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As representações sociais sobre longevo no livro didático do ensino fundamental

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Academic year: 2017

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PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO

AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE LONGEVO

NO LIVRO DIDÁTICO DO ENSINO FUNDAMENTAL

Brasília - DF

2012

(2)

LISIANE DE OLIVEIRA COSTA CASTRO

AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE LONGEVO NO LIVRO DIDÁTICO DO ENSINO FUNDAMENTAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação, da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação.

Orientadora: Profa. Dra. Jacira da Silva Câmara

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Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB C355r Castro, Lisiane de Oliveira Costa.

As representações sociais de longevo no livro didático do ensino fundamental. / Lisiane de Oliveira Costa Castro – 2012.

102f. : il.; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2012. Orientação: Jacira da Silva Câmara

1. Idoso Educação. 2. Didática. 3. Ensino fundamental. 4. Cidadania. I. Câmara, Jacira da Silva, orient. II. Título.

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Dissertação de autoria de Lisiane de Oliveira Costa Castro, intitulada "As representações sociais sobre longevo no livro didático do ensino fundamental", apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação da Universidade Católica de Brasília, em 09 de abril de 2012, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:

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A meu pai, Pedro Costa, pela educação recebida e pelo incentivo aos estudos, mesmo com tantas dificuldades. O Senhor cumpriu muito bem a sua missão.

A minha sogra, Rita de Araujo Castro, que foi um exemplo de fé, obediência e lealdade às Leis Divinas.

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AGRADECIMENTOS

A DEUS, cujo nome é representado pelo tetragrama “IHVH”, por ter me abençoado

com humildade, sabedoria e perseverança para chegar a esta conquista. Sem Ele nada seria possível!

À minha orientadora, Profa. Dra. Jacira da Silva Câmara, pelos valiosos momentos de orientação competente, pela paciência na superação de minhas limitações e equívocos, o que contribuiu para o meu crescimento profissional e pessoal, ajudando-me a avançar na descoberta de perspectivas mais amplas de análise e, ainda, pelo carinho com que me acolheu em sua casa.

Ao Prof. Dr. Cândido Alberto da Costa Gomes, pelas valiosas anotações feitas em meu trabalho, indicando leituras apropriadas e por ter aceitado o convite para participar comigo desta caminhada, fazendo parte da banca examinadora.

À Profa. Dra. Stella Maris Bortoni-Ricardo

,

pelas excelentes indicações de leitura que, certamente, contribuíram para a realização do meu trabalho. E, também, por ter aceitado o convite para ser membro da banca examinadora.

À Dra. Jacira Serra, médica geriatra e membro do Conselho Nacional da Pessoa Idosa, por ter aberto as portas de sua casa, tantas vezes, para eu pesquisar em sua biblioteca, indicando, entusiasticamente, leituras, o que me incentivou muito a concluir este trabalho.

Ao Prof. Dr. Afonso Tanus Galvão, por ter indicado as primeiras leituras que deram início a minha pesquisa, a fim de compreender a Teoria das Representações Sociais, incentivando-me a dar os passos certos.

Aos professores do Mestrado, que participaram comigo do processo de reflexão, o que contribuiu para a construção de novos conhecimentos e, em especial, a Profa. Dra. Beatrice Laura Carnielli, in memoriam, por sua inspiração intelectual.

À Profa. Fátima Garcês, secretária do Mestrado Interinstitucional (MINTER) celebrado entre o Programa de Mestrado e Doutorado da Universidade Católica de Brasília (UCB) e à Faculdade Atenas Maranhense (FAMA), em São Luis, Maranhão, pelo apoio incansável aos mestrandos.

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Às secretárias Sheyla Mariana e Célia Magalhães, que por tantas vezes forneceram informações preciosas sobre o Minter, sanando minhas dúvidas e, ainda, por me receberem sempre com muita satisfação e cuidado.

À Secretaria Municipal de Educação (SEMED), na pessoa da Profa. Elizabeth de J. B. Maia, Superintendente da Área de Ensino Fundamental da SEMED, que, prontamente, autorizou a realização desta pesquisa nas escolas do ensino fundamental da rede municipal de São Luís.

Aos representantes das editoras: Moderna, FTD, Saraiva, Positivo, Ática, IBEP e Quinteto Editorial, que, gentilmente, doaram para a minha pesquisa todos as coleções que tinham disponíveis, a fim de que eu fizesse as primeiras escolhas dos livros didáticos.

Ao pessoal do Arquivo da SEMED, que foram verdadeiros “caçadores de tesouros” na procura dos livros didáticos que não estavam mais disponíveis nos representantes das editoras locais.

Aos Diretores das Escolas Municipais da rede pública de São Luís, pelo apoio e por abrirem as portas de suas escolas, alterando a rotina da sala de aula para que eu pudesse realizar as entrevistas com seus professores.

Aos professores que, gentilmente, aceitaram o convite para participarem da pesquisa e, ainda, colocaram-se à minha disposição para emprestar os livros didáticos que estavam trabalhando em sala de aula.

Ao Conselho Nacional dos Direitos do Idoso, com sede em Brasília, que doou a mim vários livros, o que possibilitou uma ampliação da noção de direito das conquistas da pessoa idosa.

A todos os professores da Faculdade Atenas Maranhense (FAMA) que, em diferentes momentos e circunstâncias, incentivaram-me e, em especial, às colegas de trabalho, Profa. Renata Marques, que foi facilitadora, desde o princípio das minhas primeiras conversas com a SEMED; ao Prof. José Neres, por ter me emprestado as suas joias da literatura; a Profa. Msc. Maria do Perpétuo Socorro Fortes e a Profa. Msc. Alcione de Andrade Costa, por terem me emprestado verdadeiros clássicos da sociologia, sem os quais não poderia compreender o verdadeiro sentido das representações sociais; e, ainda, a Profa. Msc. Conceição de Maria Ferreira, que, nos diversos momentos do cotidiano de trabalho, incentivou-me a continuar esta caminhada.

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A meu marido, Orleans de Araujo Castro, que esteve presente comigo em cada momento desta pesquisa, momentos de expectativas, incertezas e felicidades, incentivando-me e apoiando-incentivando-me amorosaincentivando-mente com palavras e ações para que eu não desistisse da caminhada.

Às minhas irmãs, Lígia Costa Saraiva e Elza Costa Reis, ambas fontes inspiradoras do meu trabalho, pelo apoio material mas, fundamentalmente, pelo apoio emocional e pelos momentos de descontração, sem os quais seria muito difícil seguir em frente.

A meu cunhado, Ezequiel Ribamar Soares Reis, pelo incondicional apoio nas minhas idas e vindas entre o Aeroporto, casa da minha orientadora e a Universidade Católica de Brasília e, também, por me acolher calorosamente em sua casa.

Aos meus sobrinhos, Letícia Maria Costa Saraiva, Ezequiel Ribamar Reis Júnior,

Franco de Pádua Costa Reis, que, tantas vezes, tiveram sua privacidade “furtada” pelas minhas conversas, mas, mesmo assim, escutaram-me e incentivaram-me.

Ao casal Márcio da Costa Reis e Noraia Jones Reis, pelo carinho com que me acolheram em sua casa e pela consentida invasão de privacidade, dispensando-me de maiores preocupações, o que me ajudou a não desviar do caminho da pesquisa.

À amiga de todas as horas, inclusive e, principalmente das madrugadas, Profa. Delcimara Batista Caldas, pela sua constante preocupação, que proporcionaram verdadeiros momentos de aprendizagem e cumplicidade nos bons e difíceis instantes desta jornada.

A meu sogro, Odilon Lopes Castro, pela preocupação afetuosa e pelo apoio e incentivos silenciosos.

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“Envelhecer não é seguir um caminho já traçado, mas, pelo contrário, construí-lo permanentemente”.

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RESUMO

CASTRO, Lisiane de Oliveira Costa. Representações Sociais sobre Longevo no Livro Didático do Ensino Fundamental. Brasília, 2012. 104 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Católica de Brasília, 2012.

