Biblioteca Setorial CCS-0
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ESTOMATOLOGIA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ODONTOPEDIATRIA
DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA ESTOMATOGNATICO
NA
PRIMEIRA INFÂNCIA
MARTA GHISLENI CORÓ
MONOGRAFIA APRESENTADA AO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ODONTOPEDIATRIA DO DEPARTAMENTO DE ESTOMATOLOGIA DA UFSC PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE ESPECIALISTA EM ODONTOPEDIATRIA.
ORIENTADOR: PROF'. DRA. IZABEL
CRISTINA SANTOS ALMEIDA
- Aos professores da Discliplina de Odontopediatria, em especial A. professora
Izabel Cristina Santos Almeida, pela paciência e sabedoria com que orientou a realização deste
trabalho;
- Aos colegas, pelos momentos de estudo e alegria compartilhados;
se sabe trabalhar e amar: trabalhar pelo que se ama e
amar aquilo em que se trabalha."
RESUMO
ABSTRACT
1 INTRODUÇÃO 08
2 REVISÃO DA LITERATURA 11
2.1 Formação
e
desenvolvimento do sistema estomatognatico 112.1.1 Músculos e articulação temporomandibular 1 2
2.1.2 Crescimento e desenvolvimento dos maxilares 14
2.1.3 Relação maxilo-mandibular 17
2.1.4 Cavidade bucal 19
2.1.5 Desenvolvimento dentário 21
2.1.6 Cronologia e seqüência de erupção 22
2.1.7 Oclusão decidua normal 25
2.2 Fatores que influenciam
o
desenvolvimento do sistema estomatognfitico 262.2.1 Sucção 26
2.2. I .1 Aspectos fisiológicos 26
2.2.1.2 Aspectos patológicos 31
2.2.2 Deglutição 37
2.2.3 Respiração 40
2.2.4 Mastigação 43
2.2.5 Fonoarticulação 46
3 DISCUSSÃO 48
4 CONCLUSÕES 56
Este estudo tem por finalidade analisar o desenvolvimento do sistema
estomatognatico na primeira infância e os fatores que influenciam o mesmo, procurando salientar
a importância do diagnóstico precoce de fator(es) negativo(s). Através de uma revisão
bibliográfica, concluiu-se que a amamentação natural, a respiração nasal, a deglutição normal e
as funções de mastigação e fonoarticulação, em menor intensidade, são fatores relevantes no
desenvolvimento do sistema estomatognático, pois estimulam o crescimento de seus
componentes de uma forma harmônica. Já, a amamentação artificial, a sucção de chupeta e/ou
dedo prolongada, a respiração bucal e a deglutição atípica, constituem fatores que podem
This study has the purpose of analize the development of the stomathognathic system
in the first childhood and the factors that influence it, intending to emphasize the importance of
the precocious diagnosis of negative factors. Through a bibliographic review, we can see that the
breast feeding, the nasal breathing, the normal swallow and the chewing and fonoarticulation
functions, in lower intensity, are relevant factors in the stomathognathic system development,
because they stimulate the growth of their components in a harmonic way. Nevertheless the
bottle feeding, the pacifier and/or finger suction, the mouth breathing and the tongue thrust,
A Odontologia, em especial a Odontopediatria, esta cada vez mais voltada para um
acompanhamento precoce do indivíduo, começando já na sua vida intra-uterina. Considerando
esta abordagem, torna-se imprescindível entendermos melhor como ocorre o desenvolvimento da
criança como um todo e em especial do seu sistema estomatognatico, tendo-se o conhecimento
necessário sobre as características morfológicas de uma cavidade bucal considerada dentro dos
padrões de normalidade ao nascimento, bem como do desenvolvimento adequado desta cavidade
durante os primeiros anos de vida.
Um aspecto importante sobre o desenvolvimento facial normal esta no estudo das
funções bucais do bebê, porque, apesar do crescimento e desenvolvimento cranio-faciais estarem
diretamente relacionados a fatores genéticos, os mesmos são fortemente influenciados pelo
padrão funcional da musculatura buco-facial. Assim, com o conhecimento do desenvolvimento
das funções bucais e de como se estabelecem as atividades neuromusculares na regido peri-bucal
e facial, adquire-se uma visão integral do crescimento e desenvolvimento cranio-facial e das
dentições ( CORRÊA et al., 1998).
Segundo SCHTNESTSCK, SCHINESTSCK (1998) a saúde biológica de todo o
constituintes fisiológicos. Quando cada um e todos trabalham harmoniosamente, as funções são
realizadas com o máximo de eficiência e o mínimo gasto de energia.
No entanto, a função alterada de um ou vários componentes do sistema
estomatognatico provoca desequilíbrios que se manifestam na conformação e estrutura dos
órgãos intenelacionados. De acordo com a teoria de Moss , sobre a matriz funcional, o
crescimento e a manutenção de todos os órgãos e tecidos não esqueléticos são sempre respostas
secundarias, compensatórias e obrigatórias a eventos operacionais e temporariamente prioritários
para os processos que ocorrem em órgãos e tecidos não esqueléticos (MOYERS,1988).
Assim, verifica-se que, além das influências genéticas sobre o desenvolvimento do
sistema estomatognatico, o mesmo pode ser significantemente afetado pelo ambiente, quer seja
positivamente durante a realização das funções bucais adequadas pelo bebê ou negativamente,
pela execução de um hábito bucal deletério.
Segundo MOYERS (1988), os hábitos são "... padrões de contração muscular
aprendidos e de natureza complexa... ." Representam ainda um comportamento que de tantas
vezes praticado torna-se inconsciente e passa a ser incorporado à personalidade (SIMPSON,
CHEUNG,1973).
Se estas parafunções não forem reconhecidas e interceptadas ainda nos estágios mais
precoces, poderá ocorrer o estabelecimento de alterações dento-alveolares e miofuncionais.
Segundo GRABER (1974) três fatores associados, são necessários para que uma má-oclusão se
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CCs-0 10
habito. Estes, são conhecidos como
"Tríade
de Graber", representados pela duração, freqüênciae
intensidade.
Assim,
é
de fundamental importância que os profissionais, principalmenteo
Odontopediatra, saiba reconhecer
e
diagnosticar de maneira segurae
correta os desvios quepossam ocorrer no crescimento
e
desenvolvimento do sistema estomatognatico, já na primeirainfância, com a finalidade de orientar, alertar e/ou tranqüilizar os pais ou responsáveis
e
indicaro
tratamento adequado. Com esta atitude, estaremos segundo FALTIN
JÚNIOR
et al. (1983),preservando
e
conservando a integridade do aparelho mastigatório, praticamente desdeo
nascimento.
Este trabalho tem por objetivo analisar
o
desenvolvimento do sistemaestomatognatico na primeira infância
e
os fatores que influenciamo
mesmo, procurando salientara importância do diagnóstico precoce de fator(es) negativo(s)
e
a(s) conseqüência(s) deste(s),evitando desta forma a instalação de problemas futuros que comprometam funções tais como
2 REVISÃO DA LITERATURA
0 desenvolvimento do sistema estomatognitico envolve uma série de fatores
bastante complexos, sendo que, para se ter uma melhor compreensão dos acontecimentos
isoladamente, costuma-se, em termos didáticos, dividi-lo em partes. Analisaremos previamente
como ocorre a formação deste sistema e, posteriormente, os fatores que influenciam o mesmo.
2.1 Formação
edesenvolvimento do sistema estomatognitico
0 sistema estomatognático, de acordo com SAADIA ( 1981), representa um ciclo
funcional formado pela musculatura, maxila, mandíbula, articulação temporomandibular, dentes
e periósteo que agem como uma unidade funcional.
ARAÚJO (1988) afirmou que o sistema estomatognático, também conhecido por
sistema mastigatório, é composto pelos ossos maxilares e mandíbula, dentes, ATM, músculos e
completado através dos lábios, bochechas, língua,, nervos e vasos.
