Número 3 Março/Abril 2006
ENTREVISTA Marisa Lajolo
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RECADODO LEITOR 4
QUESTÃODE GÊNERO “Ofício de poeta”
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PÁGINA LITERÁRIA “O poeta como deseducador”,
texto de Ferreira Gullar 6
ESPECIAL
“Atendimento personalizado” 8
ONDEESTÁO FUTURO
“Crianças contam e cantam o Brasil em versos”
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DE OLHONA PRÁTICA 12
Iniciativa Fundação Itaú Social
Realização
Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária – CENPEC
Coordenação Sônia Madi
Equipe de Edição
Luiz Henrique Gurgel (edição de texto e consultoria) Maria Aparecida Laginestra
Regina Andrade Clara
Leitura Crítica Anna Helena Altenfelder
Maria Estela Bergamin Marta Wolak Grosbaum
Revisão Sandra Miguel
Edição de Arte
Eva Paraguassú de Arruda Câmara José Ramos Néto Camilo de Arruda Câmara Ramos
Ilustrações Suppa Criss de Paulo
Equipe de Apoio
Edileuza Alves Santana, Elisângela Alencar de Almeida, Ivani Alencar, Maria Antonieta Rizzotti Oliveira, Marina Brant de Carvalho Martins, Tathyane
Fernandes Tudda.
Fotos
Páginas 10/11: Antonio José dos Santos(AM/PA), Glauco Spíndola (BA/RN), Almir Salgado (SC/RS), Didier Pinheiro(MS/GO), Christina Rufato (ES/MG).
Fontes Consultadas
Poetas da escola – Ana Helena Altenfelder – 2004 Literatura: Leitores&Leitura – Marisa Lajolo –
Editora Moderna – 2001
A poesia pede passagem – Elias José – Editora Paulus
Vaqueiros e cantadores – Luís da Câmara Cascudo –
Editora Globo – 1939
Os cem melhores poemas brasileiros do século – Ítalo Moriconi – Editora Objetiva – 2000 http://www.bibivirt.futuro.usp.br/especiais/cordel
http:/www.museudofolclore.com.br
Agradecimentos Alice Ruiz Ângela Leite de Sousa
Elias José José Francisco Borges José Paulo Paes (in memorian)
Mônica Feth Otávio Roth
Contato com a redação Rua Dante Carraro, 68 05422-060 – São Paulo – SP
Telefone: 0800-7719310 E-mail: escrevendofuturo@cenpec.org.br
REPORTAGEM “Poesia esparramada”
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TIRANDODE LETRA 16
O QUE VEMPOR AÍ 18
TEXTO VENCEDOR “Minha terra, minha gente”
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COISAS DE ALMANAQUE 20
HISTÓRIADE ALMANAQUE
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À procura da poesia e
da qualidade
Na primeira edição de Na Ponta do Lápis, publicamos trecho de um dos mais belos poe-mas de Carlos Drummond de Andrade sobre o fazer poético. O autor sugere: “Penetra surda-mente no reino das palavras. Lá estão os poe-mas que esperam ser escritos. Estão paralisados, mas não há desespero, há calma e frescura na superfície intata”. A recomendação do poeta bem que pode ter inspirado mais de 3 mil pro-fessores do Brasil a motivar seus alunos na cria-ção de poesias. Nesta edicria-ção trazemos uma mostra do que produziram as crianças. Traze-mos também um texto inédito de outro dos mai-ores poetas brasileiros, escrito especialmente para nosso almanaque. Trata-se de Ferreira Gullar falando do ofício do poeta. Segundo Gullar, o poeta está próximo da criança que “vê o mundo com olhos virgens e que, por quase nada saber, está aberta ao mistério das coisas”.
Também conversamos com a professora Ma-risa Lajolo, que fala da melhor forma de o pro-fessor aproximar seus alunos da poesia.
E aproveitamos para dizer que, depois de três edições, ficou a certeza de termos atingido o ob-jetivo de abrir um canal de comunicação privi-legiado com os professores, levando informações relevantes e experiências que podem ser multi-plicadas. Nossa publicação transformou-se em espaço para que educadores relatem suas ações e expectativas de forma divertida e ao mesmo tempo consistente. E tudo isso teria sido inútil se não fosse a certeza do diálogo. Não foi à toa que recebemos cerca de 4 mil mensagens, en-tre cartas-resposta, cartas comuns, e-mailse te-lefonemas com sugestões, comentários, solicita-ções e relatos de como professores utilizaram
Na Ponta do Lápis em sala de aula. Até crianças escreveram contando situações em que se di-vertiram e o que aprenderam com a leitura da revista feita pelo professor.
São por notícias como essas que a equipe do Programa Escrevendo o Futuro, seus idealiza-dores e realizaidealiza-dores – a Fundação Itaú Social e o Cenpec – já estão com as baterias ligadas e pre-parados para o próximo ano, quando teremos o Prêmio Escrevendo o Futuro 2006. Sabemos que iremos ampliar a parceria com professores e ges-tores de todo o Brasil para continuar aprimoran-do a qualidade aprimoran-do nosso ensino público.
A todos uma boa leitura e um bom trabalho!
Mensagem do Cenpec
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m 2005, o Cenpec completa 18 anos. Des-de o começo voltado para a ação na educação básica pública, tem trabalhado na escola, pensan-do currículos, produzinpensan-do materiais voltapensan-dos à ace-leração da aprendizagem, intensificando progra-mas de formação de professores e gestores em educação. Educação não pode estar dissociada das políticas sociais relacionadas à cultura, à assistên-cia soassistên-cial e ao desenvolvimento local sustentável. Foi comungando com esses princípios que a Fundação Itaú Social trouxe a idéia do Escrevendo o Futuro. Um projeto quevai muito além do prê-mio. Dentro de suas características, é um autênti-co programa de formação em que todas essas ques-tões estão envolvidas e articuladas. O que nos motiva ainda mais é saber que ele continua cres-cendo, ampliando a cada edição o número de pro-fessores e alunos participantes, atuando junto com as comunidades na busca da qualidade.Em 2006 nossa ação continua. Queremos atin-gir metas que garantam melhores condições de aprendizagem e solidifiquem novos padrões de qua-lidade no ensino público brasileiro.
Maria do Carmo Brant de Carvalho
Coordenadora-geral do Cenpec – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária
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Mensagem do Canal Futura
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oi na escola que descobri – eu e grande par-te da humanidade – a poesia.No meu tempo as garotas mantinham cader-nos onde as amigas escreviam poesias, de própria autoria ou que achavam em revistas. Até porque ali o que mais importava não era o verso e sim a amizade a que o poema era dedicado.
No entanto, nada foi mais decisivo na minha formação do que a poesia em particular e a litera-tura em geral. Poderia ter sido na escola mas foi principalmente através da escola, de uma querida amiga de colégio, que enveredei pelo mundo das leituras para nunca mais ser a mesma.
Quem é professor e participa do prêmio Escre-vendo o Futuro (como nós que fazemos o Futura) está em posição privilegiada para libertar e expan-dir a poesia da grade curricular para convertê-la em insumo de transformação. Porque a escola é um imenso território afetivo onde não só cumpri-mos a trajetória da aprendizagem e da escolarida-de mas onescolarida-de poescolarida-demos selar escolarida-destinos.
O gosto pela leitura (das poesias e das prosas) se instala menos por razões explicadas na pedagogia e mais por aquilo que é intangível, por aquilo que nos toca, por “sua capacidade encantatória”, como a descreve o poeta Ferreira Gullar. Se, no mundo de hoje, a beleza (de parâmetros tão discutíveis) é fun-damental para tantos, para nós que fazemos educa-ção, não há o que discutir: poesia é essencial. Por-que é matéria prima de nossa própria humanidade. Lúcia Araújo
LEIA MUITOS POEMAS COM E PARA A CLASSE.
