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Análise sobre educação ambiental abordada em artigos de divulgação científica

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ANÁLISE SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL ABORDADA

EM ARTIGOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

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ANALYSIS REGARDING ENVIRONMENTAL EDUCATION

DISCUSSED IN SCIENTIFIC PAPERS

ANÁLISIS SOBRE EDUCACIÓN AMBIENTAL ABORDADA

EN ARTÍCULOS DE DIVULGACIÓN CIENTÍFICA

Mariane Grando Ferreira 2

Bruna Luiza Besen 3

Juliana Alves da Silva Ubinski 4

Dulce Maria Strieder 5

Resumo: O artigo visa discutir sobre Educação Ambiental, tendo como premissa a diversidade de correntes teóricas e conceituações com que ela é apresentada nos diferentes espaços de divulgação. Neste contexto, há, por exemplo, as revistas de divulgação científica, que são instrumentos de formação de opinião e encontram-se inseridas também no âmbito da educação formal, haja vista serem adotadas nas escolas por professores. Assim, a presente pesquisa teve como objetivo verificar como a Educação Ambiental é abordada em artigos de Divulgação Científica. Para tanto, foram analisados textos de duas revistas científicas em edições publicadas a partir de 2010, ficando evidente a maior ênfase em conceitos antropocêntricos. Isso pode resultar, ao contrário do que se espera para o ensino de ciências, em um maior distanciamento entre os alunos e as problemáticas socioambientais. Palavras-chave: Divulgação da Ciência. Meio Ambiente. Ensino de Ciências.

Abstract: This paper aims at discussing the Environmental Education, based on the diversity of theoretical areas and concepts regarding how it is described in the several sites of dissemination. In this context, there are, for example, magazines of scientific dissemination, which are instruments of opinion conception and take part in the scope of formal education, since they are adopted in schools by teachers. Thus, this research ascertains how the Environmental Education is approached in scientific papers to be spread out. Therefore, texts from two scientific journals were analyzed in editions published up from 2010, so it is clear the greater emphasis on anthropocentric concepts. This may result in a greater distance among the students and socio-environmental problems, which is just the opposite what is expected for science teaching.

Keywords: Dissemination of Science. Environment. Science teaching.

1 Pesquisa realizada com apoio do CNPq e Fundação Araucária via concessão de bolsas de iniciação científica. 2 Acadêmica de Pedagogia. Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE. E-mail:

marianegrando@hotmail.com.

3 Acadêmica de Ciências Biológicas. Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE . E-mail:

bl.sh@hotmail.com.

4 Mestre em Educação. Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE. E-mail: juliana_ubinski@

otmail.com.

5 Doutora em Educação. Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE. E-mail:

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Resumen: El presente artículo objeta discutir sobre Educación Ambiental, teniendo como premisa la diversidad de corrientes teóricas y conceptualizaciones con que ella es presentada en los diferentes espacios de divulgación. En ese contexto, hay, por ejemplo, las revistas de divulgación científica, que son instrumentos de formación de opinión y se encuentran inseridas también en el ámbito de la educación formal, en vista de que sean adoptadas en las escuelas por profesores. Así, la presente pesquisa tuvo como reto verificar como la Educación Ambiental es abordada en artículos de Divulgación Científica. Para tanto, fueron analizados textos de dos revistas científicas en ediciones publicadas desde 2010, quedando evidente la mayor énfasis em conceptos antropocéntricos. Eso puede resultar, al contrario de lo esperado para la enseñanza de ciencias, un mayor distanciamiento entre los alumnos y las problemáticas socioambientales.

Palabras Clave: Divulgación de la Ciencia. Medio ambiente. Enseñanza de Ciencias.

Envio: 23/05/2018 Revisão: 25/05/2018 Aceite: 06/07/2018

Introdução

As questões ambientais nos circundam diariamente, e com a evolução da sociedade, tomaram um rumo de grande discussão, preocupação e seriedade. É notório que a poluição, desmatamento, consumismo desregulado, entre outros fatores, se tornaram um grande problema para o meio ambiente.

