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Palavras-chave: Ser biológico. Ser social. Trabalho, educação e sociabilidade.

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178 A FORMAÇÃO HUMANA À LUZ DA TEORIA DE LEONTIEV

Luciano Accioly Lemos Moreira

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Resumo

Propomo-nos, neste artigo, realizar uma reflexão à luz da obra de Leontiev, sobre o processo histórico e ontológico da formação do homem como ser social. Demonstraremos, também, a função do processo educativo na conservação e transmissão da cultura humana para os indivíduos. Sendo assim, buscaremos explicitar que a qualidade da formação humana está determinada pela forma e qualidade das relações sociais na produção e reprodução do mundo dos homens.

Palavras-chave: Ser biológico. Ser social. Trabalho, educação e sociabilidade.

La formación humana de acuerdo con la teoria de Leontiev

Resumen

El artículo se propone a buscar una aclaración en la obra de Leontiev acerca del proceso histórico y ontológico de la formación del hombre como un ser social. Demostra, también, la función del proceso educativo en la conservación y transmision de la cultura humana para los individuos. Siendo así, conclui que la calidad de la formación humana, está determinada por la manera y la calidad de las relaciones sociales de producción y reproducción del mundo de los hombres.

Palabras clave: Ser biológico. Ser social. Trabajo, educación y sociabilidad.

Introdução

"El hombre es una parte de la naturaleza" (Marx apud Màrkus, 1974, p.9). Esta afirmação realizada por Marx em 1844 nos remete à compreensão

      

1 Mestre em Educação e Doutorando da Universidade Federal de Alagoas – UFAL. Professora da UFAL – Campus de Arapiraca. E-mail: luciano.almoreira@gmail.com.

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179 do homem como parte da natureza, ou seja, o ser humano tem no curso de sua formação ontogenética, um momento de construção do seu corpo e órgãos.

Processo que se desenvolverá por milhares de anos, num decurso em que essa espécie, na luta por sua sobrevivência, vai se configurando num ser filogeneticamente apto para constituir-se em ser social.

A formação biológica do ser humano, a caminho da edificação do ser social, se fez por um percurso lento e contraditório. Para a finalidade de nossa análise, nos deteremos, de forma breve, nas elucidações teóricas de Marx, bem como nos pressupostos marxistas presentes em Màrkus e, principalmente, em Leontiev. Por meio desses autores, intentaremos apreender a evolução desse ser, e consequentemente, as transformações físicas, biológicas e sociais que se operaram na vida dos homens pelo trabalho. No momento em que sua existência começa a construir-se por intermédio de sua atividade, funda-se um mundo material e espiritual radicalmente novo, ou seja, com o trabalho, o homem imprime sobre as leis cegas da natureza sua marca, com a finalidade da resolução de suas carências naturais e sociais. Leontiev (1978, p. 262) demonstra que a

[...] hominização resultou da passagem à vida numa sociedade organizada na base do trabalho; que esta passagem modificou a sua natureza e marcou o início de um desenvolvimento que, diferentemente do desenvolvimento dos animais, estava e está submetido não as leis biológicas, mas a leis sócio-históricas.

Sabendo-se que a hominização do homem tem sua protoforma na

dinâmica social instaurada pelo trabalho, tentaremos, primeiramente,

compreender, a "preparação biológica do homem" (LEONTIEV, 1978, p.262), a

qual serviu de base para que o salto do ser restrito às leis naturais passasse à

configuração de um ser que se auto-constrói ativamente. E por fim,

demonstraremos o papel que a educação detém no processo de formação

humano-social dos indivíduos.

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180 O processo histórico e ontológico da passagem do ser biológico ao ser social

O caminhar do desenvolvimento da espécie humana tem início a milhões de anos atrás, transcorrido através de um processo bem mais longo que o período do homem “civilizado” aos dias atuais. O primeiro estágio, segundo Leontiev (1978), no aperfeiçoamento biológico do homem primitivo ao ser social, é representado pelos australopitecos, que conforme o autor:

[...] eram animais que levavam uma vida gregária; conheciam a posição vertical e serviam-se de utensílios rudimentares, não trabalhados; é verossímil que possuíssem meios extremamente primitivos para comunicar entre si. (LEONTIEV, 1978, p.262).