Neste trabalho investigam-se as representações sociais sobre o longevo, contidas nos textos e imagens dos livros didáticos do Ensino Fundamental de escolas públicas de São Luís-MA. Foram também investigadas as percepções de professores participantes da pesquisa, usuários desses livros sobre o longevo e as questões relacionadas à longevidade. Para tanto, recorreu-se à Teoria das Representações Sociais de Moscovici, com a finalidade de interpretar as representações sociais do idoso. Vale destacar que estudos sobre as representações sociais do longevo são incipientes, se comparados a outros estudos sobre o envelhecimento e quando relacionados à área educacional. Optou-se pela pesquisa de natureza qualitativa, por adequar-se melhor aos objetivos da pesquisa. Esta pesquisa foi desenvolvida no próprio local onde ocorre o fenômeno a ser estudado, ou seja, em seis escolas públicas de São Luís, da rede municipal, por ser a responsável pelo Ensino Fundamental. Os documentos selecionados para análise são os livros didáticos dos componentes curriculares de Língua Portuguesa e de História do 3º ao 5º ano, aprovados pelo Programa Nacional do Livro Didático. A amostra de conveniência envolveu seis escolas que representam os seis núcleos, entre os sete, nos quais estão distribuídas as escolas da rede municipal de São Luís. As entrevistas foram realizadas com 16 (dezesseis) professores, que atuam do 3º ao 5º ano e utilizavam os livros didáticos selecionados, sendo 15 (quinze) professores do sexo feminino e 1 (um) do sexo masculino. Para a coleta dos dados, utilizou-se entrevista semiestruturada, gravada, realizada in loco. A partir da análise documental, pôde-se depreender que os livros didáticos ainda veiculam representações sociais negativas em relação ao idoso. Tanto no livro didático de Língua Portuguesa, como também no livro didático de História, a representação social do longevo possuía características negativas implícitas e/ou explícitas, como velho feio, triste, solitário, rabugento, doente, que estava mais próximo da morte. Constatou-se que a percepção dos professores sobre os longevos era também negativa, ou seja, o idoso é visto como alguém dependente, frágil, que não possuía o pleno domínio de seus atos. Os dados revelaram que a maioria dos professores considerava o longevo sinônimo de limitação, fragilidade e decadência física. Ficou claro que a concepção dos professores foi influenciada pela representação social que circula na sociedade, a qual considera a velhice como um período de inatividade e improdutividade. Nesse contexto, esta pesquisa, poderá contribuir para ampliar os estudos nessa área específica, na busca de incentivar, nos educadores, reflexões sobre o fenômeno da longevidade, como elemento importante para o desenvolvimento da sociedade contemporânea.

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ABSTRACT

In this work the social representations are investigated about the longevity, contained in the texts and images of the textbooks of the Fundamental Teaching of the public schools of São Luís. They were also investigated the participant teachers' of the research perceptions, users of those books on the longevity and the subjects related to the longevity. For so much, it is fallen back upon the Theory of the Social Representations of Moscovici, with the purpose of interpreting the senior's social representations. It is worth to highlight that studies about the social representations of the longevity are incipient, if compared to other studies on the aging when related to the education area. It opted for the research of qualitative nature, for adapting better to the objectives of the research. This research was developed at the own place where happens the phenomenon to be studied, in other words, in 06 (six) public schools of São Luís, of the municipal network, for being the responsible network for the Fundamental Teaching. The documents selected for analysis are the textbooks of the curricula components of Portuguese Language and of History of the 3rd to the 5th year, approved for the National Program of the Textbook for the fundamental teaching. The sample of convenience involved 06 (six) schools that represent the 06 (six) nucleus, among the 07 (seven) which the schools of the municipal network of São Luís are distributed. The interviews were accomplished with 16 (sixteen) teachers, that act of the 3rd to the 5th year and they use the selected textbooks, being 15 (fifteen) female teachers and 01 (a) male. For the data collection, it was used interviews semiestrutured, recorded, accomplished on the spot. Starting from the documental analysis, it could be inferred that the textbooks still transmit negative representations in relation to the senior. As a textbook in Portuguese Language and History, the social representation of the longevity got negative characteristic implicit and explicit, as a old, ugly, sad, lonely, grumpy, sick, who was nearer of the death .It was verified that the teachers' perception was also negative, in other words, they face the senior as somebody dependent, fragile, that it doesn't possess the full domain of their actions. The data revealed that the majority of the teachers considered the longevity synonymous of limitation, fragility and physical decadent. It was

clear that the teachers’ concept is influenced by the social representation that spread in the

society, that consider the old age as time of inactivity and the time that nothing is produced. In that context, this research, it can contribute to enlarge the studies in that specific area, in the search of motivating, in the educators, reflections on the phenomenon of the longevity, as important element for the development of the contemporary society.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Livro D1, p. 187... 58

Figura 2 - Livro D3, p. 102. ... 59

Figura 3 – Livro A1, p.160. ... 60

Figura 4 - Livro B1, p.226 ... 60

Figura 5 – Livro D1, p.23. ... 61

Figura 6 – Livro D1, p.32. ... 61

Figura 7 - Livro D2, p.95. ... 62

Figura 8 – Livro C1, p.41... 63

Figura 9 – Livro C1, p.43... 63

Figura 10 – Livro B2, p.36... 64

Figura 11 – Livro F3, p.18... 65

Figura 12 – Livro F3, p.48... 66

Figura 13 – Livro G2, p.33... 67

Figura 14 – Livro G1, p.117... 67

Figura 15 – Livro F2, p.10... 68

Figura 16 - Livro F3, p.19 ... 68

Figura 17 – Livro F2, p.13... 69

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Sexo dos entrevistados ... 71

Gráfico 2 – Faixa Etária dos entrevistados ... 71

Gráfico 3 – Tempo de magistério ... 72

Gráfico 4 – Tempo de trabalho na mesma escola ... 73

Gráfico 5 – Carga horária de trabalho ... 73

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Língua Portuguesa: coleções e número de livros selecionados, anos de

escolaridade e número de professores que utilizam os livros... 57

Tabela 2 – História: coleções e número de livros selecionados, anos de escolaridade e número de professores que utilizam os livros ... 57

Tabela 3 - Concepção dos professores sobre longevo... 75

Tabela 4 - Concepção dos professores sobre seu processo de envelhecimento... 76

Tabela 5 - Atividades intelectuais desenvolvidas pelo longevo... 77

Tabela 6 - Atividades físicas desenvolvidas pelo longevo ... 78

Tabela 7 - Tratamento dispensado ao longevo pela sociedade ... 79

Tabela 8 - Tratamento dispensado ao longevo pela família ... 80

Tabela 9 - Discussão do fenômeno da longevidade pelo professor... 81

Tabela 10 - Representações sociais do longevo no livro didático, por meio de textos 82 Tabela 11 - Representações sociais do longevo no livro didático, por meio de imagens ... 83

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LISTA DE SIGLAS

BPC Benefício de Prestação Continuada CNI - Conselho Nacional do Idoso

CNDI - Conselho Nacional dos Direitos do Idoso CNLD - Comissão Nacional do Livro Didático

COLTED - Comissão do Livro Técnico e do Livro Didático EI - Estatuto do Idoso

FAE - Fundação de Assistência ao Estudante FAMA Faculdade Atenas Maranhense

FENAME - Fundação Nacional do Material Escolar

FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação LDB - A Lei de Diretrizes e Bases da Educação

LD - Livro Didático

LDP - Livro Didático de Língua Portuguesa LDH - Livro Didático de História

LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social MEC - Ministério da Educação e Cultura MINTER Mestrado Interinstitucional

ONU - Organizações das Nações Unidas PNI - Política Nacional do Idoso

PNSI - Política Nacional de Saúde do Idoso PNLD - Programa Nacional do Livro Didático

PNLEM - Programa Nacional de Livro Didático do Ensino Médio PNBE - Programa Nacional Biblioteca na Escola

SEMED - Secretaria Municipal de Educação

SNEL - Sindicato Nacional de Editores de Livros UCB Universidade Católica de Brasília

