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Almada e C.ª : drama dinâmico ou aproximações

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ALMADA NEGRE

A

DESCOBERTA COM0 NECESSIDADE

ACTAS

DO COLÓQUIO INTERNACIONAL

Porlo, 12, 13 e 14 de Dezembro de 1996

COORDENAÇÃO

(3)

Vertente Literária

AIA

LUÍSA

AMARAL

Uniue~sidade do Porto

"Mas náo falemos sem alicerces. Nós não estamos algures. Nós estamos aqui dentro desta saia, onde eu estou a dizer

a eanferèneia - o chão, o tecto, e quatro paredes. Vacês e eu. Para nos orientarmos melhor, aqui onde estou fica sendo o Norte, lá ao fundo o Sul, Este ali e Oeste daquele lado.

Que isto fique assim bem combinado e n t r e nós, de t a l maneira que, quando eu chamar Sul aqui ao lugar onde estou, vocês se levantem, protestem, e digam que não, que o Sul é ia ao fundo d a sala."

E m 1942, Almada Negreiros escreuia: " A Poesia é a linguagem dos Iguais dispersas no Tempo. Os iguais não se admiram entre si; confiarn-se, O I L melhor, são igr~ais."

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par-tindo dessa definição d e

poesia que se organiza este drama, que, e m uez de estático, como tal- uez o desejaria Pessoa, é dinâmico. Nele se tenta fazer A l m a d a Negreiros dialogar com uozes poéticas do seu tempo e do seu espaço e com uozes poéticas de ol~tros tempos e l o u de outros espaços, algu- mas mais óbvias, outras menos. Como as linhas com que a criança do poema de Alrnada. desenhaua a flor. Necessariamente limitado pelo selc pr-ópl%o tempo de apr-esentação, e pr-opositadamente auesso a teorização, este texto, tal como está estruturado, nada mais pode fazer que anota>; dramcrtizando, alguns apontamentos sobre essas possibilidades de cruzamento de uozes. Nos três actos (em uez dos

in iirricilti .Aegrni<ii. :l I>i<ci>l>~.iiu i r r i ~ v i 1 ~ ~ d ~ ~ . <Ir> Oil,>y#ii<i iiiiirtiizi!<iriul ii',,rr,>. li-li ili ilizi'?i!hiii 19961

(4)

252 AVA LUISA rkX4FtAL

clássicos cinco) que o compõern, interuêrrz, para além d a apresenta- dora-comentado~.a, aqui chamada "uoz o f f : uárias personagens, desde Teizeira de Pascoaes até

T.

S . Eliot, passando por Vinicizis de Moraes, Blalte e Wordswortls -personagens que contracenam cons a principal, aquela que, lt~cidarnenle, admitiria rzüo durar "ner~s para

metade d a liumria". Da liurar?~, aqui, só (que infinitamente mais existircio) rneia drkia de exemplares ern escaparate. Mas todos em palco siiniiltáneo.

AGTO I VOZ OFF.

A acção do primeiro Acto tem início em Portugal e atra-

vessa alguns tempos. O que a organiza é o tratamento do femi-

nino. Em palco encontram-se (os dois primeiros meio-escondi- dos pelas cortinas, o terceiro exuberantemente perto da boca de cena): Teixeira de Pascoaes, Vinícius de Moraes e Almada Negreiros. Presentes estão também uma mulher, argentina, que terá direito a uma breve fala, e ainda uma figura indefinida, vestida de cetim e fingindo bordar, enfastiada: Violante de Cysneiros, aliás, Armando Cortes-Rodrigues.

Sabemos do elitismo intelectual e dos gostos políticos des- ses que se bateram pela despsicologização do sujeito poético.

Uma questão í j á tratada pela crítica feminista) aqui se impõe:

a da misoginia nos nossos melhores poetas. O tratamento do

feminino em Almada Negreiros.

iEntra Alrnada e I&, do sei6 "Ultimatum Futurista ..."

ALMALIA NEGREIROS.

"É preciso educar a mulher portuguesa n a sua verdadeira

missão de fêmea para fazer homens."

VOZ OFF.

Em "A Cena do Ódio" (mesmo descontando o tom diletante

do poema), a mulher é abordada como sinónimo de ser sórdido

e inferior, e está sujeita a discriminação sexual e cultural. (Alrnada eremplifica, recitando)

(5)

ALMADA NEGREIROS

"E enquanto este Adão dormia Os ratos roeram-lhe os miolos

E das caganitas nasceu a Eva burguesa

(...I

E como queres que eu faca fortuna

Se Deus, por escárnio, me deu Inteligência, e não tenho sequer, irmãs bonitas

nem uma mãe que se venda para mim?"

