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Processo

374891/09.4YIPRT.P1

Data do documento 3 de maio de 2011

Relator

M. Pinto Dos Santos

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DO PORTO | CÍVEL

Acórdão

DESCRITORES

Sentença oral > Disponibilidade da acta no citius > Prazo de recurso

SUMÁRIO

I - Nos casos em que a sentença seja proferida oralmente (ditada para a acta da audiência de julgamento), mas não fique imediatamente disponível (nem ela nem a respectiva acta) no Citius, deve a secção de processos, logo que tal disponibilidade aconteça, notificar as partes do seu teor, só começando a correr o prazo de interposição de recurso após essa notificação.

II - Isto porque o estabelecido no n° 3 do art. 685° do CPC só funciona quando a sentença (ou o despacho) oral tenha ficado imediatamente reproduzida na acta (ou no auto, tratando-se de despacho não proferido em julgamento) e esta tenha ficado imediatamente disponível às partes.

TEXTO INTEGRAL

Pc. 374891/09.4YIPRT.P1 – 2ª Secção (apelação)

___________________________________

Relator: Pinto dos Santos Adjuntos: Des. Ramos Lopes Des. Maria de Jesus Pereira

* * *

Acordam nesta secção cível do Tribunal da Relação do Porto:

I. Relatório:

B… instaurou contra C…, D…,Lda. e E…, todos devidamente sinalizados nos autos, a presente acção declarativa especial destinada a exigir o cumprimento de obrigação pecuniária (honorários) emergente de

(2)

contrato de mandato (patrocínio judiciário exercido em dois processos cíveis, que a requerente identifica) celebrado com os demandados [os autos iniciaram-se como processo de injunção tendo sido distribuídos como acção após a oposição deduzida pelos requeridos], pedindo a condenação solidária destes a pagarem-lhe a quantia de 7.405,10€, acrescida de juros de mora legais até integral e efectivo pagamento.

Os réus contestaram apenas por excepção, arguindo a excepção peremptória da prescrição presuntiva prevista na al. c) do art. 317º do CCiv. e pugnando pela sua absolvição do pedido.

Na sequência do «convite» feito no despacho de fls. 56B [onde a Mma. Juíza «a quo» exarou que “atento o princípio do contraditório ínsito no art. 3º nº 3 do CPC …, notifique a A. que dispõe de 10 dias para

«responder» à excepção de prescrição presuntiva invocada pelos RR.”], a autora resposta àquela excepção, defendendo a respectiva improcedência.

Seguindo os autos os seus termos, realizou-se a audiência de discussão e julgamento, no termo da qual, após produção da prova (que se traduziu na audição dos réus em depoimentos de parte), foi proferida sentença que julgou a acção improcedente, absolveu os réus do pedido e condenou a autora nas custas.

Inconformada com esta decisão, interpôs a autora o recurso de apelação em apreço [a que foi fixado efeito meramente devolutivo], cuja motivação culminou com as seguintes conclusões:

“Impugnação da decisão proferida sobre a matéria de facto.

1. Encontra-se incorrectamente julgado o concreto ponto da matéria de facto que corresponde à factualidade não provada, e que a sentença recorrida expressa julgando não provado que os réus não pagaram a quantia de sete mil quatrocentos e sete euros e três cêntimos constante da nota de honorários e despesas que a autora lhe(s) enviou.

2. Encontra-se provado, em resultado de confissão ou acordo decorrente da posição processual assumida pelas partes nos articulados e por consequência do disposto no art. 490º, nº 1 do CPC, que aos réus foi apresentada, a final, nota de despesas e honorários, que descriminava todos os actos praticados necessários à execução do mandato conferido por procuração e que tal nota apresentava um saldo a favor da autora de 7.407,03 euros, encontrando-se o valor relativo a despesas e honorários devidamente justificado, conforme resulta de tal nota (cfr. factos 3, 4 e 5 dos provados na sentença).

3. Para além disso, os réus alegaram que pagaram em numerário aquando da apresentação da nota de honorários e despesas os valores peticionados e que tal apresentação (e respectivo pagamento) ocorreu em 26/1/2004 (cfr. arts. 5º e 7º da contestação).

4. Em tais circunstâncias, o depoimento dos mesmos réus, C…, por si e como legal representante da ré D…, Lda., e da ré E…, gravados na audiência de discussão e julgamento realizado em 13 de Outubro de 2010 e que na acta respectiva se encontra(m) mencionado(s) sob a simples indicação de que tal(is) depoimento(s) ficou(aram) registado(s), sem qualquer outra indicação que permita melhor identificá-lo(s) (acima transcritos nas passagens pertinentes) no(s) qual(is), embora não confessando a dívida e continuando a afirmar que a pagaram, dizem contudo que não lhes foi apresentada qualquer nota de

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despesas e honorários, que não sabem nem nunca lhes foi comunicado o valor dos serviços prestados, não sabem nem nunca lhes foi dito que serviços ou processos estavam a pagar, que não sabem que destino foi dado ao dinheiro, e que o pagamento foi efectuado através de 25.000,00 euros em dinheiro levantado do banco em 16 de Abril de 2004 e entregue por volta do dia 25 de Abril de 2004, é comportamento processual incompatível com a presunção de pagamento que invocaram a seu favor e que, portanto, ilide tal presunção e constitui verdadeira confissão tácita.

5. Ilidida esta e sendo o pagamento facto extintivo, o ónus da sua prova compete ao devedor (art. 342º nº 2 do Código Civil).

6. Não tendo os réus feito tal prova do facto extintivo, é manifesto que os elementos que constam dos autos, acima referidos e os depoimentos de parte gravados impõem julgamento da matéria de facto que em relação ao concreto ponto do pagamento ou não pagamento da dívida considere e julgue como provado que os não pagaram a quantia de sete mil quatrocentos e sete euros e três cêntimos constante da nota de honorários e despesas que a autora lhe(s) enviou.

Violação de lei substantiva.

7. Os factos constitutivos do direito da autora encontram-se provados (cfr. factos 1 a 7 dos provados).

8. Os réus não provaram o facto extintivo por si invocado, assente na presunção de pagamento, dado o seu comportamento em sede de depoimento de parte configurar verdadeira confissão tácita, porque assente em factos contraditórios com os que se encontram provados e com os que os próprios réus invocaram como integradores de tal causa extintiva.

