• Nenhum resultado encontrado

A viabilidade ambiental de assentamentos urbanos no entorno de unidades de conservação: o caso do condomínio Mini-Granjas do Torto

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "A viabilidade ambiental de assentamentos urbanos no entorno de unidades de conservação: o caso do condomínio Mini-Granjas do Torto"

Copied!
155
0
0

Texto

(1)

A VIABILIDADE AMBIENTAL DE ASSENTAMENTOS URBANOS NO ENTORNO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO. O CASO DO CONDOMÍNIO MINI-GRANJAS

DO TORTO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação “Stricto Sensu” em Planejamento e

Gestão Ambiental da Universidade Católica de Brasília, como requisito para obtenção do Título de Mestre em Planejamento e Gestão Ambiental.

Orientador: Prof. Dr. Luis Fernando Macedo Bessa

(2)

CDU 574.7 1. Condomínios - Impacto ambiental. 2. Planejamento urbano - Distrito Federal (Brasil). I. Bessa, Luis Fernando Macedo, orient. II. Título.

O82v Oshiyama, Sâmia Diniz.

A viabilidade ambiental de assentamentos urbanos no entorno de unidades de conservação: o caso do condomínio Mini-Granjas do Torto / Sâmia Diniz Oshiyama. – 2007.

156 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2007. Orientação: Luis Fernando Macedo Bessa.

(3)

A Deus,

Aos meus pais,

(4)

A pressão da ocupação urbana no Distrito Federal, através de assentamentos urbanos irregulares desde a construção da capital, tem provocado inúmeros impactos ao meio natural e gera um custo social e ambiental. Em contrapartida, há um grande número de áreas protegidas no DF, entre UCs federais e distritais. Muitas dessas UCs se encontram sem o devido plano de manejo e sem a delimitação de suas zonas de amortecimento, o que provoca conflitos. A pressão por moradia fez com que surgissem inúmeros condomínios em áreas sensíveis ambientalmente, comprometendo a preservação do bioma cerrado. Entretanto, ajustes e medidas de prevenção e controle ambiental devem ser tomados por parte dessas comunidades que residem nos condomínios. Para o condomínio Mini Granjas do Torto, limítrofe ao PNB, essa responsabilidade é de extrema importância para a manutenção de corredor ecológico e da zona de amortecimento do PNB. Visando analisar a viabilidade ambiental do condomínio, a pesquisa levanta dados para a caracterização ambiental e antrópica da área, identifica os impactos, a percepção ambiental dos moradores e por fim propõe medidas atenuantes e de prevenção. São discutidos aspectos ambientais bem como a interação e a percepção dos moradores em relação à área em que residem através de questionários. Com um grau de viabilidade ambiental parcial (empreendimento aceito com restrições) e falta de participação dos moradores nas questões ambientais do condomínio, foram apontadas propostas de acordo com os princípios da Educação Ambiental, visando à sensibilização, mudança de hábitos, minimização dos impactos e proteção ambiental eficiente.

(5)

since the construction of the capital, has provoked innumerable impacts to the natural way and generates a social and environmental cost. On the other hand, it has a great number of federal and districtal protected areas in the DF, between Units of Conservation. Many of this UCs are founded without the due land-use planning and the delimitation of its buffer zones, are met many times contradictory, provoking conflicts. The pressure for housing generated innumerable condominiums in environmental sensitive areas, compromising the preservation of biome cerrado. However, adjustments and measures of prevention as well as environmental control must be taken by communities that inhabit the condominiums. For the “Mini Granjas do Torto” Condominium, bordering the National Park of Brasilia (NPB), such responsibility is of extreme importance for the maintenance of ecological corridor and the buffer zone of the NPB. Aiming at analyzing the environmental viability of the condominium, the research collected dates for the environmental and anthropic characterization of the area; it identifies the impacts, the environmental perception of the inhabitants and finally considers extenuating and prevention measures. Environmental aspects as well as the interaction and the perception of the inhabitants in relation to the area are argued where they inhabit through questionnaires. With a degree of partial environmental viability (accepted enterprise with restrictions) and lack of participation of the inhabitants in the environmental issues of the condominium, proposals had been pointed in accordance with the principles of the Environmental Education, aiming to the sensitization, changing of habits, minimization of the impacts and efficient environmental protection.

(6)

SUMÁRIO

RESUMO...04

ABSTRACT...05

LISTA DE FIGURAS...08

LISTA DE QUADROS...10

1. APRESENTAÇÃO ...12

1.2 Justificativa ...15

1.3 OBJETIVOS ...17

1.3.1 Objetivo Geral ...17

1.3.2 Objetivos Específicos ...17

1.3.3 Problema ...18

1.3.4 Objeto da Pesquisa...18

1.4 Metodologia...18

1.4.1 Avaliação da percepção ambiental da comunidade do Mini-Granjas do Torto...19

1.4.2 Análise da Viabilidade Ambiental...20

2. O PARQUE NACIONAL DE BRASÍLIA ...24

3. O ENTORNO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ...28

3.1 Considerações Legais ...28

3.2 Necessidade de Zonas de Amortecimento em UCs Urbanas ...30

3.3 Considerações Ambientais...32

4. CONDOMÍNIOS NO DISTRITO FEDERAL: CONSIDERAÇÕES FUNDIÁRIAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS ...36

4.1 Histórico da implantação dos condomínios no DF ...38

5. O CONDOMÍNIO MINI-GRANJAS DO TORTO...45

5.1 O condomínio e o PDOT/97 ...45

5.2 Impasses na Justiça e Questões Ambientais...46

5.2.1 Resumo da Situação Jurídica do Condomínio ...50

6. MEIO FÍSICO E MEIO BIÓTICO...52

6.1 Diagnóstico do Meio Físico ...52

6.1.1 Solos ...53

6.1.1.1 Cambissolo... 54

6.1.1.2 Latossolo...55

6.1.1.3 Latossolos Vermelho-Amarelo...57

6.1.1.4 Coluvionar... 58

6.1.1.5 Susceptibilidade à Erosão...58

6.2 Geologia ...60

6.3 Geomorfologia...61

6.4 Hidrogeologia...62

6.5 Hidrologia...64

6.5.1 Unidade Hidrográfica Santa Maria/Torto...66

6.2 Diagnóstico do Meio Biótico ...67

6.2.1 Vegetação ...67

6.2.1.1 Campo Sujo...70

6.2.1.2 Mata de Galeria ...71

6.2.1.3 O Problema das Espécies Exóticas...72

6.2.1.4 Importância do Florestamento nas Pequenas Propriedades ...73

6.2.2 Fauna... ...74

7. DIAGNÓSTICO DO MEIO ANTRÓPICO...77

(7)

7.1.1 Sistema de Abastecimento de Água antes da CAESB ...81

7.1.2 Esgoto...82

7.1.3 Drenagem Pluvial ...83

7.1.4 Energia Elétrica...83

7.1.5 Resíduos Sólidos ...83

7.2 Considerações Ambientais em seus Estatutos...84

7.3 Relatório da Equipe Ambiental do Condomínio ...85

8. O PROCESSO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONDOMÍNIO ...88

8.1 A Abordagem da Ecologia Humana ...88

8.2 A Educação Ambiental (EA) como Instrumento de Prevenção ...89

8.3 A Importância da Percepção Ambiental ...90

9. RESULTADOS E DISCUSSÕES ...92

9.1 Percepção dos Moradores do Condomínio...92

9.2 Atividades Antrópicas na Região ...103

9.3 Análise da Susceptibilidade à Erosão no Condomínio...107

9.4 Identificação de Impactos no Condomínio...109

9.4.1 Meio físico...109

9.4.2 Meio Biótico...111

9.4.3 Meio Antrópico ...112

9.5 Grau de Viabilidade Ambiental ...113

9.5.1 Viabilidade Ambiental (VA) ...113

9.5.2 Efeitos do projeto sobre o meio ambiente ...114

10. PROPOSTAS ...118

10.1 Programa de Educação Ambiental no Condomínio...118

10.2 Estratégias ...119

10.2.1 Reativação da Comissão de Meio Ambiente...120

10.2.2 Rodadas de Palestras e Panfletos Educativos ...121

10.2.3 Exemplo de Cartilha sobre Consumo Sustentável ...122

10.2.4 Revitalização das placas indicadoras nas vias...122

10.2.5 Atividades Educativas de Lazer e Culturais (comunidade vizinha, crianças) ...124

10.2.6 Revitalização do Site do Mini Granjas...124

10.3 Medidas de controle ...125

10.3.1 Reativação do Programa de Plantio de Mudas Conforme PRAD ...125

10.3.2 Áreas a Recuperar no Condomínio...126

10.3.3 Revitalização do Ribeirão do Torto...127

10.3.4 Disciplinar a Criação de Animais Domésticos ...128

10.3.5 Resíduos Sólidos no Condomínio...129

11. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES ...131

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...135

ANEXOS ...142

ANEXO A Lista de espécies vegetais encontradas na área do Condomínio conforme o PRAD. ...142