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NTREVISTA2
MARISA LAJOLO
Marisa Lajolo é professora titular no Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp. Costuma apresentar-se como alguém que, depois de inúmeras pesquisas, teses, artigos e
livros escritos sobre livros dos outros, resolveu escrever e publicar seu romance: “Gostei tanto da experiência que a vontade é deixar os livros alheios em paz e fazer os
meus próprios”. Das conversas com a equipe do Na Ponta do Lápise de questões enviadas a ela por e-mail, resultou esta entrevista na qual Marisa fala da importância do
trabalho com poesia para crianças e da publicação dessas obras infantis.
Destaca o papel do professor para os pequenos leitores: “Na vida de cada leitor existiu, quando criança, um adulto que o introduziu no mundo dos livros. Provavelmente o professor será –e precisa mesmo ser – essa pessoa a iniciar as crianças no maravilhoso
mundo da leitura. E tratando de poesia, o melhor é o professor poder começar pelo resgate de sua história de leitor/ouvinte de poesia”.
Qual sua opinião sobre o fascículo “Poetas da Escola” do Kit Itaú de Criação de Texto?
O fascículo “Poetas da Escola” é importante por várias razões. Mas duas são – de meu ponto de vista – as mais importantes. A primeira delas é que ele materializa o resultado do trabalho do professor. A outra é que ele documenta textos infantis, constituin-do assim um material muito útil para professores e pesquisadores. E é importante “materializar” o traba-lho do professor. Acho que no trabatraba-lho escolar com a leitura e com a escrita, fica sempre no horizonte a questão das materialidades dessas práticas. Um livro – e um fascículo é um livro, apenas um pouco mais magrinho – é uma das formas assumidas por essa ma-terialidade, talvez a mais valorizada socialmente. Daí a importância de um projeto que culmina com a pro-dução de um livro. Meio que eleva a auto-estima de todos os envolvidos.
Lição para professor: contar aos
alunos como conheceu a poesia
Que importância você vê na publicação de textos infantis?
Creio que textos produzidos por crianças são uma porta de acesso para as hipóteses que ela – a criança – constrói sobre o funcionamento da linguagem. No caso de poesia, os textos que foram produzidos no bojo do projeto são preciosos pelo que mostram das hipóteses que as crianças constroem sobre o que é e como se faz poesia. Tanto professores quanto pesqui-sadores podem aprender muito com esse material. Os poemas dos finalistas e semifinalistas do Escreven-do o Futuro em 2004 mostram que as crianças têm uma noção clara da especificidade da poesia. Ten-tam, por exemplo, garantir a sonoridade do texto atra-vés de rimas e de repetições de palavras e se inspi-ram nos temas tradicionais da poesia.
Marisa Lajolo
Como o professor pode começar o trabalho com poesia?
Acho que o trabalho com poesia pode ser muito divertido e agradável. Desde, é claro, que o professor goste de poesia. Acho que o professor pode começar – antes de iniciar o projeto de trabalhar poesia na sala de aula – pelo resgate de sua história de leitor/ouvinte de poesia. Qual foi o primeiro poema do qual se re-corda?
Os textos que foram
produzidos são preciosos pelo
que mostram das hipóteses que
as crianças constroem sobre o
que é e como se faz poesia.
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LEIA REFORÇANDO A SONORIDADE, VARIANDO O QUE QUER SUBLINHAR DO POEMA.
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No seu caso, qual foi esse poema?Foi um poema que constava do livro de leitura do quarto ano, e nunca me esqueci dele. É assim:
Bárbara be-la/ Do Norte estrela/ Que meu destino/ Sabes guiar/ De ti ausente,/ Triste, somente/ As horas passo/ a suspirar/ (...).
Eu não entendia bem todas as palavras, mas o ritmo – hoje sei que se chama assim – me envolvia. Acabei decorando o poema e só mais tarde, quan-do tinha um repertório maior de textos, e com a ajuda de uma professora – Dona Margarida –, con-segui lidar bem com as inversões “do Norte estrela” ou “de ti ausente”. Hoje sei que o poema é de Alva-renga Peixoto, um dos poetas da Conjuração Minei-ra, que o dedicou à mulher, Bárbara HeliodoMinei-ra, uma das primeiras poetas brasileiras.
Mas esse poema ainda hoje é adequado para as crianças lerem?
Pode ser adequado ou inadequado. Depende do professor. Acho que ele “funcionou” comigo tal-vez exatamente pelo que eu não compreendia dele. Analisando hoje a situação, creio que me fascinou um texto de alta musicalidade e de baixa comuni-cabilidade. Até hoje aposto num certo mistério que torna alguns poemas irresistíveis. Como se a poesia fosse uma linguagem meio cifrada.
www.secrel.com.br/jpoesia/mlajolo.html www.unicamp.br/iel/memoria
ela gostou de tal poema? Na vida de cada leitor exis-tiu, quando criança, um adulto que o introduziu no mundo dos livros. Provavelmente o professor será – e precisa mesmo ser – essa pessoa a iniciar as crianças no maravilhoso mundo da leitura.
Publicações de Marisa Lajolo
Mas você falava das lembranças do professor... Pois é. Creio que se o professor pensar no que funcionou e no que não funcionou com ele, vai con-seguir fazer um trabalho interessante. Desde, como já disse, que goste de poesia, e queira iniciar seus alunos na leitura e na produção de poemas. Será que os alunos não vão gostar de saber qual foi o primeiro poema que a professora leu na vida? E saber por que
Um trabalho como esse forma poetas?
Para mim, a escrita de poemas na escola não tem a finalidade de formar poetas, embora, é claro, possa perfeitamente tambémdespertar em alguns alunos a vontade de escrever poemas. Tem a finalidade de fa-miliarizar os alunos com um tipo de escrita, e torná-los mais sensíveis para a leitura de poemas. De bons, de ótimos poemas.
Poesia é um texto para se ouvir ou para se ler? A poesia nasceu oral. Nasceu em situações coleti-vas, com alguém usando uma linguagem cheia de rit-mo – e muitas vezes acompanhada de música. O re-gistro escrito da poesia é bem posterior. Acredito que a escola pode reproduzir este caminho da oralidade para a escrita, da audição para a leitura.
Que indicações você daria para o desenvolvimento do trabalho na sala de aula?
Acho que a maior sugestão é que o professor leia muitos poemas com e para a classe. Leia bem os
po-emas e leia de forma variada. Reforçando a sonorida-de, variando o que quer sublinhar do poema. Outra idéia é o professor incentivar os alunos a montar um álbum de seus poemas preferidos. Isto dará uma ra-zão para os alunos irem buscar poemas para ler, dis-cutir as preferências de cada um. Ou seja, creio que vale a pena tentar simular na classe os percursos que a literatura percorre fora da escola.
O professor pode começar –
antes de iniciar o projeto de
trabalhar poesia na sala de aula
– pelo resgate de sua história de
leitor/ouvinte de poesia.
Acho que o trabalho
com poesia pode ser muito
divertido e agradável.
Desde, é claro, que o professor
E A SUA CARTA, QUANDO VAI CHEGAR?
RESPOSTA NA PÁGINA 21
RECADO DO LEITOR
Alunos reclamam da Carta Social
Estamos trabalhando com o Projeto “Car-tas trocadas, literatura partilhada” e en-viamos aos nossos colegas cartas, con-vidando-os a participar do projeto. Ao todo foram 37 cartas, que não chegaram ao seu destino.
Ficamos chocados com o que aconteceu, pois estávamos ansiosos com a chegada das mesmas. Foi uma decepção para todos. Entramos em contato com a ECT e o re-torno foi que este tipo de carta não tem garantia de chegada. Se não há garantias, pensamos: Qual o motivo de sua existência?
Alunos do 2o ciclo da E.M. Francisco de
Sales Barbosa – Betim (MG)
Resposta
A CARTA SOCIAL não chega ao destina-tário se não atende às características es-pecíficas desta correspondência, divulga-das no primeiro número do Na Ponta do
Lápis... Quando isso ocorre, ela é devol-vida ao remetente com um anexo explican-do por que a mesma não está de acorexplican-do para esse serviço.
Encaminharemos um funcionário do Cor-reio, da cidade de Betim, à E.M. Francisco de Sales Barbosa, para conversar com os alunos e esclarecer as possíveis dúvidas.
