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PROCESSO PRODUTIVO DO CIMENTO PORTLAND E SEUS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NA CIDADE DE MOSSORÓ

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PROCESSO PRODUTIVO DO CIMENTO PORTLAND E SEUS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NA CIDADE DE MOSSORÓ

Thales Rodrigo Ribeiro

1

, Regina Celia de Oliveira Brasil Delgado

2

Resumo: Com o crescimento populacional, também ocorre o aumento da demanda no setor de construção civil, exigindo matéria-prima para atender o mercado consumidor. Dentre os aglomerantes mais utilizados na construção, o cimento portland é considerado como principal commoditie mundial, sendo parte da matéria prima utilizada para sua fabricação obtida através da exploração de calcário. Diante disso, este trabalho teve o objetivo de analisar o processo produtivo da fabricação de cimento e retratar os possíveis impactos socioambientais, relacionados à atividade na região de Mossoró. O estudo foi realizado no período de janeiro a fevereiro de 2019, teve como base a realização de pesquisa qualitativa, através de visita e aplicação de questionários em empresa que explora calcário para produção de cimento e com moradores que residem nas proximidades da mesma. Com base nos dados obtidos verificou-se que o processo produtivo de cimento na região, agrega renda para a economia local, porém, gera impactos ambientais, como: poluição, alteração da paisagem, ruídos e doenças ocasionadas pela poeira. Finalmente, destaca-se que o potencial impactante da mineração e industrialização de bens minerais pode ser minimizado e controlado com o cumprimento de normas ambientais vigentes, possibilitando assim o crescimento econômico das regiões .

Palavras-chave: Construção Civil; Exploração; Rochas Calcárias.

1. INTRODUÇÃO

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, no período de 2017 e 2018, a população brasileira passou de 207.660.929 para 208.494.900 de habitantes, um crescimento de aproximadamente 0,82%, distribuídos entre 5.570 municípios do país. Nas projeções do IBGE à expectativa populacional para o Brasil em 2019, será de aproximadamente 210.000.000 de habitantes[1]. Logo, esse crescimento, impulsiona a demanda no setor da construção civil, exigindo, além de mão de obra especializada a extração de matéria-prima para atender as necessidades do setor.

A Associação Brasileira de Cimento Portland – ABCP ressalta que dentre os diversos materiais aglomerantes utilizados na construção civil, apresenta-se como principal commoditie mundial, o cimento Portland, que possui propriedades aglomerantes, aglutinantes ou ligantes e de acordo com as necessidades específicas da obra, pode ser utilizado como concreto[2].

O surgimento ininterrupto de inovações referentes a produtos e seu emprego na construção civil, representam consumo de 40% a 75% dos recursos naturais do planeta. Atualmente, o cimento possui proporção estratégica relacionada à sua produção e comercialização, destacando-se o fato do consumo de concreto perder somente para o de água[3].

A matéria prima utilizada para fabricação de cimento portland, consiste em carbonato de cálcio, sílica, alumínio e minério de ferro; tais compostos são obtidos através da extração de rochas calcárias e argila.

A exploração de rochas, mesmo tendo um papel primordial para o desenvolvimento da sociedade, assim como toda exploração de recursos naturais, provoca impactos ambientais e geração de resíduos[4].

No que se refere à exploração mineral, o Brasil encontra-se entre os países com maior abundância de minerais, possuindo grandes reservas mundiais de minério e ocupando posição dominante no mercado, com elevada diversidade de minerais metálicos e não-metálicos[5].

De acordo com o Mapa de Recursos Minerais do Estado do Rio Grande do Norte, a região de Mossoró- RN e proximidades, possuem como substância mineral principal o calcário, que apresenta as seguintes características: granulação fina a grosseira, esbranquiçados a bege, lajeados, compactos, conchíferos, fossilíferos e/ou afossilíferos, dominantemente calcíticos, frequentemente com alto grau de pureza, cujos teores de óxido de cálcio (CaO) são superiores a 53%, carbonato de cálcio (CaCO

3

) maior que 90% e óxido de magnésio (MgO) menor que 2%[6].

Com base em análise de dados do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), o perímetro de Mossoró, dispõe da maior reserva de calcário, tecnicamente comprovada do Brasil, onde existe aproximadamente 200 áreas propostas para exploração, evidenciando o interesse comercial de grandes indústrias de exploração no setor[7].

