• Nenhum resultado encontrado

O pleito, porém, foi indeferido, nos seguintes termos: Irresignada, a reclamante ajuizou esta reclamação sustentando que,

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O pleito, porém, foi indeferido, nos seguintes termos: Irresignada, a reclamante ajuizou esta reclamação sustentando que,"

Copied!
7
0
0

Texto

(1)

Trata-se de reclamação, com pedido de medida liminar, ajuizada por

Mayara Rayanne Oliveira de Almeida, contra ato do Diretor da

Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), que teria

desrespeitado a decisão proferida na ADI 3.324/DF, Rel. Min. Marco

Aurélio.

A reclamante, estudante de direito da Universidade Federal da

Paraíba (UFPB), narra que seu pai, membro do Ministério Público

Federal, foi promovido, por merecimento, do cargo de Procurador da

República para o de Procurador Regional da República, o que acarretou a

transferência dele ex officio para a capital do Estado de São Paulo.

Em razão desse fato, seu genitor requereu sua transferência ex officio

para o curso de direito da Universidade do Largo de São Francisco, com

fundamento no art. 1º da Lei 9.536/1997.

O pleito, porém, foi indeferido, nos seguintes termos:

“O servidor público ROBERTO MOREIRA DE ALMEIDA

requer, com base nas leis 9.394/96, 9.536/97 e 8.112/90, transferência

de sua dependente Mayara Rayanne Oliveira de Almeida do Curso de

Direito da Universidade Federal da Paraíba para esta Unidade.

Com fundamento nos pareceres, em anexo (e que passam a fazer

parte integrante do despacho), das ilustres administrativistas e

Professoras Titulares Maria Sylvia Zanella Di Pietro e Odete

Medeaur, e da Professora Associada Nina Beatriz Stocco Ranieri,

dados em casos semelhantes, indefiro o pedido de matricula formulado

pelo interessado.

Ressalte-se, de modo especial, que a Constituição da República

(art. 22, XXIV), apesar de determinar que a União possa legislar sobre

'diretrizes e bases da educação nacional', não impõe às universidades

públicas

estaduais,

mantidas

com

impostos

estaduais,

a

obrigatoriedade de acolher matriculas de funcionários públicos federais

(ou seus dependentes), transferidos de faculdades ou universidades

públicas. Tal específica prerrogativa, além de não configurar-se como

'diretriz', nem tampouco 'base da educação nacional', lesaria, se

acolhida, a própria autonomia da Egrégia Universidade de São Paulo

(USP)”.

(2)

ao julgar a ADI 3.324/DF, esta Corte reconheceu a constitucionalidade do

art. 1º da Lei 9.536/1997 e teria fixado o entendimento de que as

autoridades de ensino estão obrigadas a proceder a matrícula de

servidores públicos transferidos de ofício bem como de seus

dependentes, desde que as instituições de ensino sejam congêneres, como

na espécie.

Argumenta, ademais, que a USP, com essa postura, terminou por

declarar inconstitucional o citado dispositivo legal, em afronta ao

decidido na ADI 3.324/DF.

Requer, por essas razões, o deferimento de liminar para afastar o ato

reclamado, determinando-se sua matricula no curso de Direito da USP.

No mérito, pugna pela procedência da ação, a fim de confirmar a

liminar requerida, tornando definitiva a matrícula.

É o relatório necessário.

Decido.

Verifico, desde logo, a manifesta inadmissibilidade do pedido

veiculado nesta reclamação.

Com efeito, a ADI 3.324/DF foi proposta pela Procuradoria Geral da

República contra o art. 1º da Lei 9.536/1997, assim redigido:

“Art. 1º A transferência ex officio a que se refere o parágrafo

único do art. 49 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, será

efetivada, entre instituições vinculadas a qualquer sistema de ensino,

em qualquer época do ano e independente da existência de vaga,

quando se tratar de servidor público federal civil ou militar estudante,

ou seu dependente estudante, se requerida em razão de comprovada

remoção ou transferência de ofício, que acarrete mudança de domicílio

para o município onde se situa a instituição recebedora ou para a

localidade mais próxima desta”.

O Parquet alegou, em síntese, que o citado dispositivo encerraria

“a possibilidade de egressos de instituições privadas virem a ser

transferidos para instituições públicas, com ofensa ao disposto nos

(3)

artigos 5º, cabeça e inciso I; 37, cabeça; 206, inciso I a VII; 207,

cabeça; 208, inciso V, da Constituição Federal”.

A ação foi julgada procedente em parte, conferindo-se interpretação

conforme à Constituição ao art. 1º da Lei 9.536/1997, a fim de excluir a

possibilidade de transferência de instituição particular para pública.

