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O sofrimento psíquico dos professores sob a ótica da psicologia

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GRANDE DO SUL

DHE - DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO CURSO DE PSICOLOGIA

DÉBORA LAÍS CHEJOVICH

O SOFRIMENTO PSÍQUICO DOS PROFESSORES SOB A ÓTICA DA PSICOLOGIA

Santa Rosa 2020

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DÉBORA LAÍS CHEJOVICH

O SOFRIMENTO PSÍQUICO DOS PROFESSORES SOB A ÓTICA DA PSICOLOGIA

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Psicologia objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso - TCC. UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. DHE- Departamento de Humanidades e Educação.

Orientador(a): Dr.ª Ângela Maria Schneider Drugg

Santa Rosa 2020

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Dedico este trabalho a todos os

professores, que mesmo com as

dificuldades postas no seu trabalho, nunca desistiram, e ainda assim, sonham com dias melhores.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradecer a Deus, por me permitir alcançar todos meus objetivos de vida, e ultrapassar todas as dificuldades que surgiram neste percurso acadêmico.

À Prof.ª Dr.ª Angela, minha orientadora, que muito me ensinou neste período, contribuindo para meu crescimento científico e intelectual.

Aos meus pais, que não mediram esforços para que eu conseguisse cursar o curso de Psicologia, sempre estando do meu lado, compreendendo todos os momentos difíceis que tive.

Ao meu namorado Guinter, por ser meu parceiro de vida, sempre me incentivando para que eu conseguisse alcançar minhas metas, compreendendo minhas ausências nos dias em que me dediquei a este trabalho.

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“Um dia, quando olhares para trás, verás que os dias mais belos foram aqueles em que lutaste.” Sigmund Freud

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O presente trabalho de conclusão de curso, tem como tema principal o sofrimento psíquico no trabalho docente. Objetiva abordar a forma de organização de trabalho do educador, apresentando consequências que o sofrimento psíquico pode causar na sua vida profissional e diária. Investiga também como as estratégias defensivas são utilizadas para minimizar as principais vivências de sofrimento psíquico no trabalho dos professores. Constata-se que atualmente os professores passam por várias dificuldades em seu trabalho, perdendo a real compreensão de suas funções. Várias são as razões que impedem os profissionais de acompanhar essas transformações no meio educacional, entre elas podemos destacar o não reconhecimento da profissão, infraestruturas inadequadas, falta de recursos e materiais didáticos, poucas formações em relação às novas demandas. Apesar disto, sabemos que se cobra cada vez mais destes profissionais, que por sua vez sentem-se sufocados pelas constantes exigências, surgindo assim a insatisfação e o sofrimento psíquico no fazer profissional. A metodologia usada nesta pesquisa, é de cunho bibliográfico, com abordagem qualitativa, descritiva e exploratória embasada teoricamente em leituras de obras do campo da psicanálise, da psicologia organizacional e do trabalho e da educação.

Palavras-Chave: Psicologia Organizacional e do Trabalho. Sofrimento Psíquico do Professor. Síndrome de Burnout.

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The main theme of this present work is the psychological suffering in teaching. It aims to address the educator's form of work organization, presenting consequences that psychological distress can cause in their professional and daily life. It also investigates how defensive strategies are used to minimize the main experiences of psychological distress in the work of public-school teachers. It appears that nowadays teachers go through several difficulties in their work, losing the real understanding of their functions. There are several reasons that prevent professionals from monitoring these changes in the educational environment, among them we can highlight the lack of recognition of the profession, inadequate infrastructure, lack of resources and teaching materials, few trainings in relation to new demands. In spite of this, we know that more and more professionals are being charged, who in turn feel suffocated by the constant demands, thus resulting in dissatisfaction and psychological suffering in professional practice. The methodology used in this research is of a bibliographic nature, with a qualitative, descriptive and exploratory approach theoretically based on readings of works in the field of psychoanalysis, organizational psychology and work and education.

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INTRODUÇÃO ... 8

1 POSSÍVEIS CAUSAS DO SOFRIMENTO PSÍQUICO DE EDUCADORES ADVINDAS DA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ... 12

1.1 Da história do trabalho ... 12

1.2 Da história do trabalho do professor... 14

1.3 Da organização do trabalho ao adoecimento psíquico dos professores ... 18

2 AS ESTRATÉGIAS DEFENSIVAS NO CAMPO EDUCACIONAL ... 26

2.1 Dos mecanismos de defesa individuais às estratégias coletivas de defesa27 2.2 Sublimação como uma estratégia defensiva no trabalho do professor ... 32

2.3 A negação como uma estratégia defensiva ... 32

2.4 A racionalização como mecanismo de defesa ... 34

2.5 A Síndrome de Burnout como resultado do fracasso das estratégias defensivas e dos mecanismos de defesa ... 35

CONCLUSÃO ... 39

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INTRODUÇÃO

O tema proposto nesta pesquisa é o estudo do sofrimento psíquico dos professores. O objetivo principal é o de analisar as condições de trabalho, bem como os fatores relacionados à organização deste, que afetam o desempenho profissional do educador e desencadeiam o sofrimento psíquico.

O interesse pelo tema parte da experiência do estágio de Ênfase em Psicologia e Processos Organizacionais e do Trabalho, realizado em uma Escola Municipal, situada em uma pequena cidade do Rio Grande do Sul, onde se observou o sofrimento psíquico dos professores, vinculado aos impactos que o trabalho tem sobre a saúde psíquica dos mesmos.

As tarefas realizadas durante o estágio consistiram na escuta, entrevistas, formais e informais, com os professores, com o objetivo de identificar as possíveis demandas da instituição. No discurso dos professores observou-se um sentimento de desvalorização profissional, a falta de investimentos, e também a precariedade dos prédios da escola e de sua mobília, o que por sua vez acaba potencializando o sofrimento. Verificou-se também que além do trabalho ocasionar o descontentamento e posteriormente o sofrimento psíquico, que por sua vez estava associado à instituição e a inexistência de mudanças, ele possibilitava uma satisfação sublimatória que se dava, por exemplo, quando os alunos progrediam no aprendizado. Também observou-se ambivalência quanto à profissão do professor, que em alguns momentos era exaltada produzindo prazer e noutros era minimizada gerando desprazer.

Refletir sobre o sofrimento psíquico do professor é de grande importância, uma vez que tal sofrimento se coloca como um desafio a ser enfrentado pelos profissionais

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da educação, pois com o passar dos anos, essa classe de trabalhadores que anteriormente foi muito valorizada e ocupava um lugar de destaque no meio social, atualmente encontra-se em um contexto com constantes modificações. Nos dias atuais atravessa-se um retrocesso provocado pelo pouco investimento na educação, pelas demandas cada vez mais burocráticas e pela falta de reconhecimento da profissão.

Ao fazer uma retrospectiva, pode-se dizer que ganhos e perdas sempre estiveram presentes no âmbito do trabalho. Desde muito tempo verifica-se a participação de profissionais de diferentes áreas nas lutas pela melhoria das condições de trabalho, como por exemplo, a prevenção aos riscos de acidentes, sempre zelando pela sua saúde física e psíquica. Com o passar dos anos, tal participação tornou-se mais ativa, facilitando assim as relações entre trabalhador e organização, porém isso ainda não foi o suficiente para acabar com o sofrimento advindo do trabalho.

Com os professores não tem sido diferente, percebendo-se que atualmente as responsabilidades impostas aos profissionais da educação aumentam cada vez mais, porém não lhes são oferecidas condições adequadas para que possam se qualificar e atender as demandas exigidas com segurança e prazer. Nessas circunstâncias o professor segue atuando frente a profundos desafios e dificuldades, muitas vezes sem clareza de sua função. Diante deste cenário surge o sofrimento psíquico relacionado ao trabalho o qual será discutido no primeiro capítulo desta pesquisa.

