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III FÓRUM DE PESQUISA FAU.MACKENZIE I 2007

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ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA: MVRDV E A EXPERIÊNCIA HOLANDESA

Lizete Maria Rubano1

É bastante sedutora a idéia de um lugar que não busca a intermediação entre o homem e a natureza pelo monumento. Ou ainda, um lugar em que “paisagem e arquitetura têm-se submetido à necessidade de manter um delicado equilíbrio entre natureza e artifício” (Peter Buchanan. Actualidad de uma tierra artificial. Nuevos movimientos em la tranquilidad holandesa in A&V 19(1989), p.4).

E onde uma quadra de basket associada a um bar pode receber um destaque pelo primor da simplicidade e por abrigar, assim, a atividade humana corriqueira, diária, não excepcional.

E, me parece, é justamente por isso que essa arquitetura é reconhecidamente excepcional. Talvez porque agregue ingredientes que vão da complexidade da compreensão e reinterpretação das

condições postas às cidades e à vida, hoje, ao estímulo e valor dados às condições reais e objetivas do mundo.

E assim ele é visto, por muitos dos arquitetos que hoje se colocam como intérpretes destas condições: configurado por dados reais e objetivos e que podem ser entendidos não pela simplificação que esse raciocínio é capaz de sugerir, mas pela complexidade do tempo histórico, dos processos do mundo dos homens.

1 Professora Doutora da FAU Mackenzie.

A idéia de que a consideração desses dados faz com que a arquitetura e o urbanismo sejam ciência, investiguem de forma perspicaz e rigorosa a realidade, pode gerar algum interesse.

A idéia da “fadiga do objeto” (Bart

Lootsma, reading MVRDV, p.35) não é de todo nova para a arquitetura holandesa: o excesso de estímulo pode tornar igual o que é aparentemente diferente. E parece que a diferença não interessa em si: “(...) a expressão do objeto individual tornou-se ridícula: num massivo ‘mar de raridades’ o objeto individual simplesmente deixou de existir. Nesta massificação, arquitetura tornou-se sinônimo de urbanismo”. E se o urbano é tema e foco do olhar então não há porque atribuir forma, ou seja, uma resposta subjetiva às condições reais e objetivas do mundo. (Tafuri, 1985 – projecto e utopia).

O que parece que age como motivação nada tem a ver com entendimento linear dos processos humanos e coletivos com expressões no urbano e na escala do edifício, mas o seu contrário: a

complexidade do mundo, com seus tons, diversidades, anacronismos, tempos diversos, estruturas elaboradas e estratégias é que é a matéria-prima! Uma matéria-prima adversa, cruel, sem utopias, gerada pelo movimento do mundo e que, por isso mesmo, tão forte como ponto de partida ao pensamento intelectual que deveria gerar arquiteturas e possibilidades às cidades.

Reinventar o mundo talvez seja mais simples que reintendê-lo a cada momento, com a perspectiva de – ao decifrá-lo – aproximar-se mais e mais da

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condição da vida humana, se não essencial, a do convívio, que faz os homens vivenciarem o processo civilizatório.

Esse processo pode não ser disciplinador. Civilizar não é ordenar e sugerir que todas as escalas da vida humana caibam no seu devido lugar.

Os Crimson (estúdio com sede em Roterdã, formado por historiadores da Arquitetura) falam do poder da

transgressão para que, assim vista, possa compor as chamadas estratégias

projetuais.

Assim são as informações que nos chegam da Holanda. País de gente loira, que dá lugar para os temas da condição humana, mas que também ganha terra do mar, constrói o artifício e reinventa a natureza. O exercício de traduzir a diversidade, de aceitar a complexidade como tema parece não ser, em muitas ocasiões, possível às especificidades da arquitetura , dado seu apelo pela realização da obra, como se isso exigisse subtrações consideráveis de partes dessa composição de assuntos para realizar, construir.

Para o MVRDV, essas subtrações representam o exato oposto da

minimização de aspectos da realidade: suas “hungry boxes” devoram o programa, subtraindo do cheio tudo aquilo que o programa exige para que, de maneira complexa, se façam as circulações verticais e horizontais, apareçam

associados espaços meio inusitados, para que se recrie a natureza no interior do bloco, para que se reproduzam, sem repetir, possibilidades espaciais.

Figura 1: “Hungry boxes”

Fonte: Metrópole. 5ª. Bienal Internacional de Arquitetura e Design de São Paulo.

Algumas de suas experiências são radicais nesse sentido. Porque as condições hoje colocadas são radicais. Talvez não no que se refere ao conflito de classes propagado pelo materialismo histórico, mas pelos abismos de outra natureza que se apresentam à condição humana, dados pela ausência de trabalho, que,

ciclicamente, as pessoas perseguem e rechaçam. Ou pela esfera do possível mas não desejado: a possibilidade do percurso pela falta de alternativa e com todos os recursos tecnológicos disponíveis. Qual é a arquitetura (ou as arquiteturas?) que se aproxima de um mundo com menos oferta de trabalho humano, que pressupõe o convívio cada vez mais premente da diversidade e onde o

equilíbrio entre a vida humana no planeta e as possibilidades de recursos recicláveis ou não esgotáveis é uma equação cada vez mais difícil?

