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O INSTITUTO DA GUARDA COMPARTILHADA COMO MEIO DE DIMINUIÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL | Anais do Congresso Rondoniense de Carreiras Jurídicas - ISSN 2526-8678

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Anais do I Congresso Rondoniense de Carreiras Jurídicas Porto Velho/RO 29 e 30 de novembro de 2016 P. 326 a 348 O INSTITUTO DA GUARDA COMPARTILHADA COMO MEIO DE DIMINUIÇÃO DA

ALIENAÇÃO PARENTAL

Mara Lúcia da Silva Sena1 Carina Gassen Martins Clemes2

RESUMO

O presente artigo é resultado de pesquisa realizada no Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, Vara de Família, que teve como objetivo avaliar se com a introdução da lei da Guarda Compartilhada houve a diminuição da alienação parental e, consequentemente, se preservou o melhor interesse do menor. Com tal pretensão, adotou-se uma metodologia descritiva, pontuando os julgados sobre a temática e relatando o posicionamento dos profissionais que compõem a equipe multidisciplinar do órgão pesquisado. Adotou-se questionário misto como instrumento de pesquisa e os resultados apontam para incipiente material de pesquisa, visto que os julgados obtidos no período compreendido entre 2013 a 2015, somados aos depoimentos colhidos dos componentes da equipe multidisciplinar, são pouco claros quanto ao posicionamento adotado pelos genitores em relação à alienação parental, o que abre espaço para futuras pesquisas, as quais possam detectar os fatores inibidores. Diversas hipóteses podem ser levantadas, entre as quais, destacam-se a desinformação dos genitores quanto a direitos, obrigações e legislação vigente sobre medidas disponíveis, visando à proteção do menor, em caso de alienação parental.

Palavras-chave: Guarda Compartilhada. Direito de Família. Alienação Parental.

ABSTRACT

This article is the result of research carried out by the Court of the State of Rondônia, family court, and aimed to assess, with the introduction of the law of joint custody, there was a decrease in parental alienation, and consequently if preserved the best interest of the minor. With such a claim, a descriptive methodology, punctuating the judged on the subject and following, reporting the placement of professionals who make up the multidisciplinary team of the researched. Joint questionnaire was adopted as an instrument of research. The results point to incipient research material, as judged from the period from 2013 to 2015, added the testimonials

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Acadêmica do Curso de Direito da Faculdade Católica de Rondônia - FCR. E-mail: maraluciasena@uol.com.br

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Docente da disciplina Direito Civil, do Curso de Direito da Faculdade Católica de Rondônia e mestranda do curso socioambiental e econômico – PUC-PR

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collected part of the multidisciplinary team, are unclear about the positioning adopted by parents with respect to parental alienation, which makes room for future research, which can detect the inhibitory factors. Several hypotheses can be raised, among which stands out the misinformation of parents about the rights, obligations and current legislation on measures available in order to protect the minor, in case of parental alienation.

Keywords: Shared Custody. Family Law. Parental Alienation.

INTRODUÇÃO

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – IBGE, as varas de família de todo Brasil conferem à genitora a guarda do menor e, em 91% dos casos (IBGE/2002), observa-se que a maioria das ocorrências de alienação parental ocorre pelo modo negativo da mãe na condição de alienador, restando ao pai apenas os 9% remanescentes. (PINTO, 2012).

Independente das controvérsias possíveis em torno do tema importa discutir essa possibilidade de guarda, à disposição dos pais e ex-cônjuges, visando à manutenção da harmonia entre os integrantes da família: pais e filhos que embora separados possam desfrutar de um relacionamento pautado no respeito mútuo.

Com a prática do instituto em menção, há uma tendência ao distanciamento máximo possível dos resquícios comuns aos casais que se separam. Essa é uma modalidade de guarda que comporta ponderações no campo da intimidade dos sentimentos que, de maneira abreviada, leva crianças e adolescentes a uma convicção de que são amados pelos pais e esses não separam os filhos de si mesmos e das responsabilidades inerentes aos seus papéis apenas pelo fato de estarem separados enquanto cônjuges.

O tema em apreço é de grande importância, visando à diminuição da Alienação parental, pois antes da lei da guarda compartilhada a visita recorrente dos pais não era suficiente para acompanhar o devido desenvolvimento do menor, restando o prejuízo às relações familiares e, consequentemente, à formação da criança.

Com a evolução social da família e as modificações dela decorrentes, a guarda compartilhada é apresentada como mais uma possibilidade de guarda, pois para sua fixação torna-se imprescindível que o casal, agora separado, possa manter

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uma capacidade de relacionamento amigável e harmônica, sem a qual a guarda compartilhada se torna inviável.

Na presente discussão, verifica-se como se processa a guarda compartilhada em face das hipóteses de alienação parental, ao tempo em que são traçadas algumas reflexões sobre as orientações jurídicas que norteiam tal instituto, pois em tese a guarda compartilhada irá possibilitar em longo prazo a estabilidade familiar, sem que se interrompa o vínculo afetivo com um dos genitores.

Assim, delineiam-se algumas discussões sobre o instituto da Guarda Compartilhada em conjunto com a alienação parental e suas implicações nas relações familiares. Para tanto, adotou-se como instrumental metodológico a pesquisa em artigos científicos, bem como o registro de lições apresentadas por renomados doutrinadores do Direito a respeito do tema, somados a uma parte prática junto a operadores do direito, a entrevistas com os envolvidos, das Varas de Família e Cíveis no contexto do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, incluindo as cidades de Vilhena, Ariquemes e Porto Velho.

