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Percepções dos discentes do curso de Ciências Contábeis diante das questões sócioambientaisum estudo nas IES de Salvador-Bahia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CONTABILIDADE MESTRADO EM CONTABILIDADE

MÁRCIO SANTOS SAMPAIO

PERCEPÇÕES DOS DISCENTES DO CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS DIANTE DAS QUESTÕES SOCIOAMBIENTAIS: UM ESTUDO NAS IES DE SALVADOR -

BAHIA

SALVADOR 2011

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MÁRCIO SANTOS SAMPAIO

PERCEPÇÕES DOS DISCENTES DO CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS DIANTE DAS QUESTÕES SÓCIOAMBIENTAIS: UM ESTUDO NAS IES DE SALVADOR -

BAHIA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação (Sctricto Sensu) em Contabilidade da Faculdade de Ciências Contábeis da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial a obtenção do título de Mestre em Contabilidade.

Área de Concentração: Controladoria

Orientadora: Profª. Drª Sonia Maria da Silva Gomes.

SALVADOR 2011

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Ficha catalográfica elaborada por Vânia Magalhães CRB5-960

Sampaio, Marcio Santos

S192 Percepções dos discentes do curso de Ciências Contábeis diante das questões sócioambientais: um estudo nas IES de Salvador-Bahia./ Marcio Santos Sampaio. - Salvador, 2011.

136 f. il. ; quad.; fig.; tab.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Ciências Contábeis, 2011.

Orientadora: Profª. Drª. Sônia Maria da Silva Gomes. 1.Contabilidade social e ambiental. 2. Educação superior. 3.

Contabilidade – Ensino – Aspectos sócioambientais. I. Gomes, Sônia Maria da Silva. II. Título. III. Universidade Federal da Bahia.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pelo seu infinito amor, misericórdia e graça e por nunca desistir de mim. Por me dar forças para vencer mais essa etapa em minha vida. Por sempre estar ao meu lado mesmo quando eu não dediquei parte do meu tempo para Ele. Obrigado Deus.

Aos meus pais que mesmo de longe sempre procuraram estar perto, apoiando-me e fazendo-me vencer os desafios desta vida.

Ao meu irmão Tiago Sampaio pelo apoio incondicional em todos os momentos, que com suas dicas e orientações contribuíram muito para minha formação acadêmica.

À Prof. Sonia Gomes, minha orientadora, que foi além da figura de orientadora, transformando-se em amiga, um pouco mãe, conselheira. Agradeço pelo acolhimento desde o primeiro dia que ingressei em seu grupo de pesquisa e pela confiança em mim depositada.

Aos Professores Antônio Carlos Ribeiro da Silva (ACR), Vilma Geni Slomski e José Célio Silveira Andrade pelas valiosas contribuições para a melhoria deste trabalho e pelo pronto atendimento sempre que precisei.

Aos Professores do Programa de Pós-Graduação em Contabilidade Adriano Bruni, Bernardo Cordeiro, Joséilton Rocha, José Maria e Gilênio que contribuíram significativamente para a melhoria da minha formação acadêmica. Aos funcionários, especialmente, João Simões, sempre disponível e paciente para com as nossas demandas.

Ao Prof. Franklin Rami, hoje mais que um colega de trabalho, um amigo. Agradeço pelo apoio, por acreditar no meu trabalho, pela confiança. Aos demais professores do Colegiado de Contábeis e do Campus VII (Senhor do Bonfim).

À Profa. Cleide Carneiro pelo apoio, pela parceria e pelos excelentes períodos compartilhados nas reuniões de curso.

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Rodrigo, Manuel, Nilma, Gérson, Zainildo e Jerônimo com os quais compartilhei momentos de tensão, mas também bons momentos de descontração.

Agradeço a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES pelo apoio financeiro viabilizando condições para a execução desta pesquisa.

Aos amigos que de alguma forma deram apoio nesta fase de minha vida. E, por fim, todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para que concluísse este trabalho.

Obrigado a todos vocês!