ANEXO B Termo de Doação à CAESB ...149

ANEXO C FOSSA SÉPTICA...150

ANEXO D LISTA DE ESPÉCIES DE MATA DE GALERIA E NASCENTES ...151

(8)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Etapas do processo de elaboração da pesquisa...19

Figura 2: Parques Nacionais no Brasil...24

Figura 3: Entorno do PNB anterior à Lei n° 11.285/2006 que altera esta poligonal (Escala 1:150.000)...29

Figura 4: Cartograma identificando os condomínios no DF e o condomínio Mini Granja do Torto...37

Figura 5: Característica dos Parcelamentos no DF...41

Figura 6: Situação dos Parcelamentos Urbanos...41

Figura 7: Grau de Implantação dos Parcelamentos Urbanos Informais e Informais...41

Figura 8: Mapa esquemático da localização do condomínio conforme o PDOT/97...45

Figura 9: Classes de Solo encontradas no condomínio...54

Figura 10: Localização do condomínio de acordo com as unidades hidrográficas...65

Figura 11: Vegetação da área: campo sujo e mata de galeria...70

Figura 12: Área de Preservação Permanente ao longo do Ribeirão do Torto...72

Figura 13: Lotes, construções e vias...78

Figura 14: lote 91...79

Figura 15: Via de acesso não pavimentada da Portaria...79

Figura 16: Barragem...82

Figura 17: Reservatório...82

Figura 18: Bomba...82

Figura 19: Rede elétrica...83

Figura 20: Marco inicial da CAESB em 2005...86

Figura 21: Obras de ligação da CAESB em 2007...86

Figura 22: Educação Ambiental e Ecologia Humana...88

Figura 23: Definição da Educação Ambiental...89

Figura 24: Questão 29...92

Figura 25: Questão 2...93

Figura 26: Questão 3...93

Figura 27: Questão 4...93

Figura 28: Questão 5...94

Figura 29: Questão 7...94

Figura 30: Questão 26...95

Figura 31: Questão 8...95

Figura 32: Questão 10...96

Figura 33: Questão 11...96

Figura 34: Questão 12...97

Figura 35: Questão 13...97

Figura 36: Questão 19...98

Figura 37: Questão 14...98

Figura 38: Questão 23...98

Figura 39: Questão 25...99

Figura 40: Questão 27...99

Figura 41: Questão 20...100

Figura 42: Questão 18...100

Figura 43: Questão 24...101

Figura 44: Questão 16...101

(9)

Figura 46: Questão 28...103

Figura 47: Contenção de madeira...104

Figura 48: Criação de animais na Vila Operária...105

Figura 49: Placa indicativa de adoção de nascente às margens do Ribeirão do Torto próxima ao condomínio...105

Figura 50: Incêndio no PNB...107

Figura 51: O Maior incêndio do PNB em 2007...107

Figura 52: Erosão nas vias de acesso...107

Figura 53: Equipamentos para construção de rede pluvial...108

Figura 54: Susceptibilidade à erosão no condomínio. Escala 1: 3500...109

Figura 55: Processo erosivo na época de chuva...110

Figura 56: Escoamento de água pluvial nas vias internas...111

Figura 57: Antiga captação de água...111

Figura 58: Transporte Coletivo...111

Figura 59: Construções...111

Figura 60: Queima descontrolada no interior do condomínio em 2007...112

Figura 61: Entulhos...112

Figura 62: Educação Ambiental não-formal...119

Figura 63: Exemplo de Conteúdo de Cartilha sobre Consumo Sustentável...122

Figura 64: Placa rua A ...123

Figura 65: Placa avenida principal ...123

Figura 64: Placa rua B...123

Figura 67: Placa rua C...123

Figura 68: Placa rua D...123

Figura 69: Placa rua E...123

Figura 70: Placa rua F...123

Figura 71: Placa rua G...123

Figura 72: Layout do Site do condomínio...125

Figura 73: Área 1 da proposta do PRAD...126

(10)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Estudo da viabilidade Ambiental...21

Quadro 2: Categorias de Viabilidade Ambiental de Empreendimentos...22

Quadro 3: Categorias de Viabilidade Ambiental de Empreendimentos (síntese)...23

Quadro 4: Áreas Aproximadas das Poligonais Estudadas...29

Quadro 5: Abordagem dos Planos de Manejo sobre as áreas de entorno...33

Quadro 6: Definições de termos utilizados pela SEDUH aos condomínios do DF...42

Quadro 7: Fitofisionomias do Cerrado...68

Quadro 8: Situação do Condomínio...87

Quadro 9: Efeitos hidrológicos de acordo com o uso...106

Quadro 10: Análise da Viabilidade Ambiental...115

Quadro 11: Avaliação da Viabilidade Ambiental do Projeto...117

(11)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Parcelamentos Irregulares na Bacia do Lago Paranoá...43

Tabela 2: Solos do Distrito Federal...53

Tabela 3: Unidades Geomorfológicas do Distrito Federal de Acordo com sua Área...62

Tabela 4: Sistemas/Subsistemas de Aquíferos do DF...64

Tabela 5: Desmatamento no Distrito Federal de 1954 a 1998...69

Tabela 6: Variações da Área (ha) de Acordo com o Uso do Solo na Sub-Bacia dos Córregos Torto e Santa Maria Nos Anos de 1973, 1984, 1994 e 2001...69

Tabela 7: Área Das Unidades Imobiliárias E Estrutura Urbana...80

Tabela 8: Áreas dos Lotes por Conjunto...80

Tabela 9: Lotes Para Equipamento Público Coletivo e suas Respectivas Áreas...81

Tabela 10: Questão 15: Quais os itens julga mais importantes para o condomínio? Numere em ordem de importância...101

(12)

1. APRESENTAÇÃO

Em 16 de novembro de 1894, uma constatação contida na carta de Glaziou Luiz Cruls, que chefiava a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, que demarcou o quadrilátero do Distrito Federal, conhecido como o “Quadrilátero Cruls”, incumbido de realizar um diagnóstico da potencialidade ambiental da região da nova capital, contemplava a natureza da área demarcada. (CRULS, 1987, apud SEBRAE/DF, 2004a p. 123):

essas fontes, como os grandes rios que regam a região, são protegidas por admiráveis capões aos quaes nunca deveria golpear a machada do homem, senão com a maior circumspecção. São magníficas de verdura os pastos e certamente superiores a todos os que vi no Brazil Central (...). Me dão a paizagem o aspecto mais aprazível e de que não há nada comparável, a não ser em miniatura os antigos parques inglezes, desenhados por Le Notre ou Paxton.

Esse cenário fazia parte da realidade do Distrito Federal do século XIX. Entretanto, desde a fundação de Brasília, em 1960, a região não apresenta as mesmas características fisionômicas da época, ao contrário, percebe-se uma modificação da paisagem da região: o cerrado intacto cedeu lugar às grandes obras de urbanização, inerentes ao período de crescimento populacional e ao desenvolvimento econômico da região.

Em um território de oportunidades que tem atraído muitos imigrantes, faz-se necessária uma gestão ambiental adequada e eficiente desses ambientes ou assentamentos urbanos que se formam, sobretudo os localizados em torno das Unidades de Conservação do DF, sendo atualmente um grande desafio para o poder público do Distrito Federal no que se refere à regulação do uso e ocupação do solo.

Segundo dados do World Resources Institute, quanto ao processo de urbanização,

a população urbana mundial para esta década é de 3,3 bilhões de pessoas, enquanto que em 2025, 2/3 da população mundial será urbana (WRI, 1997 apud JATOBÁ; BURSZTYN; RIBAS, 2002). Segundo a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitação (DISTRITO FEDERAL, 2004), no Distrito Federal (DF), 95% da população é urbana. Embora o DF tenha taxas recentes de crescimento decrescentes, sua taxa anual de crescimento populacional entre 1991 e 2000 foi de 2,79 %, superior à média brasileira que é de 1,63 %.

