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TT74 VALORAÇÃO AMBIENTAL

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Academic year: 2021

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TT74

VALORAÇÃO AMBIENTAL

MARIZE LECHUGA DE MORAES BORANGA

ENG. CIVIL PELA UFMS E SANITARISTA PELA FUNDACAO OSWALDO CRUZ DO RJ; MESTRE EM MEIO AMBIENTE PELA UNIDERP-UNIVERSIDADE DE DESENVOLVIMENTO DA REGIAO DO PANTANAL;

INSTRUTORA DE AVALIACOES DA CAIXA DESDE 1996; MINISTRA CURSOS DE AVALIACOES PELO CREA MS E EM CURSOS DE ESPECIALIZAÇÃO NA UNAES; EX- DIRET. NACIONAL DA ABES- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENG. SANITARIA E AMBIENTAL; PRESIDENTE DO CONGRESSO DA ABES DE 2005; INSTRUTORA DE AVALIACOES E GERENTE DE CREDITOS IMOBILIARIOS DA CAIXA

EM MS.

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VALORACAO AMBIENTAL

MARIZE LECHUGA DE MORAES BORANGA

RECURSOS NATURAIS E AMBIENTAIS

RESUMO.O presente trabalho tem como objetivo apurar o VALOR, em dinheiro, necessário ao repovoamento do Rio Miranda, atingido pelo desastre ecológico, consistente na morte de 600 (seiscentas) toneladas de peixes, dos mais diversos tamanhos e espécies.O desastre ecológico ocorreu durante o mês de outubro de 1985, ao longo do Rio Miranda, provocando a morte de aproximadamente 600 (seiscentas) toneladas de peixes dos mais diversos tamanhos e espécies, pelo uso de agrotóxicos.Conforme sentença, o pagamento pelos danos ambientais causados ao Meio Ambiente, considerou os custos para o repovoamento do citado rio.

Palavras – chave:Valoração, ambiental, mortandade, peixes,rio.

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1. Considerações Técnicas

Os peixes são recursos naturais importantes dentro do ecossistema pantaneiro, e também pelo seu valor econômico para o Estado de Mato Grosso do Sul, em se tratando de pesca de subsistência ou esportiva.

Os ecossistemas são constituídos por elementos abióticos, como o ar, a luz, os ventos e o solo e os bióticos, ou seja, os seres vivos, neste caso representado pela fauna e flora pantaneira, em particular, a avifauna, a ictiofauna (termo geral relativo a todos os tipos de peixe) e a microfauna.

Todos se inter-relacionam de maneira equilibrada e dinâmica, ocorrendo então o ciclo de matérias e um fluxo de energia constante.

Dentro de uma visão ampla no contexto pantaneiro, deparamo-nos com incontáveis ecossistemas. As áreas úmidas sul-americanas, aí incluindo- se o Pantanal, formam uma das áreas de maior diversidade (Resende apud Neiff, 1990).

A homeostase, ou seja, o equilíbrio dinâmico do ecossistema é determinado pelo meio físico, que atuando sobre algumas espécies através dos processos biológicos de nutrição, respiração e decomposição, provoca alterações neste meio ambiente, fazendo com que ocorra a possibilidade de desenvolvimento de outras espécies, alcançando-se uma comunidade estável, não mais levando as alterações do meio.

O clímax de uma comunidade caracteriza-se por uma complexa rede alimentar, onde a produção de matéria orgânica produzida pelos produtores está em perfeito equilíbrio com a quantidade de matéria orgânica degradada.

Uma espécie pode apresentar-se em varias cadeias alimentares e estar em níveis tróficos (nível de nutrição onde há troca de energia entre os organismos de uma rede alimentar) diferentes, como no exemplo da figura abaixo:

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Para melhor compreensão, podemos dizer que os seres vivos ocupam determinadas posições, ou seja, os produtores (vegetais clorofilados), os consumidores (animais) e os decompositores (fungos e bactérias). Cada segmento destes pertence a um nível Trófico, formando então os vários níveis de obtenção de energia dentro de uma cadeia alimentar.