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA... 17

CAPÍTULO I - REVISÃO DE LITERATURA ... 22

1.1 LONGEVO ... 23

1.1.1 Concepções de Longevo... 23

1.1.1.1 O Longevo na visão Antropológica... 24

1.1.1.2 O Longevo na visão Sociológica... 25

1.1.1.3 O Longevo na visão Psicológica... 26

1.1.2 Legislação de Apoio ao Longevo ... 28

1.1.2.1 No Plano Internacional ... 28

1.1.2.2 No Plano Nacional ... 31

1.2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ... 34

1.2.1 Teoria das Representações Sociais de Moscovici... 36

1.2.2 Representações Sociais sobre Longevo ... 39

1.3 LIVRO DIDÁTICO E EDUCAÇÃO ... 41

1.3.1 Breve Histórico do Livro Didático no Brasil... 41

1.3.2 O Livro Didático como Instrumento de Educação... 45

CAPÍTULO II - A PESQUISA E SEUS COMPONENTES ... 48

2.1 O PROBLEMA ... 48

2.2 OBJETIVOS ... 49

2.2.1 Geral ... 49

2.2.2 Específicos ... 49

2.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS... 49

2.3.1 Caracterização da Pesquisa... 49

2.3.2 Técnicas e Instrumentos de coleta de dados ... 51

2.3.3 Participantes da Pesquisa ... 52

(17)

CAPÍTULO III – ANÁLISE DOS DADOS E APRESENTAÇÃO DOS

RESULTADOS ... 56

3.1 OS LIVROS DIDÁTICOS E SUAS REPRESENTAÇÕES ... 56

3.1.1 Língua Portuguesa... 57

3.1.1.1 Análise dos Textos e das Imagens... 58

3.1.2 História... 64

3.1.2.1 Análise dos Textos e das Imagens... 65

3.2 AS CONCEPÇÕES DOS PROFESSORES ... 70

3.2.1 Caracterização dos professores participantes da pesquisa... 71

3.2.2 Aspectos Conceituais de Longevo: apreensão dos professores... 74

CAPÍTULO IV – CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES ... 84

REFERÊNCIAS ... 88

APÊNDICE A – ROTEIRO DA ANÁLISE DOCUMENTAL ... 96

APÊNDICE B – ROTEIRO DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA COM OS PROFESSORES ... 97

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INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

O envelhecimento de pessoas não é fenômeno exclusivo da sociedade contemporânea, uma vez que sempre existiram e existirão idosos. No entanto, um fator em relação a eles é novo: a população de idosos, em todo o mundo, vem crescendo nos últimos tempos.

As previsões da Organização das Nações Unidas (ONU) são de que, até 2050, pela primeira vez na história da espécie humana, o número de pessoas idosas excederá o número de crianças abaixo de 14 anos. A população mundial que, em 2002 era de 6 bilhões passará para 10 bilhões em 2050 e, no mesmo período, a população de idosos deverá triplicar: será de 2 bilhões ou quase 25,0% do planeta (BERZINS, 2003).

Pesquisas feitas na Alemanha afirmam que o quociente de idosos vai dobrar, saindo de 44,3, no ano de 2002, para 70,9 em 2060. Esse quociente continuará aumentando, chegando a 78,0, no ano de 2050. O quociente social demográfico, das pessoas acima de 90 anos, será seis vezes maior, em comparação com as pessoas de 50 a 70 anos. O número de pessoas idosas acima de 100 anos poderá atingir os 115.000 ou dez vezes o valor que havia em 2005 (SHIRRMACHER, 2005).

De acordo com Shirrmacher (2005), a China, devido à política de um filho por casal, em menos de 30 anos vai dobrar a sua população de idosos. No Brasil, o crescimento populacional de idosos caracterizou-se pela rapidez com que esse aumento atingiu índices alarmantes. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a duração da vida ou o limite biológico da extensão da vida saiu de 45,5 , em 1940, para 73,1 anos, em 2009; e o Brasil será, em 2025, o sexto país em população idosa (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2011).

De acordo com o Censo Demográfico de 2000, são duas as prováveis causas do envelhecimento da população brasileira: a redução da taxa de fecundidade e a redução da taxa de mortalidade infantil, aliada ao aumento da expectativa de vida associada à tecnologia médica (HERÉDIA; LORENZI; FERLA, 2007).

(19)

Esses dados são preocupantes, visto que, na sociedade ocidental contemporânea,

onde há um “culto” à juventude eterna, o idoso muitas vezes não é valorizado, sendo alvo de

críticas, preconceitos, maus-tratos e abandono. Além do mais, em uma visão preconceituosa,

esse “culto” à juventude, como norma social, coloca o idoso à margem da sociedade,

encarando-o como fisicamente limitado, funcionalmente dependente e visualmente desagradável, gerando ódio ou repulsa à velhice. A gerontofobia ou ódio à velhice, embora não se manifeste claramente, está presente em diversas reações sociais, econômicas e políticas, o que pressupõe uma forma de pensar sobre o idoso que é também preconceituosa (MORAGAS, 1997).

Muitos fatores contribuem para a afirmação desse ódio à velhice e ao medo de ficar velho. Um deles são as representações sociais que as sociedades constroem sobre os idosos. Segundo Carlos, Maraschin e Cantergi (2000), as representações sociais são mecanismos geradores de posições e de condutas nas sociedades.

Martins e Rodrigues (2011), que estudaram o estereótipo do idoso como representação social, declaram que só há estereótipo, rejeição ou rotulagem quando se atribuem a todos de um mesmo grupo características individuais com traços negativos. Por isso, a velhice é associada à incapacidade funcional, fase de declínio inevitável e de fracasso.

Na visão de Gomes (2000), os veículos de comunicação de massa, como a televisão, têm um grande poder de influenciar formas de pensar, legitimando a ideologia da classe dominante da sociedade capitalista, que concebe o idoso como improdutivo e inútil.

Para Shirrmacher (2005), a quase inexistência de pessoas idosas em propagandas de televisão, nos filmes, na literatura reforça essa imagem negativa. Ele relata que, em uma pesquisa realizada sobre a representação social dos idosos em filmes de desenho animado, 90% são apresentados às crianças como pessoas más, egoístas e criminosas.

Segundo Neri (2003, p. 15), os meios simbólicos, entre eles a “[...] literatura, a televisão e os jornais, são reconhecidos como poderosos instrumentos na formação de atitudes e crenças em relação aos idosos.” Em suas pesquisas, em textos jornalísticos, a autora chega a várias conclusões, entre elas a de que a velhice predominantemente está associada com a

morte, com o declínio irreversível e com a doença. Portanto, enfatiza a autora, “[...] as realidades da velhice devem ser explicitadas às crianças, aos jovens e aos adultos, mas de forma simbólica.” (NERI, 2003, p. 28).

(20)

figuras literárias que representam idosos, como a velha bruxa má e o avô rabugento, influenciam mais nas atitudes coletivas do que a realidade da velhice.

Nesse sentido, Shirrmacher (2005) assevera que os contos de fadas, como as histórias de João e Maria, destacam, na imagem, a velha bruxa querendo devorar as crianças. Tal mensagem constrói, no imaginário da criança, indiretamente, o medo dos idosos ou a ideia de que todo idoso vai se transformar em uma pessoa má em função da sua aparência.

Nesse contexto, o livro didático aparece também como mais um instrumento que pode reforçar a discriminação e o preconceito aos idosos. Para Queiroz (2008), o raro aparecimento, nos livros didáticos, do idoso ou o seu aparecimento de forma tendenciosa e estereotipada estimula preconceitos e discriminações.

Para Freitag, Costa e Motta (1997), o aparecimento pontual de temas, como a discriminação racial e o respeito às diferenças, confirma que é necessário que o livro didático seja analisado mais criticamente. Na opinião de Oliveira (2006), no livro didático, a valorização dos idosos como cidadãos, que o têm direito de ter a sua dignidade respeitada, ainda não foi totalmente trabalhada. As produções teóricas não são muitas, se comparadas a outros fenômenos educativos largamente estudados. Sendo assim, entende-se que, como parte importante dos processos de ensino-aprendizagem, o livro didático deve ser capaz de contribuir para a formação de novas formas de pensar a questão do longevo e estimular a cidadania, produzindo efeitos contra qualquer forma de estereótipos e discriminação, dentro e fora do contexto escolar.

