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Reeleição municipal e gastos com pessoal

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(1)

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS

MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

JEFFERSON WALLACE GOMES MARTINS FRANÇA

REELEIÇÃO MUNICIPAL E GASTOS COM PESSOAL

Rio de Janeiro

2019

(2)

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS

MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

REELEIÇÃO MUNICIPAL E GASTOS COM PESSOAL

Jefferson Wallace Gomes Martins França

Dissertação apresentada à Escola Brasileira de

Administração Pública e de Empresas (EBAPE),

da Fundação Getúlio Vargas, como requisito

obrigatório para obtenção do título de Mestre em

Administração.

Orientador: Robert Gregory Michener

Rio de Janeiro

2019

(3)
(4)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema de Bibliotecas/FGV

França, Jefferson Wallace Gomes Martins

Reeleição municipal e gastos com pessoal

/

Jefferson Wallace Gomes

Martins França. – 2019

.

96 f.

Dissertação (mestrado) - Escola Brasileira de Administração Pública e

de Empresas, Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa.

Orientador: Robert Gregory Michener.

Inclui bibliografia.

1. Despesa pública – Maranhão. 2. Servidores públicos – Salários, etc. 3.

Crime contra a administração pública - Maranhão. 4. Orçamento municipal –

Maranhão. 5. Eleições – Brasil. I. Michener, Robert Gregory. II. Escola

Brasileira de Administração Pública e de Empresas. Centro de Formação

Acadêmica e Pesquisa. III. Título.

CDD – 336.39

(5)

Aos meus pais,

À minha esposa e meus filhos

E ao meu irmão.

(6)

Veni, vidi, vici.

(7)

AGRADECIMENTOS

Demonstrar gratidão é fácil, mas identificar os nomes de quem devo citar aqui é uma tarefa

complexa. Para mim, tudo é benção e todos colaboram de alguma forma com o aprendizado do

outro.

Apesar disso, agradeço ao Grande Arquiteto do Universo, que todos os dias me permitiu estar

vivo e me possibilitou chegar até aqui.

A meus pais, França e Fátima, que desde cedo me demonstraram o valor do estudo e do

progresso contínuo, sem falar do amor e todas as outras virtudes que os pais podem transmitir

aos filhos.

A minha esposa, Selma, e aos meus filhos Bruno, Maria Luísa e Samille, pela compreensão das

minhas ausências, pelo incentivo, pelo propósito e pelo amor que todo dia se fortifica.

Ao professor Gregory Michener, por ter me escolhido como orientado, pelo conhecimento

transmitido, pela inspiração em fazer o bem.

A Evelyn Contreras, pelo tempo disponibilizado, pelas informações prestadas e pelo apoio.

A Jéssica Aragão, pelo livro emprestado para a prova de seleção. Não sabendo que era

impossível, foi lá e fez (Jean Cocteau)

Aos meus clientes-amigos-prefeitos José Martinho, Dulce Maciel, Lindomar Araújo, André

Portela, Adailson Machado e aos meus valorosos amigos de trabalho Alan e Gheysa Amorim,

Elias Silva, Felipe e Lidiane Portela, Irlailton Assunção, Rafael Teixeira, Pedro Soares, pela

amizade construída.

Aos meus amigos da turma do MAP, em especial Aloysio Meira, Álvaro Fiúza, Breno Augusto,

Breno Gouveia, Eduardo Pereira e Marcello Duailibe.

A todos que de alguma forma contribuíram para a conclusão do curso, mesmo que não tenha

citado aqui. Tudo é benção!

(8)

RESUMO

Objetivo: O presente estudo tem como objetivo identificar as práticas fraudulentas de oneração

da folha de pagamentos nos municípios e avaliar se elas têm motivação eleitoral. A análise

empírica central concentra-se nos dados da folha de pagamento de 2004 a 2017, provenientes

de cidades com menos de 50 mil habitantes no Maranhão, como forma de compreender a

relação entre os gastos com folha de pagamento e a reeleição para prefeito.

Metodologia: A pesquisa consistiu em painel de análise constituído por observações de 194

municípios do Maranhão, todos com menos de 50.000 pessoas, de 2004 a 2017, período que

inclui 4 eleições municipais: 2004, 2008, 2012 e 2016. A variável dependente de o estudo é a

contratação de pessoal temporário e a variável independente é reeleição. Também se controlou

o PIB per capita, o aumento do salário mínimo e a inflação.

Resultados: Os dados mostram que nos anos de eleição há um aumento significativo nos gastos

com pessoal na forma de contratos temporários. Este aumento não é logicamente observado nos

gastos com pessoal permanente, baseado em mérito - que não perdem nada financeiramente

quando os prefeitos não garantem a reeleição - nem no caso de empregados comissionados, que

tendem a perder seus empregos se os prefeitos não forem reeleitos.

Limitações: Certos municípios não forneceram dados, significando que não publicaram seus

relatórios de gestão fiscal.

Contribuições práticas: Com base nesses resultados, os órgãos de fiscalização e a sociedade

podem atuar na implementação de mecanismos mais eficazes para detectar fraudes e abusos de

gastos públicos.

Contribuições sociais: Ao confirmar o uso eleitoral de cargos públicos para obter votos, o

estudo mostra que as leis eleitorais e criminais devem ser usadas com maior freqüência para

conter a atividade ilegal.

Originalidade: Este é o primeiro estudo que relaciona os gastos com pessoal no nível municipal

com o ciclo eleitoral.

Palavras-chave: Despesa pública. Servidores públicos. Municípios. Eleição. Clientelismo.

Categoria do artigo: Dissertação de Mestrado/Artigo original.

(9)

ABSTRACT

Purpose: The present study aims to identify the fraudulent practices of payroll encumbrance in

the municipalities and to evaluate if they have electoral motivation. The central empirical

analysis focuses on payroll data from 2004 to 2017 from cities with less than 50,000 inhabitants

in Maranhão, as a way of understanding the relationship between payroll spending and mayoral

reelection.

Design/Methodology: The research consisted of panel analysis constituted by observations

from 194 municipal districts in Maranhão, all under 50,000 people, from 2004 to 2017, a period

that includes 4 electoral periods: 2004, 2008, 2012 and 2016. The dependent variable of the

study is the contracting of temporary personnel and the independent variable is reelection. We

also control for per capita GDP, increases in the minimum wage and inflation.

Findings: The data show that in election years there is a significant increase in personnel

expenditures in the form of temporary contracts. This increase is logically not observed in

expenditures on permanent, merit-based personnel – who lose nothing financially when mayors

do not secure reelection – nor in the case of commissioned employees, who tend to lose their

jobs if mayors are not reelected.

Research limitations: Certain municipalities did not provide data, meaning that they did not

publish their fiscal management reports.

Practical contributions: Based on these results, the supervisory bodies and society can act to

implement more effective mechanisms for detecting fraud and abuses of public expenditures.

Social contributions: By confirming the electoral use of public office to obtain votes, the study

illustrates that electoral and criminal law should be used with greater frequency to curb illegal

activity.

Originality: This is the first study that relates personnel expenditures at the municipal level

with the electoral cycle.

Keywords: Public expenditure. Public servants. Counties. Elections. Clientelism.

Article category: Master's Dissertation / Original article.

