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Psiquê deveria trazer-lhe flocos de lã de ouro que cobriam o dorso das ovelhas ferozes

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Academic year: 2022

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SEGUDA TAREFA

A sogra lhe ordenou a segunda tarefa.

Psiquê deveria trazer-lhe flocos de lã de ouro que cobriam o dorso das ovelhas ferozes. Essas ovelhas costumavam ficar num bosque ali perto do palácio. Tarefa perigosa e irrealizável.

Mas Psiquê, apaixonada, só sabia pensar no marido e tentou tudo por ele.

A jovem foi para o bosque. Lá chegando, o medo lhe inundara a alma, e a esposa já tinha outra idéia em mente: matar-se!

No bosque havia um rio com redemoinhos. A pessoa que nele mergulhasse iria diretamente para o fundo, sem retorno. Desiludida, Psiquê nele mergulhou!

Novamente ela foi salva. Desta vez por um simples caniço verde.

Humildemente, ele lhe suplicou para que não poluísse aquelas águas que eram sagradas. E também lhe ensinou o que fazer para conseguir os flocos de lã de ouro.

_ Psiquê querida, você não deve se aproximar das ovelhas enquanto o sol estiver a pino. As ovelhas ficam terrivelmente enfurecidas por causa do calor. Elas atacam, dão testadas e ainda mordem. Suas mordidas são venenosas e fatais. Aguarde embaixo de um plátano. Quando o calor diminuir e o vento fresco do rio soprar, as ovelhas estarão calmas.

Então, elas irão descansar e os flocos de lã ficarão presos nas árvores dos bosques. Basta sacudir as árvores, que você conseguirá colher a quantidade que quiser.

A princesa agradeceu o caniço e partiu para mais essa tarefa.

Seguiu exatamente como lhe fora ordenado. E a jovem retornou para o palácio repleta de flocos de lã de ouro!

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SEGUDA TAREFA

Exercício: saber esperar.

Elemento da natureza: fogo.

Elemento simbólico: caniço.

Função da consciência: intuição.

Criando novo cenário...

Material: varetas de bambu, um CD (compact disc), giz de cera, vela.

Sensibilização:

• Individualmente: exercícios corporais com a vareta, explorando-a sensorialmente. Em seguida, fazer movimentos amplos e contidos, explorando outras possibilidades com o corpo naquele espaço e com a vareta em mãos.

• Em duplas: cada participante, com a vareta em mãos, contatar-se com o outro, sentindo as qualidades dessa relação. Perceber o tempo de uma, o tempo da parceira;

pensar se é fácil ou difícil harmonizar esses movimentos.

• Em grupos de quatro: dando continuidade à mesma proposta, ampliando a percepção do contato com as outras parceiras... ficar atentas às sensações, sentimentos que a dança acessa.

Proposta: com a vela acesa, as professoras deveriam, ao derreter o giz de cera, passá-lo sobre o CD, formando configurações plásticas que pudessem representar as sensações, os pensamentos e sentimentos que surgiram durante a atividade.

Ao mesmo tempo em que os sujeitos dessa pesquisa estavam absorvidos pela atividade, a pesquisadora apresentava, oralmente, questões que servissem de orientação para a proposta.

Seguem algumas delas:

• Como me percebo quando devo trabalhar com a espera?

• Em quais momentos de minha vida eu tive que saber esperar o momento certo para conseguir aquilo que desejava... foi fácil?

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• Quanto eu me flexiono, quando em contato com o outro ou me coloco em uma postura mais agressiva?

• Quando exercito a espera, ela vem junto com a agressividade, ou ela vem de maneira mais tranqüila e branda? É fácil lidar com essas duas energias opostas dentro de mim, sem cair nos extremos?

• Como é lidar com a espera em minha vida profissional? E com as questões da agressividade?

• Onde situo essas questões no meu papel de professora?

