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Reinventar a democracia pela sustentabilidade: o desafio da Agenda 21 Local na promoção da participação pública – O caso de Vila Franca de Xira

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Academic year: 2021

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R ei nven tar a D em o cr ac ia pel a Su st en tabi li dad e: O D es af io da A gend a 21 L oc al na P rom o ção da Pa rt ic ipação Pú bl ica L u ís C ap u ch a Per eir a 2010

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Departamento de Sociologia

Reinventar a Democracia pela Sustentabilidade:

O Desafio da Agenda 21 Local na Promoção da Participação Pública

– O Caso de Vila Franca de Xira –

Luís Capucha Pereira

Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de

Mestre em Sociologia, Especialidade em Sociologia Urbana, do Território e do Ambiente

Orientadora:

Dra. Aida Maria Valadas de Lima Pinto Guizo, Professora Auxiliar Convidada ISCTE-IUL

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Resumo

A emergência de um novo paradigma de desenvolvimento, o do Desenvolvimento Sustentável, vulgarizado em 1987 através do Relatório Brundtland “O Nosso Futuro Comum”, surge num contexto de crescente consciencialização das populações face às prementes questões ambientais e sociais que assolam a humanidade. Inerente à promoção deste conceito está o de participação pública, que permite institucionalizar, em diversas esferas de governo, a actuação directa dos cidadãos, organizados ou não, na decisão dos interesses da sociedade. A participação, surgindo como contraponto ou complemento dos processos da democracia representativa, é uma questão central da promoção da sustentabilidade.

No centro da investigação que levámos a cabo, está a Agenda 21 Local, enquanto processo que prevê a elaboração de um Plano de Acção multissectorial, envolvendo os vários sectores da comunidade, por forma a implementar a sustentabilidade a nível local.

No caso concreto da Agenda 21 Local de Vila Franca de Xira, através da aplicação de inquéritos aos participantes nas sessões públicas realizadas, procurou-se descortinar um perfil de participação e o potencial efectivo de utilização da deste processo para a configuração de uma democracia mais participativa.

A Agenda 21 Local, neste caso concreto, revelou ir de encontro às percepções societais dos participantes e à sua visão de desenvolvimento, bem como possuir um alto nível de atractividade, face ao seu carácter dinâmico e flexível, respondendo à necessidade diagnosticada de tornar a democracia mais participada.

Palavras-Chave: Desenvolvimento Sustentável; Agenda 21 Local; Democracia Participativa;

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Abstract

The emergence of a new paradigm of development, the concept of Sustainable Development, made popular in 1987 by the Brundtland Report "Our Common Future", came about in the context of a growing awareness of the environmental and social issues that humanity is facing. The promotion of public participation is inherent to this concept, which allows the institutionalization of the direct action of citizens (organized or not) in the different levels of government in the decision of the interests of society in general. This type of participation, developed as a counterpoint or a complement to the processes of representative democracy, is a key element to promoting sustainability.

In the core of the investigation we have conducted is the Local Agenda 21, as a process that provides the establishment of a multisectoral action plan, which involves the various sectors of the community in order to implement sustainability at the local level.

In the case of Local Agenda 21 in Vila Franca de Xira, we sought to assess a profile of participation and the potential for setting up a more participatory democracy, through surveys given to the participants in the public meetings organized in this process.

Local Agenda 21, in this particular case, proved to meet the societal perceptions of the participants and their views on development, while at the same time showing a high level of attractiveness, based on the dynamism and flexibility of the process, which meets the call for more participatory democracy.

Keywords: Sustainable Development; Local Agenda 21; Participatory Democracy; Public

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Agradecimentos

Agradeço a todos os que me acompanharam durante o tempo de elaboração desta dissertação, destacando, sem querendo discriminar ninguém, as seguintes pessoas:

À minha orientadora, Dra. Aida Valadas de Lima, pela paciência durante as ausências e por ter acreditado, mesmo assim, nas minhas capacidades para levar esta demanda avante;

Aos meus colegas na Câmara Municipal de Vila Franca de Xira (destaco a Ana Carla, a Círia, o Cláudio, , a Milena, a Maria João, a Patrícia e o Vereador Fernando Paulo), que, cada um à sua maneira, possibilitaram a realização da Agenda 21 Local do Concelho;

À equipa da FCT-UNL, na pessoa do Professor Doutor João Farinha, pela possibilidade de partilha das metodologias e do know how por eles adquiridos ao longo de dezenas de processos de promoção do desenvolvimento sustentável;

À minha prima, Ana Rita Capucha, companheira neste caminho; À Joana, pela inspiração em cada passo.

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Aos meus pais, Midete e Carlos, que sempre me ampararam os passos

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Índice

Introdução……….1

1. O Desenvolvimento Sustentável como Oportunidade Democrática: Revisão Teórica e Conceptual...3

1.1 Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 Local...3

1.1.1 Emergência de novos paradigmas nas sociedades contemporâneas...3

1.1.2 A Agenda 21 Local como instrumento efectivo de promoção do desenvolvimento sustentável – as suas potencialidades e problemas de implementação...6

1.2 A participação pública e formas de governança...7

1.3 A participação pública na dinamização do desenvolvimento sustentável das sociedades...11

2. Metodologia...14

2.1 Justificação e Objecto de Estudo...14

2.2 Objectivos, Questões de partida e Hipóteses de Investigação...15

2.3 Apresentação do Estudo de Caso...15

2.4 Instrumentos de Recolha e Tratamento de Dados...17

3. Análise de Dados e Comentários...19

3.1 Caracterização Sociográfica dos Participantes………..20

3.2 Caracterização do grau de Activismo dos Participantes...25

3.3 Caracterização das Motivações dos Participantes ………...24

3.4 Caracterização da Disponibilidade de Participação por parte dos Inquiridos...27

3.5 Caracterização de Perfil de Visão de Sociedade...30

(8)

4. Conclusões...35

5. Bibliografia...38

Anexos...40

Anexo 1 – Inquérito Aplicado aos Participantes…...40

Anexo 2 – Tabelas de Análise aos Inquéritos...44

Índice de Tabelas e Gráficos

Tabela 1 - Diferenças entre Agenda 21 Local e Planeamento “Business as Usual”...7

Gráfico 1 - Análise dos Participantes por Idade (%)...20

Gráfico 2 - Análise dos Participantes por Sexo (%)...21

Gráfico 3 - Análise dos Participantes por Escolaridade (%)...22

Gráfico 4 - Análise dos Participantes por Profissão (%)...23

Gráfico 5 - Análise dos Participantes por Visão (%)...31

Gráfico 6 - Análise dos Participantes por Avaliação (%)...33

Lista de Acrónimos

DS – Desenvolvimento Sustentável A21L – Agenda 21 Local

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Introdução

A emergência de um novo paradigma de desenvolvimento, o do Desenvolvimento Sustentável (DS), vulgarizado em 1987 através do Relatório Brundtland “O Nosso Futuro Comum”, surge num contexto de crescente consciencialização das populações face às prementes questões ambientais e sociais às quais a humanidade está sujeita. Sustentável, é, por definição, o desenvolvimento que vai de encontro às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades (WCED, 1987). Considera a alteração progressiva das instituições da modernidade, no sentido da inclusão paradigmática da ecologia e de conceitos de equidade e democraticidade. Como referem os autores do Relatório Bruntland:

“Em essência, o desenvolvimento sustentável é um processo de mudança em que a exploração de recursos, a direcção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico, e a mudança institucional estão em harmonia e melhoram o potencial actual e futuro de a humanidade atingir a satisfação das suas necessidades e aspirações” (WCED, 1987, 57)1 Inerente à promoção do DS está o conceito de participação pública, o qual permite institucionalizar, em diversas esferas de governo, a actuação directa dos cidadãos, organizados ou não, na decisão dos interesses da gestão pública.