(10)

LISTA DE ANEXOS

ANEXO I – DADOS DOS MUNICÍPIOS DE 2004 A 2006 ___________________________________________ 46

ANEXO II – DADOS DOS MUNICÍPIOS DE 2007 A 2009 __________________________________________ 51

ANEXO III – DADOS DOS MUNICÍPIOS DE 2010 A 2012 __________________________________________ 56

ANEXO IV – DADOS DOS MUNICÍPIOS 2013 A 2015 ____________________________________________ 62

ANEXO V – DADOS DOS MUNICÍPIOS DE 2016 E 2017 __________________________________________ 67

ANEXO VI – DESPESAS TOTAIS DOS MUNICÍPIOS (2004 a 2010) __________________________________ 72

ANEXO VII – DESPESAS TOTAIS DOS MUNICÍPIOS (2011 A 2017) __________________________________ 77

ANEXO VIII– DADOS DE REELEIÇÃO _________________________________________________________ 82

ANEXO IX – IDH, SALÁRIO MÍNIMO E INFLAÇÃO _______________________________________________ 92

(11)

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO _________________________________________________________ 11

2

DAS DESPESAS COM PESSOAL E DAS FRAUDES POSSÍVEIS _____________________ 13

2.1

Servidores Fantasmas _____________________________________________________ 15

2.2

Provimento Ilegal de Cargos ________________________________________________ 16

2.3

Pagamento de Diárias, Gratificações e Indenizações _____________________________ 17

2.4

Terceirizações simuladas ___________________________________________________ 19

3

MOTIVAÇÕES E PERSPECTIVAS DE SOLUÇÕES _______________________________ 20

3.1

Motivações ______________________________________________________________ 20

3.2

Oportunidade e Racionalização _____________________________________________ 22

3.3

Perspectiva de Detecção ___________________________________________________ 23

4. FOLHA DE PAGAMENTO E REELEIÇÃO _____________________________________ 25

4.1

Political Business Cycle ____________________________________________________ 25

4.2

Clientelismo _____________________________________________________________ 28

5. ANÁLISE DOS DADOS ___________________________________________________ 29

5.1

Dados e Amostra _________________________________________________________ 29

5.2

Desenho de Pesquisa ______________________________________________________ 30

5.3

Resultados e Discussão ____________________________________________________ 31

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES _______________________________ 36

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _______________________________________________ 39

(12)

1.

INTRODUÇÃO

Como se comporta a despesa com pessoal em cidades do Brasil onde o prefeito

pretendeu se reeleger? O Brasil tem 5.570 cidades, 91% delas com até 50.000 (cinquenta mil)

habitantes, onde 6.010.109 servidores públicos municipais, de um total de 11,5 milhões de

servidores (federais, estaduais e municipais). O número de servidores municipais corresponde

a 65,7% do pessoal ocupado no Brasil, gerando uma despesa anual de R$ 257 bilhões (IBGE,

2017; IPEA 2017). Praticamente 10% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro é consumido

pelo pagamento de servidores públicos de todas as esferas (federal, estadual e municipal)

(IPEA, 2018).

O presente estudo visa identificar as práticas fraudulentas de oneração da folha de

pagamentos nos municípios e avaliar se elas têm motivação eleitoral. A análise empírica se

concentra em entender a variação nos gastos com pessoal em relação ao ciclo eleitoral em nível

municipal, a partir de 2004 até 2016, abordando também as práticas fraudulentas de admissão

de pessoal. Também coloca luz sobre a relação entre folha de pagamento e reeleição de

prefeitos.

A pesar de haver muito pouco escrito sobre remuneração de servidores públicos,

especialmente a nível local no Brasil, o gasto com pessoal é a principal despesa em âmbito

municipal, estando legalmente limitada a até 60% da receita líquida do município (Brasil,

2000). Municípios são obrigados a investir o mínimo de 25% de suas receitas em educação e

15% em saúde (Brasil, 1988), mas quanto maiores os gastos com servidores, menores os

recursos disponíveis para tais investimentos, entre outros.

Em que pese a existência desse limite de gastos há mais de 15 anos, não raro é seu

descumprimento: uma em cada quatro cidades estouram esse limite, o que representa um

excesso de R$ 5,2 bilhões (FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DO RIO DE

JANEIRO, 2018). Em 2017, de 169 cidades maranhenses pesquisadas, constatou-se a

extrapolação do limite de gastos com pessoal em 69 – mais de um terço (CMN, 2017). A crise

financeira enfrentada pelos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul foi

agravada justamente pelos gastos com pessoal (Brasil, 2018). Importante considerar que essa

(13)

natureza de gastos envolve não só os servidores ativos, mas também os inativos. Logo, há

impactos em todos os regimes de previdência, seja próprio ou geral.

Admissão de servidores públicos, pela via constitucional ou legal, é normal e ato

corriqueiro da administração. Porém, há práticas ilegais, fraudulentas de admissão de pessoal e

oneração da folha de pagamento, o que indica o baixo grau de controle e até mesma a

dificuldade material desse tipo de controle. Tais práticas ilegais parecem tornar-se mais

presentes no ano de eleição municipal, quando o cargo público, ainda que precário, é concedido

para se obter um voto.

Nesse cenário, tem-se duas práticas: uma, o tratamento dado às despesas com

pessoal, maior despesa dos municípios; outra, as fraudes praticadas na folha de pagamento, que

oneram a primeira, inviabilizando a consecução de políticas públicas.

Este estudo aborda os excessos praticados no trato de remuneração pública local

por duas vias. Primeiro, neste estudo serão exploradas as formas fraudulentas de aumento das

despesas com pessoal, os motivos que levam administradores públicos a promover essas fraudes

e possíveis soluções (melhorias dos meios de controle dessas condutas). Segundo, pretende-se

analisar a relação entre a despesa com pessoal e o instituto da reeleição de prefeitos municipais

a partir de 2004 até 2016, de modo a mensurar se, em nível municipal, a remuneração dos

servidores públicos é afetada pela candidatura à reeleição dos prefeitos.

Para esse estudo foram obtidos dados de 194 cidades maranhenses com menos de

50 mil habitantes. A análise tem por base o elemento de despesa orçamentária pessoal e

encargos sociais, dentro da categoria econômica despesas correntes, a qual faz parte da Lei

Orçamentária Anual (LOA) dos Municípios, e obtidos através da Secretaria do Tesouro

Nacional. Nessa categoria de despesa são registradas as despesas com pagamento de pessoal

ativo, inativo, pensionistas, a quaisquer ocupantes de cargos públicos, incluindo adicionais,

gratificações e horas extras (BRASIL, 2000).

O índice de reeleição de prefeitos até 2016 e de 56%, em todo o Brasil. Há cidades

onde a prefeitura é um dos principais empregadores, fato que ocorre em 10% dos municípios

brasileiros, os quais dependem 80% da Prefeitura para existir financeiramente (Brasília, 2017).

Assim, quem não é servidor público, é comerciário ou beneficiário dos programas de

(14)

transferência de renda. A preocupação que sempre acompanhou a reeleição é a Incumbency

Effect (Zupan, 1991), ou seja, uma pressuposta desvantagem daqueles que não ocupam o cargo

que se pretende reeleger. A ideia central é que o candidato que busca a reeleição teria ampla

vantagem em relação aos demais, pois controla toda a máquina pública, seu orçamento e

tomadas de decisão. Desse possível direcionamento da máquina pública podem ocorrer

condutas ilícitas, consistindo em fraudes e que serão abordadas no Capítulo Dois desse trabalho.

