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A Influência do Pai no Alívio da Dor no Trabalho de Parto

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A Influência do Pai no Alívio da Dor no Trabalho de Parto

por Pedro Serra Pinto - Sexta-feira, Dezembro 27, 2013

http://www.nursing.pt/a-influencia-do-pai-no-alivio-da-dor-no-trabalho-de-parto/

Edição nº 289 – Ano 26

• Bruno Gonçalo Pereira,

Licenciado em Enfermagem, Enfermeiro no Bloco Operatório do Instituto Português de Oncologia de Lisboa, brunopereira88@hotmail.com;

• Lara Mateus,

Licenciada em Enfermagem, Enfermeira na Casa de Saúde da Idanha, laramateus87@hotmail.com;

• Maria Helena Pinheiro,

Licenciada em Enfermagem, Enfermeira no Piso 6 Hospital da Cruz Vermelha, mhsimoespinheiro@gmail.com;

• Tiago Dias Silva,

Licenciado em Enfermagem, Enfermeiro no Serviço de Pediatria do Hospital Prof. Doutor Fernando da Fonseca, tiagods88@gmail.com, Rua Elias Garcia, nº59, 3ºEsq. 2700-314 Amadora.

RESUMO

Atualmente reconhece-se a importância da presença do pai no trabalho de parto, contudo, a sua influência no alívio da dor durante o mesmo permanece pouco estudada. O objetivo deste estudo consiste em

explorar o papel do pai enquanto fator que influencia a perceção de dor da parturiente. Realizou-se um estudo exploratório/descritivo de abordagem qualitativa, tendo como método de colheita de dados a entrevista semiestruturada e um guia de observação. Participaram doze parturientes. No tratamento de dados recorreu-se à análise de conteúdo das entrevistas e ao cruzamento com dados colhidos na observação. Conclui-se que a presença do pai pode diminuir a ansiedade da parturiente conduzindo-a eventualmente à diminuição da perceção de dor.

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ABSTRACT

Nowadays, the father’s importance in labor is well-known, although, his influence on pain relief remains unattended. The objetive of this study is to explore the father’s role as an influence feature in the

parturient’s pain perception. Therefore, a exploratory-descriptive study was designed, with a qualitative approach, using semi structured interviews and observations as collecting data methods. The twelve participants featuring in this study were women in labor. In data processing, content analysis of interviews were used and then intersected with the information from the structured observation. In conclusion, the father’s presence might reduce parturient’s anxiety leading her to an eventual reduction of pain perception, providing a sense of pain relief.

INTRODUÇÃO

A dor é uma sensação única, particular e individual, sempre reconhecível como tal por quem a sente, sendo assim caracterizada pela sua subjetividade. No entanto, existem padrões de resposta comuns a determinadas culturas pois “os fatores étnicos culturais são parâmetros ativos inegáveis que modificam de forma considerável a vivência da dor e a atitude dos indivíduos face à dor”. Assim, sendo a dor

interpretada de diferentes modos de acordo com a cultura e vivências da pessoa que a experiencia, a resposta à dor no trabalho de parto, por parte de determinadas mulheres, poderá ser encarada de acordo com os dois extremos: considerando-a de facto extremamente dolorosa ou facilmente ultrapassável através da adoção de estratégias adequadas(1,p.60).

Tendo em conta o caráter subjetivo da dor pode afirmar-se que é influenciada por fatores emocionais, culturais, sociais e ambientais. Neste sentido, a presença e acompanhamento por parte do pai como pessoa significativa poderá influenciar essa variação.

O presente estudo surge numa altura em que se tenta inverter a tendência de um parto extremamente medicalizado em benefício da implementação de práticas humanizadoras, impulsionando a investigação sobre fatores não farmacológicos no alívio da dor. Partindo desta perspetiva e aliando-a à necessidade de promover o bem-estar do casal na vivência do trabalho de parto, emerge a questão de investigação formulada:

Como é que a parturiente perceciona a presença do pai no alívio da dor no trabalho de parto?