A coleta de dados focada em uma leitura crítica e reflexiva, relacionada à parte prática, se processou mediante aplicação de questionário misto à equipe multidisciplinar do órgão pesquisado, em uma abordagem qualitativa, compreendendo a necessidade de aproximação entre teoria e prática jurídica, no direito de família, a respeito da alienação parental.

É importante ressaltar que além do entendimento doutrinário, aborda-se a discussão de julgados, visando apresentar subsídios que levem a um maior desenvolvimento dos debates relacionados à temática em estudo, ainda que se trate de pouco material em relação à relevância do tema, visto que os achados mostram tão somente 04 (quatro) julgados. Quanto aos objetivos, a pesquisa foi esmiuçada de maneira investigativa, utilizando normas jurídicas já positivadas, pois o esplendor jurídico é caracterizado e revelado quanto à fundamentação jurídico-normativa.

Os resultados apontam para incipiente material sobre o problema de pesquisa levantado que indaga se a guarda compartilhada seria a melhor escolha, com o fim principal de preservar o melhor interesse do menor, deixando a desejar, o que implica na necessidade de maiores investigações, abertura de espaço para novas pesquisas sobre o instituto da Guarda Compartilhada, especialmente no que se

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refere aos julgados no Estado de Rondônia e sua influência na redução da alienação parental.

Vale ressaltar que os julgados são ínfimos se considerados o período investigado e o posicionamento da equipe multidisciplinar aponta para a necessidade de maiores investigações, visto que a síndrome da alienação parental é evento sutil, com características que demandam especial atenção dos profissionais que integram a equipe multidisciplinar, a fim de, ao se constatar a síndrome, fundamentar o processo para decisão do magistrado.

1 A FAMÍLIA EM SEU CONTEXTO HISTÓRICO

Com base nas variadas culturas que os povos conservam no espaço e no tempo, a história dos seres humanos revela o que é família, a sua existência no passado e no presente, porque está estruturada nos moldes atuais, quando homem e mulher caminham lado a lado, compartilhando direitos e deveres, responsabilidades pela busca de sobrevivência, o que a conduz a inúmeras fragilidades.

Para maior entendimento sobre a alienação parental decorrente das separações conjugais, é importante compreender o significado de família na condição de primeiro núcleo social. Nisso se observa que, em seus estudos, Felicidade (2008, p. 13) conclui pelo seguinte:

A família, instituição mais antiga de toda a sociedade, hoje representa o primeiro espaço que promove a satisfação das necessidades básicas da criança e simultaneamente o desenvolvimento da personalidade e da socialização, pois a família tem a responsabilidade de formar o caráter, de educar para os desafios da vida, de perpetuar os valores éticos e morais. Os filhos se espelhando nos pais e os pais desenvolvendo a cumplicidade com os filhos.

Ainda que se diga o contrário, a família continua sendo a maior responsável pela formação do caráter do indivíduo, pois dispõe de características próprias e importantes na formação do sujeito, pertencendo a ela a tarefa de compartilhar valores e despertar sentimentos para serem moldados dentro de padrões que a

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proteja ao mesmo tempo em que a impeça de exceder limites de direitos e deveres, o que torna o diálogo não apenas é necessário, mas imprescindível.

Nesse contexto, Felicidade (2008, p. 13) destaca que “A família é uma instituição em que as máscaras devem dar lugar às faces transparentes, sem disfarces”. Por meio da comunicação entre os membros familiares, será processada a troca de ideias, momento em que pais e filhos possam se perceber como importantes uns aos outros, cumplicidade resultante do amor e do zelo necessários à construção do caráter para uma equilibrada vida em sociedade.

Contribuindo com o tema, Dias (2011, p. 27) apresenta a seguinte lição ao abordar sobre a origem da família:

Vínculos afetivos não são uma prerrogativa da espécie humana.Tanto é assim que se considera natural a ideia de que a felicidade só pode ser encontrada a dois, como se existisse um setor da felicidade ao qual o sujeito sozinho não tem acesso. [...] não importa a posição que o indivíduo ocupa na família a que ele pertence – o que importa é pertencer ao seu âmago, é estar naquele idealizado lugar onde é possível integrar sentimentos, esperanças, valores e se sentir, por isso, a caminho da realização de seu projeto de felicidade.

Com isso se observa que a família é a base que estrutura os caminhos de formação individual e coletiva. No âmbito familiar, estão os sonhos desenhados e comungados entre seus membros, formando o alicerce que culminará no cidadão a integrar a macro sociedade, vínculo de relevância do instituto familiar para os resultados das relações a serem construídas no âmbito maior da sociedade.

Nesse cenário, pode-se afirmar que a família, de acordo com lições apresentadas por Gonçalves (2014, p. 17), “é uma realidade sociológica e constitui a base do Estado”, sendo, portanto, o núcleo fundamental que estrutura toda a organização social. Desse modo, a família é compreendida e admitida como uma instituição “necessária e sagrada” (GONÇALVES, 2014, p. 17) e, de igual modo, deverá ser respeitada e protegida por toda a sociedade, especialmente pelo Estado. 1.1 DIREITO DO PODER FAMILIAR

Poder familiar hoje é um vocábulo novo no direito de família; corresponde ao antigo pátrio poder, disposto no código civil de 1916, expressão que remete ao

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direito Romano, um direito absoluto que o homem detinha como chefe de família, exercendo poder sobre os filhos menores e senhor de todas as decisões familiares, e somente na sua falta ou se houvesse algum empecilho é que a esposa poderia atuar como chefe da família.