Vale ressaltar que este estudo busca pesquisar, no livro didático, as representações sociais contidas no conteúdo e imagens relacionadas ao longevo. Portanto, recorre-se à Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici, a fim de entendê-la nos livros selecionados e ainda como os professores que os usam concebem o longevo e as questões relacionadas à longevidade.

Assim, se nos livros didáticos os idosos tiverem uma representação social condizente com sua dignidade humana, certamente as crianças que entrarem em contato com esses livros respeitarão os idosos e, no futuro, poderão considerar o longevo de forma mais digna, como um cidadão de direitos e livre de estereótipos.

(21)

Na concepção de Câmara (2010), o aumento da população idosa, pela sua importância e complexidade, representa desafios que devem ser estudados e discutidos de maneira cuidadosa por toda a sociedade e, em especial, pelo sistema educacional, criando espaços para o debate e sensibilização dos educadores.

Uma dessas questões é a representação social do idoso na sociedade contemporânea. No relato de suas pesquisas, Paz (2000) afirma que as Representações Sociais materializam opressões à velhice de várias maneiras: algumas explícitas, perversas, tácitas, aceitas e outras veladas.

Itani (1998), corroborando com este pensamento, destaca que a conduta das pessoas é apoiada por um conjunto de representações sociais presentes na sociedade, no cotidiano do trabalho dos sujeitos e, consequentemente, na prática escolar. Já que é assim, para a autora, é comum que os preconceitos apareçam na dinâmica curricular desenvolvida em salas de aula.

Para Queiroz (2008), na escola, por meio das leituras, imagens e debates, formam-se conceitos sobre o envelhecimento que influenciarão as futuras práticas sociais. Dessa forma, vale destacar a possibilidade de construir, por meio de textos e imagens contidas no livro didático, representações sociais positivas ou negativas sobre o longevo.

No entanto, Paz (2000) destaca que estudos sobre as representações sociais do longevo são relativamente novos, se comparados a outros estudos sobre o envelhecimento e, principalmente, se relacionados à área da educação. Nesse sentido, esta pesquisa poderá contribuir para ampliar os estudos nessa área específica, buscando despertar, nos educadores, reflexões sobre o fenômeno da longevidade, como elemento importante para a sociedade contemporânea. Esses educadores poderão desenvolver práticas pedagógicas positivas sobre o longevo, mesmo que textos e imagens negativas estejam presentes no livro didático.

Nessa perspectiva, discutir sobre representações sociais do longevo no livro didático, ao mesmo tempo em que é desafiador, é pensar caminhos que desmistifiquem as imagens estereotipadas, preconceituosas sobre os idosos, que permeiam a sociedade.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB, 1996) reza, no artigo 32, que o objetivo do ensino fundamental é a formação básica do cidadão, ressaltando a compreensão dos valores que fundamentam a sociedade, o desenvolvimento da capacidade de

aprendizagem, tendo em vista a formação de atitudes e valores e o “[...] fortalecimento dos

(22)

mas, fundamentalmente, de seres humanos dispostos a conviver pacificamente com todos, crianças, jovens, adultos, deficientes e, principalmente, longevos.

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CAPÍTULO I - REVISÃO DE LITERATURA

Há vários termos para designar as pessoas que já passaram dos 60 anos de idade: ancião, velho, idoso, geronte, senescente, terceira idade, melhor idade e longevo. Nas análises

de Peixoto (1998), no Brasil, o termo “velho”, apesar de conter certa ambiguidade, não era

empregado de forma pejorativa, como no caso da França. Nos anos 60, o Brasil, influenciado pelos documentos oficiais europeus, adotou o termo idoso. A partir daí, a palavra “idoso” marca um tratamento mais respeitoso do que a palavra “velho”. Ainda na visão de Peixoto (1998), o termo “terceira idade”, cunhado pelo francês Huet, surge como uma expressão

classificatória de uma categoria social que ainda é bastante heterogênea. No entanto, o termo

“terceira idade” identifica um grupo de pessoas que chegou aos 60 anos, desvinculou-se do

sistema produtivo formal, mas que, ainda, mantém-se ativo por trabalhar, viajar etc.

Atualmente, dado o aumento dos anos vividos pelos idosos, caracterizados pela mais extensa longevidade, alguns autores adotam a palavra longevo para identificar esse segmento. Mercadante e Brandão (2009) fazem uma diferença entre envelhecimento e longevidade. Para as autoras, o envelhecimento diz respeito a um processo natural que faz parte da condição biológica de todo ser vivo, regido por um ciclo normal do nascimento à morte, ligada à passagem do tempo. Já longevidade refere-se à crescente extensão do ciclo vital, na perspectiva de maior expectativa e qualidade de vida, possuindo particularidades mais complexas em relação a cada indivíduo.

(24)

1.1LONGEVO

1.1.1 Concepções de Longevo

Na afirmação de Beauvoir (1990, p. 110), “[...] o velho, enquanto categoria social, nunca interveio no percurso do mundo.” Portanto, estudá-lo não é uma fácil tarefa, pois os documentos históricos sobre este assunto são escassos. Além disso, a imagem do idoso varia de acordo com as épocas e as culturas, sendo, muitas vezes, incerta, confusa, contraditória e heterogênea.

Por outro lado, Neri (1991) afirma que há certa ambiguidade quanto ao início da velhice, pois as pessoas relacionam este início a condições como saúde, aposentadoria, sexo, nível socioeconômico e, dependendo da idade em que a pessoa se encontra, a velhice assume várias definições. Nesse sentido, a velhice tem uma variedade de significados e depende de fatores, tanto individuais como interindividuais e, ainda, grupais e socioculturais, compartilhados de diferentes maneiras em uma mesma sociedade.

Para Moragas (1997), é preciso compreender a velhice não só como idade cronológica, mas também sob os aspectos sociológicos, psíquicos, econômicos e sociais em relação ao envelhecimento. No entanto, há uma variedade de conceitos sobre a velhice. Ele aponta três concepções: a primeira é a velhice cronológica; a segunda concepção é a velhice funcional, e a terceira trata da velhice como etapa vital.

A velhice cronológica, definida como aquela que se baseia na idade cronológica do advento da velhice, começa aos sessenta anos. No entanto, o impacto do tempo não é igual para todas as pessoas. Por isso, a idade cronológica é importante, mas não suficiente para caracterizar os aspectos relacionados à velhice, principalmente considerando a diversidade dos efeitos do tempo sobre os indivíduos. A velhice funcional refere-se ao uso do termo

‘velho’ como sinônimo de ‘incapaz’ ou ‘limitado’ e reflete o preconceito que a sociedade tem

da imagem do idoso. A velhice como etapa vital, considerada como a mais equilibrada e moderna, tem por base o reconhecimento de que o decurso do tempo gera efeitos nas pessoas que entram em determinada etapa de suas vidas, com características peculiares potencialidades únicas e distintas na vida pessoal e social do indivíduo (MORAGAS, 1997).

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forma, sistematiza-se, a seguir, a questão do envelhecimento de pessoas em diferentes aspectos, em algumas áreas do conhecimento, como na Antropologia, na Sociologia e na Psicologia, por considerar que essas áreas oferecem maior contribuição para discutir o tema em questão, abrangendo os diferentes significados que o longevo assume em cada abordagem.

1.1.1.1 O Longevo na visão Antropológica

Para Almeida (2003, p. 38), a tarefa da Antropologia não é responder normativamente sobre o que é velhice. Como ciência interpretativa, cabe à Antropologia “[...] identificar noções de velhice estabelecidas no universo social e cultural.”

Segundo Lopes e Barroso (2009), nos dizeres antropológicos, o modelo social do idoso é construído culturalmente em contraposição ao do jovem. Desta forma, o idoso seria aquela pessoa que não possui mais o vigor, a produtividade e a rapidez da juventude. Uma imagem produzida socialmente que ultrapassa a dimensão do corpo e da estética, pois imediatamente ao olhar um corpo enrugado, avalia-se, também o papel social econômico e cultural do idoso.