O ser, nesse estágio de desenvolvimento filogenético, era regido especificamente por leis biológicas, e com isso, sua vida se dava por transformações transmitidas pelas forças da hereditariedade. O corpo e suas funções inacabadas limitavam-se à manutenção de sua vida animalesca. No segundo momento, entre o aparecimento do pitecantropo e do homem de Neanderthal, surgem transformações qualitativamente superiores ao australopitecos, formas embrionárias de humanidade surgem nesse ser em desenvolvimento. Mais uma vez, Leontiev (1978, p.262) demonstra esse transcurso histórico do homem, já que esse "estádio é marcado pelo início da fabricação de instrumentos e pelas formas, ainda embrionárias, de trabalho e de sociedade".

Contudo, a formação do ser estava ainda submetida, neste estágio, às

leis biológicas. Continuava-se nesse período, um processo necessário de

transformação na anatomia humana, o corpo desse ser ainda não se

encontrava totalmente formado, ou melhor, habilitado ao surgimento do ser

social. De qualquer forma, mesmo o biológico não se encontrando totalmente

amadurecido, as modificações anatômicas por menores que sejam provocadas

no cérebro, em seus sentidos, nos seus membros e em sua linguagem, se

operam nesse período, por influência de uma força distinta da biológica, as leis

sociais inseridas pelo trabalho ainda rudimentar e as relações sociais criadas

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181 por essa atividade, que começam a engendrar novas necessidades, requerendo para a sua satisfação outras habilidades e aptidões. O mundo não só natural, mas também social, desperta, nesse ser, possibilidades aos seus órgãos e sentidos antes inimagináveis. A formação humana, nesse instante,

”tornava-se dependente do desenvolvimento da produção" (LEONTIEV, 1978, p.262). A produção, fruto da atividade humana e de sua organização social, coloca em movimento, sobre os homens/indivíduos, leis regidas não apenas por força da natureza, mas também por força e fruto dos atos historicamente situados dos seres sociais.

Como resultante do fato acima descrito, a realidade objetiva e subjetiva do homem se complexifica, surgindo novos instrumentos, habilidades, conhecimentos e necessidades inerentes ao curso histórico e social desse ser em constante transformação. Elucidando esse movimento da formação humana, Leontiev (1978, p.263) explica:

Assim se desenvolvia o homem, tornado sujeito do processo social de trabalho, sob a acção de duas espécies de leis: em primeiro lugar as leis biológicas, em virtude das quais os seus órgãos se adaptaram às condições e às necessidades da produção; em segundo lugar, às leis sócio-históricas que regiam o desenvolvimento da própria produção e os fenômenos que ela engendra.

Enquanto a formação biológica do homem não atingia seu completo desenvolvimento, a construção do ser social, por intermédio de sua vida ativa, era compelida por limites morfológicos, e assim, o desenvolvimento do corpo humano precisou passar por um terceiro estágio,

[...] onde o papel respectivo do biológico e do social na natureza do homem sofreu nova mudança. É o estádio, do aparecimento do tipo do homem actual - Homo sapiens2. Ele constitui a etapa essencial, a       

2 Queremos fazer uma ressalva a partir dos novos achados arqueológicos da atualidade.

Possivelmente, o complexo do trabalho se instalou e operou um salto ontológico não apenas sobre a espécie Homo Sapiens. Recentemente, pesquisas no campo da arqueologia expuseram um novo e revolucionário achado, o denominado Floresiensis, encontrado na Ilha das Flores – Indonésia- têm aproximadamente 800.000 anos e construiu ferramentas sofisticadas, linguagem e etc. Sendo confirmada as informações, teremos uma outra espécie (diferentemente da nossa Homo Sapiens), que ao trabalhar desenvolveu de modo análogo a espécie humana transformações na natureza externa e interna desse ser, mas que por algum motivo, foi extinta.

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viragem. É o momento com efeito em que a evolução do homem se liberta totalmente da sua dependência inicial para com as mudanças biológicas inevitavelmente lentas, que se transmitem por hereditariedade. Apenas as leis socio-históricas regerão doravante a evolução do homem. (LEONTIEV, 1978, p.263 – grifo do autor).