(13)

estado de Goiás. Anos mais tarde, foi consolidado o deslocamento da ocupação para a região Centro-Oeste com a construção de Brasília no governo de Juscelino Kubitschek (1956-60).

O êxodo rural que ocorreu no Brasil nos anos 50 e 60 fez com que a população rural se deslocasse em direção aos centros urbanos à procura de melhores condições de vida, levando a um “congestionamento” das metrópoles, fazendo com que, em 1980, Brasília já atingisse a marca de 1,1 milhão de habitantes (MELLO & NOVAIS, 1998). A criação de Brasília atraiu milhares de migrantes do Nordeste e de outras regiões do país que almejavam ofertas de trabalho e oportunidades oferecidas pela cidade. Não só o Distrito Federal, mas seu entorno foi alvo de correntes migratórias desde os anos 60.

Sabe-se que antes da fundação de Brasília, em 1958, a paisagem se caracterizava pelo predomínio do cerrado, onde as matas ciliares eram densas e os solos expostos e impermeabilizados ocorriam esparsamente, não existindo ainda o Lago Paranoá. Logo após a inauguração da nova capital, em 1964, inicia-se o processo de urbanização com o surgimento de pequenas manchas urbanas, solos expostos e áreas agrícolas, ainda sem que a paisagem natural do Distrito Federal apresentasse modificações profundas (ANDRADE, 2003).

Mesmo na época da construção de Brasília, já havia conflitos quanto à moradia no Distrito Federal, já que havia uma demanda por moradia por parte da classe operária que se sentia excluída. Essa busca por moradia gerou algumas invasões e conseqüentemente danos ao meio ambiente através de ocupações descontroladas (ANDRADE & GOUVÊA, 2004).

As questões ambientais no Distrito Federal não eram vistas como prioridade, somente ao final dos anos 80 houve um redirecionamento da pauta de temas tradicionais, pois os conflitos ambientais urbanos começaram a despontar. Para Ganem & Leal (2002), a instituição do Poder Legislativo do Distrito Federal, criado em 1991 (Câmara Legislativa do Distrito Federal – CLDF), fez com que na década de 1990 houvesse um crescimento do número de parques1 no Distrito Federal, sobretudo entre 1995 e 1998. O grande número de parques deve-se à preocupação crescente com o aumento populacional que atinge e pressiona as áreas de vegetação nativa, restante do cerrado.

Os condomínios constituíram-se em uma alternativa para a crescente demanda por

habitação (basicamente classe média), nos anos 80 e 90, sem o devido controle por parte do poder público. Essa demanda por habitação vem causando impasses relacionados ao uso e ocupação do solo, o que acarreta não só problemas ambientais como fundiários. Esse descontrole por parte do GDF torna urgente a adequação, dos condomínios já instalados, aos

1 Convém lembrar que certas categorias de parques do Distrito Federal não fazem parte do SNUC (Lei

(14)

parâmetros ambientais através de licenciamentos e outras alternativas na prevenção de impactos.

Os problemas urbanos enfrentados por Brasília são semelhantes aos enfrentados por outras capitais com uma diferença: enquanto as outras levaram séculos para atingir esse grau de desenvolvimento, Brasília levou apenas 40 anos para se tornar um dos maiores aglomerados urbanos do país. A população do Distrito Federal em 2000 já atingia os dois milhões de habitantes, podendo ser acrescentados mais 500 mil para o ano de 2010, sendo que 5% dela localizam-se em zonas rurais (GANEM & LEAL, 2002).

O processo de ocupação do Distrito Federal indica a dificuldade de controle e planejamento, onde se imaginava que a cidade planejada não enfrentaria os problemas inerentes às características da urbanização brasileira (DISTRITO FEDERAL, 2003). O Distrito Federal não estava pronto para tal explosão demográfica e para absorver todo esse contingente populacional sem lançar mão de seus recursos naturais, como água, solo e vegetação, colocando o dilema sobre os desafios ambientais do processo de urbanização em questão, depois de anos de políticas de ocupação e atração de pessoas. A concentração populacional em centros urbanos faz com que a demanda habitacional necessite de uma infra-estrutura básica, como redes de água e esgotos, porém, na falta desse tipo de serviço, a alternativa é encontrada em soluções ambientalmente negativas.

Com esse cenário de ocupação rápida e desordenada no território do Distrito Federal, grande parte dos assentamentos urbanos informais ou irregulares encontra-se no entorno ou dentro de áreas protegidas ou em Unidades de Conservação2 (UC). O Distrito Federal apresenta uma superfície de 5.783 Km² e caracteriza-se por ser a unidade da federação com o maior percentual de áreas protegidas, em torno de 43 % de seu território, antes da criação da APA do Planalto Central em 2002, que abrange todo o Distrito Federal, exceto zonas urbanas consolidadas e algumas dentro de outras APAs, conforme o Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT/97), atualmente em processo de revisão (ANDRADE & GOUVÊA, 2004).

Muitas das UCs no Distrito Federal possuem uma característica distinta de outros estados brasileiros por estarem localizadas em ambientes urbanos que, muitas vezes, as deixam ilhadas. Por esta razão, é de suma importância que se conheça a realidade regional, e a importância ecológica e social das UCs, uma vez que cada uma delas caracteriza-se por realidades socioeconômicas diferentes, o que implica em usos, representações e demandas

2 As UCs são disciplinadas pela Lei n° 9985 de 18 de julho de 2000 que institui o Sistema Nacional de Unidades

(15)

sociais distintas. Também é importante que se faça uma análise de como se processa a relação entre a população circunvizinha e as UCs (BRAGA & PIRES, 2002).

A proteção ambiental no entorno de UCs em áreas urbanas é de extrema importância para sua conservação, sendo necessária a gestão do patrimônio natural que se encontra exposto aos problemas urbanos que afetam a integridade de seu ecossistema. A preocupação atual em torno da temática ambiental visando contornar ou promover ações mitigadoras, sobretudo no Distrito Federal, tem origem em um grande problema que envolve o bioma cerrado que, conforme Braga & Pires (2002), sofreu em trinta anos de ocupação acelerada e desordenada, um desmatamento de 48 % de sua área, maior que a taxa de desmatamento sofrido pela Amazônia no mesmo período. Atualmente apenas 0,85 % do cerrado encontra-se oficialmente em UCs (BUSCHBACHER, 2000).

As zonas tampão3 (buffer zone) que contornam as UCs recebem um tratamento

especial quanto à sua ocupação e utilização já que possuem limitações para que sejam minimizados os impactos na área de preservação. Essas zonas tampão, apesar de sofrerem limites quanto ao uso e ocupação, não são fiscalizadas como deveriam pelos órgãos responsáveis pela sua administração, ocorrendo os chamados “efeitos de borda” (RIO DE JANEIRO, 2004). Pelo fato de o Distrito Federal possuir grande número de UCs ao mesmo tempo em que possui um elevado índice de crescimento demográfico, a gestão e fiscalização dessas áreas e seu entorno, torna-se crucial para que se promova a qualidade de vida da comunidade e se mantenha o que resta dos recursos naturais. Já que muitos desses assentamentos urbanos são uma realidade concreta, que se desenvolveu durante décadas e atendem às necessidades de moradia de boa parte da população, é importante que sejam analisadas medidas mitigadoras que reduzam os impactos nessas UCs.

1.2Justificativa

No Distrito Federal observa-se um processo de urbanização acelerada em que gradualmente as paisagens naturais vão sendo substituídas por paisagens urbanas ou agrícolas. Associado a isso, percebe-se um grande número de UCs criadas, especialmente a partir dos anos 90 no território do Distrito Federal, revelando uma preocupação cada vez maior com a conservação do cerrado local em meio à expansão urbana.

O processo de impermeabilização do solo provocado por asfalto e edificações, por exemplo, provoca o aparecimento de cidades áridas em regiões desflorestadas, afetando a

(16)

qualidade de vida da população, sobretudo numa região de clima seco, que se agrava nos meses de maio a setembro, onde a umidade relativa do ar chega a 15% (GANEM & LEAL, 2002). Com isso percebe-se a importância de se manter as UCs ou até mesmo de se criar outras para que esses efeitos sejam minimizados em tempos de agravamento dos problemas urbanos.