Extraio, por oportuno, do acórdão do mencionado julgamento:

“(...) acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em

sessão plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas

taquigráficas, por unanimidade, em julgar procedente, em parte, a

ação para, sem redução do texto do artigo 1º da Lei nº 9.536, de 11 de

dezembro de 1997, assentar a inconstitucionalidade no que se lhe

empreste o alcance de permitir a mudança, nele disciplinada, de

instituição particular para pública, encerrando a cláusula 'entre

instituições vinculadas a qualquer sistema de ensino' a observância da

natureza privada ou pública daquela de origem, viabilizada a

matrícula na congênere. Em síntese, dar-se-á a matrícula, segundo o

artigo 1º da Lei nº 9.536/97, em instituição privada se assim o for a de

origem e em pública se o servidor ou o dependente for egresso de

instituição pública, tudo nos termos do voto do relator”.

Colho também do esclarecimento prestado pelo relator no

julgamento:

“Senhor Presidente, apenas para explicitar, muito embora já

tenhamos, no fecho do voto, esse esclarecimento e a notícia no que

consignei, encerrando a cláusula entre instituições vinculadas a

qualquer sistema de ensino, a observância da natureza privada ou

pública daquela de origem, viabilizada a matrícula na congênere.

Em síntese, dar-se-á a matrícula, segundo o artigo 1º da Lei nº

9.536/97, em instituição privada, se assim o for a de origem, e em

pública, se o servidor ou o dependente for egresso de instituição

pública”.

Verifico, contudo, que outras discussões – como ausência de

instituições públicas ou privadas, conforme o caso, na localidade para a

qual o servidor foi transferido – não foram objeto de deliberação desta

Corte.

(4)

Confira-se o seguinte trecho elucidativo do acórdão:

“O SR. MINISTRO CARLOS BRITTO (…)

Então, parece-me que, combinando os votos dos Ministros Eros

Grau e Marco Aurélio, temos uma conciliação perfeita com os

dispositivos da Constituição. Porém, rapidamente, parece-me que há

uma situação que poderia ser objeto de nossa análise e decisão.

Convenhamos que o servidor, civil ou militar, transfira-se para uma

unidade da Federação ou uma cidade que não disponha de

universidade pública. Comportaria aí uma exceção?

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) -

Garanto que qualquer faculdade privada aceitará essa matrícula.

O SR. MINISTRO CARLOS BRITTO - Ótimo, a resposta está

excelente. Agora, foi a proposta que fiz, vamos inverter: e se não

houver universidade privada, só houver pública?

O SENHOR MINISTRO SEPÚLVEDA PERTENCE - Vai ser

difícil encontrar.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) -

Estamos raciocinando com o extravagante. Fugindo à realidade

brasileira.

O SR. MINISTRO CARLOS BRITTO - Eu quis apenas agitar

a idéia, se não seria objeto de uma ponderação de nossa parte. Mas isso

é uma observação que faço lateralmente, de modo secundário.

O SENHOR MINISTRO CARLOS VELLOSO - Mas a

observação de Vossa Excelência é interessante. Imaginemos que o

estudante esteja matriculado em um curso, lembrou a Ministra Ellen

Gracie, como oceanografia, que só existe em duas ou três

universidades brasileiras.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) -

Vamos deixar o deslinde para o processo subjetivo, o mandado de

segurança.

O SR. MINISTRO CARLOS BRITTO - Mas penso nessa

situação, embora seja uma observação lateral, não é central.

Centralmente, já estou de acordo com os dois votos. Mas pergunto a

Vossas Excelências, é possível sim ocorrer isso.

O SENHOR MINISTRO NELSON JOBIM (PRESIDENTE) -

Deixe para o mandado de segurança.

O SR. MINISTRO CARLOS BRITTO - Deixamos para o

controle difuso”.

Percebe-se, assim, que a questão da transferência de universidade

pública federal para instituição estadual não foi objeto de julgamento por

(5)

parte desta Corte, o que afasta de plano o cabimento deste feito.

E, como consignado por esta Corte, por ocasião do julgamento da

Rcl 6.534-AgR/MA, Rel. Min. Celso de Mello,

“os atos questionados em qualquer reclamação - nos casos em

que se sustenta desrespeito à autoridade de decisão do Supremo

Tribunal Federal - hão de se ajustar, com exatidão e pertinência, aos

julgamentos desta Suprema Corte invocados como paradigmas de

confronto, em ordem a permitir, pela análise comparativa, a

verificação da conformidade, ou não, da deliberação estatal impugnada

em relação ao parâmetro de controle emanado deste Tribunal”.

Não se pode, portanto, ampliar o alcance da reclamação, sob pena de

transformá-la em verdadeiro sucedâneo ou substitutivo de recurso,

ajuizada diretamente no órgão máximo do Poder Judiciário.

Diante, portanto, da ausência de identidade material entre os

fundamentos dos atos reclamados e aqueles emanados dos paradigma

invocados, não merece seguimento a pretensão da reclamante.

Destaco, ainda, que há outro óbice intransponível para o

conhecimento do pedido.

A transferência de que trata o art. 1º da Lei 9.536/1997 e que foi

concretamente analisada no mencionado julgamento da ADI 3.324/DF é

aquela ex officio, ou seja, aquela compulsória, feita à revelia do servidor

público, no interesse da Administração.