A grande mensagem dessa tarefa consiste em se poder olhar para além de si próprio, compreendendo que o universo é maior do que o nosso próprio mundo e que a solução não consiste na luta, no confronto de forças, mas no estabelecimento de um contato fecundo entre o masculino e o feminino.

Nesta tarefa, Psiquê teve que lidar com as forças da agressividade, da destrutividade e para vencê-las precisou usar de sua astúcia e esperteza, para também não se tornar rígida e acuada;

teve que buscar um equilíbrio entre o lado hostil do masculino e a suavidade e acolhimento do feminino. Somente uma espera ativa e com um sentido, atenção e determinação abrem possibilidades para se chegar à transformação.

Como relacionar a essência dessa tarefa – “saber esperar” – com o trabalho docente? Como equilibrar a força do masculino, do logos, da razão, com a sensibilidade e afetividade do feminino? Forças opostas que necessitam de um equilíbrio e que permeiam o cotidiano do professor.

A afetividade20 – seu papel e sua função – é muito estudada nas relações do ensinar e aprender, pois ela nasce na/da relação aluno-professor junto com outros componentes do funcionamento psicológico de ambos. Para poder emocionar-se (e vivenciar processos afetivos) há que se ter construído indicadores ao longo da história de vida de cada indivíduo,

20 Afetividade: refere-se à capacidade, à disposição do ser humano de ser afetado pelo mundo externo e interno por meio de sensações ligadas a tonalidades agradáveis ou desagradáveis. Tendo como apoio a teoria de Henri Wallon, há três momentos marcantes e sucessivos, na evolução da afetividade: emoção, sentimento e paixão. Os três resultam de fatores orgânicos e sociais e correspondem a configurações diferentes e resultantes de sua integração: nas emoções, há o predomínio da ativação fisiológica; no sentimento, da ativação representacional;

na paixão, ativação do autocontrole (ALMEIDA & MAHONEY, 2007, p.17).

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inseridos no contexto sociocultural do mesmo; “há que se ter também memória, pensamento, imaginação, planejamento, conhecimento, linguagem, conceitos, significados, sentidos, percepção, atenção” (OLIVEIRA e REGO, in ARANTES, 2003, p.32). Portanto, são componentes das funções psicológicas superiores (fenômenos internos) que se aliam às situações vivenciadas no meio cultural (fenômenos externos) e que são responsáveis pela constituição biopsicossocial do sujeito (características da abordagem vygotskyana – uma das trilhas seguidas para esta pesquisa e explicitada anteriormente).

Assim, nesta tarefa, importante é relacionar estes sentimentos opostos, mas que convivem dentro do sujeito e que afloram de maneira muito significativa nas questões da aprendizagem, pois se não forem bem equilibrados trazem conseqüências negativas tanto para aquele que ensina, como para aquele que aprende.

Ao se trabalhar com a pessoa do professor, seu ser total, busca-se desvelar toda sua competência criadora que, através de técnicas expressivas mobilizadas nas oficinas, convocam para a “participação do Ser inteiro nas vivências e que tornam a elaboração simbólica na Psicologia e na Pedagogia uma atividade existencial global” (BYINGTON, 1996, p.47). É neste sentido que se percebe o valor significativo do trabalho de (auto)formação do professor apoiado em Oficinas de Sensibilização, tendo ainda como suporte o estudo do Mito como elemento mobilizador.

Feitas essas breves considerações sobre a importância da segunda tarefa e de seus reflexos nas questões da Pedagogia, voltemos à nossa história e continuemos a explorá-la quanto à sua riqueza simbólica.

Nesta tarefa, quem ajuda Psiquê é o caniço verde, planta aquática associada às águas profundas e que traz a qualidade da flexibilidade, aconselhando-a a ter paciência e aguardar o momento oportuno para poder tirar a lã das ovelhas que estão muito agressivos. Eles representam o lado tirânico do masculino que dificulta a confrontação com o feminino e exige a castração simbólica, significando a perda da força, da energia que o encontro pode gerar.

Somente com o conselho do caniço é que a jovem passa a confiar mais em si, conseguindo resistir a essa tendência.