Neste sentido, na década de 1970, após uma diversidade de reuniões e congressos, fala-se pela primeira vez de Educação Ambiental. Na Conferência de Tbilisi (1977), a Educação Ambiental foi definida segundo Neves (2006) como uma “dimensão dada ao conteúdo e à prática de educação” (s/p), levando os indivíduos à percepção dos problemas ambientais, tendo como consequência o desenvolvimento de ações em prol a si mesmo e a coletividade. Assim, a Educação Ambiental não se configura como uma disciplina escolar, mas como uma área do conhecimento que, na escola, perpassa todas as disciplinas devido ao seu caráter multidisciplinar.

Embora não seja exclusivamente conteúdo do currículo escolar, a escola é um local privilegiado para abordar a Educação Ambiental. No entanto, por fatores como a formação docente, extensão do conteúdo programático, entre outros, nem sempre a Educação Ambiental é abordada com a devida profundidade. As dificuldades na seleção de materiais didáticos

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específicos também levam os professores a buscar informações em outras fontes disponíveis, sendo as revistas de Divulgação Científicas importantes fontes de pesquisa que, entretanto, devem ser utilizadas considerando o gênero discursivo e os fins a que se propõem.

Neste contexto, o objetivo da pesquisa de iniciação científica que deu origem ao presente artigo foi verificar como a Educação Ambiental é abordada em artigos de Divulgação Científica e quais direcionamentos (se existirem) são apresentados nos artigos para a atuação com a EA nas escolas. As revistas escolhidas para a coleta de dados foram “A Física na Escola” e “Ciência Hoje” ambas vinculadas a sociedades científicas. Os recortes temporais para o estudo foram às edições publicadas a partir do ano de 2010 até o ano fim do ano de 2016.

Divulgação Científica em Educação Ambiental

É notório o aumento no número de publicações de textos de Divulgação Científica, que permitem o acesso do público em geral às informações do meio científico, com uma linguagem menos formal, levando novidades que ocorrem na ciência e na tecnologia. Os textos de Divulgação Científica (DC) fazem a tradução de uma linguagem mais especializada para uma mais leiga objetivando atingir um público maior (ALBAGLI, 1996). Desta forma, a Divulgação Científica deve servir como oportunidade de participação e debate sobre as produções, aplicações e produção da ciência e não apenas como um espaço para a transmissão do saber (SPAZZIANI; MOURA, 2008).

No âmbito da educação formal, os textos de DC podem proporcionar grandes contribuições para o trabalho docente, apesar de não ser esse o foco principal, estes, utilizam de métodos diferentes da realidade aos quais os alunos estão habituados, podendo proporcionar um enriquecimento da aula, levando a uma maior curiosidade e interação dos alunos durante as aulas. Ainda de acordo com Albagli (1996)

Embora a divulgação científica seja geralmente percebida como sendo baseada em mecanismos de educação informais, dado que seu alvo é o público leigo em geral, é inevitável sua relação com a educação científica formal oferecida pelas escolas primárias e secundárias (p.402).

No Brasil, a Educação Ambiental vem ganhando espaço nas pesquisas acadêmicas e científicas, sendo este um tema relativamente novo e que se intensificou a partir da década de

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1990 (MEGID-NETO, 1999). Sendo assim, as publicações nos meios de divulgação científica sobre a temática também aumentaram.

A formação científica permite a construção de cidadãos críticos e conscientes de suas responsabilidades, tornando-se mais eficiente quando iniciada nos primeiros anos de vida (IRACET; GIERING, 2011). Sendo assim, os textos de divulgação científica para as crianças ajudam na compreensão de mundo, auxiliando no entendimento da influência que a ciência possui no cotidiano, apresentando problemáticas que já são realidades próximas ao leitor (BENASSI et al, 2015).