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Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre! Amém. Romanos 11: 33; 36

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RESUMO

As alterações ocorridas no cenário social e ambiental têm proporcionado uma nova concepção acerca do desenvolvimento econômico discutido durante muito tempo apenas sob o viés econômico. O aumento da consciência da sociedade com a simultânea incorporação dos aspectos socioambientais nas organizações, diante da relevância desta temática, fez com o que o olhar dos pesquisadores se deslocasse para a inclusão destas questões na Educação Superior e, especificamente, nos cursos de Ciências Contábeis, bem como na maneira da inserção dos conteúdos de natureza socioambiental. Assim, o objetivo desta pesquisa foi analisar se o envolvimento formal dos discentes do Curso de Ciências Contábeis com conteúdos sociais e ambientais contribui significativamente para a percepção dos conceitos e conteúdos desta natureza. Para que este objetivo fosse cumprido foi realizada uma pesquisa descritiva e quantitativa com 518 discentes ingressantes e concluintes dos Cursos de Ciências Contábeis nas Instituições de Ensino Superior no município de Salvador - Bahia. Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um questionário dividido em quatro blocos com questões estruturadas. Os resultados indicaram que não há diferença significativa entre os discentes classificados como possuidores de maior e menor nível de envolvimento com as questões socioambientais relacionadas com o ensino da Contabilidade. Já com relação à influência das variáveis “gênero”, “idade” e “tipo de IES” sobre a percepção dos conteúdos socioambientais relacionados com a contabilidade foi possível identificar a diferença estatisticamente significativa, corroborando assim com evidências empíricas de outras pesquisas relacionadas com esta temática. Os achados da pesquisa apontam que os discentes demonstram interesse na incorporação dos aspectos sociais e ambientais nos cursos de Ciências Contábeis, bem como indicam que estes discentes compreendem os benefícios da inserção destes aspectos na construção da estratégia organizacional. Assim, esta pesquisa contribuiu para uma melhor compreensão sobre o nível de percepção dos discentes a partir da inserção dos conteúdos socioambientais de forma relacionada com o ensino da contabilidade.

Palavras-chave: Ensino da contabilidade. Contabilidade social e ambiental. Educação superior em ciências contábeis.

(10)

ABSTRACT

The changes in the social setting and environment have provided a new conception of economic development have long discussed only from the economic bias. The increased awareness of society with the simultaneous incorporation of environmental aspects in organizations, given the relevance of this theme, made with the look of the researchers were moved to the inclusion of such issues in higher education and, specifically, the courses in Accounting, and in the manner of insertion of the contents of socioenvironmental nature. The objective of this research was to examine whether the formal involvement of students of Accounting Course content with social and environmental significantly contributes to the perception of the concepts and content of this nature. For this goal to be accomplished was done a descriptive and quantitative with 518 freshmen and students Courses of Accounting in Higher Education Institutions in the city of Salvador - Bahia. As data collection instrument used was a questionnaire divided into four blocks with structured questions. The results indicate that there is no significant difference between students classified as possessing higher and lower level of involvement with environmental issues related to the teaching of Accounting. As to the influence of the variables "gender", "age" and "type of IES" on the perception of social and environmental content related to accounting was possible to identify a statistically significant difference, thus corroborating with empirical evidence from other research related to this topic . The research findings indicate that the students show interest in the incorporation of social and environmental courses in Accounting, and indicate that these students understand the benefits of integration of these aspects in the construction of organizational strategy. Thus, this research contributed to a better understanding of the perceived level of students from the insertion of social and environmental content in a way related to the teaching of accounting.

Keywords: Teaching accounting. Social and environmental accounting. Education in accounting (higher).

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Controladoria ambiental: integrando a contabilidade financeira e gerencial

64

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - 25 anos da contabilidade social e ambiental e as implicações para os programas de ensino

49

Quadro 2 - Proposta de projeto interdisciplinar em controladoria ambiental 65

Quadro 3 - Paradigma mecanicista x sistêmico 67

Quadro 4 - IES com oferta do curso de graduação em Ciências Contábeis em Salvador – BA / 2011

70

Quadro 5 - Hipóteses e evidências empíricas de sustentação das hipóteses 72 Quadro 6 - Quantidade de alunos ingressantes para compor a amostra da

pesquisa

72

Quadro 7 - Quantidade de alunos concluintes para compor a amostra da pesquisa

76

Quadro 8 - Bloco 1 – Compreensão dos conceitos da contabilidade social e ambiental

78

Quadro 9 - Bloco 2 – Construção dos cenários 79

Quadro 10 - Conceitos requeridos para análise da tomada de decisão 80 Quadro 11 - Bloco 3 – Nível de envolvimento e interesse dos discentes pelas

questões socioambientais

81

Quadro 12 - Resultado dos testes de hipóteses 117

Quadro 13 - Análise das médias das respostas dos discentes (ingressantes e concluintes)