Foram assim definidos os objetivos do estudo, nomeadamente: explorar o papel do pai no processo de trabalho de parto enquanto fator que influencia a perceção da dor da parturiente; e promover a qualidade dos cuidados de enfermagem prestados à parturiente no que respeita à dor no trabalho de parto.

A problemática em estudo exigiu o aprofundamento de alguns conceitos que, seguidamente, são apresentados.

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A Dor

Recorrendo à definição de dor, esta é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a um dano tecidual real ou potencial, ou descrita como tal(2). A esta definição acrescenta-se que a incapacidade de comunicar a dor verbalmente não nega a possibilidade do indivíduo a estar a experienciar, nem a necessidade da prestação de cuidados adequados para a aliviar. Afirma-se também que a dor é sempre subjetiva e que cada indivíduo aprende a usar a palavra através de experiências relacionadas com experiências de dor no início da vida. Além disso, se a pessoa relata e experiencia dor na ausência de dano tecidual ou qualquer outra causa fisiopatológica provável esse relato deve ser aceite como dor. Desta forma, evita-se a vinculação da dor ao estímulo(2).

A dor é considerada um problema de saúde pública dada a sua frequência e potencialidade para causar incapacidade, o que justificou a criação do Plano Nacional de Luta Contra a Dor, em 2001. Este foi revisto em 2008 pelo Programa Nacional de Controlo da Dor, inserido no âmbito do Plano Nacional de Saúde 2004-2010. Em 2003 a Direção-Geral da Saúde emite a circular normativa Nº11/DSCS/DPCD, afirmando a dor enquanto quinto sinal vital, declarando o dever do seu controlo. Assim, em 2008, surge nos Cadernos da Ordem dos Enfermeiros um guia orientador de boas práticas relativas à dor onde se pode encontrar a sua definição segundo a IASP, assim como de acordo com a Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem: “sensação corporal desconfortável, referência subjetiva de sofrimento,

expressão facial característica, alteração do tónus muscular, comportamento de autoproteção, limitação do foco de atenção, alteração da perceção do tempo, fuga do contacto social, comportamento de distração, inquietação e perda de apetite, compromisso do processo de pensamento”(3,p.11)

Este guia da Ordem dos Enfermeiros salienta ainda o papel importantíssimo do enfermeiro no controlo da dor, justificado pela proximidade e maior tempo de contacto com a pessoa de quem cuida.

Teoria do Portão e a Triangulação ansiedade/dor/atenção

A teoria do portão foi elaborada, com o intuito de explicar a influência da estimulação cutânea táctil no alívio da dor. Em traços gerais, ela admite que nos cornos dorsais medulares existe um mecanismo neural que atua como um portão (“gate”), controlando a passagem dos impulsos nervosos transmitidos desde as fibras periféricas até ao sistema nervoso central, através da medula óssea. Deste modo, a intensidade da dor é controlada inibindo a sua transmissão (“close the gate”), ou pelo contrário facilitando-a (“open the gate”). Como consequência do aparecimento desta teoria, abandonou-se a ideia de que a dor é um processo simples e que depende apenas do grau de lesão orgânica(4).

Esta nova visão permitiu a inclusão das dimensões cognitivas e afetivas da dor enquanto fatores que provocam variações na perceção e reação à mesma. Neste sentido, os processos psicológicos podem ter um papel de influência através da sua atuação no mecanismo espinal do portão(4).

Considerando o anteriormente referido, a literatura(1, p.58) diz-nos “toda a dor provoca uma fixação da atenção psicológica, que aumenta a ansiedade, o que exacerba a dor em si e assim sucessivamente”, ou

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seja, a ansiedade e a atenção aumentam a dor através de um circuito de feedback positivo, obtendo o seguinte esquema:

?

