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CONSIDERAÇÕES SOBRE INTELECTUAIS E FONTES EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

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Academic year: 2021

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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

MÉLO, Cristiane Silva1 - UEM LIMA, Rosilene de2 - UEM QUADROS, Raquel3 - UEM MACHADO, Maria Cristina Gomes4 - UEM Grupo de Trabalho – História da Educação Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

Este pôster apresenta discussões referentes à pesquisa em História da Educação com ênfase na importância das fontes históricas e do estudo sobre os intelectuais para a escrita do conteúdo de história e historiografia da educação. Esse tema é resultante de reflexões e análises desenvolvidas no âmbito do Grupo de Pesquisas e Estudos História da Educação, Intelectuais e Instituições Escolares, cadastrado no diretório do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e sediado na Universidade Estadual de Maringá (UEM). As fontes constituem-se elementos indispensáveis na escrita da história, são produções humanas no que se refere às possibilidades de o historiador selecioná-las e questioná-las para produzir história por meio da memória que contém. As fontes emergem num determinado tempo e espaço, por intermédio de sujeitos historicamente estabelecidos num dado contexto social, desse modo, precisam ser consideradas em toda sua amplitude e complexidade. No estudo que envolve os intelectuais como categoria de análise, as fontes, de caráter bibliográfico, documental, áudios-visuais, entre outros, expressam pensamentos e ações materializadas, perguntas e respostas formuladas por homens em condições de analisar a sociedade e elaborar projetos para a mesma. Há diferentes possibilidades para a escrita da

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Aluna do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá (UEM) - Doutorado em Educação. Participa no Grupo de Pesquisas e Estudos História da Educação, Intelectuais e Instituições

Escolares. E-mail: cristianesilme@yahoo.com.br

2 Aluna do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá (UEM) - Doutorado

em Educação. Participa no Grupo de Pesquisas e Estudos História da Educação, Intelectuais e Instituições

Escolares. E-mail: lene.lim@hotmail.com

3 Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá

(UEM). Participa no Grupo de Pesquisas e Estudos História da Educação, Intelectuais e Instituições Escolares.

E-mail: tkkel@hotmail.com

4 Professora Doutora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá

(UEM). Coordenadora do Grupo de Pesquisas e Estudos História da Educação, Intelectuais e Instituições

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história intelectual e dos intelectuais. Gramsci (2004) nos auxilia a compreender o intelectual como sujeito ativo no processo de manutenção ou transformação das relações sociais bem como dinâmico na arte da construção da cultura. Ele definiu os intelectuais orgânicos como possíveis contribuintes na superação das condições de desigualdades sociais e de exclusão, importantes na construção de uma nova hegemonia ao lado das classes subalternas, consonantes com a cultura e projetos hegemônicos das classes desfavorecidas.

Palavras-chave: História da Educação; Intelectuais; Fontes históricas.

Introdução

Este trabalho apresenta discussões referentes à pesquisa em História da Educação com ênfase na importância das fontes históricas e do estudo sobre os intelectuais para a escrita do conteúdo de história e historiografia da educação. O tema deste texto é resultante de reflexões e análises desenvolvidas no âmbito do Grupo de Pesquisas e Estudos História da Educação, Intelectuais e Instituições Escolares, cadastrado no diretório do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e sediado na Universidade Estadual de Maringá (UEM). O grupo define-se pela investigação acerca da educação e história da educação, entendida em sua articulação com a sociedade em seus aspectos econômicos, sociais, políticos e culturais, nas linhas História da Educação Pública e Intelectuais, História e Memória das Instituições Escolares no Brasil, e História e Memória da Formação de Professores. A linha História da Educação Pública e Intelectuais caracteriza-se pelo estudo de temáticas relacionadas à história da educação pública por meio de intelectuais, pensamentos pedagógicos, teorias, instituições e sistemas educacionais, assim como pela indagação sobre o processo de construção da escola pública brasileira em suas relações com experiências internacionais.

As fontes constituem-se materiais que fundamentam e embasam a pesquisa histórica. (LOMBARDI, 2004). A história da educação no Brasil apresenta significativa tradição de estudos acadêmicos acerca do tema dos intelectuais. Existem diferentes possibilidades para a escrita da história intelectual. (VIEIRA, 2008). Esses motivos levam-nos à afirmação sobre a importância e atualidade das contribuições das fontes históricas e das obras e ações legadas historicamente por personalidades, no campo político e cultural, que servem de análise para o estudo da história da educação.