Segundo dados da perícia feita por ocasião da constatação do desastre ambiental, a maior quantidade de espécimes de íctios observada foi a da espécie Prochilodus lineatus (Curimbatá), detritívoro, situando-se na base da cadeia alimentar de inúmeras outras espécies pantaneiras, como outros peixes e garças.

Via de regra, somente uma pequena porcentagem de espécies de peixe alimentam-se de detritos. A grande maioria dos peixes encontra-se em níveis tróficos superiores e utiliza-se de invertebrados como sua ligação com a base detritívora da cadeia alimentar (Resende et al, apud Eggers et al, 1984). A exceção à regra acontece nos grandes rios sul-americanos, com grandes planícies de inundação. Nestes, a abundancia dos peixes detritívoro está provavelmente associada a abundancia de material diurético e ao êxito no seu aproveitamento. Os peixes consomem o detrito sedimentado que freqüentemente está misturado com partículas minerais sem valor nutritivo (Resende et al, apud Yossa-Perdomo, 1996). Os peixes detritívoros desempenham importante papel nos ecossistemas onde vivem, atuando na fase de pré-mineralização da matéria orgânica presente no lodo, tornando-a mais facilmente degradável pelos microorganismos, acelerando dessa forma a reciclagem de nutrientes (Resende et al, apud Gneri e Angelescu, 1951)

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Os peixes detritívoros da planície do Rio Miranda são compostos pelas espécies das Famílias Prochilodontidae, Curimatidae e Loricariidae.

São espécies altamente especializadas, na medida em que apresentam variações em sua dieta, dependendo do ambiente e período do ano.

O peixe detritívoros da figura baixo compõe em grande parte a rota de fluxo de energia e a ciclagem de matéria orgânica do Pantanal. São elos iniciais e fundamentais de uma rede alimentar complexa que envolve níveis mais elevados como os peixes, aves e répteis ictiófagos explicando em parte a abundancia e diversidade da vida na região (Resende et al, 1998).

Peixe detritívoro, Prochilodus lineatus (Curimbatá).

Peixes do Pantanal-Manual de Identificação, p.73.

Embrapa – SPI – Brasília, DF, 1999.

Além dos detritívoros, temos outras espécies dentre a mais de centenas encontradas na planície de inundação pantaneira. O Pantanal abrange uma grande quantidade de espécies de peixes, tendo sido identificadas até o presente, 262 espécies (Resende et al, apud Briski et al).

Destas, cerca de 10 espécies são aproveitadas pela pesca comercial e turística (Resende et al, apud Catella et al, 1996) e as ultimas informações coletadas mostram um aumento crescente da pesca turística sobre os estoques pesqueiros de um dos últimos redutos de grande potencial pesqueiro do Brasil (Resende et al, 1998).

Além das espécies ictiofauna, existem outras espécies as quais fazem parte do ecossistema pantaneiro e que tem em sua cadeia alimentar, o peixe como uma das fontes de energia.

CLASSE REPRESENTANTE Répteis Sucuri

Cobra -d’água Jacaré

Aves Mergulhão Biguá-uma Biguatinga Garça Colhereiro

Tuiuiú, cabeça-seca.

Águia-pesqueira Trinta-réis Talha-mar

Martin - pescador

Mamíferos Lontra, ariranha Morcego-pescador

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Observando-se este quadro demonstrativo, podemos constatar que em se tratando de cadeia alimentar os peixes, as aves, os répteis e os mamíferos, são direta ou indiretamente afetados, na ocorrência de algum desequilíbrio ambiental.

A ictiofauna desempenha papel de fundamental importância, como componente do ecossistema Pantanal. Os grandes estoques pesqueiros representam um dos maiores compartimentos de reserva viva de nutrientes e de energia do sistema, com implicações na circulação e no fluxo destes elementos.

Os peixes, entre outras funções, atuam como dispersores de sementes e constituem a alimentação básica para muitos componentes da fauna (Nascimento et al, apud Catella, 1992).

2. Metodologia

Com o objetivo de alcançar o mais correto calculo do valor, em pauta, duas possibilidades podem ser consideradas:

1 - O valor do quilo do pescado atualmente, fornecidos pela colônia de pescadores e demais fontes de compra e venda existentes em Miranda e região.

2 - O valor monetário equivalente ao número de alevinos necessários para lançamento no rio, objetivando seu repovoamento.