O calcário do Rio Grande do Norte é de boa qualidade e há muitos anos, empresas realizam investimentos na região, com a construção fábricas para exploração desse tipo de rocha[7]. As rochas que afloram no Rio Grande do Norte, correspondem a Formação Jandaíra da Bacia Potiguar.

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - UFERSA

CURSO DE BACHARELADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Trabalho de Conclusão de Curso 2018.2.

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A mineração está compreendida no setor primário da economia mundial, tendo destaque no desenvolvimento econômico, contribuindo de forma decisiva para o bem estar e qualidade de vida da população, produzindo aspectos sociais positivos e negativos, representando um setor de grande relevância para determinadas regiões[8].

Dentre as constantes interferências do homem no meio ambiente, realizadas no decorrer dos anos, a mineração é a que causa impactos mais significativos. Pois, além da alteração na área que está sendo minerada, também gera impactos nos seus arredores, onde é realizado a deposição de rejeitos do processo produtivo, podendo também ocorrer o armazenamento de substâncias químicas nocivas nesses locais[4].

Com a instalação de empreendimentos relacionados à mineração, além do desenvolvimento da localidade, urbanização, criação de novos empregos, crescimento econômico e condições mais dignas para população, também ocorre significativos impactos ambientais relacionados à atividade, como poluição, alteração de paisagens, biomas, adoecimento dos habitantes da região, entre outros[9].

Diante disso, o presente trabalho teve como objetivo, realizar análise do processo produtivo da fabricação de cimento e identificar os possíveis impactos socioambientais, relacionados à atividade na região de Mossoró- RN.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 Fundamentação Teórica

Analisando o setor de mineração em todo seu processo produtivo, fica evidente a frequência de impactos relacionados à saúde, como os associados a ruídos sobre pressão acústica e vibrações no solo, os associados à extração da rocha através do uso de explosivos, além de impactos ambientais referente à contaminação do ar, através de particulados suspensos pela atividade de lavra (extração de rochas e minerais), beneficiamento e transporte, ou pela emissão de gases provenientes da queima de combustíveis[10].

A expansão urbana descontrolada, com crescimento desordenado, gera um panorama crescente de conflitos sociais, pois auxilia a ocupação de áreas próximas a pedreiras, ocasionando o fenômeno de

"sufocamento" das mesmas[11].

Na atividade de lavra a céu aberto, destaca-se os maiores riscos de impactos ambientais, pois, devido ao maior aproveitamento do corpo mineral, ocorre uma produção maior de poeira em suspensão, vibrações e riscos de poluição dos corpos hídricos, necessitando a utilização de técnicas apropriadas para controle de poluição[12].

Nos quadros 01 e 02, encontra-se os principais aspectos e impactos ambientais das atividades realizadas no processo produtivo da mineração e da atividade de lavra a céu aberto, respectivamente[11].

Quadro 01 - Principais aspectos e impactos ambientais da atividade de processo produtivo da mineração[11].

ATIVIDADE ASPECTOS IMPACTOS

Descarregamento do minério Geração de poeira e ruído Poluição do ar e sonora, desconforto aos trabalhadores

Britagem da rocha

Geração de poeira e ruído

Poluição do ar e sonora, risco de doenças pulmonares e desconforto aos trabalhadores

Risco de acidentes Perdas de vida e materiais Consumo de energia Utilização de recursos naturais Vibração dos equipamentos Perdas de rendimento

Transferência de materiais

Perda de material Risco de acidente, conforme diâmetro do minério

Geração de poeira e ruído Poluição do ar e sonora, desconforto aos trabalhadores

Estocagem do produto

Geração de poeira, ruído e emissão de gases produzidos pelas máquinas

Poluição do ar e sonora, intoxicação por gases

Perdas de material Contaminação das águas superficiais e

assoreamento de córregos próximos

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Quadro 02 - Principais aspectos e impactos ambientais da atividade de lavra a céu aberto[11].

ATIVIDADE ASPECTOS IMPACTOS

Decapeamento, envolvendo remoção da cobertura superficial, deterioração da cobertura vegetal e formação de pilhas de solo.

Erosão, movimentação de terra e assoreamento de córregos, alteração da paisagem, flora e fauna locais.