Osmar Piedade, da Agência de Correios Franqueadas (ACF) Jardim Paulistano (SP)
Elo entre gerações
O tema “memórias” veio em um bom
mo-mento, pois estou trabalhando a questão da migração e, através da seção, surgiu a idéia de solicitar às crianças uma entrevista com os familiares sobre sua origem, possibili-tando desta forma o resgate da história da família, estabelecendo assim um elo maior entre as gerações.
Tânia Medrado de Souza, Taboão da Serra (SP)
Relembrando antigos professores
Fiquei encantada com a história “Uma de-finitiva presença” e viajei no tempo relem-brando meus antigos professores, analisan-do o que cada um deixou em mim. Alguns, saudades, afeto; outros, receio. Mas disso tudo posso aproveitar os exemplos, pois hoje sou eu que estou fazendo a minha his-tória com a dos meus alunos. Que lembran-ças deixarei?
Emília Elizabet de Carvalho Rocha, São José dos Pinhais (PR)
Carta do Escritor
Recebi o almanaque Na Ponta do Lápis. Ele é bonito e tem uma linguagem colo-quial, capaz de criar uma relação afetuosa com os leitores. Seu conteúdo é substanci-al e necessário, sem se distanciar dos lei-tores. É uma publicação que vai fazer os professores mais amarem seu trabalho. Muito obrigado pelo carinho com meu tex-to. Fiquei feliz em estar com vocês.
Bartolomeu Campos Queirós, Belo Horizonte (MG)
Novo ânimo
O Na Ponta do Lápis serviu como uma
in-jeção de ânimo, estimulou a escrita da mi-nha classe, porque os textos são produzi-dos por crianças da mesma faixa etária. Meus alunos ficaram encantados com a Página Literária e imediatamente pediram-me para escrever sobre o relaci-onamento que eles tiveram com outros professores. Foi ótimo!
José Carlos do Nascimento Santos, Salgado (SE)
Referencial teórico
Além da entrevista, destaco a Pá-gina Literária, uma verdadeira poesia, uma lição de como a pos-tura do professor é importante para o “despertar” do prazer da leitura. Maravilhoso também o texto da Profa Conceição
Cabri-ni, bem como o relato das crian-ças e professoras. O almanaque tem unidade e coerência, o que mostra o referencial teórico de quem o elaborou.
Beatriz de Castro da Cruz, Curitiba (PR)
Boas e novas idéias
Na E. M. Prof. Guitil Federmann, estamos desenvolvendo um projeto de resgate cul-tural, descendências e saberes dos avós dos nossos alunos, chamado “Novos tempos, eternos saberes”. Continuem com essas propostas de atividades tão criativas e prá-ticas. Adorei o almanaque inteirinho!
Marie Desirré Ribeiro, Ponta Grossa (PR)
Seguindo o exemplo
No segundo número do Na Ponta do Lápis, gostei muito da Página Literária. Fiquei emocionada, pensativa... Até desejando exercer a mesma influência em algum alu-no meu, assim como a professora persona-gem do texto exerceu sobre o escritor.
Julieta de Souza, Divinópolis (MG)
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“O que não escrevi calou-me. O que não fiz partiu-me”
Affonso Romano de Sant’Anna
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+ u– te em inglês + iosenhore
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senhor
em inglês + io
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– a + i – cô
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Carta Enigmática
O POETA ESCREVE PARA BRINCAR, EMOCIONAR, CONVENCER.
Questão de Gênero
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Ofício de poeta
Anna Helena Altenfelder* Não me importo com as rimas. Raras vezes
Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra. Penso e escrevo como as flores têm cor.
Alberto Caeiro
Cada palavra tem sua história...
Poesia, poíesis em grego, significa criação, fabricação, confecção.
Poeta, do grego poietés, significa autor. Era o indivíduo que compunha letra de dramas das epopéias e dos outros cantos sentimentais.
Poema em latim significa composição em verso; companhia de atores, comédia, peça teatral, e do grego poíema “o que se faz, obra, manual; criação do espírito, invenção”. Na Grécia Antiga, os poemas eram sempre declamados em público. Os próprios versos eram
musicais, com ritmos diferentes em cada tipo de poema e apropriados para cada ocasião, intimamente ligados à dor ou à alegria do poeta.
O
ofício do poeta é mostrar ao leitor um olhar próprio, inovador, uma visão diferente das coisas, que surpreende, inspira e desperta emoções naque-les que lêem seus versos. O poeta escreve para brin-car, emocionar, divertir, convencer, fazer pensar o mundo de um jeito novo.Para conseguir encantar seus leitores, transmitir suas idéias, experiências e emoções de forma origi-nal, o poeta usa a linguagem de maneira diferente da que usamos habitualmente. Para conseguir fa-zer isso, utiliza-se de recursos poéticos. Ao compor um poema, pode, por exemplo, explorar a musica-lidade das palavras, criar imagens com elas, brincar com os sons, ou dispor as palavras no papel de for-ma inusitada.
Algumas vezes os poetas jogam com a sonori-dade das palavras, buscando sons similares, riman-do as palavras no final riman-dos versos, ou repetinriman-do sons parecidos ou iguais em várias palavras, fazendo com que elas ecoem ao longo do poema. O interessan-te é que brinca com os sons sem deixar de transmi-tir ao leitor uma idéia, sentimento ou sensação.
Os poetas preocupam-se também com o ritmo, ou seja, com que o poema tenha uma
cadência como um tambor batendo em intervalos regulares, o que faz com que o leitor perceba o texto poético pelo ouvido. É por isso que tão gostoso quanto ler poemas é ouvi-los sendo declamados.
Além de ser percebido pelo ouvido, um poema pode ser identificado pelo olhar, pelo modo como o texto é disposto na folha de papel. Alguns poetas dispõem os versos nas páginas de forma tão especi-al que criam uma imagem concreta, dando ao lei-tor a idéia do que vai ler, antes mesmo de ler as palavras.
Mas poesia não é só aquilo que rima, tem síla-bas contadas, musicalidade, ou um esquema defi-nido de composição. Não é só a forma que impor-ta, mas principalmente a maneira de ver as coisas, como nos revela Alberto Caeiro (heterônimo de Fer-nando Pessoa) no poema que usamos na epígrafe. Um modo diferente do comum, como se o mundo fosse visto pela primeira vez.
O poeta, para exprimir seu olhar próprio e ori-ginal, muitas vezes usa comparações. Pode ir além e transmitir a impressão que algo lhe causou, crian-do imagens. Quancrian-do faz isso, usa o recurso da me-táfora, dando às palavras um sentido mais rico, como se elas quisessem dizer alguma coisa a mais.
Concluindo, não é fácil o ofício de poeta, é preci-so muito trabalho. Para comporem seus poemas, os poetas, mesmo aqueles já consagra-dos, ficam muito tempo arruman-do, organizanarruman-do, mexendo com as palavras, experi-mentando vários jei-tos de deixar o lugar-comum, romper clichês e encantar o leitor com sua maneira própria de ver o mundo.
*Mestre em Educação, autora do fascículo Poetas da Escola do Kit Itaú de Textos.
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A POESIA É A MANEIRA QUE O POETA TEM DE INVENTAR-SE COMO SER HUMANO
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ITERÁRIAO poeta como deseducador
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Ferreira Gullar
É
mais fácil o poeta se per-guntar para que serve a poe-sia do que o leitor. O poeta às vezes se pergunta por que tem que entregar-se a ela e aí é natural indagar se vale a pena uma tal opção de vida. Mas se ele é mesmo poeta, a tal indagação é retórica, porque ele já sabe de antemão a res-posta: pergunta para reafir-mar-lhe a necessidade. De fato, para o poeta, a poesia é a maneira que tem de inven-tar-se como ser humano.A verdade é que todos nós somos uma invenção de nós mesmos. Ninguém nasce pron-to, nem com um destino pre-determinado. É verdade que aquele que se tornar poeta ou pintor ou jogador de futebol já traz consigo, ao nascer, as qua-lidades que lhe possibilitarão tornar-se uma coisa ou outra. Mas é preciso que ele descubra isso e decida dedicar a vida a um tal destino. Portan-to, quando o menino – ou a menina – se des-cobre poeta, terá que entregar-se à poesia, terá que ler os poetas, mergulhar em seu mundo imaginário e, assim, enriquecer o seu conhecimento da poe-sia. É a partir da leitura dos outros poetas – dos bons poetas e especial-mente dos grandes po-etas – que ele vai inven-tar a sua própria poe-sia, porque ninguém parte de zero.
