da
Lusitânia
Resposta
ás
fantasias
de
um
censor
PELO
D-
J.LEITE
DE
VASCONCELLOS
Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Director do Museu Ethnologico Português
LISBOA
LIVRARIA
OL^SiSíICA
KOITOR^
De
A.
M.
Teixeira
PraçFi
dos
Rostaviradores,20
Comporto e impresso na
Tlp. do PORTO MEDICO
da
Lusitânia
Resposta
ás
fantasias
de
um
censor
PELOD-
J.LEITE
DE
VASCONCELLOS
Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Director do Museu Ethnologico Português
LISBOA
De
A,
M.
Teixeira
F*raça
dos
Restaiareiciores,HO
Â
2
Com
o titulo de Breves observações acerca do methodo seguido no VOL. 2.0 DAS «RF.UGIÕES DA LUSITÂNIA» PARA A LEITURA DE CERTAS INSCRIPÇÕESLATINAS, Lisboa 1913, publicou O Sr. G. L. Snnctos Ferreira
um
folhetode
24
paginasem
que interpreta a seumodo
várias inscripções que eu,com
todo ofundamento,
considerei dedicadas a divindades indígenasda
Lusitânia.No
nossoacanhado
campo
scientifico, onde, se ha algunsinvesti-gadores sérios que conhecem e applicam
com
proveito omethodo
histó-rico e o philologico, o geral das pessoas
não
forma
ideia do que essesmethodos sejam, talvez que ofolheto do Sr. Sanctos Ferreira, cheio
como
está de dogmatismo, exerça impressão
no
público, e caiamesmo
noespi-rito de certos leitores
como
sopa no mel, apesarda agrura
do assunto:poderá pois esperar-se que eu responda.
Efectivamente vou responder,
para
ver se consigo dissipar aquella impressão, epara
não se suppor que eume
dou por
convencido do queo Sr. Ferreira assevera.
Do
contrárionão
responderia,porque
o tra-balho d'ellenão
se baseiaem
principios scientificos, bnseia-se apenasna
imaginação. Trouxesse omeu
censor alume
ideias instructivas, e observarões justas aomeu
livro, quenão
pouco precisará d'ellas,—
eeu seria o primeiro a applaudi-lo. Assim, só tenho de lamentar que
todos nos
afadiguemos sem
proveito: o Sr. Ferreira, o público que porventura o ler, e eu.
Dividirei a
minha
respostaem
duas
partes: 1, refutação de algunsERROS
DE FACTO
I-los-hei refutando ao acaso,
conforme
os notei naminha
leiturado folheto.
—
A
pag. 6, referindo-se o Sr. Ferreira ao epig:raphista
alle-mãn
Emilio Hiibner, aquem
a Archeologia peninsulardeve
gran-díssimo incremento ', dizque
os processos d'elle são estéreis,e
que
Híibner "foi sobre tudo insigneem
não
Ur
inscripçõesromanas:
.porque
uma
cousa é publicar livros luxuososcom
a reproducção''d'ellas, e outra coisa é lél-as
\.
É
evidenteque
o Sr. Ferreira Jamaiscompulsou
osvolumes
doCorpus
InscriptionumLatmarum
onde appareceu
o trabalho epigraphico de Hiibner aque
se reporta; se os houvesse compulsado, veriaque
se tornava impossíveldispor
as inscripções pelo
modo
como
nessesvolumes
estão dispostas, ouorganizar os
summarios que
osterminam,
-summarios
tãosabia-mente
ordenados, e tão cheios de ensinamentos—
,sem
terlido,
interpretado,
comprehendido
ou julgado as inscripções todas.Quem.
como
Hiibner, escreveu a obramonumental
que
sechama
Exempla
scripturae epiqraphkae,mostrará
porventura que
não sabeler
ins-cripções romanas, e que, se fosse ainda vivo, precisaria de deixar
a Universidade de
Berlim
para vir cá aprender a soletra-lascom
o
Sr. Ferreira?
1 Vi.l. o que a este propósito escrevi
nO
Archeologorortuffiiês. vi, 49-59.
—
A
pag. 7suppõe
o céltico derivado do sanscrito.O
Sr.Fer-reira é ainda de bons
tempos!
Hoje
ninguém, demediana
instruc-ção, proferiria tal heresia.
O
céltico e o sanscrito são duas lingoasirmãs, e não
uma
filhada
outra.—
Havendo
sahidonuma
inscripção das Religiões, ii, 321, porlapso typographico,
bandiarbariaibo
em
vez debaxdiarba-RIAICO, o
que
consta do titulo do capitulo, do texto, e do indice,pag. 371, lugares
em
que sempre
se imprimiuC
e não B, o Sr.Fer-reira, pag. 9, cego pelo seu
methodo
sui (jenerifi, não attenta nisso,e interpreta por BO(no) a syllaba
HO, que
não existe na inscripção. Istomostra
a excellencia do talmethodo,
e a consciência dotra-balho!
De
premissas falsas tirou conclusõesque
tem
por verdadei-ras, ecom
ellasargumenta!
—
Na
mesma
inscripção lê-seamminvs
axdaitiae
f, palavrasque
significam"Ammino,
filho de Andaitia„; o Si'. Ferreira, pag. !),inventa
um
B
antesda segunda
palavra, e apoiado nelle forja amais extraordinária explicação
que
jamaisde
uma
inscripção sepodia dar,
como
na 2.» parte do presente folheto mostrarei.—
Nomes
de divindades, verosimilmenteformados
cora suffixos, são pelo Sr. Ferreira,como
adiante veremos, transtornadosnd
li-hitum, contra todas as regras
da
Epigiaphia
e do sensocommnm.