No mesmo capítulo serão apresentados os comportamentos da despesa com pessoal nos últimos

anos, em âmbito municipal e nacional. O Capítulo Três apresenta as motivações e perspectivas

de soluções para as fraudes nas folhas de pagamento.

A dissertação representa um estudo inédito, pois a literatura correlata trata das

relações de gastos com saúde, comportamento fiscal, endividamento público, corrupção e

investimentos em educação com reeleição, como consta no Quarto Capítulo. Além disso,

possivelmente é o primeiro estudo onde são descritas as práticas fraudulentas de oneração da

folha de pagamento nos municípios do Brasil.

Os Capítulos Quinto e Sexto tratarão os descritivos dos dados utilizados,

metodologia aplicada e resultados alcançados, os quais atestam um aumento de gasto com

pessoal temporário no ano da eleição, sugerindo um possível uso para fim eleitoral. Ao final,

no Capítulo Sete serão apresentadas as conclusões e possíveis encaminhamentos.

2

DAS DESPESAS COM PESSOAL E DAS FRAUDES POSSÍVEIS

A admissão de servidores públicos enfrenta um tratamento legal, o qual diz respeito

às formas de admissão e execução dos serviços, e um tratamento financeiro, dado que a

remuneração de servidores é uma despesa pública e objeto de análise orçamentária. Em alguns

momentos esse duplo tratamento expõe suas fragilidades, permitindo que fraudes aconteçam,

como adiante será demonstrado.

Em regra, a admissão de servidores públicos e empregados públicos para cargos de

provimento efetivo deve ocorrer mediante concurso público de provas e títulos ou através de

seletivo, que é um concurso simplificado (BRASIL, 1988). Para os cargos em comissão, os

quais referem-se às funções de direção, chefia e assessoramento, é possível a livre nomeação,

(15)

sendo desnecessário concurso público (BRASIL, 1988). É possível ainda a contratação direta

de servidores e empregados públicos, de forma temporária, para atender necessidade

excepcional da Administração Pública (BRASIL, 1988).

A Lei Complementar nº 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF) estipula

limites de gastos com pessoal para os três níveis da federação. Assim, em cada exercício

financeiro (01/01 a 31/12), o máximo permitido de gastos com pessoal é de 60% da Receita

Corrente Líquida (RCL) (Brasil, 2000). Ultrapassar esse limite constitui crime de

responsabilidade (Brasil, 1967) e ato de improbidade administrativa (Brasil, 1992).

O aumento da despesa com pessoal deve ser precedido de análises orçamentárias

para três exercícios financeiros, para verificar o risco de inadimplemento (Brasil, 2000). Se isso

não for observado, esse tipo de despesa é considerado nulo (Brasil, 2000). Para fins legais, são

consideradas despesas com pessoal:

• Vencimentos e vantagens, fixas e variáveis de servidores ativos, os inativos

e os pensionistas, relativos a mandatos eletivos, cargos, funções ou

empregos, civis, militares e de membros de Poder,

• Subsídios,

• Proventos da aposentadoria,

• Reformas e pensões,

• Adicionais,

• Gratificações,

• Horas extras,

• Vantagens pessoais de qualquer natureza,

• Encargos sociais e

• Contribuições recolhidas pelo ente às entidades de previdência.

A admissão de servidores através de concurso público sofre limitação em anos

eleitorais. A Lei nº 9.504/97 proíbe a nomeação e contratação de servidores e empregados

públicos no período de julho a dezembro do ano que se realiza a eleição (art. 73), mas permite

a nomeação de aprovados em concursos homologados antes desse mesmo prazo. Também

permite a livre nomeação e exoneração para cargos em confiança. No ano eleitoral é vedada a

(16)

concessão de aumento de remuneração dos servidores, no período de três meses antes do pleito

até a posse dos eleitos (Brasil, 1997).

Sendo assim, a primeira possibilidade lícita que o prefeito pretendente à reeleição

dispõe é realizar concurso público em período próximo ao ano de eleição e homologá-lo antes

do período vedado. Outra possibilidade é promover aumentos de vencimentos e subsídios,

igualmente fora do interregno proibido. Estas condutas podem se amoldar à descrição do

modelo de reputação (apresentada no Capítulo Quatro) ou de patronagem, e são despesas de

caráter continuado, gerando ônus ao Município.

As condutas lícitas podem vir a serem tidas por ilegítimas ou imorais, mas são

permitidas pela legislação, em tese. As condutas que merecem destaque são as ilícitas, pois

demandam todo um conjunto de ações e sanções por parte da Administração Pública. Essas

condutas serão aqui tratadas como desvios de finalidade ou fraudes, dado que representam ações

de má-fé, com descumprimento de obrigação imposta em lei e destinadas à manipulação de

algum resultado. A nomenclatura e sistematização abaixo utilizadas é largamente utilizada

pelos órgãos de controle e pelo Poder Judiciário.

2.1

Servidores Fantasmas

O caso mais típico de fraude é a admissão de servidores fantasmas. Essa fraude

consiste no pagamento de remuneração a uma pessoa, sem que haja a necessária prestação de

serviços. Casos como esse são encontrados nas mais diversas esferas de governo e esse tipo de

fraude é facilitada pela ausência de controles de jornada.

Em 2018, o Supremo Tribunal Federal (STF) recebeu denúncia contra o deputado

federal paranaense Luiz Nishimori, o qual teria empregado 09 (nove) servidores fantasma em

seu gabinete quando deputado estadual, no período de 2003 a 2010, acarretando um prejuízo de

aproximadamente R$ 2,8 milhões (Brasil, 2018). Ainda em nível estadual, o então governador

de Roraima (RR), Neudo Campos (1995-2002) foi alvo da Operação Gafanhoto, a qual detectou

cerca de 5.500 (cinco mil e quinhentos) servidores fantasmas e um prejuízo de R$ 230 milhões

(Brasil, 2019). Em 2014, o Ministério Público Federal (MPF) ajuizou ação contra o ex-senador

Efraim Morais e outras 50 (cinquenta) pessoas lotadas em seu gabinete, mas que não prestavam

serviços efetivamente, gerando um prejuízo de R$ 6 milhões (Brasil, 2014).

(17)

Em âmbito municipal, especificamente no Maranhão, o Ministério Público Estadual

(MPE-MA) titularizou em 2016 a Operação Descarrego, que detectou mais de 40 (quarenta)

servidores fantasmas na cidade de Pio XII, com remunerações médias de R$ 4 mil (Maranhão,

2016). O mesmo órgão também atuou contra o prefeito de São José de Ribamar em razão da

existência de 33 (trinta e três) servidores fantasmas em 2016, o que teria ocasionado um prejuízo

superior a R$ 2 milhões (Maranhão, 2016).

2.2

Provimento Ilegal de Cargos

Outra possibilidade é a admissão irregular de servidores públicos, sem concurso

público ou processo seletivo, para ocupar cargos de provimento efetivo ou até mesmo para

ocupar cargos públicos inexistentes. Por força constitucional, a criação de cargos públicos

demanda sua prévia criação por lei, estipulando-se número de vagas, remuneração, atribuições

e demais características (Brasil, 1988).