O mesmo acontece com as outras pessoas: para que se inventem, necessitam as-similar o que já foi inventado e, então, transformá-lo. Todos nós, ao nascermos, já encon-tramos a sociedade criada pe-las gerações anteriores, com seus valores e normas – um mundo mais cultural que na-tural, que é o habitat huma-no. Somos mais seres cultu-rais que natucultu-rais. E é dentro deste universo cultural que vamos nos inventar como in-divíduos e entes sociais. Por isso mesmo, deve-se concluir que é nos demais integrantes da sociedade que encontra-mos o sentido de nossa exis-tência. O homem é um ser para o outro. Tanto mais um poeta que, se escreve antes de mais nada para
expressar-se, sabe que o ato de escre-ver só se completa na leitura, quando o outro lê o que ele escreveu.
Esse leitor tanto pode ser um adulto como uma crian-ça, e o resultado da leitura, feita por um ou por outro, de-pende de muitos fatores. Mas, no fundamental, é a capaci-dade encantatória da poesia que conta, uma vez que o poeta visa sobretudo tornar mais rica a vida, mais presen-te o mistério e o encanto da existência. Neste sentido, po-der-se-ia dizer que o poeta é um deseducador, se se enten-de que educar é transferir para o aluno o conhecimento já as-similado pela sociedade. O poeta, ao contrário do educa-dor, questiona o estabelecido, põe à mostra o inusitado, o novo, e assim reinven-ta o real.
Nisto, contraditoria-mente, o poeta se aproxima da criança, que vê o mundo com olhos virgens e que, por quase nada saber, está aberta ao misté-rio das coisas. Para a criança – como para o poeta –, viver é uma incessante descoberta da vida. Esta identifica-ção entre o poeta e a criança constitui um paradoxo da existên-cia, que se alimenta tanto do conhecimen-to estabelecido quan-to de seu questiona-mento.
PARA O POETA, VIVER É UMA INCESSANTE DESCOBERTA DA VIDA.
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Poemas de Ferreira Gullar
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Ferreira Gullar é poeta e recebeu vários prêmios como Machado de Assis, maior homenagem da Academia Brasileira de Letras, Jabuti, Molière e Príncipe Claus.
Traduzir-se
Uma parte de mim é todo mundo:
outra parte é ninguém: fundo sem fundo. Uma parte de mim é multidão:
outra parte estranheza e solidão.
Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira.
Uma parte de mim almoça e janta: outra parte se espanta. Uma parte de mim é permanente: outra parte
se sabe de repente. Uma parte de mim é só vertigem: outra parte, linguagem. Traduzir uma parte na outra parte
– que é uma questão de vida ou morte – será arte?
Gullar e sua imagem em miniatura
“A POESIA ESTÁ NA JANELA”
O maranhense Ferreira Gullar é freqüentemente
instigado a falar de poesia e do poeta. Selecionamos
trechos de entrevistas e declarações concedidas por
ele nos últimos anos, com sua visão sobre o ofício.
“O homem não faz poesia para sair da vida, ele faz poesia para ter coragem de viver.”
“(...) a poesia está na janela, na paisagem, na música, em qualquer coisa. Poesia é um sentimento, uma emoção.
Conhece-se poesia através da música, do teatro, da pintura, do cinema. Em tudo isso há poesia. Agora, o gênero literário chamado poesia, que existe no poema,
somente se expressa através do poema.”
“O poema é escrito por ser necessário. O nascimento de um poema será sempre um acontecimento inusitado. Será sempre uma espécie de
explosão que salta da boca. A poesia sempre estará presente na vida das pessoas. Porque as pessoas sentem
necessidade de valorizar a própria vida.”
“O poeta vive a ‘dialética do prosaico com o poético’, explicando que o poema é o lugar onde a prosa vira poesia, porque a prosa é o nosso falar, o falar de todos
nós, da boca de todos.”
“O poeta é alguém que está sempre em busca de algo que não sabe o que é, porque, para ele, ‘o poema é a
invenção de alguma coisa que ainda não existe’. Nisso, ‘não há fatalidade alguma, mas uma aventura’, explica o poeta, para quem ‘escrever poesia é inventar poesia, sempre’, como a vida que, segundo ele, também
VALORIZAÇÃO DO TRABALHO DO EDUCADOR E TAMBÉM DO ALUNO.
Participantes do
Programa
Escrevendo o Futuro
em
Minas e Pernambuco
ficaram agradavelmente
surpresos com as análises
feitas por especialistas
da UFMG e UFPE
sobre os textos elaborados
por seus alunos.
Luiz Henrique Gurgel
ESPECIAL
Equipe da professsora Maria da Graça da Costa Val reunida para análise dos textos de Minas.
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Há 15 anos no magistério, trabalhando
com crianças do ensino fundamental, Maria Tadéia Rafael Batista, professora na cidade de Tabira (PE), ficou surpresa quando recebeu carta do Programa Escrevendo o Futuro com a avalia-ção do texto escrito por seu aluno José Antônio Melo de Gois, de 12 anos.Além de comentários, a carta continha su-gestões de atividades e encaminhamentos ao trabalho que ela desenvolve com os alunos. “Já participei de muitos concursos, mas nunca tive retorno nenhum, foi a primeira vez”, disse Maria. A surpresa da professora tem se repeti-do em várias cidades de Minas Gerais e Per-nambuco. Um projeto piloto criado pelo Pro-grama Escrevendo o Futuro, com especialistas das Universidades Federais de Minas Gerais e de Pernambuco, está possibilitando a quase 1.300 professores dos dois estados receberem avaliações pessoais sobre o trabalho com tex-tos desenvolvidos com seus alunos.
Poucas vezes especialistas e pesquisadores da área de Educação puderam estabelecer um intercâmbio tão direto com professores do en-sino básico na área de leitura e escrita.
Estratégia inédita
Em Minas o trabalho é coordenado pela pro-fessora doutora Maria da Graça da Costa Val, do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale) da UFMG. Em Pernambuco, pela pro-fessora doutora Elizabeth Marcuschi, coorde-nadora do Núcleo de Avaliação e Pesquisa Edu-cacional da UFPE. As equipes das duas pesqui-sadoras receberam textos dos alunos semifina-listas de 2004 em seus respectivos estados e fizeram as avaliações.
Segundo Maria da Graça, “a análise dos tex-tos dos alunos é detalhada”. A preocupação é qualitativa, “pensamos no retorno que pode-mos dar ao professor, abordando vários
aspec-tos do texto, algo que pudesse contribuir com a prática dele”. Em Minas Gerais são quase mil professores que receberão a correspondência. Cada membro da equipe de Maria da Graça escreveu 100 cartas. “À medida que esse pro-fessor comenta com o colega o retorno que teve, passa informações e isso multiplica”, ela explica.
Marcuschi chama a atenção para a novida-de do projeto: “É uma estratégia inédita, novida- des-conheço propostas de formação em que se dê um retorno individual ao professor. No caso des-se trabalho, dentro do Escrevendo o Futuro, é um retorno à pessoa do professor”. Ela ressalta a valorização do trabalho do educador e do alu-no também, já que é importante mostrar que o texto do aluno teve leitores. “Na rotina escolar, em geral, fica uma incógnita para o aluno: ‘para quem eu estou escrevendo?’. Nesse retorno, a professora vê que aquele texto teve leitor e, além de darmos indicações de uma prática pe-dagógica, de como superar as dificuldades iden-tificadas no texto do aluno, estabelecemos um diálogo, pois se a escrita não tiver interlocuto-res, não faz sentido.”
E foi isso que chamou a atenção da profes-sora Maria José de Oliveira Camilo, da E. M. Prof. Dalmir Santos Maia, em Ouro Preto (MG).