Aqui
os cito, juntando-lhes outros deque
o Sr. Ferreiia nãofalia,
mas
que
estão nasmesmas
circumstanciasque
os (jue elle critica:1) SuffixO -aiciís (-(lecnx -(tri/iis, -hpciis, -i-t-ns)
Aef/iaiH uniaef/us,
Ba
ndiarhariairus,Carioriecus,
Cusuneneoecus vel ('u>iunetne,oec)is, lUenaicus,
Revelanyanitaerus,
Tiauranciaicus vel Tiaurnnciairus
9
2) suffixo -aeus (-agus)
NahifKjus, Turiacus; 3) suflixo -icus: Borinanicus, Durbedicus, Kndovellícns ; 4) siiffixo -//<s; Cesiiis :
não é necessário ser philologo para notar a concordância
que
existe entre todos estes factos,—
Do
suffixo -aicus tratouem
especial o Sr.Dr. Adolfo
Coelho
na Rerista deGuimarães,
iii, 169; e as suas con-clusõesforam
approvadas
pelo Sr.H.
Gaidoz
na Reriftta Lusitana,I, 278.
Ao mesmo
suffixo e a todos os restantesme
refiro nas fíHi-yiões, II e III, nos lugares respectivos.—
Admira-se
o Sr. Ferreira, por exemplo, pag. 11,da
pouca sonoridade dosnomes
dos nossos deuses, e quer inferir d'alii provascontra a leitura dos textos.
Em
verdade
nomes como
Bevelangani-taecus, Tiauranciaicus ou Tiaurauciaicus, Aeijiamuniaegus, e outros,
poderão soar
desagradavelmente
a ouvidos não habituados ápho-netica de lingoas estranhas.
Não
é issoporém
motivo para suspeitarda
exactidão de taes nomes.Já
os Gl-regos e osRomanos
achavam
poucoharmónicas
as lingoas peninsulares: Estrabão, por exemplo,depois de referir os
nomes
de vários povos ibéricos,como
Pleutanri, Bardijetae e Allotrigae, dizque
omitte "outros ainda piores depro-nunciar„ '; Poraponio
Mela
affirmaque
existem cá povos e rios cujosnomes
uma
boca
romana
é incapaz de reproduzir^
Que
valor' Geographia, ITI, iii, 7.
10
tem
pois a adiniraçào do Sr. Ferreira?K
acaso linndiarhariainismais áspero do
que Pleutawif
—
Outro
motivo
de
estranheza para o Sr. Ferreira, pag. G, estáem
serem
nnicos alguns dosmonumentos
em
que
hainscri-pções
consagradas
a divindades. Forte estranheza!Como
seda
re-mota
antiguidadeem
que
tratei naminha
obrapudéssemos
esperarque chegassem
até nósmonumentos
a rodos!Se
aomenos
appare-cesse
um
monumento
paracada
um
dosnumerosos
deusesque
ha-via, motivo teríamos de nos alegrarmos;mas
nem
isso!Quantos
deuses não ficarão ainda na
sombra!
E
aprova
estáem
que
cons-tantemente
apparecem
outros.Já
depois de publicado o vol. iida
minha
obra, o nossopantheon
se enriqueceucom
alguns mais:Rerelanganifaecus,
Tueraeus (com
teiminação análoga á deMiro-bieus), Maçarias, etc. : vid. Reliyiões, vol. iii, pag.
196
ss. e 612.—
Uma
inscripção simplicíssima,como
esta: ArentioSumia
Camali
ffilia) v(otum) sfolviíj lOhens) mfenfoj,que
publiquei nasReligiões, ii, 322, e reproduzi no vol. lu, pag. 208, inscripção
que
ninguém
que
saibaum
pouco
de latim deixará de tiaduzir por "Sunua, filha deCamalo,
cumpriu
deboa
mente
o votoque
fizera aArenfiusy, (isto é: ao deus Arentius), é
completamente
desvirtuadapelo Sr. Ferreira,
que
a pag.20
substitue a tradncçào porverda-deiros desconcertos, o
que
adiante se mostrará.Nem
aomenos
reparouque
nO
Archeoloijo Português, xii, 177, publicara oSr.
Tavares
Proença
outra inscripçãoem
que
aonome
dodeus
vem
associado oda
sua páredra ou companheira,como
em
outrosmuitos casos acontece: Arentius e Arentia.
Depois
d'isso, nas Religiões, iii, 209, dei noticia de outra inscripçãocom
Arentius.Temos
poisArenfim
tres vezes,sem
contar Arentia,que
é ofemi-nino d'aquelle
nome;
e o Sr. Ferreira ainda a duvidar da existênciade Arentius!
Até
onde chega
a obcecação!—
A
pag.20
traz á balha o Sr. Ferreira a inscripçãoque
pu-bliquei nas Religiões, ii, 823,
em
que
se lê líiwelanganidaeigui,nome
deum
deus,em
dativo.Não
viuporém
o que, já depois de sahido á luz aquelle volume, o Dr. Félix .\lves Pereira e eu11
vol. Ill das Relir/iões, pag.
