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Por uma Marinha forte, homogênea e exercitada: da Nau Vasco da Gama as primeiras Companhias de Aprendizes Marinheiros no Brasil Imperial

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Academic year: 2021

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Por uma Marinha forte, homogênea e exercitada: da Nau Vasco da Gama as

primeiras Companhias de Aprendizes Marinheiros no Brasil Imperial

Jorge Antonio Dias

O presente trabalho, tem como objeto, o processo de criação das primeiras companhias de aprendizes marinheiros oriundas durante o período Imperial brasileiro. Importante destacar que se trata de uma discussão inicial, vinculada a um projeto maior, cuja investigação pretende compreender os diferentes processos institucionais e políticos, que levaram a criação da Companhia de Aprendiz da Corte – Rio de Janeiro. Analisar sua constituição institucional, objetivos, estruturação hierárquica de seus membros (lentes, professores e aprendizes), currículos e disciplinas; e consequentemente o processo de transformação dessa Companhia em Escola, em 1885, através do Decreto Legislativo nº 93711, de 14 de fevereiro de 1884, que deu nova organização às Companhias de Aprendizes Marinheiros.

Importante também destacar, que a perspectiva adotada para a realização desse trabalho, esta alinhada ao domínio do campo histórico que abrange à História Naval brasileira, sem contudo deixar de propor uma interface com a História Marítima. Esse aspecto tem importância, na medida que nos coloca em um campo de abordagem específico – a formação de Imperiais Marinheiros para a o quadro profissional da Marinha Imperial.

Durante um relativo tempo, em comparação ao Exército, durante períodos concomitantes, pesquisas sobre a Armada2, foram foco de historiadores militares ligados exclusivamente à Arma. No artigo intitulado A Historiografia Naval Brasileira (1880-2012): uma visão panorâmica (Revista Brasileira de História Militar, 2012), Francisco Eduardo Alves de Almeida, então Doutorando em História Comparada da UFRJ, buscou elencar através de um grande esforço de pesquisa, os diferentes momentos através dos quais a historiografia Naval brasileira foi sendo constituída. A esse esforço, que de certa forma corrobora, sem contudo diminuir o mérito da produção, pois, o autor é oficial da Marinha, o fato de que:

Doutorando do Programa de Pós-graduação em História, Política e Bens Culturais – PPHPBC do CPDOC/FGV. 1 CLI – Coleção de Leis do Império 1885.

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“historiadores militares, em geral oficiais com experiência de campo, valem-se de sua techinical expertise e do controle dos arquivos para construir, por assim dizer, uma segunda versão da velha história militar, uma história mais técnica, centrada em temas de logística, estratégia, armamentos e nas análises das grandes operações na história das guerras.” (SOARES & VAINFAS, 2012: 120; Apud MACUSO, 2008:

3-4).

Essa breve explicitação do tema, e a consequente intenção de inseri-lo em um campo de investigação específico, denota nosso interesse e vinculação a perspectiva de um trabalho com olhar voltado a “Nova História Militar”. Onde, ao adotarmos nossa inserção ao novo, não significa que estamos sendo conduzidos por esse pensamento sem questionamentos. Afinal, estamos cientes das intrínsecas relações que a utilização de determinada nomenclatura têm, principalmente o poder, ao se periodizar nomeando um tempo.

A “nova história militar somente desabrochou a partir dos anos 1980” (op; cit.: 121), com temas e objetos adequados a contemporaneidade e as diferentes perspectivas da História Social. Importante contribuição foi à aproximação de historiadores civis, em diálogo com a Sociologia, Ciências Políticas e a Antropologia propiciando novos caminhos e novas abordagens.3

Feitas essas observações pontuais, acreditamos ser importantes para que se tenha claro o caminho percorrido, desde a problematização do tema, à construção do objeto, objetivos, a forma de escrita e uso das fontes na construção do conhecimento histórico.

Por uma Marinha forte, homogênea e exercitada

Este subtítulo, foi extraído do livro “Subsídios para a história Marítima do Brasil,” cujo trecho em destaque,foi escrito por Lucas Alexandre Boiteux, Capitão de Mar e Guerra, quando das comemorações do primeiro centenário da criação das companhias fixas de aprendizes marinheiros (1833). Da forma como esta apresentada, a primeira vista, somos remetidos a aspectos mais gerais, que não apontam para as profundas mudanças ocasionadas por esta forma de pensar a organização militar da Marinha Imperial.