Inicialmente faz-se uma breve passagem pela história do trabalho e também pela história do trabalho do professor, verificando assim como as condições de trabalho deste afetam seu desempenho profissional, examinando os principais fatores relacionados à organização do trabalho que desencadeiam seu mal-estar e, posteriormente, o sofrimento psíquico.

O segundo capítulo, tratará das estratégias defensivas e dos mecanismos de defesa, os quais são de suma importância para os sujeitos trabalhadores, uma vez que não suportando o sofrimento causado pelo trabalho, recorrem as mesmas, amenizando assim o que os faz sofrer. Também neste capítulo será abordada a

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Síndrome de Burnout como consequência do fracasso das estratégias defensivas e dos mecanismos de defesa.

Salienta-se a importância de um olhar mais relevante sobre a saúde dos profissionais da educação, pois as questões relacionadas ao seu trabalho que geram sofrimento como o estresse, o mal-estar, o desgaste físico e psíquico, crescem cada vez mais. Com isso, a tarefa de ensinar tornou-se muito desgastante e exaustiva, influenciando diretamente o desempenho dos professores tanto na sua vida trabalhista como em suas vivências pessoais.

Nesse contexto, o estudo tem como intenção contribuir para uma melhor compreensão das causas que levam os professores a adoecer psiquicamente.

A pesquisa foi fundamentada na teoria do campo da psicanálise, da psicologia organizacional e da educação, é bibliográfica, de abordagem qualitativa, cuja característica remete à interpretação de fenômenos.

De acordo com Flick (2009, p.16):

“A pesquisa qualitativa usa o texto como material empírico (em vez de números), parte da noção da construção social das realidades em estudo, está interessada nas perspectivas dos participantes, em suas práticas do dia a dia e em seu conhecimento cotidiano relativo à questão em estudo.”

Para a coleta de dados e informações procedeu-se à leitura de artigos e livros que tratam do tema, tendo sido consultadas as bases de dados virtuais cientificas: Scielo - Scientific Electronic Library Online, Google Acadêmico, PePSIC - Periódicos Eletrônicos em Psicologia. O estudo e análise desse material foi relevante para a averiguação dos principais aspectos do trabalho do educador que influenciam no sofrimento psíquico dos mesmos.

Metodologicamente a pesquisa consiste em um estudo descritivo exploratório. Segundo Gil (1995, p. 45) “pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou o

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estabelecimento de relações entre variáveis". E as pesquisas exploratórias ainda conforme Gil (1995, pp. 44-45): "têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, com vistas à formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores.”

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1 POSSÍVEIS CAUSAS DO SOFRIMENTO PSÍQUICO DE EDUCADORES ADVINDAS DA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

O presente capítulo abordará a forma de organização de trabalho do educador na atualidade, apresentando as possíveis causas do sofrimento psíquico desta classe trabalhadora, com o propósito de identificar as circunstâncias evidenciadas no trabalho que afetam a saúde mental dos professores. Com o objetivo de contextualizar o tema proposto, o sofrimento psíquico dos professores, o capítulo iniciará com uma discussão sobre algumas questões históricas do trabalho e da profissão docente, e na sequência abordará a relação entre a organização do trabalho e o adoecimento psíquico do professor.

Nos dias de hoje, é de suma importância refletir sobre o sofrimento psíquico dos professores. Sofrimento, este, que se coloca como um desafio a ser enfrentado pelos profissionais da educação, pois com o passar dos anos, essa classe de trabalhadores, que anteriormente foi muito valorizada e ocupava um lugar de destaque no meio social, atualmente encontra-se em um contexto com constantes modificações, vivenciando um retrocesso, provocado pelo pouco investimento, pelas demandas cada vez mais burocráticas e pela falta de reconhecimento da profissão.

O trabalho de educador é considerado como uma das profissões que mais acarreta problemas de saúde, podendo-se citar como exemplos, o elevado número de licenças médicas devido ao desgaste mental e/ou físico. A tarefa de ensinar torna-se desgastante com o passar do tempo, e acaba afetando de forma negativa os professores, tanto em relação à organização da escola em que trabalha, como em suas vivências pessoais do dia a dia. Tais fatores acabam por sua vez, acarretando sofrimento psíquico.

1.1 Da história do trabalho

Sabe-se que atualmente o trabalho dos professores atravessa tempos difíceis, o que acarreta demasiado sofrimento para os mesmos, porém para abordar o tema, primeiramente temos que saber sobre a sua origem. Ferreira (2003), nota que a palavra trabalho, apareceu pela primeira vez na Europa, derivando-se do latim

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tripalium, palavra que por sua vez refere-se a um mecanismo de tortura, assim sendo o autor associa o trabalho ao sofrimento.

Nesse sentido, para que se possa ter uma melhor compreensão dos marcos históricos do trabalho, tomamos como exemplo os escritos de Dejours (2003), quando ele nos diz que no século XIX o discurso que dominava na classe dos operários era “a luta pela sobrevivência”. Tal luta é considerada um marco na história trabalhista pelo fato de os trabalhadores terem suas jornadas de trabalho muito longas, ambientes péssimos, má alimentação e salários muito baixos. Essa exposição a condições inadequadas ocasionava por vezes um esgotamento muito grande aos operários podendo levá-los à morte.

Segundo Dejours (2003, p.17):

“Compreende-se facilmente que as lutas operárias neste período histórico tenham essencialmente dois objetivos: o direito à vida (ou a sobrevivência) e a construção do instrumento necessário à sua conquista: a liberdade de organização.”

Ao longo do século XIX, a luta dos operários girou em torno da sobrevivência do trabalhador, período que Dejours (2003), intitula em seus escritos como “Pré história da saúde dos trabalhadores”, em razão de já existirem pronunciamentos em defesa da saúde e dos direitos trabalhistas. Os trabalhadores reivindicavam a diminuição das jornadas de trabalho, a preservação das crianças e mulheres lutavam por sua proteção. Porém não houve melhorias nestes quesitos, tais lutas, persistiriam por meio século marcando-o significativamente.

Mais tarde, já no século XX, entre os períodos da Primeira Guerra Mundial e os anos sessenta, começam a surgir novas lutas, as quais reivindicavam a proteção à saúde do corpo, proteção contra doenças e contra acidentes advindos do próprio trabalho.

Deste ponto de vista pode-se citar Dejours (2003, p.18) quando ele destaca que:

“Para esquematizar, poder-se-ia dizer que a organização dos trabalhadores traduziu-se na conquista primordial do direito de viver,

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mesmo se as condições de existência estavam longe de serem unificadas para o conjunto da classe operaria.”

Depois do ano de 1968, com a modernização das máquinas, começaram a ser analisadas as preocupações com a saúde mental das pessoas trabalhadoras, originadas em diversos fenômenos que eram resultantes da organização do trabalho. No entanto, naquela época, os estudos sobre a psicopatologia do trabalho eram limitados, dificultando a luta dos operários em relação aos conflitos. (DEJOURS, 2003).

A respeito da organização do trabalho, no livro “A Loucura do Trabalho” Dejours (2003, pag.25) afirma:

“Por organização do trabalho designamos a divisão do trabalho, o conteúdo da tarefa (na medida em que ele dela deriva), o sistema hierárquico, as modalidades de comando, as relações de poder, as questões de responsabilidade, etc.”

Já nas sociedades contemporâneas, o trabalho vem sendo estudado por diversas áreas, e com isso apresentando novos formatos, consequentemente deixou de ser unicamente uma atividade, passando para condição de relação social, onde aí, surgem as desigualdades.

Dejours (2004) na obra “Da Psicopatologia à Psicodinâmica do Trabalho”, quando aborda o trabalho, sua organização e os efeitos que esta tem sobre a saúde do trabalhador, aponta que tal evolução deixa de ser apenas o real do mundo objetivo onde o trabalhador coloca-se a frente dos objetivos a serem cumpridos, das metas, das regras e dos valores de cada organização, também sendo o real do mundo social o qual possui grande influência nas relações que os sujeitos tem com o social, o que neste caso constitui a identidade de cada sujeito.