209
ss.. a respeito deuma
inscripção eraque,
também
em
dativo, se lê Revelangauitaeco,—
doque
seapurou
que
Revelnnganidaeigui éum
dativo ibérico ou indigena, e Revelan-ganitaecoum
dativo latino, vindo pois onome
do deus a serrespe-ctivamente,
em
nominativo, Revelanganidaeigus e Berelanganifaerut,da
mesma
maneira que
'ATróXXtov é Apolloem
latim.Apesar
d'estanitidez dos factos, o Sr. Ferreira devaneia de
modo
absurdissimo,como
na 2.** parte do presente opúsculo se verá.—
Existem
varias inscripçõesem
que
ás palavras deo,mudo
e congéneres, se segue,também
em
dativo, o correspondentenome
próprio, por
exemplo:
deo Aerno,
deo Turiaco,
deo
dómeno
Cusuneneoeco vel Cusunemeoeco,sancto
Runeso
:
pois o Sr. Ferreira,
postergando
os mais elementares princípiosda
Grammatica
latina eda
Epigraphia,decompõe
fantasticamente,como
veremos, osnomes
própriosem
palavras latinas ; ora, se Aernus,Turiacus, etc, não são
nomes
de deuses indígenas, então nãoha
cer-teza
em
cousaalguma
d'estemundo.
A
gravidade
doque
ficapon-derado
accresceque
o Sr. Ferreira não procurou inforraar-se doque
sobre o assunto se publicou depois doapparecimento
domeu
volume, senão veriaque
outra inscripçãoconsagrada
ao deusAernus
foipu-blicada \\0 Archeologo, xiii, 184-186, pelo Rev.» Francisco
Manoel
Alves, e reproduzida por
mim
nas Religiões,m,
217-218: e o Sr.Ferreira a declarar a pag. 5 do seu folheto
que
tem
"por único objectivo o esclarecimentoda
verdade^!Não
estámá
esta verdade!Aernus
apparece nos textos epigraphicos três vezes;em uma
dasinscripções lê-se
mesmo
DEO
•AERNO
,
com
as palavras separadaspor pontos : pois
nem
assim o Sr, Ferreira seconvence da
exactidãoda
leitura donome
!
—
A
pag. 14, transcrevendouma
inscripção das Religiões, ii,324, das mais claras e das
mais
fáceis de ler, altera-me o texto (por hypothese!), para o adaptar ás suas theorias.Onde
omeu
12
MILRS
LEG
VI
VICT
. .
OTVRIACO
o
que
sem
iienhiima dúvida si^iiiíica iniles lef/donis) vi inct(ricis)[(ie]n Turiaco, ou
em
português "soldadoda
6.a legião, a Vencedora,ao deus TnrincuSy,, o Sr. Ferreira forja
:
MILRS.
LK(Í. VI.VIOTO
RIA
CU
e interpreta: miles legfionis) vi, Victoria(e) ro(hortis), traduzindo: "soldado
da
cohorte Vicforiada
vi legião^.Por
tantosuppiime
le-tras, e separa outras
que
napedra
estão juntas.Não
contentecom
isto,
dá
auma
cohorte onome
de Vidoria!Ora
os epithetosque
se
juntavam
á palavra coJiora,além
de irem depois,eram
adjecti-vos, e não substantivos: dizia-se, por exemplo, cohors Flavia, cohors marítima, e não seusava
dizer cohors Victoria ou Vidoria cohors.Se
se quisesse exprimir tal ideia, dir-se-liia cohors vidrix,como
sedizia lefiio vidrix. Isto é mais
que
elcmentai!Mas
aboa
razãophi-lologica iria aqui d'encontro ao
meu
censor, que, nasua
falsaexpo-sição, não poderia interpretar a syllaba co, ao passo
que
na liçãoque acima
dou, ellaacha
justiíicação plenissiraa.—
Temos
visto nos capítulos precedentes a fraquezagramma-tical do Sr. Ferreira. Neste indicarei outras, e não de
pouca
monta.A
pag. 13 escreve elle:numini
dedicatum lotnsAmmonis
et Apollo,traduzindo "dedicado á divindade de Júpiter
Ammon
etambém
a Apollo^.A
pag. 20:sandae
reinvestitae que cesae fo sacruni, e:aram
erif/if ni/mphae Io, traduzindo, no primeiro caso,"consagrado
á santa, readornada, mutilada lo^, e no
segundo
"ánympha
Ioeri-giu esta ara„.
Por
conseguinte o Sr. Ferreiradá
como
dativos Apolloelo,
em
vezde ApolUni
(clássico) e iom,—
suppondo que
haem
latim Apollus, -i, e Jus, -i!E
não
sepôde
ailegar erro typogi-aphico, porque, deum
lado, diz "onome
de Apollo veio 'à(\\úpor
extensoy, ',e do outro,
como
vimos, repete loduas
vezes.O
maismodesto
estudantinho de latim não
commetteria
taes barbarismos.18
—
A
pag.24
dizque
eu, para o estudo dos deusesda
Lusitâ-nia, abstraioda
liiigua latina, eque
não espero encontrar"nomes
de divindades gregas e romanas, titulos e funcçõesda
Republicaou
doImpério
„.Para
desfazer esta singular accusação, bastaria fo-lhear o vol. III dasminhas
Religiões,onde
a pag.195
ss. consagrouma
extensíssima secção áépoca romana.