Atendimento
personalizado
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O retorno ao professor
As cartas enviadas aos professores que participaram do Programa Escrevendo o Futuro contêm comentários citando os próprios textos dos alunos. Veja abaixo trecho da que foi enviada à professora
Maria Tadéia Rafael Batista, de Tabira (PE), com a análise do poema
criado por seu aluno José Antônio.
(...)“O resultado da análise que fizemos do poema
‘Tabira’ revela que José Antônio compreende bem
alguns aspectos do universo poético, em especial
aspectos relativos à forma de apresentação desse
gênero textual, já que atribuiu um título ao poema,
organizou-o em versos, divididos em estrofes, e
utilizou bem o recurso da rima.
Além disso, atendeu à proposta, produzindo o
texto sobre o lugar em que vive.
Outro aspecto positivo da produção textual de
José Antônio é o uso apropriado da comparação,
que o jovem poeta conseguiu associar ao recurso da
rima.
Um bom exemplo está na primeira estrofe:
Tabira minha cidade
Que eu amo de coração
Moro aqui desde novinho
Mas hoje sou grandão
Todo ano eu cresço um pouco
Tabira cresce de montão
(...) A última estrofe de um poema deve indicar
que mais nada se tem a dizer sobre o assunto
abordado. Para isso, é importante que não se
acrescentem idéias inteiramente novas na conclusão.
Observe a última estrofe do poema de José
Antônio. As informações inteiramente novas
criam um expectativa de que ‘falta alguma coisa’
para o encerramento do texto:
Tem igreja matriz
Tem escola em todo lado
Tem clínica, tem hospital
Tem um comércio equipado
Tem grande feira de fruta
A maior feira de gado
Você pode sugerir a seu aluno que ele retome os
dois primeiros versos da primeira estrofe e crie mais
um ou dois versos, reforçando a declaração de
amor pela cidade em que vive. Assim, ele aproveita
e amplia o poema, que tem apenas três estrofes.”(...)
“É uma estratégia inédita,
desconheço propostas de
formação em que se dê um
retorno individual ao professor.”
Professora Elizabeth Marcuschi
LOGO QUE RECEBI A CARTA, FUI CONVERSAR COM OUTRA PROFESSORA PARA PLANEJAR O PRÓXIMO ANO.
Segundo ela, “é gratificante para o aluno saber que o trabalho dele foi visto”. Já Leci Maria de Souza, professora na Escola Imaculada Concei-ção, em Arcoverde (PE), afirma que esse tipo de comunicação desfaz a sensação de isolamen-to: “A gente trabalha no coletivo e logo que re-cebi a carta fui conversar com outra professora para planejar o próximo ano”. Lucia Maria Mar-tins, professora em Recife (PE), diz que ficou “orgulhosa com a carta e o reconhecimento, já que eu tive pouco tempo para trabalhar”.
Fonte de pesquisa
As pesquisadoras também destacam o fato de os textos dos alunos serem uma importan-te fonimportan-te de pesquisa para quem lida com o ensino da escrita e a formação de professores. “É uma fonte de dados fantástica. Os textos dos alunos nos ajudam a entender quais são e como são trabalhados os gêneros, quais são as difi-culdades. Por eles você chega à prática do pro-fessor”, afirma Marcuschi. A equipe do Ceale, em Minas, já estuda possibilidades de pesquisa proporcionadas pelos textos dos estudantes. “Essa discussão sobre gêneros discursivos é uma discussão acadêmica muito atual e que não acontece só no Brasil”, explicou Maria da Graça. Ela também destaca a importância disso para a formação: “A idéia é sempre valorizar o profes-sor, dizer o quanto é importante ele participar, pois esse programa ultra-passa a dimensão de um concurso, para intervir na formação do professor. Foi isso que me fez abraçá-lo”.
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UTUROMãos à obra!
Você costuma ler poemas para sua turma?
Seus alunos gostam de poesia? S
abem
algum poema de memória?
O que fazer para enriquecer o repertório
poético das crianças?
Sabemos que o poema quando nasce vem
carregado por todos os poemas lidos, ouvidos,
recitados.
Por isso, convidamos você a ler as sugestões
de oficinas e os textos indicados no fascículo
Poetas da Escola, do Kit Itaú Criação de
Texto – 2004, que pode contribuir no seu
trabalho.
Deixe os poemas invadirem sua sala de aula!
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades.”
Luís de Camões
OLHANDO EM VOLTA, AS CRIANÇAS DESCOBRIRAM QUE TUDO PODE SER MOTIVO DE POESIA.
10
Crianças contam e
Mapa na mão olho no mapa mão no olho
vamos tentar encontrar a cidade
(Nicolas Behr, Veia Poética)
O
lhando em volta, as crian-ças descobriram que tudo pode ser motivo de poesia: a história da cidade, a instabilidade do cli-ma, a vegetação, o sabor das fru-tas, as peculiaridades da paisa-gem do lugar onde vivem.Lendo, recitando e conviven-do com textos poéticos, os alu-nos aprenderam a brincar com as palavras e com o ritmo; expe-rimentar arranjos com rima e sem rima; reinventar versos, combinar a melodia das palavras sem per-der de vista a construção do sen-tido em seus poemas. A inspira-ção e o exemplo vieram de uma quadrinha conhecida, do poema de um autor famoso, de uma le-tra de moda de viola ou de um
rap. E, assim, deram conta de re-tratar de forma poética cada can-to do Brasil.
Retrato de dama em preto e branco
“A minha cidade é linda Um grande cartão-postal Alegria pra quem chega No portal do pantanal O forte aqui é o gado Orgulho pras regiões Abastece o Brasil inteiro E também outras nações.” Tiago Osvane Nascimento Santana, 10 anos – Três Lagoas – MS
Chão de terra, berço meu
“Açaí, charque, feijão Menino de pé no chão Mãe gritando no portão:
Moleque, sossega e pára, tome seu banho já Pra igreja é hora de ir O culto já vai começar
Antes da chuva das quatro cair.”
Aritha do Socorro Souza, 12 anos – Benevides – PA
Manaus cabocla
“Cupuaçu, buriti e açaí Não são frutas conhecidas Mas delas se faz bebidas Que marcam quem vem aqui Amo nossas frutas
Com elas também se faz licor Algumas parecem feias, Outras têm forte sabor.”
DERAM CONTA DE RETRATAR DE FORMA POÉTICA CADA CANTO DO BRASIL.
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cantam o Brasil em versos
Vida rurbana
“O clima é variado, às vezes amanhece quente, outras vezes está nublado. Sem falar na geada constante, é um frio cortante.
Quando chove muito, a preocupação não tem fim. Pois acontecem enchentes, algo muito ruim.”
Ewerton Luiz Silva dos Reis, 10 anos – Campina Grande do Sul – PR
Princesa da serra
“Minha cidade é tão bela A princesa da serra
Onde o vento canta nos campos Beijando a Terra
Em 1766 Lajes era povoado Bugres, Bandeirantes e Tropeiros Chegaram aqui primeiro Ficaram pela terra encantados.” Scheila D. A. Ramos, 11 anos – Lages – SC
Entre lagoas e florestas
“Linhares, minha cidade Paraíso sem igual. Tem a lagoa Juparanã Verdadeiro cartão-postal Tem ainda maravilhosas Reservas florestais.
Vale do rio doce, goitacazes, Verdadeiros paraísos de plantas e animais.” Lucas Augusto Buzato, 10 anos – Linhares – ES
Meu lugar para além das palmeiras
“Minha terra tem traíra E também a curimatã Tem pé de laranjeira E também a jaçanã Minha terra tem jurema E também a faveleira Tem o pé de xique-xique E também a catingueira.” Railton Xavier de França, 13 anos – Jucurutu – RN
Que lugar é esse?