Há inúmeras publicações em revistas científicas que abordam a Educação Ambiental, sendo fonte de grande informação tanto para os professores quanto para os alunos, contribuindo para o aprendizado e agregando conhecimentos que podem ser compartilhados.Segundo Bueno (2010), a divulgação científica exerce um posto fundamental, pois a mesma além de oferecer acessibilidade aos conhecimentos científicos, auxilia no processo de alfabetização científica. “Contribui, portanto, para incluir os cidadãos no debate sobre temas especializados e que podem impactar sua vida e seu trabalho [...]” (p.5). O autor também acrescenta que a divulgação científica propicia que indivíduos que nunca tiveram contato com esta compreendam “o mundo em que vivem e, sobretudo, assimilar as novas descobertas, o progresso científico, com ênfase no processo de educação científica” (BUENO, 2010, p.5).

No entanto, a que se destacar a diversidade de correntes e tendências utilizadas no contexto da Educação Ambiental, sendo importante conhecê-las para adotar aquela que seja mais coerente com o objetivo de ensino de ciências que se propõe. Neste sentido, serão apresentados na sequência a pluralidade dos conceitos de Educação Ambiental presentes nas pesquisas brasileiras.

A Educação Ambiental e sua pluralidade de conceituações

A poluição, o desmatamento, o consumismo desregulado, entre outros fatores, se tornaram um grande problema para o meio ambiente. Somos assim, rodeados cotidianamente por questões ambientais, que se associam e se sobrepõem a evolução da sociedade humana, e tomaram um rumo de grande discussão, preocupação e seriedade.

A amplitude das preocupações sobre o tema tem gerado a realização de conferências, encontros, seminários, no passado e na atualidade para que se obtenham esclarecimentos,

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encaminhamentos e soluções para tais questões. Reigota (2009, p.24-25) atenua que em 1972 na conferência de Estocolmo deliberou-se a proposta que “[...] se deve educar o cidadão e a cidadã para a solução dos problemas ambientais. Podemos então considerar que aí surge o que se convencionou chamar de educação ambiental”.

Os conhecimentos estruturados sobre o tema até o momento nos permitem observar diversificadas correntes que englobam a Educação Ambiental (EA). Dentre estas correntes, consideramos as sete expostas em Ubinski (2016, p.104-110) elencadas a partir de pesquisa de estado da arte, sendo elas: Ambientalista, Antropocentrista, Crítica, Comportamentalista, Culturalista, Sustentabilista e Tecnicista. O quadro abaixo explana alguns elementos de cada uma, segundo a classificação de Ubinski (2016).

Quadro 1 - Principais qualificadores da Educação Ambiental Educação

Ambiental

Enfoque

Antropocentrista

Neste grupo, os recursos naturais são pensados a partir da necessidade humana. Embora haja preocupação com problemáticas ambientais, a busca por ações resolutivas tem intuito de preservar a vida humana.

Comportamentalista

Esse grupo reflete sobre o comportamento humano em relação ao ambiente. Assim, a forma de se relacionar com o ambiente deveria ser condizente com padrões aceitáveis, levando o indivíduo a refletir sobre suas ações e o impacto que elas têm para o ambiente.

Crítica Defendem a busca pelo uso igualitário e consciente dos recursos naturais é destacada, já que o acesso a esses recursos impacta na qualidade de vida das pessoas.

Culturalista A EA é pensada considerando o contexto cultural no qual o sujeito está inserido, já que cada cultura pode ter uma forma diferente de se relacionar com o ambiente.

Naturalista

Esse grupo tem como características a (re) inserção do sujeito humano na natureza, visando à preservação da vida. A EA ocorre em um ambiente natural que tenha recebido pouca interferência da ação humana.

Sustentabilidade Esse grupo enfoca a racionalidade no uso dos recursos naturais (re) avaliando a forma de desenvolvimento econômico atual, com vistas a responder a urgência das demandas socioambientais.

Tecnicista A busca pelas soluções dos problemas socioambientais por meio de lógica e rigor científico são características dos integrantes desse grupo. Reduz a questão ambiental a uma mera esfera técnica.