Por outro lado, as comunidades vizinhas instaladas no entorno de UCs não podem ser vistas, apenas como agentes de degradação, pois a situação concreta de milhares de famílias que residem nessas áreas há anos, antes mesmo da criação dessa UCs, não pode ser contornada com medidas de curto prazo que substitua anos de omissão do poder público (GANEM & LEAL, 2002). As condições dessas populações são diferentes das favelas e barracos que são retirados e que retornam inúmeras vezes ilegalmente. Não há que se considerar todas as ocupações como nocivas e a remoção de todos os moradores sempre como meta e único caminho (GANEM & LEAL, 2002).

O Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), dentro de seu Programa de Estudos Estratégicos, elegeu como ponto de grande relevância as áreas do entorno de UCs de Proteção Integral, com o objetivo de estudar sua importância para a conservação da biodiversidade (SOARES et al, 2002).

Estudos nesse sentido são pertinentes pelo fato de haver no DF altas taxas de crescimento demográfico em meio a uma grande quantidade de áreas protegidas, que visam assegurar o que resta do cerrado. A população vem percebendo as conseqüências da urbanização, além da conscientização, por parte da sociedade, dos problemas ambientais. Um exemplo de mobilização foi a criação do Parque da Asa Sul. Por pressão da sociedade, as questões ambientais encontram-se entre os temas de interesse no Distrito Federal.

Diante disso, percebe-se a necessidade de um planejamento e ações de conciliação entre a população residente em zonas de amortecimento e as UCs do Distrito Federal, com o reconhecimento do poder público de que a remoção de milhares de famílias não seria a ação mais adequada nesse caso. Os moradores podem ser os principais agentes de preservação e manutenção de áreas ambientalmente protegidas contribuindo para sua própria qualidade de vida. Conforme Ganem e Leal (2002, p.67), “há comunidades que têm exercido pouca pressão ecológica sobre os ambientes onde vivem” e têm contribuído para sua conservação.

(17)

residentes, evitando um processo de injustiça social, com o direito à permanência, seguindo normas de conduta que favoreçam a sustentabilidade dos assentamentos. Conforme Oliva (2003, p.27):

ao projetar zonas de amortecimento4, deve-se incluir a paisagem cultural adjacente à

área protegida. Dessa forma, cria-se uma zona de amortecimento que não será destinada somente à proteção dos recursos naturais, mas também é um local de atividades de uso do solo economicamente viáveis, ecologicamente compatíveis e culturalmente aceitáveis. Em outras palavras, uma zona de amortecimento deve satisfazer as necessidades da paisagem protegida e das populações vizinhas.

Segundo Rampazzo (2002, p.184): “as sociedades humanas não devem ser tratadas como elementos estranhos à natureza e, portanto, ao ambiente onde vivem. Ao contrário, precisam ser vistas como parte fundamental desta dinâmica”. Deste modo, a importância de estudos que coloquem os problemas sociais e ambientais em equilíbrio com soluções e análises que fortaleçam as relações homem–natureza se tornam urgentes nesse cenário de conflitos e injustiças sociais em que o Distrito Federal se encontra.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

Analisar a viabilidade ambiental de um assentamento urbano no entorno do Parque Nacional de Brasília.

1.3.2 Objetivos Específicos

a) Caracterizar ambientalmente o condomínio Mini Granjas do Torto e o Parque Nacional de Brasília;

b) Identificar os impactos provocados pelo Condomínio, inclusive os potenciais;

c) Conhecer o grau de relacionamento e percepção dos moradores com o ambiente local;

d) Identificar as contribuições do Condomínio para a manutenção da Unidade de Conservação e para a sua própria sustentabilidade ambiental.

e) Propor medidas que venham a evitar possíveis impactos ambientais e a mitigar os efeitos dos já existentes.

4 Também chamada zona ou área de entorno, circunda a UC com a finalidade de amortecer ou mitigar os

(18)

1.3.3 Problema

O Distrito Federal é um grande laboratório de estudos na área socioambiental. Grandes conflitos e impactos ambientais caracterizam a região. Este cenário abriga uma grande quantidade de assentamentos urbanos no entorno de UCs, inclusive em seu interior. Isto ocorre pelo fato de grande parcela do território estar sob conservação ambiental, muitas vezes sobrepondo-se regiões urbanizadas às áreas protegidas. Diante disso, torna-se necessário, especialmente nas grandes cidades, garantir a proteção ambiental na zona de amortecimento das UCs integrando questões urbanas e ambientais.

A simples retirada das famílias dos locais irregularmente ocupados agravaria a situação social do Distrito Federal. O direito de permanência poderia ser condicionado pela participação na manutenção da UC e na recuperação das áreas degradadas. Seria necessário o estabelecimento de padrões e normas de sustentabilidade que viessem a propiciar a viabilização de permanência dos assentamentos já existentes.

Nesse contexto, seria viável ambientalmente a permanência de assentamentos, como o caso do Condomínio Mini-Granjas do Torto, no entorno de UCs como o Parque Nacional de Brasília?

1.3.4 Objeto da Pesquisa

O objeto da presente pesquisa é o estudo de caso do Condomínio Mini-Granjas do Torto, localizado no interior da zona de amortecimento, limítrofe à cerca do Parque Nacional de Brasília (PNB).

1.4 Metodologia

Basicamente, a pesquisa utilizou o método ou raciocínio dedutivo, aquele que procede do geral para o particular, do princípio para a conseqüência conforme Viegas (1999). O método dedutivo se aplicará nesta pesquisa já que parte de teorias e leis que, na maioria das vezes, prediz a ocorrência de fenômenos particulares (conexão descendente) como o estudo de caso analisado (LAKATOS & MARCONI, 2003).

A pesquisa teve como plano principal a reunião de dados significativos, qualitativos e quantitativos, sobre o PNB e a comunidade em seu entorno, características de ambos, impactos e contribuições do entorno, favorecendo a visão dessas inter-relações para que se chegue a um diagnóstico.

(19)

a. Bibliográficas: para conceituar e conhecer o ambiente estudado na fase ; b. Jornais de circulação local: importantes para o acompanhamento de

acontecimentos recentes que possam interferir no objeto de estudo;

c. A legislação: importante fonte de pesquisa, já que fornece o entendimento do contexto legal das questões abordadas, conceituando e definindo aspectos relevantes para pesquisa;

d. Documentações: processos na justiça, documentos, pareceres, estudos feitos no local e outros documentos de moradores e da administração do condomínio foram analisados e abordados nesta pesquisa.

As etapas do processo de elaboração da pesquisa foram sistematizadas de forma a organizar o método de estudo:

Figura 1: Etapas do processo de elaboração da pesquisa.

Foram seguidas três fases na elaboração do estudo de caso:

- Exploratória: fase importante para definir o objeto de estudo, pontos críticos, estabelecer contatos e coletas de dados iniciais;

- Delimitação do estudo: determinar os focos de investigação, caracterizando o objeto de estudo e analisar os dados obtidos;

- Conclusão: Sistematizar os resultados, discutir e definir estratégias.

A partir da aplicação dos questionários foram sugeridas propostas e estratégias de ajustamento a serem adotadas para que o condomínio seja viável ambientalmente, minimizando os impactos que o processo de urbanização causa no entorno do PNB.

1.4.1 Avaliação da percepção ambiental da comunidade do Mini-Granjas do Torto

Após a caracterização local quanto aos aspectos bióticos e abióticos, foram aplicados questionários semi-estruturados, com questões objetivas e subjetivas baseada em princípios

DEFINIÇÃO DO PROBLEMA

Fase 1

ESTABELECIMENTO

DOS OBJETIVOS COLETA DE DADOS OBSERVAÇÕES DE CAMPO

QUESTIONÁRIOS ANÁLISE DE DADOS

RESULTADOS

Fase 2

DIAGNÓSTICO AMBIENTAL

Fase 3

(20)

sistêmicos da Ecologia Humana e da Percepção Ambiental dos indivíduos. Buscou-se reunir, nessa etapa, os valores, comportamentos, relacionamento e conhecimento da comunidade para se traçar um plano de ação de acordo com a área.

Embora tenha sido notada uma certa desconfiança de alguns moradores quanto aos efeitos de suas respostas, o questionário pôde proporcionar uma maior objetividade na quantificação das respostas através de temas de maior interesse, bem como nas áreas centrais onde foi observada alguma inconformidade, na fase de levantamento dos problemas (ver fluxograma das etapas da EA não-formal).

Com o total de trinta questões, o questionário possui uma primeira etapa que inicialmente pergunta se o entrevistado é ou não o proprietário, já que algumas residências possuem inquilinos, e conta com um breve resumo da característica do morador quanto à sua idade, grau de escolaridade e renda mensal familiar. Dentro dessa primeira etapa, também foi respondido o período em que o morador reside no condomínio e se possuía outro imóvel de tamanho semelhante no plano piloto.