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Quantas vezes o professor já não teve que se deparar com essas forças destruidoras que vieram ou de uma instituição eminentemente patriarcal que castrava e podava todos que contra ela se insurgissem ou com uma classe formada por alunos que apresentavam uma postura extremamente agressiva e ele se viu obrigado a fazer um exercício de flexibilidade, buscando não ceder a essa força, mas se impor com outra qualidade na relação?! Quantas ovelhas soltas não se encontram no cotidiano da escola... e para poder domá-las precisa-se fazer uso da energia e astúcia do caniço, sabendo esperar com sabedoria a hora do enfrentamento!

Outro elemento simbólico dessa tarefa é o fogo, que não traz necessariamente a idéia da morte, mas da transformação, da imaginação abrindo espaço para a criatividade, imprescindível quando se quer adotar uma postura que fuja do óbvio, do comum. O concentrar-se nas chamas do fogo nos conduz ao mistério, ao fantástico, ao mundo das possibilidades abrindo canais para o pensamento intuitivo. É um contato cuidadoso e paciente que queima e transforma, sem precisar destruir!

Nesta tarefa, a proposta para a atividade artística teve como objetivo trabalhar com o significado simbólico dessa transformação – fogo da vela queimando o giz de cera derretido, em que o exercício da transformação e criação ficava registrado no CD.

Durante a realização da segunda tarefa, pôde-se observar a concentração das professoras ao realizar a tarefa, envolvidas cada uma em sua criação, deixando a sala de aula tomada por um silêncio que dizia: “Estamos criando! Estamos entrando em contato com essa energia que, ao mesmo tempo em que intimida nos encanta e leva à transformação!”.

Entretanto, ao término da atividade e, de maneira diferente da primeira tarefa, não houve interesse imediato pela partilha... a vivência acabou abrindo um momento em que a introspecção, o estar voltado para si próprias, movimento alimentado pela energia do fogo não trouxeram um compartilhar as sensações de maneira tão ampla quanto a tarefa anterior. A profundidade da vivência tocou o íntimo de cada professora e ali ficou, como que sendo cuidada para aflorar em outro momento... com toda a força da reflexão/transformação.

Os depoimentos que trouxeram a categoria subjetividade foram:

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O masculino e o feminino devem estar junto suave... (Gabriela)

Gostei muito de fazer a tarefa... o movimento do giz de cera me deixou tranqüila... me fez pensar por que o forte é o masculino? E o suave o feminino? Às vezes o homem é o laranja... em um único di

reflito muito a minha prática... por que não deu certo determinada atividade?! Teria um outro jeito de fazer? Para mim é uma reflexão... não uma cobrança! (Eliane)

Também as categorias afetividade e ansiedade se fizeram presentes durante a vivência:

A espera é difícil... ficamos muito entre a razão e a emoção. Sou ansiosa... o aluno tem que dar um resultado e não dá! Temos que chegar perto do nosso aluno via

portanto, não aos extremos! (Katia)

O masculino e o feminino devem estar juntos... sem força, não conseguiremos ser

Gostei muito de fazer a tarefa... o movimento do giz de cera me deixou tranqüila... me fez pensar por que o forte é o masculino? E o suave o feminino? Às vezes o homem é o laranja... em um único dia podemos passar por todas as cores!!! Trabalhar a espera...

reflito muito a minha prática... por que não deu certo determinada atividade?! Teria um outro jeito de fazer? Para mim é uma reflexão... não uma cobrança! (Eliane)

Foto 8 – Segunda tarefa concluída.

afetividade e ansiedade se fizeram presentes durante a vivência:

A espera é difícil... ficamos muito entre a razão e a emoção. Sou ansiosa... o aluno tem que dar um resultado e não dá! Temos que chegar perto do nosso aluno via

portanto, não aos extremos! (Katia)

s... sem força, não conseguiremos ser

Gostei muito de fazer a tarefa... o movimento do giz de cera me deixou tranqüila... me fez pensar por que o forte é o masculino? E o suave o feminino? Às vezes o homem é a podemos passar por todas as cores!!! Trabalhar a espera...

reflito muito a minha prática... por que não deu certo determinada atividade?! Teria um outro jeito de fazer? Para mim é uma reflexão... não uma cobrança! (Eliane)

afetividade e ansiedade se fizeram presentes durante a vivência:

A espera é difícil... ficamos muito entre a razão e a emoção. Sou ansiosa... o aluno tem que dar um resultado e não dá! Temos que chegar perto do nosso aluno via afeto...