No centro da investigação que levámos a cabo estão os processos de carácter local de promoção do DS, nomeadamente a Agenda 21 Local (A21L). O processo subjacente à A21L é definido como aquele em que “as autoridades locais trabalham em parceria com os vários sectores da comunidade na elaboração de um Plano de Acção por forma a implementar a sustentabilidade ao nível local. Trata-se de uma estratégia integrada, consistente, que procura o bem-estar social melhorando a qualidade do ambiente.” (UN, 2010)

A presente dissertação assume, a priori, a seguinte premissa: a A21L, enquanto processo de vanguarda da promoção da sustentabilidade a nível local, contribui para o empowerment e para a multiplicação de dinâmicas participativas junto das comunidades, envolvendo-as na definição das políticas e, deste modo, possui o potencial de tornar a democracia mais participativa, regenerando o que nos seus processos originais (considerando aqui como paradigmáticas as “democracias ocidentais”) está obsoleto ou que, de alguma forma, contribui para a não afirmação e execução plena dos direitos e deveres dos cidadãos.

1 Tradução do autor do original em inglês: In essence, sustainable development is a process of change in which the

exploitation of resources, the direction of investments, the orientation of technologica1 deve1opment, and institutional change are all in harmony and enhance both current and future potential to meet human needs and aspirations.

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Mas, numa fase que poderá ser considerada como de transição para uma democracia mais participativa, quem são os indivíduos que são mobilizados para a participação na definição das políticas de sustentabilidade? Quais as suas motivações e qual o seu entendimento e potencial de mobilização para as questões de risco, a nível local e global?

A estas questões pretendemos responder, considerando, para tal, a realidade de Vila Franca de Xira e o desenvolvimento da respectiva A21L.

Organização da Dissertação

A dissertação que agora se apresenta está organizada em quatro capítulos principais. No capítulo 1, enquadramos teoricamente a investigação, começando por abordar a relação conceptual entre as perspectivas inerentes à gestão e adaptação das sociedades às exigências da modernidade, que tem como consequência a internalização do conceito de DS nas relações que nelas existem. Ainda dentro desta área, aborda-se a A21L como ferramenta de promoção do DS por excelência. A nível teórico-conceptual, aborda-se também a perspectiva do incremento da participação pública nas sociedades modernas, revitalizando os processos da democracia representativa. Considerando esse incremento, sugere-se que existe uma ligação intrínseca entre o DS, a A21L e uma sociedade mais participativa e participada.

No capítulo 2, abordamos a metodologia de investigação utilizada e o contexto em que o estudo empírico foi desenvolvido – a A21L de Vila Franca de Xira e as suas 11 sessões participativas. No capítulo 3, analisamos os dados recolhidos através da aplicação de um inquérito nas 11 sessões participativas, comentando e discutindo os resultados obtidos.

No capítulo 4, apresentamos as conclusões, conjugando o enquadramento teórico associado às questões em análise com os dados e as experiências adquiridas no conjunto da investigação no terreno.

(11)

1. O Desenvolvimento Sustentável como Oportunidade Democrática:

Revisão Teórica e Conceptual

1.1 Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 Local

1.1.1 Emergência de novos paradigmas nas sociedades contemporâneas

Com a consciencialização crescente das implicações do impacte humano no ambiente biofísico do qual as sociedades dependem2, o percurso do pensamento sociológico dessas implicações tem tomado diversas perspectivas: por um lado, uma perspectiva de carácter pessimista, assente nos riscos a que as sociedades contemporâneas (sociedades designadas, por isso, de risco) estão sujeitas, nomeadamente no que aos problemas ambientais diz respeito; por outro lado, uma perspectiva de carácter optimista, assente na ideia de que a ciência e a tecnologia fornecerão uma resposta que tenha em conta a manutenção dos sistemas ecológicos, bem como a segurança e a sustentabilidade do desenvolvimento das sociedades.

É comum às duas perspectivas – a da Modernidade Tardia e a da Modernização Ecológica, respectivamente –, a passagem de uma lógica institucional de distribuição da riqueza material para uma lógica de internalização dos riscos (de índole diversa) no contexto da evolução das sociedades. A forma como estas perspectivas se diferenciam dá-se no modo como a tecnologia contribui para a alteração dos padrões actuais de depleção ambiental, na visão da modernização ecológica, enquanto os teóricos da modernidade reflexiva encaram de forma céptica essa contribuição. Segundo estes últimos, o futuro da humanidade vislumbra-se apocalíptico, reservando-se à organização social a capacidade de gerir os processos negativos da distribuição dos riscos ecológicos; os defensores da modernização ecológica defendem que as sociedades e respectivas instituições, nomeadamente as científicas, terão a capacidade de, sem alterar as suas características basilares, minimizar os riscos e impactes da actividade humana no ambiente biofísico, garantindo uma existência “sem sobressaltos” à humanidade e ao seu futuro.

Segundo os teóricos da modernização ecológica,

“As instituições da modernidade que têm sido desafiadas nas suas – de acordo com alguns, inerentes – capacidades de destruição ecológica, como a tecnologia moderna, o mercado capitalista, industrialismo e o estado-nação, estão (i) a desempenhar um papel cada vez mais significativo na reforma ambiental, e (ii) a transformar-se […] de forma a melhor cumprir o

2

Essa é uma das perspectivas que estão na base das alterações paradigmáticas do pensamento das ciências sociais, a partir dos anos 60 do séc. XX, passando as questões ecológicas a ter um papel central nas concepções e nas mudanças das sociedades, do qual o corolário é a institucionalização de uma Sociologia do Ambiente.

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um papel “verde”, progressivamente maior.”3

(Mol, 2000, p.136)

O incremento da reflexividade prática, em termos ecológicos, possibilitará a indução nas instituições das sociedades modernas de transformações sociais que não promovam a depleção ambiental.

A adesão aos novos valores ecológicos parece estar a ganhar um impulso crescente nas sociedades contemporâneas. Na sociedade portuguesa, e segundo estudos realizados sobre a temática, apenas 10.2% dos portugueses se situa num pendor antropocêntrico. A grande maioria (73.0%) partilha, ainda que moderadamente, dos novos valores ecológicos e 11.0% assume, de forma clara, os valores do NEP (Lima, 2006).

Esta perspectiva – a da modernização ecológica –, pode dizer-se, tem como corolário o conceito de DS.

Quando, em 1987, o Relatório Brundtland coloca o conceito de DS no centro do debate político e cultural, os problemas que o desenvolvimento da humanidade colocava eram abordados numa perspectiva positiva, ou seja, com um sentido claro de comunicar aos actores que, se se mudasse, se se diminuíssem os impactes causados nos ecossistemas, a humanidade conseguiria resistir e evoluir, mesmo perante os riscos que se lhe colocariam.

Há uma diferença fundamental entre o conceito de crescimento e o conceito de desenvolvimento. A diferença assenta no primado quantitativo do primeiro face ao qualitativo do segundo; daí que o primeiro conceito seja eminentemente económico, assistindo ao segundo uma multidimensionalidade mais efectiva.