(13)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Composição da amostra por gênero 88

Tabela 2 - Composição da amostra por faixa etária 88

Tabela 3 - Composição da amostra por tipo de IES 88

Tabela 4 - Autovalores da matriz de correlação 89

Tabela 5 - Coeficientes dos três fatores (utilizando componentes principais) 91 Tabela 6 - Coeficientes dos três fatores com rotação ortogonal (Varimax) 92

Tabela 7 - Resultado dos testes de KMO e Bartlett 94

Tabela 8 - Nível de envolvimento com relação aos conteúdos socioambientais

95

Tabela 9 - Teste de Shapiro Wilks (normalidade) para as variáveis do Bloco 1 96 Tabela 10 - Teste de Shapiro Wilks (normalidade) para as variáveis do Bloco 2 97 Tabela 11 - Avaliação das variáveis do Bloco 1 em relação aos níveis de

envolvimento dos ingressantes e concluintes

98

Tabela 12 - Avaliação das variáveis do Bloco 1 em relação aos níveis de envolvimento dos discentes ingressantes e concluintes

100

Tabela 13 - Avaliação das variáveis do Bloco 2 em relação aos níveis de envolvimento dos ingressantes e concluintes

101

Tabela 14 - Avaliação das variáveis do bloco 2 em relação aos níveis de envolvimento dos ingressantes e concluintes

102

Tabela 15 - Avaliação da associação do “gênero” com relação às variáveis do Bloco 1

104

Tabela 16 - Avaliação da associação do “gênero” com relação às variáveis do Bloco 2

105

Tabela 17 - Avaliação da associação da “idade” categorizada com relação às variáveis do Bloco 1

106

Tabela 18 - Avaliação da associação da “idade” categorizada com relação às variáveis do Bloco 2

107

Tabela 19 - Avaliação da associação do “tipo de IES” com relação às variáveis do Bloco 1

108

Tabela 20 - Avaliação da associação do “tipo de IES” com relação às variáveis do Bloco 2

(14)

com relação aos conteúdos socioambientais

Tabela 22 - Avaliação das variáveis do Bloco 1 em relação aos níveis de compreensão dos ingressantes e concluintes

111

Tabela 23 - Avaliação das variáveis do Bloco 1 em relação aos níveis de compreensão dos ingressantes e concluintes

112

Tabela 24 - Avaliação das variáveis do Bloco 2 em relação aos níveis de compreensão dos ingressantes e concluintes

113

Tabela 25 - Avaliação das variáveis do Bloco 2 em relação aos níveis de compreensão dos ingressantes e concluintes

114

Tabela 26 - Avaliação da variável “gênero” em relação ao nível de interesse e compreensão dos benefícios da inserção das questões

socioambientais

115

Tabela 27 - Avaliação da variável “idade” em relação ao nível de interesse e compreensão dos benefícios da inserção das questões

socioambientais

116

Tabela 28 - Avaliação da variável “tipo de IES” em relação ao nível de interesse e compreensão dos benefícios da inserção das questões socioambientais

(15)

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 14 1.2 PROBLEMA DE PESQUISA 17 1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA 19 1.3.1 Objetivo geral 19 1.3.2 Objetivos específicos 20 1.4 JUSTIFICATIVA 20 1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO 24

1.6 ESTRUTURA E APRESENTAÇÃO DO TRABALHO 25

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 27

2.1 A TEORIA ECONÔMICA DO DESENVOLVIMENTO E A

CONTABILIDADE NO CENÁRIO SOCIOAMBIENTAL 27

2.2 BREVE CENÁRIO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR DOS CURSOS DE

CIÊNCIAS CONTÁBEIS 34

2.3 A INSERÇÃO DAS QUESTÕES SOCIOAMBIENTAIS NO CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS: O ENSINO DA CONTABILIDADE

SOCIAL E AMBIENTAL 42

2.4 DIFICULDADES E DESAFIOS DO ENSINO DA CONTABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL NOS CURSOS DE CIÊNCIAS