Esgotamento de recurso natural Afugento da Fauna

Modificação e destruição da vegetação

Perfuração de Bancadas

Geração de ruído e poeira

Poluição sonora

Perturbação da vizinhança e exposição ocupacional dos trabalhadores

Utilização de EPI's e EPC's

Diminuição dos riscos de acidentes e da exposição ocupacional dos trabalhadores

Carregamento dos furos com explosivos

Possibilidade de acidentes Explosão, risco de vida Bom conhecimento geológico

estrutural da jazida e da área de exploração

Redução de impactos ambientais

Treinamento e capacitação dos

técnicos Redução de risco de acidentes

Desmonte das bancadas com detonação dos explosivos

Geração e propagação de ondas sísmicas no terreno e no ar (vibração e sobrepressão atmosférica)

Risco de danos a construções civis e risco a vida humana

Geração de ruído, fumos e gases

Poluição sonora

Desconforto a população e risco de incidentes e intoxicação

Escorregamento de taludes fora do

setor de desmonte Risco de acidente Dimensionamento correto de cargas

explosivas e dos parâmetros do plano de fogo (perfuração, carregamento, amarração dos furos, limpeza da face, tempos de retardo, etc.)

Redução das vibrações e da sobrepressão atmosférica, não ocorrência de ultralançamentos, diminuição dos gases, além do fraturamento ideal da rocha

Armazenamento de explosivos e acessórios de detonação

Risco de explosão Perdas materiais e vidas, poluição do ar

Eficiência no armazenamento Redução de riscos de acidentes

Monitoramento ambiental

Controle dos níveis de poluição respeitando aqueles estabelecidos pelas normas técnicas legais

Redução das emissões, minimização dos impactos potenciais

Carregamento e transporte do minério até britagem

Geração de poeira, ruídos e emissão de gases

Poluição do ar e sonora: desconforto aos trabalhadores

Vazamento de óleos, combustíveis e graxas

Comprometimento do solo e das águas superficiais

Evidenciando o significativo potencial impactante sobre população e meio ambiente, visando minimizar uma imagem exclusivamente destrutiva do setor, a extração mineral deve ser analisada abordando todo o processo produtivo, com ênfase no progresso tecnológico, no controle, na recuperação e políticas ambientais que minimizem seus impactos[13].

Em minas a céu aberto, próximo de habitações, vilas, fábricas, entre outros, a NRM-16, determina a

definição dos perímetros de segurança e métodos de monitoramento, onde devem ser apresentados no Plano de

Lavra ou quando exigidos, a critério do Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM. Necessita-se

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adotar técnicas e medidas de segurança no planejamento e execução do desmonte de rocha com o uso de explosivos, tendo como finalidade, evitar o lançamento de fragmentos de rocha, além dos limites de segurança.

Também exige a realização constante do monitoramento de vibrações no solo e ruído, decorrentes de detonações, nas obras civis próximas ao local[14].

Em todo o processo de exploração, a NRM-09, estabelece medidas que devem ser adotadas, para redução e controle da poeira mineral, necessitando a disponibilidade de água em condições de uso, para realizar a umidificação dos postos de trabalho, onde rocha ou minério estiver sendo perfurado, cortado, detonado, carregado, descarregado ou transportado[14].

2.2 Materiais e Métodos

O trabalho teve como base pesquisa qualitativa, realizada através de visita e aplicação de questionário em uma fábrica de cimento, sediada na região de Mossoró-RN, e entrevista realizada com moradores que residem nas proximidades da empresa. O município (Figura 01) situa-se na mesorregião Oeste Potiguar e na microrregião Mossoró, onde abrange uma área de 2100 km², limitando-se entre os municípios de Tibau, Grossos, Areia Branca, Serra do Mel, Açu, Upanema, Governador Dix-Sept Rosado, Baraúnas e o Estado do Ceará[15].

Figura 01. Localização da região de Mossoró. (Adaptado de IBGE [16]).

Segundo dados do IBGE, Mossoró possuía em 2018, uma população estimada de aproximadamente 294.076 habitantes [1], com densidade demográfica de aproximadamente 140,08 hab/km².