Em seus estudos, Gonçalves (2011, p. 412) leciona que o “Poder familiar é o conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais, no tocante à pessoa e aos bens dos filhos menores”, e com isso se observa que o instituto resulta de uma necessidade natural.

Sabe-se que aos filhos não basta o alimento, mas juntamente com o alimento há uma imperiosa tarefa de educá-los e dirigir a formação de seu caráter, pois segundo Gonçalves (2011, p. 412), o ente humano necessita:

[...] durante sua infância, de quem o crie e eduque, ampare e defenda, guarde e cuide dos seus interesses, em suma, tenha a regência de sua pessoa e seus bens. As pessoas naturalmente indicadas para o exercício dessa missão são os pais. A eles confere a lei, em princípio, esse ministério.

Tal ministério, conforme preconizado pelo instituto do poder familiar, implica em deveres e responsabilidades que não podem ser tratados com descaso, pois assim fazendo comprometeria de maneira negativa a formação do menor.

Modernamente, graças à influência do Cristianismo, o poder familiar constitui um conjunto de deveres, transformando-se em instituto de caráter eminentemente protetivo, que transcende a órbita do direito privado para ingressar no âmbito do direito público. Interessa ao Estado, com efeito, assegurar a proteção das gerações novas, que representam o futuro da sociedade e da nação. (GONÇALVES, 2011).

Desse modo, o poder familiar nada mais é do que um múnus3 público imposto pelo Estado aos pais, a fim de que zelem pelo futuro de seus filhos. Em outras palavras aos pais, o poder familiar é instituído no interesse dos filhos e da família, não em proveito dos genitores, em atenção ao princípio da paternidade responsável insculpido no art. 226, § 7º, da Constituição Federal. (GONÇALVES, 2011).

O poder familiar é citado como exemplo de conhecimento de poder-função ou direito-dever, consagrado na teoria funcionalista das normas de direito das famílias:

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poder que é exercido pelos genitores, mas que serve ao interesse do filho. (DIAS, 2009, p. 383).

O poder familiar, de acordo com Rossato (2011), é exercido pelos líderes de uma família natural, normalmente os pais. Tal poder é de exercício obrigatório, tendo-se que o Estatuto da Criança e do Adolescente apresenta a possibilidade de perda desse poder em decorrência de fatos e fatores, no quais procedimentos específicos são adotados, mediante a provocação do Ministério Público ou qualquer outro interessado.

A menção supra a respeito da possibilidade da extinção do poder familiar torna-se relevante, tendo em vista que a criança, ente em formação, necessita de todas as condições físicas, emocionais e psicológicas para se desenvolver. Em tópicos a seguir, serão vistas maiores considerações a respeito da extinção, suspensão e perda ou destituição do poder familiar.

Assim, o instituto da guarda compartilhada necessita contemplar as condições básicas para o desenvolvimento da mesma. Conforme Rossato (2011), a escassez material não constitui razão suficiente para destituição do poder familiar, visto que programas sociais especializados estão à disposição para o encaminhamento de tais questões, provendo a família do auxílio a que faz jus.

Conquanto tal consideração, mais relevante se torna a possibilidade da alienação parental se materializar, interferindo de maneira significativa nas relações de filiação.

1.2.1 Extinção do Poder Familiar

A extinção do poder familiar é uma possibilidade que ocorrerá dentro de certas condições. Segundo Gonçalves (2014, p. 432):

A extinção do poder familiar dá-se por fatos naturais, de pleno direito, ou por decisão judicial. O art. 1635 do Código Civil, como visto, menciona as seguintes causas de extinção: morte dos pais ou do filho, emancipação, maioridade, adoção e decisão judicial na forma do art. 1638. [...] Com a morte dos pais, desaparecem os titulares do direito.

A extinção ocorrerá, como visto, por fatos naturais, cujas causas são apresentadas no art. 1635, CC de 2002.

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A relação entre pais e filhos não é mais de poder, mas de autoridade, devendo ser baseada no sentido de construir e preservar de modo saudável a personalidade dos filhos, bem como sua dignidade somente possível com a participação de todos equitativamente. (FELICIDADE, 2008).

1.2.2 Suspensão do Poder Familiar

Considerando a existência de mecanismos fiscalizadores por parte do Estado, observa-se o cumprimento ou não dos deveres e obrigações dos pais para com seus filhos e diante do descumprimento estará o Estado autorizado a proceder com a suspensão do poder familiar.

O art. 24 do Estatuto traz a regra de que a perda e a suspensão do poder familiar serão decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o art. 22. (ROSSATO, 2011, p. 161).

A suspensão do poder familiar será via decreto judicial, em situações em que os pais deixam de cumprir com suas obrigações e ameaçam a segurança e o bem estar de seus filhos menores.

Destaca Gonçalves (2011, p. 431) que: “Os deveres inerentes aos pais não são apenas os expressamente elencados no Código Civil, mas também os que se acham esparsos na legislação, especialmente no Estatuto da Criança e do Adolescente”.