CONTÁBEIS 61

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 69

3.1 ESCOLHA DO MÉTODO DE PESQUISA 69

3.2 POPÚLAÇÃO E COMPOSIÇÃO DA AMOSTRA 69

3.2.1 Construção e apresentação das hipóteses 73

3.2.2 Procedimentos para coleta dos dados 76

3.2.2.1 Instrumento de coleta de dados: elaboração e apresentação do questionário

77

3.3 TRATAMENTO DOS DADOS 83

3.3.1 Validação das escalas 83

3.3.1.1 Análise fatorial 83

3.4 TESTE DE HIPÓTESES 85

3.5 PRÉ-TESTE 87

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 88

4.1 PERFIL DOS PARTICIPANTES 88

4.2 VALIDAÇÃO DAS ESCALAS 89

4.3 RESULTADO DO TESTE DE HIPÓTESES 95

4.3.1 Teste da hipótese H1 95

4.3.2 Teste das hipóteses do Grupo H2 103

4.3.3 Teste da hipótese H3 109

4.3.4 Teste das hipóteses do grupo H4 114

4.3.5 Análise da concentração (média) das respostas 117

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 120

REFERÊNCIAS 124

(16)

1 INTRODUÇÃO

A partir da década de 1970 houve alterações significativas no modo das empresas se relacionarem com o meio ambiente na medida em que necessitam ampliar a produtividade e competitividade em nível global ao mesmo tempo em que devem reduzir os impactos ambientais. Esta mudança de perspectiva tem considerado os aspectos ambientais nas atividades das organizações, o que na prática tem se materializado em ações outrora incipientes como a gestão de resíduos sólidos, a implantação de tecnologias limpas, a gestão de custos ambientais, o reconhecimento e a mensuração de ativos ambientais intangíveis, dentre outros. Desta forma, uma premissa emergente para a manutenção das empresas na configuração global do mundo do trabalho é a revisão dos processos produtivos, no sentido de aperfeiçoar as tecnologias na geração de produtos e serviços ambientalmente responsáveis e reduzir as externalidades negativas para sociedade.

As ações socioambientais praticadas pelas empresas bem como a divulgação destas tem sido motivadas com maior intensidade nas duas últimas décadas pela crescente preocupação da sociedade com questões desta natureza. Este cenário tem exigido das empresas uma nova postura, outrora praticada por mera liberalidade. As intervenções corporativas de caráter socioambiental têm funcionado para as empresas como um importante instrumento de legitimação da sua imagem corporativa. Isto porque a divulgação dessas ações tem como um dos seus objetivos a redução das pressões da sociedade e a evidenciação de responsabilidade como prioridade na relação com o ambiente em que as empresas estão inseridas.

Entretanto, a transformação dessa concepção em práticas de responsabilidade socioambiental e desenvolvimento sustentável é relativamente nova, pois a atuação do homem voltada para atender suas satisfações em relação a díade consumo X produção, foi colocada na maior parte das vezes como forma de estabelecer uma oposição entre a empresa e o meio ambiente. Decorre desta perspectiva a extração predatória dos recursos naturais como modo de garantir a primazia do processo produtivo independente das suas consequências ambientais. Assim, até a segunda década do século XX não existiam quaisquer preocupação de incorporação das questões sociais e ambientais no cenário empresarial, uma vez que o paradigma vigente era de sustentação da empresa pelo pilar exclusivamente econômico. A mudança desta postura evidencia o amadurecimento de uma concepção conciliatória de desenvolvimento sem perder de vista a relevância do conceito de sustentabilidade, não apenas como uma concessão das

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empresas, mas como um entendimento de que o meio ambiente tem papel fundamental que o entende como aspecto crucial no direcionamento de todo o processo produtivo.

O contexto em que se circunscrevem as mudanças de perspectiva empresarial em relação ao meio ambiente implicou em alterações significativas em diversas áreas do conhecimento, dentre as quais a contabilidade. Esta, enquanto ciência social aplicada, voltada para fornecer informações úteis para o processo decisório de diversos usuários tem recentemente inserido as questões ambientais nos seus instrumentos de mensuração, evidenciação e gestão. Neste sentido, tem-se apresentado como novas proposições o gerenciamento das atividades e o processo decisório relacionados à incorporação das questões ambientais na estratégia das empresas fornecendo-lhes um diferencial competitivo, maximizando suas riquezas e atendendo aos interesses dos seus sócios e /ou acionistas, priorizando nesse bojo o interesse público e o de outros stakeholders.