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Estou com o terceiro ano e algumas coisas me preocupam... aluno que trava. Por exemplo, prova de matemática, e eu achei que eles já tinham entendido tudo... fiquei preocupada, me coloquei no lugar deles e tive que voltar atrás... retomei tudo novamente... fiquei me sentindo melhor! (Eliane)

Para mim foi muito difícil essa tarefa... não deu certo e eu fiquei super aflita, fiz um trabalho que não teve muito significado para mim naquele momento porque eu fiquei super ansiosa e não consegui me desenvolver muito bem... associando essa tarefa com minha vida profissional, pensar no meu dia-a-dia eu costumo me preparar, mas eu penso nas coisas diversas que podem acontecer, né? Como agora que eu não consegui fazer como queria... a ansiedade, trabalhar essa coisa da ansiedade que eu fico quando tem alguma coisa nova para mim é bem complicado... eu acho que essa tarefa me fez refletir bastante sobre isso... sobre minha ansiedade. Também é difícil eu trabalhar a questão da espera... esperar não é fácil... é difícil! (Mônica)

Para mim essa tarefa da espera é muito difícil... algo me aflige! Como compreender?

Questão de conteúdo, procedimental, não se pode esperar tanto! (Paula)

Tendo novamente como suporte o continuum das atividades expressivas, observou-se com essa tarefa que o nível sensório-motor foi o desencadeador para um foco maior no perceptual- afetivo. O estilo perceptivo representado pela forma, para algumas professoras, acabou contribuindo para a reflexão de configurações simbólicas que fugiram ao controle, não saindo da maneira como efetivamente elas queriam que ficasse. Ao se exercitar a “distância reflexiva”21 o fator afetivo foi direcionado pelo envolvimento no fazer a atividade e se manifestou na observação/percepção dos movimentos implícitos para a realização da proposta.

Constatou-se com essa tarefa que, embora os depoimentos tivessem vindo em menor quantidade, a atividade em si foi mobilizadora para questionamentos apoiados no meu diário de bordo que marcaram como é difícil se lidar, no cotidiano da prática escolar, com os temas suscitados pela história. Como é difícil lidar com as questões da agressividade, do equilíbrio

21 Distância reflexiva: no trabalho baseado no continuum das terapias expressivas, é a distância cognitiva entre a experiência artística e a reflexão do sujeito sobre tal experiência. A distância reflexiva vai propiciar orientação cognitiva às experiências motoras e afetivas.

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entre razão e emoção, amor e agressão entre demandas vindas da instituição (escola e família) e da realidade concreta da sala de aula!

Quando se efetiva uma relação de convivência baseada no amor, há um respeito e legitimação pelo outro/parceiro que convive no mesmo espaço, mas quando surgem momentos de agressividade, essa convivência é rompida.

O amor é a emoção central na história evolutiva humana desde o início, e toda ela se dá como uma história em que a conservação de um modo de vida no qual o amor, a aceitação do outro como legítimo outro na convivência, são uma condição necessária para o desenvolvimento físico, comportamental, psíquico, social e espiritual normal da criança, assim como para a conservação da saúde física, comportamental, psíquica, social e espiritual do adulto (MATURANA, 2005, p. 25).