SCHINESTSCK, SCHINESTSCK (1998) consideraram o sistema estomatognático
como sendo um sistema complexo, indivisível e interligado, formado pelos dentes, lingua, ossos,
realiza funções vitais (mastigação, deglutição ,respiração) de extrema sensibilidade e importância
para a manutenção de todo o equilíbrio biológico do indivíduo.
Entretanto para BEHSNILIAM apud SCHINESTSCK, SCHINESTSCK (1998) o
sistema estomatognatico é uma entidade fisiológica funcional, perfeitamente definida e integrada
por um conjunto heterogêneo de órgdos e tecidos, cuja biologia e fisiopatologia são
absolutamente interdependentes, sendo que a saúde biológica de todo o sistema estomatognático
depende, principalmente, da perfeita harmonia funcional entre seus constituintes fisiológicos.
Para um melhor entendimento, estudaremos a formação e o desenvolvimento de
cada componente do sistema estomatogridtico separadamente.
2.1.1 Músculos e articulação temporomandibular
Segundo SAADIA( 1981), desde o momento mais precoce do aparecimento, na 6a
semana de vida intra uterina, quando os músculos são formados e respondem as excitações
neurais, até sua maturação, os músculos já adquirem autonomia. A musculatura é responsável
por uma série de funções tais como a mastigação, deglutição, expressão facial, postura e
respiração. Cada uma dessas funções é realizada por um ou por diversos músculos com seu
próprio sistema sensorial e motor, que contribui para a atividade adequada do sistema muscular.
Contudo em relação à articulação temporomandibular, durante a vida fetal, esta
apresenta-se de forma rudimentar se comparada com as outras articulações do corpo, sendo que,
todos seus componentes e uma imaturidade anatômica e histológica, onde o côndilo e o disco se
encontram rasos e a eminência articular é somente urna pequena elevação. Em decorrência disso,
a mandíbula está livre para movimentar-se em qualquer direção, já que não há interferências,
porém os movimentos em lateralidade são de pequena intensidade. Esses movimentos permitem
o desenvolvimento da musculatura perioral, o qual, em torno, começa a maturação da articulação
temporomandibular, sendo que, durante os primeiros dois anos de vida, com o estabelecimento
das relações oclusais, a articulação adquire contornos característicos. Acrescenta ainda que, com
a erupção dos incisivos, a mandíbula não pode deslocar-se para anterior sem fazer movimento de
abertura, devido à presença dos dentes; desta forma sofrerá novamente alterações morfológicas
que a adaptem ao novo padrão funcional. Assim, o processo de remodelagem da articulação
temporomandibular é continuo durante todo o estabelecimento da dentição decidua.
MOYERS (1988) afirmou que o côndilo apresenta um formato rudimentar, sendo
"tosco" no bebê e achatado quando comparado com o do adulto encontrando-se coberto por uma
espessa camada de cartilagem, durante os seis primeiros meses de vida, sendo que depois, esta
espessura sera reduzida, provavelmente devido à redução da vascularização desta Area.
De acordo com MOLINA (1989), a articulação temporomandibular encontra-se em
estágios primários de desenvolvimento ao nascimento e a delimitação dos seus contornos ocorre
provavelmente como resultado do estimulo da função mastigatória inicial. Afirma ainda que
estas modificações são resultados da aposição e reabsorção ósseas diferenciais e principalmente
da aposição na eminência, sendo que durante o desenvolvimento da dentição decidua, a
profundidade da fossa aumenta consideravelmente e a eminência torna-se claramente
identificada. No entanto, a forma de "S" característica da cavidade glen6ide e a forma condilar
pelos dentes permanentes,
o
que indica queo
crescimentoe
a maturação pós-natal doscomponentes da ATM, só se
completarão
como
amadurecimento da dentição permanente, emgeral após os vinte anos de idade.
Para VAN DER LINDEN (1990)
o
crescimento da face pode ser melhor explicado seadmitirmos uma subordinação do esqueleto facial aos tecidos moles
e
aos componentesfuncionais que tomam parte nas atividades da face, considerando assim
o
mesmo comoadaptativo
e
resultante das demandas funcionais impostas sobreo
mesmo.MOYERS, CARLSON (1993) dividem a maturação da neuromusculatura orofacial
em um
período
pré-natale
outro pós-natal. Durante a vida pré-natal, a musculatura associadaregido orofacial amadurece mais depressa que a das
regiões
dos membros, visto que a bocaé o
órgão onde várias funções vitais devem estar em plena atividade desde
o
nascimento, sendo queos reflexos respiratórios, os reflexos de oclusão da maxila
e mandíbula, o
do regurgitamento, asucção
e
a deglutição infantis desenvolvem-se todos dentro de um padrão, entre a le ea 32'semana de vida intra uterina. Após
o
nascimento, a maturação da neuromusculatura orofacialé
proporcionada pelas funções bucais que
o
recém-nascido realiza, como a sucção, deglutição,choro
e
manutenção das vias aéreas e, mais tarde, pela mastigação, fala, expressão faciale
deglutição madura.
SAADIA (1981) considera que a discussão sobre
o
crescimento facial pode serlimitada ao crescimento
e
desenvolvimento dos processos maxilarese
mandibulares,e
que esteé
significativo da
e
semana de vida até a 2 ° década.De acordo com MOYERS (1988), a forma básica das arcadas dentárias
é
determinada, pelo menos até
o
4° mês de vida intra-uterina, pelos germes dentários emdesenvolvimento
e
pelo osso basal em crescimento, sendo que ao nascimento, pode-se observara maxila de forma arredondada, diferente da
mandíbula,
que se apresenta em forma de U.Para ARAÚJO (1988), a maxila apresenta crescimento sutural
e
processos deaposição
e
reabsorção óssea, crescendo para tráse
para cimae
provocandoo
seu deslocamentopara frente
e
para baixo. Acrescenta que, para se entendero
mecanismo de crescimento damandíbula, é
importante imaginá-la inicialmente como se fosse um osso longo com suas duasepífises, dobrado em forma de ferradura, ocupando uma posição na parte inferior da face
e
fortemente solicitado por um conjunto de músculos que a ela
estão
ligados internae
externamente.
VAN DER LINDEN (1990) afirmou que
o
ciindiloé
a regido mais vigorosa decrescimento no esqueleto crânio-facial
e
que nenhum outro osso da cabeça exibeproporcionalmente tanto crescimento como a
mandíbula;
salientando que nenhum outro ossomostra um grau
tão
alto de variação na sua forma final.Segundo TOLEDO (1996),
o
crescimento da maxila faz-se por meio de proliferaçãodo tecido conjuntivo sutural, ossificação intramembranosa, aposição óssea superficial,
com
o
crescimento das órbitase
das fossas nasaise
que,o
crescimento do processo alveolar emaltura, está relacionado com o desenvolvimento
e
a erupção dos dentes.Todavia em relação à
mandíbula,
TOLEDO (1996) afirmou que, ao nascimento, osramos mandibulares são bastante curtos
e o
processo condilaré
pouco desenvolvido, sendo quedurante
o
primeiro ano de vida ocorre um crescimento generalizado, caracterizado por aposiçãoóssea em todas as superficies desta. Após
o
primeiro ano, este torna-se mais seletivo, ocorrendoaposição óssea somente na borda posterior do ramo
e
no processo alveolar. Paralelamente,ocorre reabsorção na borda anterior do ramo, aumentando
o
comprimento do processo alveolar.0 crescimento na cabeça da
mandíbula
contribui parao
crescimento do ramo paratrás
a paracima, determinando também a direção do deslocamento mandibular. A aposição óssea na borda
posterior
e
a reabsorção na borda anterior movimentamo
ramo para trás, produzindo umalongamento do corpo
e
promovendoo
crescimento em largura. 0 aumento em alturaé
dadopelo crescimento do processo alveolar, que, por sua vez, está relacionado com a erupção
dentária.