Minois (1987) afirma que, historicamente, no Ocidente, a imagem e o papel dos idosos estão relacionados a um tipo de organização socioeconômica e cultural que contribui para a sua valorização ou para a sua desvalorização. Nas civilizações do Médio Oriente Antigo (hoje, Iraque, parte do Irã, parte da Turquia, Síria, Líbano, Israel, Egito),o idoso era representado entre o mito e a história. Por um lado, ficar velho era tido como uma bênção e recompensa divina concedida somente aos justos. Essa relação entre a velhice e o mundo sagrado abrange também o mundo da magia. Desta forma, no antigo Israel, o idoso, por ser considerado uma pessoa divina, dotada de experiência e grande sabedoria, tinha papel muito importante: interpretava sonhos, dava conselhos e resolvia problemas. Por outro lado, o culto à beleza física do mundo grego associou a imagem dos idosos a uma maldição, à infelicidade, à tristeza e à dor (MINOIS, 1987).

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sabedoria e de doença, de experiências e de decadência física. Daí iniciou-se uma busca pelas causas da velhice na tentativa de retardar o envelhecimento (MINOIS, 1987).

Ratificando essa concepção, Debert (1998), em seus estudos, afirma que a velhice não é uma categoria natural e, sim, produzida histórica e socialmente. Acrescenta, ainda, que as representações sobre a velhice, o lugar que ela ocupa na sociedade e os comportamentos dos mais jovens em relação ao idoso adquirem significados específicos em contextos históricos, sociais e culturais.

Para Lenoir (1989 apud Debert, 1998, p. 62), a questão da velhice como “[...] problema social é uma construção [...].” “Supõe um trabalho em que estão envolvidas quatro dimensões: reconhecimento, legitimação, pressão e expressão [...].” “O reconhecimento implica tornar visível uma situação particular [...]”. “A legitimação supõe o esforço para

promovê-lo e inseri-lo no campo das preocupações do momento” [...].“As formas de pressão envolvem o estudo dos atores sociais que podem tanto representar certos grupos de interesses quanto um interesse geral [...]”. “As formas de pressão traduzem em formas de expressão. Na

transformação do envelhecimento em problema social estão envolvidas novas definições da velhice e do envelhecimento [...].”

Assim, pode-se construir uma nova imagem do idoso, novas concepções sobre o

envelhecimento e novas categorias, como “terceira idade” e “longevo”. No entanto, a

mudança na categoria remete a uma mudança de toda a imagem que se faz do idoso e traz inúmeras implicações sociais. Por exemplo, a aposentadoria, nesta perspectiva, deixa de ser um momento de recolhimento e inutilidade para se tornar um período de atividade, lazer e realizações pessoais (DEBERT, 1998).

1.1.1.2 O Longevo na visão Sociológica

As contribuições sociológicas do papel social e do status, inato ou adquirido, do idoso nas sociedades contemporâneas, são de extrema relevância para a análise do fenômeno da velhice, inclusive fornecendo fundamentos para compreensão desse fenômeno em outras áreas do saber, tais como saúde, serviço social e educação (MORAGAS, 1997).

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laborais, por meio da aposentadoria, pode também levá-lo a um status negativo, destituído de valor econômico e social. Nessa perspectiva negativa, que reduz o trabalho a uma atividade econômica que rende dinheiro no mercado, o idoso é uma pessoa que perdeu o poder de trabalho, pois não está economicamente ativo, produzindo bens e/ou serviços (MORAGAS, 1997).

Por outro lado, vale ressaltar que é cada vez mais significativo o papel do avô/avó na família, que tem se apresentado de maneira completamente diferente de anos passados: eles são cada vez mais ativos. Hoje, na família, o avô/avó apresenta-se muito mais como uma pessoa de vida própria, interessado por diferentes atividades que vão desde o esporte até a política. Em decorrência desse fenômeno, outro fato importante a ser destacado é que os netos atuais experimentam um novo tipo de relacionamento com pessoas idosas que muitos adultos da atualidade não experimentaram: os relacionamentos com os bisavôs/bisavós (MORAGAS, 1997).

No entanto, afirma Alves (2007) que o fato de o idoso desempenhar um papel mais significativo na estrutura familiar, contribuindo inclusive financeiramente para o sustento da família, não significa dizer que ele está socialmente mais valorizado pela juventude, uma vez que historicamente foi construído todo um pensamento simbólico a respeito dessa faixa etária.

1.1.1.3 O Longevo na visão Psicológica

Os estudos psicológicos sobre a velhice relacionam-se com os estudos dos aspectos cognitivos, das aptidões, do desenvolvimento da personalidade e, também, dos aspectos volitivos, que incluem as emoções e sentimentos, as motivações e as percepções (MORAGAS, 1997).

Nas atuais pesquisas da psicologia sobre o envelhecimento, enfatiza-se que, dependendo de como o idoso conduz a sua vida, pode manter e até melhorar as suas aptidões cognitivas que dizem respeito à inteligência, à memória, à capacidade de aprendizagem, raciocínio, à capacidade para solucionar problemas e à criatividade (MORAGAS, 1997).

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são idosos maduros, estáveis, que desfrutam daquilo que a vida lhes proporciona. Podem ser também idosos passivos, descansados, satisfeitos com a sua fase da vida. Ou, ainda, são idosos disciplinados, individualistas, ativos, que se dedicam a várias atividades para não ficar ociosos. Aqueles que não compreendem o processo de envelhecer são idosos que responsabilizam outras pessoas pelas suas frustrações e limitações do envelhecimento ou são idosos deprimidos, que se odeiam, isolando-se.

Para Moragas (1997), as teorias que explicam o desenvolvimento da personalidade, na velhice estão divididas em duas: uma que considera esse desenvolvimento como etapa, baseada nos estudos de Erick Erikson, e a outra, que o considera como um processo, fundamentado nas pesquisas de R. Atchley. Na teoria das etapas, o desenvolvimento da personalidade, na velhice, é iniciado na última etapa da maturidade tardia, etapa em que o idoso procura a integridade de si mesmo, aceitando a sua vida até o presente; ou entra em desespero, por descobrir que não há mais tempo para mudar o que foi sua vida. Na teoria do processo, na medida em que o meio ambiente apresenta demandas contraditórias, a pessoa pode considerar adequado ariscar-se em um momento e, em outros momentos, precaver-se. Essa teoria, apesar de não explicar os mecanismos individuais por meio dos quais se consegue esse equilíbrio, reconhece o dinamismo do meio ambiente em que as pessoas se encontram e as suas reações.

Os estudos dos aspectos volitivos estão relacionados às emoções e sentimentos, às motivações e às percepções. As pessoas, que eram alegres enquanto jovens, continuam sendo alegres na velhice, desde que não tenha havido alteração significativa na estrutura básica de sua personalidade. À medida que as pessoas envelhecem, as motivações, enquanto impulsos que mantêm as pessoas em ação, podem apresentar certa estabilidade, dependendo de fatores econômicos e sociais. Já as percepções diminuem com a idade, devido “[...] à menor velocidade do sistema nervoso central ao processar os estímulos.” (MORAGAS, 1997, p. 81). Mas, sem dúvida nenhuma, declara Moragas (1997), a velhice é uma etapa peculiar do desenvolvimento humano que possui características tanto positivas quanto limitadoras. Dentre as características psíquicas positivas, destaca-se a velhice como uma fase de equilíbrio, estabilidade, serenidade e experiências de vida; entre as negativas, a velhice pode ser caracterizada por uma fase de lentidão, insegurança, confusão e perda da memória.

(29)

Como se constata, há uma pluralidade de interpretações, nas diferentes abordagens, que não permitem ter uma única concepção sobre o longevo, na sociedade atual. No entanto, há algo em comum em todas elas: a ideia de que é extremamente importante romper com as representações sociais negativas do idoso, que o longevo necessita ter sua dignidade respeitada como qualquer ser humano e ter seu direito garantido como dispõem as conquistas legais que se abordam a seguir.