2.2.1 Etapas Realizadas

Primeiramente foram realizadas pesquisas bibliográficas com intuito de obter informações referentes à temática, posteriormente, foi realizada visita in loco em uma fábrica de cimento da região de Mossoró, com objetivo de agregar informações sobre o processo produtivo do cimento e colher dados com especialistas, que realizam a atividade. Também foram colhidas informações, referente aos aspectos ambientais e relacionadas à exploração do calcário na região. Com intuito de agregar maiores conhecimentos sobre o aspecto social, foi realizada a aplicação de um questionário destinado aos moradores que residem nas proximidades da empresa, visando obter informações a respeito da influência das atividades da empresa em seu cotidiano.

Vale ressaltar que conforme solicitado pela empresa e pelos moradores que participaram da pesquisa, os mesmos terão sua identidade preservada.

O questionário do Apêndice A foi aplicado no dia 30 de Janeiro de 2019, durante a visita a fábrica de cimento. Foram abordadas dezessete (17) questionamentos, associados ao quantitativo de funcionários que atuam na empresa, processo de extração do calcário, características da rocha explorada, período de exploração da jazida, processo produtivo da fabricação de cimento, capacidade máxima de produção, geração de possíveis resíduos, destino e estudo referentes ao aproveitamento dos mesmos, bem como, questões relacionadas aos impactos ambientais e medidas preventivas relacionadas aos mesmos, entre outras.

O questionário do Apêndice B foi aplicado no mês de Fevereiro de 2019, aos moradores da comunidade situada a aproximadamente 1 km da empresa de cimento, foram abordadas questões sobre a influência da fábrica em seu cotidiano, relacionadas à poluição do ar, nível de ruídos, tráfego de veículos da empresa, além de problemas de saúde relacionados à poeira.

Confrontar os dados obtidos in loco com a literatura foi de fundamental importância para discutir a

temática.

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2.3 Resultados e Discussões 2.3.1 Visita à empresa

No âmbito da empresa, o Engenheiro de Segurança do Trabalho se encarregou da recepção. Inicialmente foi realizada a apresentação da empresa, junto ao seu histórico, onde foi informado que a mesma foi fundada em 1972 e atua no ramo de exploração de calcário e fabricação de cimento a 47 anos, produzindo atualmente cerca de 2800 toneladas/hora de clínquer, com capacidade máxima de aproximadamente 3500 toneladas/hora, sendo responsável pelo abastecimento do mercado consumidor de Mossoró, Natal e Fortaleza.

De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento, no país, as vendas de cimento no mercado interno totalizaram 4,5 milhões de toneladas em janeiro de 2019, representando um crescimento de 4,2% em comparação a janeiro de 2018[17].

Apesar de não ter sido autorizado visita a área de exploração, foi possível assistir uma palestra e acompanhar externamente o processo produtivo realizado pela empresa.

Referente ao processo produtivo, o calcário sai da área de extração e passa em seguida pela britagem, pré- homogeneização, moagem a cru, homogeneização, queima, mistura, moagem do cimento, estoque e ensacamento. O setor de fabricação opera em turnos contínuos (manhã, tarde e noite) e no setor administrativo são dois (02) turnos (manhã e tarde).

2.3.2 Dados obtidos junto a empresa

De acordo com o Departamento de Recursos Humanos, a empresa gera atualmente, cerca de 260 empregos diretos na região, e indiretamente estabelece oportunidade através de prestadoras de serviços e da compra de insumos, como a argila, do município de Assú e minério de ferro, do município de Lajes.

De acordo com o geólogo a extração do calcário ocorre em uma jazida situada a aproximadamente 4 km da fábrica. A lavra é a céu aberto e a extração ocorre com uso de explosivos. Inicialmente ocorre o processo de decapagem, onde a camada de área agricultável é retirada e posteriormente utilizada em outro ambiente para recuperação de áreas degradadas da própria empresa. Em seguida, a rocha é perfurada e ocorre o preenchimento dos orifícios com cargas explosivas (bananas de dinamite e pólvora granular), a quantidade de explosivos está relacionada às dimensões de fragmentação pretendida, blocos de aproximadamente 1 metro, no caso da empresa.

A detonação é realizada por 2 blasters (encarregados da utilização dos explosivos). A altura das bancadas exploradas é de dez metros, após essa altura, ocorre uma maior incidência de óxido de magnésio na rocha, maléfica ao cimento, devido a expandir a massa, causando trincas e fissuras na estrutura.

A jazida onde ocorre a extração vem sendo explorada a 47 anos, desde a fundação da fábrica. As principais características da rocha calcária da região são: compacta, irregular, de dureza média e pulverulenta (característica relacionada a exposição do calcário ao intemperismo).