CÔRREA et al. (1998) afirmaram que
o
primeiro grande surto de crescimento dosmaxilares em sentido transversal ocorre durante os dois primeiros anos, porém mais de 60%
deste crescimento ocorre nos primeiros 6 a 8 meses de vida. Este crescimento transversal ao qual
se atribui principalmente à presença da sutura palatina mediana na maxila
e
à sincondrosesinfisiana na
mandíbula, outorgará o
espaço necessário para uma disposição harmoniosa dosdentes deciduos nas arcadas
dentárias
naépoca
de sua erupção.Segundo FERREIRA (1998),
o
crescimento dos ossos componentes do esqueletocomo pela concomitância dos mecanismos que envolvem este processo. De acordo com o autor,
o crescimento da maxila se realiza de maneira intramembranosa por aposição e reabsorção óssea
em quase toda sua extensão e por proliferação do tecido conjuntivo sutural nos pontos em que
este osso se conecta com peças vizinhas ( frontal, zigomAticos, palatino e processo pterig6ide do
esfen6ide). Em relação à mandíbula, o autor afirmou que, a proliferação do tecido cartilagineo da
cabeça do cõndilo ( crescimento do tipo cartilagíneo), a aposição e reabsorção superficial no
corpo e ramo ascendente (crescimento do tipo membranoso) se constituem no complexo
mecanismo de crescimento deste osso.
2.1.3 Relação maxilo-mandibular
Analisando-se a relação fintero-posterior entre os maxilares ao nascimento, pode-se
observar uma postura retrognata da mandíbula em relação à maxila. No entanto, com o processo
evolutivo do estabelecimento da oclusão, esta relação sofre modificações significativas, sendo
que as mesmas já ocorrem na vida intra-uterina, conforme estudo realizado por CLINCH apud
ANDO, PSILLAKIS (1973), que observaram que do 56 a ao 64a dia de vida intra-uterina, a
mandíbula apresenta-se maior que a maxila, no 74a, essa projeção anterior do rodete mandibular
praticamente desaparece. A partir deste momento, o processo de crescimento torna-se contrario
ao apresentado e, com isso, a projeção do rodete superior é evidente e mantém-se assim até o
nascimento do bet* fazendo com que a maxila anteriorizada em relação A mandíbula seja a
característica mais marcada em sentido Antero-posterior ao nascimento.
GUEDES-PINTO (1990) salientou que a posição mais distal da mandíbula
rebordos gengivais, que ocorre após o nascimento, possivelmente esteja relacionado ao reflexo
de sucção.
TOLEDO (1996) afirmou que no inicio da vida fetal, a relação sagital dos ossos
maxilares é caracterizada por uma protrusão mandibular, que diminui gradualmente, de forma
que ao nascer, esta relação se inverte, prevalecendo a retrusão mandibular. No entanto, após o
nascimento, a mandíbula cresce horizontalmente bem mais que a maxila, diminuindo esta
retrusào, característica do recém-nascido. Já aos quatro anos de idade, pode-se perceber um perfil
normal por conta desse diferencial de crescimento, sendo que, desta forma, o crescimento
ântero-posterior pós-natal da mandíbula é de fundamental importância clinica para o bom
relacionamento dos arcos dentários na dentadura decidua.
CÔRREA et al. (1998) relataram que, ao nascer, os bebês apresentam um
retrognatismo da mandíbula em relação à maxila, chamado de retrognatismo mandibular
secundário, que mede de 8 a 12mm, sendo que até a época de erupção dos primeiros dentes
deciduos ( 6 a 12 meses de vida) é necessário que este retrognatismo tenha sido anulado através
do desenvolvimento mais acentuado da mandíbula para que se estabeleça um oclusão correta dos
dentes deciduos.
Para os autores, quando se analisa a relação maxilo-mandibular de um
recém-nascido no aspecto frontal, pode-se encontrar uma das seguintes características: ou espaço /
abertura entre os rodetes na região anterior, ou sobremordida, ou relação anterior topo a topo.
Em estudo realizado pelos mesmos autores apenas 4,3% das crianças analisadas apresentavam
abertura frontal entre os rodetes gengivais, sendo que 91,4% mostravam sobremordida,
2.1.4 Cavidade bucal
A boca do recém-nascido, segundo TORRES (1973), apresenta na porção vestibular
externa a musculatura labial com contorno nitidamente triangular, sendo que o lábio inferior
localiza-se num plano horizontal, devido à retrusdo mandibular, sendo visualizado como a base
do triângulo e o lábio superior forma um vértice superior médio.
Ao nascer, os bebês apresentam a cavidade bucal edentada e formada pelos processos
alveolares, que são cobertos por mucosa gengival de cor rosada firmemente aderida, recebendo o
nome de rodetes gengivais. Estes, segundo GUEDES-PINTO (1990), possuem abaulamentos
gengivais que logo se segmentam para indicar os locais de desenvolvimento dos dentes deciduos,
sendo que a fase, desde o nascimento até o inicio da erupção dos dentes, é chamada de período
dos rodetes gengivais.
TOLEDO (1996) afirmou que os arcos alveolares ou rodetes gengivais têm forma de
ferradura na maxila e de "U" na mandíbula e ambos mostram abaulamentos que denunciam a
posição dos dentes deciduos, intercalados por sulcos transversais, dos quais dois são bem nítidos:
os sulcos laterais superiores, mesiais com relação aos inferiores que se localizam no limite distal
dos caninos; essa situação mostra que, ao nascimento, os caninos inferiores estão em relação
distal, sendo que ela será revertida após os primeiros seis meses de vida, para que os caninos
superiores irrompam em relação levemente distal aos inferiores, coerente com um
relacionamento ligeiramente retrusivo da mandíbula do recém-nascido, mas já normalizado na
WALTER et al. (1996) relataram que a característica morfológica mais
freqüentemente observada na cavidade bucal do bebê é a presença de um cordão fibroso e
flácido à palpação, também conhecido como cordão fibroso de Robin e Magitot, bem
desenvolvido no recém-nascido e conforme se aproxima a época de erupção dos dentes deciduos,
ele vai desaparecendo. Consideram também que este cordão colabora com o vedamento dos
maxilares, tornando-o assim um auxiliar durante a sucção.
Uma pesquisa de CÔRREA et al. (1998) que avaliou bebês de 0 a 6 dias de vida,
relata algumas diferenças morfológicas no segmento anterior dos rebordos, sendo que o rodete
superior apresentou variações mais evidentes. 0 rebordo superior na região anterior mostrou-se
liso e arredondado, com uma firme aderência, em 47,1% dos casos, enquanto 52,9% dos bebês
apresentaram rebordos irregulares e flácidos à palpação. A presença de sulco lateral ou depressão
por distal da papila canina também foi descrita em ambos os maxilares, sendo mais evidente na mandíbula.
Com relação à inserção do freio labial, os autores acreditam que ela seja variável,
podendo estar vários milímetros acima da crista alveolar. Porém, no recém-nascido observa-se
com maior freqüência que ele se insere na crista do rebordo alveolar. Posteriormente, com a
erupção dos incisivos e com o desenvolvimento do osso alveolar, existe ganho em altura e a
inserção desloca-se progressivamente para a superficie vestibular do rebordo alveolar, assumindo
uma posição mais alta. Em alguns casos, a inserção mantém-se na papila deixando que as fibras
se estabeleçam entre os incisivos. Este tipo de freio é considerado patológico e conhecido como
2.1.5 Desenvolvimento dentário
Ao nascimento, conforme ANDO, PSILLAKIS, (1973), os dentes deciduos estão em
diferentes etapas de desenvolvimento e a mineralização dos primeiros molares permanentes
inferiores já se iniciou, o que não se observa com os superiores. Não há osso alveolar nos bordos
incisais e superficies oclusais dos dentes, sendo que esta ausência de suporte ósseo entre o rodete
gengival e o dente, pode sugerir que traumas na cavidade bucal, no ato do parto, ou na fase
neonatal, podem acarretar conseqüências, como a degeneração de unidades dentárias tal como
anodontia falsa.