3 Além do texto utilizado no corpo desse trabalho de Luiz Carlos Soares e Ronaldo Vainfas – Nova História Militar, capítulo 6, que faz parte do livro organizado por Ciro Flamarion e o próprio Ronaldo Vainfas, nomeado de Novos Domínios da História, um outro importante livro: Nova História Militar Brasileira; organizado por Celso Castro, Vítor Izecksohn e Hendrik Kraay, aborda uma série de novos temas e objetos associados à história militar brasileira dentro de uma perspectiva interdisciplinar.

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A Marinha Imperial Brasileira não apresentava uma organização de ramo regular do serviço público, regido por normas e preceitos definidos (MAIA, 1975), isso até meados do século XIX. Contudo, a origem da Marinha do Brasil se funda na própria criação do Império, na emancipação política do Brasil em relação a Portugal em 1822. A defesa do vasto litoral significava a defesa da posição de independência, e demandou a criação de uma pequena esquadra marítima que foi possível organizar devido aos navios que haviam transportado a comitiva real em 1808, e que aqui haviam permanecido. Tendo participado ativamente dos movimentos que garantiram a Independência brasileira, e posteriormente das guerras externas; a Marinha se tornou, ao longo do século XIX, uma instituição de prestígio político (BANDEIRA, 2010), bem como uma forma de governo monárquica e uma administração burocrática e centralizada (MATTOS, 1990; CARVALHO, 1997).

Um dos maiores problemas que as forças – Exército e Marinha – adquiriram como herança do período anterior a independência foi o suprimento de quadros inferiores. Essa questão contudo, merece ser tratada com o máximo de rigor; pois, se por um lado como aponta Fábio Faria Mendes (2004: 111-137), o recrutamento militar no Brasil dos séculos XVIII e XIX fez-se acompanhar de uma complexa trama de negociações, resistências e compromissos, através de uma dupla configuração institucional: a combinação de uma administração honorária com ordens de privilégio, que definiria o recrutamento no Brasil. Reafirmando que “tal empreitada seria uma luta constante para impor, evitar ou transferir a outros os encargos do serviço militar.” (op; cit. : 112). De certa forma vindo ao encontro do que Boiteux declara, através de um depoimento, segundo ele anônimo:

A repugnância dos brasileiros pela vida marítima (...) por encontrarem em terra meios exuberantes de subsistência, sem as dolorosas provações do mar, e a redução da marinhagem nascida em Portugal e considerada brasileira, produzindo grande falta de marinheiros manifestou a necessidade de os formar constrangidamente...( BOITEUX,

1833: 228)

Em outra direção, encontramos na documentação anexada aos avisos do Ministro da Marinha, a súplica de Silvestre de Souza Pereira, solicitando o engajamento para seus dois filhos menores João e Antonio Venâncio da Silva Pereira.4 Notamos a existência de uma ambiguidade em

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relação ao ingresso de jovens no serviço militar, em especial na Marinha. Se por um lado o processo de modernização da sociedade em curso exigia formação adequada para se alcançar à ascensão social, o sistema de ensino ainda não havia se estruturado nesses moldes; cabendo então como uma dasalternativasaos desfavorecidos socialmente, o ingresso nas fileiras militares, a fim de alcançarem educação e uma profissão de status, que num futuro próximo garantiria o sustento individual ou mesmo familiar. Por outro lado, o ingresso desses jovens aprendizes nos quadros da Marinha revelou-se um importante instrumento de controle social, resolvendo “em parte” os problemas da Marinha e da sociedade emergente conforme apontam os relatórios do Ministro da Guerra5.

Em 1826, imerso em um quadro político delicado, pelo pós-independência e a Guerra Cisplatina, foi designado para novo depósito da Marinhagem e Recrutas a Nau Vasco da Gama. Para essa empreitada foi designado o Capitão de Fragata Francisco de Assis Cabral e Teive. As instruções para o comando da Nau e consequentemente dessa nova atribuição foi encaminhada ao comandante pelo Vice-Almirante Francisco Antonio da Silva Pacheco, que respondia pelo cargo de Inspetor do Nacional e Imperial Arsenal de Marinha. Esta iniciativa pioneira, contudo, só pode ser tomada e ampliada por diferentes comandantes de outros navios, face as diferentes formas de engajamento e recrutamento. Segundo Silvana Jeha (2011, p. 42-3), existiam cinco maneiras de tripular os navios da Armada. Sendo três delas compulsórias e duas, contratuais.