A tendência para associar o desenvolvimento a outras dimensionalidades que não a económica foi uma necessidade histórica. Com efeito e segundo Sachs,

“Uma vez posta a economia em movimento, o resto fluiria e os efeitos positivos do crescimento espalhar-se-iam pela base da pirâmide social. Mas cedo se tornou necessário explicar outras dimensões do desenvolvimento: social, cultural, politico e, depois de 19724, ambiental (sustentável).” (Sachs, 1999, p.28)5

3 Tradução do autor do original em inglês: “The institutions of modernity that have for some time been challenged for

their - according to some inherent - ecological destructive qualities, such as modem technology, the capitalist market, industrialism and the nation-state, are (i) increasingly playing a significant role in environmental reform, and (ii) transformed (…) in order to better fulfil this progressive 'green' role.”

4 Em 1972 realizou-se, em Estocolmo, a 1ª Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Ambiente

Humano, iniciando-se o debate em torno das implicações do ambiente biofísico no desenvolvimento das sociedades humanas.

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Quando nos referimos ao DS, aponta-se, portanto, para a inclusão de todas aquelas. Este conceito encara que as limitações que se colocam à organização tecnológica e social poderão ser debeladas, face a alterações efectuadas nessa organização. As sociedades podem, por isso, combater a pobreza e promover a equidade social sem degradar a dimensão ecológica nem sobreexplorar os recursos naturais, ao mesmo tempo que não se prescinde de obter bons resultados económicos, criando condições de riqueza que será depois distribuída e investida em processos contínuos de melhoria. Este processo está, todavia, dependente de alterações ao nível dos sistemas políticos, os quais terão de adaptar os seus procedimentos a uma efectivação da participação pública e pelo desenvolvimento de uma cidadania activa, num contexto de crescente democratização dos processos políticos.

Considera-se, então, que para alcançar a sustentabilidade, vista como um todo, é necessário que se cumpra a sustentabilidade nas suas multi-dimensões. Portanto, há que ir de encontro, simultaneamente, aos seguintes critérios: (1) Sustentabilidade social e o seu corolário, sustentabilidade cultural; (2) Sustentabilidade ecológica (conservação do capital natural) suplementando as sustentabilidades ambientais e territoriais; (3) Sustentabilidade económica, tida como eficiência dos sistemas económicos (instituições, políticas e regras de funcionamento), assegurando uma contínua equidade social; (4) E, por último, sustentabilidade política, promovendo uma estrutura de governança, a nível nacional e internacional (Sachs, 1999).

Dada a complexidade das conexões dimensionais do desenvolvimento sustentável, o processo não é fixo, pré-programado, de lógica one size fits all. Nas palavras dos autores do Relatório Brundtland:

“No final, o desenvolvimento sustentável não é um estado de harmonia, mas um processo de mudança em que a exploração dos recursos, a direcção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico, e a mudança institucional são feitas de forma consistente com as necessidades do futuro, mas também das do presente. Não imaginamos que o processo seja fácil ou directo.” (WCED, 1987, p.25)6

positive effects of growth would percolate to the bottom of the social pyramid. But soon it became necessary to explicate other dimensions of development: social, cultural, political and, after 1972., environmental (sustainable). 6 Tradução do autor do original em inglês: Yet in the end sustainable development is not a fixed state of harmony, but

rather a process of change in which the exploitation of resources, the direction of investments, the orientation of technological development, and institutional change are made consistent with future as well as present needs. We do not pretend that the process is easy or straightforward.

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1.1.2 A Agenda 21 Local como instrumento efectivo de promoção do desenvolvimento sustentável – as suas potencialidades e problemas de implementação

Ainda que a base conceptual da sustentabilidade já faça parte do discurso institucional, torna-se importante pensar o DS do ponto de vista das acções específicas que se podem efectuar, ou seja, na sua aplicação prática.

Quando, em 1992, na chamada Cimeira da Terra, realizada no Rio de Janeiro, foi definida a Agenda 21 – Programa de Acção das Nações Unidas, enquanto um plano abrangente que deverá ser aplicado global, nacional e localmente em todas as áreas de intervenção humana que tenham impactes no ambiente (UN, 2010), pode dizer-se que foi criado o instrumento privilegiado de intervenção no território global e respectivas instituições, de modo a promover um DS. No seu capítulo 28, a Agenda 21 afirma a importância dos governos e movimentos de base local na promoção deste desenvolvimento, sugerindo-se a implementação da A21L.

Na Europa, a operacionalização da A21L ganhou uma autonomia em relação a outras dinâmicas globais através da Carta e dos Compromissos de Aalborg (subscritos pelos municípios no âmbito das Conferências das Cidades e Vilas Sustentáveis da Europa, realizadas na cidade de Aalborg em 1994 e 2004, respectivamente). O desenvolvimento da A21L tem vindo a ter, no entanto, uma aplicação diferencial, registando uma maior adesão por parte dos países da Europa do Norte, no início dos anos 1990, e uma adesão crescente pelos países da Europa do Sul, a partir do novo milénio (Gomes, 2009).

A aplicação em Portugal da A21L é, nesse aspecto, paradigmática, com somente cerca de 100 municípios a assumirem o compromisso de desenvolver uma A21L e, em muitos casos, a desenvolver estes processos assumindo-o como mais um plano ou mais um estudo sem consequência prática e não como um instrumento efectivo de promoção do desenvolvimento e da inovação social. Nas palavras de Marta Pinto, do Instituto Intervir Mais, “[…] os municípios portugueses que têm Agenda 21 Local não estão totalmente preparados para assumir o que uma Agenda 21 Local significa” (Marta Pinto in Filipe, 2008, p.4). Por outro lado, o poder central, que poderia funcionar como um catalizador deste processo, acaba por não contribuir como se poderia esperar – é inevitável comentar o esquecimento em que se encontra a Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável, com as consequências reais no atraso de Portugal em atingir os objectivos de sustentabilidade a que se auto-propôs. Segundo João Farinha, da FCT-UNL,

(15)

desse papel” (João Farinha in Filipe, 2008, p.5)

Esta constatação não pode descurar o grande “salto em frente” dado pelos municípios portugueses nos últimos anos, salientando-se, no entanto, a sua dificuldade em internalizar os princípios inerentes a tais processos.

Segundo Lustig (1998) (in Vasconcelos, 2001), os princípios da A21L são distintos dos utilizados numa lógica “business as usual”, conforme se verifica na tabela abaixo:

Tabela 1 – Diferenças entre Agenda 21 Local e Planeamento “Business as Usual”

Agenda 21 Local Business as Usual

Enfatiza questões como a participação e construção de consensos

Planeamento racional e baseado em princípios científicos

Baseado e desenvolvido no governo local e em estruturas exteriores a ele

Baseado no governo e trabalhando para ele, limitando a participação

Subsidariedade, organizando o potencial para problemas locais

Governo local dirige o desenvolvimento (urbano, económico ou outro)

Governo – um de muitos actores envolvidos no processo Governo – um actor dominante que guia o processo Espectro alargado de actores (ONG’s e outros) Espectro limitado de actores

Público tem um papel activo Público tem um papel limitado Participação é parte central do conceito, envolvendo as

populações na decisão sobre as suas acções

Participação serve para informar e para consultar as populações

Fonte: Adaptado de Vasconcelos, 2001

A A21L surge, pois - mesmo considerando os constrangimentos à sua maior divulgação -, como um processo dinâmico e promotor de uma participação pública mais alargada e capacitadora. Esta mesma ideia é defendida por Javier Garrido García, ao afirmar que:

“De qualquer modo, pela sua actualidade, crescente universalização e ênfase colocado na dinâmica participativa, as A21L são espaços privilegiados para colocar em marcha processos de democracias participativas. Processos que se inserem, além disso, numa área de crescente interesse das áreas da cidadania e da política: o DS, o qual é uma questão transversal a todas as políticas de desenvolvimento local.” (García, 2005, p.68)7

1.2 A participação pública e formas de governança

Abordámos, ao longo do presente capítulo, a necessidade de promoção de regimes de participação pública que possam contribuir para a alteração do paradigma de desenvolvimento, em favor da

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Tradução do autor do original em castelhano: “De todos modos, por su actualidad, creciente universalización y énfasis en la dinámica participativa, las A21L son espacios privilegiados para poner en marcha procesos de democracias participativas. Procesos que se enmarcan, además, en un área de creciente interés ciudadano y político: el desarrollo sostenible, que es un asunto transversal a todas las políticas de desarrollo local.”