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Através do quadro supracitado, é possível perceber o quanto os conceitos e objetivos da Educação Ambiental podem diferir de acordo com o qualificador utilizado. Assim, o professor pode adotar o qualificador que melhor condiz com seu objetivo, deste que não se desvirtue os objetivos centrais da Educação Ambiental. Enfatizar a visão de uma Educação Ambiental antropocentrista ou tecnicista podem reforçar a ideia de que o ser humano está acima de todas as complexas relações que envolvem na natureza, sendo a Educação Ambiental apenas uma área para resolver problemas que impactam diretamente os seres humanos.

Neste sentido, é preciso perceber que a EA não se volta somente para conceitos já definidos do que são questões ambientais, como afetam a natureza do planeta, mas tem um papel transformador para com os seres humanos, onde estes tomem consciência, problematizem, sejam críticos, colocando em prática ações concretos. Sauvé (2005, p.317) alude que a Educação Ambiental

[...] visa a induzir dinâmicas sociais, de inicio na comunidade local e, posteriormente, em redes mais amplas de solidariedade, promovendo a abordagem colaborativa e crítica das realidades socioambientais e uma compreensão autônoma e criativa dos problemas que se apresentam e das soluções possíveis para eles.

Carvalho (2001, p.56) menciona que o reconhecimento por parte de diferentes áreas do conhecimento, do processo educativo como um importante subsídio no fomento de mudanças que podem contribuir para melhora no quadro de degradação do ambiente. O autor ainda destaca que, os modelos para apresentação dos dados sobre a degradação ambiente pode variar, mas o processo educativo é comumente apresentado como um “[...] agente eficaz de transformação” (p.56).

Porém, o campo de atuação da Educação Ambiental pode ser estreito muitas vezes no meio escolar para os docentes, pois estes tem o papel de promover a estruturação deste conteúdo aos alunos. Nesta ótica, Carvalho (2001) enfatiza que é necessário que os docentes observem que “[...] não existem fórmulas prontas e mágicas para o desenvolvimento de práticas educativas relacionadas á temática ambiental [...]” (p.58). Mas, que o desenvolvimento dessas práticas, serão delineadas com a maneira que o mesmo realiza o trabalho com a presente temática, assim se faz importante uma boa preparação das aulas (CARVALHO, 2001).

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Nesse sentido, nota-se importante que o professor esteja sempre amadurecendo e habilitando seus discentes a serem indivíduos críticos, para que sejam capazes de analisar, refletir e por em ação medidas desde a escola sobre EA. Ubinski (2016, p.58) explicita que

Promover o conhecimento crítico é fundamental na Educação Ambiental. O conhecimento permite que os cidadãos possam lutar por seus direitos e se opor a injustiças sociais, envolvendo também aspectos relacionados ao ambiente em que vivem e os fatores que impactam na qualidade de vida das pessoas e de outros seres vivos. Assim, a Educação Ambiental precisa envolver os conteúdos científicos que possibilitem essa compreensão das problemáticas socioambientais.

Neste contexto, o educador precisa estar disposto a reconhecer os problemas socioambientais que envolvem a comunidade, aproximando o conhecimento científico da realidade dos alunos. Desta forma, espera-se proporcionar aos alunos a possibilidade de obter uma formação que os levem a um maior envolvimento com as questões ambientais. Para tanto, Reigota (2009) destaca o desafio da Educação Ambiental no rompimento com a ingenuidade e preconceitos que podem ter sido construídos na abordagem dessa temática. Assim, pequenas mudanças no cotidiano, podem demandar muito esforço por parte do educador no processo de sensibilização dos alunos.

Visando contribuir com fontes de informação científica para seus professores, algumas escolas disponibilizam revistas de divulgação científica para o corpo docente. Sendo assim, conhecer o conteúdo deste material e verificar o quanto eles podem contribuir com a Educação Ambiental, pode representar um contributo para a Educação Ambiental no contexto escolar.