1.2 Da história do trabalho do professor

Desde os primórdios o trabalho do professor vincula-se e desenvolve-se a partir dos modelos sociais e da organização que cada sociedade possui. Nos povos primitivos, evidentemente que não existiam professores e escola, porém os homens

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tiveram que aprender como sobreviver diante dos obstáculos que lhes eram colocados pelo ambiente. Tal processo de aprendizagem que ocorreu na época dos povos primitivos foi demorado, pois ao relacionar-se com a natureza e aprender a viver neste âmbito, o homem por sua vez, acabou distinguindo-se dos outros homens.

O aprendizado nesta época dava-se através das ações, portanto, surge a necessidade de o homem socializar seus conhecimentos. Neste período não havia a necessidade de uma pessoa em especial ter a função de ensinar aos outros, porque a existência do homem acontecia de forma coletiva para assim garantir a sua sobrevivência. (SAVIANI, 2007 p. 10).

Mais tarde, já nas sociedades escravocratas a educação deu-se de duas formas. Devido a organização social, uma parte das pessoas que faziam parte da classe alta recebiam ensinamentos para mandar, já a classe baixa, ou seja, os escravos seriam ensinados a obedecer (DEMERVAL SAVIANI, 2007 p.11).

Se anteriormente, nos povos primitivos, o saber era do coletivo, agora ele passa a ser apenas dos grupos que possuíam o poder, sendo assim, o ensino destes grupos era direcionado a métodos que contribuíssem para seus privilégios.

Na modernidade, a organização social se altera, passando a ser caracterizada pelo crescimento das indústrias, e pelo surgimento das leis nacionais, potencializando ainda mais o comércio. Com isso, os modelos de educação começaram a ser questionados, pois estavam alienados a tempos passados onde não havia espaço para o progresso e as mudanças, ou seja, não havia lugar para os sujeitos. (MONROE, 1970, p. 146).

Alves (2001, p. 31-46) aponta que nesta época surgiram lutas em defesa da escola pública, gratuita e para todas as pessoas. Tendo isso em mente, pode-se dizer que os questionamentos feitos à educação dizem respeito ao fim do autoritarismo. Levando em consideração os direitos e necessidades dos educandos, os professores passaram a necessitar de especializações profissionais para sua atuação. Mesmo que lentas essas mudanças acompanham o homem ao longo de sua história.

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No Brasil, inicialmente o trabalho dos educadores teve um forte vínculo com o período da colonização portuguesa, com o propósito de cultuar a religião, através dos ensinamentos dos jesuítas. Isso fez com que os professores ensinassem de acordo com os catecismos e as concepções da igreja católica submetendo os índios aos seus moldes de educação.

Saviani (2008, p.43) ao abordar sobre o plano em que se baseava o ensino naquela época, nos afirma que para os povos colonizados começava-se primeiramente a ensinar a língua portuguesa, a doutrina cristã e posteriormente ler e escrever. Podia-se optar por duas vias de ensino, o ensino para a agricultura ou o ensino da gramática latina para aqueles sujeitos que almejavam os estudos superiores na Europa.

Logo após o trabalho dos jesuítas na educação, inicia-se uma nova etapa. Portugal envia professores régios1 para a colônia, esperava-se que os mesmos não se embasassem na religião e sim em pensamentos laicos, porém como eram formados por padres, continuavam muito próximos dos padrões religiosos. Portanto não aconteceram mudanças significativas na educação. (CASTRO 2016, p.4).

No período imperial no Brasil, a educação começa a tomar novos formatos afastando-se dos modelos religiosos, por meio da criação de instituições de ensino públicas, as chamadas escolas normais, que tinham por objetivo a formação de professores leigos, que com o passar dos anos desenvolveram princípios hierárquicos visando a ordem e a obediência baseados nos princípios políticos daqueles tempos (VILLELA 2000).

No Brasil Republicano, forma-se uma nova escola, devido a mudanças ocorridas na sociedade, que antes era sustentada por um modelo de economia agrária e rural. Com a evolução das indústrias e da urbanização veio a necessidade de melhorias na educação, para atender também os trabalhadores que necessitavam

1 Professores régios marcaram a história da educação no Brasil, pois com sua chegada em 1759, desvinculam a

tarefa de educar da Igreja Católica e das famílias, assim suspendem a forma de educar dos jesuítas. Assim sendo a educação das crianças, jovens e adultos fica a cargo da Monarquia Portuguesa, contudo, com os professores régios surge o primeiro modelo de ensino público (CUNHA, 2009).

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ampliar seus conhecimentos para trabalhar com as máquinas. Portanto, o professor também precisou mudar sua forma de ensinar e teve que buscar por novas formações que atendessem as demandas vindas da sociedade (CASTRO 2016, p.9).

No decorrer do tempo, tais mudanças advindas do novo modelo social impuseram mais obrigações e obstáculos aos docentes. Castro (2016, p.18-19) afirma que:

“[...] a educação foi sendo atrelada às concepções

desenvolvimentistas, modificava-se substancialmente as relações no interior da escola. A crescente burocratização decorrente do desejo de maior controle dos currículos e programas, exercidas pelos burocratas educacionais, contribuíram para a reificação do professor, afastando-o gradativamente da condição de sujeito de sua própria prática.”

Em todo o percurso histórico da profissão do professor, nota-se que aconteceram diversas mudanças positivas e negativas, de um lado marcadas por lutas e conquistas dos professores e de outro lado por interesses sociais, políticos e econômicos do país. Assim, pode-se afirmar segundo Nóvoa (1995, p. 14), “o processo histórico de profissionalização do professorado pode servir de base à compreensão dos problemas atuais da profissão docente”. Consequentemente grande parte dos problemas que se colocam hoje aos professores tem sua causa atrelada a um momento da história do trabalho destes profissionais.

Para analisar a questão do sofrimento psíquico no trabalho docente na atualidade, é importante compreender a escola como uma organização, tendo em mente que seus hábitos, suas opiniões e seus princípios decorrem do meio social, da cultura, do meio político e econômico que, com o passar dos anos, designam uma série de demandas e deveres a serem cumpridos no exercício da profissão.

Atualmente, vivencia-se a era das novas tecnologias, do saber e da globalização em uma sociedade com contínuas transformações. Dessa forma, a conduta no trabalho também se altera, os profissionais têm que se adaptar às novas peculiaridades da modernização. O que ocorre no âmbito escolar é que tais mudanças não se apresentam com a mesma velocidade aos trabalhadores.

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Sendo assim, os novos formatos da educação, não nos indicam somente as exigências objetivas, pois estão interligadas com as mudanças do cenário social onde são efetivadas. Os professores então precisam preparar seus alunos para uma sociedade futura que difere da atual (ESTEVE,1999, p.21).

Camana (2007) salienta que é de suma importância olhar para o sofrimento do professor. Por tratar-se de um fator social, pode envolver um número expressivo de pessoas, pois quando em sofrimento, o professor tende a ausentar-se do trabalho e isso repercute diretamente na qualidade do ensino.

Mediante o exposto, percebe-se que mesmo que as lutas trabalhistas, levaram à aquisição de direitos e conquistas na organização do trabalho, estas não foram totalmente satisfatórias, pois ainda há questões que afetam os trabalhadores da educação e os fazem sofrer.

1.3 Da organização do trabalho ao adoecimento psíquico dos professores

A forma como se dá a organização do ambiente escolar diz muito sobre como o trabalhador irá responder psiquicamente ao seu trabalho. Tais formas de organização podem influenciar tanto positivamente quanto negativamente o trabalhador, ou seja, quando o método utilizado pelas gestões das escolas mostra-se comunicativo, acessível, de modo que consiga atender as demandas postas, gera satisfação, prazer ao profissional. Quando colocado em posição desfavorável, negativa, deixando de ter atendidas suas necessidades, isso acaba acarretando sentimentos de desvalorização e esgotamento, o que propicia o aparecimento de sofrimento psíquico nos educadores.