Diante do exposto, pelo descumprimento dos deveres que lhe são inerentes, incorrerá na suspensão do poder familiar, constituindo-se sanção aplicada aos pais pelo juiz, não tanto com intuito punitivo, mas para proteger o menor. (GONÇALVES, 2014).

1.2.3 Perda ou Destituição do Poder Familiar

O Código Penal também prevê a perda do poder familiar, como efeito de condenação, nos crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho (art. 92, II). (GONÇALVES, 2014).

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Referente à exploração de menor, essa se torna causa para destituição do poder familiar, informação confirmada pela seguinte afirmativa:

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) insere, no art. 437, parágrafo único, a destituição do poder familiar como sanção aplicável aos pais que permitirem o trabalho dos filhos em locais nocivos à sua saúde ou o exercício de atividades atentatórias à sua moral. (GONÇALVES, 2011, p. 434).

No que tange às questões de trabalho que veem sendo discutidas ao longo das épocas, observando-se os princípios básicos estabelecidos sobre a saúde e a formação da criança e adolescente, necessitando que tais princípios sejam ressalvados, a fim de não comprometer o bem-estar de crianças e adolescentes especialmente em sua formação física e intelectual.

Outro ponto apresentado como fator passível de condução à perda do poder familiar corresponde à “infração ao dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores (arts. 22 e 24), hipótese esta já abrangida pelo art. 1.638, II, do Código Civil”. (GONÇALVES, 2011, p. 434).

1.3 SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL

É sabido que a alienação parental nada mais é que a implantação de falsas memórias, por razões as mais variadas, decorrentes de desajustes entre os ex-cônjuges que, a despeito do bem-estar da criança em formação, buscam para si mesmos, de forma egoísta, repostas para o caos instalado em sua relação afetiva. De forma errônea, inserem no contexto das divergências amorosas, esse ser em formação, criando caminhos para sequelas na formação geral de seus filhos. (ROSSATO, 2011).

Rossato (2011, p. 162), ao citar Dias, destaca que:

Esse tema só agora começou a despertar a atenção da comunidade. Isso porque, até bem pouco tempo, os papéis parentais eram bem divididos, quando da separação os filhos ficavam sob a guarda materna e ao pai cabia o encargo de pagar alimentos e visitá-los quinzenalmente, se tanto. Entretanto, com a significativa mudança de costumes, o homem descobriu as delícias da paternidade e começou a ser muito mais participativo no cotidiano dos filhos.

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Diante desse quadro de modernidade, com as relações familiares modificadas, novos conceitos foram admitidos nas relações parentais, resultando em alterações no modo de enfrentar os desafios da separação conjugal e guarda dos filhos, se existirem. É dessa forma que a guarda compartilhada orienta para o desfazimento da alienação parental, a fim de cooperar com a correta formação da criança.

Conforme estudos realizados sobre a temática, observa-se que a alienação parental se configura como: “Todo e qualquer tipo de conduta que prejudique o relacionamento da criança ou do adolescente com um dos seus genitores”. (ROSSATO, 2011, p. 162). Nesse cenário, acontecem as brigas corriqueiras entre casais, os quais impensadamente transferem para a criança as frustrações oriundas do término do relacionamento, gerando sérios prejuízos a sua formação.

A alienação parental possui algumas características as serem observadas pelos operadores do direito, que são as seguintes: “Desqualificação; dificultar a parentalidade; obstrução do contato; obstaculização da convivência; omissão de informações; realização de falsa denúncia; e mudança domiciliar”. (FREITAS, 2015, p. 31). Ou seja, diversas ações por parte do guardião que impedem o contato da criança com um dos genitores.

Os indicadores da alienação parental são informações preciosas para que uma das partes possa recorrer às vias jurídicas e coibir tais abusos. Conforme lições apresentadas por Freitas (2015), observa-se a importância de tal conhecimento para que o operador do direito possa adotar a melhor ferramenta para sanar a problemática, concedendo à criança o direito de convívio com ambos os genitores.

Visando resultados satisfatórios, a averiguação de alienação parental conta com diversos profissionais em um trabalho irmanado com o direito, construindo um trabalho interdisciplinar, no qual estão envolvidos profissionais da psicologia, da psicanálise e áreas afins, fomentando e pavimentando o percurso da ação. (FREITAS, 2015).

Conforme Freitas (2015), a Lei da alienação parental se configura em um dos maiores avanços jurídicos na área do direito de família da história jurídica moderna, porém necessita de maiores ponderações, visto que, por vezes, tem sido utilizada para prejudicar genitores que não praticam a alienação, contudo querem que a

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reconciliação com pais e mães que se autoalienaram seja de forma não danosa aos filhos.

A síndrome da alienação parental se mostra bastante complexa, levando ao reconhecimento da “inabilidade dos operadores jurídicos em tratar todas as questões correlatas ao direito de família” (FREITAS, 2015, p. 31), o que admite a necessidade de cooperação da equipe multidisciplinar, atuando para subsidiar o juiz na resolução do litígio. (FREITAS, 2015).

Ao que se observa a complexidade da alienação parental tem direta relação com o nível de compreensão dos genitores, sobre benefícios e prejuízos que o menor poderá sofrer, em consequência do tratamento destinado entre os integrantes do núcleo familiar. Resta que ambos os genitores saibam dos graves riscos concernentes a uma falsa denúncia de alienação, tanto para a criança quanto para o denunciante, se comprovada a falsidade.