“O clima é semi-árido E demora de chover. Quando a seca é retada, É coisa de entristecer. No polígono da seca, Muitos bichos vão morrer.” Bruna Moura Oliveira, 10 anos – Teofilândia – BA
Canto aos meus lugares
“Em Minas Gerais, meu estado, Cidades históricas é o que há, como São João Del Rey, Ouro Preto e também Sabará. Da culinária mineira
Quando chega a hora
da leitura, revisão e reescrita d
o poema, a atuação do
professor é fundame
ntal. Por isso, oriente
sua turma a verificar
se:
o título do poema é p
ertinente, original, sug
estivo, instigante para o leitor;
o tamanho do verso es
tá adequado ou comp
romete o ritmo da estrofe;
as sensações, emoçõ
es e sentimentos sobr
e o lugar onde vive es
tão expressos
nos versos e estrofes ;
há necessidade de a
crescentar palavras, suprimir o
utras, para garantir a
regularidade do ritmo
, a unidade melódica e
a qualidade do verso ;
na exploração do tem
a proposto, “ O lugar onde vivo
”, percebe-se que
ressaltam um aspecto interessa
nte do lugar, uma pais
agem bonita, um jeito de
ser do povo, um acont
ecimento curioso...;
há no poema caracterí
sticas, marcas peculiares, que
revelam a identidade do
lugar onde o aluno mo ra;
o poema contém recur
sos como: quadra, aliteração, c
omparação, lirismo.
12
No título o autor expressa seu desejo:
a reivindicação por igualdade.
Com quantos textos
Acompanhe passo a passo
O autor não revela em seus textos as peculiaridades do lugar onde vive, mas
tem muito a dizer sobre a história dos migrantes, que não conseguem criar
raízes. A idéia da produção
inicial se mantém, assim como a voz do autor, que se identifica
já na primeira estrofe.
Da primeira produção até chegar ao texto final, há muito o que fazer. Como o professor pode ajudar seu aluno a voltar ao texto, dialogar com ele e encontrar novas possibilidades para melhorar
aspectos de sua produção? Nesse momento, são muitos os questionamentos:
EU QUERIA SER IGUAL
Sou um menino inquieto e preocupado, sou pequeno e sinto falta do meu pai, do lado. Ganhei o nome de Lalau Eu gosto desse nome, acho que é legal Parece nome de homem. Imagino que Lalau
É porque não paro, eu e minha mãe vivendo de bolacha de sal. Lalau não é nome tão feio, mas morar ali e logo lá e assim que o nome veio não pude fazer nada é coisa do destino eu creio. Queria ser normal Morar num bairro igual ao que todo mundo mora. Colocar roupa no varal. Quando me perguntam do lugar onde vivo fico enrolado e indeciso. Queria tanto mostrar o crescimento, as lembranças eu não vejo lembranças pois estou esperando, o dia que eu não vou
mais precisar de estar mudando. Eu vivo neste lugar,
que é meu Paraná e sei que outros vão me esperar. Será que é sina? não acho que seja hoje moro em Apucarana e amanhã posso mudar para Sertaneja. Eu quero um cantinho para que a minha família iremos juntos ficar por muitos anos ali fixar esquecendo a palavra “mudar”.
CONHEÇO MUITOS LUGARES E SEI QUE OUTROS ESTÃO A ME ESPERAR. O tema “O lugar onde vivo”
mobiliza o aluno a escrever. Em prosa, ele retrata as agruras de sua vida itinerante.
O LUGAR ONDE VIVO
Hoje eu moro ali na Rua Rio Negro, na Vila Regina. Moro lá há quase três meses. É muito tempo para quem vive mudando!
Isso porque eu e minha família não paramos muito tempo em nenhum lugar. Já perdi a conta das vezes que mudei.
Na minha casa, eu moro com minha família, e a principal estrela é a mi-nha mãezimi-nha: não tenho pai. E é ela quem sustenta a casa.
São menos de duzentos reais para pagar todas as despesas.
Se a minha estrela lá de casa não bri-lhar, eu e meus irmãos passamos fome.
Apesar das dificuldades, agradeço a Deus pela minha estrela. Amo muito meus irmãos e espero ter boa chan-ce na vida.
De Olho
na Prática
13
Para além dessas versões há muito empenho e dedicaçãopor parte de professor e aluno. Foram muitas leituras, planejamentos, produções, intervenções, revisões, acertos, decisões, até chegar à última escrita. Trabalho pronto, convidamos você a ler e se emocionar com o expressivo poema “Igual a todo mundo”.
O título mais incisivo instiga o leitor
para a leitura.
IGUAL A TODO MUNDO
Sou um menino inquieto e preocupado já desde pequeno, sei o que é sentir falta de um pai do meu lado. Ganhei o apelido de Lalau até gosto desse nome. acho que é muito legal, parece mesmo nome de homem. Imagino que Lalau
é porque não tenho paradeiro, eu e minha pobre mãezinha, igual a muitos brasileiros, vivendo de bolacha, água e sal. Lalau não é nome tão feio, Mas morar ali e logo lá, Ali, lá, ali, lá, lá, lá... É assim que este nome veio. Nunca pude fazer nada, É coisa do destino, eu creio. Queria ser normal. Morar num bairro igual Ao que todo mundo mora. Estender roupa no varal. Quando me perguntam do lugar onde vivo, fico todo enrolado muitas vezes indeciso. Queria tanto retratar o crescimento, as mudanças. Não consigo ter lembranças, Pois vivo a esperar
O dia em que não vou Mais precisar mudar. O lugar onde vivo É esse Paraná. Conheço muitos lugares E sei que outros Estão a me esperar. Será que isso é sina? Não acredito que seja. Hoje estou em Apucarana, mas e amanhã?
Posso estar em Sertaneja! Eu queria um cantinho onde eu e minha família poderíamos juntos morar. Por muitos e muitos anos ali ficar, esquecendo para sempre A palavra “mudar”.
se faz um texto de qualidade?
a construção do poema “Igual a todo mundo”
IGUAL A TODO MUNDO
Sou um menino Inquieto e preocupado. Já desde pequeno, Sei o que é sentir falta De um pai do meu lado. Ganhei o apelido de Lalau Até que gosto desse nome. Acho que é muito legal, é mesmo nome de homem. Imagino que Lalau
é porque não tenho paradeiro, eu e minha pobre mãezinha, igual a muitos brasileiros, vivendo de bolacha água e sal. Lalau não é um nome tão feio. Mas morar ali e logo lá, ali, lá, ali, lá, lá...
É assim que esse nome veio. Nunca pude fazer nada, é coisa do destino, eu creio. Queria tanto ser normal, morar num bairro igual ao que todo mundo mora. Estender roupa no varal. Quando me perguntam do lugar onde vivo, fico todo enrolado, muitas vezes, indeciso. Queria tanto retratar o crescimento, as mudanças. Não consigo ter lembranças, pois vivo a esperar
o dia em que não vou mais precisar mudar. O lugar onde eu vivo é esse Paraná. Conheço muitos lugares e sei que outros estão a me esperar. Será que isso é sina? Não acredito que seja. Hoje estou em Apucarana. Mas e amanhã?
Posso estar em Sertaneja! Eu queria um cantinho onde eu e minha família pudéssemos juntos morar. Por muitos e muitos anos deixando para trás a tristeza de “mudar”.
Aluno: Fernando Henrique de Lima, 12 anos, 4a série, Apucarana – PR
o que é preciso acrescentar, retirar, reorganizar e reescrever?Para ajudá-lo a encontrar boas saídas no trabalho de aprimoramento dos textos, selecionamos algumas das muitas escritas do aluno Fernando Henrique de Lima, finalista em 2004, para leitura e análise.
Com a substituição de algumas palavras o poema ganha mais ritmo e fortalece o sentido do texto.
O uso apropriado do recurso da rima sensibiliza o leitor pelo
lamento velado, que perpassa a musicalidade
dos versos.
O ajuste da pontuação imprime maior expressividade ao
poema.
AS CRIANÇAS APRENDEM A DAR MUSICALIDADE AO TEXTO.
14
R
EPORTAGEMP
oesia foi o gênero de texto com o maior número de inscrições no Programa Escrevendo o Futuro em 2004. Foram 3.773 poemas, escritos por estudantes de quarta e quinta séries em es-colas públicas do Brasil. Os próprios alunos, com a orientação dos professores participantes, es-colhiam o gênero a ser trabalhado.As oficinas realizadas renderam frutos, am-pliaram os horizontes, os leitores e os ouvintes dos pequenos autores. Escolas organizaram sa-raus e editaram coletâneas com os poemas dos alunos; um poema virou rap, chamando a aten-ção de um DJ famoso; houve aluna que gostou tanto da experiência de escrever que, participan-do de outro concurso, foi premiada e vai conhe-cer a Dinamarca.
