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DECISÃO. Juiz de Direito: Dr. Renato de Andrade Siqueira. fls. 1411

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Academic year: 2021

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DECISÃO

Processo Digital nº: 0001694-21.2017.8.26.0127

Classe - Assunto Procedimento Investigatório Criminal (pic-mp) - Crimes de Responsabilidade

Autor: Justiça Pública

Denunciado: SERGIO RIBEIRO SILVA E OUTROS

Juiz de Direito: Dr. Renato de Andrade Siqueira

Vistos.

1. Nos termos do artigo 396 do Código de Processo Penal, RECEBO a denúncia e seu aditamento formulados pelo órgão do Ministério Público do Estado de São Paulo, em face dos acusados SÉRGIO RIBEIRO SILVA e STASYS ZEGLAITIS JÚNIOR, já qualificados nos autos, ora apontados como incurso nas penalidades do artigo 89, caput, da Lei 8.666/93, c.c. o artigo 29, do CP, e no artigo 1º, inciso I, do Decreto-Lei 201/67, na forma do artigo 71, caput, c.c. o artigo 29, ambos do CP, na forma do artigo 69, caput, também do Código Penal; bem como em face dos acusados ALÉCIO CASTELUCCI FIGUEIREDO, JOSÉ JARBAS PEREIRA e TIAGO RODRIGO PEREIRA, também qualificados nos autos, ora apontados como incurso nas penalidades do artigo 89, parágrafo único, da Lei 8.666/93 e no artigo 1º, inciso I, do Decreto-Lei 201/67, na forma do artigo 71, caput, c.c. o artigo 29, ambos do CP, na forma do artigo 69, caput, também do Código Penal, uma vez que existem nos autos suficientes indícios de autoria e elementos que autorizam a propositura da presente ação penal.

Nesse contexto, a vestibular acusatória sustenta a acusação em inúmeros documentos, dentre eles:

a) Contrato de prestação de serviços entre o Município de Carapicuíba e a Sociedade de Advogados (fls. 391/396) e respectivos aditivos contratuais (fls. 397/401);

b) Comunicado de ilegalidade das contratações semelhantes, emitido pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, publicado em 29/08/2013 (fls. 402);

c) Expediente para avaliação de inexigibilidade 017/09, processo administrativos nº 9.482/09 (fls. 496/506);

d) Depoimento prestado pelo senhor Alexandre Domingues Gradim, atual proprietário da empresa inscrita no CNPJ 07.693.297/0001-50, a qual firmou o contrato descrito na denúncia (fls. 520/526);

e) Documento firmado pelo réu José Jarbas, em nome do aludido escritório (fls. 558);

f) Nota explicativa na qual o mencionado escritório de advocacia afirma suceder a Finbank Consultoria e Assessoria Empresarial Ltda. (fls. 560);

g) Os depoimentos prestados pela ex-esposa do réu ALECIO, Ana Paula dos Santos Frisco Fiqueiredo, junto ao Ministério Público (fls. 563/564) – na qual a depoente afirma que era o réu TIAGO que detinha os dados bancários do aludido escritório e efetuava a transferência dos valores pagos;

h) Notas fiscais e ordens de pagamento dos valores referentes ao contrato impugnado.

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Denota-se que os documentos apontados nos itens "a", "b", "c" e "h" comprovam a contratação, com dispensa de licitação e os pagamentos apontados como desvio de verba pública. Ou seja, há prova da materialidade dos crimes imputados na denúncia.

Os demais itens trazem indícios de que os denunciados participaram dos crimes em apreço, de modo a preencher, ainda, o requisito de indícios de autoria necessários para o recebimento da denúncia.

Portanto, estão presentes elementos mínimos que asseguram a justa causa para o recebimento da denúncia e início da ação penal em desfavor do réu.

Citem-se os réus para que, no prazo de dez dias, apresente defesa preliminar acerca dos fatos descritos na denúncia.