Diante da crescente importância conferida às questões ambientais pela sociedade, também presentes nos novos direcionamentos da contabilidade gerados a partir deste contexto, os processos educacionais ganham especial relevo uma vez que através destes torna-se possível a formação de profissionais alinhados com as demandas socioambientais. Embora, a inserção das questões socioambientais nos processos de formação dos discentes possa aparentar uma tarefa simples, na verdade trata-se de uma discussão que envolve nuances complexas devido à pluralidade dos aspectos envolvidos nas relações entre as empresas e o meio ambiente mediadas por processos de gestão. As preocupações da sociedade e das empresas em relação aos impactos ambientais gerados pelos processos produtivos não tem ensejado, mesmo com o entendimento da sua relevância, discussões com a mesma intensidade sobre a questão nas Instituições de Ensino Superior (IES) (GRAY; COLISON, 2002).

De acordo com Lopes e Tenório (2011, p. 98) na sociedade do conhecimento, a educação “incorpora-se quase que naturalmente ao conceito de sustentabilidade. [...] é preciso enfrentar bem os novos desafios que surgem constantemente na dinâmica social; esse papel compete à educação”. Os autores propõem que se incorpore ao tripé da sustentabilidade (econômico, social e ambiental) a educação como uma quarta dimensão, transformando-o, assim, em um tetraedro da sustentabilidade. O significado de sustentabilidade e de desenvolvimento sustentável está evoluindo ao longo do tempo sendo os termos comumente inter-relacionados para descrever uma abordagem ampla que incorpore o social, o econômico e desafios ambientais que a humanidade enfreta. Tais conceitos serão melhores compreendidos quando

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discutidos no contexto educacional, por meio do qual a inclusão de novos pilares como a ética se torna viável (MURRAY; COTGRAVE, 2007).

Compreende-se, nesse contexto, a urgência em implementar e aprofundar as discussões ambientais nas IES, nos cursos de graduação em Ciências Contábeis, tendo em vista que estes discentes necessitam conhecer os problemas socioambientais, bem como discutir estratégias para solucioná-los. Assim, as discussões sobre os aspectos ambientais servirão de base para uma melhor gestão das empresas no mundo do trabalho de forma que os discentes apresentem uma formação diferenciada ao incluírem estes aspectos nas estratégias empresariais de modo responsável (PFITSHER et al., 2004).

No Brasil, ainda existe carência na inclusão de componentes curriculares que valorizem o ensino da Contabilidade relacionado com as questões sociais e ambientais. De acordo com Calixto (2006) em menos de 10% das IES brasileiras existe a oferta de um componente com esta temática e, ainda assim, tal oferta é realizada de maneira optativa. A região Nordeste é a que apresenta o menor índice de inclusão de componente em suas matrizes curriculares voltado para discussão da temática socioambiental. Ademais, vale salientar que as ementas e conteúdos programáticos dos cursos não apresentam um bom alinhamento com as reais demandas do mercado e das empresas (SOUZA, 2006; FREITAG et al., 2009; CALIXTO, 2006). Estes aspectos acentuam a preocupação com relação à formação dos discentes nos cursos de Ciências Contábeis e, consequentemente, com a inclusão dos mesmos no mundo do trabalho.

Pressupõe-se, portanto, que o ensino da contabilidade relacionado com aspectos sociais e ambientais contribui para uma formação ainda mais qualificada dos discentes uma vez que a proposta dos componentes curriculares relacionados aos aspectos desta natureza pretende fazer com que os alunos conscientizem-se a não somente maximizar a riqueza dos sócios e dos acionistas, mas também considerar todas as partes interessadas no desenvolvimento das atividades das empresas, priorizando o meio ambiente. Deste modo, também pressupõe-se que a formação dos discentes não deve priorizar uma abordagem exclusivamente técnica e instrumental, mas sim proporcionar condições para que os discentes possam inserir na estratégia organizacional as questões sociais e ambientais de forma ética e responsável.

Partindo deste posicionamento, tem-se como expectativa que o ensino da contabilidade relacionada com as questões socioambientais proporcione uma melhor percepção dos mesmos

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sobre os conteúdos desta natureza, bem como estimular atitudes e tomadas de decisão que levem em consideração estas variáveis. Nesta direção, é necessário que os discentes sejam capazes de implementar mudanças por meio da incorporação de processos inovadores, primem pela manutenção dos recursos naturais, satisfazendo as necessidades desta geração, sem, todavia, comprometer as necessidades das gerações futuras. Tal comportamento é o que se espera dos discentes que foram expostos à discussão da contabilidade relacionada com aspectos socioambientais.