Segundo SAADIA (1981) os dentes começam sua calcificação em torno da 4'
semana de vida intra-uterina, sendo que este processo continuará até a erupção completa do
segundo molar deciduo, por volta dos três anos de idade.
VAN DER LINDEN (1990) afirmou que os germes dentários apresentam-se
apinhados no espaço intra-ósseo, principalmente na região anterior das arcadas dentárias,
evidenciando que o crescimento ósseo pré-natal transversal não foi suficiente para o
alinhamento dental correto. No entanto, um primeiro grande surto de crescimento transversal
ocorre até os dois anos de idade, com um pico do nascimento à erupção dos incisivos,
favorecendo o alinhamento dos dentes intra-ósseo e fornecendo condições para que as vias de
erupção se estabeleçam. Na maxila, este aumento deve-se à presença da sutura palatina mediana
e, na mandíbula, à sinfise mentoniana.
Para TOLEDO (1996), o desenvolvimento dentário começa na 6 a semana de vida
desenvolvimento dental para
o
diagnóstico de alterações no desenvolvimento que possam estaretiologicamente associados a problemas sistêmicos ou locais em determinadas
épocas
da vida doindivíduo.
De acordo com CÔRREA et al. (1998), da 7a à 10a semanas de vida intra-uterina, os dentes deciduos iniciam sua formação à partir da lamina dental, processo conhecido como
odontogênese. Por volta do quarto mês de vida intra-uterina, na 15 a semana, se encontrarão em
processo inicial de dentinogênese, com a diferenciação dos tecidos dentários. Conforme os
processos de iniciação dental progridem, diferenciação tecidual
e
mineralização posterior dasestruturas
e
dos tecidos dentários poderão ocorrer distúrbios de desenvolvimento, comoanodontias, dentes
supranumerários,
geminaçãoe fusão.
Os autores acrescentam ainda que nos seis meses de vida pós-natal,
o
crescimentovertical do processo alveolar
é
intenso, estabelecendo ganho em altura no terço inferior da face.Os germes dentários passam a ser envolvidos pela cripta óssea, sendo que
o
processo alveolarpassa a existir em função da erupção dental -la.
2.1.6 Cronologia
e
seqüência de erupçãoPor volta do 6° ao 7° meses de idade, os incisivos centrais inferiores irrompem
guiados pelo lábio inferior
e
pela lingua, criando a possibilidade de dissociação dos movimentosdos lábios, lingua
e mandíbula.
Os incisivos centrais superiores irrompem nos meses seguintes,guiados pelo lábio superior
e
pela lingua, estabelecendo a guia incisal no encontro com seusSAADIA (1981) afirmou que os incisivos centrais inferiores irrompem na cavidade
bucal por volta dos 8 meses de vida pós-natal, apresentando uma inclinação mais vertical que
seus sucessores permanentes ( longo eixo perpendicular ao plano oclusal)
e
provocando umaumento da dimensão vertical, que afeta a articulação temporomandibular, promovendo a sua
remodelação. Acrescenta ainda que, embora diversos grupos sociais de diferentes Areas
geográficas tenham sido estudados para verificar a seqüência de erupção na primeira dentição, a
mesma pode apresentar-se variável, pois
é
influenciada também pelas condiçõessócio-econômicas, pela nutrição e pela saúde geral da população.
Na seqüência adequada, os próximos dentes a irromperem, segundo VAN DER
LINDEN (1990), serão os primeiros molares inferiores, guiados em posição oclusal pelos tecidos
moles que
o
circundam. Em pouco tempo, irrompem os antagonistas superiores, com direção deerupção vestibulo-distal, de forma que a
cúspide
mesio-palatina contacte a fossa distal dosmolares inferiores quando a intercuspidação entre eles ocorrer.
Com a erupção dos caninos, a guia de
oclusão e
sobretudo a lateralidade ficamestabelecidos mais mesialmente, em
função
cuspidea unilateral. 0 canino inferioré
levado emposição pelos tecidos moles que
o
circundam, guiando-se pela superficie distal do incisivolateral, enquanto
o
superior guia-se pela superficie mesial do primeiro molar. ( VAN DERLINDEN,1990).
Para TOLEDO (1996),
é
evidente a importância queo
estudo da cronologiae
daseqüência da erupção dentária tem para
o
Odontopediatra, pois a primeira representa umorientar um diagnóstico de alterações no desenvolvimento e, a segunda, porque uma
determinada seqüência eruptiva pode oferecer oportunidade ideal para que todos os dentes
permanentes venham a ocupar seu lugar no arco.
Algumas alterações na cronologia de erupção dos dentes deciduos podem ocorrer em
recém-nascidos, apesar de sua incidência os casos de dentes natais e neonatais são poucos.
Segundo CÔRREA et al. (1998), os dentes natais são aqueles que estão presentes ao nascimento
e dentes neonatais aqueles que irrompem na cavidade bucal durante os primeiros trinta dias após
o nascimento. Os autores acrescentam ainda que os últimos dentes a irromperem são os segundos
molares deciduos, guiados pela distal dos primeiros. Da mesma forma que o primeiro molar, a
cúspide mais proeminente do segundo molar superior durante a via de erupção , é a
mesiopalatina, que em contato com a cúspide vestibular do segundo molar inferior escorrega
para a oclusão no sulco distovestibular. Com isso, fica nítido que a seqüência de erupção
favorável no grupamento molar é que os inferiores irrompam antes e guiem os superiores para a
intercuspidação normal, ficando os dentes inferiores em posição mais mesial.
Completada a dentição decidua, as dimensões sagitais e transversais da arcada ficam
estáveis, a não ser que submetidas a influências ambientais. Verificaremos então as
características que indicam o estado de normalidade desta dentição.
2.1.7 Oclusão decidua normal
Para SAADIA (1981), após a primeira dentição ter sido completada, podemos
CCS-0 25
considerada normal:
cúspide mésio-vestibulardo primeiro molar inferior
ocluindoao
níveldo
espaço
primata superior,
superfíciedistal do segundo molar tangente
eperpendicular ao plano
oclusal,
posicionamento vertical dos incisivos, sendo que os inferiores
ocluemna
regiãodo
cíngulo
dos superiores
e cúspidesmaxilares
ocluindono mesmo plano vertical que as
mandibulares, mas ultrapassando as mesmas.
TOLEDO
(1996)afirmou que, no sentido
vestíbulo-lingual, os dentes
deciduosapresentam-se
verticalizados,de tal maneira que todas as suas
superficies oclusais ebordas
incisais tocam num mesmo plano. Não
há,portanto, a curva de
Spee,que
é própriada
dentiçãopermanente.
Segundo FERREIRA
(1998 ),os arcos da dentição
decidua nãosofrem,
apóssua
formação
completa,
alteraçõesem largura
eem comprimento, acrescentando ainda que lid dois
tipos de arcos nesta
dentição,de acordo com a
existênciaou
ausênciade
espaçamento(diastemas)
entre os dentes: arcos do
TipoI de
Baume,que apresentam
diastemasgeneralizados
na região anterior,
earcos do Tipo
Hde
Baume,que não apresentam os
diastemas.Nos arcos do
tipo I, dois
diastemasno arco superior
edois
diastemasno arco inferior merecem
atençãoespecial.