1.1.2 Legislação de Apoio ao Longevo

Muitos direitos e tratamentos privilegiados são garantidos a partir de uma medida objetiva que é a idade cronológica da pessoa. Em seus estudos, Debert (1998) confirma que os critérios de idade cronológica são impostos por exigência das leis que definem os direitos e deveres dos cidadãos, mas não são suficientes para explicar o fenômeno. No entanto, subjetivamente, sabe-se que as leis que apoiam os idosos foram conquistas árduas, marcadas por profundos debates no interior da sociedade. Visto que os direitos do idoso são conquistas relativamente recentes, sinaliza-se que é importante conhecê-las, tanto no plano internacional como nacional, para refletir sobre as questões que envolvem o envelhecimento.

1.1.2.1 No Plano Internacional

No Direito Internacional, destaca-se a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, assinada em 1948, como o documento que serve de base para formulação de Constituições em vários países, inclusive a brasileira. Nela são declarados os direitos de todos os seres humanos, tais como o direito à vida, à liberdade de ir e vir, de expressão, de religião. Em relação ao idoso, destaca-se o direito de todo ser humano à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência, em circunstâncias fora de seu controle (Art. 25).

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culturais, econômicos e os direitos da coletividade. Os direitos de terceira geração são aqueles relacionados ao desenvolvimento, à paz, ao meio ambiente, à propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade e à comunicação. Os direitos de quarta geração relacionam-se com os resultados da engenharia genética e das pesquisas com células-tronco.

Alcântara (2009) afirma, ainda, que nunca houve conquista de direitos humanos que não fosse resultado de lutas e conflitos sociais. Por isso, historicamente tem sido um grande desafio buscar a concretização dos direitos humanos, principalmente em relação aos idosos, que, ao longo dos anos, foram vistos como pessoas frágeis que necessitam de amparo e cuidados, dependendo de iniciativas de militantes, organismos da sociedade civil e entidades governamentais.

O fato é que envelhecer, no século XXI, não terá o mesmo significado de envelhecer em outras épocas. Segundo Faleiros (2007), questionam-se os direitos já adquiridos. As políticas neoliberais reduzem os direitos sociais e há profundas transformações nas condições de vida da família e da sociedade.

Nesse sentido, vale ressaltar algumas iniciativas históricas. Na Alemanha, por exemplo, em 1889, foi criado o Seguro de Invalidez e Velhice. Mesmo sendo uma preocupação relacionada à previdência, serviu de reflexão para ampliar os direitos do idoso no resto do mundo. Tanto que, na Inglaterra, em 1897, foi instituído um sistema de assistência à velhice. Já o México foi o primeiro país no mundo a incluir o seguro social em sua Constituição, em 1917 (ALCÂNTARA, 2009, p. 14).

Para Côrte (2008), a partir de 1982, por ocasião da I Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento, em Viena, na Áustria, já se percebia uma preocupação dos governos nacionais com o aumento populacional de idosos e das demandas e pressões do envelhecimento, razão por que, no mesmo ano, foi adotado um Plano de Ação Internacional. Um aspecto relevante desse plano era o reconhecimento da mídia no sentido de formar uma imagem sobre o envelhecimento.

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Proteção de Pessoas Idosas

Toda pessoa tem direito à proteção especial na velhice. Nesse sentido, os Estados- Partes comprometem-se a adotar, de maneira progressiva, as medidas necessárias a fim de pôr em prática este direito e, especialmente:

a) proporcionar instalações adequadas, bem como alimentação e assistência médica especializada, às pessoas de idade avançada que não disponham delas e que não estejam em condições de adquiri-las por seus próprios meios;

b) executar programas de trabalho específicos, destinados a proporcionar a pessoas idosas a possibilidade de realizar atividades produtivas adequadas às suas capacidades, respeitando sua vocação ou desejos;

c) promover a formação de organizações sociais destinadas a melhorar a qualidade de vida das pessoas idosas (SAN SALVADOR, 2012).

Em 1991 a Resolução nº 46, aprovada na Assembleia Geral das Nações Unidas, delineou cinco princípios da ONU para o idoso. São eles: 1) independência para que o idoso tenha acesso à saúde, alimentação, moradia, vestuário, educação, trabalho, segurança; 2) participação na implementação das políticas que o afetam diretamente, além de ter oportunidade de transmitir conhecimentos aos mais jovens; 3) assistência ao idoso para o seu bem-estar físico, mental e emocional e, ainda, poder decidir que assistência lhe será prestada; 4) autorrealização pelo total desenvolvimento de suas potencialidades; e, 5) a dignidade para poder viver em segurança e não ser objeto de maus-tratos físicos e mentais. A ONU ainda convocou os governos do mundo a incorporarem tais princípios em seus programas de governo (ONU, 2012).

A ONU, em 2002, apresentou um dos documentos mais importantes, produzido durante a II Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento, realizada em Madri, Espanha, para assegurar os direitos do idoso: o Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento. Diferente do primeiro, este Plano define as diretrizes prioritárias que orientam as políticas públicas relativas à população idosa para o século XXI. Fortalece o conceito de envelhecimento ativo como um bem-estar físico, social e mental durante toda a vida, criando as primeiras diretrizes de um ambiente favorável para o envelhecimento (CÔRTE, 2008).

No ano seguinte, em 2003, a fim de implementar as ações do Plano de Ação na América Latina e no Caribe, foi realizada, em Santiago do Chile, a I Conferência Regional da América Latina e Caribe sobre Envelhecimento, que resultou em um documento chamado de

“Estratégias Regionais de Implementação para América Latina e o Caribe do Plano de Ação

Internacional de Madri sobre Envelhecimento.” (CÔRTE, 2008).

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declaração foi designar um relator do Conselho de Direitos Humanos da ONU para garantir os direitos da pessoa idosa (CÔRTE, 2008).

No Brasil, pode-se se afirmar que há uma legislação que ampara o idoso; no entanto, o simples fato de estar nas leis não dá ao idoso garantias concretas dos seus direitos.

1.1.2.2 No Plano Nacional

No Brasil, de acordo com Godinho (2007), para fins legislativos, o reconhecimento dos direitos do idoso passa por uma definição baseada no critério cronológico ou etário.

Antes da Constituição Federal de 1988, os direitos do idoso restringiam-se ao plano previdenciário. Segundo Faleiros (2007), a velhice era uma questão privada, no âmbito da família, da filantropia e da religião. Depois da Constituição, inaugura-se uma nova fase de configuração do Estado de Direito com garantias da cidadania. Pode-se, então, vislumbrar iniciativas de promoção dos direitos do idoso, entre eles: a República Federativa deve promover o bem de todos, sem preconceito de idade (Art. 3º); o direito a um salário mínimo em situação de falta de subsistência (Art. 203); os filhos maiores têm o dever de amparar os pais idosos (Art. 229); é dever da família, da sociedade e do Estado amparar os idosos, defendendo a sua dignidade e assegurando o direito à vida (Art. 230). Dessa forma, aqueles menos favorecidos, entre eles os idosos, deixaram de ser problema apenas da família ou de entidades filantrópicas e passaram a ser reconhecidos como sujeitos de direitos.

Em 1993, a Lei nº 8742, Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), em seu Art. 20, garantiu Benefício de Prestação Continuada (BPC) de um salário-mínimo mensal para os idosos com 65 anos ou mais, que comprovarem não possuir condições de prover o seu próprio sustento nem de tê-lo provido por sua família.

Entretanto, apesar de os direitos do idoso serem estabelecidos por várias leis, somente em 1994 foi instituída a Política Nacional do Idoso (PNI), por meio da Lei nº 8842 e regulamentada pelo Decreto nº 1948, 03 de julho de 1996. A Lei tem por finalidade “[...] assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade.” (Art.1º).

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gerações.” (Art. 4º, VI). Esta diretriz liga-se a outra que impõe o “[...] estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações de caráter educativo sobre os

aspectos biopsicossociais do envelhecimento” (Art. 4º, VII), para não se ter uma ideia deturpada sobre o idoso e sobre o que é envelhecer. A mesma Lei apoia todo e qualquer estudo e/ou pesquisa sobre a questão do envelhecimento (Arts. 3º e 4º, I e II). Na área da

educação, a PNI responsabiliza o governo pela adequação dos “[...] currículos, metodologias e

material didático aos programas educacionais destinados ao idoso” (Art. 4, VII); e, também, pela inserção, “[...] nos currículos mínimos, nos diversos níveis do ensino formal, de conteúdos voltados para o processo de envelhecimento, de forma a eliminar preconceitos e a produzir conhecimentos sobre o assunto.” (Art. 10, III, a).