Segundo Ceccarelli (2005), “o portador de sofrimento psíquico, é aquele que padece de algo cuja origem ele desconhece e que o leva a reagir, na maioria das vezes, de forma imprevista.”

No caso dos professores, ao defrontar-se com o sofrimento psíquico, alguns por ignorarem sua origem, acabam agindo impulsivamente, por vezes apresentando

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traços agressivos tanto com seus alunos, como com colegas de trabalho, já outros, mostram-se relapsos em relação à profissão.

De acordo com Mendes (1995), o trabalho representa uma fonte de prazer ou de sofrimento, desde que as condições externas atendam ou não à satisfação dos desejos individuais. De um lado está o trabalhador com suas necessidades de prazer, do outro lado está a organização, que tende instituir automatismos adaptando o trabalhador a um determinado modelo.

Freud (1930), em seus escritos, afirma que a atividade do homem caminha em duas direções, a de sofrimento e desprazer que se caracteriza por sensações desagradáveis vindas do descontentamento perante as necessidades que são de origem inconsciente e que estão relacionadas aos desejos mais acentuados dos sujeitos, apresentados ao consciente em forma de projetos e expectativas de vida, e de experiências intensas de prazer que estão ligadas à satisfação das necessidades do indivíduo, tornando-se dessa forma, uma manifestação ocasional, tendo em vista que contrariedades impostas pela civilização as influenciam.

A esse pensamento, acrescenta-se a afirmação de Dejours apud Betiol (1994), de que o prazer do trabalhador resulta da descarga de energia psíquica que a tarefa autoriza.

Para Freud, a atividade profissional constitui fonte de satisfação, se for livremente escolhida, isto é, por meio de sublimação, tornar possível o uso de inclinações existentes, de impulsos instintivos (pulsionais) persistentes ou constitucionalmente reformados. No entanto, como caminho para a felicidade, o trabalho não é altamente prezado pelos homens. Não se esforçam em relação a ele como o fazem em relação a outras possibilidades de satisfação. A grande maioria das pessoas só trabalha sob pressão da necessidade, e esta aversão humana ao trabalho suscita problemas sociais extremamente difíceis. (Freud, 1930 /1996 p.88).

Isto posto, pode-se pensar, que a busca pelo prazer no trabalho é um desejo constante dos profissionais. Mas devido às exigências contidas no processo, no convívio e na organização do trabalho, inúmeras vezes há o favorecimento de situações contrárias a este propósito, ocasionando, assim, o desprazer, manifestado

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em vivências de sofrimento, tornando o trabalho uma obrigação para a sobrevivência ao invés de uma fonte de prazer.

A partir disto, entende-se que o trabalhador vivenciará momentos de prazer se seu trabalho lhe proporcionar satisfação, no entanto, quando não conseguir alcançar suas metas e princípios, defrontar-se-á com experiências inconvenientes e desprazerosas. Assim sendo, o trabalho de maneira oposta ao prazer, transforma-se em fonte de insatisfações e estresse.

De acordo com Rocha e Fernandes (2008), os principais geradores de insatisfação e estresse no trabalho dos professores estão vinculados a uma série de fatores, como por exemplo: atividades repetitivas dentro do ambiente escolar, longos períodos dedicados à realização de tarefas análogas, compromissos que por sua vez tornam-se excedentes e podem interferir na vida pessoal do professor, muitas atividades inacabadas, pelo fato de não haver tempo suficiente para a realização das mesmas, conflitos internos entre os trabalhadores e também a carência que gira em torno das questões burocráticas da organização educacional.

Desta maneira, Brum et al. (2012), salientam:

Com o excessivo estresse, os indivíduos podem apresentar sintomas e sinais evidenciadores do surgimento ou agravamento de quaisquer doenças. Porém, os sinais de estresse ocupacional podem ser claros para um observador experiente, ou podem ser detectados por meios de pesquisas organizacionais, ou de sinais clínicos constatados por um bom médico do trabalho (BRUM et al., 2012, p. 129).

Cada sujeito enfrenta de maneiras diferentes as circunstâncias apresentadas no trabalho, a partir de suas incumbências e vivências pessoais. Diante disso, revelam-se problemas e divergências no trabalho, de um lado devido à necessidade de obter prazer pelos trabalhadores e, por outra parte, da organização que exige adequação a determinados modelos de trabalho.

Nesse âmbito Dejours (2003), acredita que quando observado nas instituições, o sofrimento não é unanime, pois manifesta-se de distintas formas entre os trabalhadores. Diversas vezes, o que seria sofrimento para determinado sujeito, para

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outro não é e vice versa, apesar de os mesmos estarem inseridos nas mesmas situações oriundas do trabalho.

De acordo com esse ponto de vista, infere-se que o sofrimento psíquico difere do sofrimento físico, uma vez que compreende um sentimento oculto e na maior parte dos momentos é vivenciado de modo individual por cada sujeito. Esse sofrimento ocorre em consequência de a energia pulsional não encontrar descarga no exercício do trabalho, acumulando-se, assim, no aparelho psíquico. Já o sofrimento físico se torna um sofrimento visível, como, por exemplo, a doença somática e a fadiga física. Para que um sofrimento psíquico seja caracterizado e identificado no meio profissional, é necessário que o mesmo já tenha alcançado tal proporção que impossibilite o seguimento das atividades profissionais.

Percebe-se também aqui, que além da organização do trabalho nas escolas se caracterizar muitas vezes como fonte de sofrimento, outra grande causa que reflete diretamente nos professores, limitando-os e causando-lhes mal-estar é a infraestrutura das escolas, que em grande parte das vezes encontra-se em estado precário.

Atrelado a esta questão, Gouvêa afirma:

A relação entre as condições de trabalho e os seus efeitos para os professores, no que se refere aos agravos à saúde, tem implicações, não só para os professores, mas para toda a estrutura de ensino. Assim, há uma relação estreita entre a saúde do professor e a qualidade de seu trabalho. (GOUVÊA 2016, p. 211).

Nesse sentido, o mal-estar docente, propicia o desgaste no trabalho, afetando diretamente a saúde dos educadores. Esteve (1999), assinala o termo mal-estar em seus escritos, para caracterizar as dificuldades, os incômodos e as coações que os profissionais da educação vivenciam em seu exercício profissional.

Dando continuidade à ideia do autor acima citado, pode-se dizer que o termo mal-estar é propositadamente ambíguo, pelo fato de o mesmo ocasionar incertezas no âmbito do trabalho, isto é, o trabalhador sente que algo não se apresenta da forma que deveria, porém o mesmo não sabe explicar o porquê da situação. O mal-estar

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apresenta-se por duas vias: pelas causas primárias que agem indiretamente, e sendo mais amplas, dizem respeito às circunstâncias em que a profissão docente é realizada e pelas causas secundárias que agem de forma mais direta sobre a relação professor/aluno.

As razões que instigam o mal-estar docente giram em torno do desprestígio do professor, da sua desvalorização e das obrigações postas. No caso dos professores, quase não há incentivo das organizações em que os mesmos se inserem para o cumprimento destas obrigações. Esteve (1999), ainda afirma que tais razões podem acarretar crises de identidade aos profissionais, visto que o professor se depara com interrogações entre sua escolha profissional e o sentido que a mesma tem em sua vida.

Esteve (ibid.) aponta que quando o profissional da educação é criticado e interrogado no seu ambiente de trabalho ele enxerga seu valor social diminuído, se colocando assim, em uma condição de descontentamento em relação a como seu trabalho é percebido e dessa forma constitui-se o mal-estar docente.

Segundo Teixeira apud Batista, Odelius (2002), quando se tem materiais de trabalho precários acaba sendo afetada a relação professor escola, e com isso seu envolvimento com o trabalho sofre recaídas. Assim sendo, manifesta-se um campo aflitivo entre a sensação de desvalorização do profissional e a relação com o ensinar o aluno.