VOZ OFF.

Mas há o outro lado do feminino que, muito menos pro-

pagandeado, não é menos importante. Para o comentar, ouça-

-se, de longe, Alfonsina Storni e Vinícius de Moraes, e, de mais perto, Teixeira de Pascoaes.

TEIXEIRA DE PASCOAES

"A m u l h e r é u m bailado d e n u a n c e s , como a á g u a .

A mulher é toda ela uma lágrima em tremulina de variáveis

aspectos."

VINÍCIUS DE MORAES.

"As muito feias que me perdoem

Mas beleza é fundamental. É preciso

Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso

Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de lzaute coutrrre

(...I

Que ela surja, não venha, parta, não vá

E

que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente."

(Almada lê. da sua "Ca>içõo de Soudode'?

ALMADA NEGREIROS

"Eu amo a noite porque na luz fugidia a s silhuetas inde- cisas das mulheres são como as silhuetas indecisas das mulhe- res que vivem em meus sonhos. Eu amo a Lua do lado que eu nunca vi."

(6)

VOZ OFF.

Desejada assim, a mulher não deve deixar nunca de ser, nesse lado misterioso e indeciso, "a eterna dançarina do efé- mero", reflectida "no olhar dos homens", como Vinicius continua a dizer n a sua receita. Silenciosa, assim se deseja a mulher. Nesse estatuto de transcendência e silêncio, não se confundem mulher e musa, simultaneamente necessárias para o acto de criação e materiais maleáveis ao sabor da mão do poeta?

ALFONSINA STORNI. (amscerita)

Que é como quem diz: "blanca", "de nácar", "de espuma."

ALMADA NEGREIROS.

"Mãe, vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas

que ainda não viajei.

(...I

Quando voltar é para subir os degraus

d a nossa casa, u m por um. Eu quero aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me a teu lado. Tu

a coseres e eu a contar-te a s minhas viagens, (...) Mãe! passa

a t u a mão sobre a minha cabeça! Quando passas a t u a mão

sobre a minha cabeca é tudo tão verdade!"

VOZ OFF.

Mesmo neste universo de utópico ret,orno a uma fusáo com o maternal, não passa despercebida a divisão sexual das tare-

fas: "Tu a coseres e eu a contar-te a s minhas viagens." Cum-

pridas a s funções que lhe cabe em sociedade, ou n a efabulaçáo masculina, a mulher surge como ser protector e reverenciado (enquanto mãe), ou como ser silencioso e de mistério (enquanto figura desejada). Assim, o poeta a expóe e se expõe, fingindo- -se d'ela.

(Armando Cortes-Rodrigizes, aliás Violante de Cysneirns, recita)

VIOLANTE DE CYSNEIROS,

"As minhas mãos são esguias, Sáo fusos branco d'arminho, Onde fiaste e não fias Sonho do teu carinho.

(7)

Mas os meus dedos em i Dizem a longa distância

Que vai de Mim para Ti."

VOZ OFF

De dedos finos (dedos em i) s e apresenta Violante de

Cysneiros no n." 2 de Orfeu (exemplo de desdobramento, ou

dupla dramatizaçâo, no título "A mim propria

-

De h a dois

anos"). De dedos finos a expõe Almada, em "Démarches para A Invenção do Dia Claro".

ALMADA NEGREIROS.

"Fiquei muito tempo calado. De repente, não sei o que me passou pela cabeça que acreditei que o mestre queria efectiva- mente que lhe dissesse a verdade: Mestre! antes de chegar a escola há uma casa que vende bonecas. Na montra estava uma

boneca vestida de cor de rosa! A boneca tinha a pele de cera.

Como a s meninas! A boneca tinha tranças caídas. Como a s meninas! A boneca tinha os dedos finos. Como a s meninas!

Mestre! A boneca tinha os dedos finos

..."

VOZ OFF.

Com a mulher de dedos em i e a boneca de dedos finos se encerra o Acto 1.

(Retirani-se todos, ercepto Alrnnda Negreiros)

ACTO 11

VOZ OFF.