Por ocasião da citação pessoal o réu deverá informar ao Oficial de Justiça encarregado da diligência se irá ou não constituir Defesa Técnica, fornecendo nome, endereço e número da inscrição na OAB de eventual Patrono.

2. No mais, passa-se a analisar a necessidade de aplicação de medidas cautelares, com fundamento no artigo 282 e seguintes do Código de Processo Penal.

A Lei 12.403/11, que alterou dispositivos do Código de Processo Penal, estipulou que as medidas cautelares penais serão aplicadas com a observância da necessidade de aplicação da lei penal, necessidade para a investigação ou instrução penal e para evitar a prática de infrações, devendo a medida em questão, ainda, ser adequada à gravidade do crime, às circunstâncias do fato e às condições pessoais do averiguado (art. 282 do CPP).

Nos termos do §2º do mencionado artigo 282, ainda, as medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de ofício ou mediante requerimento das partes, desde que já esteja em curso o processo penal. Se o juiz pode determinar a medida de ofício, com mais razão ainda poderá decretar outra medida além daquela requerida, com fundamento no poder geral de cautela.

Conforme acima fundamentado, ao decidir-se pelo recebimento da denúncia, estão presentes os requisitos para a decretação de qualquer medida cautelar, qual seja, o fumus comissi delicti e periculum in mora.

É cediço que a Lei 8.666/93 não prevê como hipótese de inexigibilidade ou dispensa de licitação a contratação da atividade de assessoria ou consultorias técnicas e auditorias financeiras ou tributárias, nem patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas, por si só. Ela apenas elenca essas atividades como "serviços técnicos profissionais especializados" (artigo 13, incisos III e V).

Nos termos de seu artigo 25, essa contratação apenas dispensará a licitação quando a atividade for de natureza singular, com profissionais ou empresas de notória especialização. Ainda, o §1º considera "de notória especialização o profissional ou empresa cujo conceito no campo de sua especialidade, decorrente de desempenho anterior, estudos, experiências, publicações, organização, aparelhamento equipe técnica, ou de outros requisitos relacionados com suas atividades, permita inferir que o seu trabalho é essencial e indiscutivelmente o mais adequado à plena satisfação do objeto do contrato".

Ou seja, exige-se dois requisitos: i) a natureza singular do objeto da contratação; e ii) a notória especialização do contratado.

No caso dos autos, por ora, não se verifica a natureza singular da atividade já que, nos termos do Comunicado SDG nº 32/2013 do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, publicado em 29/08/2013 (fls. 402), a atividade poderia ser feita pelos próprios servidores municipais.

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reduzido quadro de funcionários ou falta de qualificação, inviabilizassem essa atividade por seus servidores, é evidente que a atividade não é de natureza singular e sua contratação deveria ser precedida de processo licitatório.

No mais, ao menos por ora, não ficou demonstrada a notória especialização do contratado, já que se tratava de um serviço prestado por inúmeros escritórios de advocacia, não existindo nenhum atributo especial do contratado em relação aos demais.

Da análise inicial dos documentos carreados ao feito, nota-se que a contratação do mencionado escritório não foi precedida de pesquisas de valores, efetiva demonstração da especialidade nas áreas mencionadas bem como dos resultados obtidos, tampouco de consultas a outras firmas de advocacia aptas a exercerem o mesmo tipo de serviço, a indicar, em princípio, que se deu sem a demonstração dos requisitos legais acima descritos.

Portanto, está presente o requisito do fumus comissi delicti, já que, ao menos em tese, não foi exigida licitação, fora das hipóteses previstas em lei, o que teria acarretado em desvio de dinheiro público.

O perigo da demora é evidente. Consta dos autos que a questionada contratação, ensejou dano ao erário de R$ 39.179,660,52 (trinta e nove milhões cento e setenta e nove mil, seiscentos e sessenta reais e cinquenta e dois centavos), importância esta correspondente aos valores que deixaram de ser recolhidos pelo município de Carapicuíba, bem como relativos aos honorários pagos indevidamente ao referido escritório de advocacia.