Uma dessas condutas aconteceu em Açailância-MA em 2016. O MPE-MA detectou

que desde 2012 o município não realizava concursos públicos e havia 531 servidores ocupando

cargos de provimento efeito, sem concurso público (Maranhão, 2016). No município de Montes

Altos-MA, em 2013, o MPE-MA constatou que o Poder Executivo Municipal mantinha

servidores contratados temporariamente para cargos usuais (Maranhão, 2013). O mesmo órgão

atuou contra o Município de São Joao dos Patos, face à contratação irregular de servidores e

nomeação de parentes do prefeito (Maranhão, 2017).

Uma variação dessa conduta é a criação de cargos comissionados sem

preenchimentos dos requisitos legais. Os cargos comissionados são aqueles destinados à

assessoramento, chefia ou direção, não podendo abranger atividades burocráticas ou

operacionais usuais. Em 2018 o STF ratificou a necessidade do vínculo de confiança para a

criação de cargos dessa natureza, julgando assim inconstitucional lei do município de

Guarulhos/SP (Recurso Extraordinário 1.041.2010/SP). Em momento anterior, o STF já havia

decidido da mesma forma (Brasil, 2011).

Segundo IBGE (2015), a média de servidores públicos comissionados nas cidades

com até 5.000 (cinco mil) habitantes é de 13,2% da população (contra 63,2% de cargos de

(18)

provimento efetivo), número que se reduz na medida em que aumenta o número de habitantes.

Assim, em cidades de até 50.000 (cinquenta mil) moradores, o percentual cai para 8,5% (contra

58,6% dos cargos de provimento efetivo).

Tabela 1 Percentual de pessoal ocupado na administração direta, por vínculo empregatício,

segundo as classes de tamanho da população dos municípios - Brasil - 2005/2015

População

Percentual de pessoal ocupado na administração direta,

por vínculo empregatício (%)

Estatutários CLT Comissionados Estagiários Sem Vínculos

Até 5.000

65,0

7,7

14,1

1,6

11,6

De 5.001 a 10.000

63,3

7,7

11,6

1,7

15,7

De 10.001 a 20.000

62,4

8,0

10,0

1,5

18,1

De 20.001 a 50.000

60,9

8,9

8,4

1,9

19,8

De 50.001 a 100.000

61,9

9,8

7,7

2,7

17,9

De 100.001 a 500.000

65,7

9,6

7,0

3,2

14,4

Mais de 500.000

79,1

4,8

5,1

2,7

8,4

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Informações Básicas Municipais 2015/2017

O município catarinense de Balneário Camburiú é um dos que teve declarado

inconstitucional leis que criavam mais de 130 (cento e trinta) cargos comissionados (Santa

Catarina, 2017). Sertãozinho (SP) também teve impugnada lei local que criou 250 cargos

comissionados (São Paulo, 2017).

2.3

Pagamento de Diárias, Gratificações e Indenizações

A remuneração de servidores público é composta de duas partes: uma fixa, que é o

vencimento, e outra variável, que podem ser indenizações, gratificações e adicionais. Já os

agentes políticos e aqueles que exercem atividade de estado são remunerados por subsídios,

sem direito a pagamento de adicionais e gratificações (art. 39, CF/88). Cada município tem

autonomia para fixar quais parcelas variáveis pagará a seus servidores, embora a Lei Federal nº

8.112/90, que trata dos servidores públicos federais, seja a norma de referência para os outros

entes federados.

Segundo essa lei (art. 51), as indenizações compreendem as ajudas de custo, que

destina-se a compensar as despesas de instalação do servidor que, no interesse do serviço, passar

a ter exercício em nova sede, com mudança de domicílio em caráter permanente (art. 53); as

diárias, com finalidade de indenizar as parcelas de despesas extraordinária com pousada,

alimentação e locomoção urbana do servidor em viagem a serviço (art. 58); o transporte, para

(19)

compensar despesas com a utilização de meio próprio de locomoção para a execução de

serviços externos (art. 60); e o auxílio-moradia, para ressarcimento das despesas

comprovadamente realizadas pelo servidor com aluguel de moradia ou com meio de

hospedagem administrado por empresa hoteleira, no prazo de um mês após a comprovação da

despesa pelo servidor (art. 60-A).

Já o quadro de adicionais e gratificações é composto por nove possibilidades, a

saber:

• Retribuição pelo exercício de função de direção, chefia e assessoramento;

• Gratificação natalina;

• Adicional pelo exercício de atividades insalubres, perigosas ou penosas;

• Adicional pela prestação de serviço extraordinário;

• Adicional noturno;

• Adicional de férias;

• Outros, relativos ao local ou à natureza do trabalho; e

• Gratificação por encargo de curso ou concurso.

Independentemente da nomenclatura, pagamentos a servidores públicos são

despesas públicas e devem estar previamente estabelecidas em lei strictu sensu, a qual também

deve descrever a hipótese de incidência, o valor, a forma e o período de percepção. Ausente

qualquer um desses elementos, o pagamento será indevido.

Aqui a fraude consiste no pagamento de qualquer um desses elementos de

remuneração, sem que esteja configurada a hipótese de incidência ou sem a existência de lei

autorizativa prévia. Ou seja: é um pagamento sem amparo legal. Essa fraude possivelmente é a

mais fácil de ser praticada, podendo ocorrer tanto na Administração Pública como na Privada.

Diz-se mais fácil pois pressupõe apenas a alteração dos valores devidos na folha de pagamento

do ente pagador, seja público ou privado.

Esse esquema não é recente e já atingiu diversos órgãos e entidades públicos, tal

qual os demais esquemas já retratados. Um dos primeiros casos amplamente divulgado na

imprensa maranhense e nacional ocorreu no final na década de 1990, quando se descobriu que

policiais militares que elaboravam a folha de pagamento do órgão estavam alterando

(20)

ardilosamente os valores de gratificações de policiais especialmente selecionados (Maranhão,

2001). À época, os valores subtraídos ultrapassaram R$ 500 mil e gerou a demissão dos

policiais envolvidos.

Embora divulgada essa forma de fraude, parece não ter havido refinamento dos

métodos de controle de pagamento estadual. O Tribunal de Justiça do Maranhão também

descobriu esquemas da mesma natureza em 2014 (iMirante, 2014), mesmo já tendo sido alvo

de investigação do TCU, o qual apurou fraudes de R$ 90,5 milhões nesse esquema de

lançamentos indevidos de adicionais e gratificações no mesmo órgão.

Em âmbito municipal, o esquema se repete, tanto que o Ministério Público Estadual

manejou ações contra diversos municípios. Pode-se citar o caso de São João do Caru, onde

pagavam-se gratificações sem previsão legal a servidores específicos, em valor individual de

aproximadamente R$ 2 mil/mês (Maranhão, 2016). Em alguns casos, o pagamento de

gratificações era dado a secretários municipais, em valores inclusive superiores a seus

vencimentos, como ocorrido em Governador Edison Lobão (Maranhão, 2013) e em

Chapadinha, cujo dano foi superior a R$ 1 milhão (Maranhão, 2015). Em outros estados, como

na Bahia, detectaram-se casos em Vitória da Conquista (Bahia, 2018) e em São Desidério

(Bahia, 2009), onde o prejuízo ao erário foi cerca de R$ 500 mil. Em Pedreira (SP), o MPE-SP

pediu a inconstitucionalidade da lei municipal que estabelecia pagamento de gratificações de

forma pessoal.