A partir dessa etapa inicial em que foi reconhecido o perfil básico do entrevistado, inicia-se de fato as questões onde será analisada a percepção ambiental do indivíduo. Essas perguntas se referem aos temas-chave que se relacionam com o condomínio, e dependendo das respostas, pode-se perceber o grau de sensibilização, percepção, conhecimento e críticas frente às problemáticas ambientais que afetam o local.

O primeiro tema da segunda etapa, foi com relação ao PNB como questão aberta para perceber o conhecimento do morador em relação à primeira e mais importante variável que se relaciona com o condomínio.

Nesta pesquisa, o contato direto com a população foi de vital importância, pois não foram somente respondidas as questões, como também pôde-se ouvir críticas, anseios e conflitos naturais de qualquer comunidade.

Após a aplicação dos questionários, as respostas foram tabuladas, onde tanto as questões objetivas como as subjetivas foram quantificadas. Para que algumas questões abertas não fossem prejudicadas, foram agrupadas as respostas semelhantes e quantificadas, de forma a não afetar a transparência das opiniões colhidas, contadas uma a uma.

1.4.2 Análise da Viabilidade Ambiental

(21)

análise de viabilidade ambiental, onde foram adaptados e resumidos dados presentes na caracterização, a identificação de impactos (positivos e negativos) bem como as medidas mitigadoras que podem ser adotadas. Muitas adaptações foram feitas, pois a metodologia não prevê uma caracterização mais detalhada conforme o apresentado no trabalho, e isso se deve ao fato de ser um objeto de estudo diferente do original feito pelo Ministério do Planejamento. A partir dessas informações pôde-se chegar a um grau de viabilidade ambiental. Este estudo forneceu um quadro síntese, entretanto foram feitas algumas adaptações como, por exemplo, a retirada da coluna sobre proximidade com reservas indígenas.

Conforme a metodologia de viabilidade ambiental adotada por Brasil (2003), após a caracterização do empreendimento, deve-se localizá-lo de acordo com o ecossistema. Em seguida, identificar nas colunas referentes às Áreas de Uso Especial, as UCs e Áreas Prioritárias para a conservação da biodiversidade, em que esteja inserido ou localizado no entorno.

UC Áreas Prioritárias Desertificação

Ecossistema Unidade de Relevo Proteção Integral Uso Sustentável Extrema mente alta Muito

alta Alta

Insuficiente reconhecida

Ocorrência/ susceptibilidade

Ambiente B a c i a s H i d r o g r á f i c a s Inserção Área de

Estado de conservação

Efeitos no meio socioeconômico

Efeitos no meio biofísico

B a c i a / Sub-bacia

F o c o s r e l e v a n t e s De poluição

Conflitos de uso Rural

Urban a Licenciamento Grau de Viabilidade Ambiental stricto sensu

Condição de operação M e d i d a smitigadoras

G r a u d e Viabilidade

Ambiental Federal Estadual

Quadro 1: Estudo da Viabilidade Ambiental FONTE: Brasil (2003)

(22)

Sempre que forem utilizadas as cores verde e bege deve ser indicado o nome da área prioritária relacionada ao empreendimento. Cada cor representa a informação sobre a localização do projeto onde: a cor verde é utilizada quando o projeto está dentro do limite da área prioritária; a cor laranja quando o projeto não se localiza dentro da área prioritária; e a cor bege quando o projeto se encontra no entorno da área prioritária (até um raio de 10 km do limite da UC, por exemplo).

Um mesmo projeto pode estar relacionado a uma ou mais áreas prioritárias, podendo adicionar mais linhas, contextualizando o local onde o empreendimento se localiza.

Há colunas que se referem ao estado de conservação da região e os efeitos que o empreendimento causa no meio natural considerando os condicionantes avaliados nas colunas anteriores. O estado de conservação do ambienteé identificado conforme a pressão antrópica e as condições de saneamento.

Para os impactos do projeto sobre os meios socioeconômico e ambiental, apresenta-se uma legenda onde a cor azul identifica os efeitos positivos, e a cor vermelha os efeitos negativos.

A resultante da combinação de potencial de impacto, eficácia do controle ambiental e capacidade de assimilação, gera cenários que podem ser classificados em quatro categorias de viabilidade ambiental de empreendimentos, conforme utilizado no quadro 2.

Categoria Significado

n

Viabilidade Plena

A viabilidade ambiental é alcançada independentemente de gerenciamento ambiental.

A magnitude das ações do empreendimento é insuficiente para se constituir em causa eficaz do impacto, independentemente das condições ambientais de assimilação e recepção ou eficáciado sistema físico de controle

instalado ou a ser instalado pela organização responsável.

o

Viabilidade Parcial

A viabilidade ambiental é alcançada por ação de gerenciamento ambiental e depende da eficácia de controle preventivo/corretivo aplicado.

A magnitude das ações do empreendimento é capaz de produzir efeitos no ambiente, porém as condições ambientais de assimilação e de recepção, assim como a eficáciado controle são capazes de atenuar o impacto tornando a sua ocorrência pouco provável.

p

Inviabilidade Parcial

A inviabilidade parcial é aquela em que o controle praticado não é totalmente eficaz, caso em que se requer capacidade de comunicação com as partes interessadas visando a aceitabilidade de incompatibilidades parciais. Esse cenário é característico de situações em que o gerenciamento ambiental é limitado por tecnologia prática disponível e economicamente acessível. Pode ser também caracterizado pela impossibilidade de demonstração, por parte do gerenciamento ambiental, dos reais efeitos de impactos presumíveis e questionados pelas partes interessadas. A magnitude das ações do empreendimento é capaz de produzir efeitos no ambiente. As condições ambientais, no entanto, apresentam capacidade de assimilação insuficiente, ou os receptores são altamente susceptíveis, podendo caracterizar situações delicadas com grande possibilidade de violação dos padrões de qualidade ambiental, independentemente da eficácia do controle praticado pela organização responsável.

q

Inviabilidade Plena

A inviabilidade ambiental é flagrante representando situações críticas de gerenciamento ambiental.

A magnitude das ações do empreendimento é capaz de produzir efeitos no ambiente em proporções tais que superam em muito a capacidade de assimilação do ambiente, com violação freqüente ou permanente dos padrões de qualidade, independentemente da eficácia do controle praticado pela organização. Os danos ambientais são eventos certos.

(23)

Este quadro contém as cores sobre a conclusão dada ao projeto que é resumida no quadro 3 (Avaliação da Viabilidade Ambiental do Projeto, p. 116) síntese menor após a apresentação do quadro detalhado.

Grau de viabilidade Ambiental stricto

sensu Condição de operação Medidas

Grau de viabilidade ambiental

(24)

2 O PARQUE NACIONAL DE BRASÍLIA

Barreto Filho (2001) relata que os primeiros Parques Nacionais brasileiros foram criados na segunda metade da década de 1930: Itatiaia (1937), Iguaçu e Serra dos Órgãos (1939), todos nas regiões sul e sudeste. Ao contrário dos Estados Unidos, onde a criação dos primeiros parques e reservas ocorreu em áreas isoladas do oeste americano, o Brasil iniciou esse processo em áreas urbanizadas do Sudeste, na forma de Hortos ou Florestas Protetoras. Prova disso, é o fato de o primeiro Parque Nacional do Centro-Oeste ter sido criado apenas em 1959 (Parque Nacional do Araguaia).

O conjunto de medidas adotado no primeiro governo de Vargas (1930-1945) visava uma regulamentação do uso e da apropriação dos recursos naturais, colocados sob a propriedade do Estado. Foi uma tentativa de inibir a propriedade privada sobre os recursos naturais, com pretexto de racionalizar seu uso, fortalecendo o controle estatal sobre os recursos e respondendo às demandas do meio científico e setores da sociedade civil (BARRETO FILHO, 2001).

Figura 2: Parques Nacionais no Brasil. FONTE: IBAMA (2006)

(25)

década de 1960, boa parte de UCs na região. Foram criados treze Parques Nacionais entre 1959 e 1961, dos quais cinco no Centro-Oeste. Em 1959, JK criou três Parques Nacionais e em 1961 mais dez foram criados, dentre eles, o Parque Nacional de Brasília. Em apenas um dia (25 de julho de 1961), Jânio Quadros decretou nove Reservas Florestais na Amazônia, ocorrendo uma “explosão” de UCs de Proteção Integral no Brasil. Isso voltaria a acontecer somente na virada dos anos de 1970 para os anos de 1980 na Amazônia (BARRETO FILHO, 2001). De acordo com a figura 2 há 52 Parques Nacionais Federais no território brasileiro (IBAMA, 2006b).

