase

de inquérito policial: “Com efeito, esta Suprema Corte já se pronunciou sobre a questão do

(36)

transfigura-se para certeza diante da decisão proferida pelo juízo correspondente, motivando a parte para adentrar no mérito recursal.

O momento revisional, entretanto, carece de maiores explicações, haja vista o ponto em que ocorre, diante de uma decisão condenatória transitada em julgado. Configurou-se, então, o encerramento de uma ação penal finalizada com uma decisão condenatória, não ensejando mais oportunidade para recurso. É terminado o “estado de inocência” do acusado. Deverá, diante de tal situação, o acusado tão somente cumprir a pena que lhe foi imposta.

Entretanto, caberá ao acusado, após a decisão transitada em julgado, o ônus probatório de comprovar a existência de uma das hipóteses autorizadoras da revisão criminal27. O questionamento, apesar disso, persiste no sentido de ainda haver, ou não, incidência da presunção de inocência nesse momento da persecução penal. Há ensinamentos doutrinários que relativizam essa existência, tratando o princípio como norma de tratamento, probatória e de juízo. Mais uma vez consoante ao tema, o autor Mauricio Zanoide de Moraes28 aduz em sua obra:

Não há incoerência em se afirmar que a presunção de inocência em alguns de seus aspecto não incida, nem se aplique a essa fase, pois como há autonomia entre os seus desdobramentos, nada impede que se aceite que

ela não incida como “norma de tratamento”(porque já condenado definitivamente) ou como “norma probatória”(porque já há coisa julgada

como pressuposto probatório a ser revertido), mas que ainda projete sua

tutela constitucional como “norma de juízo”.

Remontado o caráter relativo da presunção de inocência, não deve-se encarar tal instituto como absoluto em relação a sua aplicação, trazendo-o para o caso concreto em seu todo ou caso contrário em nada. Sua aplicação deverá ser baseada em exaurir sua utilidade no máximo que for possível, segundo as condições fático-jurídicas do caso.

A revisão criminal, instituída como garantia constitucional, é o meio para desconstituir coisa julgada.

27De acordo com o art. 621 do CPP, “ a revisão criminal dos processos findos será admitida: (1) “quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à evidência dos

autos”; (2) “ quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos”; e, (3) “quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de

inocência do condenado ou de circunstância que determine ou autorize diminuição da pena”.

28 MORAES, Mauricio Zonaide de. Presunção de Inocência no Processo Penal Brasileiro: análise

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Nos dizeres de Paulo Rangel29 (2001):

A ação de revisão criminal tem o objetivo de reexaminar sentença condenatória ou decisão condenatória proferida por tribunal, que tenha transitado em julgado. Tal demanda tem o condão de excepcionar a coisa julgada em matéria criminal, pelo que só se permite seu ajuizamento quando em favor do sentenciado. Não há, assim, revisão criminal pro societate, mas tão somente quando seu manejo é permeado pelos

princípios do favor rei e da verdade real ( verdade processual ),

caracterizando-se como demanda para o resgate do status dignitatis do

acusado.

Visa-se a eliminar o erro do judiciário em favor do réu, configurando hipóteses claras dos institutos do “favor rei” e do “in dubio pro reo”. Eivadas, mais uma vez, todas as hipóteses da revisão criminal de princípios constitucionais de liberdade, justiça e respeito à dignidade da pessoa humana.

É resultado o aferimento da possível aplicação do princípio da presunção, mesmo na fase da revisão criminal, sendo levado em consideração seu caráter de norma de juízo. Em casos concretos, o que se percebe é que, ratificando o “in dubio pro reo”, em caso de empate no julgamento da revisão criminal favorecido é o condenado, em virtude da aplicação analógica do parágrafo 1° do art. 615 do Código de Processo Penal.

A presunção de inocência, encarada como norma de juízo, terá aplicação plena na revisão criminal. Adentrará no reexame do material probatório relativo à ação penal em face da prova nova, conferindo caráter axiológico de interpretação legal, ou ainda como forma de dirimir dúvida relativa aos fatos.

(38)

4.A EFETIVAÇÃO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

De modo claro, deve-se, a priori, perceber que a efetivação do princípio da presunção de inocência deverá acontecer em níveis legislativo e judiciário. Na percepção atual, o instituto aqui em analise é considerado pela população como mito em virtude de sua pouca concretude, por demais abstrato e de pouca efetividade. Além do que, em razão dos meios de comunicação e uma sede por justiça, ainda que não exauridas as provas, a sociedade trata a presunção de inocência como óbice à efetivação da repressão punitiva estatal.

A priori, Fernando Capez30, em sua obra Curso de Processo Penal, a fim de entender que finalidades buscam a ser efetivadas, traz que o princípio da inocência:

Tem por objetivo garantir, primordialmente, que o ônus da prova cabe à acusação e não à defesa. As pessoas nascem inocentes, sendo esse o seu estado natural, razão pela qual, para quebrar tal regra, torna-se o indispensável que o Estado-acusação evidencie, com provas suficientes, ao Estado-juiz a culpa do réu.

Consoante, afim de fornecer uma base mais concreta em relação a percepção da efetividade da presunção de inocência, observemos a análise feita por Machado31, em sua obra, a respeito das decorrências de tal princípio:

Desse princípio decorrem algumas consequências práticas imediatas: (a) o ônus de provar a responsabilidade criminal do réu fica todo ele a cargo da acusação; (b) o acusado não é obrigado a colaborar com essa prova; (c) não se admite majoração da pena com base nos maus antecedentes representados por inquéritos policiais ou mesmo de processos que ainda estejam em andamento. Além disso, por força do princípio da inocência presumida, deve-se evitar qualquer espécie de rigor processual que se mostre desnecessário em relação ao acusado cuja culpa ainda não fora declarada por sentença condenatória definitiva. Isto significa que o réu, no curso do processo, deve merecer o mesmo tratamento que se dispensa a qualquer cidadão livre. Ou seja, o réu não deve preso antes da decisão final, exceto em caráter excepcional e absoluta necessidade; nem deve ser submetido a constrangimento processual desnecessário, como uso de algemas por exemplo.

Diante das assertivas do excelente Mestre supracitado, não obstará para o conhecedor mesmo superficial da atividade judiciária nacional que certos aspectos

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