Fig. 1: Triangulação ansiedade/dor/atenção(1)

O esquema anterior demonstra que associado ao aumento da atenção psicológica na dor percecionada está o aumento da ansiedade do indivíduo, pelo que quanto mais elevados forem os níveis de ansiedade maior será a perceção de dor e maior a atenção psicológica que lhe é direcionada, iniciando-se um ciclo potenciador da dor no sujeito. Também alguns autores(4) afirmam que os fatores referidos intervêm nos impulsos nervosos, transformando a dor num processo da global.

O Pai e o Trabalho de Parto

A presença do pai durante o trabalho de parto permite que a mulher se sinta mais segura, menos tensa e ansiosa, conduzindo a uma melhor vivência do mesmo(5). O mesmo autor revela ainda que o

acompanhante durante o trabalho de parto reduz a ansiedade e promove o autocontrole da parturiente, diminuindo assim a sua experiência de dor. Outros autores(6) consideram que a presença do pai no trabalho de parto contribui para o relaxamento da mulher, diminuindo a necessidade de analgesia.

No entanto, o suporte emocional prestado pelo pai pode ser condicionado pelo ambiente hospitalar e pelos profissionais de saúde. O pai pode ainda assumir diferentes papéis no que diz respeito à prestação de suporte emocional. Tradicionalmente são enumerados os seguintes papéis(7): o de treinador, em que ajuda a mulher a respirar e está atento às suas reações; o de colega, no qual o pai proporciona medidas de conforto; e o de observador, quando a sua presença não chega a ser sentida no bloco de partos. Mais recentemente, um estudo(8) revelou que os pais, normalmente, assumiam os papéis de colega ou treinador.

Assim, importa ter em consideração os comportamentos do pai no bloco de partos que possam influenciar a perceção de dor da mulher. Alguns desses comportamentos são sintetizados(9), nomeadamente: oferecer água; ajudá-la a executar padrões respiratórios; manter o contacto visual; usar palavras de elogio e

incentivo num tom de voz calmo; massajar as costas; e o toque.

Deste modo, de acordo com os autores citados, estes comportamentos vão desempenhar um papel

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importante na transmissão de confiança e segurança à parturiente diminuindo o seu nível de ansiedade.

METODOLOGIA

Adotou-se uma metodologia qualitativa que permite compreender o fenómeno em estudo através do compromisso com o ponto de vista do participante. Optou-se por um estudo de tipo exploratório- descritivo uma vez que visa explorar e caracterizar a influência da presença do pai na perceção da dor/ansiedade sentida pela parturiente.

A população é constituída por doze parturientes. Numa fase anterior à recolha de dados não foi definido o número exato de participantes uma vez que, na pesquisa qualitativa, o tamanho da amostra deve ser determinada a partir da necessidade de informações(10). Assim, após doze entrevistas/observações atingiu-se a “repetição dos pontos salientes”(11,p.26), ou seja, o limite de saturação das respostas às entrevistas, terminando a colheita de dados.

Os critérios de inclusão foram os seguintes: Gestantes em trabalho de parto (parturientes); Idade da

parturiente compreendida entre vinte e quarenta e quatro anos de idade; Acompanhadas pelo pai do recém- nascido (enquanto pessoa significativa); Hospitalizadas numa maternidade privada da região de Lisboa;

Mulheres primíparas ou multíparas; Parto eutócico ou distócico; Com recurso a analgesia (uma vez que o número de partos sem recurso a analgesia foi bastante reduzido, e a sua inclusão no estudo conduziria a enviesamentos).

Considerando a abordagem qualitativa do estudo e a informação que pretendemos obter, os métodos de colheita de dados considerados mais apropriados foram: a entrevista e observação estruturada. A entrevista pretende examinar os conceitos e compreender o fenómeno através da perceção dos

participantes, sendo o principal instrumento de colheita de dados(11), uma vez que permite “entrar no mundo da outra pessoa”(11, p.67). Optou-se pela realização de uma entrevista semiestruturada, com a duração aproximada de trinta minutos, sendo colocadas questões abertas. Considerando o triângulo da dor/ansiedade/atenção(1) referido anteriormente, a entrevista englobou questões relativas à dor sentida no trabalho de parto no período anterior à analgesia, bem como referentes à ansiedade, numa fase pós

analgesia. As entrevistas foram realizadas unicamente à mulher, no quarto individual em que se encontra hospitalizada e no segundo/terceiro dia de puerpério, altura em que se encontravam mais disponíveis para refletir sobre as suas vivências. As mesmas foram registadas em formato áudio através de uma gravação e em simultâneo, foram anotados os comportamentos não verbais das participantes, assim como o ambiente envolvente, de modo a captar o contexto de recolha de informação.