Sãoos
espaços primatas,que se situam no arco superior entre os incisivos laterais
eos
caninos,
eno arco inferior, entre os caninos
eos primeiros molares.
Quanto à
relaçãoentre as arcadas
dentárias,pode-se dizer que numa vista
ântero-posterior, a
relaçãoterminal entre os segundos molares
deciduossuperiores
einferiores
apresenta, de acordo com
Baume apud CÔRREAet al.
(1998),a seguinte
distribuição: 76%dos
casos plano terminal vertical,
14%degrau
mesial e 10%degrau distal para a
mandíbulaplano reto, devido as compensações que podem ocorrer posteriormente, possibilitam uma relação favorável para a instalação adequada da dentição mista. 0 plano terminal em degrau distal para a mandíbula é desfavorável para a instalação da relação correta entre os primeiros molares
permanentes.
Os mesmos autores acrescentam ainda que, a atrição dentária começa assim que os dentes entram em oclusão, acentuando-se a partir dos 3 anos de idade principalmente nas
superficies oclusais e proximais e que na fase final da dentição decidua, esta apresenta sinais de maturidade, ou seja, desgastes dentários naturais, relação topo a topo com desgastes generalizados das cúspides, sobretudo de canino, favorecendo desta forma a correta transição
para a dentição mista.
2.2 Fatores que influenciam o desenvolvimento do sistema estomatognático
2.2.1 Sucção
2.2.1.1 Aspectos fisiológicos
Dentre os fatores ambientais que influenciam o desenvolvimento do sistema
estomatognatico, a sucção nutritiva ( que fornece nutrientes essenciais, como a amamentação natural e artificial ) ou não nutritiva ( que assegura um sentimento de proteção, como sucção de chupeta e dedo ), tem influência expressiva. Ao longo dos anos vários autores vêm estudando a
Biblioteca Setoriel
CCS-0 27
De acordo com SEGOVIA (1977) a postura ideal para a amamentação é a posição
ortostatica de Robin, na qual A. semelhança de outros mamíferos, o bebê é colocado em posição
de confronto vertical em relação à mama; desta maneira ele estira o pescoço e o colo, adiantando
a mandíbula, no plano horizontal para apreender o mamilo.
FALTIN JUNIOR et al. (1983) afirmaram ser a amamentação no seio materno o
fator primordial e mais importante para o desenvolvimento do aparelho mastigat6rio, pois o ato
da amamentação no seio materno representa uma verdadeira ginástica mandibular, através da
qual a criança succiona o mamilo materno.
PETROVIC, STUTZMANN (1985) relataram uma experiência feita em ratos
recém-nascidos, onde observaram o crescimento do c6ndilo e o comprimento mandibular, relacionados
ao tipo de alimentação oferecida a esses animais. A amamentação natural foi comparada
artificial e esta, por sua vez, oferecida de duas formas: com bico de consistência dura e bico de
consistência macia. Após vinte dias, esses animais foram sacrificados e observaram, naqueles
amamentados naturalmente, direção de crescimento mais horizontal do cóndilo e maior
crescimento condilar e do comprimento da mandíbula, quando comparados Aqueles
amamentados artificialmente e, entre estes, não houve diferença estatisticamente significante
quanto à consistência do bico da mamadeira.
A amamentação no seio materno representa para a criança o fator inicial de um bom
desenvolvimento dento-facial, permitindo a obtenção de uma oclusão dentária normal e
Para HADDAD
(1992)
aamamentação
natural, além de estimular o crescimento damandíbula no sentido
ântero-posterior, reforça
o circuitoneurofisiológico
darespiração,
excitando as
terminações neurais
das fossas nasais, com seuconseqüente
desenvolvimento, e deseus anexos. Este fato
repercurte
favoravelmente no desenvolvimento da maxila, sendo que estescircuitos
neurofisiológicos
devem ser desencadeados durante o primeiro ano de vida.PASTOR, MONTANHA
(1994)
através de um revisão de literatura com o objetivode analisar a importância da
amamentação
natural sobre o desenvolvimento do sistemaestomatognatico
e realizar umaanálise
comparativa com aamamentação
artificial, chegaram aconclusão de que a
amamentação
natural é um fator relevante neste desenvolvimento como umtodo, estimulando o crescimento
ântero-posterior
da mandíbula ereforçando
o circuito neuralfisiológico
darespiração.
Concluíram aindaque
aamamentação
artificial satisfaz Asnecessidades
nutricionais
dacriança,
porém grande parte dasexcitações
que partem da boca,ficam anuladas.
TURGEON
O'BRIEN et al.(1996)
relataram que aamamentação
natural promoveum melhor desenvolvimento
orofacial,
porquehá
um movimento maisrápido
deprotrusão
mandibular nos
bebês
amamentados no peito emrelação
aos amamentados na mamadeira.Já
quanto
aamamentação
artificial, afirmam que seus efeitos sobre o desenvolvimentodentofacial
variam de acordo com o tipo de bico usado, sendo que o mais apropriado é o bico tipo
fisiológico,
pois promove um movimento anterior da lingua por baixo dasuperficie
horizontal dobico, pressionando-o para
trás
e para cima contra o palato duro dacriança,
induzindo a umDe acordo com OLIVEIRA et al. ( 1997), durante a sucção do leite materno a lingua
é posicionada fora e entre os roletes gengivais, contactando o lábio inferior e abaixo do bico do
seio que está sendo sugado. Durante o inicio da sucção do leite materno, ocorre a elevação e a
distensão da ponta da lingua e da mandíbula. Na consumação do ato de sucção, propriamente
dito, há uma compressão do peito, pela elevação da mandíbula resultando na saída do leite
materno. 0 ciclo se reinicia com o descanso da mandíbula que só cessa quando o bebê se
satisfaz, tanto nutritiva como emocionalmente.
Segundo FERREIRA (1997),
a
sucção é uma função vital, característica dosmamíferos, a qual irá suprir não somente as necessidades nutritivas do recém-nascido como
também suas necessidades emocionais, através do envio ao S.N.C. de estímulos tais como o
contato lábio-língua-seio materno. Caso essa função persista (sucção prolongada),
provavelmente irá ocorrer alterações no comportamento da musculatura peribucal e
deformidades dento-alveolares.
SCHINESTSCK, SCHINESTSCK (1998 ), relataram que, na observação lateral de
um recém-nascido podemos perceber a grande discrepância existente entre o crânio cefálico, o
terço inferior da face e a posição distal da mandíbula em relação a maxila, porque o crânio já está
com o seu desenvolvimento quase completo, enquanto que a face e a relação basal maxilar
dependem imensamente de estímulos oriundos da amamentação natural, respiração nasal e
posteriormente da mastigação para atingirem o seu desenvolvimento. Havendo esta
amamentação por um período igual ou superior a 8 meses, proporcionar-se-á uma fisiologia oral
adequada. A protrusão e a retrusão mandibular aliados ao posicionamento correto da lingua na
cavidade bucal, com deglutição e respiração adequados desencadeiam a criação e a propagação
Os autores afirmam ainda que o conhecimento minucioso da amamentação materna e
sua relação com o sistema estomatognatico deve fazer parte do arsenal cientifico que envolve a
pratica odontológica,em virtude de sua influência no desenvolvimento e crescimento
crânio-facial, da maturação do sistema neuro-muscular e das funções reflexo-vegetativas. Os dentistas
devem conhecer e se preocupar com o período da amamentação e o inicio da alimentação sólida
do bebê, pois a prevenção de muitas disfunções começam com este ato fisiológico no peito da
mãe e ultrapassam os conhecidos beneficios nos aspectos nutricionais, imunológicos e psíquicos.