De acordo com o Instituto de Planejamento Territorial e Urbano do Distrito Federal (IPDF, 2000), antigo SEDUH, o Parque Nacional de Brasília (PNB) foi criado pelo Decreto n° 241 de 29 de novembro de 1961 e publicado no Diário Oficial da União de 30 de novembro de 1961. Conforme o art. 2°, teria uma área aproximada de 30.0005 hectares com a seguinte linha divisória: ao Norte, Nordeste, Noroeste, pela Estrada Parque do Contorno (EPTC); ao Sul pela Estrada Parque acampamento (EPAC); ao sudoeste, pelo Córrego Acampamento; a Sudeste, pela Estrada Parque do Contorno (EPATC); ao Leste pela Estrada Parque Indústria e Abastecimento (EPIA) e pela Estrada Parque do Contorno (EPTC) e a Oeste pela Estrada Parque do Contorno (EPTC).

O Parque Nacional de Brasília (PNB) é o único parque nacional instituído pelo poder público federal no Distrito Federal (SEBRAE/DF, 2004a). O PNB está inserido, segundo o PDOT/97, em uma Zona de Conservação Ambiental, onde se encontram ecossistemas protegidos de grande relevância ecológica com um tratamento que visa sua preservação, conservação ou recuperação (DF, 2004).

A Lei 9.985/2000 que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) (BRASIL, 2000, p. 1) conceitua, em seu art. 2°, Unidade de Conservação (UC) como sendo:

o espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo poder público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.

(26)

A implementação de Unidades de Conservação é importante como estratégia utilizada mundialmente para conservação e sustentabilidade dos recursos naturais (SEBRAE/DF, 2004a). De acordo com o art. 7° da mesma lei, as UCs são divididas em dois grupos: Unidades de Proteção Integral onde se inserem os Parques Nacionais, e Unidades de Uso Sustentável. O objetivo básico, de acordo com o SNUC, das Unidades de Proteção Integral é o de preservar a natureza, sendo admitido somente o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos em lei (BRASIL, 2000).

Os Parques Nacionais conforme o SNUC tem como objetivo básico (BRASIL, 2000, p.7):

preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação e contato com a natureza e de turismo ecológico.

Os objetivos específicos do PNB, conforme o IBAMA (2005), são: evitar a predação da fauna e da amostra típica do ecossistema do bioma, a preservação dos mananciais hídricos que abastecem parte da população do Distrito Federal, além de promover recreação e lazer no interior das dependências do Parque.

O clima do PNB á predominantemente tropical, quente semi-úmido, com inverno seco e frio e verão úmido e quente, com uma média de temperatura anual de 21° C. Em sua área ocorre afloramento de quartzitos de coloração variada. A unidade do solo mais representativa é o latossolo vermelho, ocorrendo também solos aluviais nos brejos e buritizais, além de solos hidromórficos ao longo dos rios e depressões. Está localizado no domínio dos Planaltos, na subdivisão das chapadas do Distrito Federal. Geomorfologicamente, é possível observar três unidades: Chapada da Contagem, Depressão do Paranoá e Encosta da Contagem. Seu relevo é mais ou menos ondulado com altitudes de 1.070m a 1.200m (IBAMA, 2005).

Quanto à sua fitofisionomia, encontra-se em sua maioria o Cerrado stricto sensu,

com grande variedade florística no estrato arbóreo e rasteiro. As formações mais comuns são as matas de galeria pantanosa e não pantanosa, brejos, veredas e campo úmido, campo rupestre e de murundus. Sua fauna é abundante e em sua maioria são invertebrados. Também possui espécies ameaçadas de extinção como a onça pintada, suçuarana, veado campeiro, lobo-guará, tamanduá-bandeira, tatu-canastra, entre outros (IBAMA, 2005).

(27)

Cruzeiro, Sudoeste, Octogonal, Guará I, parte do Lago Sul e Norte), além de garantir a qualidade da água de dois importantes contribuintes do Lago Paranoá: os córregos Torto e Bananal, conforme Sallum (2005).

Os conflitos em seu entorno são de diferentes espécies e as políticas ambientais não se mostram eficientes para sua resolução. O PNB está completamente ilhado em um cenário de urbanização tumultuado, comprometendo sua integridade biofísica (ABDALA, 2002).

Entre os problemas socioeconômicos interligados ao PNB, de alto impacto negativo se destacam: o Aterro Sanitário do Jóquei Clube, conhecido como “Lixão da Estrutural”, ao lado da cerca do PNB, que contamina com chorume a área, podendo atingir o lençol freático da região; a cidade da Estrutural que teve origem com os catadores de lixo; invasão de cães e gatos no interior do PNB, que coloca em risco a fauna natural; urubus e ratos que contribuem para a contaminação com risco de epidemias nocivas para a saúde pública; cascalheiras que retiram a cobertura vegetal e provocam assoreamento de corpos d’água; o futuro Setor Noroeste, dentre outros.

(28)

3 O ENTORNO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 3.1 Considerações Legais

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 225, se mostra preocupada com questões ambientais, colocando o meio ambiente como bem público, assegurado a todos um meio ambiente ecologicamente equilibrado, cabendo ao poder público defendê-lo. No inciso IV do mesmo artigo destaca a importância do EIA para obras ou atividades potencialmente poluidoras. A Lei 4.771/65 que institui o Código Florestal serve como protetora da diversidade biológica. Foi responsável pela introdução no contexto legal de conceitos como “interesse comum”, “uso nocivo da propriedade”, “utilização racional”, “normas de precaução” e “educação florestal”. A Lei 6.938/81 sobre a Política Nacional do Meio Ambiente declara que as atividades potencialmente poluidoras ou degradadoras do meio ambiente tem a construção, instalação, ampliação e funcionamento sujeitos a licenciamento pelo órgão ambiental competente (BENJAMIN, 2001).

O SNUC em seu artigo 2°, inciso XVIII define as Zonas de Amortecimento6

como sendo “o entorno de uma UC, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade” (BRASIL, 2000, p. 3). Quando o empreendimento afetar a UC ou sua Zona de Amortecimento, seu licenciamento deve ser concedido pelo órgão responsável pela administração da UC.

Pode-se observar conforme a Figura 3, anterior à Lei n° 11.285/2006, a linha amarela como sendo os limites do PNB e a linha vermelha os 10 km de entorno, destacado no círculo azul, a localização da Granja do Torto:

6 O art. 25 do SNUC esclarece que “as UC’s exceto as Áreas de Proteção Ambiental (APA) e as Reservas

(29)

Figura 3: Entorno do PNB anterior à Lei n° 11.285/2006 que altera esta poligonal (Escala 1:150.000) Fonte: IBAMA (2005)

A maior parte dos planos de manejo, por ser anterior à publicação da lei 9.985/2000, considera o raio de dez quilômetros como limite da zona de amortecimento.

É importante esclarecer que, apesar de a linha amarela, mostrado na Figura 3, representar seus limites, segundo o IPDF (2000?), desde 1961 não havia uma poligonal definida para o Parque. A área possuía divergências em seus reais limites sendo que os órgãos definiam superfícies diferentes, conforme o quadro 4. Divergências essas que dificultaram a fiscalização e o controle da expansão urbana no entorno do PNB.

Decreto 241/1961 31.000 ha

NOVACAP PR 31/1 (1966) 28.400 ha

Cercas (1995) 28.950 ha

Zoneamento PDOT (1997) 29.660 ha

Poligonal Proposta IPDF (1999) 29.380 ha

QUADRO 4: Áreas Aproximadas das Poligonais Estudadas.

FONTE: Instituto de Planejamento Territorial e Urbano do Distrito Federal (IPDF) (2000?)

(30)

administração na periferia do Parque, separadamente, de forma que não conflite com seu caráter natural.