Contrariamente
aoque
o Sr.Ferreira propala, eu ahi trato de divindades
romanas propriamente
ditas, e greco-romanas,
—
Juppiter, Juno, Apollo, Diana, Tellus,Baccho, Esculápio, Neptuno, Marte, Victoria, Minerva, Mercúrio, Vénus, Cupido, Vulcano, Hercules, Fortuna, Juventus, Pietas, Pax, Concórdia, Evento, Fadas, Nyraphas, Génios, Lares; trato
da
deaRoma,
e das divindades iraperiaes; trato de divindades deorigem
asiática e africana,
—
Cybele, Mithras, Isis, Serapis, Celeste; ebem
assim de muitos titulos e funcções,
como
flamines, tiarainicas, au-gustaes, archigallos, pontífices.Vêem
os leitores a seriedadecom
que
omeu
censor escreve!—
Ha
ainda outros erros de factoque
não posso desligarda
2.» parte do presente opúsculo, e irão pois
mencionados
nella.Do
que
fica exposto conclue-seque
oSr
Ferreira está tãopouco
possuído do seu papel de crítico e de philologo, que, a parcom
affirmações inexactas e baralluimento de lingoas,nem
ao menos,ao avaliar
uma
obrabaseada
pelamor
partena
Epigraphia,mostra
conhecer o caracter do Corpus, ou saber traduzircom
geíto as maissingelas inscripções latinas;
além
d'isso,para
apoiar hypothesesgratuitas, desfigura os textos a seu talante, e até se serve de
II
ERROS
DE
METHODO
Como
introducção ao assunto,devo
fazerumas
consideraçõesgeraes, para cabal elucidação dos leitores.
A
historiada
Lusitâniaabrange
três épocas maiores:prehisto-rica,
que
se estende dostempos
primitivos até ocomeço
da
idadedos
metaes;
protohistorica,que vae
d'essa idade ao sec. iii-ii a. C.;
histórica,
que
começa
no sec. iii-ii echega
até á idade-média.A
cada
uma
d'estas épocas maiores façona
minha
obra corresponder sua parte.É
na
2.» parte, ou religião dostempos
protohistoricos, isto é,dos
tempos
dos Lusitanos propriamente ditos,que
incide a críticado Sr. Ferreira.
A
religião dostempos
protohistoricosda
Lusitâniaconhece-mo-la
em
grande
parte por textos epigraphicos,gravados
em
aras,cippos, etc, concorrendo
também
outros factos para oconhecimento
d'ella,
como
constada
minha
obra, vol. ii, pag. 2 ss.São
porém
esses textos
que
nostransmittem
osnomes
dos deuses indígenas.Os
Lusitanos, ao acceitarem a civilizaçãoromana,
acceitaramdo
mesmo
modo
a lingoa, e por isso, nosmonumentos
deque
fallei, osnomes
das divindades locaesapparecem
escritoscom
caractereslatinos, e
geralmente
com
terminações alatinadas: assim Nabia,nome
deuma
deusa
aquática, declina-secomo
osnomes
da
L*
de-clinação, ou dos
themas
em
a-, e fazNabiae
no dativo;Bormankiis,
nome
do deus das caldas de Vizella, declina-secomo
osnomes
da
2.» declinação, ou dosthemas
em
o-, e faz no dativoBormanico.
O
dativo é o casomais
usualem
que
osnomes
seapresentam
16
designam
iis entidades a quera os respectivosmonumentos
sede-dicavam;
porexemplo:
</eo Eíidortlliro snrruni,—o
que
quer dizer"consagração feita ao deus Kndovellico^. deus de
uma
montanha
do Alemtejo.Posto isto,
vejamos
como
éque
o Sr. Sanctos Ferreira seavém
com
as inscripções lusitano-latinas dos nossos deuses.O
seumethodo
é muito expedito ecómmodo.
Umas
vezes o nosso auctorpega
num
nome,
aindaque
clara-mente
indígena, e considera cada, letra ougrupo
de letras parte integrante de palavras latinas, porexemplo
:
AERNO,
p. 22, vale para elle por Aefquoreo)R(omano)
Nfeptunjo; vide oque
escrevi supra, pag. 11.Ao
que
Já ahi notei,acres-centarei
que
NO
nãopôde
ser demodo
algum
abreviatura de Neptuno,como
o Sr. Ferreirasem
provas estatue.SANCT(O)
RVNESO
CÉSIO,
p. 20, vale para elle por sanct(ae)r(e)inres(titae) que ces(ae) Io,
que
o Si'. Ferreira traduz por"á santa,
readornada
mutilada Io„, oque
além
do insólitoreinvestita, é absurdíssimo, já porque,
segundo
eu disse acima,pag. 12, se a inscripçào fosse
consagrada
a Io, havia de ettarloni, já
porque
napedra
nãoha
Q,mas
O!
AKENTIO,
p. 20, vale para elle poraviam
) e(ri<iif)ndjmphac)
Io. Vid. oque
acercada
absoluta certezada
minha
leitura e dodesconchavo
de Lo escrevi supra, pags. 11 e 12.DEO
DOMENO
CVSVNEMEOECO,
pag. 16, vale para elle pordeo d(edicatum)
omen
ocUs neme
ceco, latim macarronico,que
não entendo, eque
ninguém
entenderá,comquanto
o Sr. Ferreirao traduza: "dedicado ao deus, por ter dito o
agouro que
eunão ficava cego dos olhos.,.
Por onde anda
a syntaxe latina!Se
aqnillo tivessealguma
traducção, seria:"agouro
dedicadoao deus; por ventura aos olhos, estando eu cego?,.,
—
sentidoigualmente absurdíssimo. Ne, na frase
que
o Sr. Ferreira in-venta, só podia ser partícula interrogativa enclitica, e não17
REVELANGANIDAEIOYI,
pag. 21, vale para elle por revelanrtijGamOneiHs)
daeímonjimi;
oque
o Sr. Ferreira traduz "aoesi)i-rito descobridor de
Ganimedes,
ao qual . . „ .Acima,
pags. 10-11,
demonstrei a exactidão
da
leituraque
apresentei nas Religiões.Agora
basta notarque
só por artesdemoníacas
éque
uralapidario se lembraria de abreviar
daemoni
era difaei,como
oSr. Ferreira imagina!