Nesse sentido, é de fundamental importância estabelecer uma discussão de como os aspectos sociais e ambientais se relacionam ao ensino da contabilidade nos cursos de Ciências Contábeis para a formação de profissionais mais preparados para atender às demandas socioambientais. Logo, compreender a percepção dos discentes geradas a partir das contribuições da exposição a este debate é de fundamental relevância. No entanto, a inserção dos aspectos sociais e ambientais nos cursos de contabilidade pelas IES no Brasil perpassa diversos desafios e dificuldades que serão contemplados adiante.

1.2 PROBLEMA DE PESQUISA

A pesquisa sobre a incorporação das questões sociais e ambientais relacionadas com o ensino da contabilidade tem emergido como uma linha de investigação importante para área contábil, todavia seu objeto de estudo continua a ter seu status reduzido a um assunto periférico no desenvolvimento, concepções e atitudes dos discentes dos cursos em Ciências Contábeis. Esta realidade vai à contramão das pesquisas empíricas que comprovam que a inserção desses conteúdos nos cursos de graduação contribui para a ampliação da visão do profissional de Contabilidade (GRAY; OWEN; MAUNDERS, 1987; BLUNDELL; BOOTH, 1988; GRAY, 1990; GRAY; BEBBINGTON; WALTERS, 1993; GRAY; BEBBINGTON; MCPHAIL, 1994).

Com a finalidade de sanar tal problemática algumas IES tem inserido componentes curriculares com o objetivo de discutirem as questões socioambientais relacionadas com a contabilidade. O papel deste componente tem sido um tema cujas discussões no Brasil ainda são incipientes. Sobretudo, no ensino superior, principalmente nos cursos de Ciências Contábeis, essa temática carece ser melhor discutida, pois implica em uma formação limitada nos discentes com relação as atuais demandas sociais e ambientais. Destarte, existe carência da inclusão desse componente curricular na formação dos bacharéis em Ciências Contábeis

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para uma melhor compreensão das práticas de contabilidade e sua aplicação na tomada de decisões organizacionais (SEFCIK et al., 2007).

Algumas dificuldades encontradas na introdução dos aspectos ambientais no currículo se relacionam com o caráter interdisciplinar do estudo e da prática da gestão ambiental. Por ser a interdisciplinaridade uma dimensão de complexa aplicação, dada a exigência do estabelecimento de conexões entre diversas áreas do conhecimento é comum que os docentes também encontrem dificuldade em realizar uma abordagem adequada a esta premissa. Soma-se a este aspecto, muitas vezes, a falta de reconhecimento da importância do componente curricular em foco por parte dos coordenadores dos cursos de contabilidade, o que tende a dificultar sua implantação no currículo ou um enfoque adequado à relevância que as questões ambientais assumem na atualidade. Todavia, pelo fato de os estudantes estarem futuramente inseridos no mundo do trabalho, que cada vez mais privilegia em suas estratégias organizacionais os aspectos socioambientais, a inclusão destes conteúdos na educação contábil torna-se uma medida imperativa para a construção de um perfil apto a responder as interpelações de conciliação dos interesses empresariais e socioambientais.

O modelo de ensino atual dos cursos de contabilidade em relação à abordagem das questões socioambientais ainda é fragmentado e disciplinar – Contabilidade Financeira Ambiental e Contabilidade Gerencial Ambiental. Além dos assuntos estarem desarticulados com outros componentes curriculares, o curso não prepara o profissional de contabilidade a contento para atender às demandas do mercado para lidar com os problemas relacionados à sustentabilidade e suas possíveis soluções (GOMES, 2010).

Como contribuição para que as questões socioambientais façam parte da formação dos profissionais de contabilidade, propõe-se um modelo de ensino interdisciplinar, alicerçado no paradigma da sustentabilidade. Assim, as disciplinas do curso deveriam levar em consideração temas como desenvolvimento sustentável; Responsabilidade Social Corporativa (triple bottom line), contabilização das ações de prevenção e recuperação do meio ambiente e outros que são relevantes no que diz respeito à formação da estratégia empresarial, percepção de valor nos produtos e serviços pelos stakeholders, ciclo de vida dos produtos e organizacional, entre outros, de forma inter-relacionada.

