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RISCOS OCUPACIONAIS EM SALÕES DE BELEZA

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Academic year: 2021

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RISCOS OCUPACIONAIS EM SALÕES DE BELEZA

Vera Regina Marques Jader Cardoso

Programa de Pós-graduação em Saúde e Desenvolvimento Humano email: veremarq@gmail.com

Resumo:

Os salões de beleza são estabelecimentos onde diversos riscos à saúde dos seus profissionais podem estar presentes. Estes riscos estão representados por agentes físicos, como o ruído; químicos, como as tinturas e/ou alisantes; biológicos, como vírus, fungos e bactérias; e condições ergonômicas desfavoráveis, como os movimentos repetitivos e posturas estáticas.

O objetivo deste trabalho é abordar as situações de risco encontradas em um salão de beleza e colaborar com seus profissionais, no sentido de esclarecer que danos podem decorrer da exposição a esses agentes e apresentar-lhes algumas medidas de prevenção.

Palavras-chave: salões de beleza; riscos ocupacionais.

Introdução:

Os salões de beleza são estabelecimentos onde diversos riscos à saúde dos seus profissionais podem estar presentes. Estes riscos estão representados por agentes físicos, químicos, biológicos e ergonômicos. Os vários produtos usados em salões de beleza e clínicas de estética podem causar efeitos nocivos e doenças ocupacionais aos profissionais que passam grande parte da vida produtiva em ambientes expostos a essas substâncias químicas. Na maioria das vezes, os profissionais desconhecem seus possíveis efeitos sobre a saúde, em função da sua diversidade no ambiente estético capilar e corporal (Souza, 2009). Em um trabalho realizado por pesquisadores de Minas Gerais (Garbaccio, 2013), constata-se não adesão às medidas de biossegurança preconizadas para os salões de beleza; a explicação para tal conduta foi à falta de informação. Por isso, trata-se de um ambiente cujo potencial dano à saúde deve ser pesquisado e trazido ao conhecimento dos que neste ambiente trabalham (Sarda,2011). Conhecer possibilidades e riscos de transmissão de doenças, noções de higiene, de processos, desinfecção de utensílios e instrumentos e o cuidado no uso de determinados produtos é fundamental na prestação desse tipo de serviço, com qualidade. (Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo

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Junho/2012). Entre os agentes de risco existentes em um salão de beleza, podemos listar os de natureza física, química, biológica e ergonômica.

Agentes físicos: Ruído

O uso constante (e, muitas vezes, por vários profissionais ao mesmo tempo), de secadores de cabelo, pode produzir ruído constante no ambiente, que deve ser medido por medidor de pressão sonora, também conhecido por “decibelímetro”. A legislação brasileira considera insalubre a exposição de oito horas diárias a um nível de 85 decibéis. No entanto, os valores aceitáveis como conforto acústico situam-se até 55 dB (A), podendo a superação persistente dos limites legais redundar em reduções da sensibilidade auditiva, problemas relacionados ao sono, hipertensão, alterações gástricas, entre outros aspectos (Palma, 2009). O decibelímetro utilizado neste trabalho foi o aparelho de marca Decíbelímetro Minipa MSL-1352 C, operado pelo Técnico de Segurança do Trabalho Glaito Brum da Cruz, do Departamento de Atenção à Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. No salão visitado, mediram-se níveis de pressão sonora emitidos pelos secadores de cabelo que variaram entre 72,9 decibéis a 77,2 (76,9 e 77,9 na altura do ombro do cabeleireiro e 73,5 e 72,9 como ruído de fundo, no ambiente. No entanto, sabe-se que a exposição excessiva ao ruído pode causar outros problemas à saúde, tais como estresse auditivo já sob exposições a 55 dB, bem como reações o aumento da pressão sanguínea, do ritmo cardíaco e das contrações musculares; o aumento da produção de adrenalina e outros hormônios; irritabilidade; ansiedade; insônia e estresse (Ferreira 2013). Agentes químicos: Formaldeído (Formol); Amônia; Corantes permanentes