E s t e Acto desenrola-se parcialmente em Londres, n a última década do século XVIII e n a primeira metade do século

XIX. O que o organiza é a concepçâo de arte e a componente

romântica. Em l u g a r destacado no palco e s t á , com a r de visionário, William Blake. Mais jovem que Blake, vigoroso e retemperado das caminhadas pela região dos lagos, William

(8)

Wordsworth terá direito a uma entrada rápida. A Inglaterra, que, por razões climáticas e graças a uma hábil gestão dos Tudors, havia criado um sistema socioeconómico que a tornaria o maior produtor de lá da Europa, avançava agora a Revolução Industrial. "A little blaclr thing among the snowlcrying 'weep',

'weep', in notes of woe" - é a voz de Blake sobre o limpa-cha-

minés, nas "Canções de Inocência e de Experiência". As Can- ções são os poemas mais simples de Blake e também, como os mais simples de Almada, os mais "românticos", n a valorização

de uma linguagem fundamentalmente "ingénua" - no sentido

(recordado por Almada no seu ensaio, de 1936, "Elogio d a Ingenuidade...") de "nascido livre".

Em Inglaterra, está-se em 1789. Blake acabara de escre- ver o poema "Auguries of Innocence" e passaria agora a gravá- -lo em cobre, recorrendo a uma técnica absolutamente original para o seu tempo, que fundia a cor e a linha e produzia o que se aproximava do brilho dos manuscritos medievais. A poesia de Blake deveria ser lida n a confluência cor-gravura-palavra, n a ausência de sedimentação de formas aparentemente díspa- res, como a pintura e a poesia. O que fazem alguns dos edito-

res de Blalre é justamente, ao retirar a s duas primeiras com-

ponentes, deixando-lhe só a palavra, truncar a sua arte.

WILLIAM BLAKE.

"And I made a rural pen And I stained the water clear And I wrote my happy songs Every child may joy to hear."

V O Z OFF.

Podendo situar-se no plano de referência genérica (o seu método de composiçáo poética, de que se destaca a feitura da pena rústica e o manchar da água pela tinta), estes versos com- portam a possibilidade de leitura separada, referindo-se o pri-

(9)

do texto e o terceiro a componente pictórica e cromática, sendo o último verso a consubstanciação dos anteriores. Em poemas como "A Flor", Almada, poeta-pintor, recuperando o olhar romântico do radical William Blake.

ALMADA NEGREIROS

"Pede-se a uma criança. Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não h á mais ninguém.

Passado algum tempo o papel está cheio de linhas.

(...I

Depois a criança vem mostrar essas linhas a s pessoas: Uma flor!

As pessoas não acham parecidas estas linhas com a s de uma flor!

Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da

cabeça para o coraçáo e do coraçáo para a cabeça, à procura

das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez a s tivesse posto fora dos seus lugares, mas, são aquelas a s linhas com que Deus faz uma flor."

(Vinrln do fiztz~ro, e e m entrada brrue, ouve-se a uor do ir~ai~giimdor oficial do Roinantisn~o inglês)

WILLIAM WORDSWORTH.

"The Child i s Father of the Man

And I could wish my days to be

Bound each to each By Natural Piety."

(Alrriada Zé, de "Prefácro ao lrura de qr~olqr~er poeta'?

ALMADA NEGREIROS

"Reaver a inocência: ex-iibris de José de Almada Negreiros, Pintor."

(Pensnt~vo, como que comentando Blake, A11nada pega agora ern "O LLUIT>" e contznirai

(10)

ALMADA NEGREIROS.

"Sonhei com um pais onde todos chegavam a Mestres. Começava cada qual por fazer a caneta e o aparo com que se

punha à escuta do universo; em seguida, fabricava desde a

matéria-prima o papel onde ia assentando a s confidências que recebia directamente do universo; depois, descia até ao fundo dos rochedos por causa da tinta negra dos chocos; gravava letra por letra o tipo com que compunha a s suas palavras; e arran- cava da árvore a prensa onde apertava com segurança as des- cobertas para irem ter com os outros. Era assim que neste pais todos chegavam a Mestres. E r a assim que os mestres iam escrevendo a s frases que hão-de salvar a humanidade."

VOZ OFF.

Os elementos românticos de resistência à massificação e a

mecanizaçáo e de crença na autonomia e n a originalidade (que

criarão também, a posteriori, um distanciamento do poeta em

relação ao resto dos seres humanos, exaltando-o como génio) estáo presentes em vários poemas de Almada e de Blake, infor-

mando também a sua atitude relativamente à poesia. E se o

"livro" em Blalte se reveste de uma originalidade radical e é

metáfora d a vida, é Almada quem compara o livro ao ser

humano.

ALMADA NEGREIROS.

"Mas eu andei a procurar por todas a s vidas uma para copiar e nenhuma era para copiar. Como o livro, a s pessoas tinham princípio, meio e fim."