Da poesia ao conto, de
Minas à Dinamarca
Em Belo Horizonte, Bruna Dias do Carmo Costa, de 11 anos, es-tuda numa escola com nome de poeta: Viní-cius de Morais. Foi lá que começou sua par-ticipação no Programa Escrevendo o Futuro. Orientada por sua pro-fessora Juliana Bitten-court Andrade, a garo-ta trabalhou com o gê-nero poesia dentro das oficinas de criação de texto e escreveu “Can-to aos meus lugares”, poema em que fala das cidades e dos horizontes das Minas Gerais. Foi semifinalista do estado.
Bruna conta que aprendeu a trabalhar com mais liberdade e “a colocar as coisas de uma for-ma poética”. O aprendizado a entusiasmou e ela continua a escrever: “Escrevo histórias e poemas para mim mesma”. E foi assim que Bruna ganhou,
Poesia esparramada
Com experiências e resultados surpreendentes, poemas escritos por alunos
para o
Programa Escrevendo o Futuro
extrapolaram os muros da escola.
Levaram crianças a outros lugares e foram ouvidos e lidos pela comunidade em
saraus, livros e rádios comunitárias.
Luiz Henrique Gurgel
em agosto deste ano, o concurso UPF-Hans Chris-tian Andersen, promovido pela Universidade de Passo Fundo (RS) e pela Embaixada da Dinamar-ca. Ela escreveu o conto A bailarina encantada, baseando-se em A pequena sereia e A pequena vendedora de fósforos, histórias infantis do céle-bre escritor dinamarquês. Como prêmio, Bruna e sua professora Juliana viajam na primeira se-mana de outubro para a Dinamarca, onde irão conhecer as cidades de Copenhague, capital do país, e Odense, cidade natal de Andersen.
Para a professora Juliana, que também faz uso da poesia em outras disciplinas, “as oficinas do programa ajudaram demais, as crianças apren-dem a dar musicalidade ao texto sem precisar estar rimando sempre”. Este ano, lecionando His-tória e falando da escravidão para alunos da quin-ta série, trabalhou com o livro A cor da pele, do poeta mineiro Adão Ventura. Juliana também uti-liza poemas de Elias José, Sérgio Caparelli e Ana Maria Machado.
Ritmo e poesia
Também inspirado no lugar onde vive, o cari-oca Bruno Márcio Moura, de 11 anos, escreveu o poema “Paz no meu lugar”. A realidade nem sempre agradável dos bairros pobres do Rio de Janeiro e a esperança de
novos e bons tempos para a cidade foram te-mas de Bruno. Depois que a sua classe resol-veu participar do pro-grama no gênero poe-sia, Bruno levou livros para casa e começou a ler, escrever e bus-car rimas. “Fiz um ca-derno só de rimas”, conta. O garoto foi se-mifinalista e partici-pou, com outros es-tudantes, de oficinas realizadas num hotel do Rio de Janeiro.
Bruna Dias do Carmo Costa, semifinalista em 2004
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Bruno Márcio Moura, semifinalista em 2004
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PORTAS ABERTAS PARA A POESIA.
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delas foi valorizado”, explica Emília, que aprecia a poesia de José Paulo Paes e de Almir Cor-reia. Ela também destaca os fru-tos do trabalho: “Agora, os alu-nos ficam me pedindo mais po-esias para eu levar para eles”.Aprendendo
junto
Na cidade de Caicó (RN), a professora Maria da Conceição Saraiva de Andrade lançou mão de uma idéia original para trabalhar a poesia com seus alunos. Além de realizar as oficinas propos-tas pelo programa, em toda festividade da escola ela organizou saraus, convidando poetas da ci-dade e contadores de histórias. Nos encontros com as crianças, os autores eram entrevistados, falavam e liam seus poemas, contavam histórias. O projeto de Conceição foi adiante e a direção da escola resolveu lançar o livreto “Portas aber-tas para a poesia” com os poemas dos alunos e ilustrado por eles mesmos. “Fizemos um sarau à noite com os pais, direção, supervisão, onde os alunos foram apresentados e declamaram seus poemas”, conta a professora.
Conceição explica que aprendeu ainda mais com o trabalho: “As oficinas requerem muita lei-tura, planejamento, debate e pesquisa, mas com-pensam, porque aprendem juntos, educador e educando”.
Crianças de Caicó (RN) lêem seus poemas.
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Alunos de diversos cantos do país publicam suas poesias.
Foi lá que descobriu o ritmo que havia em seu poema. “Surgiu do nada, sem eu esperar. Com dois colegas que eu conheci na oficina, comecei a cantar o poema. Nem imaginava que podia virar letra de rap”, explica. Na premiação regio-nal, Bruno cantou seu rap acompanhado pelo grupo Meninas do Conto – “todo mundo can-tou, foi mágico”.
Jorge dos Santos, pai de Bruno, entusiasma-do com a criação, levou o garoto para gravar um CD “caseiro” e divulgar o rap em rádios comuni-tárias dos bairros do Realengo e de Bangu. “Vá-rios DJs e MCs começaram a convidar o Bruno para cantar em festas e encontros na rua”, conta Jorge. Mas foi o grupo Malha Funk que resolveu ir além. Convidaram Bruno para editar e gravar sua música no Lynk Estúdio, do DJ Marlboro. Ago-ra, enquanto aguarda a produção do CD, Bruno continua a escrever: “Estou
fazen-do mais músicas e a experiência está sendo muito legal”.
Livros e saraus
1a oficina
RECONHECENDO POESIA
“Vocês conhecem poesia? Gost
am de poesia?”
Dividi os alunos em equipes e pe di que
escrevessem poemas para afixar
no mural.
Depois propus que cada um escr
evesse um
poema com o tema “O lugar onde vivo”.
Expliquei que as produções seriam guardadas para as compararmos com os textos finais. Não foi fácil: apareceram narraçõe
s,
trava-línguas e quadras que sabiam de
memória;
outros fugiram do tema.
Professora cearense conta a experiência de como sensibilizou seus alunos com
versos. Registrou o trabalho etapa por etapa, revelando as dificuldades, os acertos
e o desempenho da turma, revendo e refletindo sobre a prática em sala de aula.
Lúcia Maria S. Ribeiro*
TIRANDO DE LETRA
2a oficina
SABENDO MAIS SOBRE POESIA
Provoquei conversa sobre poemas. Os alunos disseram que um texto poético é mais bonito e desperta mais emoção que notícia de jornal, receita ou conto. Também observaram a estrutura e o jogo de palavras presentes nos poemas. Registrei as idéias em uma folha e deixei exposta na sala. Os alunos começaram a identificar as peculiaridades dos poemas.
7a oficina
POESIA POPULAR
“Vocês conhecem poesia popular, de cordel?” Como poucos conheciam, solicitei que fizessem uma pesquisa sobre esse estilo. Descobriram que a poesia de cordel é comum no Nordeste. Declamei um trecho do poema Emigração e as conseqüências de
Patativa do Assaré e falei sobre o escritor.
8a oficina
IDENTIFICANDO EMOÇÕES E SENTIMENTOS
Recitei o poema com emoção, pois queria envolver os alunos. “O que vocês sentiram ao ouvir o poema?” Solicitei que representassem seus sentimentos em uma folha. Deixei-os à vontade; saíram trabalhos belíssimos. Criamos versos e pus na lousa, esclarecendo o que era um poema lírico.
9a oficina
VENDO O MUNDO DE UM MODO POÉTICO
Iniciei a aula lendo o poema
O leão, de Vinícius de Morais.
“Por que o poeta compara o rugido do leão a um trovão?” Responderam que o rugido do leão é tão sonoro quanto um trovão. Fizoutras perguntas e em seguida pedi que procuras-sem no mural poemas que apresentassem metáforas. Encerrei lendo o poema Milagre no Corcovado, de Ângela Leite
de Sousa.
