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VÍCIO DE CONSENTIMENTO AUSÊNCIA

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Órgão 6ª Turma Cível

Processo N. Apelação Cível 20071010057684APC Apelante(s) D. C.

Apelado(s) A. S. C. rep. por M. G. S.

Relator Desembargador JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA

Revisora Desembargadora ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO

Acórdão Nº 565.160

E M E N T A

DIREITO CIVIL. NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. ANULAÇÃO DE REGISTRO. VÍCIO DE CONSENTIMENTO AUSÊNCIA. PATERNIDADE SÓCIO-AFETIVA CARACTERIZADA.

I - O reconhecimento espontâneo da paternidade somente pode ser desfeito quando demonstrado vício de consentimento.

II - Não logrando comprovar o alegado vício de consentimento quando do registro de nascimento da criança, tampouco a ausência de vínculo afetivo entre as partes, julga-se improcedente a negatória de paternidade.

II - Negou-se provimento ao recurso.

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A C Ó R D Ã O

Acordam os Senhores Desembargadores da 6ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA - Relator, ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO - Revisora, JAIR SOARES - Vogal, sob a Presidência da Senhora Desembargadora ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO, em proferir a seguinte decisão: CONHECIDO. NEGOU-SE PROVIMENTO. UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 8 de fevereiro de 2012

Certificado nº: 11 43 BF 99 00 04 00 00 0C EF 13/02/2012 - 19:00

Desembargador JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA Relator

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R E L A T Ó R I O

Cuida-se de ação negatória de paternidade, proposta por D.C em face de A. da S. C., rep. por sua mãe M. da G. da S., a fim de que seja decretada a nulidade do reconhecimento da paternidade do menor, com pedido de averbação no registro civil.

O autor afirma, em síntese, que foi induzido a erro pela genitora da criança que, mesmo ciente da possibilidade de não ser ele o pai biológico do menor, não lhe informou sobre tal possibilidade, levando-o a registrar a criança como seu filho. Aduz que não houve formação de vínculo afetivo, pois, apesar de realizar o registro, não mantinha convivência em comum com a genitora.

Regulamente citado, o réu não ofertou contestação.

Pela sentença de fls. 310/318 o juiz julgou improcedente o pedido.

Inconformado, o autor recorre ao tribunal. Em suas razões, limita- se a afirmar que não é o pai biológico do réu e que é direito da criança conhecer sua verdadeira origem.

Recurso isento de preparo.

Contrarrazões às fls. 332/335.

A Procuradoria de Justiça opinou pelo não provimento do apelo.

É o relatório.

V O T O S

O Senhor Desembargador JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA - Relator

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

Os autos revelam que o apelante e a genitora do réu mantiveram relação afetiva durante dez anos. Quando do nascimento do menor, o autor o registrou como seu filho. No entanto, afirma que foi induzido a erro pela genitora da criança que, mesmo ciente da possibilidade de não ser ele o pai biológico do menor, não lhe informou sobre tal possibilidade. Aduz que não houve formação de vínculo afetivo, pois, apesar de realizar o registro, não mantinha convivência em comum com a genitora,

Inquestionável que o apelante não é o pai biológico do menor A.

da S. C, ante o laudo de exame de DNA juntado às fls. 139/145. Mas tal prova

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não é suficiente para afastar o vínculo paternal, assim como também não basta para anulação do registro de nascimento.

O reconhecimento voluntário de filhos tem natureza de ato jurídico stricto sensu, consoante dicção do artigo 185 da Lei Civil, sendo, por isso, irrevogável e irretratável. A sua invalidação somente pode ocorrer por força do reconhecimento de vício de consentimento do próprio autor do ato; por recusa do reconhecido; e quando contrário à verdade, por provocação de qualquer pessoa com justo interesse.

O acolhimento da pretensão do autor depende, portanto, da prova da ocorrência de algum dos vícios de consentimento. A prova desses vícios, no entanto, não se encontra nos autos.