Desse modo, a seguir apresentam-se conceituações sobre Fontes e Intelectuais no contexto da pesquisa em história da educação. Considera-se que a história, a expressão da memória e as fontes precisam ser compreendidas na conjuntura da produção social, ou seja, é

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importante percebê-las como fenômenos e instrumentos selecionados e elaborados por homens num dado tempo e sociedade. Assim, a história das ideias e dos intelectuais necessita de procedimentos metodológicos específicos. A perspectiva crítica de estudo sobre a presença dos intelectuais os considera como decisivos na estrutura e organização da sociedade, não desvinculados da ação política, ideológica e social. Gramsci definiu os intelectuais orgânicos (GRAMSCI, 2004) como possíveis contribuintes na superação das condições de desigualdades sociais e exclusão, na construção de uma nova hegemonia ao lado das classes subalternas.

Ao voltarmo-nos para o estudo da história da educação no Brasil é possível constatar a presença de muitos homens comprometidos com o exercício prático de suas ideias, eles não apenas contribuíram com o desenvolvimento filosófico sobre educação, mas, em especial, promoveram, na materialidade de ações no campo da instrução, debates, docência, conselhos e ministérios, efetivas mudanças e progressos na educação. São diversas e ricas as fontes que nos possibilitam investigar o desenvolvimento das ideias e concepções pedagógicas ao longo dos tempos.

História da Educação e Fontes

Como campo científico a História e a Historiografia da Educação são de constituição recente. Segundo Ghiraldelli (2001), a manifestação do interesse acerca dessa área de conhecimento tem apresentado crescimento significativo nas últimas décadas, com destaque para os estudos desenvolvidos a partir da década de 1980. Na concepção de Jacques Le Goff (2003, p. 12), o estudo da historiografia insere-se no estudo da própria História, enquanto Ciência que analisa seu próprio movimento histórico, assim, “[...] a própria ciência histórica é colocada numa perspectiva histórica com o desenvolvimento da historiografia, ou história da história.”. O fazer historiográfico requer o domínio dos instrumentos próprios da História, como campo de investigação, dentre os quais se destacam as fontes, que são materiais fundamentais para o trabalho do historiador.

Saviani (2006, p. 28-29) ao discutir o conceito amplo de fontes, destaca que esta palavra denota um lugar de origem, onde surge algo inesgotável, como as minas de água, por exemplo, e indica a base, o ponto de apoio, o “[...] o repositório dos elementos que definem os fenômenos cujas características se busca compreender”. Fontes pode ainda referir-se a algo que nasce espontaneamente, como “naturalmente”. Lopes e Galvão (2001), por sua vez,

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indicam que a grafia da palavra fonte na língua inglesa e francesa, é a mesma, embora a pronúncia não. No inglês apresenta o conceito de levantar-se, surgir, elevar-se, aparecer, sair, e no francês nascente, água que surge, origem, permitindo atribuirmos ao termo mais de um significado.

Para Saviani (2006), na pesquisa em história é necessário considerar que as fontes históricas não são naturais, mas produções humanas construídas ao longo do tempo. Não se trata de considerar a fonte origem do fenômeno histórico e sim um ponto de partida da construção historiográfica, que nada mais é que a reconstrução histórica do objeto estudado. Neste sentido, o autor alerta para a importância de distinguirmos as fontes que se constituem de modo espontâneo, como se fossem naturais, das fontes produzidas intencionalmente.

As fontes em história não “falam” por si só, cabe ao historiador questioná-la a fim de se produzir história a partir da memória nela contida. Elas definem os limites e as possibilidades da reconstituição histórica. (NUNES; CARVALHO, 2005). Saviani (2006) apresenta a reflexão que há muitos papéis que se acumulam em arquivos e bibliotecas, bem como peças guardadas em museus, que não se configuram como fonte, enquanto o historiador não os problematizarem e tornar a investigação dos mesmos necessária para a busca de suas respostas. Esses objetos mencionados podem ser considerados fontes em potencial, mas se consolidam verdadeiramente como fonte somente após serem investigados como tal. Janotti (2005, p. 15) indaga sobre o que seriam as fontes:

Mas, afinal, qual o traço comum que permite chamar de fontes para o conhecimento histórico coisas tão díspares como uma estátua grega do século V a. C., uma máscara maia, uma carta do Marquês de Pombal, um concerto de Mozart, uma película cinematográfica, um artigo de jornal sobre os perigos do desmatamento, uma entrevista gravada de um trabalhador em greve, uma fotografia e uma telenovela? A resposta está no interesse do historiador em inquirir o que essas coisas revelam sobre as sociedades às quais elas pertencem e na criação de uma narrativa explicativa sobre o resultado de suas análises.