Para DOUGLAS et al. apud CORRÊA et al. (1998), a amamentação no peito permite
um exercício fisioterápico necessário ao desenvolvimento do sistema estomatognático,
salientando que através da amamentação, a mandíbula posiciona-se mais anteriormente; alguns
músculos mastigat6rios como o temporal, o pterig6ideo lateral e o milo-hióideo iniciam sua
maturação e reposicionamento;a lingua estimula o palato, evitando que a ação dos bucinadores
seja prejudicial; e o orbicular dos lábios mostra-se eficiente na orientação de crescimento e
desenvolvimento da região anterior do aparelho mastigatório. Assim, há uma integração entre a
recepção de estímulos corretos e as respostas adequadas, que conduzem ao crescimento e
desenvolvimento normais dos componentes do sistema estomatognático.
2.2.1.2 Aspectos patológicos
No entanto, a sucção, inicialmente realizada para se obter alimentos, quando
realizada sem fins nutritivos pela pratica de repetição, pode condicionar a instalação de um
desenvolvimento do sistema estomatognático, ou seja,
o
aparecimento de maloclusões, comodemonstram diversos autores.
HANNA ( 1967 ) realizou um estudo com
o
objetivo de relacionaro
tipo deamamentação com a instalação de hábitos bucais. Para isso, 589 crianças caucasianas com as
idades de dois anos
e
meio à treze anos foram pesquisadas através de questionários respondidospelos pais ou responsáveis. Do número total das crianças, 63% foram amamentadas na
mamadeira somente. Aquelas crianças que foram amamentadas no seio
e
então depois namamadeira somaram 27%.
Aquelas
amamentadas somente no seio somaram 10%. Este estudorevelou que dos bebes amamentados na mamadeira, 31% apresentavam algum hábito. Do
segundo grupo, que foi amamentado tanto na mamadeira como no seio, 35,2% apresentavam
algum tipo de habito,
e o
grupo que foi amamentado somente no seio tinha 32,2% de habito dechupar dedo/polegar. Isto significa que
o
tipo de amamentação não tem relação significativa como
desenvolvimento de hábitos bucais. 0 autor concluiu ainda que a posição em queo
filhoé
amamentado
é
queé
importante em relação a instalação desteshábitos,
pois quanto mais elevadafor esta posição, maior sera a chance de vir a desenvolver um hábito.
SHOAF ( 1979 ) preconizou
três
teorias que levam a prolongação dos hábitos desucção
não nutritivos, prejudicando assimo
desenvolvimento do sistema estomatognitico , queseriam: insatisfação da necessidade de sucção durante
o período
de lactincia, distúrbiosemocionais ( teoria psicoanalitica) ou um simples aprendizado do hábito do qual deriva
o
prazer.BISHARA et al. ( 1987 ) com
o
objetivo de examinar a variação nodesenvolvimento dos arcos dentários maxilar
e
mandibular, pesquisaram 122 crianças noseis semanas 6. dezoito meses de vida. As crianças foram agrupadas de acordo com sua
amamentação e o método de sucção da seguinte forma: a) somente amamentação natural;
b)amamentação natural e exercício funcional; c) bico de mamadeira e chupeta funcionais; d) bico
de mamadeira convencional e sem chupeta; e) bico de mamadeira e chupeta convencionais. As
mudanças absolutas e relativas no desenvolvimento dos arcos foram comparadas entre machos e
fêmeas, bem como entre os diferentes grupos de amamentação/sucção. Os resultados indicaram
que, no geral, as mudanças nos diferentes arcos observadas durante o período de dezoito meses
não foi significante estatisticamente entre os grupos estudados.
LABBOK, HENDERSHOT (1987), realizaram um estudo com o objetivo de avaligr
a relação entre amamentação natural e a ocorrência de maloclusdo. Utilizaram uma amostra de
15 crianças com até dezoito meses de idade, que foram selecionadas para a realização do
Suplemento de Saúde Pública Americana do ano de 1981. Os pais/ responsáveis responderam
questionários que incluiam questões quanto a amamentação da criança, se era no seio e por
quanto tempo. Foi considerada a amamentação como curta quando ia até menos de seis meses e
como longa quando ia além. As questões sobre maloclusão foram respondidas também pelos pais
e incluiam informações se a criança já havia usado aparelho, se achavam que precisava usar e se
algum dentista já havia encaminhado para usar aparelho. Os autores chegaram a conclusão de
que há uma forte indicação de que a amamentação natural, especialmente a prolongada, protege
contra maloclusão. Por esta razão é importante orientar as gestantes sobre esta vantagem
adicional da amamentação.
MEYERS, HERTZBERG (1988) realizaram um estudo com o objetivo de verificar a
existência de associação entre amamentação artificial e malocluseies. Para isso aplicaram
6
UFSC
33
subúrbio de Boston, nos quais haviam perguntas sobre métodos e duração de alimentação
infantil, tipo de bico de mamadeira usado, hábitos de sucção e histórico de tratamento
ortodõntico. Analisando as respostas, verificaram não existir relação entre amamentação
artificial e necessidade de tratamento ortodeintico, porém, quando havia um aumento da
exposição à mamadeira em relação ao período de tempo, foi encontrado um pequeno aumento
desta necessidade.
LEGOVIC, OSTRIC (1991), através de exame clinico e questionários aos pais,
realizaram um estudo com o objetivo de verificar os efeitos dos métodos de amamentação sobre
o desenvolvimento do sistema estomatognatico. Foram examinadas 214 crianças na idade média
de três anos, nas creches da cidade de Porec, Croácia. Observaram que, das crianças examinadas
que não usaram chupetas, 58,8% foram amamentadas no seio por três ou mais, comparadas com
31% que usaram chupeta e forma alimentadas exclusivamente com mamadeira. Dentre as
crianças que apresentaram o habito de chupar dedo, houve uma alteração de comportamento,
uma vez que 20,6% dessas, que chupavam dedo foram amamentadas no seio por três meses ou
mais e 13,1% alimentadas exclusivamente com mamadeira.
ADAIR et al. (1992) realizaram um estudo com o objetivo de comparar a oclusão de
crianças entre 24 e 59 meses de idade que usaram chupeta ortodõntica ou convencional com a
oclusão de um grupo controle que não apresentava hábitos de sucção. As informações foram
obtidas através de questionários respondidos pelos pais. Foram examinadas 79 crianças e
divididas em três grupos: a) uso de chupeta convencional somente; b) uso de chupeta ortodõntica
somente e c) crianças que não usavam chupeta. Na análise oclusal foram observados overbite,
overjet, relação canina, relação molar e mordida cruzada posterior. Analisando-se os resultados,
apresentaram um overjet maior e que havia uma maior proporção de sujeitos com mordida
aberta no grupo que usava chupeta convencional.
PAUNIO et al. (1993), através de exame clinico, estudaram a associação de hábitos
de sucção de chupeta e dedo com o aleitamento natural em 1018 crianças de três anos de idade
na cidade de Turku, na Finlândia. Foi observado que, à medida em que o tempo de aleitamento
diminuía, aumentava o risco da criança utilizar a chupeta até a idade de três anos,
comparativamente àquelas que receberam aleitamento natural por seis meses. Os autores não
conseguiram estabelecer uma associação entre o hábito de chupar dedo com o aleitamento
natural, devido ao pequeno número de crianças com esse habito (1,7%).
Sabemos que a amamentação natural e a artificial promovem diferenças
significativas no crescimento da mandíbula e na atividade muscular. Para confirmar estas
diferenças quantitativamente, INOUE et al. (1995), estudaram a atividade mioelétrica do
músculo masséter em bebês amamentados artificialmente. Doze bebês amamentados na
mamadeira, assim como doze amamentados no peito, que foram usados como grupo controle,
foram examinados eletromiograficamente durante a amamentação natural e artificial. Analisando
os resultados, os autores concluíram que a atividade do músculo masséter 6, significativamente,
reduzida durante a amamentação artificial.