Segundo Dias (2009, p.48):

Flagrada a presença da síndrome da alienação parental, é indispensável a responsabilização do genitor que age desta forma por ser sabedor da dificuldade de aferir a veracidade dos fatos e usa o filho com finalidade vingativa. Mister que sinta que há o risco, por exemplo, de perda da guarda, caso reste evidenciada a falsidade da denúncia levada a efeito. Sem haver punição a posturas que comprometem o sadio desenvolvimento do filho e colocam em risco seu equilíbrio emocional, certamente continuará aumentando esta onda de denúncias levadas a efeito de forma irresponsável.

Observa-se uma preocupante situação: as denúncias de alienação parental podem não ser provadas pelas dificuldades próprias e, na hipótese de comprovada uma falsa denúncia, há consequências, mesmo porque, enquanto se apuram as denúncias, o magistrado necessita tomar atitudes, visando preservar o bem-estar da criança.

As medidas, em regra, distanciam a criança de seu genitor/a denunciado até que a equipe multidisciplinar possa investigar o fato e colher os devidos subsídios que venham a comprovar o fato. Na hipótese de não haver ocorrido evento que justifique a denúncia, já terá causado trauma na criança, tendo sido distanciada de seu genitor sem necessidade. (DIAS, 2009).

Portanto, em seus estudos, Dias (2009) ressalta que a notícia de alienação parental, após ser comunicada a um pediatra ou a um advogado, toma um formato

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dramático, visto que os profissionais envolvidos necessitam adotar medidas que venham preservar o bem-estar do menor, até que sejam os fatos devidamente apurados.

No complexo quadro associado à alienação parental, há uma criança que se recusa a relacionar-se com um dos genitores, gerando prejuízos a sua formação como um todo. É o que leciona Fonseca (2009, p. 51), quando destaca o seguinte:

Essa alienação pode perdurar anos seguidos – com gravíssimas consequências de ordem comportamental e psíquica -, e geralmente só é superada quando o filho consegue alcançar certa independência do genitor guardião que lhe permite entrever a irrazoabilidade do distanciamento a que foi induzido.

A alienação parental, em nome da satisfação de quem detém a guarda, implicará sempre e, invariavelmente, em grande prejuízo à formação do menor. Como se nota, as consequências abrangem as várias áreas da formação humana. Assim, a alienação parental jamais poderá ser vista sem o devido grau de preocupação social.

1.4 TIPOS DE GUARDA 1.4.1 Guarda Unilateral

Ao que se observa, a guarda unilateral se encontra guarida no artigo 1.583 do Código Civil, sendo a espécie de guarda atribuída a apenas um dos genitores ou alguém que o substitua, de acordo ao constante no referido dispositivo legal:

Art. 1.583. CC - A guarda será unilateral ou compartilhada.

§ 1º: Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos genitores ou a alguém que o substitua (art. 1.584, § 5o) e, por guarda compartilhada a responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos comuns. (DIAS, 2011, p. 446).

Dias, em suas lições, destaca que esse tipo confere a apenas a um dos pais a guarda, enquanto ao outro é conferida apenas a regulamentação de visitas. Ainda assim, aquele que não detém a guarda continua dotado do direito e dever de exercer o poder familiar, tão somente não reside mais com o filho menor.

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1.4.2 Guarda Alternada

Trata-se de modalidade de guarda não disciplinada na legislação brasileira, contudo é utilizada de maneira prática, usando o senso de responsabilidade entre os genitores, de forma bastante prática em que os pais se alternam na guarda dos filhos.

Tendo em vista que, ao seu tempo, cada pai exerce a sua guarda com exclusividade, faz com que se diferencie da modalidade compartilhada, conforme disposto nas lições apresentadas por Dias (2011), a seguir:

[...] guarda alternada: modalidade de guarda unilateral ou monoparental, caracterizada pelo desempenho exclusivo da guarda, segundo um período predeterminado, que pode ser anual, semestral, mensal ou outros. Essa modalidade de guarda não se encontra disciplinada na legislação Brasiléia e nada tem a ver com a guarda compartilhada, que se caracteriza pela constituição de famílias multinucleares, nas quais os filhos desfrutam de dois lares, em harmonia, estimulando a manutenção de vínculos afetivos e de responsabilidades, primordiais à saúde biopsíquica das crianças e dos jovens. (DIAS, 2011, p.528).

Observa-se grande proximidade entre essa modalidade de guarda e a guarda compartilhada. Para sua eficácia, torna-se necessária a concordância entre os pais, cujo consenso na alternância da guarda nada mais é que o resultado de diálogo entre ambos, objetivando, sobretudo, o bem-estar do menor. (ALCÂNTARA, 2016).

1.4.3 Guarda Compartilhada

Sem a intenção de esgotar o assunto, visto a sua extensão e amplitude, neste tópico se apresentam breves considerações sobre a guarda compartilhada, tomando por base o que lecionam estudiosos e especialistas. Com isso, espera-se mostrar um quadro de reflexão que permita um olhar sobre a guarda compartilhada, que possa revelar sua contribuição para a redução da alienação parental, tão comum em famílias dissolvidas pela separação.

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As relações jurídicas em direito de família situam-se em três territórios distintos, que se interpenetram e se destacam teleologicamente. Ora regulam as relações pessoais entre os cônjuges, entre eles e seus ascendentes e descendentes; ora regulam as relações patrimoniais que surgem e interessam ao grupo familiar; ora regulam as relações assistenciais ou protetivas, que substituem as familiares.