Essa política ainda impõe aos órgãos governamentais melhorar a qualidade de vida do idoso por meio de ações curativas, promocionais e, principalmente, preventivas nas áreas de promoção e assistência social, saúde, educação, trabalho e previdência social e de justiça. Desta forma, a política possibilitou não apenas cuidar dos idosos, mas também daqueles que vão envelhecer (Art. 10, II).

Por meio da Lei nº 8842/94, foi também criado o Conselho Nacional do Idoso (CNI). De acordo com a Lei, compete aos conselhos a “[...] formulação, coordenação, supervisão e avaliação da política nacional do idoso, no âmbito das respectivas instâncias político-administrativas.” (Art. 7º, II) (BRASIL, 1994).

No entanto, somente com a aprovação da Política Nacional de Saúde do Idoso (PNSI), em 1999, os direitos em relação à saúde, descritos na própria PNI, ganharam visibilidade. Essa política é um marco na promoção e melhoria da capacidade funcional dos idosos. Segundo Silva e Caldas (2004), a PNSI é uma importante conquista, na medida em que rompe com o paradigma de que saúde é ausência de doença; privilegia uma abordagem ampla da questão da saúde do idoso como resultante de múltiplos fatores que incluem dimensões sociais, políticas, econômicas e culturais, além de priorizar uma visão interdisciplinar e dinâmica da velhice.

(34)

pessoas de dentro e fora da família para cuidar dos idosos, objetivando, ainda, reduzir o percentual de idosos institucionalizados.

O Estatuto do Idoso (EI), Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, é uma importante conquista, pois acrescenta novos dispositivos à PNI e consolida os direitos do idoso em situação de risco social, já assegurados na Constituição Federal. O Estatuto do Idoso é significativo, também, na medida em que avança em relação às ações públicas de responsabilidade do Estado, além de estabelecer medidas específicas de atenção ao idoso (SILVA; CALDAS, 2004, p. 26).

Faleiros (2007) destaca, também, que o EI aprofunda a PNI, na medida em que afirma que o idoso possui todos os direitos de primeira geração inerentes à pessoa humana (Art. 2º). O Art.8º reza que o “envelhecimento é um direito personalístico e a sua proteção é

um direito social” e que o Estado tem a obrigação de garantir proteção à pessoa idosa, “o direito à vida e à saúde” (Art. 9º).

Para Godinho (2007), o EI inaugura uma nova era do reconhecimento dos direitos do idoso, pois assegura direitos importantes como o direito à liberdade, ao respeito e à dignidade humana. O artigo 22 do Estatuto do Idoso, estatui que, nos “[...] currículos mínimos dos diversos níveis de ensino formal, serão inseridos conteúdos voltados ao processo de envelhecimento, ao respeito e à valorização do idoso

,

de forma a eliminar o preconceito e a produzir conhecimentos sobre a matéria.”

Em 2008, foi assinado, em Brasília, um “Pacto de Gestão pelo Envelhecimento

Digno e Saudável” celebrado entre os poderes Executivo, Legislativo, Judiciário, Ministério

Público e o Conselho Nacional dos Direitos do Idoso (CNDI). O pacto prevê, na segunda cláusula:

[O] desenvolvimento de ações que garantam às pessoas idosas a preservação e o exercício de sua autonomia, cidadania e capacidade funcional, possibilitando-Ihes as condições de acesso ao desenvolvimento, por meio da efetivação de seus direitos, especialmente à previdência social, educação e cultura; à saúde e bem-estar; e à criação de entorno propício e favorável, por meio da eliminação de situações de violência e maus-tratos, financiamento de políticas setoriais e estímulo ao controle democrático, através de criação, implantação e funcionamento efetivo de conselhos de direitos da pessoa idosa. (BRASIL, 2008)

O governo do Estado do Maranhão assinou também em 3 de julho de 2008 o “Pacto

de Gestão pelo Envelhecimento Digno e Saudável”, que representa o compromisso de criar

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Nesse contexto, ressalta-se o papel que o CNDI estabelece para a garantia dos direitos dos idosos. Como órgão

integrante da estrutura regimental da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República – SDH/PR”, o CNDI tem por objetivo “elaborar as diretrizes para a formulação e implementação da PNI, observadas as linhas de ação e as diretrizes, conforme dispõe o Estatuto do Idoso, bem como acompanhar e avaliar a sua execução. (CONSELHO NACIONAL DOS DIREITO DO IDOSO, [2012]).

De acordo com Mendonça (2006), além dos Conselhos, as Conferências Nacionais dos Direitos da Pessoa Idosa, que acontecem a cada três anos, são importantes no processo de avaliação da gestão das políticas públicas e para fazer recomendações. A I Conferência, deliberada pelo CNDI, foi realizada em Brasília, em 2006, e se constituiu em um espaço democrático de luta pelos direitos dos idosos.

1.2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

Nas pesquisas de Farr (2000), as representações sociais foram estudadas por vários teóricos, após a Segunda Guerra Mundial. Esses teóricos diferenciavam dois níveis de fenômenos: os individuais e os coletivos. A ideia principal defendida era de que as leis que explicam os fenômenos individuais não são as mesmas que explicam os fenômenos coletivos. Entre esses teóricos, o autor destaca Durkheim, que fez uma distinção entre as representações individuais, que estariam no domínio da psicologia, e as representações coletivas, que se situariam no domínio da sociologia. Portanto, as representações coletivas não poderiam ser reduzidas a representações individuais, pois são explicadas por leis diferentes Por exemplo, um indivíduo não pode inventar uma língua, ou uma religião, são fenômenos produzidos coletivamente, por interações entre os indivíduos (FARR, 2000).

Dessa maneira, Durkheim define assim as representações coletivas:

[...] o que as representações coletivas traduzem é a maneira como o grupo se pensa nas relações com os objetos que o afetam. Ora, o grupo é constituído de modo distinto do indivíduo, e as coisas que o afetam são de outra natureza. Para compreender como a sociedade se representa a si própria e o mundo que a rodeia, é a natureza da sociedade, e não a dos particulares, que devemos considerar. Os símbolos com que ela se pensa mudam de acordo com o que ela é (DURKHEIM, 2004, p. 21).

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categorias ligam-se a fatos sociais que podem ser observados e interpretados. Portanto, representações coletivas não são conscientes, do ponto de vista individual. Elas têm certa autonomia para circular na sociedade e algumas, mais que outras, exercem nos seres humanos uma pressão coercitiva sobre os indivíduos, forçando-os a agir de determinado modo, o que conservaria a sociedade como um todo (MINAYO, 2000).

Vale esclarecer que o conceito de fato social, para Durkheim, não é apenas “[...] um

pensamento comum a todas as consciências particulares”, ou “um movimento repetido por

todos os indivíduos.” O que constitui um fato social para o autor são “as crenças, as

tendências, práticas dos grupos tomadas coletivamente.” Ou seja, não está na sociedade porque está nas consciências individuais e, sim, ao contrário, está nas consciências individuais porque está na sociedade. Dessa maneira, os fatos sociais tomam outra forma muito distinta dos fatos individuais (DURKHEIM, 2004, p. 35).

O sociólogo francês Bourdieu, quando discute a ideia de região, trabalha com o conceito de representações sociais, a partir das lutas entre as representações, dizendo:

Só se pode compreender esta forma particular de luta das classificações, que é a luta pela definição da identidade ‘regional’ ou ‘ética’, com a condição de se passar para além da oposição que a ciência deve primeiro operar, para romper com as pré-noções da sociologia espontânea, entre a representação e a realidade, e com a condição de se incluir no real a representação do real ou, mais exactamente, a luta das representações, no sentido de imagens mentais e também de manifestações sociais destinadas a manipular as imagens mentais (BOURDIEU, 2000, p. 113)

No campo das ciências sociais, Minayo (2000) afirma que as representações sociais são abordadas de maneira diferenciada por três correntes: a primeira corrente, a sociologia compreensiva, cujo representante é Max Weber, concebe as representações sociais como ideias, concepções, mentalidade e também como visão de mundo. Para Weber, o comportamento cotidiano dos seres humanos é impregnado por um significado cultural aceito pela base material e pelas ideias, merecendo ser investigado (MINAYO, 2000).