Entre os hábitos de sucção não nutritivos, o uso da chupeta é um dos mais freqüentes,
sendo que geralmente está associados a uma curta duração da amamentação natural. Com o
objetivo de verificar se o uso da chupeta é uma causa, uma conseqüência ou uma coincidência do
curto tempo de duração da amamentação natural, VICTORA et al. (1997) realizaram um estudo
Social da Universidade Federal de Pelotas, que foram visitados após o parto e aos 1, 3 e 6 meses.
Uma amostra de 80 mães e seus filhos foi selecionada para o estudo etnográfico. Os autores
concluíram que chupetas podem ser um mecanismo efetivo de desmame usado pelas mães que
possuem dificuldades explicitas ou implícitas de amamentar seus filhos.
SERRA-NEGRA et al. (1997) em uma pesquisa realizada com a proposta de associar
a forma de aleitamento com a instalação de hábitos bucais deletérios e conseqüentes
maloclusões, examinaram 357 crianças, na faixa etária de 3 à 5 anos, que frequentavam creches e
escolas da cidade de Belo Horizonte, sendo que as informações sobre o desenvolvimento das
crianças foram obtidas através de questionários respondidos pelas mães. Constataram que há
uma associação entre aleitamento natural com a não instalação de hábitos bucais deletérios, pois
86,1% das crianças que não apresentaram hábitos deletérios foram amamentadas por, no mínimo,
seis meses. A associação de hábitos bucais com maloclusties foi significante, sendo mais
prevalentes as mordidas cruzadas posteriores e aberta anterior.
GAMA et al. (1997), realizaram um estudo com o objetivo de alertar sobre a
influência do tipo de amamentação no desenvolvimento da função e oclusão da criança. Os autores, através de uma revisão da literatura sobre o assunto, concluí ram que a amamentação
natural é muito importante, principalmente nos primeiros seis meses de vida, tanto do ponto de
vista nutricional, imunológico e de desenvolvimento, quanto do fato da maior proximidade entre
mãe e filho e do suprimento das necessidades de sucção da criança. Concluíram ainda que se, no
entanto, a criança não puder ser amamentada no peito, deve-se fazer uso de mamadeiras com
bicos fisiológicos que simulem a amamentação natural e evitem a instalação de hábitos viciosos
de sucção não fisiológica, os quais poderão influenciar negativamente no desenvolvimento
De acordo com MODESTO, AZEVEDO (1997), o habito de sucção é fisiológico em
todas as crianças do nascimento até cerca de dois anos de idade de acordo com a necessidade
individual de sucção e do desenvolvimento social da criança. Porém, quando o hábito ultrapassa
a fase de sucção e prolonga-se durante a fase de mastigação e no período da dentição mista, pode
provocar mudanças no crescimento e desenvolvimento da face e nas dentições, sendo que neste
momento o hábito torna-se nocivo e deve ser eliminado.
FERREIRA, TOLEDO (1997), desenvolveram um estudo com o objetivo de
verificar em pré-escolares do Distrito Federal a existência de relação entre o tempo de
aleitamento materno e a etiologia de alguns hábitos bucais perniciosos. A amostra foi constituída
de crianças de ambos os sexos, com idade entre 3 e 6 anos, matriculadas em creches e
pré-escolas. As mães responderam questionários para se conhecer métodos alimentares, tempo de
aleitamento e razões para o desmame. As crianças foram submetidas a exame clinico para avaliar
a oclusão e a prevalência de hábitos nocivos. Os resultados mostraram que existe uma relação
significativa de dependência entre o tempo de aleitamento materno e os hábitos de sucção, os
hábitos respiratórios e o bruxismo, observados isoladamente. Mostraram ainda que quanto mais
prolongado o aleitamento no seio materno, menor a ocorrência de hábitos bucais nocivos.
CÔRREA et al. (1998) afirmaram que o habito nocivo de sucção pode acarretar o
aparecimento de maloclusiles, especialmente do tipo mordida aberta anterior. 0 efeito dependerá
da freqüência, duração e intensidade do hábito, bem como da predisposição individual,
condicionada a fatores genéticos. Relataram ainda que, na maioria dos casos, a maloclusão se
autocorrige se o habito for interrompido antes da erupção dos dentes permanentes. Todavia,
quanto maior o período decorrido desde a instalação do habito, mais dificil sera a sua remoção.
desenvolvimento, mais precisamente até durante o segundo ano de vida, o hábito de sucção fosse
gradativamente substituído por outras formas de contato, estimulo e atividades adequadas a cada
idade.
Com relação à amamentação artificial, os autores relatam que, quando se utiliza a
mamadeira, os músculos utilizados na sucção são diferentes dos utilizados no aleitamento
natural, ocorrendo um maior desenvolvimento do músculo bucinador. No entanto, se por algum
motivo a mãe não puder amamentar seu filho, deve-se utilizar uma mamadeira com o orificio
pequeno localizado na parte superior do bico, assim como, quando do uso da chupeta, deve-se
dar preferência para as do tipo ortodôntica, por serem mais semelhantes ao mamilo materno que
as convencionais.
2.2.2 Deglutição
Para VAN DER LINDEN (1990) o mecanismo da deglutição funciona de forma
diferente entre recém-nascidos e os adultos. Quando uma criança deglute, os maxilares não se
encontram; a lingua é mantida entre eles. Após os primeiros molares deciduos entrarem em
oclusão, a criança inicia a passagem para uma deglutição madura, sendo que nesta a lingua toca
a parte anterior do palato, acima e atrás dos incisivos e com contração minima dos lábios.
De acordo com MOYERS, CARLSON (1993), a deglutição infantil é uma parte do
altamente complicado reflexo de sucção, pois ambos são reflexos que já devem estar
desenvolvidos ao nascimento de modo que a criança possa se alimentar. A deglutição infantil é
a maxila e a mandíbula enquanto se completa a deglutição; b) pela estabilização da mandíbula
mediante a contração dos músculos faciais e a interposição lingual; e c) pela deglutição que é
iniciada e, até certo ponto guiada, pela troca de sensações entre os lábios e a lingua.
Ainda segundo MOYERS, CARLSON (1993), a deglutição infantil é substituida pela
deglutição madura, normalmente durante o primeiro ano de vida, pois a chegada dos incisivos
induz movimentos mais precisos de abertura e fechamento da boca, sendo que vários aspectos a
caracterizam: a) os dentes ocluem; b) a mandíbula é estabilizada pelas contrações dos
masseteres ( e não dos músculos faciais ); c) a ponta da lingua é mantida contra o palato, acima
e atrás dos incisivos; e d) há contrações mínimas dos lábios e músculos faciais.
OLIVEIRA et al. (1997) afirmam que um equilíbrio perfeito entre os músculos dos
lábios, bochechas e lingua durante a deglutição é fundamental para a execução correta destes
reflexos. Uma quebra neste equilíbrio irá levar ao desenvolvimento de uma deglutição atípica,
dando origem is maloclusões.
Para FERREIRA (1997), a deglutição atípica consiste em contrações exageradas da
musculatura peribucal e da projeção lingual sobre os dentes, podendo ser dividida, de acordo
com sua etiologia, em: a) deglutição com interposição lingual simples, que vem acompanhada
por um história de sucção prolongada e apresenta uma mordida aberta anterior bem definida,
sendo que a lingua tem em relação a essa mordida aberta um papel secundário; b) deglutição
com interposição lingual complexa, que apresenta como agente etiológico a lingua, a qual
assume uma posição anterior tanto no repouso como durante a deglutição, causando assim uma
Segundo MERCADANTE (1998), a deglutição é uma função biológica e
coordenada, havendo uma conexão neurológica e um mecanismo sinérgico e antagônico de ações
musculares por arcos reflexos. E um ato continuo e de execução rápida, mas para fins didáticos é
geralmente dividida em três fases: fase bucal ( consciente e voluntária), fase faringea
(consciente e involuntária) e fase esofágica ( inconsciente e involuntária). Acrescenta ainda que,
durante uma deglutição normal, é importante que haja um perfeito equilíbrio, ou um equilíbrio
com forças que se anulam, entre os músculos dos lábios, bochecha e lingua, sendo que qualquer
ruptura deste equilíbrio irá originar as deglutições atípicas e como conseqüência as maloclusões.