Segundo a engenheira química da empresa, ainda no período de mineração, ocorre o recolhimento de amostras de rocha de 2 cm, para ensaios de titulação ácido base, como forma de determinar o percentual de carbonatos de cálcio e magnésio e possibilitar a homogeneização do calcário.

O processo produtivo é realizado em três áreas distintas:

- Área de mineração: a proximidade entre a jazida e a fábrica, tem como finalidade, baratear os custos do processo produtivo. Nas jazidas após o calcário ser extraído é transportado para fábrica.

- Área de clínquer: na fábrica ocorre quebra das rochas, primeiramente no britador de mandíbula, onde ocorre a britagem primária do calcário, em tamanhos de aproximadamente 12 cm, posteriormente, ocorre o transporte do material, através de esteiras para britagem secundária, onde o britador martelo reduz o calcário à brita.

Em seguida, ocorre a pré-homogeneização, onde é realizado análise para padronização do calcário.

Dependendo do local de extração, as rochas possuem percentuais distintos de carbonato de cálcio e óxido de magnésio. Os parâmetros de fabricação utilizados são de aproximadamente 85% de carbonato de cálcio e 3% de óxido de magnésio.

Posteriormente, ocorre a moagem do calcário (90% da mistura), da argila (8% da mistura) para correção da sílica da mistura (extraída de Jazidas de Assú) e do minério de ferro (2% da mistura) para correção do ferro da mistura (extraído das Jazidas de Lajes), realizada no moinho de cru. A moagem é realizada pelo impacto de esferas de aço e essa mistura moída é denominada de farinha. Em seguida a farinha é encaminhada para o separador dinâmico, cuja finalidade consiste no retorno de possíveis torrões para remoagem, indo posteriormente para os silos.

A próxima etapa consiste na queima da farinha, o forno possui cerca de 54 metros, com temperatura de aproximadamente 1400º C, realizando o processo de queima em 7 minutos, o produto obtido é denominado de clínquer. O combustível utilizado no forno é basicamente o Coque Verde de Petróleo (CVP) ou Líquido da Casca de Caju (LCC). Após resfriamento do clínquer é realizado a mistura de acordo com o tipo de cimento que será fabricado.

Na empresa, são fabricados somente dois (02) tipos de cimento, o CPIIZ composto por uma mistura de

clínquer, pozolana e gesso (responsável pelo tempo de pega do cimento) e o CPIV com a mesma composição,

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porém, com maior percentual de pozolana (de 15% a 50%). Em seguida, toda mistura é moída novamente, no moinho de cimento e posteriormente encaminhada para os silos de cimento, onde é realizado o estoque do material.

- Área de ensacamento: ocorre a última etapa do processo, onde após análises e confirmação de padronização do produto, com as normas vigentes é realizado o ensacamento do cimento.

Nas questões relacionadas ao meio ambiente, o responsável pela visita afirmou que a empresa atua a 25 anos recuperando área degradada, e possui em seu quadro de funcionários um engenheiro ambiental responsável por tais questões. O colaborador exibiu fotos de recuperação (reflorestamento) de áreas degradadas, consequência da decapagem de área agricultável que é realizada antes da exploração da rocha, visando minimizar possíveis impactos ambientais.

De acordo com o geólogo da empresa, não ocorre geração de resíduo no processo, pois a área agricultável retirada no processo de decapagem é armazenada e posteriormente realocada em outra região já explorada, com objetivo de minimizar possíveis impactos ambientais, logo constatou-se que não existe nenhum estudo referente ao aproveitamento de resíduo. Segundo a empresa, a poeira emitida no processo produtivo, não é considerada um resíduo. Entretanto, sabe-se que a poeira provoca poluição do ar e risco de doenças pulmonares.

É importante ressaltar que a atividade de desmonte das camadas de rochas é feita com o uso de explosivos pela empresa, o que pode gerar ruído, gases com riscos de intoxicação além de acidentes, porém, o dimensionamento correto de cargas explosivas e dos parâmetros do plano de fogo, o bom conhecimento geológico da área bem como, o treinamento e capacitação dos técnicos envolvidos na atividade, podem reduzir esse riscos.