Para total compatibilidade com a sentença, onde é citado “... custos para o repovoamento do Rio Miranda.” Ás fls. 88 dos autos, o item 2 é que se mostra mais apropriado, e, portanto o utilizado nesta perícia.

Ainda com base para este trabalho utilizou-se as técnicas exigentes de cultivo de peixes em tanques até a faixa de peso de 2 kg, por ser este o peso normal de uma fêmea adulta desovar pertencente à espécie “PIAUÇU”.

De acordo com os estudos apresentados no Relatório Técnico sobre rastreamento das causas do Impacto Ambiental, em pauta, de outubro de 1985, 2º apenso ao processo, o peixe que apresentou o maior número de organismos mortos foi o “CURIMBATÁ”. Como são poucas as informações de recria e engorda desta espécie, optamos pela utilização da espécie

“PAIAUÇU”, que é a mais próxima do “CURIMBATÁ”, pela sua posição na cadeia alimentar como peixe onívoro, que consome diversos tipos de alimento em seu ambiente natural.

As outras espécies de peixe encontradas na amostra estudada foram o “PINTADO”, o “DOURADO” e o “PACÚ”, espécies mais nobres das quais, optamos pelo “PINTADO”, cuja técnica de recria e engorda está mais facilitada e conseqüentemente pela uniformização dos cálculos necessários neste trabalho.

Da quantidade:

De acordo com as informações na região do desastre ecológico, de uma amostra de pescado, à beira do barranco, o mais provável é que 80%

seja de “CURIMBATÁS”, “BAGRES” e “PIRANHAS” e que 20% seja de

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“PINTADO”, “DOURADO” e “PACÚ”. Tendo em vista não existem outros estudos comprobatórios, serão estes os percentuais aceitos para parte das conclusões quantitativas deste trabalho.

Baseando-se nas considerações técnicas descritas e aliando-se às informações fornecidas pelos técnicos do Projeto Pacu, empresa sul- matogrossense pioneira na produção de alevinos, destinada à produção industrial de surubins e peixes nativos do Pantanal Mato-Grossense, dimensionaram-se os cálculos seguindo o raciocínio abaixo.

Sendo o objetivo encontrar o respectivo custo para o repovoamento do Rio Miranda com 600 toneladas de peixe, podemos partir deste numero para obtermos a sua correspondência em numero de indivíduos.

Portanto, considerando cada individuo alcançando um peso médio final de 2 kg, conforme já mencionado no item Metodologia, obtém-se o seguinte calculo:

ƒ 600 toneladas ou 600.000 kg / 2 kg = 300.000 indivíduos

Há que se considerar ainda, que esse numero de peixes ao ser lançado no rio, visando um hipotético repovoamento, teria baixa possibilidade de sobrevivência devido ao ambiente hostil. Tanto pela presença de predadores, tais como aves, morcegos, jacarés e outros, como também, pela baixa tolerância em ser exposto a um novo ambiente, necessitando tempo para desenvolver suas defesas e de se adaptar a uma nova alimentação.

Há poucos dados reais de repovoamento de peixes criados em cativeiro remanejados para um ambiente natural, como um rio. Os que existem apresentam conclusões bem pouco favoráveis apresentando um índice de sobrevivência de aproximadamente 10%, segundo o doutorando Flavio Nascimento, especialista em reprodução de peixes, da Embrapa.

De acordo com a tecnologia atual, para o cultivo de 300.00 indivíduos, devemos considerar três fases de produção:

1 – A fase 1 é a etapa onde os alevinos de 6g a 100g treinados à ração são estocados em tanques até atingirem o peso de 100g, após 50 a 60 dias. Nessa fase o índice de sobrevivência é de 70 a 80% (vide quadro anexo).

2 – A fase 2 é a etapa onde os alevinos de 100g são estocados em viveiros maiores, até obterem um peso médio de 600g entre 90 a 100 dias de cultivo, com um índice de sobrevivência de 80 a 90%.

3- A fase 3 é a etapa onde os peixes com um peso de 600g são remanejados para viveiros ainda maiores, até alcançarem um peso de 3 kg entre 330 a 390 dias. Até o momento não há registros de cultivos em tanques- rede onde os peixes já tenham alcançado 3 Kg.