Cabe ao historiador problematizar suas fontes e usá-las para compreender diferentes formas sociais. É importante considerar que fontes para pesquisas históricas são produções humanas no que se refere às possibilidades de o historiador selecioná-las e questioná-las para produzir história. Elas se emergem num determinado espaço e tempo, por intermédio de sujeitos historicamente estabelecidos num dado contexto social. As fontes possibilitam entender o mundo e a vida dos homens. Segundo Lombardi (2004, p.155),

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[...] as fontes resultam da ação histórica do homem e, mesmo que não tenham sido produzidas com a intencionalidade de registrar a sua vida e o seu modo, acabam testemunhando o mundo dos homens em suas relações com outros homens e com o mundo circundante, a natureza, de forma que produza e reproduza as condições de existência e de vida.

Sendo assim, o pesquisador precisa analisar o contexto histórico em que a fonte foi constituída. É importante caracterizar os aspectos centrais envolvidos na constituição da fonte para que a interpretação de seu conteúdo seja realizada de forma adequada.

Melo (2010) nos auxilia com a reflexão de que muitos documentos disponíveis para o estudo da história se tratam de documentos escritos, sendo estas as fontes que mais foram valorizadas por pesquisadores até meados do século XX, contudo cresce as possibilidades de uso de diferentes fontes para investigação histórica. O autor destaca que “[...] no campo dos historiadores da educação, o entendimento de fonte histórica inclui toda e qualquer peça que possibilite a obtenção de notícias e informações sobre o passado histórico-educativo” (MELO, 2010, p.15).

Arnaut de Toledo e Gimenez (2009, p. 117) explicam que a obra de Marc Bloch (1886-1944), intitulada Os Reis Taumaturgos, contribuiu com um novo olhar perante as fontes consideradas convencionais. Ampliou-se a percepção de métodos da pesquisa histórica, uma vez que o referido estudo se pautou em legendas e ritos como fontes históricas. Para os autores, tal “[...] procedimento colaborou para a diversificação das fontes de pesquisa e influenciou sobremaneira os estudos históricos posteriores”.

Evidenciamos que as fontes em história da educação precisam ser consideradas em toda sua amplitude e complexidade, sejam documentos escritos, imagéticos, transmitidos pelo som, ou na forma como se apresentarem. É necessário desmistificá-las, analisá-las com profundidade e criticidade e problematizá-las como algo não espontâneo, pois podem portar erros, informações deturpadas ou falsas, de acordo com os interesses do momento histórico no qual se apresenta.

Este tratamento não se diferencia nas pesquisas históricas realizadas por meio do estudo de obras, ações e ideias dos intelectuais. A pesquisa sobre o pensamento educacional como fonte requer uma série de cuidados para que não se elabore uma história centrada na ação dos “grandes personagens” em detrimento da investigação sobre fatores históricos ideológicos e culturais. É preciso considerar os itinerários de formação e as redes de sociabilidade que engendraram a projeção e envolvimento social do intelectual em questão, assim como as representações e práticas culturais pertencentes a contextos históricos

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específicos da vivência do autor, cotejando-as com as condições materiais de uma dada sociedade.

As fontes constituem-se em diversas possibilidades ao historiador no que tange ao conhecimento do processo da história. No estudo que envolve os intelectuais como categoria de análise, as fontes, de caráter bibliográfico, documental, áudios-visuais, entre outros, expressam pensamentos e ações materializadas, perguntas e respostas formuladas por homens em condições de analisar a sociedade e elaborar projetos para a mesma, criando e recriando aspectos da instrução na construção da história e memória da educação.