Materiais e Métodos

Michel (2009) retrata que “[...] A metodologia científica é um caminho que procura a

verdade num processo de pesquisa, ou aquisição de conhecimento; um caminho que utiliza

procedimentos científicos, critérios normalizados e aceitos pela ciência” (p.35, grifos do autor). Para o desenvolvimento da presente investigação, realizou-se uma pesquisa bibliográfica e documental. O material utilizado para análise foram duas revistas de Divulgação Cientifica, são elas, “A Física na Escola” e “Ciência Hoje” ambas analisadas em suas edições entre os anos de 2010 e 2016. Estas foram escolhidas pelo seu caráter científico, já que

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estabelecem suas origens em entidades científicas como a Sociedade Brasileira de Física e a Sociedade Brasileira para Progresso da Ciência.

A primeira etapa priorizou a pesquisa bibliográfica acerca do tema da EA, além da seleção das revistas “A Física na Escola” e “Ciência Hoje”. Na segunda etapa, procedeu-se a leitura detalhada do material recolhido, bem como o início da análise e a verificação se havia direcionamentos para atuação nas escolas. Por fim, foi efetuada a sistematização e categorização dos artigos analisados.

Para a categorização, analisando os dados obtidos, recorremos a Bardin (1977, p.46) ao explicitar que a "[...] análise de conteúdo, é a manipulação de mensagens (conteúdo e expressão desse conteúdo), para evidenciar os indicadores que permitam inferir sobre uma outra realidade que não a da mensagem .”

Por esse viés, após analisarmos as respectivas matérias, separamos estas por categorias conforme cada tipo de corrente de Educação Ambiental. Desta forma nos apoiamos em Bardin (1977), que alude que “A categorização tem como primeiro objectivo (da mesma maneira que a análise documental), fornecer, por condensação, uma representação simplificada dos dados brutos” para posteriormente aprofundar a análise em cada categoria.

Discussão e Resultados

A revista A Física na Escola é uma revista de publicação sobre Física e sua aprendizagem, voltada para o ambiente escolar com as primeiras edições no ano 2000. “[...] Tem como foco o diálogo com os professores do Ensino Médio e de todos aqueles que se interessam em contribuir para a melhoria do Ensino de Física”. (FÍSICA NA ESCOLA, 2018, s/p). Nos primeiros anos, a revista era publicada em forma impressa, posteriormente houve um recesso de publicação e, ao retornar as edições o meio de divulgação passou a ser apenas em forma digital6.

Para a presente pesquisa analisou-se sete edições (correspondentes ao recorte temporal) contendo 73 artigos, destes apenas foram encontradas duas reportagens sobre educação ambiental, sendo elas destacadas no quadro a seguir.

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Quadro 2: Textos do tema EA identificados em revista de divulgação científica

AUTOR TÍTULO REVISTA EDIÇÃO ANO

BERNARDES, A.O.

Poluição Luminosa A Física na Escola. v.12, n.1, p.34-26, maio. 2011 DIAS, A. M. M; NOVIKOFF, C; SOUZA, L. E.S. Laboratórios de aprendizagem de física: resultados de uma experiência pedagógica sustentável. A Física na Escola. v. 12, n.2, p.12-14, outubro. 2011

Fonte: dados da pesquisa (2017).

O texto Poluição Luminosa de Bernardes (2011) expõe os exacerbados pontos de iluminação nos grandes centros urbanos. O texto apresenta argumentos de que, além de prejudicar a saúde do ser humano durante a noite, a quantidade de luz ocasiona o funcionamento massivo das usinas hidrelétricas e térmicas, provocando assim o lançamento em maior número de dióxido de carbono, uma vez que este é lançado na atmosfera. Nesta perspectiva, dispõe-se que a poluição luminosa termo assim definido pela autora, advém com desperdício da grande utilização de energia noturna, isso também afeta tanto os impostos que o cidadão paga, quanto à má administração pelo sistema político.

A pesquisa descrita no artigo acima mencionado foi realizada na cidade de Nova Friburgo – RJ tinha como foco conscientizar os envolvidos sobre as consequências da poluição luminosa, levando a comunidade a maior clareza dos fatores prejudiciais referente à notória iluminação noturna.