Esses aspectos contudo, nos fazem refletir, primeiramente sobre a necessidade de se criar uma cultura marítima em meio a um heterogêneo grupo que formava a Armada Imperial. Esse aspecto, foi apontado, em diferentes momentos por diferentes Ministros da Marinha:

(...) apresento a relação demonstrativa do pessoal e congratulo-me com esta Augusta Câmara de poder affirmar, que, não obstante a heterogeneidade dos membros componentes da corporação da Marinha Brazileira, todos os officiaes, com pequenas excepções, têm a necessária energia, intelligência e valor para fazer realçar a integridade do pavilhão imperial brazileiro (Relatório do Ministro da Marinha,

1828)

A heterogeneidade da tripulação dos nossos navios de guerra, que infelizmente não podemos ainda destruir, é talvez causa de não poucos males que tenhamos sofrido. Qualquer que seja a habilidade dos marinheiros estrangeiros, é claro que tomarão, como nós, tanto interesse pelos pais a que servem, e ninguém ignora os prodígios de

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que é capaz o entusiasmo pela glória nacional, e quando muitas vezes dele a sorte dos combatentes. (Relatório do Ministro da Marinha, 1832).6

Como observado, pela leitura dos seguidos relatórios ministeriais, permanece, segundo a visão dos ministros, uma composição defeituosa e desarmonizante fatal ao serviço. Como deixa transparecer, pela discussão até aqui empreendida, a questão do “aparelhamento humano” para servir ao material flutuante ainda precisa ser aprofundada. O processo endógeno de reestruturação da Marinha, a nosso ver, não pode ser dissociado da questão política mais geral da configuração imperial brasileira. Houve com isso uma ruptura no quadro de pessoal da Marinha, e a documentação aponta para um número considerável de demissões de oficiais, iniciadas em 1831, através da vistas em documentação, sobre quem havia dúvidas de serem ou não cidadãos brasileiros, ou se acharem compreendidos em alguma das exceções do artigo 4º da Carta de Ley de 25 de novembro 1831.7

Para o pessoal inferior – marinheiros - o engajamento e recrutamento, das formas descritas anteriormente, só seriam tomados a cabo quando falhava o primeiro. As diferentes experiências, cujos objetivos, a priori era equipar com pessoal a Marinha de Guerra, transformou-se numa verdadeira ideologia da vadiagem (SOUZA, 2004). Jorge Prata de Souza (1998), Renato Pinto Venâncio (2010) e José Carlos Barreiro (2005), discutem a participação de mão de obra de homens e mulheres, livres, libertos e escravos, ingênuos, órfãos e vadios nas estruturas produtivas do Império e das forças Armadas, como forma de manter a ordem econômica e diminuir as possíveis tensões sociais. Preocupação comum nesses autores, são as formas empregadas pelos oficiais e comandantes dos navios para manter a ordem e a disciplina a bordo, assim como o recrutamento desse contingente de mão de obra para suprir as fileiras da corporação.

Importante ressaltar que o recrutamento de crianças e adolescentes, para além das formas tradicionais, entende-se o recrutamento “forçado” pelas autoridades policiais,8 versão consagrada pela historiografia e perpetuada pela memória; conviveu com a busca pelas próprias famílias

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http://brazil.crl.edu.

7 Avisos do Ministro da Marinha. Jul/Dez 1831. * III M 405 f.5 CODES/DEL – Arquivo Nacional

8 Artigo 5º do Relatório do Ministro da Marinha: O governo fica autorizado para ajustar marinheiros a prêmio, preferindo os nacionais a estrangeiros, e não havendo assim quem queira engajar-se, poderá recrutar, na forma da lei as praças necessárias para completar as forças acima decretadas. Fonte: RMM –1836.

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populares de todo o país pelas instituições militares, como forma de oferecer formação e alternativa de vida aos filhos.

O período regencial foi marcado em todo território nacional por uma generalizada exacerbação de espíritos que se refletiu em movimentos armados. “A Marinha de Guerra era quase o único instrumento de ligação entre o Governo Central e as Províncias, precisando desdobrar-se para suprir de esforço e trabalho a ordem nacional.” (MAIA, 1975: 132). Ainda segundo ao autor citado, os estadistas brasileiros chegaram a conclusão de que, para prover a Marinha de Guerra de sua primeira necessidade (pessoal), a solução era o Estado formar esta classe de servidores indispensáveis à nação. Nesse contexto, administrativamente a Marinha foi autorizada a criar 4 Companhias Fixas de Aprendizes Marinheiros9, que posteriormente iriam fomentar a formação do Corpo de Imperiais Marinheiros.