O formaldeído é um aldeído muito utilizado na indústria, principalmente como germicida, na fabricação de pesticidas e componente de produtos cosméticos, como por exemplo, os alisantes capilares. Apesar da proibição do uso do formol pelos órgãos reguladores, ele ainda é utilizado em vários locais para alisamento capilar (Macagnan et al, 2014). O formaldeído (formol) é um composto líquido incolor, com odor forte e irritante, solúvel em água e altamente reativo, além de possuir moderada flamabilidade. É em absorvido no trato respiratório e gastrointestinal, porém, é pouco absorvido pela via dérmica. Conforme Resolução nº 335 de 22 de julho de 1999 da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), os produtos de higiene pessoal e perfumes, bem como cosméticos, são divididos em duas categorias de acordo com o grau de risco que representam à saúde humana: GRAU DE RISCO 1 (produtos com risco mínimo para a segurança humana) e GRAU DE RISCO 2 (produtos com risco potencial para a segurança humana). Para avaliar os produtos de grau de risco 2, a Resolução 215/05 da ANVISA apresenta uma lista restritiva de substâncias que, quando utilizadas, devem seguir um protocolo específico para não acarretarem danos prejudiciais à saúde humana. O formol só é permitido pela ANVISA na função de conservante em uma concentração de até 0,2 %, conforme Resolução 162/01 e como agente endurecedor de unhas a uma concentração de até 5 % conforme Resolução 215/05. Qualquer utilização além dessas permitidas pode acarretar danos gravíssimos à saúde. Segundo o IARC (International Agency for Research on Cancer), o formol é um produto carcinogênico. Em relação a sintomas agudos, a pesquisa de Macagnan (2014) mostra que os sintomas mais comuns apresentados por usuários de “escovas progressivas” contendo formol foram: irritação ocular, ardência e lacrimejamento. A amônia é um composto químico (NH3), que atua na fixação do corante ao fio capilar, devendo apresentar-se numa concentração máxima de 6% (ANVISA,

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Resolução 79 de 28 de agosto de 2000). No entanto, estudos mostram que tal concentração é excedida nos produtos existentes no mercado. Um dos problemas mais comuns de saúde, nos cabeleireiros, devido à amônia, são os problemas respiratórios, visto que o produto é um potente irritante das vias aéreas (Hemielewski ,2007), além de ser um irritante da pele e mucosas.

Os corantes permanentes, especialmente a p-fenilenodiamina (PFD), são os mais usados nas tinturas de cabelo. Junto com precursores, acopladores, aditivos, entre outros, são considerados os ingredientes mais reativos da indústria cosmética, o que torna o processo de tintura de cabelos bastante complexo (Oliveira, 2014). Em 2006, a p-fenilenodiamina (PFD) foi classificada pela Sociedade Americana de Alergia de contato como o "alérgeno de contato do ano". Hoje é conhecido que a exposição aguda à PFD pode causar graves tipos de dermatites, irritação nos olhos e asmas principalmente em profissionais que aplicam as tinturas e, em casos de ingestão acidental, pode levar a quadros graves de intoxicação, induzindo a gastrite, a insuficiência renal, a vertigem, os tremores, as convulsões e o coma em seres humanos e que por isso ela merece especial atenção (Oliveira, 2014).

Agentes biológicos: vírus, fungos, bactérias, ácaros

Nas atividades de cabeleireiro e manicure os riscos biológicos estão presentes e há uma série de doenças infecciosas que podem ser transmitidas, dentre elas: Pediculose - causada pelo piolho; Escabiose - também chamada de sarna é uma doença causada por um ácaro. As Hepatite B e C - doenças causadas por vírus que atacam o fígado – também podem originar-se em ferimentos cortantes e contato com o sangue de alguém infectado. As micoses são infecções causadas por fungos, que necessitam de tratamento médico especializado. Atacam principalmente pele e unhas. Os principais riscos de acidentes presentes nos salões são: cortar-se com tesouras e navalhas, cortar-se com alicates, perfurações por uso de espátulas e afastadores de cutículas (Sarda 2011).

Condições Ergonômicas:

A Ergonomia lida com as respostas do corpo humano à carga física e psicológica. Tópicos relevantes incluem manipulação de materiais, arranjo físico de estações de trabalho, demandas do trabalho e fatores tais como repetição, vibração, força e postura estática, relacionada com lesões músculo-esqueléticas. Num salão de beleza, encontram-se repetitividade das tarefas; posturas estáticas e movimentos repetitivos, o que pode gerar cansaço físico, dores corporais e cansaço físico e mental, pois todos estes fatores desenvolvem-se, normalmente, durante longas jornadas de trabalho. Nas mãos, punhos, cotovelos e ombros, podem ocorrer tendinites e tenossinovites pelos movimentos repetitivos e pela força; nos membros inferiores, dor e edema , devido às longas horas em pé ou sentados; nas costas, dor e problemas de coluna, pelas posturas estáticas adotadas no atendimento, especialmente as manicures.