O texto Laboratórios de aprendizagem de física: resultados de uma experiência

pedagógica sustentável de Dias, Novikoff e Souza (2011) analisa o ambiente escolar, em vista

de que muitos alunos não mostram interesse pela aprendizagem do conteúdo curricular e neste, questões relacionadas ao planeta e sua preservação. Tal desinteresse é associado ao ensino tradicional que ainda se faz presente em sala de aula. Para modificar este cenário, os autores sugeriram e efetivaram uma modificação na metodologia visando melhor aprendizagem.

Os autores inseriram no cotidiano de duas escolas atividades com materiais recicláveis direcionadas para abordar conteúdos de Física no 9º Ano do Ensino Fundamental e Ensino

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Médio. Três categorias foram elencadas para a pesquisa: a “[...] qualidade no ensino de física, laboratórios de aprendizagem e interdisciplinaridade” (DIAS; NOVIKOFF; SOUZA, 2011, p.12-13). Nas ações encaminhadas no Ensino Médio notou-se melhoria no desempenho dos alunos, sendo que estes se posicionaram com maior “clareza através das oficinas” (DIAS; NOVIKOFF; SOUZA, 2011, p.13), que foram propostas.

No que tange às ações voltadas a turmas de 9° Ano, os autores relatam ações tanto na formação de professores quanto junto aos alunos discutindo elementos de sustentabilidade, o que resultou em maior interesse pela aprendizagem e conscientização.

A análise do conteúdo de ambos os textos encontrados levou-nos a categoriza-los como imersos na corrente da Educação Ambiental Sustentabilista, segundo a classificação de Ubinski (2016), e oferecendo indicativos claros para atuação na escola de forma coerente com os objetivos da própria revista. A corrente Sustentabilista da Educação Ambiental tem em sua ótica a “[...] racionalidade no uso dos recursos naturais (re)avaliando a forma de desenvolvimento econômico atual, com vistas a responder a urgência das demandas socioambientais” (UBINSKI, 2016, p.109). Em acordo aos elementos da Educação Ambiental Sustentabilista, ambos os textos visam a sociedade, seu desenvolvimento, as causas ambientais e as possíveis soluções socioambientais.

A revista Ciência Hoje provém do Instituto Ciência Hoje (ICH) caracterizado como “[...] uma organização privada, sem fins lucrativos, voltada à divulgação científica no Brasil. É responsável pela publicação das revistas Ciência Hoje e Ciência Hoje das Crianças” (CIENCIA HOJE, 2018, s/p). A revista pode ser adquirida via assinatura em forma impressa ou digital por site específico7. A revista, de periodicidade mensal está há 34 anos no mercado,

sempre voltada para a área da Ciência em consonância com a educação. Para a pesquisa foram analisadas 54 edições (correspondentes ao recorte temporal).

Durante o levantamento das reportagens desde o ano de 2010, foram localizadas 124 matérias relacionadas à Educação Ambiental. Dentre as matérias encontradas no tema da pesquisa, não foram identificados textos que abordassem EA com direcionamento específico para atuação nas escolas. É importante frisar que esta revista de divulgação científica não se apresenta com objetivo explícito de imersão na educação formal.

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Pela grande demanda de matérias desta revista, optou-se em não apresentar uma descrição destas, mas sua classificação nas correntes de EA, sendo o resultado apresentado pelo gráfico 1 a seguir.

Gráfico 1 – Classificação dos textos de revista de divulgação científica nas correntes de EA

Fonte: dados da Pesquisa (2017)

O gráfico apresenta a classificação, por porcentagem, de matérias relacionadas com cada corrente de EA. Uma grande parcela de matérias (36%) apresentou estrutura e linguagem que permitiu enquadrá-las na corrente de Educação Ambiental Antropocentrista, sendo esta corrente a que prevaleceu nas análises. A cultura humana, dentro desta perspectiva antropocêntrica, é colocada em uma posição superior em relação às demais espécies e representa uma ruptura das interações entre os seres vivos e seu ambiente em prol do elemento econômico (SATO, 2006).