9. A decisão proferida violou o disposto nos artigos 342º, nº 2, 312º e 314º e ainda 762º, nº 1, 777º, nº 1, 798º, 799º, nº 1 e 804º, nºs 1 e 2 do Código Civil, devendo ser revogada e, face aos factos provados [resultantes quer da sentença, quer da modificação da decisão do tribunal da 1ª instância sobre a matéria de facto, decorrente do exercício pelo Tribunal da Relação dos poderes conferidos pelo artigo 712º, nº 1, al.

a) do CPC], ser substituída por outra que julgue a acção procedente e condene os réus no pedido.

Sem prescindir: nulidade da decisão.

10. Apesar de situar a nota de despesas e honorários em «inícios de 2004» (dessa forma suavizando a própria alegação dos réus que dizem peremptoriamente que tal ocorreu em 26 de Janeiro de 2004), a sentença dá como provado que tal nota foi apresentada apenas a final, depois de prestados os serviços que, por isso, nela se discriminam, serviços esses que consistem na prática de todos os actos necessários ao desempenho do mandato conferido por procuração junta aos autos nº 1226/04.3TVPRT da 1ª secção da 3ª Vara Cível do Porto e nº 4291/04.0TVPRT da 3ª secção da 6ª Vara Cível do Porto.

11. Tal contradição da sentença recorrida é geradora de nulidade processual (art. 668º, nº 1, al. c) do CPC) que expressamente argúi.

Justiça”.

Os réus contra-alegaram em defesa da sentença recorrida, pugnando pela sua confirmação e suscitaram duas questões prévias nos seguintes termos [transcrevem-se apenas as conclusões que versam sobre estas questões; as demais visam a confirmação da sentença recorrida]:

“1) A contagem para interposição de recurso faz-se, em regra, a partir da notificação da decisão (art. 685º,

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nº 1 CPC, in fine). Mas se não tiver de se fazer a notificação, o prazo corre desde o dia do conhecimento da decisão (art. 685º, nº 4 CPC).

2) O artigo 685º nº 3 do CPC refere ainda o caso particular de a decisão recorrida se conter em despacho ou sentença oral, reproduzido no processo; nesse caso, diz-se que estando a parte presente, ou tendo sido notificada para assistir ao acto em que a decisão se produziu, o prazo corre desde o dia desse proferimento.

3) A douta sentença recorrida foi proferida oralmente em 13/10/2010, tendo a Juiz a quo consignado em acta “que o prazo para interposição de recurso desta sentença apenas se inicia quando a presente acta se encontrar disponível no citius”.

Refere ainda:

“Notifiquei os presentes, os quais disseram ficar cientes.”

4) Ora, a sentença recorrida ficou disponível no citius no próprio dia em que foi proferida, ou seja, 13/10/2010.

5) Pelo que, o prazo a observar para a interposição de recurso contaria a partir da data em que a sentença ficou disponível no citius e não da data de notificação electrónica ao mandatário, que no caso presente não deveria ter sido observada pela recorrente para efeitos de cômputo de prazo recursório, mas sim o prazo indicado pela Juiz a quo na decisão. Tinha a mesma o prazo de 40 dias, cujo términus se verificava a 24 de Novembro de 2010.

6) Uma vez que na sentença recorrida foi designada data para início da contagem do prazo de recurso, ficam esvaziados de conteúdo os normativos dos artigos 254º do CPC e da Portaria nº 1538/2008.

7) Ora, a recorrente interpôs o seu requerimento de recurso a 30 de Novembro de 2010, logo intempestivamente.

8) Nos termos do artigo 145º do CPC, trata-se de um prazo peremptório, cujo decurso extingue o direito de praticar o acto. Não se podendo sequer considerar que foi praticado dentro dos três primeiros dias úteis posteriores ao termo do prazo.

9) Deverá então o requerimento de interposição de recurso ser alvo de indeferimento, nos termos do artigo 685º-C nº 2, por ter expirado o prazo fixado na lei para a sua interposição.

(…)

19) Os documentos juntos pela recorrente não se enquadram em nenhuma das situações previstas no referido artigo, pois à data do encerramento da discussão em 1ª instância já existiam, a recorrente já tinha conhecimento da sua existência, teve possibilidade de fazer uso dos mesmos e não fez e também não se vislumbra que se tenha tornado necessária a sua junção em virtude do julgamento proferido em 1ª instância, pelo que devem ser desentranhados do processo e restituídos à recorrente.

(…)”.

A apelante pronunciou-se acerca da invocada extemporaneidade do seu recurso pugnando pelo desatendimento de tal questão prévia suscitada pelos apelados.

* * *

(5)

II. Questões a apreciar e decidir:

Em atenção ao disposto nos arts. 684º nºs 2 e 3 e 685º-A nºs 1 a 3 do CPC, na redacção aqui aplicável, introduzida pelo DL 303/2007, de 24/08 (face à data da propositura da acção e ao disposto nos arts. 11º nº 1 e 12º nº 1 de tal DL), as questões a apreciar e decidir (suscitadas nas conclusões das alegações e das contra-alegações) traduzem-se em saber:

1. Se o recurso é extemporâneo;

2. Se são de admitir/manter nos autos os documentos que a apelante juntou com as alegações do recurso;

3. Se os réus confessaram tacitamente a dívida peticionada pela autora, ora apelante;

4. Se é de revogar a solução jurídica decretada na decisão recorrida (em função da resposta que vier a ser dada à questão nº 3);

5. Se a decisão recorrida padece da nulidade que a apelante lhe aponta.

* * *

III. Factos provados e não provados:

1. Na sentença recorrida foram dados como provados os seguintes factos:

1) Os requeridos constituíram mandatários os advogados sócios da requerente, F… e G… para, além do mais, os patrocinarem em procedimento cautelar, no qual eram também requeridos, e na consequente acção ordinária na qual eram réus.

2) Correu o primeiro termos pela 1ª Secção da 3ª Vara Cível do Porto, sob o nº 1226/04.3TVPRT e a segunda pela 3ª Secção da 6ª Vara Cível do Porto, com o nº 4291/04.0TVPRT.

3) O patrocínio da requerida foi solicitado à requerente pela segunda e pelo terceiro requeridos e aceite pela primeira requerida que, por isso, conferiu o referido mandato por procuração junta aos mesmos autos.

4) No desempenho desse mandato, foram praticados todos os actos necessários à sua execução, conforme nota de despesas e honorários que a final foi apresentada.

5) Tal nota de despesas e honorários apresentava um saldo a favor da requerente no valor de 7.407,03€, encontrando-se o valor relativo a despesas e honorários devidamente justificado, conforme resultava de tal nota.