As Companhias Fixas de aprendizes Marinheiros

Em 1836, o ministro Salvador José Maciel, criou, as companhias fixas de marinheiros, onde deveriam servir:

todos os rapazes sem meios de subsistência, e os que não se aplicarem assiduamente a algum ofício ou ocupação; estes corpos devem ser organizados de tal forma, que se tornem aptos para todo o serviço de mar, e aprendam conjuntamente o manejo de artilharia, de fuzil e de todas as armas, que se usam nos combates navais e nos de terra.(Relatório do Ministro da Marinha, 1836, p. 8)

Segundo Arias Neto (2001), o pensamento de Maciel, era o mesmo de Rodrigues Torres, (seu antecessor). O recrutamento deixaria de recair sobre “trabalhadores produtivos e necessários” e passaria a visar meninos e “desocupados”, conforme aponta a decisão de nº 6 de janeiro de 1834: “isentando do recrutamento para os navios de guerra os indivíduos que, como marinheiros, estejam matriculados em embarcação do comercio de cabotagem e de pescaria”.10 Os desocupados deveriam ser "educados" nos princípios que orientam os serviços de Marinha: a mais irrestrita subordinação. O referido autor ainda argumenta, o que de certa forma já expomos,

9 O decreto de 22/10/1836, cria 4 Companhias Fixas de Marinheiros . Fonte CLI - 1836 10 Fonte: Leis e Decisões 1834 –CLI parte I.

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sobre a nacionalização da força e a militarização da Marinha, em seu sentido mais stricto, ou seja, sofisticação do processo de recrutamento forçado e da composição das guarnições da Armada. Diferentes questionamentos podem ser extraídos desse processo, e caminhos, também diferentes podem ser tomados. Existe uma linha que amálgama os trabalhos historiográficos discutidos no item anterior; sendo essa a formação profissional, um grupo heterogêneo orientado pela exclusão política e social. Fica notório esse processo quando da leitura de diferentes decisões compreendidas entre os períodos de 1833 a 1836:

Ordenando que não assente praça a bordo dos navios de guerra a indivíduo algum que para esse fim seja enviado com a nota de criminoso, ou cujos costumes sejam incompatíveis com a moralidade e subordinação que deve haver a bordo dos navios de guerra. (Decisão nº 30 de 22/01/1834).

Recomenda que os juízes de paz, remetam para o Arsenal da Marinha da Corte, os recrutas para a Armada e Corpo de Artilharia da Marinha, com declaração das qualidades que devem ter tais recrutas – moços de 12 a 16 anos, não mal feitores, criminosos, não ser entregue ao refugo da população.(Decisão nº 31 de

23/01/1834).

Constituídas como o mais importante viveiro de marinheiros,11 as Companhias de Aprendizes Marinheiros, que posteriormente foram transformadas em Escolas de Aprendizes Marinheiros, guardam consigo possibilidades de pesquisa ainda a serem trabalhadas. Inicialmente criadas em número de quatro, uma na corte e outras três em províncias do norte do Brasil, eram compostas sucessivamente de cem praças cada uma: 01 Capitão da Companhia, 01 Tenente da Companhia, 02 guardas marinha, 01 contra-mestre, 01 guardião, 01 primeiro forriel, 01 segundo forriel, 04 cabos de marinheiros, 18 primeiros-marinheiros, 18 segundos-marinheiros, 26 terceiros-marinheiros e 26 aprendizes-marinheiros. Achando-se já formadas as quatro companhias fixas de marinheiros, o Regente, em nome do Imperador, pelo decreto de 17 de março do ano de 1837, resolve designar um oficial superior da Armada para comandante Geral das mesmas. Tais instituições tinham como principal requisito: “formar uma escola de Marinheiros Nacionais, próprios para todo o serviço da Esquadra Brasileira, tanto na paz como na guerra”.12 Curioso entender que o Nacional, aqui apresentado, é utilizado em oposição ao estrangeiro, ao que não é nativo do território, nem naturalizado.

11 Relatório do Ministro da Marinha, 1906. 12 Decreto de 1° de julho de 1837 – CLI

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Pela decisão de nº 385 de 1836, a Regência determinava aos presidentes das províncias do Império que fizessem recrutar e enviar para a corte, quando houvesse embarcação:

o número possível de rapazes de 14 anos para cima, que não se aplicando a ramo algum de indústria, nem tendo ocupação pela qual ganhem honestamente os meios de subsistência, sejam idôneos grumetes da Armada, a fim de aprenderem na Escola de Marinhagem, estabelecida na corte a bordo da fragata Príncipe-Imperial, devendo recomendar-se ao Comandante do Navio, em que vierem tais rapazes, os melhores tratamentos dos mesmos.