Wzlliarn Blake lê n g o ~ a i ~ n t extracto da Noite VI1 de "Vala or the F o i ~ r Zoas'?

WILLIAM BLAKE.

"Unorganized Innocence: a n Impossibility. Innocence dwells with wisdom, but never with Ignorance."

(Almada interrompe, u n ~ dos seus "E,~saios" na mão, ezplicando a sua teoria sobre a reflexão entre a técnica e a criação, entre a espontaneidade e a reflexão)

(11)

ALMADA E C.": DRAMA DINÂMICO O U APROXIAAÇOES 259

ALMADA NEGREIROS.

"Provavelmente teráo reparado

(...I

em que suponho o

estado de ignorância mais propício para a poesia que o estado

de conhecimento. Mas náo é assim perfeitamente exacto.

O conhecimento só impede o estado de poesia d u r a n t e o

período de recepção que cada um faz para esse conhecimento.

(...I

A Arte é um processo intelectual; é um conhecimento em

estado de recepção; mas só n a Poesia é que se encontra o élan

de cada qual. "(

...I

eu não faço o elogio dos ingénuos, mas sim

o da ingenuidade. É só a ingenuidade que representa em si o

estado de pureza em que é possível a vida do poeta."

VOZ OFF.

A delicadeza com que Almada trata o desenho da criança

e a própria criança, a referência ao divino n a capacidade de o olhar d a infância transfigurar, pela incapacidade mesma de figuração literal, chocam com poemas como "A Cena do Ódio", pretexto para o próximo e último Acto.

iSaerr~ Blake e Wordsworthj

ACTO 111

VOZ OFF.

P a r t e d a acçáo d e s t e Acto t e m novamente l u g a r em

Londres, desta vez de princípio de século

XX,

a outra parte

volta a ser em Lisboa. O que a organiza é o papel do leitor em

modernismos distantes, mas afins. Em cena, ambos com a r de diletante, duas personagens quase da mesma idade: Almada Negreiros e Thomas Stearns Eliot.

A Revolução Industrial está mais que inaugurada; está

completada. O Tamisa, outrora doce, que antes vira em si voga-

rem a s ninfas e os cisnes de Spenser, destila agora alcatrão e

polui-se dos herdeiros da City. Está-se em 1922,

T.

S. Eliot tem

34 anos e "The Waste Land", após revisões de Ezra Pound, a

que Eliot cederia, acaha de ser publicada. "The Waste Land" teria tido o seu contraponto em Portugal, com "A Cena do Ódio", de 1915.

(12)

(Entra T. S. Eliot)

T. S . ELIOT. (eni t o m de qi~eiraj

"April is the cruellest month

Breeding lilacs out of the dead land, Mixing inemory and desire."

VOZ OFF.

"The Waste L a n d um poema de guerra e guerras várias.

Como de guerra e em guerra é "A Cena do Ódio", a prenunciar

o "Ultimatum Futurista...", de 1917.

ALMADA NEGREIROS. (lé, do "Ultimatum ..." )

"Uma raça sem ódios é uma raça desvirilizada porque

sendo o ódio o mais humano dos sentimentos é ao mesmo tempo

uma consequêneia do domínio da vontade, portanto uma vir-

tude consciente. O ódio é um resultado da fé e sem fé náo h á

força."

VOZ OFF.

De 1917 é também "The Love Song of J. Nfred Prufrock",

de Eliot. Importante enquanto ensaio técnico-formal de "The Waste Land" e partilhando (ainda desse ponto de vista) da dis- junção sintáctica que preside ao texto de N m a d a , "Prufrock" contém já algumas das preocupaçóes temáticas que organizam

esse outro poema de Eliot e "A Cena do Ódio": o tratamento da

cidade, a visáo da mulher, o estatuto do leitor.

T . S . ELIOT.

"Let u s go then, you and

I,

When the evening is spread out against the sky LiBe a patient etherised upon a table;

Let u s go, through certain half-deserted streets, The muttering retreats

(13)

A i J S A ü a E C:! DRAMA D I N ~ I C O OU A P R O X I M ~ \ Ç ~ E S 261

VOZ OFF.

As ruas meio-desertas e a sordidez de ambiente com que abre "PrufrocB" liga-se a "infâmia das ruas e dos boulevards" do poema de Almada, encontrando eco n a Londres de "The

Waste Land", que é banhada por um rio, agora vazio de sen-

tido. Como coro, as mulheres em "Prufrocli", indo e vindo no espaço claustrofóbico de um quarto, falando de Miguel Ângelo.