Em relação à segurança, a empresa oferece EPI’s e EPC’s, além de afirmar que realiza constantemente treinamento com seus colaboradores. Os funcionários da empresa usam protetores auditivos tipo concha, luvas de vaqueta, capacete, óculos de proteção, respirador semi facial, cinturão de segurança, trava quedas e botas como EPI’s (Equipamentos de Proteção Individual). Em relação aos EPC’s (Equipamentos de Proteção Coletiva) são utilizados, linhas de vida e salas de operação no setor do forno e moagem, ambas construídas com tratamento acústico e climatização. Portanto, verificou-se que os requisitos de segurança necessários para as atividades realizadas na empresa são cumpridos.

As principais dificuldades enfrentadas no processo produtivo do cimento que foram citadas pela empresa, são: a variação climática, pois o período chuvoso compromete a extração do calcário e a rigidez das leis relacionadas a uso de explosivos, onde foi relatado que, com o aumento de explosão a caixas eletrônicos, as normas para aquisição e armazenamento de explosivos, tornaram-se mais rígida, por parte do Exército Brasileiro, o que foi considerado muito pertinente.

O processo de fabricação realizado pela empresa, corresponde ao encontrado na literatura, logo observa- se que a empresa cumpre os padrões de qualidades exigidos para comercialização do produto e apresenta todas as autorizações necessárias para exploração e operação, sendo primordiais para o funcionamento de suas atividades na região.

2.3.2 Aplicação do questionário com moradores.

De acordo com os dados obtidos a partir da aplicação de questionários, com moradores que residem nas proximidades da fábrica, os principais problemas relatados estão relacionados a rachaduras nas residências (Figuras 02), onde segundo eles, é ocasionada pelo uso de explosivos no desmonte das camadas de calcário, que inclusive, danifica a estrutura das residências (Figuras 03), além da poeira que é expelida da fábrica (Figuras 04)

Figura 02. Detalhe de rachaduras em parede de residências. (Autoria própria)

(7)

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Figura 03. Detalhe de estrutura da residência danificada. (Autoria própria)

Figura 04. Detalhe da cor acinzentada no telhado de residência, provocado pela poeira. (Autoria própria)

Questionados sobre a poluição do ar ocasionada pela fábrica, 50% dos entrevistados consideraram o incômodo extremamente alto e somente 12,5% informaram não se incomodar (Gráfico 01).

Nas questões referente aos níveis de ruídos proveniente da fábrica, 38% relataram pouco incômodo, 25%

nenhum, 37,5% baixo, 25% moderado e 12,5% alto nível de ruídos (Gráfico 02), porém todos mencionaram o excessivo barulho nos períodos de extração de rocha, devido a detonação de explosivos na área da mina.

Em relação ao tráfego de veículos para escoamento da produção, 100% confirmaram não ocasionar nenhum incômodo (Gráfico 03).

Sobre a emissão específica de poeira, 12,5% dos entrevistados julgam a quantidade alta e 87,5%

extremamente alta (Gráfico 04), onde todos acrescentaram que de acordo com o sentido dos ventos, a poeira expelida pela fábrica direciona-se para comunidade, se depositando nos telhados e interior das residências.

Relativo aos problemas de saúde, ocasionados pela poeira proveniente das atividades da fábrica, 37,5%

dos moradores relataram que às vezes ocorriam tais problemas em seus familiares (Gráfico 05), principalmente doenças respiratórias, mas, 75% disseram que raramente se deslocavam para postos de saúde, hospitais ou consulta médica (Gráfico 06).

Diante da análise realizada, torna-se importante destacar que um eficiente monitoramento e fiscalização por parte dos órgãos ambientais havendo cobrança pelo controle dos níveis de poluição estabelecidos através das normas ambientais vigentes ajudariam na redução de emissões e minimização de impactos.

Vale ressaltar que, em relação a ruídos e vibrações, decorrentes de detonações, a norma determina o constante monitoramento em obras civis próximas, além de estabelecer técnicas e planejamentos que visam minimizar tais impactos.

Em relação a poeira mineral, a norma estipula medidas que minimizem tal exposição, determinando a

umidificação dos postos de trabalho, com intuito de evitar a propagação de poeira no ambiente de trabalho e nas

imediações do local de exploração.

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Gráfico 01. Análise sobre poluição do ar.

(Fonte: Autoria própria)

Gráfico 02. Análise sobre ruídos.