Ou seja, a continuidade da execução do contrato e realização dos pagamentos poderá causar prejuízo ainda maior aos cofres públicos.

2.1 Da suspensão do contrato e pagamentos

Com fundamento no acima exposto, DECRETO a suspensão do contrato de prestação de serviços entre o Município de Carapicuíba e a CASTELLUCCI FIQUEIREDO E ADVOGADOS ASSOCIADOS (inscrita no CNPJ sob o nº 07.693.267/0001-50) de fls. 391/396 e respectivos aditivos contratuais (fls. 397/401).

Ainda, DECRETO a suspensão de todo e qualquer pagamento referente ao mencionado contrato, aditivos contratuais, ou novos contratos firmados mediante sem a realização de licitação quanto ao mesmo objeto, em favor da CASTELLUCCI FIQUEIREDO E ADVOGADOS ASSOCIADOS (inscrita no CNPJ sob o nº 07.693.267/0001-50) ou quem lhe faça as vezes.

Expeça-se ofício ao Município de Carapicuíba, à sociedade de advogados, à Câmara Municipal e ao Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, comunicando-se da presente decisão.

2.2 Do réu SÉRGIO RIBEIRO SILVA

Alem dos mencionados requisitos acima descritos, para a aplicação das medidas cautelares deve estar presente a necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais (artigo 282, §1º, do CPP).

No caso dos autos, se depreende que os crimes apontados na inicial supostamente perduraram por longo período. Além disso, o réu apenas não continuou na sua prática em razão do fato de não poder concorrer nas eleições seguintes, pois já havia exercido dois mantados com Prefeito de Carapicuíba.

Dessa forma, ficou demonstrada a forma como se utilizou de especial confiança fornecida pela população de Carapicuíba para a suposta prática de ato criminoso e locupletamento

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ilícito, demonstrando que a sua atuação em algum cargo público coloca em risco a ordem pública em razão de fortes indícios pela possibilidade de reiteração.

Portanto, com fundamento no artigo 319, inciso IV, do Código de Processo Penal, DECRETO a medida cautelar de suspensão do exercício de qualquer função pública pelo réu SÉRGIO RIBEIRO SILVA.

Intime-se.

2.3 Do réu ALÉCIO CASTELUCCI FIGUEIREDO

Por absoluta identidade de razões, é de rigor a fixação de medidas cautelares diversas da prisão ao réu ALÉCIO.

Nesse contexto, se confirmada a tese acusatória, o réu funcionou como "testa de ferro" dos réus JOSÉ JARBAS e TIAGO ROGRIDO possibilitando a prática de supostas atividades criminosas não só na Comarca de Carapicuíba, mas também em outras localidades do Estado.

Para tanto, o réu ALÉCIO se utilizou da nobre atividade da advocacia, atividade essa indispensável à administração da justiça (artigo 133 da Constituição Federal), para a suposta prática de condutas criminosas.

Referida conduta demonstra o pouco respeito que o réu tem pela advocacia, bem como o não cumprimento do juramento que prestou ao ingressar nos quadros da Ordem. Portanto, a manutenção da especial confiança que é atribuída àquele que ostenta a carteira de advogado permitirá que o réu reitere na prática de atividades ilícitas – e acarretará enorme insegurança à ordem pública.

Portanto, com fundamento no artigo 319, inciso IV, do Código de Processo Penal, DECRETO a medida cautelar de suspensão do exercício da advocacia pelo réu ALÉCIO CASTELUCCI FIGUEIREDO.

Oficie-se à Ordem dos Advogados do Brasil comunicando-se dessa decisão, bem como intime-se o réu à entregar a carteira de advogado e respectiva brochura na seccional que está vinculado, comprovando em juízo.