(E
já não fallo doGanimedis
por Gani/medis,porque
a isso não ligaria importância omeu
censor).Outras vezes moditica os textos, do
que
já acima, pag. 8, e 12, a outro propósito, dei exemplos. Citarei aquimais
este.Numa
inscripçãoque
tem
ilienaico
interpretar o Si-. Ferreira estapalavra por Tlien(sis)
M(aximi)
CfoiíservatorisJ, admittindoum
M
que
lá não está!Não
meieceiia apena
ter ido aoMuseu
Etimológico,
onde
a pedra se conserva, eexaminado
o próprio texto ? 'Outras
vezes o Sr. Ferreira, paraquem
nãoha
difficuldades, etudo é
agoa
corredia, lançamão
de textos imperfeitos,que
euprudentemente
publiqueicomo
taes,—
por issoque
asrespe-ctivas lapides já não existem, ou não se sabe
onde
parara,—
eexplica-os ás mil maravilhas,
como
sepôde
ver a pags. 11,1:3 e 17 do seu folheto.
Não
cansarei o leitorcom
aenumera-ção de tantos desconcertos.
A
pag. 23,com
relação aum
textoem
que
eu, depois demaduro
exame,
como
consta domeu
livro, pags. 2:16-247, havia lidoTONGOENABIAGO
OUTONGOE
NABIAGO,
O Sr. Ferreiradesa-cata a
minha
leitura, põe uraP
em
vez de T, e interpreta:1
A
pedra onde existe a inscripçâo está partida. Restam d'e8ta duas linhas,BANDI
IIOILIEN, cuja leitura não temdúvida nenhuma, c mais a metade superior de
uma
3.«, que, como se vê do desenlio das Religiões, n, 318, parece ao primeiroexame NCO, mas que só pôde lôr-so AICO, para nfto ficar
ENNCO,
com letradobrada enti-e consoante e vogal
O
que lá nfto ha de maneira nenhuma é M, como18
PoníemUun)
coe(lesfis) Nahiafe) rofrrnrif), do que lesiiltauma
serie de incongnicucias: l.»)
um
novo
verbo na dedicatória,quando
já antes estava/m//
2.«) ticar dividida a fórmula usualponendum
rurarif, ou cocravif,que
éuna
e indivisa; ;3.»*) termosroelesfis
em
vez de coelesti Maisharmónico
seria, na hyi)otliesedo erróneo P, da
absurda
re|)eti(;ão do verbo, emau
grado
oestilo: I'ou(emluniJ coe(ravit) NahiafeJ co(elesti); ao
menos
evi-taria o Sr. Ferreira a divisão
da
fórmula, e o erro syntacticodo genetivo pelo dativo.
—
E
jáponho
de parte coelesti,com
oe,em
vez de caelesti,com
ae,que
é aboa
graphia!Um
dos principaes cavallos de batalhaem
que
o Sr. Ferreiramonta
é oelemento
band-,
que
inicia muitosnomes
de deuseslu-sitanicos; para o explicar serve-se de
uma
fórmula arbitráriaB(oni)i) Afuspiciiy N(uniini) DfedicafumJ, decifrando o resto
com
o
mesmo
arbitrio,como
se patenteia do seguinte:
BANDOGE,
que
é o dativo deBandoga,
vale para o Sr. Ferreira,pag. 7, por h(onis) afuspiciis etc. o(ptimae) CE(reris).
Nas
inscripções do
orUs Rotnanus
não se encontra,que
eu saiba, o epitheto óptima, applicado a Ceres (encontra-se, porexem-plo, awjusta, frugifera, sanctissimaj; o superlativo optimus só
o
conheço
applicado a Juppiter;além
d'isso o textotem
GE
enão
CE
•; onome
de Ceres, não secostuma
abreviar; ecom
omesmo
direitocom
que
o Sr. Ferreira lêCEfrem^,
oucom
direito maior, podia ler (yY^(nii), ou GEf^wiinon»/?^,
synonimo
de Castor
&
Pollux.Tudo
depõe
contra a leitura d'elle!' Embora na inacripçâo esteja GE, o Sr. Ferreira lê CE, porque, diz elle a
pag. 8, nota,
C
eG
na epigraphia romana se usavam indistinctamente. Não é tantoaBflim. OsRomanoa nSo tinham
G
noseu alphabeto primitivo (Branibach, LateinischrOrthogr., 1868, p. 208 ss.; i'Mon, Écriture du latim, 1882, p. 7 ss.), e representavam
por C, tanto a consoante surda, como a sonora; por isso, ainda depois de adoptado
o G, o C vale ás vezes G, por exemplo como inicial de Caius
=
Gaius, e nasins-cripções nfto raro ha C por G; mas
G
por C (e é esse o nosso caso) nfto apparecerácom frequência i'6ra das condições verdadeiramente phoneticas, isto •', fora de pa-lavras em que pela evolução da lingoa o som c se mudou em g, v. g., lagrima, por
19
BANDIO,
que
é u dativo de Bandhis, vale para o Sr. Ferreira, pag. 8,por b(onis) aíuspiciisj etc. líovis) o(ptimi), o que, se
quanto
aonome
e epitheto do pai dos deusespôde
á primeira vistaparecer acceitavel, é para logo contradicto pela fórmula (vid. infra) e pelo ILIENAsí.s))
que
omeu
crítico junta, eque
não seique
fosse jamais applicado a Juppiterem
inscripções romanas.ANDAITIAE
F
BANDIARBARIAIBO
(á 1.^ palavra addicionou gratuitamente o Sr. Ferreiraum B
nocomeço;
ena
2.atem
-BO
por-CO
: vide supra, pag. 8)valem
para o Sr. Ferreira,pags. 9 e 10, por: h(onis) afuspiciis) etc.