Recorreu-se à observação estruturada para complementar a informação obtida através da entrevista, constatando e relatando os factos fielmente com base no seguinte plano de observação(12): O que observar: comportamentos desenvolvidos pelo pai; Quando anotar: a observação deverá registada num intervalo máximo de trinta minutos após o acontecimento, de forma a evitar o esquecimento dos comportamentos observados; Como anotar: recorrendo ao guia de observação, que inclui vários

comportamentos que o pai poderá desenvolver; Local: na sala de partos, momento ideal para observar a interação entre os intervenientes.

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O guia de observação foi construído tendo em conta a revisão bibliográfica realizada sobre os

comportamentos dos pais, potencialmente diminuidores da dor e ansiedade da parturiente, no bloco de partos. Assim, foram objeto de observação os seguintes comportamentos: demonstrações de afeto (beijos, interação visual, toque); relembra exercícios de preparação para o parto (enumera, descreve, exemplifica e acompanha a mulher na sua realização); comunicação verbal com a parturiente (tom e conteúdo);

comunicação não verbal (estado físico do pai, distância que mantém da parturiente); demonstração de interesse (na mulher, na situação, presença passiva, desvalorização do esforço/situação).

As entrevistas foram transcritas integralmente e analisadas de forma individual permitindo a identificação de unidades de registo significativas, interpretando-as tendo em conta os objetivos do estudo.

Posteriormente realizou-se o cruzamento dos dados das entrevistas com os respetivos guias de observação individualmente, de forma a compreender se os comportamentos do pai observados foram identificados e/ou valorizados pelas mulheres. Como técnica de tratamento da informação recorremos à análise de conteúdo cuja finalidade é demonstrar a importância atribuída pelos sujeitos ao tema estudado.

Para a aplicação destes instrumentos e posterior tratamento dos dados foi inicialmente pedida a aprovação do projeto de investigação pela Comissão de Ética da maternidade onde se realizou o estudo. A todos os participantes foi entregue um Termo de Consentimento Informado, assim como explicados e validados todos os pressupostos, riscos e benefícios deste estudo.

RESULTADOS/DISCUSSÃO

Na análise de dados foram identificadas unidades de registo, pelo que após o seu tratamento, surgiram as seguintes categorias, subcategorias e unidades de enumeração:

Categorias Sub-

Categorias

Unidades de

Enumeraç ão

Sentimentos Partilha 25

Segurança 20

Suporte 13

Pertença 9

Calma 8

Comportamentos/Atitud es

Benéficos 33

Neutros 2

Capacidades/Habilidade s

Por percepção 10 Por comparação 10 Incapacidades/Dificulda

des

Neutras 10

Prejudiciais 3

?Quadro 1: Categorias, sub-categorias e unidades de enumeração decorrentes da análise de dados.

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Sentimentos

A presença do pai permite “apoio, tranquilidade, segurança (…) saber que não está só”(5, p.27), reduzindo a sua ansiedade e diminuindo a sua experiência de dor. Deste modo, a mulher sente-se mais segura, mais forte, menos tensa, menos vulnerável e com maior capacidade de autocontrolo, permitindo uma melhor vivência conjunta do trabalho de parto, que irá contribuir para a aproximação do casal, fortalecimento da sua relação e a vinculação precoce da tríade.

Os sentimentos de partilha dizem respeito à vivência conjunta de um acontecimento como o nascimento de um filho. Algumas puérperas referem ainda que, a presença do pai ao longo de toda gravidez e nascimento, faz parte do processo de vinculação e da experiência de formar uma nova família: “estamos também a falar em termos de família, vinculação, de participação numa coisa que se pretende que seja a dois e não só vivida por um” (E12).