É possível notar que o conceito de guarda compartilhada possui tamanha complexidade, de acordo com a construção da história familiar. Ou seja, alcança as diversas esferas de interesse comum às partes envolvidas, sendo esses os cônjuges e seus descendentes, especialmente no que tange a menores, portanto, em formação, e que prevaleça sempre o melhor interesse do menor.

Como nas demais áreas do direito, o instituto da guarda compartilhada possui alguns princípios orientadores. Nisso se observa que o juiz irá determinar a guarda sempre e, invariavelmente, pautando-se por juízo de valor que sustente o melhor interesse dos filhos. (GRISARD FILHO, 2014). Assim, a guarda vem disciplinada nos artigos 33 a 35 da Lei estatutária.

Vale destacar que:

A guarda, diferentemente da tutela e da adoção, não afeta o poder familiar. [...] É inquestionável que a guarda compreende o poder de reter o filho no lar, de tê-lo junto a si, de reger sua conduta. Na guarda está o dever de vigilância que, lenta e constantemente, atua decisivamente no desenvolvimento da personalidade do menor e na sua formação integral. (GRISARD FILHO, 2014, p. 41).

Observa-se, portanto, que a guarda não é da essência do poder familiar, contudo o é de sua natureza, em que dos genitores se espera um convívio pacífico, mesmo porque a guarda não exclui o poder familiar. Na realidade, a guarda opera como elemento de destaque no âmbito do poder familiar.

Contribuindo com o tema em suas lições, Gagliano (2014, p. 609) destaca que:

Ao menos em tese, a guarda compartilhada, é uma modalidade de guarda, sem dúvida, que mais atende à perspectiva de pleno desenvolvimento dos filhos. Mediante uma responsabilidade conjunta dos pais, as potencialidades dos filhos serão sempre mais bem desenvolvidas. (Gagliano 2014, p. 696).

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De forma implícita, há uma convicção de que sobre os pais recai a responsabilidade de oferecer as devidas oportunidades aos filhos, visando o seu pleno desenvolvimento.

1.5 GUARDA COMPARTILHADA E ALIENAÇÃO PARENTAL

A Guarda Compartilhada surge em um contexto jurídico, visando à redução da alienação parental, partindo do princípio de que o compartilhamento de responsabilidades, no qual direitos e deveres dos genitores possam estar interagidos no cotidiano da formação física, moral, intelectual, emocional e afetiva como um todo, concedendo ao menor, criança ou adolescente, as condições essenciais ao seu bom desenvolvimento.

A guarda pode ser analisada como uma relação típica do poder familiar; ela é, em termos rudes, a “posse direta” dos genitores sobre os filhos. O conceito de posse é atraente, expresso e claro no art. 33, § 1º do Estatuto da Criança e do Adolescente o utiliza, conforme segue: “A guarda obriga a prestação de assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente, conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais”. (BRASIL, 1990).

Designa-se alienação parental o ato de um dos pais para denegrir a imagem do outro ao filho, para que o mesmo tenha uma percepção errônea de seu genitor. É fazer referência à conduta para prejudicar, de forma injusta a imagem do pai ou da mãe, objetivando que o filho anule a figura do outro genitor.

O grande objetivo do alienante é fazer com que o menor rompa os vínculos afetivos com o outro genitor. Para isso, utiliza-se de diversas artimanhas, com o fim de desmoralizar sua imagem perante o menor.

Observa-se, pelos estudos apresentados sobre a alienação parental, que se trata de um cerceamento de convívio, em que menor recebe informações pejorativas sobre o outro genitor, cujos reflexos em sua formação serão destrutivos.

Essa reflexão permite o olhar na direção contrária para concluir que a guarda compartilhada revela-se frutífera, criando os mecanismos de aproximação e diálogo entre os genitores, construindo paulatina e progressivamente um convívio harmônico, em clara demonstração de preocupação integrada entre os mesmos.

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Os resultados esperados nada mais são que uma formação coerente e de um ser humano integral, para o bem da família e da sociedade em geral, pois será um cidadão ou uma cidadã em equilíbrio para compor o cenário social, sendo força ativa nesta sociedade.

2 A GUARDA COMPARTILHADA COMO MEIO DA DIMINUIÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL

2.1 JULGADOS

No período compreendido entre 2013 a 2015, foram encontrados quatro julgados no contexto do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, incluindo os municípios de Vilhena, Ariquemes e Porto Velho. O que, de pronto, se pode verificar a existência de poucas informações sobre a temática, constituindo-se material irrisório em contraponto à proposta investigativa da presente pesquisa. No entanto, por maiores esclarecimentos, para maior entendimento sobre o assunto em comento.

Caso 1:

EMENTA

Alteração de guarda. Acusação de ocorrência de alienação parental não configurada. Falta de requisitos para o deferimento da tutela.

O deferimento da antecipação da tutela depende da análise de requisitos que possibilite constatação da veracidade das informações e urgência da medida. Meras alegações não são suficientes para tanto (RONDÔNIA, 2013).

O Caso 1 refere-se à acusação de ocorrência de alienação parental não configurada e falta de requisitos para o deferimento da tutela. Houve a decisão de negar por unanimidade, provimento ao agravo interno nos termos do voto do relator. Indeferido o pedido de tutela solicitado pelo pai, sem prejuízo ao mesmo, inalterando a guarda de menor estabelecida à mãe.