De acordo com o mesmo autor, as causas mais prováveis das deglutições atípicas
são: desequilíbrio do controle nervoso, tonsilas inflamadas, macroglossia, anquiloglossia, freio
lingual anormal, perdas precoces dentais, fatores simbióticos como sucção de dedo e respiração
bucal , desnutrição e hábitos alimentares inadequados na primeira infância.
ALMEIDA et al. (1998) citaram algumas alterações morfológicas causadas pela
interposição lingual durante a deglutição, como a vestibularização dos incisivos superiores e
inferiores, aumentando o comprimento do arco dentário, com conseqüentes espaçamento entre os
incisivos, a presença de uma mordida aberta anterior que poderá apresentar um formato difuso
ou retangular, os lábios superiores apresentam-se hipotônicos, enquanto a musculatura da lingua
e do lábio inferior mostram-se hipertônicas e também o agravamento do trespasse vertical
negativo e do trespasse horizontal.
De acordo com GRANVILE-GARCIA et al. (1998), a deglutição é uma função
processo de crescimento e desenvolvimento do mesmo, esta apresenta diferentes padrões de
normalidade funcional, compatíveis com o grau de formação das estruturas relacionadas.
Os autores acrescentaram ainda que a deglutição normal infantil caracteriza-se
basicamente pela interposição da lingua entre os rebordos gengivais e estabilização da mandíbula
pelos músculos do sétimo par craniano e que, apesar de ainda não estar bem definido o período
limite para a sua maturação, acredita-se na existência de uma fase transicional para o
aprendizado da deglutição madura. Salientaram também a importância do conhecimento da
fisiologia e estrutura normais da deglutição infantil, no sentido de embasar o diagnóstico de
prováveis alterações o mais precocemente possível.
2.2.3 Respiração
A manutenção da passagem de ar é um mecanismo necessário para que ocorra a
transição da vida intra-uterina para a extra-uterina e estabeleça-se, então a respiração.
ARAGÃO ( 1988 ), em revisão literária, afirmou que, ao nascer, a criança apresenta
uma conformação crânio-facial bem característica; o crescimento do crânio já está quase
completo, o que não ocorre com o da face, que somente adquire velocidade a partir do
nascimento, na dependência do funcionamento do sistema estomatognatico, onde esta incluída a
função de respiração. De acordo com o autor, durante a amamentação natural, o recém-nascido
faz uma respiração predominantemente nasal. Esta respiração estimula os sensores da mucosa
nasal, filtra, aquece e umidifica o ar antes deste chegar aos pulmões e cumprir sua função de
as vias aéreas superiores. 0 autor acrescenta ainda que, a criança que desde o nascimento tem
este desempenho: amamentação diretamente no seio materno, vedamento labial e respiração
nasal, deverá ter um desenvolvimento harmonioso da face.
Para VAN DER LINDEN (1990), quando a respiração se inicia após o nascimento,
há uma via aérea adequada para a passagem do ar para os pulmões, sendo que esta passagem de
ar é mantida aberta através das atividades musculares da lingua, das paredes da faringe e através
da postura anterior da mandíbula, sendo que normalmente os recém-nascidos são capazes de
respirar pelas suas narinas , no entanto a respiração bucal pode desenvolver-se anos depois,
como uma reação a algum tipo de obstrução nasal e/ou nasofaringea.
0 autor acrescenta que a obstrução nasal ou orofaringea pode ser conseqüente de
alergia, hipertrofia e inflamação das tonsilas ou adenóides, desvio de septo nasal, dilatação das
conchas e hipertrofia da membrana da mucosa nasal.
MOYERS, CARLSON (1993) afirmaram que a musculatura orofacial é responsável
pelas relações vitais que mantém livre as vias aéreas. A manutenção fisiológica da desobstrução
das vias aéreas é de vital importância desde o primeiro dia de vida extra-uterina. Enquanto a
criança está repousando, um diâmetro uniforme das vias aéreas é proporcionado pela:
a)manutenção da mandíbula ântero-posteriormente; e b) estabilização das relações entre a lingua
e a parede faringea posterior.
De acordo com TOLEDO (1996), o bloqueio parcial ou total das vias aéreas
Para FERREIRA (1997), a respiração bucal é um habito deletério que representa uma
disfunção respiratória e que a presença de algum obstáculo na cavidade nasal ou na região
orofaringea, como pólipos, sinéquias, cistos e tumores, rinites hipertróficas, rinólitos,
neoplasmas, desvio de septo e colapso da asa nasal, pode impedir o fluxo aéreo normal, parcial
ou totalmente. Afirma ainda que a respiração bucal pode persistir como um habito residual
mesmo após a liberação das vias aéreas, o que pode ser resolvido através de tratamento
fonoaudiológico.
Segundo CÔRREA et al. (1998), a manutenção da passagem de ar não é executada
apenas pela musculatura intrínseca e a que suspende a faringe, mas também pela da base do
crânio e da mandíbula. Os músculos elevadores da lingua também participam do controle do
diâmetro faringeo, especialmente o genioglosso.
Os autores relataram ainda que, quando o bebe passa a respirar pela boca, deixa de
excitar as terminações neurais das fossas nasais. 0 ar chega aos pulmões por uma via
mecanicamente mais curta e fácil, dando inicio a uma atrofia funcional relativa à capacidade
respiratória e ao desenvolvimento das fossas nasais e seus anexos. Isto repercute no
desenvolvimento da maxila. Além disso, as fossas nasais são importantes na fisiologia
respiratória, tendo as funções de filtragem, aquecimento e umidificação do ar inspirado e a
olfação, que deixam de ser exercidas na respiração bucal. Acrescentam também que a respiração
bucal ocorre sempre que há obstrução nasal, que poderá ter várias causas, sendo as principais:
hipertrofia das adenóides, rinite alérgica, resfriados e sinusites. Entre outras possíveis causas
estão a atresia de coana e o desvio de septo nasal. 0 diagnóstico deverá sempre ser feito pelo
otorrinolaringologista, sendo que, algumas vezes, mesmo após a eliminação da causa da
os circuitos neurais da respiração nasal e estimular a musculatura responsável pelo vedamento
labial.
Ainda de acordo com CÔRREA et al. (1998), é fundamental que os profissionais que
atendam crianças estejam aptos a fazer o diagnóstico do quadro de respiração bucal e motivar os
pais para a importância da eliminação da causa da obstrução nasal. Isto poderá ser feito,
alertando-os para as conseqüências da respiração bucal, que envolvem deformidades da face,
maloclusões e problemas funcionais.
2.2.4 Mastigação
A interação entre o rápido crescimento do esqueleto craniofacial e a maturação do
sistema neuromuscular leva a modificações seqüenciais e progressivas das funções bucais
elementares presentes no recém-nascido, possibilitando o desenvolvimento das funções
consideradas pós-natais, onde está incluída a mastigação. ( ENLOW, 1975).
SIMÕES (1983) afirmou que a eficiência mastigatória é a "performance" adequada
dos ciclos mastigatórios, onde mecanismos compensatórios fisiológicos dispõem os músculos da
ATM e demais estruturas do sistema estomatognatico ern perfeita adaptação funcional.
De acordo com PLANAS (1988), os primeiros movimentos mastigatórios são
irregulares e pouco coordenados, sendo que quando a dentição decidua se completa, os ciclos mastigatórios tornam-se mais definidos, instalando-se um circuito neural que proporciona o