A Intervenção:

Realizamos uma reunião com o dono de um salão de beleza, a quem propusemos desenvolver um trabalho de conscientização para os colaboradores do salão, sobre

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os riscos à saúde existentes em suas atividades. Como estes profissionais trabalham até doze horas por dia e não dispõem de tempo para reuniões, pois isso implicaria perda de clientes, a proposta foi a de:

● Visitar o salão;

● Avaliar as diversas atividades desenvolvidas; ● Medir os níveis de pressão sonora;

● Fazer um levantamento sobre os agentes químicos presentes nos produtos

usados;

● Elaborar um relatório, entregue ao proprietário, com informações sobre os

riscos existentes;

● Elaborar um folder para entregar aos colaboradores do salão, contendo

medidas preventivas.

Desenvolvimento da Intervenção:

O relatório e um folder foram realizados e entregues aos profissionais do salão; o relatório lhes permitiria, de forma mais explícita, conhecer informações sobre os riscos existentes em suas atividades ocupacionais e as medidas preventivas contra tais riscos; o folder, contendo dados sobre medidas preventivas, seria entregue individualmente a cada colaborador.

Considerações Finais:

Embora não haja uma clara percepção, nem por parte do público nem dos próprios profissionais da área, um salão de beleza contém vários riscos ocupacionais. Daí a necessidade desses trabalhadores conhecerem os agentes de risco que podem causar danos à sua saúde e saberem como prevenir-se contra eles. No presente estudo, foi possível detectar uma série de condições gravosas à saúde desses trabalhadores, decorrentes de sua exposição (geralmente de até doze horas diárias) a agentes químicos, físicos, biológicos e condições ergonômicas inadequadas. Consideramos que as informações constantes no material produzido será útil a um melhor conhecimento dessa situação e à prevenção dos danos que daí podem decorrer. REFERÊNCIAS

Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo

Junho/2012. Manual de Orientação para instalação e funcionamento de Institutos de Beleza.

FERREIRA, Amanda Lima, Os riscos ocupacionais à saúde auditiva presentes em um salão de beleza. http://www.webartigos.com/artigos/os-riscos-ocupacionais-a-saude-auditiva-presentes-em-um-salao-de-beleza/119046/

GARBACCIO, Juliana Ladeira; Oliveira, Adriana Cristina de. O risco oculto no segmento de estética e beleza. Uma avaliação do conhecimento dos profissionais e das práticas de biossegurança nos salões de beleza. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2013 Out-Dez; 22(4): 989-98.

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HEMIELEWSKI, Caroline; Silveira, Rosimar Leitenberg da. Compostos nocivos ao organismo presentes em tonalizantes capilares. Disc. Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 8, n. 1, p. 41-49, 2007.

MACAGNAN, Karyn Kristyni; Sartori, Mara Rubia Keller; Castro, Fábio

Godinho de. Sinais da toxicidade do formaldeído em usuários de produtos alisantes capilares. Cadernos da Escola de Saúde, Curitiba, 2014.

MESSEDER, J. C. Riscos químicos em ambientes profissionais: uma possibilidade temática para cursos de graduação tecnológica. Universidade Estácio de Sá. RJ, 2006.

OLIVEIRA A. G. Ricardo; ZANONI, Thalita B; BESSEGATO, Guilherme; OLIVEIRA, Danielle P; UMBUZEIRO, Gisela A.; ZANONI, Maria Valnice B. A química e toxicidade dos corantes de cabelo. Quím. Nova vol.37 nº. 6. São Paulo July 2014. http://dx.doi.org/10. 5935/01004042.20140143

PALMA, Alexandre, Nível de ruído no ambiente de trabalho do professor de educação física em aulas de ciclismo indoor, Rev. Saúde Pública vol.43 no. 2 São Paulo Apr. 2009 http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102009000200016

SARDA, Lais Karine; LÍBANO, Luciane Alice; LEITE, Marcos Augusto Paula; da Luz Neto, NOGUEIRA, Pedro. Análise de riscos de um salão de beleza para verificação da conformidade com as normas. Cadernos de Publicações Acadêmicas. (2011).

https://periodicos. ifsc.edu.br/index.php/publicacoes/article/download/57/21

SOUZA, Nileny Fabiana de Oliveira; SOARES, Jose Lopes Neto. Caracterização do potencial poluidor por salões de beleza em Palmas – TO. www.catolica-to.edu.br

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