Se de um lado essa fraude seria a mais fácil de ser executada, por outro também é

a mais fácil de ser identificada, dada a obrigação de gestores públicos prestarem contas anuais

aos órgãos de controle (Brasil, 1988). Nesses casos, a sanção comum é a rejeição das contas,

tornando o gestor inelegível, e a aplicação de multa.

2.4

Terceirizações simuladas

A Lei de Responsabilidade Fiscal limita os gastos com pessoal em 50 e 60% da

receita corrente líquida da União, Estados e Municípios. Porém, os gastos com terceirização de

serviços não são contabilizados como gastos com pessoal. Assim, gestores públicos terceirizam

diversas atividades para não se submeter ao limite de gastos com pessoal ou para fugir da

(21)

obrigação da realização de concurso público, e para poder distribuir os empregos que

eventualmente prometera durante o período eleitoral.

Segundo o IBGE (2015), 86,8% das cidades brasileiras contrataram pelo menos um

tipo de assessoria (jurídica, contábil, financeira etc) e 85,6% terceirizaram alguma atividade da

administração, como iluminação pública, coleta de lixo, limpeza e conservação de prédios

públicos etc. A contratação de assessorias é mais recorrente em cidades de pequeno porte

(IBGE, 2015). Uma situação não abordada nessa análise do IBGE diz respeito à contratação de

cooperativas para fornecimento de mão de obra para as administrações municipais, modalidade

de fraude que ganhou volume a partir dos anos 2010.

Essa conduta foi detectada pelo MPF em relação à cidade de Ribeirão do Largo

(BA), a qual contratou cooperativa, resultando em desvio de aproximados R$ 700 mil entre

2013 e 2014 (Brasil, 2018). O Ministério Público do Trabalho (MPT) agiu contra os Municípios

de Araruama (RJ) (Brasil, 2019) e Sorriso (MT) (Brasil, 2019) pelo uso fraudulento de

cooperativas. O MPE-MA, atuando em Cantanhede-MA, apurou a irregularidade da

contratação de cooperativa no valor de R$ R$ 1.227.023,30 (Maranhão, 2018). Idêntica situação

ocorreu em Nina Rodrigues (MA) (Maranhão, 2017), cujo contrato firmado com uma

cooperativa foi superior a R$ 3 milhões, e em Paço do Lumiar (MA), contra cooperativa que

operou mais de R$ 230 milhões de municípios maranhenses (Maranhão, 2016).

3

MOTIVAÇÕES E PERSPECTIVAS DE SOLUÇÕES

3.1

Motivações

Pelo menos três motivações são dedutíveis quando se questionam as razões que

levam às fraudes na folha de pagamento. A primeira delas é o efeito provedor, que diz respeito

ao comportamento humano de prover família e pessoas próximas com os meios necessários

mínimos de subsistência. Na iniciativa privada, esse efeito é observado quando um familiar, ao

ficar desempregado, é logo contratado para trabalhar na empresa de algum outro membro da

família. Na esfera pública, esse tipo de comportamento foi um dos motivadores da vedação ao

nepotismo, a proibição de se admitir parentes até o 3º grau na administração pública (STF,

Súmula Vinculante 13).

(22)

Apesar dessa proibição, a admissão de parentes do chefe do executivo e de membros

do Legislativo ainda é algo comum em diversos níveis da administração pública, tanto que

precisou ser expressamente normatizada. Um diagnóstico do Ministério Público de Santa

Catarina (MP-SC) apontou que em 88% das prefeituras catarinenses há nepotismo (Santa

Catarina, 2007). Em Luziânia-GO foram detectados outros 51 casos em 2019 (Goiás, 2019).

Situações idênticas ocorreram em Trairi-CE (Ceará, 2018), Maraial-PE (Pernambuco, 2018),

Itapecuru-Mirim-MA (Maranhão, 2019), Serrano-MA (Maranhão, 2018), Fortaleza dos

Nogueiras-MA (Maranhão, 2019), onde o prejuízo ao erário foi contabilizado em pelo menos

R$ 156 mil.

A segunda motivação tem por objetivo a obtenção de recursos financeiros para

financiamento de campanhas eleitorais, o que é mais comum no Poder Legislativo. Essa

situação tem sido mais facilmente encontrada nesse Poder por razões de limitação orçamentária:

não realiza compras significativas, ou quando faz, a ingerência é limitada ao Chefe do Poder

(outros membros não participam). Aqui o modo de operação consiste em uma taxa de retorno:

os servidores ocupantes de cargos comissionados de deputados, vereadores e senadores devem

retornar uma parte da remuneração recebida ao titular do cargo (Brasil, 2018) (Tocantins,

2019). O caso mais recente envolveu o assessor do então deputado estadual Flávio Bolsonaro

(PSL-RJ), Fabrício Queiroz, cujo depoimento ao Ministério Público do Rio de Janeiro

confirmou a adoção dessa prática (Globo, 2019).

No Poder Executivo essa situação é incomum, pois não agrega capital financeiro

significativo para campanhas eleitorais. Valores significativos podem ser obtidos através de

licitações, especialmente de obras e serviços de engenharia, como foi o caso da Operação

Lava-jato (Brasil, 2015), onde as irregularidades alcançaram a cifra dos R$ 8,8 bilhões.

A terceira motivação é para captação de votos, o que se relaciona diretamente com

o objeto dessa dissertação. Legalmente é proibido que qualquer candidato, a qualquer cargo

eletivo, prometa ou doe qualquer tipo de benefício ao eleitor, com o propósito de obter seu voto

(BRASIL, 1997), o que pode inclusive ocasionar a cassação do mandato. A simples proibição

legal é inefetiva para coibir esse tipo de conduta, tanto que há vários julgados do de Tribunais

Regionais Eleitorais e no Tribunal Superior Eleitoral.

(23)

Essa baixa efetividade decorre da dificuldade de comprovação do fato, pois tem-se

utilizado exclusivamente de provas testemunhais para verificação dessa ocorrência. Não há, nos

julgamentos proferidos pelos Tribunais Eleitorais do país, nenhuma condenação que tenha por

base a utilização de outro meio de prova, que não a testemunha (Brasil, 2011; Minas Gerais,

2005; São Paulo, 2017). Como dito anteriormente, nos casos de fraudes na folha de pagamento

para fins eleitorais, a detecção (em número reduzido de casos) ocorreu exclusivamente pelo uso

de testemunhas e só foi iniciada por conta de denúncias. Não há investigações iniciadas

originalmente por ação dos entes de fiscalização. São denúncias que iniciaram as investigações.

3.2

Oportunidade e Racionalização

Uma das dificuldades de detecção desse tipo de fraude era o tratamento dado às

folhas de pagamento de diversos entes públicos, ou seja, eram tidos como documentos sigilosos,

até a publicação da Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011), quando o STF

manifestou-se pela existência de interesse coletivo dessa informação, a qual deveria ser dada

publicidade (Agravo Regimental na Suspensão de Segurança 3.902). Assim, a partir da

transparência dada a esse gasto, a população pode fiscalizar e acompanhar tais gastos.