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sustentabilidade.

As sociedades democráticas contemporâneas requerem das populações um papel activo. A participação pública transforma o sistema democrático e dá-lhe energia, ao criar um contacto permanente entre os que governam e os que são governados, permitindo decisões consensualizadas, um maior conhecimento das questões que preocupam a sociedade e um trabalho conjunto entre os dois intervenientes (FARN, 2008).

Considerando a orientação conceptual de participação pública proposta por Arnstein (1969), em que participar “[se traduz] no meio que permite aos cidadãos sem poder a indução de reformas sociais significativas que lhes permite partilhar os benefícios da sociedade influente.” (Gomes, 2007, p.37), entra-se em conflito com uma certa dinâmica societal à qual “a deserção, a desconfiança a omissão, a exploração, o isolamento, a desordem e a estagnação se intensificam reciprocamente num miasma sufocante de círculos viciosos” (Bonfim et al., 2003, p.118). Tal “deserção” é assinalada, designadamente nos dados constantes do Eurobarómetro para o ano de 2007, percebendo-se que os europeus não demonstram confiança nas instituições públicas e nos políticos que os representam, tanto nacionais como comunitários (Costa, 2010), bem como, por exemplo, nos dados da abstenção eleitoral em Portugal, em que, desde a entrada em vigor da Constituição de 1976, a abstenção para a Assembleia da República aumentou de 16,47% para 40,32%, nas últimas eleições realizadas em 2009 (CNE, 2010).8

Segundo Martins (2005), a institucionalização da democracia representativa, na sua arquitectura actual, veio dar resposta às necessidades de uma “sociedade comercial”, cujo objectivo corresponde à tomada de decisões pragmáticas no contexto da complexidade da governação, exigindo-se a maximização da responsabilidade política e dispensando-se a maximização das oportunidades de participação.

A democracia representativa cria, assim, cidadãos privados, desapegados ou alienados das instituições democráticas, das políticas e da esfera pública, cujas preocupações residem na esfera privada do emprego e da família. Ao mesmo tempo, a lógica privada internalizada pelos cidadãos é cada vez mais criadora de desigualdades em termos de rendimentos, oportunidades e qualidade de vida (Barry, 2006). Como corolário, sugere-se que a existência de exclusão social pressupõe a inexistência de cidadania (Bastos, 2002). Esta mesma premissa é defendida num documento do Banco Mundial, referindo que:

“A baixa participação e as desigualdades sociais estão tão ligadas entre si que uma sociedade

8 Estas percentagens são mais elevadas quando se analisam as eleições para o Parlamento Europeu. Com efeito, nas

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mais equitativa e humana requer um sistema político mais participativo” (Cunha et al., 1997, p.6)9

Salienta-se, neste ponto, o carácter eminentemente inclusivo e capacitador da participação pública na esfera política. Efectivamente, a execução do poder de forma poliárquica, incluindo o indivíduo e as suas organizações na gestão das políticas públicas, afigura-se como essencial, integrando as instituições políticas e “todo um sistema de relações entre instituições, organizações e os habitantes da cidade. Esta conjunção de poderes, assumida numa relação de partenariado (inclusiva), permite a constituição de opções conjuntas e maximiza a perspectiva da sua concretização. Verificamos, então, que este é um nível mais profundo de participação que, ao envolver as diversas vontades, possibilita um desenvolvimento com maior eficácia e equidade social, por isso, mais sustentável.” (Bastos, 2002, p.8)

O processo de (re)democratização preconizada deverá, assim, considerar que (1) o número de pessoas capazes de participar efectivamente na decisão colectiva deverá ser expandido; (2) é necessário trazer para o contexto do controlo democrático mais temáticas; (3) deverá ser assegurada a autenticidade do controlo através do envolvimento efectivo da participação de actores autónomos e competentes (Dryzek, 2000, in Vasconcelos, 2001). A regeneração democrática, enquanto conceito e prática, deverá assumir um carácter aberto e dinâmico, tornando-a mais participativa, correspondendo à crescente pluraridade e diversidade de indivíduos e organizações, que complexificam os fenómenos societais, quando comparados com o momento histórico das fundações do modelo representativo contemporâneo. Ainda segundo Dryzek:

“A democracia discursiva (ou deliberativa) pode constituir a melhor forma existente presentemente para resolver problemas sociais complexos, porque disponibiliza um meio para uma integração coerente de uma variedade de perspectivas diferentes que são o cunho da complexidade” (Dryzek, 1990, in Vasconcelos, 2001, 8).

Estando, hoje em dia, bastante integrada nos discursos políticos e sociais, a prática da participação pública tem tomado diversos níveis e intensidades. Sobre esta questão, Arnstein (1969) define uma escala de participação com oito níveis - Manipulação, Terapia, Informação, Consulta, Apaziguamento, Partenariato, Delegação de Poderes e Controlo Cidadão. Se se pode considerar que a concertação está para a democracia participativa como o voto está para a democracia representativa (Lacouture, 2006), as práticas assumidas de participação têm assumido perspectivas que, muitas vezes, mais que concertar, ou assentar numa base clara de partenariato, servem para

9 Tradução do autor do original em inglês: "low participatory and social inequalities are so bound up with each other

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legitimar as opções dos decisores, ou seja, encontram-se nos níveis mais baixos da escala de Arnstein. Com efeito, segundo Dalal-Clayton,

“Nos países industrializados, as agências governamentais seguem com frequência o que Walker e Daniels (1997) chamam de modelo dos 3I: informar (o público), invite (comentários) e ignorar (opiniões)” (Dalal-Clayton et al., 2002, p.180)10

Tendo em conta a complexidade dos processos de participação pública, e partindo do pressuposto da sua importância na transformação e na adaptação da democracia ao contexto da modernidade, são necessárias novas formas de governo. O conceito de governança aparece assim no léxico conceptual dos actores dos processos de participação como “uma visão diferente de governo, orientada em função da sociedade civil e da cidadania, que utiliza a negociação, o pacto e o consenso antes da hierarquia, da força e da imposição sem diálogo, e que implica mudanças no modo de actuar da gestão pública” (Nebot, 2001, p.165, in Costa, 2008, p.11).11 Este “fazer acontecer” permite, ao mesmo tempo que se mantém a estabilidade política, facilitar a mudança institucional em favor de uma maior participação, aumentando a confiança dos cidadãos através da responsabilização colectiva e da transparência.

Tais princípios têm, por outro lado, uma aplicação diferenciada consoante os níveis de subsidariedade em que se desenvolvem. Considerando que, no actual contexto de globalização e de individualização, as cidades e regiões têm vindo a adquirir uma especial relevância na afirmação e na afectação dos riscos da modernidade, é numa lógica local e regional que se poderão desenvolver experiências e processos de renovação democrática das instituições de governo – a começar, claro, pelas autarquias locais.