6) Porque entretanto a taxa do IVA passou a ser de 20%, tal saldo é, em consequência, de 7.354,10€.

7) A requerente, por carta registada, interpelou os requeridos para efectuarem tal pagamento.

*

*

2. … E foi dado como não provado que:

- Os réus não pagaram a quantia de 7.407,03€, constante da nota de honorários e despesas que a autora lhes enviou.

* * *

(6)

IV. Apreciação das questões indicadas em II:

1. Se o recurso é extemporâneo.

1.1. Como dissemos em I, os réus, ora apelados, colocam duas questões prévias nas suas contra- alegações: a tempestividade do recurso interposto pela autora e a admissibilidade da junção dos documentos por esta apresentados com as alegações. Neste item apreciaremos a primeira destas questões prévias.

Os apelados defendem a extemporaneidade do recurso por entenderem que o respectivo prazo de interposição se iniciou no dia seguinte àquele em que a sentença recorrida, proferida oralmente para a acta, ficou disponível (com a acta) no «Citius» (13/10/2010) e que, por via disso, a autora (e eles próprios) não devia(m) ter sido notificada(os) daquela depois de ela ter ficado disponível no referido sistema informático.

A autora, ora apelante, contrapõe a tempestividade do recurso.

Para solução desta questão há que ter presente o seguinte circunstancialismo que decorre dos autos:

● A sentença recorrida foi proferida oralmente para a acta da audiência de discussão e julgamento.

● Esta audiência teve lugar a 13/10/2010.

● A acta e aquela sentença não ficaram logo disponíveis no Citius.

● Por isso, a Sra. Juíza que presidiu ao julgamento fez exarar na parte final daquela acta que «o prazo para interposição de recurso desta sentença apenas se inicia quando a presente acta se encontrar disponível no Citius» [este e os factos anteriores decorrem da acta de julgamento junta a fls. 151-158].

● As ditas acta e sentença ficaram disponíveis no Citius a 13/10/2010 [cfr. doc. de fls. 240].

● A sentença (cópia dela) foi electronicamente enviada às partes, encontrando-se certificada no Citius a data de 18/10/2010, como de elaboração da notificação [cfr. mesmo doc. de fls. 240].

● A autora interpôs o recurso em apreço a 30/11/2010 [cfr. fls. 188 e doc. de fls. 240].

● No despacho de admissão do recurso, a Sra. Juíza «a quo» consignou que a expressão que fez exarar em acta (atrás referida) «é um minus em relação ao que a lei prevê» [cfr. despacho constante de fls. 242].

Enunciados os factos a ter em conta, vejamos de que lado está a razão.

1.2. É sabido que o prazo de interposição do recurso de que a autora dispunha era de 30 dias, a contar da notificação da decisão/sentença, acrescido de mais 10 dias (ambos os prazos são contínuos) por a apelação ter (também) por objecto a reapreciação da prova gravada (os depoimentos de parte prestados pelos réus em julgamento) – arts. 685º nºs 1 e 7 e 144º nº 1 do CPC (na versão aqui aplicável, mencionada supra – serão deste Código e de tal versão as normas que citarmos sem outra menção). Isto porque apesar de estarmos perante uma acção que tem por objecto o cumprimento de obrigação pecuniária, não tem aqui aplicação o disposto no nº 5 do art. 691º, com referência à al. d) do nº 2 do mesmo preceito, na medida em que em tal previsão só cabem decisões condenatórias interlocutórias ou de natureza intercalar e «in casu»

está em causa uma decisão absolutória e, principalmente, uma decisão/sentença final enquadrável no nº 1 daquele art. 691º e não na referida alínea do nº 2 deste normativo [neste sentido, Abrantes Geraldes, in Recursos em Processo Civil – Novo Regime, 2008, pgs. 182-183 e nota 265, e Teixeira de Sousa, in

(7)

Reflexões sobre a reforma dos recursos em processo civil, Cadernos de Direito Privado, nº 20, pg. 7].

Questão é, porém, saber quando é que a apelante deve considerar-se notificada daquela sentença.

A sentença foi proferida oralmente e ditada para a acta da audiência de julgamento e a autora, através do seu ilustre mandatário, esteve presente em tal diligência.

De acordo com o nº 3 do indicado art. 685º, “tratando-se de despachos ou sentenças orais, reproduzidos no processo, o prazo (de interposição do recurso) corre do dia em que foram proferidos, se a parte esteve presente ou foi notificada para assistir ao acto”.

Poderia, assim, pensar-se que o caso «sub judice» caberia nesta previsão. Mas isso não é verdade. Para que tal acontecesse era necessário que a sentença tivesse ficado logo disponível, na íntegra, para que as partes, querendo, e conhecendo os seus exactos termos (os seus fundamentos fácticos e jurídicos), dela recorressem. Por isso é que no nº 3 do apontado normativo se fala em «despachos ou sentenças orais, reproduzidos no processo» [itálico nosso]. E não basta que esta «reprodução» seja feita «a posteriori»; tem de ser feita imediatamente, ou seja, até ao termo do acto em que a decisão é proferida. Se a decisão não ficar imediatamente disponível, não pode defender-se a aplicação do estabelecido no referenciado preceito legal. Até para evitar situações (hipoteticamente possíveis) em que as partes interporiam recurso antes da decisão ficar disponível.

Podemos então concluir que o disposto no nº 3 do art. 685º não tem aqui aplicação.

1.3. Afastada esta hipótese, importa responder à questão seguinte: O prazo começou a correr a partir da data (no dia seguinte) em que a acta, com a sentença, ficou disponível no Citius ou apenas a partir do momento em que as partes (particularmente a autora, que é a quem aqui interessa olhar) foram notificadas (por via electrónica, como se impunha) daquelas acta e sentença?

A Mma. Juíza «a quo» fez exarar na parte final da acta de julgamento que o prazo para interposição de recurso da sentença se iniciaria apenas «quando a presente acta se encontrar disponível no Citius».

Tomada esta declaração à letra, pareceria que a resposta certa à questão atrás formulada seria no sentido de que o prazo para interposição do recurso se iniciaria com a disponibilidade daquelas acta e sentença no referido sistema informático dos Tribunais (no caso, a 13/10/2010).