Ao contrário, há prova acerca da voluntariedade e da regularidade do ato de reconhecimento da paternidade, conforme se infere pela declaração das testemunhas inquiridas em Juízo, cujos trechos principais estão a seguir transcritos:

...que na época da separação deles A. já havia nascido, que não tem conhecimento de que M. tenha se relacionado com outros homens enquanto se relacionava com D.;(...)que D. sabia que não era pai de A. quando o registrou;

que após a separação D. visitou A. por algumas vezes mas depois sumiu, que nunca ouviu dizer que D. dizer que A. não era seu filho (...); que M. lhe disse que A. não era filho de D. na época em que eles ainda moravam juntos.” (fls. 286).

...que é vizinho de M. da G.; que na época que mudou para Luziânia ela e D. C. moravam juntos (...); que na época da separação deles A. já havia nascido (...) que acredita que D. sempre . soube que não era pai de A.(...)”(287)

Conforme muito bem consignado na sentença:

“Portanto, mesmo ciente da situação, de forma deliberada e sem qualquer vício de consentimento, promovera o requerente o registro do requerido como se pai deste fosse, certamente tendo pleno conhecimento das conseqüências jurídicas decorrentes do ato praticado. E também, possivelmente o fez em vista da relação sócio-afetiva existente à ocasião conquanto não mais subsistente, diante do rompimento da relação amorosa com a mão do menor.”

Nesse contexto, é inviável a pretendida desconstituição de paternidade, pois o autor não logrou êxito em comprovar erro, falsidade do registro ou qualquer vício de consentimento apto a anular a declaração por ele prestada em cartório.

A propósito, destaco os seguintes precedentes:

“CIVIL. NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. ANULAÇÃO DE REGISTRO. VÍCIO DE CONSENTIMENTO NÃO CONFIGURADO.

PATERNIDADE SÓCIO-AFETIVA CARACTERIZADA. PREVALÊNCIA.

1. Se o autor não comprova o alegado vício de consentimento quando do registro de nascimento da ré, tampouco a ausência de vínculo afetivo

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entre as partes, incabível a pretensão de se desconstituir, passados mais de 17 (dezessete) anos, a paternidade a ele atribuída.

2. Recurso não provido.”1

DIREITO DE FAMILIA. CRIANÇA E ADOLESCENTE. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. INTERESSE MAIOR DA CRIANÇA. VÍCIO DE CONSENTIMENTO NÃO COMPROVADO. EXAME DE DNA. INDEFERIMENTO. CERCEAMENTO DE DEFESA. AUSÊNCIA.

- Uma mera dúvida, curiosidade vil, desconfiança que certamente vem em detrimento da criança, pode bater às portas do Judiciário?

Em processos que lidam com o direito de filiação, as diretrizes devem ser muito bem fixadas, para que não haja possibilidade de uma criança ser desamparada por um ser adulto que a ela não se ligou, verdadeiramente, pelos laços afetivos supostamente estabelecidos quando do reconhecimento da paternidade.

- O reconhecimento espontâneo da paternidade somente pode ser desfeito quando demonstrado vício de consentimento, isto é, para que haja possibilidade de anulação do registro de nascimento de menor cuja paternidade foi reconhecida, é necessária prova robusta no sentido de que o “pai registral” foi de fato, por exemplo, induzido a erro, ou ainda, que tenha sido coagido a tanto.

- Se a causa de pedir repousa no vício de consentimento e este não foi comprovado, não há que se falar em cerceamento de defesa ante o indeferimento pelo juiz da realização do exame genético pelo método de DNA.

- É soberano o juiz em seu livre convencimento motivado ao examinar a necessidade da realização de provas requeridas pelas partes, desde que atento às circunstâncias do caso concreto e à imprescindível salvaguarda do contraditório.

(...)

Recurso especial não conhecido.” 2

Além disso, a paternidade é reconhecida com lastro em vinculação sócio afetiva. Tem-se a hipótese de filiação sócio-afetiva como sendo aquela caracterizada pela função de pai desempenhada por quem acolhe como próprio filho de outrem.