Finalizando neste momento a análise da segunda tarefa que Psiquê teve que realizar para resgatar Eros, torna-se pertinente terminar com uma reflexão sobre a função da consciência trabalhada – intuição. Dentro da linha da Psicologia Analítica, a esta função associa-se o uso do imaginário, na busca do que transcende o aqui e agora, possibilitando lidar com novas possibilidades de sentir, criar e ser no mundo. Nada como a simbologia do fogo para mobilizar esse poder de transformação quando, ao mesmo tempo em que pede cuidado, exige o exercício da espera – cuidadosa e conscienciosa – impulsionada para a transformação!

Movimentos contraditórios que exigem certa dose de atenção e flexibilidade...

E... pensando-se nos elementos simbólicos apresentados nesta tarefa, insere-se, um momento de poesia que tão bem traz o significado do caniço verde, representado pelo Salgueiro:

A árvore não sabe se esquivar, mas se inclinar.

Tornou-se, assim,

mais numerosa que o homem.

O homem é esquivo, incerto.

O medo, mais que a coragem, o faz correr.

A árvore não sabe fugir... ela é obrigada a enfrentar todos os ventos.

Ao enfrentá-los, torna-se ainda mais enraizada e se vê obrigada a crescer, então, não é arrancada.

Ela, no entanto, se inclina, não afronta as intempéries como se fosse um muro.

Maleável, sabe se adaptar, Assim não é destroçada.

O homem, se quiser viver inúmeros e intensos anos, deve desenvolver em si esta estabilidade tenaz

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(desenvolver seu centro) e essa docilidade face ao real, saber inclinar-se diante dele (desenvolver sua inteligência).

Se alguma dessas virtudes lhe faltar, o medo o invadirá, a vaidade o destroçará.

Jean-Yves Leloup

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TERCEIRA TAREFA

E Afrodite ordenou a terceira tarefa, ainda mais perigosa que as outras duas!

A sogra entregou a Psiquê um vaso de cristal e mandou que ela subisse num rochedo totalmente íngreme. Ela deveria encher esse vaso numa fonte, guardada, dos dois lados, por perigosos dragões, que ficavam bem no pico do rochedo.

Quando a princesa aproximou-se do local, ficou sem ação. O rochedo era escorregadio e, mesmo que conseguisse nele subir, os dragões a matariam. Definitivamente, tarefa impraticável! Nem chorar Psiquê conseguia, estava sem forças.

Entretanto...

Há algum tempo, Eros havia ajudado a águia de Zeus. Ela lhe devia um favor.

Quando viu que o amor de Eros estava em apuros, resolveu ajudá-la.

Pegou o vaso de suas mãos. Abrindo suas imensas asas, passou rapidamente por entre os dentes ferozes dos dragões, equilibrando-se de maneira ágil. Encheu o vaso de água e o entregou a Psiquê. A esposa não podia acreditar no que estava acontecendo!

Voltou feliz para o palácio e entregou a água à malvada sogra. Desta vez, Afrodite pensou: “Isto não pode ser coisa de Eros. É pura magia e bruxaria. Mas ela não escapará da quarta tarefa.”

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TERCEIRA TAREFA

Exercício: conter a essência.

Elemento da natureza: ar.

Elemento simbólico: águia

Função da consciência: pensamento.

Preparando um novo cenário...

Material: tinta a óleo, bacia com água, palitos de sorvete e folhas sulfite.

Sensibilização: trabalho de consciência corporal apoiado em músicas com sons fortes e fracos; tules das mais variadas cores. Movimentos individuais.

Proposta: as professoras (em duplas) deveriam sentar-se no chão e com a bacia com água como suporte, brincar de pingar tinta na água e ficar explorando visualmente as imagens que iriam se formando. Em um primeiro momento, foi um exercício puramente sensorial, onde a dupla buscava capturar imagens que lhes eram significativas, sem nenhuma outra intenção.

Quanto mais imagens eram capturadas, mais rica a experiência.

Depois de um tempo em que as professoras se entregaram à proposta, sugeri algumas questões que serviriam de fundo para a reflexão da atividade. Algumas questões seguem abaixo:

• Em que momentos de sua vida pessoal se percebe tendo o olhar da águia?