Contudo, uma tal interpretação não faria, salvo o devido respeito, sentido algum, já que a regra é a da notificação das decisões às partes quando estas não devam considerar-se notificadas no próprio acto em que foram proferidas (como aconteceu «in casu» por a sentença e a acta respectiva não terem ficado imediatamente disponíveis no Citius) e não a de as partes indagarem junto do Tribunal (no sistema Citius, quando seja o caso, ou na secretaria judicial) da disponibilidade (física) das mesmas [a regra da notificação consta do nº 1 do art. 685º; as excepções estão nos nºs 2 e 3 do mesmo preceito; já vimos que o nº 3 não tem aqui aplicação; e o nº 2 reporta-se a casos de revelia que nada têm a ver com o nosso caso]. Nem seria exigível que as partes andassem constantemente a procurar, no Tribunal ou no Citius, se determinada decisão (proferida oralmente, mas não disponibilizada de imediato) já se encontra ou não disponível.

Por isso, o que se impunha era que, uma vez disponibilizadas a acta e a sentença nela proferida, o Tribunal procedesse à notificação das mesmas às partes – notificação essa a fazer, no caso, por transmissão electrónica, nos termos da al. b) do nº 4º do art. 21º-A da Portaria nº 114/2008, de 06/02, na redacção

(8)

dada pela Portaria nº 1538/2008, de 30/12.

E foi o que fez o Tribunal «a quo».

Como a data da elaboração da notificação certificada no Citius é de 18/10/2010 (cfr. doc. junto a fls. 240), a sentença presume-se notificada às partes (incluindo, portanto, à autora) três dias depois, ou seja, a 21/10/2010 – nº 5 do art. 21º-A da dita Portaria. Foi a partir desse dia (melhor, do dia seguinte) que começou a correr o prazo de interposição do recurso. Como a autora recorre de facto e de direito, dispunha de um prazo de 40 dias (30+10) para o efeito. Tal prazo terminava a 30/11/2010. Como o recurso deu entrada em Tribunal (também por transmissão electrónica) precisamente no dia acabado de mencionar (às 22,51 horas – cfr. fls. 188), apresenta-se evidente que a autora o fez em tempo, como bem decidiu a Mma.

Juíza que, apesar da menor clareza do despacho que exarou na parte final da acta da audiência de julgamento, admitiu o recurso interposto pela demandante, considerando-o tempestivo.

Deste modo, improcede esta questão prévia suscitada pelos apelados.

*

*

2. Se são de admitir/manter nos autos os documentos que a apelante juntou com as alegações.

2.1. Com vista a demonstrar alegada contradição existente na sentença recorrida, por ter situado a nota de despesas e honorários reclamados pela autora no início de 2004 e por ter dado como provado que tal nota foi apresentada aos réus apenas a final, depois de prestados os serviços nela discriminados (exercício do mandato forense na acção nº 4291/04.0TVPRT e no procedimento cautelar nº 1226/04.3TVPRT), a apelante juntou com as alegações do recurso (cfr. pg. 20 das alegações – fls. 178 dos autos) os documentos que constam de fls. 183-186 (o primeiro reporta-se à marcação do julgamento na acção supra referida; os dois seguintes à citação dos aqui apelados nessa mesma acção e o último à citação destes no procedimento cautelar de arresto referido em segundo lugar), tendo ali protestado juntar ainda as procurações que os apelados emitiram a seu favor para o exercício do mandato forense nesses processos, junção que concretizou a fls. 190 e segs..

Os apelados, porém, nas contra-alegações, requerem o desentranhamento dos ditos documentos por considerarem que a sua junção não é legalmente admissível.

2.2. Segundo o art. 693º-B, “as partes apenas podem juntar documentos às alegações nas situações excepcionais a que se refere o artigo 524º, no caso de a junção se ter tornado necessária em virtude do julgamento proferido na 1ª instância e nos casos previstos nas als. a) a g) e i) a n) do nº 2 do artigo 691º”.

Comparando o regime consagrado neste art. 693º-B com o que previa o art. 706º nº 1 do mesmo Código na redacção que vigorou até às alterações introduzidas pelo DL 303/2007, constata-se que o leque de situações em que é possível a junção de documentos na fase de recurso aumentou consideravelmente com o aditamento da 3ª e última parte daquele primeiro normativo, pois passou a admitir-se tal junção - além das duas que já anteriormente eram admitidas e que ora constam da 1ª e da 2ª partes do mesmo - em todos os casos previstos nas als. a) a g) e i) a n) do nº 2 do art. 691º [neste sentido, Abrantes Geraldes, obra citada, pg. 228 e Amâncio Ferreira, in Manual dos Recursos em Processo Civil, 8ª ed., pg. 205].

(9)

O aditamento acabado de referenciar (que constitui a 3ª e última parte do preceito em análise) não tem, no entanto, aqui interesse em virtude do caso «sub judice» não se enquadrar em nenhuma das alíneas a) a g) ou i) a n) do nº 2 do art. 691º. A mencionada junção de documentos só será, por isso, admissível se couber no âmbito das situações excepcionais enumeradas no art. 524º ou se a sua necessidade se dever ao julgamento proferido na 1ª instância.

Para que o nº 1 do art. 524º tivesse aqui aplicação seria necessário que a apresentação dos referidos documentos não tivesse sido possível até ao momento do encerramento da audiência de discussão e julgamento na 1ª instância, o que não é, manifestamente, o caso já que todos os documentos em questão se reportam a actos processuais praticados noutros processos em datas anteriores à da instauração desta acção e de que a autora tinha já então conhecimento (foi ela a representante/mandatária dos aqui apelados nesses processos). Também não há que chamar à colação o disposto no nº 2 do mesmo normativo por não estar em causa a prova de “factos posteriores aos articulados” ou de “ocorrência posterior”.

Resta então a possibilidade da “junção se ter tornado necessária em virtude do julgamento proferido na 1ª instância”. Mas nem nesta previsão se enquadra o caso em análise. Isto porque a contradição que a apelante aponta à sentença recorrida é irrelevante para efeitos da al. c) do nº 1 do art. 668º (nulidade de sentença que vem arguida nas alegações/conclusões da recorrente), pois a oposição geradora de nulidade de sentença terá que se verificar entre os fundamentos, de facto e/ou de direito, desta e a respectiva decisão (ou proclamação final) e a «contradição» que aquela invoca ocorre apenas entre uma afirmação constante do relatório da sentença (que situa a nota de despesas e honorários no início de 2004) e um facto que nela foi dado como provado (do qual resulta que tal nota de despesas e honorários foi apresentada aos réus no final da intervenção da autora, como mandatária, nos processos atrás indicados).