Na segunda corrente, a fenomenologia, que é representada por Alfred Schütz, o senso comum aparece para designar as representações sociais no cotidiano. Para o filósofo e

sociólogo, o senso comum abrange, assim como a ciência, um conjunto de “[...] abstrações,

formalizações e generalizações.” Desta forma, a vida cotidiana é impregnada de significados selecionados por meio de construções mentais, de representações do ‘senso comum’

(MIINAYO, 2000).

(37)

representações sociais são conteúdos da consciência determinada pela base material e manifesta no cotidiano. As representações sociais têm núcleos positivos de transformação e núcleos de resistência na maneira de conceber a realidade; são expressões das contradições e dos conflitos presentes no cotidiano em que são engendradas (MINAYO, 2000).

De acordo com Minayo (2000), as representações sociais são manifestadas em palavras, sentimentos e conduta, que são mediados pela linguagem compreendida como forma de conhecimento e interação social. A autora destaca que as representações sociais constituem categorias de pensamento que expressam a realidade, explicando-a, justificando-a ou questionando-a. Então, ao mesmo tempo em que as representações sociais podem reproduzir conceitos e atitudes, podem também construir novos conceitos e novas atitudes.

No entanto, apesar de o conceito de representações sociais conter uma variação de significados e ser discutido por diversos autores, neste trabalho recorre-se à Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici, a fim de identificar as representações sociais do longevo, enquanto uma categoria social e cultural heterogênea.

Porém, nos estudos de Pedra (1997), é apontado que é mais fácil identificar as representações sociais que circulam no cotidiano do que defini-las. E afirma que o próprio Moscovici alertou, na introdução de sua obra, que não era nada fácil captar o conceito sobre representações sociais.

Segundo Pedra (1997, p. 19), embora essa dificuldade não tenha sido empecilho para as pesquisas sobre representações sociais, ele aponta duas razões pelas quais essa captura torna-se difícil: a primeira está na “hibridez do conceito”, que inclui noções de origem psicológica, como, por exemplo, as imagens e o pensamento, e de origem sociológica, como as concepções de cultura e ideologia. A segunda razão refere-se à realidade para a qual o conceito aponta, que não é uma realidade qualquer. É um tipo de realidade social que tece um

conjunto de elementos de diferentes naturezas, como os “processos cognitivos, inserções

sociais, fatores afetivos, sistema de valores” e outros.

1.2.1 Teoria das Representações Sociais de Moscovici

(38)

Moscovici está classificada como uma forma sociológica de psicologia social. Moscovici ainda modernizou o conceito de representações, substituindo a concepção de

‘coletivo’, estática, mais ligada à cultura e à noção de teoria, pela concepção dinâmica, fluida

de ‘social’, ligada à noção de ‘redes’ de ideias, imagens, mais adequada ao mundo moderno,

mundo este caracterizado pelos novos meios e formas de comunicação de massa, gerando novas possibilidades de circulação de ideias.

Estas ideias podem influenciar socialmente a criação de uma forma específica de representação, que reivindica sua própria legitimação. Uma vez legitimadas, as ideias não-familiares passam a ser não-familiares e engendram comportamentos e ações dos indivíduos em

sociedade (MOSCOVICI, 2009). Nas palavras do autor, “[...] a dinâmica das relações é uma

dinâmica da familiarização, onde os objetos, pessoas e acontecimentos são percebidos e compreendidos em relação a prévios encontros e paradigmas.” (MOSCOVICI, 2009, p. 55). Por isso, para Moscovici (2009), interessa explorar a variação e a diversidade das ideias coletivas, o que reflete justamente a heterogeneidade nas sociedades modernas, gerando uma heterogeneidade de representações.

Na visão de Moscovici (2009, p. 46), as representações sociais devem ser vistas como fenômenos específicos, “uma maneira particular de compreender e comunicar” o que já

se sabe. Então, não se podem separar as representações da comunicação. O autor considera, dessa forma, as representações sociais como estruturas dinâmicas que agem e criam um conjunto de interações e de comportamentos que tenham um significado. Dependendo do contexto social em que estão inseridas, essas representações também podem desaparecer e, com elas, todos os comportamentos até então aceitos pelo senso comum. Para ele, as ideias, as representações são sempre filtradas através do discurso de outros, das experiências vividas, das coletividades a que se pertence (MOSCOVICI, 2009).

Moscovici (2009) destaca que as representações sociais têm duas funções: a primeira, fazer com que os objetos, pessoas ou acontecimentos sejam convencionados. As representações sociais dão forma aos objetos (coisas ou pessoas), colocando-os em uma categoria e em um modelo determinado que seja compartilhado por um grupo de pessoas. Mesmo quando um novo objeto não é adequado a determinado modelo, é forçado a entrar em uma categoria sob pena de não ser compreendido. Mas “[...] nenhuma mente está livre dos efeitos de condicionamentos anteriores que lhe são impostos por suas representações, linguagem ou cultura.” (MOSCOVICI, 2009, p. 35)

A segunda função é que as representações sociais são ‘prescritivas’, isto é, elas

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que está presente, antes mesmo que os indivíduos comecem a pensar, além de uma tradição que decreta o que deve ser pensado. Segundo o autor, isto pode ser observado “nos gestos”, “na afeição”, “nas histórias em quadrinho”, “nos textos escolares”, “nas conversas com os colegas de aula” (MOSCOVICI, 2009, p. 36).

Para explicar como as representações são geradas, Moscovici (2009, p. 61) destaca dois processos sociocognitivos, relacionados entre si: o primeiro é a ‘ancoragem’ e o segundo, a ‘objetivação’. No primeiro processo, o autor explica que ancorar “é classificar e dar nome” a

algo, coisa ou pessoa. As coisas que não têm nome são, ao mesmo tempo, estranhas e ameaçadoras. Dar nome, segundo Moscovici, resulta em três consequências: 1) quando o indivíduo nomeia algo, coisa ou pessoa, este algo adquire certas características e tendências; 2) de posse do nome e por meio das características que lhe são atribuídas, a pessoa ou coisa torna-se diferente das demais; e 3) esse algo se torna objeto de uma ‘convenção’ compartilhada entre os que a adotam e a partilham.

Portanto, dar nome não é apenas uma operação mental, mas está relacionado com as atitudes dos indivíduos em sociedade, pois, quando o indivíduo dá nome a algo, ele inclui esta coisa ou pessoa em uma matriz de identidade de sua cultura, que lhe é familiar, passando a agir dentro desse contexto.

Assim, duas consequências são trazidas pela Teoria das Representações: a primeira é a exclusão de uma ideia ou pensamento que não tenha passado pelo processo da ‘ancoragem’; e a segunda é que, ao classificar e dar nome, os indivíduos não estão simplesmente rotulando e, sim, facilitando o processo de interpretação e formando opiniões que serão a base das suas atitudes cotidianas (MOSCOVICI, 2009).

Em relação à ‘objetivação’, considerado o segundo processo sociocognitivo para explicar como as representações são geradas, o indivíduo transforma o que é abstrato em algo quase concreto, ou seja, transfere o que está na sua mente para o mundo físico. Dessa forma,

“objetivar é reproduzir um conceito em uma imagem.” Para o autor, “a materialização de uma

abstração é uma das características mais misteriosas do pensamento e da fala” (MOSCOVICI,

2009, p. 71).

De acordo com Moscovici (2009), as imagens se misturam com elementos diversos que reproduzem, no plano visual, um complexo de ideias. A este movimento o autor

denomina de ‘núcleo figurativo’ ou paradigma que, uma vez aceito pela sociedade, permite

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Tabela 2 – História: coleções e número de livros selecionados, anos de escolaridade e número de professores que  utilizam os livros
Figura 1 – Livro D1, p. 187.
Figura 2 - Livro D3,  p. 102.
Figura 3 – Livro A1, p. 160 Fonte: pesquisa documental, 2011.
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Referências

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