Intelectuais: conceitos e contribuições na escrita da História da Educação

A investigação sobre pensamentos e ações de intelectuais no âmbito da história da educação pressupõe a análise do percurso percorrido pelo ator social em questão na defesa de seus projetos e práticas para o progresso do campo educacional, sendo importante a apreciação de suas bases teóricas que se referem à formação humana e social. A pesquisa que tem como finalidade o estudo dos intelectuais,

[...] é uma perspectiva que objetiva estabelecer os nexos, as relações entre os intelectuais, as correntes de pensamento e o seu meio social. Investigamos os intelectuais porque consideramos que as suas ideias e as suas trajetórias são testemunhos privilegiados dos diversos projetos formativos que demarcam as disputas em torno da direção dos processos de formação das novas gerações (VIEIRA, 2001, p. 55).

Desse modo, o estudo sobre intelectuais na história da educação pressupõe a análise do grupo social a qual pertence e do grupo social a qual representa, bem como dos movimentos sociais e educacionais que participou e das relações que estabeleceu com o Estado e sociedade. Gramsci (2004) assevera que os intelectuais são, na sociedade, representantes de classes, eles intervêm nos episódios da cultura, o indivíduo organiza e sustenta a estrutura social e tem a capacidade de refletir sobre si mesmo e sobre sua relação com a sociedade.

Compreender como historicamente vem se expressando as ideias e ações dos agentes da educação tem sido uma prática desenvolvida no contexto da escrita da história da educação ao longo de décadas. A história intelectual em diversos momentos se aproximou da história das ideias (FALCON, 1997), da história cultural, da história social das ideias e da história política. Isso porque investigar a expressão do pensamento pedagógico de determinado

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intelectual exige a compreensão da conjuntura social, que envolve aspectos culturais, ideológicos e políticos, os quais embasam sua prática.

Vieira (2008, p. 67) explica que há diferentes possibilidades para a escrita da história intelectual e dos intelectuais e que foram diversos os significados associados ao conceito de intelectuais ao longo dos séculos XIX e XX. Dentre os conceitos, encontram-se, por exemplo, a ideia de “intelectual como mediador dos conflitos sociais”, expresso na obra de Karl Mannheim, a de “intelectual como dirigente e organizador da cultura”, nos textos de Gramsci, e a de “intelectual como produtor de capital simbólico”, destacado na obra de Pierre Bourdieu.

A perspectiva de Gramsci sobre os intelectuais vem sendo objeto de estudo no Grupo de Pesquisas e Estudos História da Educação, Intelectuais e Instituições Escolares. Gramsci (2004, p. 15) nos auxilia a compreender o indivíduo como sujeito ativo no processo de manutenção ou transformação das relações sociais bem como dinâmico na arte da construção da cultura. No escrito “Apontamentos e notas dispersas para um grupo de ensaios sobre a história dos intelectuais” (GRAMSCI, 2004) o autor discute a natureza e a função social dos intelectuais. Afirma que todo grupo social busca criar intelectuais que lhes possibilitam homogeneidade e consciência de classe no contexto social e político, desse modo, considera que os intelectuais não são autônomos e independentes, eles estão significativamente vinculados à defesa de uma classe.

Gramsci (2004) compreendia que a educação poderia desenvolver as habilidades intelectuais e técnicas dos indivíduos para o exercício de determinada atividade profissional e capacitação para a direção política do Estado. Assim, a escola era um instrumento de elaboração de intelectuais, ele notava a existência de muitas instituições educativas especializadas, cuja formação se diferenciava a partir da intencionalidade de formação do sujeito, cada atividade prática criava uma escola especializada própria, assim como seu próprio círculo de cultura. A educação induzia a formação especializada de intelectuais orgânicos que influíam na organização e estrutura social.

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Uma das características mais marcantes de todo grupo que se desenvolve no sentido do domínio é sua luta pela assimilação e pela conquista que são tão mais rápidas e eficazes quanto mais o grupo em questão for capaz de elaborar simultaneamente seus próprios intelectuais orgânicos. O enorme desenvolvimento obtido pela atividade e pela organização escolar (em sentido lato) nas sociedades que emergiram do mundo medieval indica a importância assumida no mundo moderno pelas categorias e funções intelectuais: assim como buscou aprofundar e ampliar a “intelectualidade” de cada indivíduo, buscou-se igualmente multiplicar as especializações e aperfeiçoá-las. Isso resulta das instituições escolares de graus diversos, até os organismos que visam a promover a chamada “alta cultura”, em todos os campos da ciência e da técnica. (A escola é o instrumento para elaborar os intelectuais de diversos níveis. A complexidade da função intelectual nos vários Estados pode ser objetivamente medida pela quantidade das escolas especializadas e pela sua hierarquização: quanto mais extensa for a “área” escolar e quanto mais numerosos forem os “graus” “verticais” da escola, tão mais complexo será o mundo cultural, a civilização, de um determinado Estado. [...]) (GRAMSCI, 2004, p. 19).