Diante do exposto, é dado provimento ao recurso, para fixar a guarda da menor da forma compartilhada, mantendo, todavia, os períodos de visitas fixados na sentença.

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342

Caso 2:

EMENTA

Ação de guarda. Melhor interesse do menor. Síndrome da alienação parental. Genitor detentor da guarda. Comprovação. Inversão da guarda. Possibilidade. Honorários advocatícios. Critérios legais e parâmetros da corte. Inobservância. Redução comprovada da Síndrome de alienação parental por parte do genitor que detém a guarda é possível a sua inversão visando o melhor interesse do menor. (RONDÔNIA, 2013)

O Caso 2 trata de prática de síndrome da alienação parental pela atual detentora da guarda. No relatório consta que o agravado pugna pela manutenção da decisão agravada, ante os indicativos da síndrome da prática da síndrome da alienação parental pela agravante, conforme mencionado no relatório psicossocial subscrito pela psicóloga e pela assistente social do juízo.

O relatório registra ainda que a Síndrome da Alienação Parental, que é carente de base científica, foi descartada pelos laudos psicológicos, de modo que não poderia servir para fundamentar a sentença e, assim, foi negado o recurso de apelação, sendo dado parcial provimento, apenas para reduzir o valor dos honorários advocatícios.

Caso 3:

EMENTA

Ação de guarda. Guarda compartilhada. Situação fática. Interesse da menor. Pais residentes em cidades distintas. Irrelevância. (RONDÔNIA, 2013)

O Caso 3 aborda agravos retidos interpostos pelo apelante. Sustenta em suas razões que a sentença merece reforma, aduzindo que nenhuma das provas apresentadas pelo apelante foi analisada, limitando-se a sugerir uma meia culpa de ambas as partes.

Alega que a apelada está alienando a relação entre pai e filha, uma vez que não está propiciando condições saudáveis para o desenvolvimento da menor com seu genitor.

Ademais, saliente-se que a guarda em geral e a guarda compartilhada não fogem a essa regra, pois pode ser revista a qualquer tempo, podendo ser modificada caso não atendidos os interesses do menor.

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Concedido provimento ao recurso, para fixar a guarda da menor da forma compartilhada, mantendo, todavia, os períodos de visitas fixados na sentença.

Caso 4:

EMENTA

Civil e processual civil. Regulamentação de visitas. Pedido não apreciado em primeira instância. Impossibilidade de conhecimento diretamente pela instância recursal. Supressão de instância. Guarda provisória. Melhor interesse da criança. Prática de síndrome da alienação parental pela atual detentora da guarda. Boas condições e predisposição do pai biológico em deter a guarda. Vínculo afetivo entre este e a menor. Modificação da guarda provisória. Cabimento. (RONDÔNIA, 2015).

O Caso 4, de Civil e processual civil, relaciona-se a regulamentação de visitas. Pedido não apreciado em primeira instância por Impossibilidade de conhecimento diretamente pela instância recursal; supressão de instância; Guarda provisória, tendo em vista o melhor interesse da criança. A prática de síndrome da alienação parental pela atual detentora da guarda e as boas condições e predisposição do pai biológico em deter a guarda, o vínculo afetivo entre este e a menor respaldou a modificação da guarda provisória, havendo cabimento.

Em suas razões, informa que a mãe biológica da menor não tinha condições de criá-la, motivo pelo qual a menor foi confiada a seus cuidados desde os oito meses de vida, contando hodiernamente com cinco anos de idade, quando então foi deferida a medida liminar de reversão de guarda ao pai biológico.

Vistos, relatados e discutidos os autos, acordam os desembargadores da 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, na conformidade da ata de julgamentos e das notas taquigráficas, em, por unanimidade, negar provimento ao agravo de instrumento nos termos do voto do relator.

2.2 EQUIPE MULTIDISCIPLINAR

A parte prática do presente artigo consistiu de investigação junto aos profissionais que integram a equipe multidisciplinar das varas de família e sucessões, do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, com Sede em Porto Velho.

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Foram entrevistados 08 (oito) profissionais, distribuídos entre as áreas de Psicologia e Serviço Social. Sendo dois profissionais do serviço social e seis da psicologia, inclusive, neste último grupo havia um especialista em psicologia jurídica.

Indagados se a síndrome da alienação parental é facilmente detectada nos processos de guarda, seis dos pesquisados responderam às vezes, e dois responderam que não.

Os entrevistados informaram que há indicadores legais no processo de detecção da alienação parental, especialmente a Lei 12.318/2010, que constitui valioso suporte.

Informaram, ainda, que há diversos indicadores de alienação parental que são constatados pela equipe multidisciplinar, dentre os quais se destacam os seguintes: desqualificação do outro genitor; restrição de contato; afastamento do genitor; campanha de difamação do ex-cônjuge; tentativa de afastar genitor de filhos; rigidez de pensamento; não transmissão de informações da criança ao outro genitor; alteração de endereço; intransigência com relação ao envolvimento do genitor; críticas morais ao outro núcleo familiar; dificuldade no exercício do direito regulamentado, de convivência familiar.

Referindo-se às campanhas de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade, são indicadores situacionais encontrados com frequência. De igual modo, a criação de dificuldade no exercício da autoridade parental é um indicador de alienação parental encontrado com significativa frequência.