Todavia, é um volume de dados praticamente inviável de ser feito de forma manual,

usando-se régua e lápis ou mesmo planilhas. A título de exemplo: imagine-se acompanhar os

gastos com pessoal de um Município que tenha 1.000 (hum mil) servidores ativos, ao longo de

24 meses, e onde cada servidor receba pelo menos uma gratificação, uma ajuda de custo e um

adicional. Isso geraria uma tabela com três mil linhas por mês, totalizando 72.000 (setenta e

duas mil) linhas, distribuídas ao longo de pelo menos 1.600 (hum mil e seiscentas) folhas de

papel. Esse tipo de análise, obviamente, deve ser feito usando meios tecnológicos, o que tem se

tornado a cada dia mais factível.

É justamente o baixo grau de detecção que favorece esse tipo de fraude, a qual

também tem um baixo (ou zero) custo de implementação. As fraudes tratadas nesse trabalho

não demandam a montagem de nenhuma estrutura de lavagem de dinheiro, ao contrário das

fraudes em licitações e contratos administrativos. Em alguns casos, a contratação de servidores

fantasmas pode até favorecer o município, pois o imposto de renda eventualmente pago pelo

(24)

Conquanto existam punições para todas essas condutas, sanções estas que envolvem

a perda do mandato eletivo, a inelegibilidade, o pagamento de multas, a impossibilidade de

prestar qualquer tipo de serviço à Administração Pública (penas das ações de improbidade

administrativa), e até mesmo a prisão (sanção nas ações criminais), essas práticas perduram na

administração. Um dos fatores que estimula é a morosidade do Poder Judiciário nacional, ou

seja, o risco de punição é menor que os proveitos obtidos dessas condutas (Becker and Stigler,

1974; Klitgaard, 1988; Olken, 2007; Treisman, 2007).

Para ilustrar, o prefeito de Ouricuri-PE, em 2014 foi condenado a sete anos de prisão

por contração de servidores fantasmas entre 2001 e 2002 (Brasil, 2014). Ou ainda o prefeito de

Lagoa Seca-PB, o qual também contratou servidores fantasma com fins eleitorais, entre 1983 e

1989, e foi condenado a 8 anos de prisão em 2010 (Brasil, 2010).

O tempo médio nacional para que um juiz estadual emita uma sentença é de 03 anos

e 9 meses, mais 08 meses para que o Tribunal julgue o recurso dessa sentença. Na Justiça

Federal, o primeiro prazo é de 4 anos e 3 meses e mais 1 ano e 11 meses para julgamento do

recurso (CNJ, 2018). Porém, se a fraude for no Rio de Janeiro, o prazo de sentença de 4 anos e

8 meses ou 10 (dez) anos e 11 meses, se for no Rio Grande do Norte, para a Justiça Estadual.

Na Justiça Federal, os juízes do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, a qual

envolve os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, o prazo é de 5 anos e 1 mês. O Tribunal

Regional Federal da 1ª Região, que abrange Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Goias, Maranhão,

Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Piauí, Rondônia, Roraima e Tocantins, o prazo de recurso é

de 2 anos e 05 meses (CNJ, 2018).

Até 2013, tramitavam 8.183 ações de improbidade administrativa, em todo o País.

Destas, prefeitos, ex-prefeitos e vice-prefeitos eram réus em pelo menos 33% dos casos (CNJ,

2015). Não há dados sobre os fatos que originaram essas ações.

3.3

Perspectiva de Detecção

Duas iniciativas pioneiras podem ser destacadas na perspectiva de melhoria dos

controles contra essas fraudes. A primeira advém da Controladoria Geral da União e foi

implementada em 2014. Consiste em um sistema online de trilhas de auditoria de pessoal, cujo

(25)

acesso pode ser realizado por gestores públicos federais e que permite o cruzamento de dados

do Sistema Integrado de Administração de Recursos Humanos (Siape). Desde o primeiro ano

do sistema, houve a devolução ao erário de aproximadamente R$ 6 milhões, conforme quadro

abaixo:

Tabela 2 – Resultados do sistema on line de trilhas de auditoria da CGU.

PERÍODO

DEVOLUÇÃO AO

ERÁRIO

CESSAÇÃO DE

BENEFÍCIOS

TOTAL

Junho/2014

R$ 6.045.192,29

R$ 926.424,20

R$ 6.971.616,49

Junho/2015

R$ 1.575.771,82

R$ 869.843,00

R$ 2.445.614,82

Dezembro/2015

R$ 1.754.334,10

R$ 204.001,85

R$ 1.958.335,95

Junho/2016

R$ 679.754,26

-

R$ 679.754,26

TOTAL

R$ 10.055.052,47

R$ 2.000.269,05 R$ 12.055.321,52

FONTE: Base de dados do STA, extraído em 25/11/2016 (Brasil, 2016)

A segunda iniciativa é do Tribunal de Contas do Maranhão, que através da Instrução

Normativa nº 55, de 06 de Junho de 2018, determinou que todos os órgãos da administração

direta, indireta e fundacional de quaisquer dos Poderes do Estado e dos Municípios estão

obrigados mensalmente a disponibilizar ao Tribunal de Contas do Estado, em sistema próprio

do Tribunal, por meio de dados eletrônicos e documentos, informações sobre a folha de

pagamento do seu quadro de pessoal. Essa IN prevê ainda a aplicação de multa pecuniária ao

gestor público que não prestar as informações, podendo ocasionar até mesmo a rejeição das

contas anuais do administrador público.

O foco inicial da IN 55/2018 TCE-MA era a detecção de servidores públicos com

acúmulos indevidos de cargos públicos e servidores fantasmas. Embora ainda em

implementação, esse sistema possibilitará a análise dos gastos com pessoal, dos pagamentos

indevidos (Maranhão, 2019). Idênticas iniciativas também foram adotadas pelo PB,

TCE-AC e TCE-CE.

De modo complementar, sistemas de acompanhamento de gastos com pessoal

poderiam ser interligados nos sistemas de Previdência Social e do Ministério do Trabalho (para

detectar vínculos privados de emprego), sistema de trânsito de passaportes da Polícia Federal

(para detectar servidores que estejam em outros países) e Sistema Nacional de Registro

Mercantil (para verificar se o servidor não figura como empresário ou sócio de empresas

privadas), para cruzamento de dados, objetivando impedir servidores fantasmas.

(26)

4.

FOLHA DE PAGAMENTO E REELEIÇÃO

A relação de eleitores e governantes não é definida apenas no ano eleitoral; ao

contrário, é construída ao longo dos anos e avaliada pelos feitos e méritos do administrador

público. Logo, àqueles que pretendem a eleição ou reeleição buscam construir uma imagem de

bom gestor, seja atendendo as necessidades coletivas, seja tentando atender necessidades

individuais. Nesse contexto, o aumento dos gastos com funcionalismo pode ocorrer de forma

lícita, qual seja a expansão das atividades administrativas, como construção de escolas e

hospitais, ou pode ocorrer de forma ilícita, através de contratações temporárias e demais fraudes

nas folhas de pagamento, funcionando como captadores de votos.

Em relação ao primeiro caso, uso lícito da expansão da atividade administrativa,

tem-se a aplicação de PBC – Political Business Cycle). No segundo caso, tem-se a prática do

clientelismo.