Portanto, considerando os números acima, efetuamos os seguintes cálculos:

300.000 = 3.000.000 de indivíduos de 2 kg com 10% de índice de sobrevivência.

0,10

(8)

3.000.000 = 3.157.895 de indivíduos considerando 95% de sobrevivência.

0,95

3.157.895 =3.947.368 de indivíduos considerando 80%e índice de sobrevivência

0,80

3.947.368 =5.639.098 de indivíduos considerando 70% de índice sobrevivência.

0,70

Conforme já mencionado, considerando-se numa hipotética amostra, uma porcentagem de 80% de “PIAUÇU” e 20% de “PINTADO”, obtém-se o seguinte cálculo:

5.639.098 x 80% = 4.511.278,40 de alevinos “PIAUÇU”.

5.639.098 x 20% = 1.127.819,60 de alevinos “PINTADO”.

Nestes custos ainda devemos estimar o valor necessário para a alimentação dos alevinos durante a fase de cultivo de aproximadamente 360 dias, que segundo a empresa AGRPEIXE não deve exceder a 75 kg/ha./dia.

Portanto, podemos obter o seguinte cálculo:

75 x 4 ha. x 360dias = 108.000 kg de ração.

Conseqüentemente, para a obtenção da quantidade necessária de peixes para repovoamento do rio, utilizando-se seiscentas toneladas de pescado, com as aproximações de cálculo necessárias, concluímos que:

ƒ Há necessidade de 4.511.279 de alevinos de PIAUÇU

ƒ E de 1.127.819 de alevinos de PINTADO

ƒ E de 108.000 kg de ração

Do Preço:

Através de levantamento de preços de alevinos, e de ração, conforme anexo, conclui-se pelo o que segue:

ƒ Para 4.511.278 de alevinos de PIAUÇU de 3 a 4 cm, ao custo unitário de R$ 0,10 e.

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ƒ Para 1.127.819 de alevinos de PINTADO de 6 a 8 cm, ao custo unitário de R$ 1, 00, conforme tabela em anexo.

ƒ Para 108.000 kg de ração, ao custo de R$ 27,96 o saco de 25 kg, conforme preços em anexo.

Obtêm-se o seguinte resultado:

ƒ R$ 451.127,80 de PIAUÇÚ

ƒ R$ 1.127,820 00 de PINTADO

ƒ R$ 120.781,20 de ração Num total final de:

ƒ R$ 1.699.735,00 (hum milhão, seiscentos e noventa e nove mil, setecentos e trinta e cinco reais).

3. Conclusão e recomendações

Conforme os cálculos acima e demais considerações, concluímos que, para o repovoamento do Rio Miranda, considerando o valor de alevinos no rio, de 600 toneladas de pescado, o valor apurado é de R$ 1.699.735,00 (hum milhão, seiscentos e noventa e nove mil, setecentos e trinta e cinco reais).

O trabalho visa oferecer uma metodologia para a valoração de casos de natureza semelhante.procura também fazer uma analise critica sobre a norma de avaliações que ainda pouco aborda o leque de possibilidades do assunto Meio Ambiente em seus procedimentos de avaliações e valorações.

Recomenda-se reunir esforços no sentido de sensibilizar um maior número de técnicos e especialistas da área visando o aperfeiçoamento nas regulamentações mínimas necessárias para posicionamentos o mais próximo da boa técnica e buscando um embasamento cientifico.

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Anexo 1

Quadro 1 - Dados Técnicos sobre Produção de Surubins no Projeto Pacu/Agropeixe Ltda.

Fases

Peso Inicial (g)

Peso Final (g)

Tempo (dias)

Crescimento (g/dia)

Produção (kg/ha)

Conversão Alimentar

Sobrevivência (%) 1 6 100 50 a 60 1,6 a 1,9 15 kg/m3 1,1 a 1,3 70-80 2 100 600 90 a 100 5,0 a 5,5 4.800 a 5.400 1,4 a 1,7 80-90 3 600 3.000 330 a 390 6,2 a 7,3 4.700 a 4.900 1,9 a 2,1 95-98

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Referências

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