No caso em apreço, a filiação sócio-afetiva chegou a se aperfeiçoar, uma vez que o apelante reconheceu o menor como filho em razão do convívio que manteve com este e a genitora da menor por dez anos, não se mostrando razoável a anulação do reconhecimento da paternidade.

A questão foi bem abordada no pronunciamento Ministerial exarado às fls. 347, verbis:

1 20100210027513APC, Relator CRUZ MACEDO, 4ª Turma Cível, julgado em 09/06/2010, DJ 29/06/2010 p. 133

2 REsp 1022763/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/12/2008, DJe 03/02/2009.

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“Insta destacar, ademais, que o registro de nascimento do menor foi realziado após mais de dois anos do anscimento da criança (documento de fl.

08) e que somente em julho de 2007, ou seja, quando a criança encontrava-se com mais de cinco anos de idade, o Apelante ajuizou a presente ação, o que evidencia a existência de relação sócio-afetiva entre as partes, uma vez que o Apelante reconheceu, livre e espontaneamente, a paternidade do menor e conviveu com este durante todo esse período mantendo uma relação de pai e filho.”

A propósito, dentre inúmeros, destaco os seguintes precedentes:

CIVIL. AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. ANULAÇÃO DE REGISTRO. AUSÊNCIA DE VÍNCULO GENÉTICO. VÍCIO DE CONSENTIMENTO NÃO CONFIGURADO. PATERNIDADE SÓCIO-AFETIVA CARACTERIZADA. PREVALÊNCIA.

1. Se o autor não comprova o alegado vício de consentimento quando do registro de nascimento da ré, tampouco a ausência de vínculo afetivo entre as partes, incabível a pretensão de se desconstituir, passados mais de doze anos, a paternidade a ele atribuída, a despeito da inexistência de vínculo genético entre o autor e a ré.

2. Recurso não provido.3

CIVIL. NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. ANULAÇÃO DE REGISTRO DE NASCIMENTO. IMPOSSIBILIDADE. RELAÇÃO SÓCIO- AFETIVA CONFIGURADA. INEXISTÊNCIA DE VÍCIO.

1. Tem-se, no caso em estudo, a hipótese de filiação sócio- afetiva, reconhecida como sendo aquela caracterizada pela função de pai desempenhada por quem acolhe como próprio filho de outrem.

2. O instituto do reconhecimento de paternidade importa em ato de vontade e se aperfeiçoa pela ausência de qualquer imposição ou constrangimento contra aquele que o pratica, revestindo-se dos caracteres de irrevogabilidade e irretratabilidade.

3. Havendo provas incontroversas da existência, entre Autor e Réu, de laços de afetividade suficientes para configurar um relacionamento entre pai e filho, ou seja, sócio-afetivo, não se mostra razoável a anulação do reconhecimento com base, apenas, nas alegações de que o relacionamento estaria abalado.

4. O Requerente, de forma livre, espontânea e consciente, reconheceu, como sendo próprio, filho que sabia ser de outrem, o que implica dizer não ser cabível a anulação do ato, pois não eivado de quaisquer dos vícios enumerados no artigo 171, inciso II, do Código Civil.

5. Apelo não provido 4.

3 20090310310314APC, Relator: CRUZ MACEDO, 4ª Turma Cível, julgado em 21/09/2011, DJ 13/10/2011 p. 93

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Registre-se, por fim, que o direito ao conhecimento da paternidade é conferida ao menor, sobre quem não pode recair o prejuízo derivado do ato praticado por pessoa que lhe ofereceu a segurança de ser identificado como filho por longo período. Permitir a desconstituição do reconhecimento da paternidade, nessa hipótese, representaria violação aos direitos que salvaguardam a dignidade da pessoa humana.

A propósito, como bem ressaltou o magistrado prolator da sentença recorrida:

“Entrementes, a dignidade da pessoa humana, especialmente do menor, prepondera sobre interesses exclusivos do falso pai, cujos interesses aqui são norteados de forma egoística, eis que não lhe é dado beneficiar-se da ilegalidade praticada. Não obstante, nada impede que o menor, quando alcançada a maioridade, proponha ação adequada, colimando esclarecimentos quanto à sua paternidade, já que estaria sujeito tão somente aos influxos transitórios do comportamento humano no relacionamento mútuo, o que não resulta de todo intolerável na situação de estado da pessoa, que tem natureza permanente.” (fls. 314).

Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso.

É como voto.

A Senhora Desembargadora ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO - Revisora

Conheço do recurso, presentes seus pressupostos.

No mérito, manifesta o apelante seu inconformismo ante o desate da improcedência de seu pedido, na ação negatória de paternidade.

Não se questiona, na espécie, a ausência de vínculo biológico, pois o resultado do exame do DNA foi certeiro no sentido da exclusão da paternidade.

Ocorre que a prova produzida convergiu para a demonstração da circunstância de que o apelante sabia que não era o pai do pequeno Arthur, quando o reconheceu como seu filho. Esse veio sendo o status familiae por cerca de dez anos.

Não há como se acolher, na espécie, a pretensão, pena de se admitir a invocação em proveito do recorrente de torpeza a que deu causa, pois nenhum vício inquinava sua vontade, quando procedeu ao reconhecimento, reatando um relacionamento com a genitora do recorrido em adiantado estado de gestação.

Direito civil. Família. Criança e Adolescente. Recurso especial.

4 20080710045550APC, Relator: FLAVIO ROSTIROLA, 1ª Turma Cível, julgado em 04/02/2009, DJ 16/02/2009 p. 91.

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Ação de anulação de registro de nascimento. Exame de DNA.

Paternidade biológica excluída. Interesse maior da criança.

Ausência de vício de consentimento. Improcedência do pedido.

- As diretrizes devem ser muito bem fixadas em processos que lidam com direito de filiação, para que não haja possibilidade de uma criança ser desamparada por um ser adulto que a ela não se ligou, verdadeiramente, pelos laços afetivos supostamente estabelecidos quando do reconhecimento da paternidade.

- A prevalência dos interesses da criança é o sentimento que deve nortear a condução do processo em que se discute de um lado o direito do pai de negar a paternidade em razão do estabelecimento da verdade biológica e, de outro, o direito da criança de ter preservado seu estado de filiação.

- O reconhecimento espontâneo da paternidade somente pode ser desfeito quando demonstrado vício de consentimento; não há como desfazer um ato levado a efeito com perfeita demonstração da vontade, em que o próprio pai manifestou que sabia perfeitamente não haver vínculo biológico entre ele e o menor e, mesmo assim, reconheceu-o como seu filho.

- Valer-se como causa de pedir da coação irresistível, por alegado temor ao processo judicial, a embasar uma ação de anulação de registro de nascimento, consiste, no mínimo, em utilização contraditória de interesses, para não adentrar a senda da conduta inidônea, ou, ainda, da utilização da própria torpeza para benefício próprio; entendimento que se aplica da mesma forma ao fato de buscar o “pai registral” valer-se de falsidade por ele mesmo perpetrada.

- O julgador deve ter em mente a salvaguarda dos interesses dos pequenos, porque a ambivalência presente nas recusas de paternidade é particularmente mutilante para a identidade das crianças, o que lhe impõe substancial desvelo no exame das peculiaridades de cada processo, no sentido de tornar, o quanto for possível, perenes os vínculos e alicerces na vida em desenvolvimento.

- A fragilidade e a fluidez dos relacionamentos entre os seres humanos não deve perpassar as relações entre pais e filhos, as quais precisam ser perpetuadas e solidificadas; em contraponto à instabilidade dos vínculos advindos dos relacionamentos amorosos ou puramente sexuais, os laços de filiação devem estar fortemente assegurados, com vistas ao interesse maior da criança.

Recursos especiais conhecidos e providos. (REsp 932.692/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/12/2008, DJe 12/02/2009)

ANTE O EXPOSTO, nego provimento ao recurso.

É como voto.

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O Senhor Desembargador JAIR SOARES - Vogal

Com o Relator.

D E C I S Ã O

CONHECIDO. NEGOU-SE PROVIMENTO. UNÂNIME.

Referências

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