A segunda corrente de maior frequência nas matérias (27%) foi a Sustentabilista. Nesta perspectiva, é enfocado o uso racional dos recursos naturais e seu acesso de forma igualitária para todos, bem como o consumo consciente, sendo este último um importante fator para a transformação dos modos de produção (SAUVÉ, 2004).

27%

36% 6%

17% 3% 3% 8%

Sustentabilista Antropocentrista Crítica

Ambientalista Culturalista Comportamentalista Tecnista

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A terceira e quarta correntes mais representadas pelos textos analisados foram a Ambientalista (17%) e a Tecnicista (8%); as de menor frequência foram a Comportamentalista e a Culturalista, ambas com 3% da classificação dos textos. A Educação Ambiental Crítica, tão almejada pelos documentos norteadores da Educação Ambiental, foi pouco difundida nos textos analisados, sendo percebida em apenas 6% dos casos analisados. Vários autores, a exemplo de Loureiro (2003), Dantas (2011) e Thomas (2010), enfocam a Educação Ambiental Crítica como uma perspectiva de transformação do modo de pensar e agir da sociedade. Para estes autores, nesta corrente busca-se a transformação das estruturas econômica, política e social vigentes, indo desde o uso racional dos recursos naturais até a tomada de decisões em relação às questões ambientais. O caráter interdisciplinar da EA, na corrente Crítica, é reforçado (LEFF, 2001).

Neste sentido, os dados indicam que a EA divulgada necessita afastar-se da visão reducionista e simplificadora que tem como consequência a limitação da compreensão de elementos através do seu isolamento (MORIN, 1977). Os sujeitos são formados para atuar de forma ativa na sociedade, buscando seus direitos e contribuindo para o avanço (REIGOTA, 1991), visando a uma sociedade sem opressores e sem oprimidos (VELASCO, 2004).

Neste contexto foi possível perceber que, as argumentações adotadas pelo Programa Nacional da Educação Ambiental – PNEA e dos objetivos estipulados para este, pouco estão sendo consideradas na divulgação científica voltada a essa temática. Vale ressaltar que a PNEA visa uma EA Crítica, por considerar que esta tem maior proximidade com as questões socioambientais e coloca como perspectiva o “[...] estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social” (BRASIL, 2005, s/p) buscando contribuir para o envolvimento ativo dos cidadãos ante as questões ambientais.

Na educação formal, ao considerar que as revistas de divulgação científica estão presentes no cotidiano de muitas escolas e os textos são utilizados em salas de aula no ensino de ciências, é importante que o professor, ao mediar a aprendizagem embasando-se nas matérias das revistas, direcione uma postura crítica e supere a concepção de descomprometimento ante as questões ambientais.

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Conclusão

O objetivo principal da pesquisa foi verificar como a Educação Ambiental é abordada em artigos de Divulgação Científica, bem como se estão presentes direcionamentos para a atuação com a EA nas escolas. Neste contexto foi possível perceber o quanto a temática ambiental voltada para o contexto escolar é carente de publicações.

Em termos das concepções subjacentes a EA tratada, como pode ser constatado na apresentação dos dados, a maioria dos textos fortalecem conceitos antropocêntricos, o que pode resultar em um maior distanciamento dos cidadãos de ações efetivas em torno das problemáticas ambientais. O risco é ainda maior por se tratar de publicações que estão disponíveis no ambiente escolar, influenciando o discurso e a prática docente. Desta forma, fica evidente a necessidade de ampliar e aprofundar os debates voltados para a Educação Ambiental, bem como aproximá-los dos professores da Educação Básica, ultrapassando os limites do senso comum, alinhando os mesmos com fundamentos consistentes e explícitos.

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Gráfico 1 – Classificação dos textos de revista de divulgação científica nas correntes de  EA

Referências

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