E novamente a figura feminina. Sobre a misoginia dialo-

garam já a s personagens do primeiro Acto. É sobre a mulher

enquanto objecto de desejo, inatingivel (representação sobre a qual elas falaram também no mesmo Acto), que dialogam agora A m a d a e Eliot.

ALMADA

NEGREIROS.

"Ah! que eu sinto claramente que nasci de uma praga de ciúmes.

Eu sou a s sete Pragas sobre o Nilo e a alma dos Bórgias a penar!"

VOZ OFF.

Metamorfoseada num sujeito múltiplo, a voz final de "A

Cena do Ódio" fala da "mulher de que se gosta em vão" - é

essa a praga maior, articulável, em "The Waste Land", com a

rapariga do jardim dos jacintos - epítome do silêncio ...

T.

S.

ELIOT.

"You gave me hyacinths first a year ago; 'They called me the hyacinth girl.'

- Yet when we came back, late, from the hyacinth garden,

Your arms full, and your hair wet,

I

could not

Speak, and my eyes failed, I was neither

Living nor dead, and I knew nothing."

VOZ OFF.

... e articulável também com o lamento de Prufrock sobre a frustração de ouvir o canto das sereias, mas não ser dele des- tinatário.

(14)

T . S. ELIOT.

"I have heard the mermaids singing each to each

I do not think that they will sing to me."

VOZ OFF

Até mesmo o "outro", "hypocrite lecteur", "semblable" e "frère", que figurava n a linha de Baudelaire, entrelaçada por Eliot em "The W a s t e Land", t i n h a sido já e n s a i a d o em "Prufroclr", n a voz que pretende ser paradigmática da condição moderna.

T . S. ELIOT.

"And when I am formulated, sprawling on a pin

When

I

am pinned and wriggling on the wall,

Then how should I begin

To spit out a11 the butt-ends of my days and ways?

And how should I presume?"

VOZ OFF.

A imagem do alfinete é o exemplo máximo de focalizaçáo;

será bom não esquecer que, dois anos antes de "Prufrock", e s e t e a n o s a n t e s do poema considerado a o b r a - p r i m a do Modernismo, a nossa personagem principal construía um espaço de aviso que ainda hoje faz sentido.

ALMADA NEGREIROS

"Olha para ti!

Se não te vês, concentra-te, procura-te! Encontrarás primeiro o alfinete

que espetaste n a dobra do casaco, e depois não percas o sítio,

porque estás decerto ao pé do alfinete. Espeta-te nele para não t e perderes de novo, e agora observa-te!"

(15)

A L M A E C.": DRAbL4 DINÁMICO OU APROXIMAÇOES 263

V O Z OFF.

Trata-se agora de construir u m epílogo. Como epílogo, poderia dizer-se qualquer coisa. Por exemplo, que estes são

versos desse que, como se lê em "As Cinco Canções Mágicas",

"aterrloul carimbado com todas a s dataslda expediçãole

(...I

nascieu] depois" e que por isso "só com o Universo se entendiial".

Ou podia voltar-se à sua fala inicial, aquela que diz que a poe-

sia "é a linguagem dos iguais dispersos no tempo". Ou podia ainda aproveitar-se, no fechar deste drama de iguais, aquilo que ele disse ter dito ao universo.

íVindas de d e b á s das cortinas, de Sul, d e ATor.te, de Oeste e de Leste, os actoms juntam-se todos à boca de cena. Almada está uesticlo de Pierrut

e traz na mijo esquerdo ''As Cinco Cartções Mágicas'?

ALMADA NEGREIROS.

"E

eu disse ao Universo: -Não saberei

ver-te senão como te vejo.,,

E aqui estou leal ao Universo

e anárquico a hora actual."

(Cai o p a n o )

BIBLIOGRAFIA

Niicai:iiros, Almada José de - O b m s Completas, "01s. IV, V e VI, Lisboa, Editorial Estampa, 1971.

BIAKIT, William - The Cornplete Poe~ns, ed. Alicia Oçtrilier, Harmmondçworth,

Penguin Boolis, 1977.

ELIOT, T. S.

-

Selected Poems, London, Faber and Faber, 1982.

MOIWES, Viniciuç de - Antolog~a Poética, Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1980.

Orpher~ 11, Lisboa, Ática, 1976.

P h s c o ~ ~ s - O Bailado, Lisboa, Assirio & Alvim, D. Maria Arnélia Teixeira de Vasconcelos, 1987.

Woitnswowrii, William - Tire Poetical Works o f William Wordsworth, ed. Erneçt

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