O Decreto n° 99.274 de 1990 dispõe sobre o entorno de UCs, onde as áreas circundantes atingem um raio de dez quilômetros (art. 27) e qualquer atividade que possa atingir a área protegida deve ser licenciada por órgão competente, mediante autorização do órgão gestor da UC (SOARES et al, 2002). A resolução CONAMA, n° 13 de 19907, estabeleceu um raio de 10 Km, como zona de amortecimento no entorno de unidades de conservação. Dependem ainda de prévia aprovação do órgão responsável, as obras de infra-estrutura urbana em geral. É importante acrescentar que o SNUC não revogou a resolução CONAMA n°13/90. Para fins de licenciamento ambiental o raio de 10 Km continua em vigor. A resolução CONAMA n° 10 de 1993 define em seu art 6°, inciso IV, o entorno de UCs como sendo:

área de cobertura vegetal contígua aos limites de Unidade de Conservação, que for proposta em seu respectivo Plano de Manejo, Zoneamento Ecológico/Econômico ou Plano Diretor de acordo com as categorias de manejo. Inexistindo estes instrumentos legais ou deles não constando a área de entorno, o licenciamento se dará sem prejuízo da aplicação do disposto noartigo 2º da Resolução/CONAMA/nº 013/90.

A área do entorno, tratada na legislação brasileira, reflete o avanço na aplicação de conceitos. Apesar disso, os objetivos de mitigar os efeitos de borda e a manutenção da conectividade entre diferentes ambientes e ecossistemas, contribuindo para a manutenção das funções das UCs, não recebem a devida atenção.

3.2 Necessidade de Zonas de Amortecimento em UCs Urbanas

A Lei n° 9.985/2000 previu que as zonas de amortecimento das UCs do grupo de proteção integral, uma vez definidas formalmente, não podem ser transformadas em zona urbana. As normas sobre “ocupação e o uso dos recursos da zona de amortecimento e dos corredores ecológicos” serão estabelecidas pelo “órgão responsável pela administração da UC”, tornando-se necessário pesquisar a existência de normas anteriores da União sobre “planos nacionais e regionais de ordenação do território e do desenvolvimento econômico e social (Art. 21, IX, CF) e dos Estados sobre regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização e a execução de funções publicas de interesse comum” (Art. 25, § 3°, CF).

7 Nesta Resolução do CONAMA a zona de amortecimento recebe as denominações de “entorno de unidade de

(31)

Um fator que contextualiza a necessidade da existência de zonas de amortecimento em UCs urbanas é a contenção do efeito de borda promovido pela interferência antrópica no sistema natural de proteção integral. Em virtude das crescentes pressões que a zona de amortecimento vem sofrendo na disputa pela localização das indústrias, atividades de serviço, centros de lazer e recreação, além da implantação de loteamentos, chácaras de recreação, sem planejamento.

A expressão “zona de amortecimento” é uma área destinada a minimizar ou enfraquecer os efeitos das atividades antrópicas na área circunvizinha de uma UC de forma gradativa para que a UC alcance seus objetivos. Mas deve-se lembrar que há atividades e obras que não se justificam por ser vizinhas a uma UC como aeroportos, distritos industriais, aplicações de agrotóxicos, experimentos agrícolas com a introdução de OGM’s, áreas de exercícios militares, etc.

Segundo Vio (2001), tem-se a implantação de loteamentos limítrofes ao Parque Estadual da Serra da Cantareira/SP, todos em áreas altamente vulneráveis das encostas da Cantareira, sem a devida atenção dos Municípios vizinhos ao parque, que incluem essas áreas (zona de amortecimento) no perímetro urbano e as consideram zona de expansão urbana. A expansão urbana em zonas de amortecimento, consideradas em lei como zonas rurais, é uma tendência que ocorre em função do menor custo da terra, reflexo do interesse econômico dos incorporadores das terras, que influenciam os planos diretores (quando existem) e encontram saídas na legislação, para a privatização dos altos lucros e a distribuição dos elevados custos para a implantação dos serviços básicos e o funcionamento de um empreendimento imobiliário, onerando indiretamente o contribuinte.

Segundo Prieur (2003, apud, MACHADO, 2003, p.124), na França

“os parques nacionais têm uma zona periférica. Ela não é submetida a nenhuma das servidões de proteção da natureza existentes no parque, mas é considerada como uma espécie de zona tampão entre o mundo exterior e a natureza integral. Esta zona é objeto de um programa especial de realizações e de melhorias de ordem social, econômica e cultural. O diretor do parque pode atuar de forma associada na elaboração do plano de ocupação dos solos (Art. R. 123-6 – Código de Urbanismo). Esta zona facilita a acolhida e a hospedagem dos visitantes e serve de compensação às coletividades locais reticentes em aceitar as exigências do parque. Às vezes, há um desenvolvimento excessivo dessa zona, prejudicando a proteção da natureza do parque, sendo que, conforme o Código Rural (Art. L. 241-10) as medidas a serem tomadas na zona devem tornar mais eficaz a proteção da natureza do parque”.

(32)

integridade de seu ecossistema. O Parque Nacional da Tijuca (RJ), como o Parque Nacional de Brasília, vem sofrendo os efeitos da urbanização, encontrando-se ilhado em um cenário de urbanização, comprometendo sua integridade biofísica.

Ao contrário da realidade encontrada em muitas UCs localizadas em zonas urbanas, é interessante ressaltar o Art. n° 49 do SNUC, em seu parágrafo único, onde se estabelece que uma vez definida a zona de amortecimento, de UCs de Proteção Integral, passa a ser considerada zona rural.

3.3 Considerações Ambientais

O estabelecimento dessas zonas traz benefícios ecológicos e sociais conforme MacFarland (1991, apud OLIVA, 2003). Do ponto de vista ecológico, a zona de amortecimento age como uma barreira física que ameniza impactos provocados no entorno da UC, previne a invasão de espécies exóticas, protege contra impactos naturais como vendavais, amplia o habitat de espécies nativas e prolonga a proteção para além da área protegida. O

benefício social gerado consubstancia-se na proteção dos direitos tradicionais sobre a terra e a cultura local, proteção dos recursos genéticos, suas funções reguladoras e processos ecológicos.

Portanto, zonas de amortecimento são áreas periféricas que servem de faixa protetora para a UC, não devem ser tratadas como um prolongamento da área preservada, já que visam também o desenvolvimento das comunidades locais e os planos de manejo, beneficiando as populações humanas com o menor impacto para a UC (FRANÇA, 2002). Devem ser destacados os motivos que levam às ações em zonas de amortecimento tanto de cunho ecológico quanto social. O fator ecológico refere-se à faixa de proteção que contorna a UC de forma que amorteça as atividades antrópicas em relação à biota local. Pode-se dizer que atenuam a pressão nas zonas núcleos de áreas protegidas. O fator social leva em consideração a promoção do desenvolvimento humano e igualitário das comunidades do entorno (FRANÇA, 2002).

(33)

UC Documento de Planejamento publicação Ano de Aborda questões sobre o entorno?

Mapas vão além dos limites

da UC?

Possui programas de manejo que tratam as questões do entorno?

Sim Não Sim Não Sim Não

P.N. Amazônia Plano de Manejo 1977 X X X

P. N. Serra dos

Órgãos Plano de Manejo 1979 X X X

P. N. Iguaçu Plano de Manejo 1981 X X X

P.N Araguaia Plano de Ação

Emergencial 1995 X X X

P. N. Jaú 1995 X X X

P. N. Iguaçu Revisão do plano

de Manejo 2000 X X X

P. N. Serra da

Boacaina Plano de Manejo 2000 X X X

QUADRO 5: Abordagem dos Planos de Manejo sobre as áreas de entorno. Fonte: OLIVA (2003)

Desde 1962, no primeiro Congresso Mundial de Parques, a quantidade mundial de áreas protegidas cresceu. Mais de cem mil foram criadas, cerca de 90% delas nos últimos 40 anos. No último Congresso ocorrido na África do Sul (2003), dirigentes de várias comunidades rurais vizinhas aos parques nacionais sul-africanos criticaram o governo por não estabelecer programas que beneficiem essas comunidades. A necessidade de se respeitar os direitos humanos das populações do entorno de UCs foi igualmente enfatizada pelo

Indigenous People’s Caucus (Conclave das Populações Indígenas). Estes, afirmam a

importância de não excluir as populações de suas terras para a criação de parques na África e em outras regiões do mundo (REVISTA ECOLOGIA E DESENVOLVIMENTO, 2003).

Estes fatos refletem os conflitos gerados pela criação de áreas ambientais protegidas e a comunidade do entorno atingidas. As zonas de amortecimento são áreas de grande relevância para os estudos sobre desenvolvimento e conservação ambiental, são considerados excelentes espaços para praticar modelos de desenvolvimento humano sustentável (FRANÇA, 2002).