Codo (1999) categorizou como peculiar tal rotina, considerando que o principal elemento que causa o desgaste no trabalho do professor resulta da relação direta e contínua com seus alunos. Ainda segundo o autor, no campo da educação não existe como separar a afetividade do trabalho, pois o cuidado se coloca como constitutivo da relação de ensino aprendizagem, entendendo que o produto do trabalho do professor é o outro, ou seja, seu aluno.

Assim, ao analisar a origem da palavra afeto, verifica-se que seu surgimento se dá do latim, affectu que quer dizer tocar, afetar. Desta maneira, segundo Codo (2000) pode-se agregar a afetividade aos fenômenos psíquicos que por sua vez expressam as emoções, sejam elas alegres ou tristes, agradáveis ou não.

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Ao relacionar o trabalho docente com o afeto, observa-se que desde os primórdios da profissão, a afetividade é um traço estrutural, por estar no âmago da mesma. No ambiente escolar, nota-se que a afetividade influência na estruturação da identidade do educador, pela razão de que desde o início da profissão a atividade principal do professor era cuidar e educar. “Todo trabalho envolve algum investimento afetivo por parte do trabalhador, quer seja na relação estabelecida com outros, quer mesmo na relação estabelecida com o produto do trabalho” (CODO; GAZZOTTI, 1999, p. 50).

Isto posto, entende-se que a afetividade atua como um estímulo na relação professor/aluno, pois a mesma constitui um modo de socializar harmônico entre os mesmos, conciliando o ensino e a aprendizagem, ou seja, afetar e ser afetado, tornando assim este processo significativo para os envolvidos. Porém, quando não há afeto nessa relação, não é possível estabelecer um vínculo e não havendo vínculo prejudica-se a aprendizagem, deixando assim vazios, o que dificultará o trabalho docente e acarretará sofrimento psíquico.

Bauman (2004), quando escreve em “Amor líquido”, sobre a desvinculação humana nos dias de hoje, demonstra que as inseguranças e o individualismo estão cada vez mais presentes em nossa sociedade, o que dificulta o relacionamento entre as pessoas, isto inclui a afetividade. Por isso, a relação de afeto no âmbito escolar pode ser angustiante.

Quando o investimento afetivo do professor em seu aluno não retorna de forma positiva, isso pode causar frustrações, abalando subjetivamente sua relação com sua profissão, verificando-se assim, sentimentos de insuficiência diante das situações que vivência.

As relações subjetivas dos sujeitos com o trabalho são essenciais na determinação das vivências de prazer que geram consequências para a produtividade, assim sendo, o modelo estabelecido e sua influência na produção, mostra que a gestão coletiva da organização e do trabalho oportuniza a transformação

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do sofrimento e possibilita o empenho do trabalhador na atividade proposta sem maiores danos à sua saúde mental.

Deste ponto de vista, a psicodinâmica do trabalho aponta que o trabalho humano ocupa um lugar fundamental na estruturação da identidade do sujeito e que deve ser dado destaque aos estudos sobre a sublimação ao invés dos processos patológicos, pois a energia sublimada é de importante para a construção e amparo da economia psicossomática do ser humano.

Precisa-se ter em mente que a sublimação no trabalho pode trazer indagações a respeito da alienação dos trabalhadores, por isso, vale salientar que ela não constitui necessariamente resistência às mudanças, mas sim é fruto de uma negociação bem sucedida entre desejos inconscientes de cada sujeito com a realidade.

Dejours (2003) aponta que o prazer se mistura à angústia, em algumas ocasiões de maneira significativa. No caso dos professores, refere-se à angústia de realizarem mal sua função docente e serem julgados por seu fracasso profissional. Em vista disso, a veemência do prazer é facilmente notória na relação afetuosa que os professores criam no âmbito do trabalho, o que por vezes não deixa de ser um posicionamento contraditório em que o afeto e a saturação emocional em relação ao trabalho se estabelecem ao mesmo tempo sob conflito, ou seja, para que o desprazer e o sofrimento sejam equilibrados faz-se necessário a existência de tal apreço pela profissão.

Nesse contexto, nota-se que no âmbito educacional mesmo que haja descontentamentos e sofrimento, que por vezes associam-se à instituição e a carência de modificações, existem satisfações sublimatórias no trabalho docente, que se dão, por exemplo, quando os alunos progridem em seus aprendizados. Assim, o professor vivencia em seu campo de trabalho um sentimento de ambivalência que em determinados períodos é maximizado produzindo fontes de prazer e em outros momentos limita-se, produzindo o desprazer.

Após todo o exposto, faz-se relevante observar que mesmo diante de acontecimentos desprazerosos o professor consegue controlar seu sofrimento através

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de estratégias defensivas, entre elas a sublimação. Estas se constituem em um meio do sujeito conseguir encarar suas angústias. No caso do professor, trata-se da angústia de desenvolver mal seu papel docente e ser responsabilizado pelo seu fracasso profissional. Entretanto, por meio das estratégias defensivas o profissional docente busca reduzir as causas atreladas à realidade que o fazem sofrer.

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2 AS ESTRATÉGIAS DEFENSIVAS NO CAMPO EDUCACIONAL

Este capítulo tem como objetivo apresentar algumas das estratégias defensivas utilizadas pelos trabalhadores para suportar o sofrimento advindo do seu trabalho e como estas se expressam no trabalho do professor. De acordo com Dejours (1994), na tentativa de os profissionais enfrentarem o sofrimento, os mesmos fazem o uso de estratégias defensivas, o que minimiza a realidade que os faz sofrer, ou seja, amortecem por alguns períodos a insatisfação com o trabalho, o absenteísmo e o sentimento de esgotamento.

Os questionamentos sobre as estratégias defensivas relacionadas ao sofrimento, já vem sendo estudadas desde 1980, quando Dejours (2003) em seus estudos, aponta que a finalidade das mesmas é a compreensão intersubjetiva das relações de trabalho, com o propósito de harmonizar o social com o psíquico, promovendo um espaço para que se possa produzir significantes psíquicos que possibilitem construir relações sociais.

A organização do trabalho, nesta perspectiva coloca-se como um elemento imprescindível para o entendimento das relações no âmbito tanto do trabalho quanto do trabalhador, pois afetam seu funcionamento psíquico proporcionando-lhe momentos prazerosos ou de sofrimento.

No que diz respeito aos professores, as estratégias defensivas são produzidas para defender-se de hostilidades postas pelo trabalho docente que ocasionam o sofrimento. Tais hostilidades podem gerar consideráveis repercussões desagradáveis sobre os sujeitos, no convívio dentro das instituições educacionais.

Dejours (2003) aponta que as estratégias defensivas podem também funcionar como uma armadilha, pois embora os trabalhadores vivenciem tais sofrimentos, muitas vezes não os reconhecem, e não tendo o devido conhecimento sobre seu conteúdo, torna-se custoso combater eficientemente tal sofrimento.

Anna Freud (1983), ao estudar os mecanismos de defesa descritos por Freud (1894), certifica que tais mecanismos podem ser compreendidos como a luta egóica

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contra tudo aquilo que se torna insuportável e doloroso para os sujeitos. De acordo com a autora os mecanismos de defesa ocorrem em mais de uma esfera psíquica. Nos processos primários apresentam-se inconscientes e automáticos, objetivando minimizar as angústias e a tensão pulsional do sujeito, em contrapartida nos processos secundários tem como função integrar e controlar as condições internas do sujeito, flexibilizando e adequando-as às suas vivências externas.

Dejours (2003) enfatiza que ao utilizar-se das estratégias de defesa o trabalhador irá proteger-se do sofrimento e conseguirá manter o equilíbrio psíquico diante das situações que antes lhe causariam sofrimento. Deste modo, para que os trabalhadores consigam atender as contingências impostas pela organização e não adoecerem, os mesmos utilizar-se-ão de estratégias defensivas contra o sofrimento, entre elas: a sublimação, a negação, e a racionalização, as quais serão discutidas mais adiante.