Os sentimentos de segurança referem-se ao facto da parturiente se sentir apoiada e acompanhada ao longo de todo o processo, não o vivenciando sozinha. A maioria das puérperas refere que, a simples presença do seu companheiro, é suficiente para lhes transmitir este sentimento de segurança, pois caso algo aconteça, o pai estaria presente: “eu sabia que ele estava lá (…) mesmo que não o estivesse a ver” (E10).

Os sentimentos de suporte relacionam-se com transmissão à puérpera de confiança, coragem, apoio e força para a vivência do trabalho de parto, sendo um fator que ajuda a ultrapassar a dor/ansiedade, bem como a controlar as emoções: “(…) o facto de ele estar lá comigo, é o meu apoio, é eu saber que se eu tiver alguma situação ele está lá para me apoiar e portanto vai-me ajudar a ultrapassar esses picos de ansiedade ou esses picos de dor” (E4);

Os sentimentos de pertença referem-se à relação que a puérpera mantém com o pai da criança, que justificam a importância da sua presença durante o trabalho de parto, traduzindo-se em: “peça crucial no puzzle” (E4) e “nunca pensaria deixar fora da sala de partos” (E4).

Os sentimentos de calma percecionados pela mulher enquanto fatores que a acalmam e tranquilizam, relacionam-se, principalmente, com o olhar do pai, a sua presença e postura corporal serena: “(…) ele esteve comigo antes e portanto é todo este processo que eu lhe estava a falar de confiança e tranquilidade (…)” (E7).

Importa realçar que, para cada um dos sentimentos referidos nas entrevistas, constatámos que as demonstrações de afeto, o relembrar de exercícios de preparação para o parto e a

atitudes/comportamentos do pai, observados e registados nos guias de observação individuais, traduziram- se nos vários sentimentos que as mulheres exprimiram oralmente.

Comportamentos/Atitudes

A presença do pai, no período expulsivo do trabalho de parto, traduz-se num comportamento que pode

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influenciar a perceção de dor/ansiedade da parturiente. No que respeita aos comportamentos/atitudes do pai benéficos no alívio da dor/ansiedade da parturiente, identificam-se a transmissão de palavras de apoio, compreensão, conforto e incentivo, postura calma e boa disposição, o dar a mão, o olhar, demonstrações de afeto, o relatar os acontecimentos, o não pressionar e o relembrar exercícios de respiração. Algumas puérperas identificam ainda a simples presença do pai como fator benéfico para este alívio, afirmando que

“(…) só a presença, o estar lá é suficiente (…)” (E8).

Os resultados analisados estão de acordo com a literatura(9), uma vez que defendem que comportamentos como: ajudar a parturiente a executar padrões respiratórios, manter o contacto visual, usar palavras de elogio e incentivo num tom de voz calmo e segurar a mão, têm um contributo positivo no alívio da dor/ansiedade da parturiente, transmitindo segurança e confiança.

A maioria dos comportamentos identificados como benéficos pela puérpera estão em consonância com o verificado nos guias de observação, sendo os mais comuns as carícias e o segurar a mão.

Comportamentos observados como tocar no ombro, contacto permanente e demonstrar empenho em apoiar a mulher não foram valorizados.

Relativamente aos comportamentos/atitudes neutros realça-se a distância da parturiente, a inexistência de contacto, assim como a falta de apoio derivada da deficiente preparação para o evento, que leva a que o pai não se encontre na melhor condição para apoiar a mulher.

Capacidades/Habilidades

Ao pai reconhecem-se potencialidades na redução da ansiedade da parturiente, que quando mobilizadas contribuem para uma experiência mais positiva do parto(13). Assistir a parturiente, estimulando-a a pôr em prática exercícios aprendidos nas aulas de preparação para o parto e apoiando-a, são aspetos que refletem essas mesmas capacidades(9).