(Fonte: Autoria própria)

Gráfico 03. Análise sobre tráfego de veículos.

(Fonte: Autoria própria)

Gráfico 04. Análise sobre poeira.

(Fonte: Autoria própria)

Gráfico 05. Problemas de saúde ocasionados pela poeira proveniente da fábrica

(Fonte: Autoria própria)

Gráfico 06. Frequência em hospitais, consulta médica (Fonte: Autoria própria)

3. CONCLUSÃO

O processo produtivo da empresa de cimento, agrega renda para a economia local, com a geração de empregos diretos e indiretos e vem mantendo essa renda circulando na região, com a aquisição de insumos de município vizinhos, fator que contribui para renda de outras cidades do Rio Grande do Norte.

É importante salientar também, a contribuição para o setor de construção civil local, fornecendo matéria- prima e incentivando o consumo de cimento, abastecendo o mercado consumidor e agregando desenvolvimento e qualidade de vida para os habitantes de Mossoró-RN.

Nas questões ambientas verificou-se que a empresa procura minimizar impactos, através da recuperação

de áreas degradadas, porém, acredita não gerar resíduos no processo de exploração do calcário, fato que não se

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gases durante o desmonte de bancadas com utilização de explosivos. Logo, necessita-se por em prática medidas que previnam a emissão de poeira e partículas sólidas as comunidades do entorno da fábrica.

Alguns problemas relacionados ao processo de exploração do calcário e fabricação do cimento esclarecem sobre problemas de saúde apresentados pelos habitantes da comunidade próxima a empresa, como as doenças respiratórias, fato constatado também nos dados da literatura. Verificou-se que outros problemas relacionados às atividades realizadas na fábrica vêm contribuindo negativamente na qualidade de vida daquela comunidade como impactos visuais e alteração da paisagem, relacionados à poeira, sonoros e estruturais, devido à utilização de explosivos. Por outro lado, o crescimento desordenado de Mossoró pode ser o responsável por provocar esses conflitos sociais, com a ocupação das imediações da fábrica, provocando o fenômeno de

"sufocamento".

Finalmente, vale salientar que o significativo potencial impactante das atividades de mineração e industrialização de bens minerais pode ser minimizado e controlado com o cumprimento de normas ambientais vigentes, já que essas atividades são importantes para crescimento econômico das regiões que possuem tais bens.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Panorama. Disponível em:

<https://cidades.ibge.gov.br> Acesso em: 25 fev 2019.

[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND – ABCP. Básico sobre o cimento. Disponível em: <https://www.abcp.org.br/cms/basico-sobre-cimento/basico/basico-sobre-cimento/> Acesso em: 25 fev 2019.

[3] AGOPYAN, V. Consumo de matéria prima e Construção Civil. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Ano: 45, Ed. 110, 2012. Disponível em: < http://www.usp.br/aun/antigo/exibir?id=4848&ed=853&f=2>

Acesso em: 25 fev 2019.

[4] SILVA, J. P. S. Impactos ambientais causados por mineração. Revista Espaço da Sophia. Universidade Estadual Paulista - UNESP, n. 08, 2007.

[5] BARRETO, M. L. Mineração e desenvolvimento sustentável: Desafios para o Brasil. Maria Laura Barreto.

Rio de Janeiro: CETEM/MCT, 2001.

[6] ANGELIM, L. A. A. Geologia e recursos minerais do estado do Rio Grande do Norte. CPRM – Serviço Geológico do Brasil, Recife, 2006.

[7] IBRAM – INSTITUTO BRASILEIRO DE MINERAÇÃO. RN tem maior reserva de calcário do Brasil.

2011. Disponível em: <http://www.ibram.org.br/150/15001002.asp?ttCD_CHAVE=153706> Acesso em: 25 fev 2019.

[8] SANTOS, N. L. Sustentabilidade ambiental na mineração: estratégias para o plano diretor de mineração no município de Boquira/BA. Salvador, 2016. 159p.

[9] LEAL, L. Mineração: o rastro do desenvolvimento e conflitos territoriais no Brasil. Simpósio Brasileiro de Saúde e Ambiente. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio – EPSJV/Fiocruz, 2014.

[10] MECHI, A. & SANCHES, D. L. Impactos ambientais da mineração no Estado de São Paulo. Estudos Avançados – USP, v 24, n 68, São Paulo, 2010.