Inexistindo a contradição/oposição apontada pela apelante (o relatório da sentença é irrelevante para efeitos da oposição a que alude a dita alínea do citado preceito; o facto dado como provado é releva e só a ele temos que atender nesta 2ª instância) e destinando-se os documentos apresentados a demonstrarem, segundo a autora, essa inexistente contradição, é evidente que falece sustentáculo legal para a sua admissão, não se tendo tornado necessária a sua em virtude do julgamento (ou da sentença) proferido(s) na 1ª instância.

Há, assim, que atender esta questão prévia suscitada pelos apelados e ordenar o desentranhamento dos referenciados documentos, sancionando a apresentante nas custas do incidente.

*

*

3. Se os réus confessaram tacitamente a dívida peticionada.

3.1. Entremos agora na principal questão a dirimir, colocada pela apelante nas conclusões 1 a 6 das suas alegações: saber se os réus confessaram tacitamente a dívida reclamada por aquela.

Está em causa dívida de honorários e despesas judiciais decorrentes do exercício, pela autora, do mandato forense que os réus-apelados lhe conferiram (por procurações judiciais) para os «representar» nos dois processos supra mencionados.

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Na petição (requerimento de injunção) a ora recorrente situou o início do contrato de mandato e o consequente início dos seus serviços em 17/06/2004 e acrescentou que no final dos serviços que levou a cabo nos processos 1226/04.3TVPRT (da 1ª secção da 3ª Vara Cível do Porto) e 4291/04.0TVPRT (da 3ª secção da 6ª Vara Cível do Porto) – sem indicar a(s) data(s) em que esse «final» aconteceu -, apresentou (aos réus) nota de despesas e honorários que tinha um saldo a seu favor no valor de 7.407,03€.

Os réus, ora apelados, na contestação, aceitaram que conferiram mandato à autora para os patrocinar nos ditos processos (uma providência cautelar de arresto e subsequente acção declarativa) e aceitaram que receberam a referida nota de despesas e honorários. Situaram, porém, a apresentação dessa nota em 26/01/2004 e alegaram que procederam imediatamente ao seu pagamento em numerário. Por considerarem decorridos mais de dois anos desde tal pagamento, invocaram a prescrição presuntiva prevista na al. c) do art. 317º do CCiv..

A autora, na resposta (apresentada a «convite» do Tribunal; o respectivo despacho não foi posto em crise), veio dizer que os seus serviços aos réus, nas indicadas acções, decorreram até 2006 (altura em que renunciou aos mandatos), que só depois disso é que apresentou a referida nota de despesas e honorários aos réus e que estes não lhe pagaram a quantia em causa que aqui peticiona.

Considerando que face à “contestação apresentada, apenas está em causa a ilisão da prescrição presuntiva invocada pelos RR., e tendo presente que tal ilisão se faz unicamente nos termos previstos pelo art. 313º do CC e não estando em causa qualquer «confissão» escrita por parte dos RR.”, o Tribunal «a quo» entendeu que “o único facto a provar” consiste em saber se “os RR. não pagaram a quantia de 7.407,03€, constante da nota de honorários e despesas que a Autora lhes enviou”, conforme expressamente exarou no despacho de fls. 121-122 (veja-se também o despacho de fls. 146).

Efectuado o julgamento, em que a prova se cingiu à tomada de depoimentos de parte aos réus (o réu C…

por si e na qualidade de legal representante da ré «D…, Lda.»; a ré E… por si), o Tribunal recorrido declarou não provado o referido facto controvertido por ter considerado que os demandados, naqueles depoimentos, não confessaram, expressa ou tacitamente, a manutenção da dívida peticionada.

A apelante sustenta, porém, que a actuação processual dos réus, maxime nos depoimentos que prestaram, é incompatível com a presunção de cumprimento/pagamento que alegaram na contestação e que, por via disso, havendo confissão tácita daqueles, o dito facto controvertido (sobre que incidiram os depoimentos de parte) devia ter sido declarado provado e a acção julgada procedente.

Balizada, assim, a questão a decidir, vejamos de que lado está a razão.

3.2. Não há dúvida que estamos perante crédito por serviços prestados, pela autora, no exercício de profissão liberal (a advocacia levada a cabo no âmbito de dois processos judiciais e na sequência de procuração passada pelos réus) e para reembolso das despesas correspondentes (honorários e despesas judiciais).

Segundo a al. c) do art. 317º do CCiv., tal crédito prescreve no prazo de dois anos. Trata-se, porém, de uma prescrição presuntiva e não de uma prescrição comum ou extintiva, conforme decorre do disposto no art.

312º do mesmo corpo de normas. Aquela (a prescrição presuntiva) funda-se na presunção do cumprimento, mas não confere ao devedor o poder de se opor ao exercício do direito correspondente à

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prestação que lhe compete; esta (a prescrição extintiva) confere ao devedor o direito de recusar o cumprimento da prestação com base unicamente no decurso de tempo decorrido, por o credor não ter exercido o inerente direito no prazo legalmente estabelecido. Ali (na prescrição presuntiva) estão em causa prazos curtos – em regra, de seis meses ou de dois anos (previstos nos arts. 316º e 317º do CCiv.), mas sempre inferiores a cinco anos (possíveis em leis avulsas), ao passo que aqui (na prescrição extintiva) relevam prazos de cinco a vinte anos (arts. 309º e 310º do CCiv.), sendo este último o prazo ordinário (o que vale quando o crédito não esteja sujeito a outro prazo de prescrição).

A razão de ser da prescrição presuntiva tem a ver com a natureza das obrigações em causa que dizem respeito a créditos gerados pelo exercício de actividades profissionais e/ou de prestação de serviços cujos pagamentos são normalmente/usualmente reclamados pelos credores em prazos curtos, por se tratar de receitas reditícias necessárias à manutenção do giro regular dos mesmos ou até à sua sobrevivência, e em que os devedores, por regra, cumprem a sua obrigação (pagam a dívida/serviço) também em prazo curto e sem exigirem recibo de quitação ou não guardando tal recibo durante muito tempo.

Daí a presunção de cumprimento, por parte do devedor, quando o credor não o demande judicialmente no prazo legalmente estabelecido.