A(mmonis)
J(oms)TfonanfisJ I(mmortalisJ AeftemiJ Ffundavit), e h(omsJ afuspiciisj
etc. larhafe) r(eqiiietoriwnJ i(nstituit) aifaniino hoíno).
Nem
sei
que commentario
hei-de fazer a isto!Limito-me
alembrar
ao leitor que, quanto á primeira parte, a falta do
B
na
ins-cripção deitaem
terra a theoria do Sr. Ferreira, e que,quanto
á segunda, o erro de
B
por C, e a invenção deAI
por animo,são outros tantos ataques ao castello de cartas,
sem
fallar no requietoriuiii, assim adivinhado por intermédio deuma
só letra,apesar
da
raridade de tal vocábulo!
BANDVE,
que
é dativo deBandua, como Bandoge
o é deBandoga
(i. é.
Banduae,
Bawhgae),
vale para o Sr. Ferreira, pag. 12,por b(onis) afuspiciis) etc. Ve(nens).
Era
tudo muito lindo,se,
além
doque vou
já dizer deband-,
se encontrassecomo
abreviatura corrente nas inscripções do orhisRomamis
a syl-labaVE
por VE(neris), e se,com
igual direito áquelle deque
o Sr. Ferreira usa, não pudesse igualmente essa syllaba
inter-pretar-se por \^(stae), por N¥i(jovis), por Y¥,(ntoruin), ou por N¥j(rtumni),
que
são outras tantas divindades dopantheon
latino!
Que
valortem
a hypotliese do Sr. Ferreira?Nenhum.
Poderá
encontrar-seem
alguma
lista de abreviaturas explicadoBA
no sentido indicado, e ésem
dúvida
que avulsamente
seen-contra
N
por n(umen), eD
por d(edieavit) ou d(editj.Mas
abrevia-turas de letras insuladas nãobastam
para explicaremum
conjunctode
letras seguidas.Um
dos princípiosda Epigraphia
éque
só20
ci
rouinstancias
apparocein
por extenso.
Por exemplo:
secom
todas as letras se lè
numerosas
vezesem
inscrij>(;ões leligiosasvotvm
SOLVIT
LIBEXS
MÉRITO,
estamos
anctorizados a,quando
em
inscri-prões damesma
iiatuiezaapparecerem
as siglasV
-S-L
-M, asdesen-volvermos uaquellas palavras.
Fora
d'isso, on de casosem
que
real-mente
as dúvidas nãosejam
ji:raiides, tudo oque
se fizer é arbitrário, e mais vale pôr interroga(;ões, ou declarar sinceramente a impossi-bilidade de interpretar.Onde
éque
o Sr. Ferreira encontrou por extensoBONis
AVSPiciis tívminidedicatvm? Ou
onde
éque
me
mostra
Ji-A-N-D,
cora letras separadas por pontos, poisque
julgainiciaes
de
palavras essas letras?Hem
seique
os pontos não sãoessenciaes,
mas
era naturalque
aomenos alguma
vez ellesappare-cessera.
E
dado
que, ainda assim, o elementoband-,
contra todosos dictames
da
Kpigraphia, pudesse interpretar-se d'aquella forma,restavam
adiante outros elementos litteraes inteiramente absurdos,como
ofamoso
larba de pag. 10, e o Iliensis de pag. 8.Logo
a explicação deband-
por honis auspiciisnnmini
dedicafum é erróneae fantástica.
A
frequência deband-
nosnomes
das divindades justifica-scmuito
bem.
Entre
algumas
das tribusque
povoavam
a Lusitânia havia elementos ethnicoscommuns,
segundo
é sabido; esse caracterde
communidade
devia reflectir-se naslingoas, econseguintemente
nos
nomes
divinos: por tanto a repetição deband-, elemento
aque
não faltam probabilidades de ser céltico \pôde
i-esultar d'isso.Hoje
vemos, por exemplo, amesma
Senhora doCarmo,
omesmo
Senhor do:^
Desamparados,
omesmo
S.João
Batista,venerados
em
diversos pontos de Portugal, do
Norte
ao Sul.Na
antiguidadeaconteciam outros factos semelhantes,
como
claramente expliquei nasJíflifjiões^ II, 27í), a propósito
da
palavra Navia.E
nem
sequer era preciso invocar acommunidade
ethnica das tribus lusitanicas paraa justificação de
band-,
jáque
a existência d'esteelemento
nocomeço
de váriosnomes
é indubitável; basta saber ler latim!O
Sr. Ferreira éque
subverte tudo:onde
eume
esforço por serminucioso e exacto,
procuiando
utilizai',com
a possívelcircums-pecrào, todos os meios de estudo, de
modo
que
apresente naminha
obra factos certos, ou, pelo menos, logicamente deduzidos, surge o
21
Sr. Ferreira
com
as mais extravagantes manias,que levam
a crerque
estázombando
dos seus leitores.Ainda
a respeito deband-
notareique
nãocomprehendo
qual omotivo
da
repugnânciaque
a essas letrastem
o Sr. Ferreira.A
Epigraphia
e a Litteratura de outros povos antigos ministrara-nosnomes
começados
do
mesmo
modo:
Bandulia,nome
de
mulher,Bandinus
eBandus,
nomes
dehomem,
Bandritum,
nome
de
lugar,se
lêem
no AH-celtischer Sprachschatz de Holder, i340
e iii798;
Bandtcsia,
comquanto
talvez de outra origem, é onome
deuma
fonte-santa italiana, muito célebre, cantada por Horácio na ode 13.'^do livro III dos seus
Carmina:
por ventura Bandulia,Bandus,
Bandinus
são palavrasmais
extraordináriasque
as nossasBandoga^
Bnndua,
ouBandius?