No que diz respeito às capacidades percecionadas pelas parturientes realça-se a importância do pai relembrar os exercícios de respiração, ensinados nas aulas de preparação para o parto, e também o facto de conhecerem as fases do mesmo. Reconhecem ainda, frequentemente, a sua capacidade de incentivo e de transmissão de força. Apesar de estes aspetos não terem sido observados nem verbalizados pela puérpera são muito valorizados como comportamentos que poderiam ter sido adotados, com uma

influência positiva na diminuição da dor/ansiedade. Da mesma forma, capacidades como a confiança que o pai transmite nas palavras que usa e a manutenção do contacto físico, são valorizadas.

As puérperas percecionam e valorizam estas capacidades/habilidades do pai devido ao tipo de ligação que têm com o mesmo. Assim, quando questionadas sobre a comparação entre as capacidades do pai no alívio da dor/ansiedade e as possíveis capacidades de outra pessoa significativa, todas as puérperas referiram que o pai é a pessoa ideal para o acompanhamento durante o trabalho de parto. Dois argumentos que defendem a sua opinião são o tipo de relação estabelecida com o pai, enquanto companheiro e cúmplice, e o caráter íntimo da relação entre o casal, que permite à parturiente sentir-se mais à vontade para

demonstrar a dor/ansiedade que está a sentir. Uma puérpera considera, ainda, que essa demonstração de dor perante outra pessoa significativa consistiria num falhanço da sua função, que geraria preocupação:

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“(…) se fosse outras pessoas eu não queria falhar (…) não queria estar a preocupá-las” (E7). Existiria também uma preocupação das parturientes em não provocar sentimentos de ansiedade/inquietação na pessoa significativa que a acompanharia no lugar do seu companheiro, evidenciado em afirmações como:

“(…) Ahhh, para não os [outros familiares] preocupar… com ele, naquele momento, não tive preconceitos nenhuns (…) por isso eu acho que é importante ser ele (…) porque se for outra pessoa, nós tentamos não preocupar, tentamos não dizer…” (E7).

Incapacidades/Dificuldades

De um modo geral, as mulheres estão satisfeitas com o apoio que os seus companheiros lhes

proporcionam(13). No entanto, nem sempre este papel é desempenhado quer por incapacidade, quer por dificuldade em fazer uso das suas potencialidades, o que resulta numa desvalorização das mesmas por parte da parturiente. Este facto reflete-se numa perceção não benéfica (neutra ou prejudicial) do papel do pai em relação à sua influência na dor/ansiedade experienciada pela parturiente.

Deste modo, no que se refere às incapacidades/dificuldades percecionadas como neutras, identifica-se o papel pouco significativo do pai no alívio da dor/ansiedade: “(…) na dor não teve [influência]” (E1); “(…) acho que não [teve algum comportamento que influenciasse a ansiedade sentida]” (E6).

Algumas puérperas referem a sua própria concentração no momento como um obstáculo ao desempenho de um papel mais significativo por parte do pai, afirmando que: “(…) mas eu estava concentrada no fazer força e no fazer o meu papel, e o resto… esqueci-me um bocado do resto, nem as pessoas que estavam à volta, que eram várias, estava realmente concentrada naquilo” (E10).

Importa ainda salientar que algumas puérperas, apesar de afirmarem que o pai não influenciou a dor sentida, consideram que o mesmo desempenhou o seu papel através da sua simples presença, uma vez que não lhe reconhecem mais potencialidades: “(…) porque não pode participar muito mais do que estar ali sentado comigo (risos)” (E7).

Relativamente às incapacidades/dificuldades percecionadas como prejudiciais verifica-se o grau de ansiedade do pai face ao acontecimento, e algumas manifestações fisiológicas como palidez, sudorese, indisposição e mal-estar, uma vez que suscitam ansiedade e preocupação na parturiente: “não [teve algum comportamento que influenciasse a dor sentida], ele estava mais nervoso que eu… (risos) acho que eu estava preocupada com ele entretanto” (E2); “sim, deixou-me um bocadinho mais ansiosa” (E6).