Por meio do trabalho, os homens se libertam dos entraves biológicos, dando início a um processo de formação potencialmente ilimitado em seus aspectos intelectuais e materiais. As leis da hereditariedade não mais determinarão o progresso da humanidade, o desenvolvimento ou os entraves na autoconstrução do homem serão advindos do próprio processo de construção de vida material e espiritual desses homens. Leontiev (1978, p.264) alerta que:

Não queremos com isto dizer que a passagem ao homem pôs fim à acção das leis da variação e da hereditariedade ou que a natureza do homem, uma vez constituída, não tenha sofrido qualquer mudança. O homem não está evidentemente subtraído ao campo da acção das leis biológicas. O que é verdade é que as modificações biológicas hereditárias não determinam o desenvolvimento socio-histórico do homem e da humanidade; este é doravante movido por outras forças que não leis da variação e da hereditariedade biológicas.

Observamos, assim, que a história social da humanidade tem seu início, quando as mudanças essenciais do ser biológico se encontram prontas. Esse salto ao ser social, por meio de sua atividade, o trabalho, configura-se em uma relação do homem com a natureza, com o objetivo de modificá-la e adaptá-la às necessidades sócio-históricas desse ser. No entanto, encontrar-se não mais restrito às leis naturais não torna o homem independente da natureza, pois, como nos lembra Marx, na Ideologia Alemã (2002), o primeiro pressuposto da história humana é manter-se vivo, e para isso é necessário que o seu corpo biológico seja preservado. Dito por outras palavras, a relação do homem com a natureza, mediada pelo trabalho, se constitui numa condição necessária e ineliminável em qualquer forma de sociabilidade. Lessa (2007, p.132), seguindo teoricamente este mesmo assunto, afirma que:

Toda sociedade tem sua existência hipotecada à existência da natureza – o que varia historicamente é a modalidade de organização dos homens para transformarem a natureza: variam, ao longo da

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história, os objetos produzidos a partir de elementos naturais, bem como os meios empregados nessa transformação; mas permanece o fato de que a reprodução da sociedade depende da existência da natureza.

A radical diferença entre o ser humano e os outros animais é que os homens, através do trabalho, produzem seus meios de existência e, por esse meio, seu mundo material e intelectual. O homem, ao trabalhar, fixa sua marca no mundo por meio de sua atividade. Nesse momento surge, ao seu redor, objetos materiais radicalmente novos, conhecimentos da natureza que antes dessa atividade eram desconhecidos. Habilidades e funções humanas são encarnadas em seus instrumentos e apreendidas por outros indivíduos para a continuidade do seu uso socialmente necessário.

Assim, o momento fundante do ser social se expressa pelo e no trabalho, e é por intermédio dessa atividade, que outras esferas sociais surgem e se desenvolvem. A cultura, desse ser, que, através do trabalho, se tornou cada vez mais complexo, permite o surgimento da ciência, da arte, de uma linguagem a cada momento mais diversa e simbólica, da educação e de outras categorias sociais, que irão participar, de acordo com sua especificidade, na reprodução da vida desse ser histórico.

A formação do homem, a partir dessa vida ativa e constantemente modificada, se dá pela apropriação desse mundo material e espiritual produzido por seus semelhantes. Suas aptidões, habilidades, conhecimentos, linguagens e desenvolvimento estético dependem da participação e compreensão desse indivíduo com a universalidade produzida pelo gênero humano. A construção do ser social tem uma relação íntima com o modo em que os homens se relacionam na sua atividade, pois sua formação se dá pela qualidade das relações desses indivíduos com sua humanidade. Leontiev (1978, p.265) explica esse processo ao afirmar que:

[...] cada geração começa, portanto, a sua vida num mundo de objectos e de fenômenos criado pelas gerações precedentes. Ela apropria-se das riquezas deste mundo participando no trabalho, na produção e nas diversas formas de actividade social e desenvolvendo assim as aptidões especificamente humanas que se cristalizaram, encarnaram nesse mundo. [...] O saber de uma geração formam-se a

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partir da apropriação dos resultados da atividade cognitiva das gerações precedentes.