“A democracia local abre as portas a uma pedagogia da cidadania e pode criar as condições de transformação de uma relação do cidadão ao político e à política: pelo espaço definido no qual ela se exerce, favorecendo a homogeneização e integração de uma comunidade de residentes; pela circulação directa da palavra trocada, favorecendo a informação e a expressão da vontade comum (no âmbito de uma comissão de moradores ou de uma associação); e pelo processo progressivo de tomada de responsabilidades, favorecendo uma participação activa no poder de decisão. Se a utopia significa uma ideia que não tem lugar onde se aplicar, a democracia local,

10

Tradução do autor do original em inglês: In industrialized countries, government agencies often follow what Walker and Daniels (1997) call the 3I model: inform (the public), invite (comments) and ignore (opinions).

Por uma questão formal, manteve-se a nomenclatura dos 3I, utilizando-se a expressão original, para que na tradução para português não se perdesse o sentido.

11

Tradução do autor do original em castelhano: “una visión diferente del gobierno, orientada en función de la sociedad civil y de la ciudadanía que utiliza la negociación, el pacto y el consenso antes que la jerarquía, la fuerza y la imposición sin diálogo y, que implica cambios en el modo de actuar de la gestión pública” (NEBOT, 2001, 165)

(19)

longe de ser uma utopia, é sem dúvida o único lugar onde a ideia de democracia pode ainda exercer-se plenamente”. (Jeannette Boulay, in Mota, 2005, p.5)

Esta mesma orientação era defendida por Stuart Mill, que, apesar de defender o governo representativo, encarava que, em escalas micro-territoriais, a participação directa era benéfica, enquanto experiência para o desenvolvimento moral, promoção do espírito público e exercício da criatividade (Furriela, 2002). Trata-se de um movimento de sentido contrário, pressionado pela sociedade civil organizada e operante, mas sustentado no estímulo dado pelos governos locais, com a capacidade de envolvimento de camadas cada vez mais alargadas das populações envolvidas nos processos decisórios, vencendo, deste modo, a descrença e a rejeição pelo processo democrático. O governo local, mais do que um espaço de decisão institucionalizado deverá entender-se, então, como um instrumento de socialização para a participação (Martins, 2005).

Como se poderá, então, compreender uma sociedade assente em princípios democráticos de participação? A resposta só poderá ser entendida à luz de cada realidade concreta, sem modelos universais, mas a descrição seguinte, por generalista, poderá aproximar-se da imagem a alcançar:

“Cidadania, mundo público aberto à discussão, alto nível de associativismo, relações de confiança e reciprocidade disseminadas na sociedade, relações individuais não segmentadas; para além do grupo social familiar e, finalmente, experiência de governo comunal, em que a participação popular é a tónica e a informação circula sem grandes barreiras, portanto, a custos não proibitivos: eis a descrição aproximada de uma comunidade cívica dotada de alto nível de capital social, em que provavelmente existe bom governo, bom desempenho institucional e, como consequência dos anteriores, bom nível de desenvolvimento económico.” (Bonfim et al., 2003, p.120)

1.3 A participação pública na dinamização do desenvolvimento

sustentável das sociedades

Conforme entendemos no sub-capítulo anterior, a participação pública surge como resposta às exigências das sociedades modernas. Uma destas exigências prende-se com a desconfiança e alheamento dos cidadãos em relação aos decisores políticos (que é recíproca, muitas vezes), inviabilizando uma efectiva representatividade democrática.

Neste contexto, o surgimento do conceito de DS é paradigmático. A sua conceptualização multidimensional obriga a um trabalho de integração das suas distintas dimensões no processo de

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planeamento, o que se alcança com orientações técnicas que só a participação pública legitima, pois não há sustentabilidade sem participação e a dialéctica das mudanças institucionais e societais é um factor integrante do desenvolvimento tal como ele é concebido nesta abordagem.

Quando, na Cimeira do Rio de Janeiro, em 1992, mais de 100 países se responsabilizam pela sustentabilidade do desenvolvimento global, assinam uma declaração que estabelecia que:

“As questões ambientais são mais bem tratadas com a participação de todos dos cidadãos interessados, no nível relevante. A nível nacional, cada indivíduo deve ter acesso apropriado a informação relativa ao ambiente, mantida pelas autoridades públicas, incluindo informação sobre materiais e actividades perigosas nas suas comunidades, e a oportunidade de participar nos processos decisórios. Os Estados devem facilitar e encorajar a consciência e a participação, disponibilizar largamente a informação. O acesso efectivo a processos judiciais e administrativos, incluindo a reparação e a remediação, deverão ser fornecidos.” (FARN, 2008, p.3)12

Estes princípios foram transpostos para a realidade europeia através da Convenção de Aauhus, do Conselho Europeu, que reconhece que, “no domínio do ambiente, a melhoria do acesso à informação e da participação pública no processo de tomada de decisões aumenta a qualidade das decisões e reforça a sua aplicação, contribui para a sensibilização do público para as questões ambientais, dá-lhe a possibilidade de manifestar as suas preocupações e permite às autoridades públicas ter em conta essas preocupações, procurando, por este meio, aumentar a responsabilidade e a transparência no processo de tomada de decisões e reforçar o apoio do público às decisões adoptadas no domínio do ambiente.” (CCE, 2003, p.7)

Num contexto de alheamento dos cidadãos, reconhecemos que existem processos de participação pública que, longe de capacitar as populações e de contrariar esse desânimo, mais contribuem para a desconfiança para com os políticos e o processo democrático, e, consequentemente, para uma maior alienação e cepticismo. São métodos passivos, localizados nos níveis inferiores da escala de Arnstein mencionada no sub-capítulo anterior e que, em essência, corrompem a lógica constituinte da Declaração do Rio e da Convenção de Aarhus.

A A21L surge, assim, no âmbito do potencial local de mobilização, próximo e informado, como

12

Tradução do autor do original em inglês: "Environmental issues are best handled with the participation of all concerned citizens, at the relevant level. At the national level, each individual shall have appropriate access to information concerning the environment that is held by public authorities, including information on hazardous materials and activities in their communities, and the opportunity to participate in decision-making processes. States shall facilitate and encourage public awareness and participation by making information widely available. Effective access to judicial and administrative proceedings, including redress and remedy, shall be provided"

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uma resposta à urgência de participação, mas também ao descontentamento face à participação manietada. A sua implementação pauta-se pelo envolvimento co-decisório das comunidades locais ao longo de todo o processo, utilizando metodologias activas, flexíveis, cooperantes, pedagógicas e dinâmicas (Schmidt et al., 2006).

“Dada a maleabilidade e abrangência de procedimentos e acções da Agenda 21 Local, esta surge como o melhor instrumento de inclusão, discussão pública e envolvimento das comunidades locais nas questões do Ordenamento do Território, em geral, e dos Planos de Pormenor, em particular, mas também ajuda à criação de competências essenciais a uma participação construtiva. (Schmidt et al., 2006, p.4-5)

Em termos do potencial mobilizador, a A21L possui características que aproximam os decisores das populações, o que, juntando ao potencial reflexivo enquadrado nas teorias da modernização ecológica, poderão contribuir para a construção de sociedades mais participativas e, enfim, mais democráticas. Com efeito, segundo Lia Vasconcelos:

“A maioria dos participantes [nos processos de A21L] só tinha tido contacto com a participação em audiências públicas de Estudos de Impacte Ambiental. Eles frequentemente testemunhavam a frustração sentida nesses processos devido à ambiguidade e falta de propostas específicas nessas audiências. Em contraste, é comum que testemunhem um sentido de “dever cumprido” e prazer após trabalharem nos workshops da A21L, organizados em equipas mais pequenas e com objectivos específicos” (Vasconcelos, 2001, p.9)13

13 Tradução do autor do original em inglês: “Most of the participants only had previous contact with participation in

public hearings of Environmental Impact Studies. They frequently reported the frustration felt in these processes due to the ambiguity and lack of specific proposals in those sessions. In contrast, it is common that they report a sense of achievement and pleasure after working in the LA21 workshops organized in smaller teams and with specific goals."