CONCLUSÃO/ LIMITAÇÕES DO ESTUDO

Para dar resposta à questão de investigação (Como é que a parturiente perceciona a presença do pai no alívio da dor no trabalho de parto?), importa realçar que, apesar de todas as mulheres entrevistadas terem recorrido à analgesia epidural, salienta-se que esta só foi administrada numa fase de trabalho de parto ativo, em parturientes cuja cervicometria se situava entre os três a cinco centímetros, sendo que até esta fase existem contrações que já são experienciadas como dor.

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Posto isto, os resultados demonstram que a transmissão de palavras de apoio, compreensão e incentivo associada a demonstrações de afeto e contacto físico permanente proporcionam à parturiente sentimentos de calma e segurança, possibilitando uma vivência plena do acontecimento.

Reconhece-se que a comunicação verbal e não verbal do pai através do seu envolvimento no

acontecimento, com boa disposição, com uma postura calma, com o olhar e concentração na mulher e no evento, poderá suscitar sentimentos de suporte/segurança na parturiente. Em casos em que o pai tenha frequentado o curso de preparação para o parto poderá ser o monitor, orientando e auxiliando nos momentos das várias respirações e força durante as contrações. Por outro lado, algumas parturientes referem como importante a simples presença do pai.

Verificaram-se situações em que o papel do pai foi desvalorizado, por vezes tornando-se ele próprio um foco de ansiedade para a parturiente, no entanto, tendo em conta as unidades de enumeração, estes aspetos não foram significativamente referenciados.

A totalidade das mulheres entrevistadas refere o pai como a pessoa ideal para acompanhar no trabalho de parto, devido à sua intimidade e relação de cumplicidade, sendo também benéfico na vinculação precoce da tríade.

A todas as mulheres entrevistadas foi administrada a analgesia epidural. Por este facto, durante as entrevistas, as perguntas relativas à dor percecionada na pós-analgesia foram direcionadas para a ansiedade. Assim, recorremos ao triângulo dor/ansiedade/atenção(1) para interpretar os resultados. Ao abordarmos a dor devemos ter em conta as suas dimensões cognitiva e afetiva, e não apenas a sensorial, uma vez que a sua perceção relaciona-se também com processos psicológicos(4). Assim sendo, a fixação psicológica na dor e a ansiedade associada podem exacerbar a perceção da mesma(1,4). O papel do pai será descentralizar a parturiente da sua perceção da dor/ansiedade. Como referem certos autores(9), o pai tem uma capacidade especial para encaminhar e encorajar a parturiente durante o trabalho de parto, pois este sabe quando deve estimular a parturiente e incentivá-la a controlar a dor.

Os resultados do estudo revelam que a presença do pai conduz a parturiente a sentir menos ansiedade, não focalizando a sua atenção nos mecanismos fisiológicos do parto, mas sim na vivência do mesmo enquanto momento de partilha e de receção de uma nova vida. Por este motivo, e de acordo com a literatura(1), a presença do pai deixá-las-á menos ansiosas e menos concentradas nos processos fisiológicos e

eventualmente dolorosos, o que poderá diminuir a sua perceção de dor.

Por este motivo, espera-se que os enfermeiros facilitem, proporcionem condições e promovam a presença do pai durante todos os momentos do trabalho de parto, mesmo que este resulte num parto distócico, uma vez que a sua presença tem o potencial de deixar a parturiente mais calma e menos ansiosa. O enfermeiro deverá encarar o pai como uma figura importante não só na vinculação, mas também como protagonista no alívio da dor/ansiedade.

Com vista à comprovação da relação direta entre a dor da parturiente e o papel do pai na sala de partos, e uma vez que se verifica a escassez de estudos realizados sobre este tema, apelamos ao aprofundamento do mesmo em futuros trabalhos de investigação, com tempo e recursos adequados à escolha de uma

população que não recorra a qualquer tipo de analgesia durante o trabalho de parto.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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