11a oficina
TECENDO POEMAS
Para o texto final, retomamos o trabalho das oficinas e os poemas publicados no mural. Conversamos muito sobre o tema “o lugar onde vivo” e sobre as peculiaridades de nossa cidade. Lembrei que eles deveriam tomar algumas decisões ao escreverem o poema: título sugestivo, organização dos versos e estrofes, rimas, repetições de palavras, ritmo da linguagem, metáforas etc.
Oficinas de poesia
Milagre no Corcovado
(...) Para a cidade
De ponta a ponta maravilhosa A gente sente um arrepio: O milagre é o próprio Rio!
Cidadezinha Mário Quintana Cidadezinha cheia de graça...
Tão pequenina que até causa dó!
Patativa do Assaré (1909-2002) Um dos maiores poetas populares do Brasil, retratista da caatinga nordestina cuja obra foi registrada em folhetos de cordel.
10a oficina
DIFERENTES OLHARES SOBRE O MESMO TEMA
Pedi aos alunos que falassem sobre sua infância. Dividi a turma em grupos e dei os poemas Doze anos, Infância e Colégio para
leitura. Conversamos sobre o tema e os grupos dramatizaram os poemas. Transcrevi os textos, fizemos uma análise dos recursos poéticos presentes e identificamos as comparações existentes em cada um deles. Em seguida disse: “Pensem em coisas que gostam e coisas que não gostam do lugar onde vivem. Façam comparações e registrem no caderno”.
TIRANDO DE LETRA
16
3a oficina
CATADORES DE POEMAS
Li O catador de pensamentos (Mônica Feth), com uma entonação caprichada para despertar a emoção dos alunos. Aproveitando o entusiasmo, propus: “Vamos ser catadores de poemas?”. Todos ajudaram: familiares, moradores e poetas da nossa cidade.
4a oficina
OUVINDO E LENDO POESIA
Essa oficina foi espetacular, afinal os alunos gostam de uma aula diferente: organizei um sarau com os poemas colhidos pela turma e outros que selecionei. Fizemos um varal poético. Os alunos escolheram poemas no varal e leram para os colegas. Coloquei música instrumental para tornar o ambiente mais aconchegante.
5a oficina
BRINCANDO COM EMOÇÕES E PALAVRAS
Iniciei a oficina com a pergunta: “O que é uma coisinha à-toa que deixa vocês felizes?”. Afixei as respostas no mural. Em seguida li o texto: Duas dúzias de coisinhas à-toa que deixam a gente feliz
(Otávio Roth). Conversamos sobre as idéias do autor e as rimas que criou. Desafiei a turma: vamos escrever o nosso “Duas dúzias de coisinhas-à-toa que deixam a gente feliz”?
6a oficina
BRINCANDO COM RIMAS, REPETIÇÕES E ALITERAÇÕES
“Vocês sabem o que é acróstico?” A maioria disse
que não. Fiz um acróstico com meu nome para explicar. Depois pedi que cada aluno fizesse um com o próprio nome. Também ensinei o que é aliteração, usando uma estrofe do poema Bolha de Cecília Meireles.
(...) Pensamentos de todos os tipos: alegres, tristes, inteligentes, bobos, bonitos (...)
“Passarinho na janela, pijama de flanela, brigadeiro na panela.”
(Otávio Roth) Acróstico: poesia em que
as letras de cada verso formam, em sentido vertica
l,
um ou mais nomes ou um conceito, máxima etc.
12a oficina
TOQUE FINAL
Fim do trabalho; hora de rever os textos e fazer a autocorreção. Coloquei no quadro itens que auxiliariam na revisão. Foram feitas modificações. Pedi que passassem o texto a limpo. Escolhemos três finalistas e os enviamos para a comissão escolher o melhor. Foi um trabalho árduo, mas alcançamos o objetivo proposto.
* Professora na EEIEF Vereador Raimundo Nonato de Sena, Quixeré – CE.
RECITEI O POEMA COM EMOÇÃO, POIS QUERIA ENVOLVER OS ALUNOS.
Quixeré, que faço agora?
Quixeré, que faço agora?
Tu és tão pequenina
Como te defenderei
Dessa gente, ó menina?
Todos querem se apossar
De tua serra que é linda.
A chapada do Apodi
Entre todas a mais bela
Terra rica e frutífera
Todos olham para ela
Suspirando e desejando
Ah! Se eu fosse o dono dela!
Muita gente de fora
Aqui já se instalou
E com suas grandes firmas
O povo escravizou
Hoje quem era patrão
chamam-no de senhor.
Sei que muitos benefícios
Essas firmas nos trouxeram
Mas a exploração
É demais e sou sincero
Prefiro ver Quixeré
Virar um cemitério.
Não é com egoísmo
Que falo desses abusos
É porque a escravidão
Já passou, e é absurdo
Ver meu povo escravizado
Como se fosse surdo-mudo
Antes, nossa cidadezinha
Era uma tribo bem singela
Mas os índios que a habitavam
Tinham carinho por ela
Lutavam com entusiasmo
Ninguém se apossava dela
Hoje o nosso povo
Não a defende com ardor
É triste ver o estrangeiro
Ser chamado de senhor
E também ver nossas riquezas
Serem levadas sem pudor.
Quixeré, que faço agora?
O meu grito eu já dei
Porém ele é bem pequeno
E na verdade eu não sei
Se ele vai ecoar
Ou vai se calar de vez.
Maria Eliane Mercês da Silva,12 anos – 5a série
semifinalista, em 2004
No fio da meada
O VENTO VARRE A CAMPINA
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A seca do Ceará
Leandro Gomes BarrosSeca as terras as folhas caem, Morre o gado sai o povo, O vento varre a campina, Rebenta a seca de novo; Cinco, seis mil emigrantes Flagelados retirantes Vagam mendigando o pão Acabam-se os animais Ficando limpo os currais Onde houve a criação
O cordel teve influência dos povos espanhóis, franceses e principal-mente, os portugueses que se fixaram na região nordeste na época da colonização. Na Espa-nha, França e em Portu-gal o cordel é escrito em prosa, no Brasil a carac-terística marcante é do cordel em verso, no esti-lo dos repentistas. Em cada folheto, o poeta popular, numa rica varia-ção de versos, conta fa-tos do cotidiano, grace-jos, desafios, romance, história de encantamen-to, de valentia e de per-sonalidades importantes da cultura popular.
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O que Vem por Aí
O Escrevendo o Futuro, em parceria com o canal Futura, produziu o programa Mão e Giz - uma série de animação sobre o ensino de leitura e escrita por meio de gêneros textuais. São três episódios que abordam o trabalho com Texto de Opinião, Memórias, Poema. As escolas inscritas no Prêmio em 2006 receberão o vídeo pelo correio. Fiquem atentos!
Prêmio Escrevendo o Futuro
No dia 13 de março aconteceu, em São Paulo, o lançamento nacio-nal da 3a edição do Prêmio Escrevendo o Futuro. Confira abaixo, as
datas dos lançamentos nos pólos regionais. Belém: 17 de março Belo Horizonte: 21 de março
Fortaleza: 24 de março Goiânia: 31 de março Rio de Janeiro: 3 de abril
Curitiba: 6 de abril
Inscrições à vista
Professor, participe do Prêmio! As inscrições podem ser fei-tas pela internet através do site da Fundação Itaú Social (www.fundacaoitausocial.org.br), do Cenpec (www.cenpec.org.br) ou do Programa Escrevendo o Futuro (www.escrevendoofuturo.org.br). As fichas de inscrição também estão disponíveis em todas as agên-cias do Banco Itaú. Estamos enviando junto com este número do Na
ponta do lápis, uma ficha para facilitar a inscrição de nossos leitores.
Pra valer
A comunidade na internet do Escrevendo o Futuro www.escrevendoofuturo.org.br está no ar desde setembro e é ponto de encontro de professores. Além de notícias relativas ao programa, entrevistas, informações sobre cursos e eventos,e dicas de links interessantes,a comunidade possibilita que professores de todo o Brasil possam conversar, trocar idéias e experiências em tempo real. Basta acessar a página e se cadastrar.