4.1

Political Business Cycle

Há pelo menos duas teorias que se sobressaem para descrever o comportamento de

governantes e governados e daquilo que seria fator determinantes para uma eleição ou reeleição.

Nordhaus (1975) foi precursor na definição do comportamento de gestores públicos que

pretendem a eleição, nomeando de ciclos políticos de negócios (political business cycle). Para

ele, quando governantes geram empregos através de aumento de moeda em ano eleitoral, há

mais chances de eleição. Porém, essa decisão de política monetária gera inflação, o que é

ignorado pelos eleitores e que gera problemas sociais futuros. Para o mesmo autor, o ciclo

eleitoral influencia diretamente o ciclo de negócios do setor público. Nesse modelo, o eleitor é

tido por míope, ou seja, tem visão imediatista (de curto prazo), sem visão prospectiva (longo

prazo).

Rogoff (1990) e Rogoff e Silbert (1988) refinaram o modelo de Nordhaus,

teorizando que os governantes direcionam não a política monetária, mas a política fiscal, aquela

que trata diretamente do gasto público (investimentos, expansão da atividade administrativa e

(27)

despesas de custeio) e da tributação, que lhe gera visibilidade imediata, para criar a imagem de

gestor público eficiente. Três seriam os pressuposto do PBC:

• A manutenção no poder é o objetivo dos partidos político e para isso

intervêm na econômica para maximizar o resultado na próxima eleição;

• Os resultados econômicos condicionam os resultados eleitorais

(dependência);

• Através das políticas públicas, o governo pode gerar mais crescimento

econômico, diminuição de desemprego, ainda que a níveis não sustentáveis

a médio ou longo prazo, mediante aumento de inflação no período

pós-eleitoral.

Entre o primeiro modelo e o segundo há uma diferença é relação às expectativas

dos agentes. Como dito, no primeiro modelo, os eleitores são tidos por míopes e agem de forma

retrospectiva (expectativa adaptativa). No segundo caso, os eleitores agem de modo racional.

A contratação de servidores seria compatível com a expansão da atividade administrativa,

oportunizando mais vagas de trabalho, ampliando o acesso ao mercado de consumo. Porém, o

ingresso de servidores é uma despesa permanente que gera despesas correlatas, como

previdência e assistência, onerando o erário. Esse tipo de relação (gastos com pessoal e political

business cycle) não tem abordagem específica na literatura.

Uma outra análise foi cunhada por Besley e Case (1995), chamada de modelo de

reputação, no qual a eleição funciona como instrumento de repressão à conduta oportunista do

candidato. Aqui, dada a ignorância do eleitor, o candidato é forçado a manter uma relação com

o eleitor, provendo bens e políticas públicas, os quais são a medida de sua competência

administrativa.

A principal consequência desses dois modelos, ciclo políticos e modelo de

reputação, é que as chances de reeleição (se permitida) são maiores para aqueles governantes

que são mais úteis aos eleitores. Logo, aqueles que estão em segundo mandato direcionam

menores esforços para manter sua reputação.

Pelztman (1990) analisou a política norte-americana no período de 1950 a 1988,

constatando que o aumento de despesas públicas próximas à eleição é punido pelos eleitores.

(28)

Assim, em âmbito estadual, o aumento de despesas com saúde e educação impactou

negativamente na reeleição de governadores.

Aplicando-se essas teorias e modelos ao caso brasileiro, tem-se o estudo de

Meneguim e Bugarin (2005), desenvolvido após a Emenda Constitucional da reeleição (EC nº

16/1997). Constatou-se que nos anos eleitorais, os gastos dos candidatos à reeleição são

menores e que há uma relação inversa entre renda per capita e reeleição (maior renda, menor

probabilidade). Já menores despesas de custeio (despesas de manutenção das atividades dos

órgãos da administração pública, como despesas com pessoal) e maiores investimentos

aumentam as chances de vitória nas urnas. Para os mesmos autores, um maior número de

transferências financeiras voluntárias, tais como convênios e termos de parceria, facilmente

obtidos se os governantes são do mesmo partido ou aliados, é bem recebido pelo eleitorado.

Analisando a relação da reeleição de governadores brasileiros com comportamento

de receitas e despesas, Nakaguma (2006) constatou que no período eleitoral há manipulação

oportunista do orçamento público. Porém, verificou-se que essa influência declina com o passar

dos anos, o que poderia ser atribuído a uma evolução do eleitorado, seja pelo melhor controle

político, seja pelo aprendizado com experiências anteriores. Essa evidência dos ciclos políticos

é mais marcante para eleições a governador (Nakaguma e Bender, 2006).

Araujo Junior, Shikida e Silva (2003), analisando o cenário das eleições municipais

mineiras de 2000 (primeira com reeleição), indicaram que as despesas públicas foram mais

contidas no ano eleitoral, ou seja, as chances de reeleição aumentaram com contenção de gastos

públicos. Verificaram também ser estatisticamente significante o fato de prefeitos e governador

e prefeitos e Presidente da República serem do mesmo partido. Essa mesma significância não

foi observada por Carrera-Fernandez e Pereira (2007), examinando a reeleição de município

baianos e o impacto das transferências voluntárias no interregno 1997-2004.

Novaes e Mattos (2010), debruçando-se sobre os gastos com saúde de municípios

brasileiros, em uma amostra de 3.004 (três mil e quatro) cidades, demonstram que prefeito em

primeiro mandato utilizando-se do modelo de reputação e que os prefeitos reeleitos não oneram

os cofres públicos de forma exacerbada. Essa conclusão parece contradizer aquelas encontradas

por Ferraz e Finan (2005), que constaram que prefeitos reeleitos tendem a ser mais corruptos

que aqueles em primeiro mandato.

(29)

Neste cenário, pretende-se testar a hipótese: Mantendo as outras variáveis

constantes, despesas com contratação temporária de pessoal aumentam em ano eleitoral, mas

diminuem em ano pós eleitoral.

4.2

Clientelismo

O clientelismo, comumente tratado como coronelismo, patrimonialismo ou mesmo

mandonismo, é uma relação de poder assimétrica, onde uma das partes (patrão) concentra o

poder político ou econômico e usa esse poder para alcançar seus interesses (Nunes, 2003). A

outra parte, os clientes, pretendem algum tipo de benefício, o qual pode ser ofertado pelo

patrão, através de algum tipo de recurso público, para obter apoio político-eleitoral (Veloso,

2006).

Para Ottman (2006), o clientelismo é uma troca de favores, com benefícios mútuos,

mas desiguais, entre indivíduos, ao passo que patrimonialismo seria a apropriação de recursos

públicos como se fossem privados e distribuição por critérios pessoais (e não universais e

impessoais). Para Leal (2012), o coronelismo é expressão ligada ao poder local, ligado a um

espaço geográfico, e exercício por um proprietário de terras para controlar as pessoas sujeitas a

seu poder diretivo. A relação que interessa a este trabalho é a de clientelismo.

A relação de clientelismo subsiste graças a um determinado nível de lealdade entre

patrão e cliente, baseada em distribuição de recompensas materiais ou simbólicas e que estão

à margem do sistema jurídico. Comumente são relações ilícitas, com a subversão da finalidade

pública. Para Ottman (2006), muitas carreiras políticas brasileiras são sustentadas no

clientelismo, citando como exemplo a eleição de membros do legislativo, os quais direcionam

o orçamento para subsidiar ações assistenciais privadas de sua base eleitoral. No executivo, essa

prática é perceptível com a implantação de serviços públicos em localidades alvo, em troca de

apoio eleitoral. Ainda para o mesmo autor, a nomeação para cargos de confiança é moeda

corrente dessa prática, especialmente para construção de alianças políticas.