Mas a presunção de cumprimento pelo decurso desse prazo pode ser ilidida por prova em contrário do credor, embora esta prova se encontre limitada à confissão do devedor; é o que estabelecem os arts. 313º e 314º do CCiv.. Esta confissão pode ser judicial ou extrajudicial, mas, neste caso, só releva se tiver sido reduzida a escrito –nº 2 do art. 313º. E pode ser expressa ou tácita, verificando-se esta “se o devedor se recusar a depor ou a prestar juramento no tribunal”, ou se “praticar em juízo actos incompatíveis com a presunção de cumprimento” – art. 314º.

No caso «sub judice», face à ausência de confissão expressa e de confissão escrita dos réus (que não se recusaram a depor em julgamento nem a prestar o juramento a que estavam obrigados), interessa-nos esta última asserção: a eventual prática em juízo de actos incompatíveis com a presunção de cumprimento.

Têm sido vários os exemplos desta prática incompatível, salientando-se os casos em que o réu devedor nega, na acção, a dívida, discute o seu montante, não alega com clareza que pagou a concreta dívida que é reclamada/peticionada, reconhece não ter cumprido a obrigação, etc. [sobre a figura da prescrição presuntiva e quanto a esta prática de actos incompatíveis com a dita presunção, vejam-se, i. a., na doutrina: Manuel de Andrade, in Teoria Geral da Relação Jurídica, vol. II, 1987, pgs. 452-453, Pires de Lima e Antunes Varela, in Código Civil Anotado, vol. I, 1987, pgs. 281-285, Meneses Cordeiro, in Tratado de Direito Civil Português, I, Parte Geral, Tomo IV, pgs. 179-185, Sousa Ribeiro, in Prescrição Presuntiva: sua compatibilidade com a não impugnação dos factos articulados pelo autor, Revista de Direito e Economia, ano V, nº 2, pg. 393; na jurisprudência mais recente: Acs. do STJ de 24/05/2005, proc. 05A1471, de 22/01/2009, proc. 08B3032, de 09/02/2010, proc. 2614/06.6TBMTS.S1 e de 19/05/2010, proc.

1380/07.2TBABT-A.E1.S1., disponíveis in www.dgsi.pt/jstj e desta Relação do Porto de 13/03/2008, proc.

0830167, de 15/09/2009, proc. 2635/07.1YXLSB.P1 e de 18/01/2011, proc. 213/08.7TBARC.P1 – o ora relator foi adjunto nestes dois últimos -, disponíveis in www.dgsi.pt/jtrp].

Importa, pois, averiguar se os réus praticaram nos autos actos incompatíveis com a indicada presunção de

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cumprimento/pagamento, análise esta que se desdobrará em dois vectores: em função do articulado (contestação) que apresentaram e em função dos depoimentos que prestaram em julgamento (que a apelante transcreveu nas partes que reputa significativas e que nós ouvimos integralmente através do registo áudio – CD – que está junto à contracapa do processo, já que, quanto a eles as alegações/conclusões cumprem os ónus impostos pelos nºs 1 e 2 do art. 685º-B do CPC, incluindo as duas alíneas do nº 1).

3.3. Antes, todavia, importa fazer duas advertências (chamadas de atenção) relativamente à factualidade dada como provada pela 1ª instância.

A primeira tem a ver com o facto de aí não ter ficado expressamente referido quando é que o contrato de mandato em questão teve o seu início; isto apesar de, por um lado, a autora-apelante o ter situado em 17/06/2004 (data em que foi constituída mandatária dos réus para os «representar» nos mencionados processos – cfr. o alegado no requerimento de fls. 2) e de, por outro, os réus-apelados não terem impugnado esse facto (cfr. o teor da contestação). Por isso, tal facto devia ter sido dado como provado, face à confissão (por falta de impugnação especificada do mesmo) dos demandados. Não o tendo sido, dá- se agora esse facto como provado, aditando-o ao elenco descrito no ponto III deste acórdão, ao abrigo do disposto nos arts. 713º nº 2 e 659º nº 3 do CPC (sem comunicação prévia do mesmo às partes, por manifesta desnecessidade de tal acto por se tratar de facto confessado pelos réus).

A segunda refere-se à circunstância de não constar do elenco dos factos provados quando (em que data) é que a nota de honorários e despesas foi apresentada pela autora aos réus com vista ao respectivo pagamento por parte destes, sendo certo que para os efeitos dos arts. 312º a 314º e 317º al. c) do CCiv. é essencial saber se tal nota (que configura a interpelação da autora aos réus para que estes lhe pagassem o respectivo crédito) foi apresentada ou não mais de dois anos antes desta acção ser proposta, pois só se o tiver sido é que os réus podem opor àquela a prescrição presuntiva a que temos aludido. E isto apesar dos réus, na contestação, terem situado a apresentação de tal nota em 26/01/2004 e de a autora, na resposta (suprindo omissão do requerimento inicial, onde se limitou a referir que aquela nota foi apresentada “a final” do “desempenho desse mandato” nos citados processos), ter situado esse acto (a apresentação da nota de despesas e honorários) no final do ano de 2006 (depois de 23/10/2006, conforme alegado nos arts.

2º, 17º e 21º a 23º).

Apesar da omissão em referência dizer respeito, como se disse, a facto essencial, não há, ainda assim, que anular a decisão recorrida e ordenar a produção de prova relativamente a tais factos – ao abrigo do nº 4 do art. 712º do CPC -, já que, bem vistas as posições das partes, ambas reconhecem (nos articulados) que entre a data em que a dita nota de despesas e honorários foi apresentada aos réus (e o pagamento do respectivo crédito foi reclamado destes) – tenha ela ocorrido na data indicada pelos demandados ou na referida pela demandante – e as datas em que estes foram citados nestes autos decorreram mais de dois anos (o próprio requerimento de injunção que está na origem desta acção deu entrada em juízo a 14/11/2009 – cfr. data aposta na parte superior esquerda de tal requerimento), não havendo dúvidas quanto à aplicabilidade do disposto na al. c) do art. 317º do CCiv..

Damos, assim, como certo (como provado) que entre os dois momentos acabados de referenciar (data da

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apresentação da nota de despesas e honorários e datas em que os réus foram citados nesta acção) decorreram mais de dois anos.

Ultrapassadas, deste modo, as omissões da sentença que ficam apontadas (quanto aos factos provados), voltemos à concreta questão que constitui o «busílis» da solução a dar ao pleito: saber se os réus praticaram actos incompatíveis com a presunção de cumprimento que está subjacente à prescrição presuntiva que invocaram.

3.4. Começando por analisar o que os réus alegaram na contestação, logo aí encontramos uma primeira incompatibilidade com a falada presunção (que a Mma. Julgadora «a quo» não viu).