Com a formação biológica desenvolvida

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, a riqueza do processo de autoconstrução do homem para o desenvolvimento de suas faculdades essencialmente humanas não se dá nesse momento por intermédio da hereditariedade, ou seja, o homem não nasce homem, mas através de suas relações sociais concretas se torna humano. "O que a natureza lhe dá quando nasce não lhe basta para viver em sociedade. É-lhe ainda preciso adquirir o que foi alcançado no decurso do desenvolvimento histórico da sociedade humana" (LEONTIEV, 1978, p.267). Um outro autor que exemplifica esse processo de maneira sintética é Duarte (1993, p.42):

O processo de apropriação é aquele no qual o indivíduo se apropria das características do gênero e não da espécie. As características do gênero humano resultam de um processo histórico de objetivação e não são transmitidas biologicamente aos membros do gênero humano, razão pela qual eles têm que delas se apropriar. Já as características da espécie humana são transmitidas aos seres humanos através do mecanismo biológico da hereditariedade.

O desenvolvimento do indivíduo em sua totalidade corporal, sentimental e intelectiva se dá através das relações sociais e históricas que eles têm uns com os outros. Marx (apud Leontiev, 1978, p.267-268) reforça tal proposição, pois:

O mundo, a visão, a audição, o olfacto, os gosto, o tacto, o pensamento, a contemplação, o sentimento, a vontade, a actividade, o amor, em resumo, todos os órgãos da sua individualidade que, na sua forma, são imediatamente órgãos sociais, são no seu comportamento objectivo ou na sua relação com o objecto a apropriação deste, a apropriação da realidade humana.

      

3 Desenvolvida não quer dizer, nesse momento, a paralisação das mudanças biológicas do homem perante a história, nem tampouco, a não influência das questões biológicas e hereditárias na vida humana, mas o que se afirma nesse momento é que o desenvolvimento ou os entraves na autoconstrução humana não são determinados pelas leis da biologia e da hereditariedade, mas pela maneira em que os homens produzem e reproduzem suas vidas num dado momento histórico. “No desenvolvimento do mundo inorgânico surgiu a vida, no desenvolvimento da vida surgiu o mundo dos homens. O mundo dos homens não pode existir se os homens não se reproduzirem biologicamente, mas a sociedade humana é para além da sobrevivência biológica. Na história dos homens, o efeito do desenvolvimento social sobre o biológico é determinante” (LESSA, 2003, p.11 mímeo).

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185 Leontiev (1978, p.268) completa, afirmando que:

[...] a experiência socio-histórica da humanidade se acumula sob a forma de fenômeno do mundo exterior objectivo. Este mundo, o da indústria, das ciências e da arte, é a expressão da história verdadeira da natureza; é o saldo da sua transformação histórica.

O mundo dos homens, a cada instante mais desenvolvido socialmente, deve ser apreendido pelos indivíduos por um processo de apropriação e assimilação dos sentidos, conhecimentos, movimentos e habilidades existentes em todas as expressões artísticas, lingüísticas, instrumentais. Enfim, os significados do seu mundo não é algo apenas subjetivamente adquirido e transformado, é uma construção proveniente da sua atividade vital realizada pelos indivíduos com a natureza e com a sociedade. Màrkus (1974, p.27) esclarece esta problemática:

[...] el individuo no es individuo humano más que en la medida en que se apropria de las capacidades, las formas de conducta, las ideias, etc., originadas y producidas por los individuos que le han precedido o que coexisten com él, y las asimila (más o menos universalmente) a su vida y a su actividad. Así, pues, el individuo humano concreto como tal es un producto en sí mismo histórico-social.

Desse modo, entendemos que o indivíduo, para construir-se em sua totalidade, deve apoderar-se do que o gênero humano criou até o momento, realizando ao mesmo tempo, nesse movimento de assimilação, transformações ininterruptas através da sua atividade social, econômica e histórica. O processo de hominização dos indivíduos ocorre através das relações dos mesmos, com a totalidade das manifestações culturais da humanidade. A educação, complexo social que se encontra e age por meio da teleologia secundária, tem como fim: conservar e transmitir as novas gerações o legado cultural decantado pela humanidade. A educação terá um papel fundamental na formação do individuo. Màrkus (1974, p.30) elucida a interdependência do desenvolvimento desse ser com o seu gênero, já que

[...] el desarrollo de un individuo está condicionado por el desarrollo de todos los demás com los que se encuentra en relación directa o indirecta, y que las distintas generaciones de individuos que entran en

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relacíon unas com otras tienen una determinada conexión entre ellas, que los individuos posteriores están condicionados en su existencia física por sus predecesores, assumen las fuerzas productivas y las formas de tráfico acumuladas por éstos y quedan así determinados en sus propias relaciones recíprocas. En resolución, queda claro que ocurre una evolución y que la historia de un individuo singular no se puede en modo alguno arrancar de la historia de los individuos precedentes y coetáneos, sino que está determinada por ésta.