Os entrevistados informaram que ações visando dificultar o exercício da autoridade parental constituem um indicador encontrado em larga frequência, nos casos de guarda. Entre tais práticas, está a criação de dificuldades para o contato entre os menores com genitor ou genitora. São dificuldades propositais, executadas em larga frequência.

No que tange a possíveis dificuldades no exercício do direito regulamentado de convivência familiar, isso ocorre às vezes, sendo, porém, um indicador situacional constatado, ainda que com pouca frequência. Nesse caso, as dificuldades indicam direta relação sobre os direitos e deveres de cada genitor.

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Indagados sobre a frequência com que informações relevantes sobre a criança são omitidas do outro genitor, cinco dos entrevistados disseram que isso ocorre raramente e três deles informaram que ocorre com frequência.

No que tange à apresentação de falsa denúncia contra genitor, contra familiares desse ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente, entre os participantes da pesquisa, 01 (um) afirmou que isso ocorre raramente, 02 (dois) disseram que ocorre frequentemente e 05 (cinco) informaram que se trata de um indicador situacional constatado apenas às vezes nos processos de guarda.

Outro indicador situacional investigado foi o que se refere à mudança de domicílio para local distante, sem justificativa, visando dificultar a convivência da criança ou do adolescente com o outro genitor, com familiares desse ou com avós. Respondendo a essa questão, 03 (três) participantes disseram que o fato ocorre raramente e 05 (cinco) deles disseram, às vezes.

Quanto a quem recai maior incidência sobre a prática da alienação parental, observou-se, por unanimidade, entre os entrevistados, que com maior frequência é a mãe que faz uso dessa prática.

Os participantes, integrantes da equipe multidisciplinar, são de opinião que a guarda compartilhada tem se mostrado eficaz em alguns casos e que se trata de medida jurídica que favorece a redução da alienação parental, restando, entretanto, que haja suporte psicológico para que os casos sejam acompanhados e os menores sejam devidamente assistidos nesse processo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Necessário se faz compreender que o menor, ao sofrer uma patologia chamada Síndrome da Alienação Parental – SAP, apresenta um sentimento constante de raiva e ódio contra o alienado e sua família e passa a apresentar comportamento de recusa ao genitor ao ponto de rejeitar a visita ou mesmo de se comunicar com ele, guardando sentimentos negativos.

Nesse cenário, por entender que crianças vítimas da SPA apresentam distúrbios psicológicos como depressão, ansiedade e pânico, podendo fazer uso de drogas e álcool como forma de aliviar a dor e culpa da alienação, cometer suicídio,

(21)

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como também apresentar baixa autoestima, destaca-se a importância dessa temática em discussão, tanto para os menores que convivem com situações de separação dos pais quanto para a sociedade de modo geral que sofre as influências decorrentes da alienação parental.

No presente trabalho, por entendimento de que o instituto da guarda compartilhada foi instituído com o objetivo de preservar o melhor interesse do menor, fez-se incursão aos julgados no Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, no período compreendido entre os anos de 2013 e 2015, bem como verificou-se o posicionamento dos profissionais que integram a equipe multidisciplinar das Varas de Família e Sucessões, a fim de obter maior clareza sobre a questão da alienação parental e sua direta relação com os tipos de guarda.

A intenção principal foi a de confirmar se com a introdução da lei da guarda compartilhada e as mudanças significativas nas relações familiares que sofriam com a alienação parental produziu-se devidos efeitos, no sentido de se preservar o melhor interesse do menor.

No que tange a parte prática da pesquisa, os resultados mostraram ser escasso o material entre os julgados inseridos no contexto do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, sabendo-se que tal escassez compromete o atingimento dos objetivos propostos. Contudo, o posicionamento técnico dos profissionais que integram a equipe multidisciplinar das Varas de Família e Sucessões alimenta o presente estudo, confirmando os vários indicadores situacionais, para o estabelecimento do quadro que caracteriza a síndrome de alienação parental.

Vale ressaltar que, entre os dados da pesquisa, está a influência materna no quadro de alienação parental. A pesquisa mostra, por unanimidade, que a genitora apresenta maior tendência a criar o ambiente de hostilidade, influenciando o menor para a aversão ao genitor.

Ao concluir o presente artigo, em face do incipiente material, e a dificuldade de se manter a confirmação da alienação parental, tendo em vista a complexidade de parecer técnico junto aos profissionais do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, a presente pesquisa sugere novas incursões sobre a temática, especialmente no que tange ao estabelecimento de um controle estatístico desses casos, a fim de que, em futuras pesquisas, haja informações mais precisas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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JULGADOS:

RONDÔNIA. Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia. Agravo nº 0008595-48.2013.822.0000 TJ/RO. Rel. Desembargador Raduan Miguel, julgado em 05/11/2013.

RONDÔNIA. Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia. Apelação nº0015460-55.2007.8.22.0014 TJ/RO. Rel. Desembargador Alexandre Miguel, julgado em 30/04/2013.

RONDÔNIA. Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia. Agravo de instrumento nº 0011870-68.2014.8.22.0000. Rel. Desembargador Moreira Chagas, julgado em 18/08/2015.

RONDÒNIA. Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia. Apelação (agravo retido) nº 0008882-98.2010.8.22.0102. Rel. Desembargador Alexandre Miguel, julgado em 13/11/2013. SÍTIOS ELETRÔNICOS: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822014000100019 – 16:01h dia 26/03414 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932009000200007 – 16:04 26/03.

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