Para além dos aspectos do engajamento e recrutamento forçado, outra questão se faz importante destacar. A idade para o recrutamento militar. Até meados dos anos 1870, o recrutamento foi feito com base no regulamento de 1822 (Decisão nº 67, 1822), onde: “ficam sujeitos ao recrutamento todos os homens brancos solteiros, e ainda pardos libertos de idade de 18 a 35 anos que não tiverem a seu favor as exceções”. Contudo, em diferentes momentos de consulta a documentação pertinente ao período de criação das companhias de aprendizes, até 1889, o que observamos é uma alternância de idades e possibilidade de recrutamento e engajamento que se alternam. Ao longo do século, a idade mínima dos recrutas, de dezoito anos, foi diminuindo para dez anos, assim como, estabelecidos à quantidade máxima destes nas embarcações:

Convindo regular o número de grumetes menores que pode ter cada um dos navios de guerra, fora da lotação, e que freqüentam as escolas nas embarcações onde são permitidas, previno Vmª de que os grumetes de 12 anos para menos dever ser considerado menor, e destes poderão ter, fora da lotação, as fragatas de 1ª ordem 25, de 2ª ordem 20, corvetas 16 e brigues 12.(Decisão nº 452 de 19/12/1834).

A esses dois aspectos, podemos acrescentar outros a exemplo: qual a natureza, e como funcionavam essas companhias, onde se localizavam e quais os critérios para essa localização, quais seriam os projetos da Marinha para essas instituições? Os aprendizes, quem eram, como viviam? Quais temas eram discutidos e privilegiados em sua formação? Algumas dessas questões ainda precisam ser estudadas.

Uma das nossas preocupações para nesse trabalho, e consequentemente para a pesquisa que caminha, é a diversidade que no estágio inicial foi ponto da principal companhia de aprendiz de marinheiro – da Corte. Afinal, como apontado, havia por parte da legislação pertinente a obrigatoriedade do envio desses jovens para corte, que agregava um número maior de aprendizes

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em relação a demais companhias durante todo o período imperial. Com isso, compactuamos com Silvana Jeha, quando a mesma afirma que:

A Corte foi tanto uma força centrípeta quanto centrífuga de recrutas. Homens de toda a parte eram enviados à capital do Império e, dali, realocados em outras províncias. Se, por um lado, o Estado criou esse processo de migração forçada, por outro, esse trânsito de pessoas gerou redes de informações incontroláveis, que devem ter engendrado algumas noções de pertencimento a um lugar maior do que aquele de nascimento e residência, enfim um sentimento de nacionalidade ao avesso, de baixo para cima.(JEHA, 2011: 126)

E assim, nosso objeto se construiu. O trabalho aqui apresentado não tem a incumbência de dar respostas às questões anteriormente formuladas. Mas, salientar sua importância no contexto historiográfico a que se destina. Nossa pesquisa, ainda em sua fase inicial, persegue a linha deixada por outros historiadores que, da mesma forma procuraram trilhar por espaços, caminhos e mares nunca antes navegados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARIAS NETO, José Miguel. Em busca da cidadania: Praças da Armada Nacional (1867-1910). Tese de Doutorado. USP, 2001.

BANDEIRA, Fabiana Martins. Disciplinando homens, Fabricando marinheiros: Relações de poder no enquadramento social da corte (1870-1888). Dissertação de Mestrado em História Social, Uni-Rio, 2010

BARREIRO, José Carlos. Os relatos do Ministério da Marinha como fontes para a análise da formação da disciplina de trabalho na Marinha do Brasil (1780-1850). Revista Patrimônio e Memória. Unesp – Fclas – CEDAP, vol. 1, n.2 2005.

BOITEUX. Lucas Alexandre. Corpo de Marinheiros Nacionais.

CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem: a elite Imperial. Teatro das Sombras: a política Imperial. 3ª Ed. – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.

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CASTRO, Celso et. Ali. Nova História Militar Brasileira. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004. JEHA, Silvana Cassab. A Galera Heterogênea: Naturalidade, cultura e trajetória dos recrutas e marinheiros da Armada Nacional e imperial do Brasil c. 1822 – c. 1854. Tese doutorado. Puc/RJ, 2011.

MAIA, João do Prado. A Marinha de Guerra do Brasil na colônia e no Império: tentativa de reconstituição histórica. 2ª ed. Rio de Janeiro, Cátedra; Brasília, 1975

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SODRÉ, Nelson Werneck. A História Militar do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.

SOUZA, Jorge Prata de. A mão de obra de menores escravos, libertos e livres nas instituições do Império. Apud: SOUZA, Jorge Prata de (org.) Escravidão: ofícios e liberdade. Rio de Janeiro: Arquivo Público de Estado do Rio de Janeiro – APERJ, 1998

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