2.4 Dos réus JOSÉ JARBAS PEREIRA e TIAGO RODRIGO PEREIRA

A prisão preventiva será determinada quando as outras cautelares se mostrarem insuficientes ou inadequadas para o caso concreto (art. 282, § 6º, do CPP).

Trata-se, em tese, de delito doloso cuja pena máxima supera os quatro anos e há provas da materialidade e indícios da autoria, conforme já mencionado.

Além disso, a prisão preventiva é necessária para garantia da ordem pública, para conveniência da instrução processual e para assegurar a aplicação da lei penal. Assim, outras medidas cautelares alternativas à prisão seriam inadequadas e inócuas para a gravidade do delito e circunstâncias do caso concreto.

Nesse contexto, se observa que os réus são os administradores de fato da empresa FINBAK e vêm, de longa data, incidindo na prática da mesma atividade ilícita.

Mencionada empresa teve 06 contratos semelhantes, firmados com diversos Municípios de São Paulo, julgados como irregulares pelo Tribunal de Contas de São Paulo (TC-2410.009.07 – Itapetininga; TC-105.014.09 – Lorena; TC-1732.004.09 – Florínea; TC-0258.014.10 – Campos do Jordão; TC-0116.007.09 – São José do Barreiro; e TC-0117.007.09 – Cruzeiro).

Ainda, nos autos do processo 000001-46.1998.8.26.0263, o réu JARBAS, sua esposa e a empresa FIBANK (na época com a denominação social J & F Factoring - Fomento Comercial e Industrial Ltda) foram condenados em ação de responsabilidade por ato de

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improbidade à pena de proibição de contratar com o poder público, pelo prazo de 05 anos – a sentença transitou em julgado em 24/04/2015.

Contudo, nem a pena de proibição de contratar com o poder público foi suficiente para impedir que os réus, administradores da empresa, parassem de reiterar na figura criminosa em apreço. Conforme já mencionado, passaram a se utilizar do escritório de advocacia CASTELLUCCI FIGUEIREDO para burlar a mencionada proibição.

Portanto, fica evidente que a única forma para se garantir a ordem pública e evitar a reiteração criminos é a aplicação da ultima ratio, prisão preventiva, já que os réus demonstraram não respeitar as ordens judiciais por vontade própria.

Importante frisar que a consagração da presunção de inocência prevista no art. 5º, LVII, da Constituição Federal vigente, não importou em revogação das modalidades de prisão de natureza processual. A própria Constituição ressalva expressamente no inciso LXI, do mesmo artigo, a possibilidade de prisão em flagrante ou por ordem escrita de autoridade judiciária competente (nesse sentido: RT 649/275, TJSP-RT 701/316).

Assim, a prisão cautelar não fere o princípio constitucional da presunção de inocência.

Dessa forma, nos termos dos artigos 282, § 6º, 311, 312 e 313, inciso I, do CPP, DECRETO a PRISÃO PREVENTIVA dos denunciados JOSÉ JARBAS PEREIRA e TIAGO RODRIGO PEREIRA.

Expeça-se mandado de prisão.

3. Sem prejuízo, expeça-se ofício ao E. Tribunal de Contas para que informe os valores efetivamente liquidados em favor da sociedade de advogados, seja ela com o nome de CASTELLUCCI FIGUEIREDO E ADVOGADOS ASSOCIADOS, seja ALEXANDRE GRADIM, do período de janeiro de 2009 até os dias atuais, nos termos do requerido no item 1 da manifestação de fls.541/546.

Venham aos autos as Folhas de Antecedentes Criminais dos acusados, bem como as certidões dos feitos que eventualmente lá forem noticiados.

Comunique-se o IIRGD sobre a presente decisão.

Cumprida a citação, tornem os autos conclusos para designação de audiência. Ciência ao Ministério Público.

Cumpra-se.

Carapicuiba, 02 de junho de 2018.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

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