É que, tendo a autora alegado que o início das suas funções, como mandatária dos réus (na sequência de procuração passada por estes), se situou em 17/06/2004 e que só no final do desempenho dessas funções nos processos em questão (supra mencionados) é que enviou aos réus, para lhe pagarem o respectivo montante, a nota de despesas e honorários que apresentava a seu favor um saldo de 7.407,03€, não se vê como é que os réus podem, ao mesmo tempo, sustentar que lhe pagaram esta quantia quando, em 26/01/2004, a nota de despesas e honorários lhes foi apresentada e reconhecerem, apesar disso, que esta nota de despesas e honorários foi apresentada no final dos serviços prestados pela autora no exercício do patrocínio que exerceu nos ditos processos. Aceitar que o mandato forense e a prestação dos respectivos serviços pela autora teve início em 17/06/2004 e que só posteriormente é que a referida nota lhes foi apresentada, com um crédito a favor daquela (o que significa que então os réus deviam a quantia constante da mesma nota), é, no nosso modo de ver, claramente incompatível com a alegação de que o pagamento da quantia em causa foi efectuado em 26/01/2004, ou seja, quase cinco meses antes do início do mandato e do começo dos ditos serviços forenses, tanto mais que se a aludida quantia tivesse sido paga antecipadamente então no final do mandato, quando a citada nota lhes foi enviada, a autora não seria credora de qualquer importância e eles não poderiam aceitar que nesse momento ela tinha a seu favor o crédito peticionado na acção.

Esta uma primeira incompatibilidade com o alegado pagamento do crédito e com a presunção de cumprimento exigida pelo instituto da prescrição presuntiva.

Mas não é a única. Dos depoimentos de parte que prestaram, outras incompatibilidades se evidenciam, como vamos salientar.

3.5. Passando aos depoimentos de parte dos réus, prestados em julgamento.

Resumidamente, no que para aqui interessa, o réu C… declarou o seguinte:

● que nunca teve (nem ele nem as rés) conhecimento de que estavam em dívida de sete mil e tal euros de honorários,

● que a autora nunca lhe apresentou qualquer nota de honorários no final dos seus serviços,

● que por volta de 25/04/2004 entregaram (ele e as rés) à autora (à Dra. G…) 25.000,00€, em numerário (que levantaram de uma conta bancária), para pagar honorários, tal como aquela lhes pediu, não tendo sido prestado qualquer recibo de quitação,

● que depois daquela data entregaram outras quantias («tranches») à autora (não disse quantas, nem

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quanto de cada vez) para honorários,

● que não sabe se depois desses pagamentos ficaram a dever-lhe alguma importância, pois a autora nunca fez contas com eles,

● que o início das funções da autora teve lugar num procedimento cautelar de arresto que lhes foi movido por um credor (H…),

● e que a autora os patrocinou (nesse procedimento cautelar, na respectiva acção declarativa, noutros processos movidos por outros credores – identificou três desses credores que lhes moveram acções – e, ainda, em acordos extrajudiciais que fizeram com, pelo menos, outros sete credores) até 2005 ou 2006.

A ré E… declarou:

● que por volta do dia 25/04/2004, por lhes terem sido pedidos (a eles réus), entregaram à autora a quantia de 25.000,00€ em numerário, para pagamento de honorários, dinheiro que levantaram (ela e seu pai) de uma conta bancária de que eram titulares (no I…),

● que posteriormente entregaram outras quantias/«tranches» em dinheiro (de valores mais baixos – não disse os montantes) à autora, para o mesmo fim (pagamento de honorários),

● que não houve acerto de contas, nem se recorda de lhes ter sido apresentada qualquer nota de despesas e honorários, quando a autora deixou de os patrocinar/representar,

● que a actividade da autora, patrocinando-os, se prolongou por cerca de um ano,

● que a autora os patrocinou em vários processos (procedimentos cautelares e acções declarativas) que lhes foram movidos por credores e em diversos acordos extrajudiciais que concretizaram com outros credores,

● que os referidos 25.000,00€ foram o valor que lhes foi inicialmente pedido, mas no final os honorários seriam acertados,

● que ao todo não sabe quanto pagou de honorários à autora, pensando que rondou os 27.000,00€,

● que não sabe se nos honorários que diz terem pago também estavam compreendidas despesas processuais,

● e que não sabe se deve alguma coisa, de honorários e despesas, à autora.

3.6. Que dizer então destes depoimentos? Que incompatibilidades patenteiam?

Em primeiro lugar e apesar de na contestação (art. 5º) terem confessado expressamente que a nota de despesas e honorários da autora lhes foi apresentada (referiram aí até a data em que isso teria acontecido), em julgamento declararam ambos que, afinal, isso não é verdade pois nenhuma nota desse jaez lhes foi apresentada.

Em segundo e apesar de na contestação (arts. 5º e 7º) terem afirmado que a referida nota lhes foi apresentada em 26/01/2004 e que a respectiva quantia foi paga de imediato, em julgamento declararam (quiçá para aproximar esse facto um pouco mais da data indicada pela autora como tendo sido a da outorga da procuração e início das suas funções de mandatária dos réus) que o pagamento dos 25.000,00€

(em numerário, quando podia ser em cheque, mesmo que a autora não lhes passasse recibo, como afirmaram, e sem sequer juntarem aos autos qualquer comprovativo do respectivo levantamento na entidade bancária que mencionaram) – que compreenderia, na versão deles, o crédito aqui peticionado –

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que dizem ter entregue à autora para pagamento de honorários, ocorreu por volta do dia 25/04/2004. Mas não apresentaram qualquer motivo para que este eventual pagamento tivesse sido feito, ainda assim, cerca de dois meses antes da autora ter iniciado o exercício do referido mandato (ainda assim bastante inferior aos cerca de cinco meses referidos na contestação).

Em terceiro, há manifesta incongruência entre o facto de na contestação terem admitido que a nota de despesas e honorários lhes foi apresentada no final dos serviços prestados pela autora - que, segundo o que disseram em julgamento, decorreram, pelo menos, até 2005 ou 2006 – e que então havia um saldo favorável a esta última de 7.407,03€ e de em julgamento afirmarem que os 25.000,00€ que dizem ter entregue à autora (por volta de 25/04/2004, frise-se) se destinaram a pagar a quantia que esta aqui peticiona.