2.1 Dos mecanismos de defesa individuais às estratégias coletivas de defesa

Como já afirmamos, na tentativa de minimizar seu sofrimento, o trabalhador recorre a estratégias defensivas. Tal processo se apresenta como uma tentativa de adaptação aos momentos em que o trabalho se coloca como insatisfatório e conflituoso. Existe uma diversidade de estratégias que podem ser utilizadas pelos trabalhadores, entre elas, as individuais e as coletivas, as ativas e as passivas e as que são focadas nos problemas e as focadas nas emoções.

Para Esteve (1999), aponta que frente às tensões e todas as fontes de estresse e mal-estar na profissão docente, os professores acabam fazendo o uso de diversos mecanismos de defesa, estes por sua vez podem diminuir a qualidade do ensino, porém amenizam as situações desconfortáveis que o professor encontra em seu dia a dia.

Entre os mecanismos de defesa individuais e as estratégias de defesa coletivas, existe uma diferença, pois conforme Dejours (1994, p.129):

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A diferença fundamental entre um mecanismo de defesa individual e uma estratégia coletiva de defesa é que o mecanismo de defesa está interiorizado (no sentido psicanalítico do termo), ou seja, ele persiste mesmo sem a presença física de outros, enquanto a estratégia coletiva de defesa não se sustenta a não ser por um consenso, dependendo assim, de condições externas [...] Há casos que as estratégias defensivas coletivas, logo de saída, consagram-se à luta contra o sofrimento engendrado pela organização do trabalho, conferindo ao sujeito uma estabilidade que ele será incapaz de garantir com ajuda de apenas suas defesas próprias.

Os mecanismos individuais de defesa que o trabalhador utiliza, são marcados pelas defesas operantes dos sujeitos, que por sua vez estão interiorizadas e atuam individualizadas, não necessitando da presença do outro. As estratégias defensivas individuais apresentam um significativo papel em relação ao sujeito trabalhador adaptar-se ao sofrimento, no entanto como sua condição se apresenta individual, não irá atuar sobre as hostilidades impostas socialmente (ibid.).

Ainda segundo o autor, tais mecanismos podem apresentar-se como forma de proteção, onde o trabalhador irá racionalizar as situações que o fazem sofrer. Desta maneira, o sujeito consegue preservar-se do adoecimento ao refletir sobre os causadores do seu sofrimento, porque os mecanismos não irão atuar sobre a organização do trabalho, por isso ela se mantém sem modificações. Pelo fato de o sofrimento não ser totalmente enfrentado, com o passar do tempo a estratégia de defesa pode dispersar-se e com isso há a possibilidade do adoecimento surgir.

Conforme Dejours (ibid.), as estratégias individuais de defesa criadas por cada trabalhador podem se consolidar ainda mais quando encontram algum tipo de sustentação nas estratégias de defesa coletivas, as quais por sua vez favorecem a concepção de uma realidade inalterada que garantirá a normalidade, porém não garantirá a saúde do trabalhador. Assim sendo, para que estas estratégias tenham êxito, as mesmas atuam através de premissas, entre elas a negação daquilo que se sente.

Quando coletivas, as estratégias, buscam sempre a promoção do prazer no trabalho através de discussões entre os envolvidos baseados na cooperação entre os trabalhadores, visando sempre a redução do sofrimento psíquico no trabalho.

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Estas estratégias por vezes conduzem o trabalhador a uma compreensão fictícia do real, e com isso surge a dificuldade de novos questionamentos e da percepção crítica dos trabalhadores. No âmbito do trabalho, de um lado as estratégias defensivas preservam o trabalhador do sofrimento, mas por outro lado podem ocasionar resistências, as quais por vezes implicarão em transformações da sua realidade. Isto se dá em decorrência de mudanças requererem novas adaptações, e para evitar o risco de sofrer novamente o trabalhador acaba criando uma barreira de resistência as mudanças.

Segundo Dejours (1994, p.130):

As ameaças contra a estratégia defensiva são vivamente combatidas e a estratégia corre o risco de ser promovida ao objeto. A situação subjetiva enuncia-se como se o sofrimento fosse essencialmente o resultado de um enfraquecimento da estratégia defensiva e não consequência do trabalho. O sofrimento não pode mais ser reconhecido como decorrente do trabalho. Inversamente, a estratégia de defesa, que não era vista como nada além da defesa contra o sofrimento, passa a ser vista como promessa de felicidade, e a defesa é erigida em ideologia.

No contexto do trabalho, cada grupo, por sua vez, elabora suas estratégias defensivas, e com isso além de complexificar a concepção da realidade impede qualquer oportunidade de comunicação e entendimento na organização.

Ainda que os mecanismos de defesa individuais coexistam com o coletivo, Dejours, Abdoucheli e Jayet, (1994) afirmam que na maior parte das vezes, as estratégias defensivas se dão de modo coletivo, isso porque os trabalhadores compartilham por vezes o mesmo sofrimento e juntos buscam soluções para que consigam lidar com as situações desmotivadoras que aparecem no decorrer do seu trabalho.

De acordo com Limongi, França e Rodrigues (1996), o professor ao enfrentar contextos insatisfatórios age de forma ativa ou passiva. Ao agir de forma ativa, o docente identifica as condições e situações que lhe causam o descontentamento no ambiente de trabalho e “expressa seu desejo de mudança na estrutura que está

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submetido” (ibid. p.111). Estes são os profissionais que almejam por mudanças, em outras palavras, os professores que participam de representações sindicais, comissões e grupos de estudos, buscando sempre por melhorias na sua vida funcional.

Já no enfrentamento passivo, o sujeito pode ser conduzido a alienação, como afirma Limongi França e Rodrigues (ibid., p.111):

[...] o indivíduo passa a depreciar seu trabalho e senti-lo como um peso e não como fonte de satisfação. O objetivo torna-se apenas a remuneração e a manutenção de suas condições físicas e de higiene. O trabalho é sentido como desinteressante e não envolvente, de forma que as satisfações só são encontradas fora do local de trabalho.

Este enfrentamento apresenta-se através de dois modos de afastamento do trabalho docente, o físico e o psicológico. No primeiro o professor sente a necessidade de afastar-se do seu trabalho, por isso faz uso de atestados médicos, faltas justificadas, licenças, entre outros. Neste espaço de tempo, o professor tenta recuperar-se das situações desagradáveis que vivenciou em seu ambiente de trabalho. No segundo modo de afastamento, o psicológico, não ocorre o distanciamento físico, isto é, o educador vai ao seu trabalho, conduz suas aulas, realiza suas tarefas diárias e burocráticas, porém de forma apática. Aqui o educador acaba perdendo sua habilidade para produzir uma visão crítica das coisas, preferindo anular-se dos questionamentos, das regras e normas do trabalho fazendo apenas o mínimo para permanecer no seu emprego.

Entretanto o enfrentamento ativo e passivo, não é suficiente para anular o sofrimento psíquico e o mal-estar causados pelo trabalho, apenas diminuem tal sofrimento não produzindo mudanças e transformações significativas, isto porque o trabalhador opta apenas pela manutenção do que já é conhecido, pois teme a desestabilização de suas estratégias defensivas. Assim sendo, a monotonia frente ao seu trabalho, neste caso é mantida, a fim de subsidiar o sujeito ao ponto de tornar seu trabalho em algumas situações satisfatório e prazeroso.

De acordo com Rebolo (2011, apud Folkman, 1984), as estratégias defensivas que focam no problema, quando externas, têm a função de desempenhar o papel de

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modificação das situações que causam o mal-estar dos profissionais na educação. Quando internas, direcionam-se para a reorganização psíquica do indivíduo, redefinindo as crenças e os valores relacionados à situação-problema.

No caso das estratégias de enfrentamento focadas na emoção, o objetivo principal é o equilíbrio do estado emocional dos trabalhadores, com o intuito de diminuir as tensões decorrentes de situações desagradáveis e constrangedoras postas pelo trabalho.