Do
methodo empregado
pelo Sr. Sanctos Ferreiraderivam
trêsnotáveis grupos de absurdos, de caracter geral,
além
dos absurdosparciaes
que
no decorrer do presente opúsculo tenho assignalado:1.0
O
Sr. Ferreira, explicando,como
quer, osnomes
indíge-nas dos deuses por palavras latinas, estabelece ijiso facto
que
osLusitanos não
possuíam
deuses.Não
dirá o Sr. Ferreira paraonde
é
que
expulsou os deusespre-romanos?
Ubi sunt dii?Se
hojeem
Portugal não
ha
lugarejo, porhumilde que
seja,onde
não seerga
um
cruzeiro,um
nicho,uma
capella,onde
qualquer santo nãore-ceba veneração do povo, não sei por
que
motivo se ha-deduvidar
de que
na antiguidadeacontecessem
factos comparáveis, eexistis-sem
portanto entre nósdezenas
ou
centenas
de
deuses.
A
este
argumento,
tiradoda Ethnographia
geral, e corroboradobri-lhantemente
pelos textos lapidares, adicionarei otestemunho
deau-ctores clássicos
que
nos faliam dos nossos deuses: de Justino, por exemplo, no liv. XLiv, cap. iii, daEpitome
historianim, e deEstra-bão no liv. 111, cap. i, § 4,
da
Geographia.Contrariamente
também
ás ideias do Sr. Ferreira, a
Epigraphia
de outras regiõesda
Eu-ropa antiga proporciona-nos
com
abundância documentos
análogosaos
da
Lusitânia. Eis alguns:na
Aquitania Ahellioni deo, Ageionideo, Arpenino deo, Baiosi deo, Baicorixo deo, deo Basceiandosso,
Lahe
dpae, Leherenno deo: na Gallia deo Brixantu, deo Belatucadro, deo
22
Mnrmoijio, Visurin, <ieo
Taranunw,
A7'ilu{nne,Camido,
íleo Mapoiío, Sironae, íleo Alisano, íleo Jiaconi, liacurdo, liormano et liorm<m(aej,Caiiaro, Dttllorio, deo (tisnco, Lanoralo. Larrasoni, Letinnonl,
Luxo
rio et Jiririae,Ruharasrn
et Ruheoni, deo Siitqnati, Uxovino, deae ylrfioni, Onuarae, deae Jiibrari, Cantismertc; na Britannia deoAnfenocitico, deo lierganti, deae Brignntiae, deo saneio Cocidio, deo
yídtnno, deo Mogonti, Verheiae, deo Vifiri, deo RequaVitahano; na
(rcrmania Alateiviae, deae Huronine, deae Garmancjabi, deae
Uanasae,
Xehalfuie, deae Rlcaijamhedae, deae Sandraudifjne. Viha'nsae '.
Po-dia duplicar e triplicar esta lista;
mas
paiaque
hci-do fatigar aattenção dos leitores?
2.0
Ao
passoque
o Sr. Ferreirame
accusa, a pag. 6, de eupor toda a parte descobrir deuses novos,
—
descobrimentosincon-cussamente
exactos,—
elle, poruma
d'estas contradicções vulgaresera
quem
tem manias
ou não senhoreia os factosque
pretendeex-por ao público, dota de extraordinárias divindades a Lusitânia:
Jú-piter Troiano, pag. 9; larba ou Jarba, pag. 10; Arethusa, pag. 19;
"o espirito descobridor de
Ganimedes„,
pag. 21; o"bom
génio deArachne^,
pag. 18: divindades que,além
do absurdo epigraphicoque
as gerou, não tem, quanto eu sei,documentação
cultual na épocaromana.
Se
não fosse isso, talvez eu não estivesse muito longe de admittir a última. . . porqueArachne
em
grego
quer dizer•^aranlia^, e muitas teias d'ella
pairam
diante dos olhos do Sr.Ferreira
!
3.0
Armados
do elásticomethodo
que
combato, não sóinter-pretaremos cada
inscripção por differentes maneiras, senãotambém
inscripções portuguesas por palavras latinas, o
que
tornarábem
palpável a todos a inanidade das doutrinas do
meu
adversário.Antes
demencionar
exemplos, quero prevenir o leitor deque
tal
methodo
não é invenção do Sr. Ferreira;nem
a originalidadelhe pertence!
Já
em
18.õ2 Lorichs (para não citar senão uraau-ctor) explicava de
modo
semelhante
as legendas dasmoedas
iberi-' Vid. H. Dessau, fnscriptíonrft Latinae selectai', vol. il, |)t. l.«, liorlini
23
cas:
uma
palavra curao plplis, correspondente claramente a Bilhilis,nome
da
cidadeem
que
no sec. i nasceu Marcial, interpreta-aLo-richs
como
Prae
Posifus Pecuniae Puhlicae INteriorisSpaniae
'.E
nos nossos dias os Lisboetas, quando,
numa
das tristes procissões deque
falia o poeta ^viam
tluctuar, por essas ruas além, opendão
dos Passoscom
S•P•Q•R^
interpretavam taes letras por muitosmo-dos, e entre elles por Síenhor) (o) Pioro) Qfuerj Rfepublico), ao
que,
com
outra interpretação, oSenhor
respondia magestosa,mas
inutilmente: Híãoj P(etirões) Q(ue) Ríegeito).