Outra – a quarta - incompatibilidade encontramo-la no facto de terem dito, em julgamento, que os honorários (e despesas) seriam acertados no final dos serviços que a autora viesse a prestar-lhes, mas que tal não veio a acontecer (a autora nunca lhes apresentou contas), o que, por um lado, deixa a «porta»

entreaberta à possibilidade da autora, afinal, até ser credora deles e, por outro, contraria, mais uma vez, a confissão constante da contestação atinente ao saldo favorável à demandante, no final do patrocínio que exerceu em representação dos réus, ou seja, em 2005 ou 2006, em montante igual ao que é reclamado nos autos.

Tudo, pois, actos e atitudes dos réus, ora apelados, que se revelam incompatíveis com o pagamento (e termos em que teria sido feito) que alegaram na contestação e com a presunção de cumprimento inerente à excepção da prescrição presuntiva que ali também invocaram. Pelo que temos como certo, como defende a apelante nas alegações, que funciona aqui o estabelecido na parte final do art. 314º do CCiv. e que, consequentemente, houve confissão tácita dos apelados quanto ao não pagamento da quantia

«reivindicada» por aquela no requerimento inicial, mostrando-se, assim, ilidida a apontada presunção de cumprimento/pagamento.

Procedendo a apelação nesta parte, há então – aqui e agora - que considerar provado o facto que na sentença recorrida foi dado como não provado, ou seja, que “os réus não pagaram a quantia de 7.407,03€, constante da nota de honorários e despesas que a autora lhes enviou”.

*

*

4. Se, face à solução dada à questão anterior, é de revogar a sentença recorrida.

Ante a solução dada à questão anterior, na medida em que ficou provado que os réus não pagaram a quantia reclamada pela autora, há que, ao abrigo do disposto nos arts. 406º nº 1, 762º nº 1, 763º nº 1, 1ª parte, 1158º nºs 1 e 2 e 1167º als. b) e c), todos do CCiv., condená-los a pagá-la. Como, porém, face à descida da taxa de IVA para 20% (facto provado sob o nº 6), tal quantia passou a ser de 7.354,10€, é esta a importância que os ora apelados têm que pagar à apelante.

Este montante é acrescido de juros de mora, à taxa legal, desde a citação dos réus até efectivo e integral pagamento – arts. 805º nº 1 e 806º nºs 1 e 2 do CCiv..

Significa isto que também neste segmento procede a apelação (conclusões 7 a 9 das alegações) e que a

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sentença recorrida deve ser revogada na solução jurídica que decretou, substituindo-se a absolvição dos réus do pedido ali proclamada pela sua condenação a pagarem à autora a quantia que se deixou indicada, acrescida dos juros acabados de referenciar.

*

*

5. Se a decisão recorrida padece da nulidade que a apelante lhe aponta.

Nas conclusões 10 e 11 das alegações, a apelante invoca, ainda, a nulidade da sentença recorrida, por eventual contradição que enquadra na previsão da al. c) do nº 1 do art. 668º do CPC. Esta alínea reporta-se à oposição entre os fundamentos (de facto e/ou de direito) da decisão e a decisão propriamente dita (proclamação condenatória ou absolutória constante da parte final daquela).

Tal contradição e a inerente nulidade não se verificam, no entanto, no caso apontado pela apelante, pois, como já sucintamente dissemos no item 2.2.2. deste ponto IV (para lá remetemos agora), a contradição em questão é entre uma afirmação feita no relatório da sentença e um facto nela dado como provado, sendo que só este integra os fundamentos daquela, como decorre do disposto no nº 2, por contraposição ao nº 1, do art. 659º do CPC, e não já também aquele relatório. E porque face aos fundamentos de facto dados como assentes na decisão recorrida (maxime, por não ter dado como provado que os réus não pagaram à autora a quantia que atrás se deixou referenciada) a única solução jurídica possível era a absolvição dos réus do pedido, decretada na sua parte decisória, é manifesto que nenhuma oposição existia entre os fundamentos e tal parte decisória da sentença.

Daí que, além de prejudicada pela solução dada às 3ª e 4ª questões apreciadas neste ponto IV, não se verifique a arguida nulidade de sentença, improcedendo, neste ponto, a apelação.

*

*

Sumário do que de relevante fica enunciado:

● Nos casos em que a sentença seja proferida oralmente (ditada para a acta da audiência de julgamento), mas não fique imediatamente disponível (nem ela nem a respectiva acta) no Citius, deve a secção de processos, logo que tal disponibilidade aconteça, notificar as partes do seu teor, só começando a correr o prazo de interposição de recurso após essa notificação.

● Isto porque o estabelecido no nº 3 do art. 685º do CPC só funciona quando a sentença (ou o despacho) oral tenha ficado imediatamente reproduzida na acta (ou no auto, tratando-se de despacho não proferido em julgamento) e esta tenha ficado imediatamente disponível às partes.

● A presunção de cumprimento em que se fundam as prescrições presuntivas pode ser ilidida por confissão (judicial ou extrajudicial; mas neste caso só se for escrita) do devedor, podendo a confissão judicial ser tácita.

● Esta confissão tácita pressupõe, nomeadamente, a prática em juízo de actos incompatíveis com a presunção de cumprimento.

● Integram tal incompatibilidade (e determinam a ilisão desta presunção de cumprimento) as actuações

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dos réus/devedores que ficaram descritas em 3.3.4 e 3.3.6 do ponto IV deste acórdão.

* * *

V. Decisão:

Nesta conformidade, os Juízes desta secção cível da Relação do Porto acordam em:

1º) Julgar a apelação procedente, na parte que tinha a ver com o mérito da causa e, em consequência, revogando a douta sentença recorrida, condenam os réus-apelados a pagarem à autora-apelante a quantia de 7.354,10€ (sete mil trezentos e cinquenta e quatro euros e dez cêntimos), de despesas e honorários, acrescida de juros de mora, à taxa legal, desde a citação até efectivo e integral pagamento.

2º) Condenar os apelados nas custas, por total procedência do pedido formulado pela autora-apelante.

3º) Ordenar, ainda, o desentranhamento e devolução à apelante dos documentos que esta apresentou com as alegações do recurso (juntos a fls. 183-186 e 190-223), sancionando-se a mesma em custas, pelo incidente, com taxa de justiça pelo mínimo legal.

* * *

Porto, 2011/05/03 Manuel Pinto dos Santos

João Manuel Araújo Ramos Lopes Maria de Jesus Pereira

Fonte: http://www.dgsi.pt

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