• E na vida profissional, quando exercita esse olhar? É fácil? Quais seriam as situações impeditivas e, ao contrário, as facilitadoras?

• Já viveu momentos em que, embora tendo planejado suas ações, não conseguiu chegar até seus objetivos? É como se deixar levar, fluir pelas situações, perdendo-se do seu foco... Como se sentiu com essas experiências e, hoje, o que faria para alterar esses fatos?

Para o encontro seguinte, (aguardou-se a secagem das folhas) a atividade continuou com a seguinte proposta: com as imagens que foram criadas e, nesse momento, em um trabalho individual, cada professora deveria escolher uma das folhas que tivesse a representação mais

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significativa para ela e, a partir daí, fazer uma dobradura, buscando exercitar o olhar de águia para perceber, dentro daquela mistura indiferenciada de cores, linhas e movimentos o que daria para confeccionar de maneira figurativa. É a função da consciência pensamento que surge para buscar um sentido naquilo que está confuso e que precisa ser organizado.

Depois de Psiquê ter aprendido a discriminar suas necessidades e cooperar com as necessidades alheias, agora o desafio consiste em adquirir a “visão” (representada pela águia) para conseguir alcançar o que deseja. A jarra cheia e o elemento ar também dizem respeito à discriminação, entretanto surgem mais relacionados ao atributo da concentração nos detalhes, à possibilidade de aprender a analisar a situação em perspectiva e de maneira objetiva (ANGWIN, 1994).

Trazer a água da fonte é uma variante da água da vida, quer dizer, daquilo que se necessita efetivamente para uma realização maior, não importando a qualidade da água, mas sim, a habilidade para se obter aquilo que é fundamental para viver.

Captar a água dessa fonte também simboliza, na análise de Neumann (1995), capturar o fluxo da energia vital, representada pelo movimento eterno e pela contínua mudança. Justamente por não poder ser contido, torna-se uma qualidade essencial desse fluxo e Psiquê, apresando a água na jarra de cristal, exercita uma das tarefas do feminino – a contenção daquilo que é essencial, dando-lhe unidade e forma, sem ser destruída por essa energia.

Surge para auxiliá-la, nesta tarefa, a águia que representa o símbolo espiritual que pertence a Zeus e ao âmbito do dar, a ela sendo dada as honras da rainha das aves, encarnação, substituto ou mensageiro da mais alta divindade uraniana e do fogo celeste e sendo a ela atribuída, também, muitos outros elementos simbólicos relacionados ao local onde ela surge (CHEVALIER e GHEERBRANT, 2002).

Para esta história, a águia surge como a responsável pela visão detalhada do fato, aliada à razão que vem do masculino, do logos analisando a situação com o olhar mais atento e focado na essência para resolvê-la.

Na primeira tarefa, colaboraram forças instintivas da natureza – as formigas – que ajudaram separando e ordenando os grãos; na segunda tarefa Psiquê – orientada pelo caniço – soube

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esperar o momento do entardecer para recolher os flocos de lã das ovelhas agressivas, sem ser atacada por elas; já nessa terceira tarefa – com o auxílio da águia – Psiquê consegue segurar a jarra de cristal, podendo simbolizar que está mais amadurecida através desses desafios, uma vez que aliou à força do princípio masculino (o olhar que sabe e compreende o porquê de resgatar o principal para a realização da tarefa), a sabedoria do feminino, no sentido de conter e dar forma ao fluxo vital representado pela água. Embora ela tenha sido ajudada por animais (que representaram a força instintiva que no ser humano), ela foi ativa no sentido de resgatar, de dentro de si, coragem suficiente para se colocar em movimento e poder realizar, através de um ato criativo, as tarefas que lhe foram determinadas por Afrodite. Portanto, somente a ela cabem os louros das conquistas, uma vez que não se deixou abater pelos desafios a ela impostos.