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2. Metodologia

2.1 Justificação e Objecto de Estudo

A presente dissertação enquadra-se na análise do contributo da A21L, enquanto ferramenta mobilizadora de uma mais efectiva participação pública na tomada de decisões. O processo de concretização da A21L é encarado por técnicos e académicos como um instrumento com potencial de promover uma democracia mais participativa, dinâmica e adequada às exigências da contemporaneidade, num momento histórico de descrença e alheamento cidadão da vida pública. Enquanto instrumento de promoção de um DS, a A21L tem provado, efectivamente, em diversos países do mundo, capaz de alterar a praxis institucional e das perspectivas dos diferentes actores sociais, face aos desafios das sociedades actuais (Vasconcelos, 2001; Garcia, 2005).

A caracterização do perfil dos participantes neste processo, na “primeira infância” da sua dinamização em Portugal, revela-se, assim, pertinente, porque (1) permite a reflexão acerca do grau de implantação dos princípios da sustentabilidade na sociedade portuguesa e (2) permite a promoção de uma bateria de mecanismos que promovam um envolvimento mais alargado e informado da população.

A motivação base para desenvolvermos este estudo prendeu-se com este potencial que têm a A21L e o DS de promover uma sociedade mais participativa. A coordenação da A21L de Vila Franca de Xira, colocou-me em contacto com as dinâmicas necessárias à prossecução de um processo de participação pública; e levou-me à pesquisa exaustiva de instrumentos que estão a ser desenvolvidos globalmente. Deste trabalho, foi possível compreender o empowerment promovido pela A21L e outros processos que utilizam metodologias análogas, e o seu efeito no incremento da participação pública e de uma democracia participativa.

Existindo um envolvimento profissional no processo de realização de sessões participativas no âmbito da A21L de Vila Franca de Xira, pareceu-nos pertinente focar a atenção naquela realidade local. No entanto, na realização desta dissertação tivemos de lidar com a indefinição da instituição promotora, que atrasou a operacionalização empírica da investigação. No início de 2010 a A21L de Vila Franca de Xira entrou na fase pretendida para a realização do estudo e pudemos avançar para a sua concretização.

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2.2 Objectivos, Questões de partida e Hipóteses de Investigação

A presente dissertação assenta no pressuposto de que a A21L representa um meio privilegiado de promoção da participação pública e, partindo do empowerment por ela criado, de reinvenção da democracia, transformando o carácter representativo daquela em modelos mais abertos, dinâmicos e participativos. No entanto, o envolvimento das populações na definição das políticas públicas parece ser um “parto difícil”, pelas mais diversas questões. O objectivo da investigação que levamos a cabo prende-se com as motivações dos participantes nas sessões participativas da A21L de Vila Franca de Xira. Por outro lado, utilizando esse conhecimento, pretende-se potenciar o trabalho científico e técnico que permita um maior envolvimento das populações em Vila Franca de Xira ou noutros locais.

De modo a cumprir esse objectivo, partiu-se da seguinte questão: Quem são os indivíduos que participam na definição das políticas de sustentabilidade de Vila Franca de Xira e quais as suas motivações?

As principais hipóteses de trabalho foram, então, as seguintes:

 A mobilização para um processo participativo como o proposto pela A21L é mais eficaz junto de indivíduos com consciência e motivação de carácter local;

 A participação no processo da A21L está associada a uma participação social e política mais alargada, nomeadamente a participação eleitoral, partidária ou associativa;

 Comparativamente a processos de participação pública que utilizam metodologias passivas (de níveis inferiores na referida escala de Arnstein) a avaliação dos participantes com o processo de A21L é positiva.

2.3 Apresentação do Estudo de Caso

Vila Franca de Xira é um concelho inserido na sub-região da Grande Lisboa, limitando a norte a Área Metropolitana de Lisboa. Numa área de 317,68 km2 residem, segundo as mais recentes estimativas do INE, 142 163 habitantes, o que corresponde a uma densidade populacional de 447,5 hab/km2, bastante superior à média nacional, de 120 hab/km2 (WIKIPEDIA, 2010). Geograficamente, o concelho é caracterizado por duas zonas distintas: uma urbana, limitada pelo rio Tejo e ferrovia a este e pela A1 a oeste (com excepção da freguesia de Vialonga); e uma rural, a oeste da A1 e na margem esquerda do Tejo, a Lezíria. A nível administrativo está dividido em 11 freguesias, 3 de vocação rural e as restantes urbanas, zonas historicamente de grande implantação

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industrial e logística, com densidades populacionais muito elevados, comparativamente à média nacional.

A A21L de Vila Franca de Xira é assumida, a partir da assinatura da Carta e dos Compromissos de Aalborg, em Maio de 2005. Esta data enquadra-se temporalmente numa vaga de declarações de intenção dos municípios portugueses para com o desenvolvimento de A21L, pós Conferência Aalborg + 10, em 2004.

Desde a data da assinatura da Carta e dos Compromissos de Aalborg até à fase actual do processo passaram 5 anos14, tendo-se desenvolvido durante esse período alguns estudos e acções sob o signo da A21L. Nesses projectos, a participação pública baseou-se na auscultação e envolvimento de políticos locais e técnicos autárquicos.

No início de 2010 reiniciaram-se os contactos com as freguesias (algumas haviam mudado de liderança nas eleições de Outubro de 2009), iniciando-se no mesmo período a preparação das onze sessões participativas, que iriam decorrer, uma por freguesia, entre 19 de Março e 28 de Maio do mesmo ano. Para a divulgação dessas sessões foram utilizados cartazes, folhetos, contactos institucionais com associações e empresas do concelho, mailing, bem como a colocação de um anúncio semanal num jornal regional.

As referidas sessões, dinamizadas por uma equipa externa à Câmara Municipal, decorreram geralmente à sexta-feira, a partir das 21H. A metodologia de participação utilizada previa a hierarquização de desafios (uns levantados previamente através de entrevistas aos presidentes de Junta e outros levantados na própria sessão, por sugestão dos participantes), sendo os mais votados discutidos em sede de pequenos grupos de trabalho, que propunham acções que correspondessem a esses desafios. Essas acções foram, posteriormente, colocadas no relatório da sessão, disponível para consulta no site das autarquias envolvidas.

Participaram nessas sessões aproximadamente 300 indivíduos, numa média de 27,3 por sessão. Refira-se que os políticos presentes participavam com estatuto igual ao dos outros participantes. Salienta-se, ainda, que a próxima fase da A21L de Vila Franca de Xira está, no momento em que se escreve esta dissertação, a ser definida.

Ao apontarmos a A21L de Vila Franca de Xira como o centro deste estudo, considerámos que este concelho possuía características sociográficas e históricas com capacidade de ser utilizado para outros estudos sob as temáticas aqui abordadas. Efectivamente Vila Franca de Xira é um concelho de fronteira, coexistindo na sua área uma dimensão urbana e rural, indivíduos que se deslocam

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diariamente para Lisboa e concelhos limítrofes com outros que integram os quadros das organizações locais, uma presença agrícola e piscatória relevante, distintos grupos étnicos e culturais, populações enraizadas e moradores recentes, vivências e a afirmação de culturas específicas mesmo às portas da capital, um movimento associativo com tradições e operativo, um historial riquíssimo de intervenção política, sociocultural e económica, no contexto do país. A título de exemplo, salienta-se que Vila Franca de Xira era a porta de entrada de mercadorias para Lisboa até metade do séc. XX; é sede da grande empresa agrícola nacional, a Companhia das Lezírias; foi um pólo importante da indústria metalúrgica, aeronáutica e química; foi o berço de um dos mais significativos movimentos culturais do séc. XX, o Neo-Realismo; viu nascer a primeira associação sindical do país; deste concelho são oriundos importantes quadros de organizações políticas, do antes e do depois do 25 de Abril de 1974.