Em vista disso, pode-se assegurar que as estratégias defensivas apresentam-se benéficas à proporção que preapresentam-servam o trabalhador do sofrimento originado a partir das desordens, e são capazes de manter o equilíbrio psíquico dos profissionais para não adoecerem, por outro lado essas estratégias podem tornar-se negativas, alienando o indivíduo, mascarando seu sofrimento, o que prejudicará os seus objetivos de trabalho e sua vida social.

Desta maneira, Mendes (2017, p. 5) afirma que:

O uso exacerbado de defesas pode culminar no esgotamento, abrindo caminho para o adoecimento. Quando se instala o processo de anestesia e atinge o coletivo de trabalho, considera-se que os comportamentos no trabalho passam por uma modificação denominada patologias sociais e, com isso, são desencadeadas as patologias do trabalho e o processo de adoecimento.

Nesta perspectiva o autor, aponta que pode acontecer uma evolução destas defesas, transformando-as em patologia, resultante da negação do sofrimento, isto porque quando o sofrimento é negado incessantemente pode gerar um sofrimento maior, e com isso o profissional adentra em um processo que o insensibiliza diante da realidade dos fatos, e assim acaba por envolver-se em acontecimentos que podem abalar sua subjetividade, suas relações sociais e principalmente sua saúde psíquica.

A fim de encarar um ritmo de trabalho demasiado, o uso dos mecanismos defensivos, passa a ser exacerbado, o que pode acarretar sentimentos de solidão no trabalho, o que por vezes faz o trabalhador isolar-se dos demais colegas (DEJOURS, 2004).

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2.2 Sublimação como uma estratégia defensiva no trabalho do professor

O conceito de sublimação é descrito por Dejours (2004), como um conceito que pode fragmentar-se em três aspectos. Primeiramente, a sublimação implica no vínculo dos indivíduos consigo mesmos, posteriormente no vínculo dos indivíduos com o outro, no caso dos professores os colegas de trabalho e os seus alunos, por último implica-se culturalmente na relação com a sociedade em que se insere o professor.

A sublimação coloca-se no social e para que seu exercício faça sentido aos indivíduos, é preciso que abranja aos seus pares, no caso dos professores, seus alunos. O sujeito que usufrui da sublimação, simbolicamente é capaz de repelir suas angústias e posteriormente conter seu sofrimento, ou seja, o professor ao ver seus alunos avançando em conteúdos incentiva-se abonando as causas que lhe fazem sofrer.

A sublimação pode estar agregada em todos os modelos de trabalho, concedendo benefícios à saúde mental dos trabalhadores, porém quando não aceita pelas organizações a sublimação acaba tonando-se maléfica. Isto porque não existe neutralidade entre a relação de trabalho e os sujeitos que nele estão inseridos.

Freud (1930/1996), quando aponta a sublimação em seus escritos sobre “o mal-estar na civilização”, afirma que a sublimação pode ser vista como uma técnica, a qual tem como objetivo principal dissipar o sofrimento empregado no deslocamento libidinal, com isso, há o deslocamento dos objetos pulsionais com o objetivo de eludir as frustrações que advém do mundo externo. Isto posto pode-se afirmar que ao sublimar suas pulsões o educador intensificará seu prazer no trabalho.

2.3 A negação como uma estratégia defensiva

Quando utilizada como uma estratégia de defesa, a negação surge nas estratégias coletivas, que são estimuladas frente ao medo e as ameaças que prejudicam a integridade psíquica dos trabalhadores no cenário das relações sociais.

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Pode-se dizer que a estratégia de negação é empregada na lógica de negar todo e qualquer tipo de sofrimento que decorre das vivências de trabalho, ou seja, o profissional começa a recusar e a não reconhecer os acontecimentos ocorridos, o mesmo age de forma como se nada tivesse acontecido, seu comportamento diante do grupo acaba se modificando e causando estranhezas.

A negação pode se colocar como uma forma de repressão, visto que, quando um sujeito opta por não pensar em algo por lhe causar estresse, por exemplo, acaba se reprimindo diante dos acontecimentos.

Dejours (1994), em seus escritos sobre a psicopatologia do trabalho, nos informa que quando utilizada pelos trabalhadores a negação ao risco mostra uma posição inversa à existência do real. Todavia, a estratégia de negação ao risco revela-se insuficiente, com isso o profissional irá somar ao risco suas próprias condutas diante daquela situação que já se colocava como perigosa. O autor explica que tal comportamento de negação dá-se, quando um sujeito não se vê capaz de originar ou acentuar uma vivência, entretanto ao negar algo o trabalhador achará que é capaz de dominar as vivências que lhe causam sofrimento.

Em conformidade com Dejours (ibid., p.70):

As atitudes de negação e de desprezo pelo perigo são uma simples inversão da afirmação relativa ao risco. Mas esta estratégia não é suficiente. Conjurar o risco exige sacrifícios e provas das mais absolutas. É por isto que os trabalhadores as vezes acrescentam ao risco do trabalho o risco das performances pessoais e de verdadeiros concursos de habilidade e de bravura. Nestes testes rivalizam entre si, mas ao fazê-lo, tudo se passa como se fossem eles que criassem cada risco, e não mais o perigo se abate sobre todos, independentemente de suas vontades. Criar uma situação ou agrava-la é, de certo modo, domina-la. Este estratagema tem um valor simbólico que afirma a iniciativa e o domínio dos trabalhadores sobre o perigo, não o inverso.

Assim, pode-se dizer que a negação, é normalmente lançada tanto para o risco real na atividade profissional dos sujeitos, como para o estresse e os sentimentos criados por ele mesmo, que provocam descontentamentos e se colocam de maneira desagradável ao trabalhador, como, por exemplo, a ansiedade e a insegurança. Ao

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tentar ocultar tais sentimentos, o trabalhador irá manifestar altos níveis de estresse que se ocultam por trás da negação.

Ao negar um sofrimento, o trabalhador irá impossibilitar que o mesmo seja elaborado, e negará a transformação da sua realidade, conduzirá suas energias para a continuidade da mesmice, assim apenas irá reproduzir sua realidade não desenvolvendo um posicionamento crítico diante das mudanças, impedindo as possibilidades da sua própria construção identitária.

2.4 A racionalização como mecanismo de defesa

O mecanismo de defesa da racionalização, também é usado com o intuito de enfrentar os sofrimentos advindos do trabalho. Ao racionalizar seu sofrimento o trabalhador tem como objetivo principal controlar o estresse e o sofrimento psíquico diante de suas vivências no trabalho.

A racionalização segundo Laplanche; Pontalis (1982) se coloca como um mecanismo onde se conferem esclarecimentos compreensíveis a partir de uma visão lógica ou aceitáveis a partir de uma visão moral, isto para sentimentos, ideias, ações e atitudes. Por isso, ao utilizar-se desta defesa os trabalhadores permanecerão indiferentes frente às dificuldades, sem ter desejo de modificar ou transformar o que, no seu ponto de vista, considera errado e inadequado.

Mendes (1996), afirma que a utilização da racionalidade frente a uma frustração no trabalho ou a uma desestruturação de relacionamentos entre colegas, tem como objetivo principal a explicação dos motivos causadores do sofrimento psíquico de forma lógica.

A racionalização, por um lado se apresenta consciente e de outro inconsciente, onde os equívocos e os deslizes são relevados e perdoados, sempre visando manter sua autoestima. Aqui o ego adapta-se ao real, levando em consideração o real das situações e também as necessidades de ordem instintivas e narcísicas dos sujeitos. Assim, o profissional irá sustentar-se de argumentos lógicos para conseguir expressar os sentimentos que não consegue controlar, disfarçando seus conflitos individuais

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diante de si e diante dos outros, isto por transformar seus pensamentos e suas atitudes inadmissíveis, em atitudes coesas e racionais. Desta maneira, o sujeito conseguirá aceitar as pressões impostas pelo superego não demonstrando os reais motivos que tornam o inadmissível mais aceitável (ANNA FREUD, 1983).