Gramsci (2004) asseverava que a presença dos intelectuais tradicionais e dos intelectuais orgânicos na sociedade fortalecia e promovia diferentes ideologias bem como práticas voltadas para o convívio e relações sociais. Ele atribuiu imensa importância aos intelectuais orgânicos comprometidos com as classes subalternas por meio de uma atuação consciente na política e sociedade. Semeraro (2006, p. 387) destaca que “O intelectual que emerge dos escritos de Gramsci é “orgânico” (voltado a impulsionar a sociedade inteira, não apenas uma parte), democrático (determinado a superar a relação de poder-dominação) e popular (sintonizado com a cultura e os projetos hegemônicos dos “subalternos”).”.

O conceito de intelectual em Gramsci (2004) contribui intensamente para a escrita da história intelectual da educação. Campos (2010, p. 131), por exemplo, estabelece coerentemente interlocução entre o conceito de intelectual organizador da cultura, em Gramsci, e a trajetória intelectual de Paulo Freire, que se caracterizou pela produção de reflexões teóricas, pela participação de práticas culturais, assim como pela elaboração e ação de projetos educativo e político-cultural.

Considerações Finais

As fontes são elementos indispensáveis para a escrita da história. Nas pesquisas em história da educação explorar fontes pressupõe necessidade de rigor e interpretação do contexto em que tais registros foram produzidos. As fontes selecionadas, bem como, os procedimentos metodológicos de análise, concedem à pesquisa delimitação espaço temporal e maiores condições para o conhecimento dos fatos e eventos históricos sobre os quais o pesquisador busca analisar.

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Cabe aos historiadores preservar os materiais que podem servir de fonte, tendo em vista o potencial de eles se apresentarem como documento histórico, capaz de fornecer informações em pesquisas futuras, sejam elas de interesse específico de pesquisa ou não. É importante considerar que existem materiais que mesmo não sendo caracterizados, a priori, como fontes, podem ser constituídos como fontes na medida em que o objeto de estudo do pesquisador exige. (SAVIANI, 2006).

A sociedade historicamente produz diferentes vestígios ou fontes. Estas são produzidas socialmente, contudo algumas produções se destacam por se tornar públicas ou por serem sintetizadas por autores individualmente e mais recentemente, por intelectuais, tornando-se obras clássicas que representam a vida ou a luta de determinados grupos sociais ao defenderem seus projetos para a manutenção ou transformação das condições sociais, materiais, econômicas ou culturais de uma dada sociedade. Tais obras traduziram os embates e disputas que nos permitem reconstituir historicamente como os homens viveram no passado. A história intelectual da educação contribui para elucidar o desenvolvimento das ideias e concepções pedagógicas ao longo dos tempos, para o conhecimento sobre as personalidades que atuaram decisivamente em favor da difusão da educação e na promoção cultural numa dada sociedade, e, em especial, para indicar indícios da memória coletiva, sendo esta importante na vida social e influente na construção de identidades sociais. Gramsci (2004) fornece importantes aspectos de análise sobre a presença dos intelectuais na sociedade, permitindo-nos a reflexão sobre a não neutralidade da expressão e ação das personalidades no processo de construção histórica.

Intelectuais, fontes e história da educação são temas recorrentes que se cruzam e exigem cada vez mais estudos por parte de educadores e historiadores que se voltam para temas históricos e buscam compreender como a educação e as escolas se constituíram historicamente, desvelando qualquer explicação natural sobre seus aspectos. A compreensão, sobretudo, de como nossa escola foi criada é fundamental para o enfrentamento de suas mazelas atuais tanto nos seus aspectos externos quanto internos. Assim, temas como arquitetura, conteúdo, currículo, método, avaliação, formação de professores, entre outros, devem ser enfrentados.

REFERÊNCIAS

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