Face às características expostas, não se pretende que desta dissertação nasçam generalizações, mas a partir desta realidade parece-nos que se poderão retirar alguns instrumentos que permitam entender os princípios da A21L e do DS e promover, através deles, uma maior participação pública.

2.4 Instrumentos de Recolha e Tratamento de Dados

No desenvolvimento da presente dissertação utilizámos dois métodos de recolha de informação: a pesquisa bibliográfica e o inquérito por questionário.

No caso do primeiro método, de natureza mais qualitativa, a sua relevância centrou-se nos seguintes pontos: (1) Familiarização com o volume de informação existente sobre a temática; (2) Construção de um enquadramento teórico de base, reunindo informação dispersa e a partir desta equacionar o objecto e os objectivos de investigação. Na linha desta pesquisa, procuraram-se analisar publicações, artigos científicos e de opinião e posters sobre as diversas matérias em estudo.

No caso do segundo método, de natureza quantitativa, foi aplicado um inquérito de administração directa contando com um conjunto de perguntas fechadas e abertas. A opção por este método reflecte as características das condições de inquirição, que impossibilitava uma exploração mais intensiva, tendo de se efectuar a recolha de dados num curto período de tempo, muitas vezes com os indivíduos cansados e pouco receptivos a perder mais uns minutos de uma noite que, quase sempre, já ia longa. Por outro lado, a aplicação de um inquérito permite “quantificar uma multiplicidade de dados e de proceder, por conseguinte, a numerosas análises de correlação” (Quivy et al., 1995, 189) o que corresponde, essencialmente, à tipologia de análise que cumpre com os objectivos do estudo. O inquérito foi aplicado a todos os participantes, tendo sido validados 193 inquéritos (mais de 50%

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do universo).

Relativamente à análise e tratamento da informação, os dados foram inseridos e processados no programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) 17.

Ensaiou-se, ainda, uma interdisciplinaridade teórico-metodológica, tendo sido recolhidos contributos da sociologia, ciências do ambiente, educação para a sustentabilidade, demografia e estatística.

Todo o trabalho de recolha de dados não pode ser visto sem considerar, ainda que sem vínculos definidos, métodos de observação directa, devenientes da implicação do autor com o processo, da presença em todas as sessões e do conhecimento aprofundado dos constrangimentos a ele associados.

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3. Análise dos Dados

No presente capítulo, vamos caracterizar e interpretar as respostas aos inquéritos, aplicados conforme a metodologia descrita no capítulo anterior.

Numa primeira instância, é necessário explicar que o inquérito aplicado, tendo sido desenvolvido especificamente para as sessões da A21L de Vila Franca de Xira, teve em conta, na sua formulação, informação necessária à própria instituição (Câmara Municipal de Vila Franca de Xira), que se assumiu, desde o início, que poderia não ser relevante para os fins aqui materializados. Assim, com base no modelo apresentado no Anexo I, foi tida em conta a informação relativa à Idade (1), Sexo (2), Escolaridade (3), Profissão (8), Motivações (11), Grau de Activismo (12), Disponibilidade de Participação (13), Visão de Desenvolvimento (14) e Avaliação da Sessão (15), por se considerarem os pontos em cuja análise se poderiam relevar as considerações que respondessem à pergunta de partida.

Considerando este facto, este capítulo será dividido na seguinte forma:

1. Caracterização Sociográfica dos Participantes – análise de frequências de grupos de idade, género, níveis de escolaridade e classe profissional;

2. Caracterização das Motivações dos Participantes – construção de categorias motivacionais e respectivo cruzamento com as variáveis sociográficas;

3. Caracterização do Grau de Activismo dos Participantes – construção de tipologias de activismo operativo e respectivo cruzamento com as variáveis sociográficas;

4. Caracterização da Disponibilidade de Participação por parte dos Inquiridos – dimensões hipotéticas de participação em torno de um objectivo, com relevância local ou global e respectivo cruzamento com as variáveis sociográficas;

5. Caracterização de Perfil de Visão de Desenvolvimento - análise de frequências de visão de desenvolvimento e respectivo cruzamento com as variáveis sociográficas;

6. Caracterização de Perfil de Avaliação por parte dos Inquiridos – avaliação da sessão participativa e respectivo cruzamento com as variáveis sociográficas.

(28)

3.1 Caracterização Sociográfica dos Participantes

O presente sub-capítulo visa uma caracterização geral do perfil sociográfico dos participantes nas sessões da A21L de Vila Franca de Xira, tendo em conta as variáveis mencionadas.

Gráfico 1 – Análise dos Participantes por Idade (%)

FONTE: Inquéritos aplicados aos participantes

Conforme se verifica no gráfico anterior, são os indivíduos da faixa etária entre os 40 e os 65 anos que em maior número participaram nas sessões da A21L.

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Gráfico 2 – Análise dos Participantes por Sexo (%)

FONTE: Inquéritos aplicados aos participantes

Do total dos participantes, cerca de 60% são homens. Denota-se uma baixa participação de mulheres. Este facto, segundo análise que será apresentada, surge como reflexo do perfil “activista” das mulheres. Tendo existido, na mobilização para a A21L, uma forte divulgação junto do movimento associativo (cujos órgãos sociais são maioritariamente ocupados por homens), compreende-se a menor mobilização das mulheres.

(30)

Gráfico 3 – Análise dos Participantes por Escolaridade (%)

FONTE: Inquéritos aplicados aos participantes

Segundo o gráfico 3, destaca-se a clara maioria de participantes que afirmam ter o ensino secundário ou mais qualificações, os quais representam mais de 60% do total de participantes. Acresce que mais de 35% dos participantes tem o ensino superior, o que denota que a predisposição de participação em prol do DS é maior nas pessoas com qualificações superiores.

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Gráfico 4 – Análise dos Participantes por Profissão (%)

FONTE: Inquéritos aplicados aos participantes

Através do gráfico 4, percebe-se que são os indivíduos com profissões técnicas e de enquadramento, logo seguidos pelos empregados executivos (ou seja, indivíduos que nas suas profissões necessitam de qualificações médias e superiores), os que mais estiveram presentes.

3.2 Caracterização das Motivações dos Participantes

A análise às motivações de participação nas sessões da A21L de Vila Franca de Xira assentou na resposta a perguntas abertas, permitindo a explanação individual dos motivos de participação no processo. Após uma análise das respostas obtidas, optou-se por categorizá-las do seguinte modo:

 Participação/Cidadania, quando as respostas revelavam um envolvimento pluriorientado, com ênfase no processo e na relevância de se envolver no mesmo como prática efectiva;  Desenvolvimento Local, quando as respostas incidiam na procura de respostas ou na

capacidade de promover a discussão sobre problemas eminentemente locais, respeitantes às freguesias ou ao concelho em questão;

 Interesse na Sustentabilidade, quando as respostas revelavam uma orientação não datável e espacializável.

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motivam as pessoas à participação, com mais de 58% dos participantes a revelarem essa orientação. A participação e cidadania surge em segundo lugar, com cerca de 21% dos participantes, com as motivações baseadas no interesse na sustentablidade a envolverem 13% dos envolvidos.