O desenvolvimento alcançado pela universalidade das relações sociais da humanidade deve ser encontrado em todos os indivíduos. O encontro entre a riqueza do gênero com a riqueza das individualidades está condicionado à forma pela qual os homens se relacionam e produzem suas vidas em um dado momento histórico. E a educação terá como possibilidade e limite na/e para a formação humana, a forma e a qualidade das relações sociais, econômicas e culturais de cada momento histórico.

Conclusão

Assim, vimos que, em Leontiev, o processo de formação humana dos indivíduos se dá de modo ontologicamente e historicamente determinada, ou seja, a qualidade da formação dos indivíduos está intimamente relacionada à qualidade das relações de produção desses mesmos indivíduos no processo do trabalho. O tipo de homem culturalmente constituído historicamente refletirá a qualidade das relações dos indivíduos com o gênero humano no processo de autoconstrução do ser social.

Os indivíduos, como integrantes da espécie humana, apresentam

características biológicas comuns, e sua transmissão se dá por meio da

hereditariedade genética. Todavia, "o seu pertencimento ao gênero humano

não lhes é dado por herança genética, mas por um processo histórico-social,

ou seja, pela incorporação das objetivações que constituem o patrimônio deste

gênero” (TONET, 2001, p.138). A educação detém um papel de fundamental

importância nessa formação do ser dos homens. Em um exemplo demonstrado

por Leontiev (1978, p.272-273), percebe-se a função mediadora da educação

com as outras esferas sociais, e sua especificidade na reprodução do ser

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187 social, através do processo de apropriação e transmissão da cultura do gênero humano aos indivíduos:

Se nosso planeta fosse vítima de uma catástrofe que só pouparia as crianças mais pequenas e na qual pereceria toda a população adulta, isso não significaria o fim do gênero humano, mas a história seria inevitavelmente interrompida. Os tesouros da cultura continuariam a existir fisicamente, mas não existiria ninguém capaz de revelar às novas gerações o seu uso. As máquinas deixariam de funcionar, os livros ficariam sem leitores, as obras de arte perderiam a sua função estética. A história da humanidade teria que recomeçar. O movimento da história só é, portanto possível com a transmissão, às novas gerações, das aquisições da cultura humana, isto é, com educação.

O sentido do mundo humano não se encontra na carga genética da espécie humana, o sentido da arte, das palavras, das máquinas, enfim, da mundanidade, é resultado da cultura humano-social, que deve ser preservada e transmitida a todos os indivíduos. Lessa (2007, p.134) explica, sob o mesmo lastro de Leontiev, que:

Como o homem não criou a natureza pode transformá-la porém, jamais, aboli-la. Analogamente, como os homens criaram as relações sociais podem, além de transformá-las, aboli-las. Não podemos abolir a lei da gravidade, mas podemos destruir o feudalismo e colocar em seu lugar algo radicalmente novo, antes inexistente, como o capitalismo. Disto decorre que as formas sociais sejam extremamente plásticas em comparação com os limites naturais.

Se hoje presenciamos uma educação que não exerce plenamente esta função, devemos lutar por outro mundo, por outra base social que tenha em seu eixo fundamental produtivo entre os indivíduos a plena e livre organização dos homens no processo da autoconstrução humana. Recorrendo a uma equação simples, se na relação entre os indivíduos com o gênero encontra-se a chave para o enriquecimento cultural do ser social, é na riqueza da relação social entre os homens que se encontra a plena formação do homem.

Contrariamente, na sociedade capitalista em que a produção de riqueza é sua

lógica social, fim único e maior da sociedade do lucro, há o entesouramento do

capital em prol do empobrecimento do indivíduo humano.

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188 Bibliografia

DUARTE, N. A individualidade para-si. Contribuição a uma teoria histórico-social da formação do indivíduo. Campinas: Autores Associados, 1993.

LEONTIEV, Alexis. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa, Portugal:

Livros Horizonte, 1978.

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