É por isso que para o MVRDV essa é uma das principais e primeiras questões: A nova era será crucial para o clássico papel da arquitetura. Originalidade e autenticidade serão desafiadas e o papel do arquiteto questionado. O que pode vir

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a ser seu novo papel? Há ainda alguma mútua relação? (Winy Maas, p.139). Como a arquitetura pode facilitar mudanças sociais e técnicas e, ainda, inovações econômicas? Como ela pode criticar o comportamento (urbano e global corrente?)

Resumindo, pode a arquitetura ainda uma vez novamente oferecer uma perspectiva? (Winy Maas, p.141).

O papel que cabe à arquitetura e ao urbanismo é recolocado como questão. O ateliê (realizado com estudantes da UPC- Barcelona e coordenado por Winy Maas, além de outros professores) voltado ao tema do turismo na Costa Ibérica pode ser um exemplo expressivo de outras estratégias projetuais, apresentadas e realizadas pelo escritório.

O turismo predatório, que – dentre tantas - representa mais uma forma de consumo ágil e superficial, agora do território, é apresentado muito mais como situação de estudo e de identificação de como compõe o painel de desejo desses consumidores, que de maneira à demonizá-lo, afastando as possibilidades de um possível

enfrentamento de temas considerados “menores” aos potenciais da profissão. A Costa é detalhadamente estudada e nenhuma informação é abandonada à própria sorte: todas compõem o mosaico divertido do turismo: o tipo de

alimentação, as roupas, os horários associados às atividades das pessoas, o que elas fazem, como são os hotéis em que ficam, quem são essas pessoas... Tudo para responder a essa situação dada a partir de uma estratégia urbana e

arquitetônica: que trate o território como artifício (dê a eles mais daquilo que querem – superfície de praia, área de compras, hotéis, parques temáticos...) com a contrapartida de adensar ao máximo as áreas construídas para liberar ao máximo as condições dadas pela natureza...

Figura 2: Benidorm. Alicante, Espanha Fonte: Costa Ibérica, MVRDV, 2000.

Por isso as densidades são essenciais no trabalho do MVRDV: por meio delas libera-se território, atribui-se valor, conforma-se possibilidades urbanas e metropolitanas.

As experiências com o morar revelam preocupações combinadas entre modo de vida e densidade. E, às vezes, mais: muitas vezes – quase sempre – tempos anteriores são resgatados com nova intenção: de crítica e de atualização. A forma urbana, o desenho de quadra, as relações entre o construído e os vazios, os pátios, já foram redesenhados pelo escritório, a partir da perspectiva de reinterpretar formas reconhecidas (os mietkaserne em Berlim voids, a ocupação regular e perimetral da quadra em Sanchinarro), possibilidades colocadas à releitura de estruturas historicamente dadas quando se acrescenta o tema das densidades e da ocupação intensiva do território urbano.

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Figura 3: “Berlin Voids” Fonte: El Croquis 86+111.

Figura 4: Estudos para o edifício habitacional em Sanchinarro, Madrid, Espanha.

Fonte: El Croquis 86+111

Dessa forma, a própria experiência da verticalização é revista: as circulações verticais não são racionais e contínuas, não há pavimento-tipo, o edifício não se estrutura necessariamente em base, corpo e coroamento. Os percursos horizontais e verticais agora são ruas que articulam apartamentos afins, unidades de

vizinhança que não mais se estendem ao largo do território urbano, mas que se concentram em agrupamentos verticais , as unidades habitacionais diversas associam-se pela proximidade – entre si, conformando núcleos de artistas, jovens casais, famílias com filhos, pessoas que moram sós, etc. As “três partes” do edifício diluíram-se por sua extensão : há praças elevadas, ruas, jardins em altura.

Figura 5: Estudos volumétricos para bloco habitacional em Amsterdã. Silodam Fonte: El Croquis 86+111.

Muitos modelos são produzidos nesse processo, destacando-se o tratamento não monolítico dado aos blocos verticais vistos, entretanto, sempre como

estruturas que compõem sistemas e não como objetos em si.

O espaço contínuo do moderno, onde a escala do espaço urbano livre justaposto coloca-se de maneira adversa ao que é possível para o caminhar do pedestre aparece revisto: associando a

intermitência desejada desse espaço à dobra da área, gerando uma nova topografia, que potencializa o uso do térreo, sombreado, diverso, e o eleva à cobertura. A cobertura é também um térreo-parque possibilitando – e potencializando – o uso. Assim é o projeto da Vila “Voladora”, uma quadra habitacional para Viena.

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Figura 6: Nova topografia dada pela dobra. Vila “voladora”. Viena

Fonte: El Croquis 86+111.

Figura 7: Vila “Voladora”, Viena. Fonte: EL Croquis 86+111

Uma arquitetura que não quer representar, insere-se como estrutura frente a

diferentes modos de vida, que está presente como agente e testemunha de um mundo de dinâmicas sempre novas. Uma arquitetura que se deseja seja parte de um tempo.

MVRDV JACOB VAN RIJS

NATHALIE DE VRIES

WINY MAAS

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