Portanto, como um mecanismo de defesa, a racionalização terá como principal objetivo proteger o psiquismo de todas aquelas questões que serão consideradas perigosas para o sujeito. A racionalização encontrará sustento em ideologias já estabelecidas que irão reportar-se na maioria das vezes à uma fantasia inconsciente que será colocada no lugar do que foi reprimido.

2.5 A Síndrome de Burnout como resultado do fracasso das estratégias defensivas e dos mecanismos de defesa

A teoria da Síndrome de Burnout não é novidade no campo do trabalho, Codo (1999) a descreve como mais uma tentativa utilizada pelos trabalhadores para esclarecerem sua falta de empenho, sua desmotivação, sua fadiga, seu estresse, e seu desamparo na relação do trabalho com o trabalhador.

Para Teles e Pimenta (2009) esta síndrome acomete em especial, os profissionais que no âmbito do seu trabalho tem contato direto com pessoas, da mesma forma aqueles imensamente motivados a trabalhar, aumentando seu ritmo de trabalho e reagindo ao estresse relativo à sua função, o que com o tempo provoca um enfraquecimento do trabalhador e o mesmo acaba entrando em crise.

Diante disto, pode-se dizer que a síndrome de Burnout, coloca-se como consequência do fracasso das estratégias defensivas, uma vez que as estratégias defensivas não foram suficientes para minimizar o sofrimento psíquico advindo do trabalho. O profissional então acaba perdendo o sentido do seu vínculo com o trabalho, dificilmente irá estabelecer relações afetivas, e todos os seus esforços relacionados ao seu trabalho lhe parecerão inúteis para obter melhores resultados e reconhecimento na sua função.

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A definição da Síndrome de Burnout, aparece nos anos 70 nos Estados Unidos, com o propósito de esclarecer a causa da deterioração dos cuidados relativos aos trabalhadores e atenção profissional que os mesmos recebiam de suas organizações. Com o passar do tempo, a síndrome de Burnout constituiu-se como sendo uma consequência do estresse das relações do sujeito com o trabalho. Isto por que quando afetado pela síndrome o trabalhador passa a ter sentimentos e atitudes negativas.

Desta maneira, Codo (1999, p.276) afirma:

Profissionais atingidos pelo Burnout passam a não se importar mais com as relações interpessoais, desenvolvem sentimentos e atitudes negativas com relação aos colegas, sentem-se exauridos, incapazes de poder dar mais de si.

A origem da palavra Burnout deriva do inglês to Burns out, que tem como significado “queimar-se”, “consumir-se”, “sendo consumido”. Maslach (1981) faz uso do termo para se referir a exaustão psíquica do trabalhador, ou seja, a síndrome de Burnout se coloca como uma condição onde o indivíduo tem seus esforços, sua disposição, e seu entusiasmo com o trabalho consumidos.

Maslasch e Jackson (1981) propuseram que a Síndrome de Burnout está vinculada a uma intensa e contínua vivência de estresse que é decorrente do trabalho. Os autores definiram e caracterizaram a síndrome como sendo constituída por um tripé, que se exprime através da exaustão psíquica que se apresenta pela ausência de energia para trabalhar, pelo descontentamento e pelo trabalhador sentir esgotados seus recursos. A falta de reconhecimento do trabalhador se caracteriza por ele avaliar-se de forma negativa, possuir avaliar-sentimentos de insatisfação com avaliar-seu trabalho, avaliar-sentir-avaliar-se infeliz, e por fim, pela despersonalização, que acaba afetando a forma de relacionar-se com os colegas de trabalho, tratando-os como objetos e tendo pouca empatia para com eles. (MASLASCH; JACKSON, 1981).

O processo de evolução do Burnout dá-se de forma lenta, sendo que inicialmente não é percebido. Seus sintomas estão associados ao esgotamento psíquico, à fadiga, e em alguns casos à depressão. O trabalhador quando acometido

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de tais sintomas terá uma baixa em seu desempenho profissional, resultante de condutas negativas.

Ao entrar em Burnout, o trabalhador passa a assumir um posicionamento frio frente a seus clientes, no caso dos professores seus alunos, coloca-se a parte de problemas e adversidades. Suas relações com as pessoas do seu trabalho, seja colegas ou alunos são desfeitas, o profissional vê-os apenas como objetos, sua relação esfria, tornando-se apático a tudo e a todos.

Em decorrência disso surge o nervosismo, a impaciência por parte do educador, tornando assim inviáveis os processos de aprendizagem. Primeiramente o professor não passa de forma clara os conteúdos, não instigando seu aluno a aprender, parecendo por vezes desinteressado, mas em contrapartida acaba entrando em sofrimento, tendo crises de ansiedade, sentimentos de não conseguir cumprir mais seu papel, torna-se melancólico e sua autoestima fica baixa.

Diante disto, pode-se destacar a afirmação de Silva (2000 apud Freudenberger 1974), quando ele nos diz que a Síndrome de Burnout é fruto do esgotamento, das desilusões frente ao trabalho, pela perda de interesse pela função, que nasce do contato diário com pessoas no seu campo de atuação.

Quando não há realização pessoal no âmbito do trabalho, o profissional acaba por analisar-se de forma negativa, ao fazer isso, acaba afetando de forma direta seu trabalho, e também a relação com as pessoas que convivem no mesmo ambiente, assim ficam descontentes, aumentando seu sofrimento psíquico.

Amorim e Turbay (1998), afirmam que o Burnout, se coloca como uma vivencia subjetiva, que irá reunir emoções, comportamentos e ações implicadas na alteração. Causará danos à qualidade de vida do trabalhador e a organização em que o mesmo se insere.

Em virtude dos fatos mencionados, e ao passo em que se entende melhor a Síndrome de Burnout, suas circunstâncias e seus indicadores de estresse mais significativos, pode-se pensar em ações que levam à prevenção, ou ao estancamento

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da mesma. Desta maneira é possível que o profissional da educação seja amparado para que assim consiga seguir na sua profissão, e na sua vida pessoal, sempre objetivando a qualidade de vida, e de todos aqueles que convivem no seu ambiente de trabalho.

É de suma importância também, salientar que as precauções visando transformações do Burnout, não são somente responsabilidade do educador, mas sim um exercício conjunto de todos os profissionais do campo educacional, os alunos e também a sociedade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para uma melhor compreensão dos possíveis efeitos que o trabalho tem na saúde mental do trabalhador, é necessário que se tenha uma visão que abranja a subjetividade que se apresenta na relação trabalho/trabalhador. Levando em consideração os aspectos observados no que diz respeito ao tema proposto nesta pesquisa, o sofrimento psíquico dos professores sob a ótica da Psicologia, observou-se que a organização do trabalho é um comprometimento que deriva das vivências sociais, entre os trabalhadores e os diferentes níveis hierárquicos que ali se criam.

Pode-se dizer também, que se torna inviável o trabalho ser colocado em uma posição de neutralidade, sendo que as obrigações e as condições postas ao trabalhador muitas vezes apresentam-se como uma ameaça aos mesmos, podendo omitir o sujeito, e assim gerar o sofrimento psíquico.

O objetivo geral desta pesquisa consistiu em analisar as condições de trabalho que afetam o desempenho profissional do educador, e fatores relacionados à organização do trabalho, os quais desencadeiam o sofrimento psíquico em professores.

Diante do exposto, pode-se dizer que o trabalho docente traz consigo várias particularidades que por sua vez proporcionam vivências prazerosas, como a afeição em alguns casos por parte dos alunos, a contribuição no crescimento e na aprendizagem das pessoas que passam pela escola, também na construção de ideais em prol do bem da sociedade. Mas, além disso, o trabalho no âmbito escolar também passa por momentos de desprazer, como quando não há reconhecimento do trabalho

Referências

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