E
abundam
os casos graciososcomo
o último.—
Continuemos
porém
com
o nosso auctor.a)
Exemplo
deuma
inscripção latina interpretada pelomethodo
do Sr. Ferreira
com
palavras diversas das d'elle.—
Seja a palavraBANDOGE,
já conhecida dos leitores.O
Sr. Ferreira imagina,como
sabemos, e
como
flca refutado acima, pag. 18, que estas sete letrassignificam h(onis) a(iispiciis) nfuminij dfedicatum) o(ptimae) CEfreris).
Mas
porque éque
esta inscripção ha-de referir-se a Ceres, e nãoa Ops, outra deusa
da
fecundidade agraria?Eu
podia,com
as ideiasdo Sr. Ferreira, dar á palavra
bandoge,
e sem,como
elle faz,mudar
abruptamente
G
em
C, a seguinte interpretação:])(enevolenti) a(ugustae) n(utric'i) d(ivinae) 0(pij, g(enetrici) efllebori),
"á benévola, augusta, nutridora e divina Ops,
geradora
do elléburo„.O
elléboro ou helléboro éuma
planta deque
na antiguidade se ex-trahia uramedicamento
applicavel aos maníacos,como
entre outros auctorestestemunha Luciano
nos Diálogos dos mortos *; esteattri-buto genético-vegetal,
bem
como
os epithetos,convém
perfeitamentea
uma
divindade campestre,como
Ops.' Recherches Numísniatiques, t. i, p. 228. Acerca de Bilbilis vid. Momim.
linguae Iberic. de Hiibner, pag. 78.
2 (tomes Leal, Claridades^ do Sul, Lisboa 1875, pag. 83.
^
=
S(enaUis) F(opulus)q(ueJ R(omauus).*
S.i][jzIc, (Í) TávcaXc, xai có'- yXrfiõi'^ Trotof' deirsbo.'. ôoxiiç àx^átoi'
J>'
Exem^b
..íj» Bhro' inscripção portuguesa interpretada pelomesmo
methoddv^coru pala/ras latinas. Seja a seguinte:FERRKIRA
que
cu interpretosem
dilHculdade absolutauiente uenliunia [tor:S(alorem) (((uilarissimuin) n(ugarum), c(uius) t(emvritak'J o(mnes) s(fupent)
,
fíabularum) e(Jfrcnaiissimuni) r(epertorein) r(eij e(i)igraphicae) ifnfcstissimnm),
Rferelanganitaecus) a(verruncet) !
cuni a sijuiiiíicação de: "o deus lusitano Revelanj^anitéco afaste para
„longe de nós
quem
semeia
frioleirascom
tanta audácia etcmeri-„dade que
toda a gente se espanta, equem
com
omaior
desaforo„inventa tabulas prejudicialissiraas á Epigraphia„.
Poderá
algum
leitor dizerque
estas duas absurdas interpreta-ções nãoobedecem
rigorosamente aos principios proclamados,de-fendidos e exemplificados pelo Sr. Ferreira?
O
próprio íSr.Fer-reira terá algo
que
me
objectar?Prophética
me
parece pois esta sentençaque
li ha annos naliívisia dl Storia Antica, v, 3í)7: chi
non
è capace di <Hsfin;juere larlcerca storica e le fendenziose fantusma<jor'ie, dovrehhe inantencrsi in
un bel silenzio nelle questioni di método.
P. S.
Se
o Sr. Ferreirame
replicar, declaro desde já não ter eu tençãonenhuma
de voltar ao assunto, querporque
me
paieceque
deixo bastante esclarecidos os leitores, quer [xirque, precisando eu
do
meu
tempo
para o applicar prolicuamente, não posso continuara desperdiçá-lo
em
digladiações inúteiscom
quem
não se apresentaem
boas condições para a luta.Do
mesmo
auctor:
Religiões
da
Lusitânia, iiaparte
que principalmente
se referea
Portugal.
Três volumes:Vol. I
—Lisboa
1897, XI.-444 páginas, 112 gravuras e 1 estampa.Preço: 2$500 rs.
Vol. II
—
Lisboa 1905, xx-375 páginas, 82 gravuras e 2 estampas. Preço: 2$000 rs."^
VoL
III—Lisboa
1909-1913, xviii-638 páginas, 339 gravuras e2 estampas. Preço: 3$000 rs.
O
Archeologo
Português,
publicado peloMuseu
Ethnologico: 17volu-mes, Lisboa 1895-1912; no prelo o volume 18". Pn^ço de cada
um:
1$500 rs.Lições
de
PhUoloçia
Portugruesa, Lisboa 1911, xxiv-520 páginas. Preço: 2$0U0 rs.Textos Archaicos,
2.« ed., Lisboa 1907-1908, 160 páginas. Preço: 400 rs.Revista
Lusitana, archivo de estudos philologicos c ethuologicos: lõ
vo-lumes. Porto e Lisboa 1887-1912: no prelo o volume 10.". Preço de cada
um:
2$400 rs.Á
venda
naLIVRARIA
CLÁSSICA EDITORA
De
A.
M.
Teixeira
PPAÇA
DOS
RESTAURADORES,
20
f
PLEASE
DO
NOT REMOVE
CARDS
OR
SLIPS
FROM
THIS
ií*^