Situações complexas, como o caso tratado nesta pesquisa, onde há a presença de comunidades no entorno de uma UC de Proteção Integral, devem ser considerados em sua totalidade, ou seja, somente as ações que envolvam todos os atores sociais podem ter êxito. A participação e cooperação, nesses casos, podem ser conquistadas e não concedidas. Mecanismos que envolvam a participação da população local e órgãos administradores das UCs, com interação da UC e seu entorno, fazem parte das recomendações para um programa voltado para o entorno de UCs (SOARES et al, 2002).

(34)

econômico da região, mas buscando o ordenamento e orientação das atividades, para que haja equilíbrio entre os interesses sociais, econômicos e ecológicos. Deve-se criar condições para a participação da sociedade para que interajam com a UC, criando bases sólidas de desenvolvimento (VIO, 2001).

Pinto (1993) lembra que a maioria da população não tem consciência quanto ao seu papel como colaboradora e como parte responsável pela degradação, tampouco possui informações de como prevenir esses impactos. Portanto, torna-se imprescindível que todos conheçam a importância da participação coletiva, sendo de grande utilidade um processo de educação e conscientização ambiental, garantindo futuramente uma melhor qualidade de vida. Morais (1993) descreve que esses fenômenos devem ser analisados para que se redimensione a qualidade de vida na região, pois tanto o meio ambiente como a população estão sendo crescentemente afetados, a degradação do bem-estar da população pode gerar graves problemas relacionados com a desorganização social.

De acordo com Vio (2001), algumas vantagens criam a necessidade de uma zona de amortecimento: o efeito de borda ocasionado pela ação antrópica no sistema natural da UC pode ser contido; os impactos causados por práticas rurais antiecológicas (uso de agrotóxicos e fogo) podem ser atenuados; a ampliação do espaço físico da UC, em função da redução do

habitat, pode reduzir o número de espécies em extinção.

A importância das áreas de entorno das UCs e a comunidade foi destacada pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente8 (FNMA). O Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira (PROBIO9) e o FNMA disponibilizam recursos que financiam propostas para as áreas de entorno de UCs de Proteção Integral. O MMA lançou um edital em 2001, destinado à seleção de projetos de planejamento e intervenção para a conservação e utilização sustentável pelas comunidades do entorno de UCs de Proteção Integral Federais, Estaduais, Municipais e Distritais localizadas em ecossistemas abertos 10 (BRASIL, 2001).

O MMA teve como finalidade, neste edital, induzir o envolvimento da população, residente no entorno, na conservação da biodiversidade da UC. Isso contribui para garantir a integridade do sistema de áreas protegidas. Neste contexto, foi percebido pelo órgão o

8 Criado pela Lei n° 7.797/89, tem por missão contribuir, como agente financiador e por meio da participação

popular, para a implementação da Política Nacional do Meio Ambiente (Brasil, 2001).

9O PROBIO tem como objetivo promover parcerias entre o Poder Público e a sociedade civil na conservação da

biodiversidade, a utilização sustentável dos seus recursos e a repartição igualitária dos benefícios decorrentes (Brasil, 2001).

10 Ecossistemas abertos são aqueles que possuem tipos de vegetação dos biomas da Caatinga, do Cerrado, do

(35)
(36)

4. CONDOMÍNIOS NO DISTRITO FEDERAL: CONSIDERAÇÕES FUNDIÁRIAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS

Conforme Beviláqua (1942, apud CARVALHO 1996), condomínio é uma forma anormal da propriedade, em que o sujeito do direito não é um indivíduo que o exerce com exclusão dos outros; na verdade são dois ou mais sujeitos que exercem o direito simultaneamente. Sempre que uma propriedade for adquirida por mais de uma pessoa, inclusive na escritura constar mais de um comprador, surge o condomínio, uma propriedade

onde os titulares possuem direitos e deveres. Deve-se lembrar que, de acordo com Carvalho (1996), há dois tipos de condomínios: vertical e horizontal, sendo este o objeto de estudo.

As terras rurais próximas aos centros urbanos denominados “loteamentos fechados” ou “condomínios fechados” são glebas parceladas em lotes cercadas para a segurança dos moradores, com controle de entrada e saída de pessoas (CARVALHO, 1996).

Os condomínios horizontais com fins urbanos são o resultado do parcelamento de terras de antigas fazendas e áreas rurais não desapropriadas ou desapropriadas em comum, por ocasião da instalação do Distrito Federal, além daqueles resultantes da ação de grileiros 11em terras públicas. Na maioria das vezes sofrem problemas de ordem fundiária, além dos problemas enfrentados com questões ambientais. Estima-se que mais de 46 mil hectares das áreas com ocupação urbana estejam em situação irregular segundo Distrito Federal (2004). Pelas suas estruturas organizacionais com personalidade jurídica semelhante às de uma empresa, “os condomínios podem ser excelentes laboratórios para a aplicação de um modelo de gerenciamento ambiental nos moldes em que se pretende formular” (JATOBÁ BURSZTYN; RIBAS, 2002, p. 203).

Os conflitos pela moradia no DF surgiram já na construção da capital, quando os operários que a construíram não puderam ser assentados em locais adequados, gerando invasões em áreas pouco apropriadas, de risco ou de proteção ambiental, como conseqüência da exclusão desses grupos de locais legalmente urbanizados (ANDRADE & GOUVÊA, 2004). Nota-se que grande parte da degradação ambiental no Distrito Federal está associada aos problemas sociais gerados pela ocupação desordenada dos espaços. O problema observado no DF não é diferente de outros centros urbanos, onde as áreas rurais cedem lugar à

11 Esses sujeitos falsificam documentos tornando-os legítimos proprietários de terras e com esses títulos em

mãos, promovem a legalização das terras. Muitos cartórios são incendiados, por haver provas do direito de propriedade. Com o passar dos anos, os crimes prescrevem. Muitos deles agem no Brasil em pequenos

(37)

expansão urbana. Entretanto, cresce o número de periferias suburbanas, onde o uso do solo deveria obedecer aos limites de parcelamento e desenvolvimento urbano. Surge nesse cenário um processo de urbanização irregular em que não há atuação eficiente do Estado para seu controle e seus mecanismos se tornam pouco eficazes.

A valorização imobiliária das habitações no Plano Piloto, ocasionada basicamente pelo monopólio do Estado sobre o solo urbano, fez com que muitos brasilienses buscassem chácaras ou optassem por adquirir casas de acordo com seu poder aquisitivo, como alternativas de moradia em regiões próximas ao Plano Piloto, com características naturais, onde se busca uma melhor qualidade de vida para a família, aumentando a demanda por loteamentos em terras públicas ou particulares em áreas de alguma restrição ambiental.

Condomínios Ocupação desconforme Zona Rural de Uso controlado (I, II, III) Zona Urbana de Consolidação Zona Rural de Uso Diversificado Zona Rural de Dinamização Zona Urbana de Dinamização Zona de Conservação Ambiental Zona Urbana de Uso Controlado

Figura 4: Cartograma identificando os condomínios no DF e o condomínio Mini Granja do Torto e as desconformidades com o PDOT/97

Fonte: SEDUH (2005)

Segundo o Distrito Federal (2004), para a classe média - em sua maior parte servidores públicos - restaram os condomínios, que se multiplicaram nos anos 80 e 90, à

Referências

Documentos relacionados

O fortalecimento da escola pública requer a criação de uma cultura de participação para todos os seus segmentos, e a melhoria das condições efetivas para

Ressalta-se que mesmo que haja uma padronização (determinada por lei) e unidades com estrutura física ideal (física, material e humana), com base nos resultados da

de professores, contudo, os resultados encontrados dão conta de que este aspecto constitui-se em preocupação para gestores de escola e da sede da SEduc/AM, em

Fonte: elaborado pelo autor. Como se pode ver no Quadro 7, acima, as fragilidades observadas após a coleta e a análise de dados da pesquisa nos levaram a elaborar

The challenges of aging societies and the need to create strong and effective bonds of solidarity between generations lead us to develop an intergenerational

O relatório encontra-se dividido em 4 secções: a introdução, onde são explicitados os objetivos gerais; o corpo de trabalho, que consiste numa descrição sumária das

Nos últimos anos, resíduos de antibióticos utilizados quer na medicina humana, quer na veterinária têm sido detectados em águas superficiais, águas de consumo,

O presente relatório de estágio foi realizado no âmbito da “Dissertação”, inserida no plano curricular do Mestrado Integrado em Engenharia Civil. O relatório agora