[11] BACCI, D. L. C., LANDIM, P. M. B., ESTON, S. M. E. Aspectos e impactos ambientais de pedreira em área urbana. Revista Escola de Minas, v 59, n 1, Ouro Preto, 2006.

[12] NETO J. C. Meio ambiente e mineração. Curso Técnico em Mineração, EEEP - Escola Estadual de Educação Profissional, Ceará, 2013.

[13] LEITE, A. L. S., SILVA, C. M. G., BARBOSA, S. B. Análise ergonômica no processo produtivo da extração de calcário laminado - estudo de caso. XXIII Encontro Nacional de Engenharia de Produção – ENEGEP 2003, Ouro Preto, 2003.

[14] DNPM - DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL. Portaria nº 237, de 18 de outubro

de 2001. Normas Reguladoras de Mineração – NRM, de que trata o Art. 97 do Decreto-Lei nº227, de 28 de

fevereiro de 1967. 2001.

(10)

[15] MASCARENHAS, J. C; BELTRÃO, B. A.; SOUZA JÚNIOR, L.C.; PIRES, S. T. M; ROCHA, D. E. G. A.;

CARVALHO, V. G. D. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea. - Diagnóstico do município de Mossoró, CPRM - Serviço Geológico do Brasil, Recife, 2005.

[16] INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Cidade de Mossoró-RN.

Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/rn/mossoro.html?> Acesso em: 16 mar 2019.

[17] SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO CIMENTO – SNIC. Resultados preliminares de janeiro 2019. Disponível em: <http://snic.org.br/numeros-resultados-preliminares-ver.php?id=33> Acesso em: 25 fev 2019.

Apêndice A: Questionário aplicado na empresa.

1. Quantos empregos diretos e indiretos a empresa oferece?

2. Onde ocorre e como é o processo de extração do calcário, utilizado na fabricação de cimento?

3. Quais as principais características dessa rocha?

4. Há quanto tempo essa jazida vem sendo explorada?

5. É realizada alguma análise na rocha calcária, antes de iniciar o processo de fabricação do cimento? Quais?

6. Qual o volume de calcário processado pela fábrica?

7. Como ocorre o processo de produção do cimento?

8. Qual a capacidade máxima de produção?

9. Quais os resíduos gerados no processo?

10. Qual o destino dado a esses resíduos?

11. Existe algum estudo referente a aproveitamento desses resíduos?

12. Quais as medidas tomadas para minimizar possíveis impactos ambientais?

13. Quais análises são realizadas no produto final, para verificar se está apto para o mercado consumidor?

14. Qual o mercado consumidor do cimento da empresa?

15. Quais os cuidados necessários para armazenamento e transporte do cimento?

16. Utilização de EPIs e EPCs?

17. Quais as principais dificuldades enfrentadas no processo produtivo?

Apêndice B: Questionário aplicado na comunidade localizada perto da fábrica de cimento

- Questões enfocando percepção e intensidade de possíveis incômodos provocados pelas atividades da fábrica.

1. Nível de incômodo relacionado à poluição do ar, referente à fábrica?

Nenhum ( ) Baixo ( ) Moderado ( ) Alto ( ) Extremamente Alto ( )

2. Com relação a ruídos provocados pelas atividades da fábrica, qual o nível de incômodo?

Nenhum ( ) Baixo ( ) Moderado ( ) Alto ( ) Extremamente Alto ( )

3. Qual o nível de incômodo provocado pelo tráfego de veículos, responsável pelo escoamento da produção da fábrica?

Nenhum ( ) Baixo ( ) Moderado ( ) Alto ( ) Extremamente Alto ( )

4. Qual o nível de incômodo provocado pela poeira, proveniente das atividades da fábrica?

Nenhum ( ) Baixo ( ) Moderado ( ) Alto ( ) Extremamente Alto ( )

5. Algum familiar com problemas de saúde, relacionados à poeira?

Nunca ( ) Raramente ( ) Às Vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre ( )

6. Qual a frequência de procura por consultas médicas, postos de saúde ou hospitais devido à poeira proveniente das atividades da fábrica?

Nunca ( ) Raramente ( ) Às Vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre ( )

7. Gostaria de acrescentar outras informações sobre problemas verificados na comunidade que estão

relacionados às atividades da fábrica de cimento?

(11)

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Referências

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