Numa discussão que se pretende enriquecedora para promover uma democracia mais participativa, percebe-se que a motivação que encaixa nesse parâmetro (Participação/Cidadania) não é a mais presente, o que, de certa forma, comprova a desilusão dos cidadãos com os processos democráticos e o exercício voluntário da cidadania. A motivação com as questões locais aparece assim como paradigma mobilizador, o que sugere, na prossecução da A21L em Vila Franca de Xira, uma lógica de subsidariedade na organização das sessões participativas, explorando-se dimensões micro-territoriais como capacitadoras da concretização plena do slogan “Pensar Globalmente, Agir Localmente”.

3.3 Caracterização do Grau de Activismo dos Participantes

Nesta questão importava compreender o grau de activismo dos participantes no processo, inferindo a partir daí se o facto de os diversos indivíduos estarem presentes numa sessão participativa era acompanhado de uma praxis participativa, em outros contextos da vida em sociedade.

Para tal, cruzamos as variáveis “Idade”, “Sexo”, “Escolaridade” e “Profissão” com as variáveis “Voto nas eleições”, “Sou/já fui eleito/a local”, “Participo em discussões públicas de carácter local (por exemplo. Revisão do PDM)”, “Sou membro de associações/colectividades (ambiente, solidariedade social, desenvolvimento, juventude, consumo, desporto e recreio, etc.)”, “Sou membro de um Sindicato”, “Sou/já fui membro de um partido político”, “Colaboro em publicações (jornais, blogues, etc.)”, “Mantenho-me informado/a sobre a realidade social e política do país e do Mundo”, “Sou/já fui voluntário/a em organizações” e “Outra. Qual?”. O cruzamento destas variáveis foi efectuado com vista a obter padrões de participação e activismo social que contribuam para um relacionamento do envolvimento dos participantes num contexto de A21L (que se reconhece que a priori não é reconhecível pelas populações) e a sua participação noutros contextos. Para a variável “Voto nas eleições” a grande maioria dos participantes, mais de 89%, independentemente caracterização sociográfica, tem participação eleitoral. Este facto apenas não é acompanhado no caso dos participantes com menos de 25 anos, o que se compreende com a existência de indivíduos que ainda não têm idade para votar (cuja transposição para outros parâmetros tem relevância apenas na análise de profissão, em que nos casos assinalados como “Não se aplica” apresenta uma percentagem mais baixa).

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A participação em eleições é, neste caso, superior à média nacional, sugerindo que as pessoas que se envolvem num processo com a estrutura da A21L estão, à partida, bem inseridas no contexto democrático, nas suas dinâmicas representativas.

Da variável “Sou/já fui eleito/a local” um total de 43% responde positivamente. Não sendo uma percentagem maioritária, é, no entanto, significativa, sugerindo a inserção de um número não despiciendo de participantes na lógica da representatividade democrática.

Em termos de análise do respectivo perfil, são os homens entre os 40 e os 65 anos, com o ensino superior e com profissões técnicas e liberais os que revelam ter maior presença na participação directa da gestão dos destinos locais. Este perfil corresponde ao perfil dominante na frequência de participação no processo da A21L de Vila Franca de Xira, podendo ligar-se, neste contexto, a prática política directa com o interesse na participação pela melhoria da qualidade de vida e da sustentabilidade.

Em relação à variável “Participo em discussões públicas de carácter local (por exemplo. Revisão do PDM)”, cerca de 54% afirma participar em discussões públicas, o que é revelador de uma dinâmica de envolvimento na vivência local.

Em termos de perfil, neste caso, observa-se uma representação de todos os grupos, ainda que sejam os homens com qualificações iguais ou superiores ao 9º ano os que mais se envolvem nestes processos.

Quanto à variável “Sou membro de associações/colectividades (ambiente, solidariedade social, desenvolvimento, juventude, consumo, desporto e recreio, etc.)” a participação varia em termos de perfil, sendo globalmente relevante (cerca de 65% dos participantes pertencem a associações). Salienta-se, neste caso, a percentagem elevada de indivíduos com menos de 25 anos que participa em associações e que revelaram interesse na A21L de Vila Franca de Xira.

Podemos, a partir desta variável, considerar que o capital social adquirido com a participação associativa capacita os cidadãos e cidadãs para uma participação mais abrangente, de implicação na “coisa pública”.

Acrescentamos que, no âmbito da divulgação da A21L de Vila Franca de Xira, as associações locais foram alvo de um contacto directo privilegiado por parte da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, donde a forte mobilização por parte deste sector. Este contacto privilegiado com as associações pode explicar alguma contradição com o carácter de mobilização presente nas sociedades complexificadas e individualizadas actuais. Neste sentido, afirma Bastos que

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“[…] as iniciativas de participação de entidades representantes de interesses sectoriais (uti cives), nomeadamente associações, sejam francamente inferiores (18,8%) às que representam interesses particulares (71,1%) através de empresas e indivíduos (uti singuli).” (Bastos, 2002, p.12)

Consideramos relevante, ainda, conjugar esta informação com a análise efectuada à frequência de mulheres nas sessões da A21L. Segundo esta amostra, os homens têm uma participação associativa maior e, tendo existido um contacto privilegiado com as associações locais, pode-se compreender, também por aí, uma menor participação feminina.

A variável “Sou membro de um Sindicato” revela, por seu turno, uma participação bastante baixa, quando comparada com outras dimensões de análise, não nos parecendo que a pertença a associações de classe profissional seja mobilizadora para uma participação em prol da sustentabilidade. Acrescenta-se a este facto outra dimensão, que não cabe no âmbito deste estudo, que é a menor atractividade que as organizações sindicais exercem nas sociedades contemporâneas. A variável “Sou/já fui membro de um partido político” tem aqui alguma relevância, com cerca de 40% dos participantes a assumirem a participação naquele tipo de estruturas. O facto, no entanto, de não possuir um carácter maioritário, revela que a A21L possui um potencial de atracção junto dos cidadãos que não têm outras motivações além das da participação per si, não entendida como a satisfação dos desígnios dos “aparelhos” partidários.

A variável “Colaboro em publicações (jornais, blogues, etc.)” não faz parte do perfil da maior parte dos participantes na A21L. Salientamos, no entanto, o maior número de indivíduos com o ensino superior e com idades menores que 25 anos a participarem, de alguma forma, em publicações, subentendendo-se uma relevância das Tecnologias de Informação e Comunicação na participação em meios de informação, como o são os blogues e, potencialmente, algumas redes sociais.

A variável “Mantenho-me informado/a sobre a realidade social e política do país e do Mundo” parece mobilizar a grande maioria dos participantes.

A esta variável pode-se aferir a motivação de participação suscitada pela curiosidade, ou interesse em saber mais sobre a realidade local e sobre o seu desenvolvimento futuro, factores que, não tendo sido considerados como essenciais na categorização efectuada (ver sub-capítulo seguinte), foram mencionados em diversos momentos da sessão e da resposta às perguntas abertas do inquérito. Do ponto de vista da variável “Sou/já fui voluntário/a em organizações” também se denota um perfil heterogéneo, com uma maioria dos participantes a afirmarem já terem sido voluntários em alguma circunstância. Essa característica, no entanto, é mais acentuada nas camadas mais jovens e

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Tabela 1 – Diferenças entre Agenda 21 Local e Planeamento “Business as Usual”
Gráfico 1 – Análise dos Participantes por Idade (%)
Gráfico 2 – Análise dos Participantes por Sexo (%)
Gráfico 3 – Análise dos Participantes por Escolaridade (%)
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