Nesse sentido, transcrevo passagem do voto do Min. Marco Aurélio

na ADI 3.324/DF:

“(...)

O artigo 99 da Lei nº 8.112/90 e o 1º da Lei nº 9.536/97

repousam em razão de ser única - a conveniência e, diria mesmo, a

necessidade de ato da Administração Pública, de ato de interesse do

Estado, não resultar em prejuízo na área sensível que é a da educação.

A nova matrícula do servidor ou do dependente, seja ele civil ou

militar, é, social e constitucionalmente, aceitável, preservando-se a

situação existente e, com isso, eliminando-se o prejuízo, no que

(6)

buscado aperfeiçoamento que, em última análise, reverte em benefício

da administração pública, alfim da própria sociedade. É dado assentar

uma premissa: mostra-se em harmonia com a Carta da República texto

que assegure a matrícula em instituição de ensino no local de destino,

evitando-se o dano que adviria do fato de a Administração Pública

haver exigido a prestação de serviços, o trabalho, em outra localidade”.

Na mesma linha foi a manifestação do Min. Ayres Britto:

“(...)

Para começar meu exame, assino embaixo quanto à

categorização técnica desse direito como prerrogativa - o Ministro

Eros Grau assim o fez -, dizendo que esse direito, que tem o servidor

público, tanto civil quanto militar, estudante, de transferir-se para

estabelecimento de ensino, ou um seu dependente também estudante, é

uma prerrogativa do servidor público, que decorre, parece-me, de duas

razões básicas: a primeira, porque educação é um direito social, está

dito na cabeça do artigo 6º da Constituição; a segunda, porque esse

tipo de prerrogativa consulta aos interesses da Administração Pública,

que também têm assento diretamente constitucional, artigo 37 e

seguintes, quando a própria Administração é que promove a

transferência do servidor, portanto, por impulso dela e não do

servidor” (grifei).

Também o Min. Gilmar Mendes assentou:

“(...)

Verifica-se ao exame deste dispositivo legal que só cabe a

transferência ex officio quando comprovada a transferência ou

remoção de ofício do servidor, ou seja, por imperativos da

Administração Pública”.

Dessa forma, como o genitor da reclamante foi promovido a pedido

para o cargo de Procurador Regional da República e não

compulsoriamente no interesse da Administração, não poderia se valer

de julgado desta Corte que examinou o disposto no art. 1º da Lei

9.536/1997.

Ressalto, por fim, que o Plenário deste Tribunal reconheceu a

validade constitucional da norma legal que inclui, na esfera de atribuições

do Relator, a competência para negar seguimento, por meio de decisão

(7)

monocrática, a recursos, pedidos ou ações, quando inadmissíveis,

intempestivos, sem objeto ou que veiculem pretensão incompatível com a

jurisprudência predominante no Supremo Tribunal.

Nesse sentido, nos termos do art. 21, § 1º, do RISTF, poderá o

Relator:

“negar seguimento a pedido ou recurso manifestamente

inadmissível, improcedente ou contrário à jurisprudência dominante

ou a Súmula do Tribunal, deles não conhecer em caso de

incompetência manifesta, encaminhando os autos ao órgão que repute

competente, bem como cassar ou reformar, liminarmente, acórdão

contrário à orientação firmada nos termos do art. 543-B do Código de

Processo Civil” (grifei).

Por todas essas razões, assentando sua manifesta inadmissibilidade,

nego seguimento a esta reclamação. Prejudicado, pois, o exame da

liminar.

Publique-se.

Brasília, 14 de junho de 2012.

Ministro RICARDO LEWANDOWSKI

- Relator -

Referências

Documentos relacionados

insights into the effects of small obstacles on riverine habitat and fish community structure of two Iberian streams with different levels of impact from the

Muitos desses fungos podem ser encontrados nos grãos de café durante todo o ciclo produtivo, porém sob algumas condições especificas podem causar perda de

Para devolver quantidade óssea na região posterior de maxila desenvolveu-se a técnica de eleva- ção do assoalho do seio maxilar, este procedimento envolve a colocação de

Acrescenta que “a ‘fonte do direito’ é o próprio direito em sua passagem de um estado de fluidez e invisibilidade subterrânea ao estado de segurança e clareza” (Montoro, 2016,

De acordo com o Consed (2011), o cursista deve ter em mente os pressupostos básicos que sustentam a formulação do Progestão, tanto do ponto de vista do gerenciamento

Desse modo, tomando como base a estrutura organizacional implantada nas SREs do Estado de Minas Gerais, com a criação da Diretoria de Pessoal, esta pesquisa permitirá

O Programa de Avaliação da Rede Pública de Educação Básica (Proeb), criado em 2000, em Minas Gerais, foi o primeiro programa a fornecer os subsídios necessários para que

Este questionário tem o objetivo de conhecer sua opinião sobre o processo de codificação no preenchimento do RP1. Nossa intenção é conhecer a sua visão sobre as dificuldades e