Grindel (1977) e Fox (1997) sustentam que a distribuição de empregos (cargos

públicos) é uma das formas centrais recompensa das relações de clientelistas, o que também é

(30)

corroborado por Banck (1999). Duarte-Agudelo (1995) constataram que na Colômbia há

variação da disponibilidade de cargos públicos em razão das diferentes administrações.

Aaskoven (2016), em estudo que correlacionou transparência fiscal, eleições e

empregos públicos em 20 países da OCDE encontrou evidências robustas de que em países de

baixa transparência fiscal, taxas de crescimento mais elevada do PIB parecem elevar Em níveis

baixos de transparência fiscal, taxas de crescimento mais elevadas do PIB parecem levar a um

nível mais alto de emprego público, enquanto esse efeito diminui e, eventualmente, desaparece

em níveis mais altos de transparência fiscal. Esse efeito contingente de transparência do

crescimento sobre o emprego público é muito mais forte e estatisticamente robusto nos anos

eleitorais, de modo que as preocupações eleitorais parecem ser um mecanismo-chave para esse

fenômeno (Aaskoven, 2016, p. 334).

Analisando a política das despesas com pessoal dos estados brasileiros do período

de 1965 a 1994, Ames, Hiroi e Renno (2005) concluíram que durante o Regime Militar

(1965-1985), as despesas com pessoal aumentaram 3% nos anos pós eleitorais e 2% nos anos

eleitorais, mas sem aumento no ano pré-eleitoral, levando a conclusão que há influencia da

eleição nos orçamentos, mesmo durante o regime autoritário. No período democrático

(1985-1994), os mesmos autores constataram uma mudança de comportamento: com o aumento na

competição eleitoral (provocada pela adoção do pluripartidarismo), houve aumento dos gastos

com pessoal.

5.

ANÁLISE DOS DADOS

5.1

Dados e Amostra

A fim de analisar a relação entre reeleição e gastos com pessoal, o estudo atual

conseguiu compilar dados sobre 194 municípios no Estado de Maranhão de 2004 a 2017. Os

dados relativos à despesa com pessoal dos municípios pesquisados foram obtidos junto à

Secretaria do Tesouro Nacional, em consulta aos Relatórios de Gestão Fiscal (RGF) que todo

município deve apresentar semestralmente à população (Brasil, 2000). Do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística (IBGE) foram obtidos os dados relativos à população do Estados, do

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e do Produto Interno Bruto (PIB) de cada cidade.

(31)

As informações relativas à eleição municipal, nome dos prefeitos eleitos e

candidatos, tentativa de reeleição, partidos políticos e coligações de prefeito e governador,

foram extraídos do sítio eletrônico do Tribunal Superior Eleitoral. Por fim, os valores e

percentuais de aumento do salário mínimo foram encontrados no sítio eletrônico do Ministério

do Trabalho e Emprego. Todos os dados utilizados nessa pesquisa estão nos anexos de I a IX.

5.2

Desenho de Pesquisa

Para testar os efeitos descritos nos capítulos anteriores, realizou-se uma análise

quantitativa, utilizando dados dos municípios maranhenses com menos de 50 mil habitantes. O

Maranhão foi escolhido por ser o 26º estado brasileiro no ranking de Índice de Desenvolvimento

Humano (IDH – 2010), tendo sua principal atividade econômica a agricultura e pecuária e onde

metade da população tem rendimento nominal mensal per capita de até ½ salários mínimos,

tendo também forte dependência econômica da Administração Pública.

As cidades foram escolhidas em razão da população, pois das 5.570 cidades

brasileiras, 91% delas com até 50.000 (cinquenta mil) habitantes. O Maranhão tem 217 cidades

e destas, 194 fazem parte da pesquisa desse estudo (89%).

Realizou-se uma análise de dados em painel (linear unobserved effects model). O

uso de dados de painel é conveniente para este caso porque permite modelar relações dinâmicas,

enquanto controla a heterogeneidade individual não observada (Wooldrige, 2002), o que

poderia gerar viés de variável omitida em uma configuração diferente.

Como anteriormente dito, o conjunto de dados do painel é composta por

observações de 194 municípios, de 2004 a 2017, que inclui 4 anos eleitorais: 2004, 2008, 2012

e 2016. As cidades selecionadas têm em comum uma população inferior a 50 mil habitantes e

todas estão localizadas no Maranhão.

Como variável dependente para a análise, foram utilizadas as despesas com

contratos temporários de trabalho, mensurados em reais e também como percentual das

despesas totais com pessoal. Os dados para essa variável foram extraídos dos relatórios de

gestão fiscal das cidades analisadas.

(32)

A principal variável independente foi a tentativa de reeleição, variável dummy que

assume o valor de um (1) quando prefeito corre para a reeleição no ano eleitoral, e zero caso

contrário. A tentativa de reeleição utilizada considerou a identidade do próprio

prefeito/candidato. Não se considerou o partido ou coligação ou mesmo a indicação de

membros do mesmo grupo político (indicados).

Como controle, incluíram-se algumas variáveis econômicas relevantes que

poderiam afetar a análise. Essas variáveis foram escolhidas com base na literatura existente,

tratada no Capítulo Quatro. Assim, foram consideradas as variáveis:

• Ano eleitoral. Para os anos em que ocorreu eleição, considerou-se o valor

“1” e para os demais anos atribuiu-se “0”.

• Situação política. Se o candidato a reeleição fazia parte da base aliada do

governador do Estado, atribuiu-se o valor “1” e “0” em caso negativo.

• PIB (Produto Interno Bruto) per capita, pois em cidades de maior PIB, há

menores chances de reeleição;

• Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

5.3

Resultados e Discussão

Foram testadas duas hipóteses:

• Despesas com contratações temporárias aumentam no ano eleitoral, mas

diminuem no ano pós-eleitoral (hipótese de PBC);

• Despesas com contratações temporárias aumentam no ano eleitoral ou

pós-eleitoral, e não diminuem nos demais anos (hipótese de clientelismo).

Conforme gráfico abaixo, a primeira hipótese não é verdadeira: há aumento de

despesa com contratações temporárias no ano eleitoral, não havendo diminuição no ano

pós-eleição. Há um aumento médio de .304% dessas despesas no ano pós-eleição, em comparação

com o ano eleitoral.

(33)

Já a segunda hipótese, despesas com contratações temporárias aumentam no ano

eleitoral ou pós-eleitoral, e não diminuem nos demais anos, é confirmada em um segundo teste.

O gráfico abaixo demonstra o comportamento das despesas com pessoal no período analisado

nesse estudo, o que é corroborado pela tabela seguinte.

2%

4%

6%

7%

6%

6%

9%

8%

0%

2%

4%

6%

8%

10%

El

ec

tio

n

Po

st

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le

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El

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n

El

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Po

st

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le

ct

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n

2004

2005

2008

2009

2012

2013

2016

2017

% GASTOS

1,

7%

3,

8%

4,

4%

5,

1%

6,

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