Neumann (1995, p.86), ao se aprofundar na análise desse Mito, apresenta como um dos dados mais surpreendentes no desenvolvimento de Psiquê o fato de que “é um desenvolvimento para a consciência que também sempre se completa com a consciência.”

Como relacionar essa tarefa com a atividade docente? O quê no trabalho do professor poderia se caracterizar por “conter a essência”? Seria uma atuação em sala de aula com uma didática que motivasse os alunos e os instigassem para irem à busca de novos conhecimentos? Seria estimular seus alunos na assunção de suas competências e, para tal, o professor deveria, também, mostrar sua competência em relação ao domínio do conteúdo, à maneira como se vincula com seus aprendizes, à maneira como instiga o pensamento reflexivo quando elabora as avaliações? Seria refletir sobre a prática e torná-la uma ferramenta da consciência política e pedagógica do educador? Enfim, teríamos várias possibilidades/alternativas para se pensar o quê no ofício de ser professor seria “conter a essência”!

Algumas reflexões de professoras após a vivência:

Bom... como eu já tinha falado, a tarefa foi bem mais fácil... foi muito gostosa... a Eliane era a minha dupla... a gente se envolveu muito... não queríamos parar... e eu acho que essa coisa do focar o meu olhar em algo, focar no meu objetivo deve ser uma atitude constante do professor... (Paula)

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Eu gostei muito dessa experiência... acho que o meu grupo todo... rs... a gente curtiu muito a atividade... foi muito gostoso... antes trabalhamos com os tules e, para mim, eu consegui focar mais com o tecido do que com a água porque como estávamos em grupo, então eu fique mais ali na brincadeira... (Mônica)

Eu gostei bastante... não queria p

nós pingávamos a tinta para ver se formava alguma coisa, mas quando a gente colocava no papel não era o que a gente esperava que saía! (Erica)

Efetivamente, a atividade art

fluidez, de soltura e expansão, abrindo espaços para o lúdico, para a brincadeira e foi exatamente o que aconteceu nesse momento da oficina.

muitos risos e alegria, gerando um ambiente de descontração... o mesmo ambiente que o professor, em sala de aula, em alguns momentos deve oferecer.

Significativos os registros das experiências das professoras... surge mais um:

Eu gostei muito dessa experiência... acho que o meu grupo todo... rs... a gente curtiu ito a atividade... foi muito gostoso... antes trabalhamos com os tules e, para mim, eu consegui focar mais com o tecido do que com a água porque como estávamos em grupo, então eu fique mais ali na brincadeira... (Mônica)

Eu gostei bastante... não queria parar mais... será que tem mais folhas?... e no começo nós pingávamos a tinta para ver se formava alguma coisa, mas quando a gente colocava no papel não era o que a gente esperava que saía! (Erica)

Foto 9 – Terceira tarefa.

Efetivamente, a atividade artística quando permite trabalhar com a água, gera uma energia de fluidez, de soltura e expansão, abrindo espaços para o lúdico, para a brincadeira e foi exatamente o que aconteceu nesse momento da oficina. Meu olhar registrou momentos de ria, gerando um ambiente de descontração... o mesmo ambiente que o professor, em sala de aula, em alguns momentos deve oferecer.

Significativos os registros das experiências das professoras... surge mais um:

Eu gostei muito dessa experiência... acho que o meu grupo todo... rs... a gente curtiu ito a atividade... foi muito gostoso... antes trabalhamos com os tules e, para mim, eu consegui focar mais com o tecido do que com a água porque como estávamos em

arar mais... será que tem mais folhas?... e no começo nós pingávamos a tinta para ver se formava alguma coisa, mas quando a gente colocava no papel não era o que a gente esperava que saía! (Erica)

ística quando permite trabalhar com a água, gera uma energia de fluidez, de soltura e expansão, abrindo espaços para o lúdico, para a brincadeira e foi registrou momentos de ria, gerando um ambiente de descontração... o mesmo ambiente que o

Significativos os registros das experiências das professoras... surge mais um:

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