Nesta direção, Grinell e Huntt desenvolveram um curso intitulado Contabilidade e Meio Ambiente, com alunos originados de diversas áreas afins em gestão de negócios, cujo objetivo

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era “melhorar a compreensão dos alunos sobre como a informação contábil é, ou pode ser, utilizada para apoiar a estratégia ambiental das empresas e avaliar o desempenho ambiental de uma empresa” (GRINELL; HUNTT, 2000, p. 19). Para atender tal objetivo o curso foi desenvolvido de forma interdisciplinar proporcionando a discussão de conceitos e técnicas que podem ser utilizadas para resolver a variedades de problemas ambientais.

Deste modo, este trabalho busca encontrar evidências sobre a percepção dos discentes dos Cursos de Ciências Contábeis com relação às questões ambientais, por meio da resposta ao seguinte problema de pesquisa: o envolvimento formal dos discentes do Curso de Ciências

Contábeis com conteúdos sociais e ambientais contribui significativamente para a percepção diferenciada dos conceitos desta natureza?

Tem-se como aspecto balizador dessa investigação a averiguação sobre em que medida o contato com conteúdos socioambientais pode influenciar na percepção do aluno quando este se depara com problemas de ordem socioambiental. Pressupõe-se que todo aluno reconhece a importância das questões ambientais, mas deseja-se investigar a percepção dos discentes e utilização dos conteúdos socioambientais para resolver problemas relacionados às estas questões.

Nesse sentido, falar em contribuição significativa envolve a investigação de gradações por meio das quais se podem mensurar o nível de percepção dos discentes acerca dos conteúdos socioambientais na resolução de questões específicas desta natureza. Para isto o aluno deveria não apenas reconhecer a relevância das questões ambientais em sua conciliação com o processo produtivo, mas a utilização de ferramentas da contabilidade com a inserção de variáveis sociais e ambientais para ir além, convertendo consciência ambiental em atitudes.

1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA

1.3.1 Objetivo geral

O objetivo geral proposto para esta pesquisa é analisar se o envolvimento formal dos discentes do Curso de Ciências Contábeis com conteúdos sociais e ambientais contribui significativamente para a percepção dos conceitos desta natureza.

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1.3.2 Objetivos específicos

Com os desdobramentos do objetivo principal desta pesquisa temos, de forma mais específica, os objetivos a seguir:

a) Investigar a percepção dos discentes acerca dos conceitos de natureza socioambiental relacionado com o ensino da contabilidade.

b) Verificar a existência de diferenças significativas entre os discentes que forem classificados como de baixo e alto envolvimento com relação aos conhecimentos de conteúdos socioambientais nos cursos de graduação em Contabilidade das Instituições de Ensino Superior (IES) de Salvador – Bahia.

c) Analisar o efeito das variáveis: gênero, idade e tipo de IES na percepção dos conceitos relacionados com as questões socioambientais.

d) Identificar o nível de interesse dos discentes com relação às questões socioambientais, bem como a influência das variáveis estabelecidas sobre este aspecto.

1.4 JUSTIFICATIVA

As inquietações em torno da inserção das questões socioambientais relacionadas com o ensino da contabilidade partiram das discussões proporcionadas pelo Grupo de Pesquisa de Laboratório de Pesquisa em Contabilidade de Gestão, sob a coordenação da Prof. Drª. Sonia Maria da Silva Gomes. Estas discussões culminaram com a proposição de um artigo sobre o ensino do componente curricular Controladoria Ambiental nos cursos de graduação em Ciências Contábeis para IES Brasileiras.

Neste sentido, é de fundamental importância o desenvolvimento desta pesquisa no espaço acadêmico, uma vez que a discussão e busca de respostas para o problema desta pesquisa irá contribuir ainda mais para o processo de qualificação dos discentes de Ciências Contábeis, uma vez que os aspectos socioambientais devem permear a estratégia empresarial, fomentar o desenvolvimento corporativo alinhado com os pilares da sustentabilidade, bem como contribuir para o processo de conscientização dos discentes acerca das questões desta natureza. Deste modo, entender a percepção dos discentes sobre as questões socioambientais e buscar relacionar este entendimento com o ensino da contabilidade ancorado numa abordagem interdisciplinar apresenta-se como uma das justificativas para a realização deste trabalho.

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Ademais, o desenvolvimento deste estudo contribuirá para fomentar a discussão onde fora identificado uma lacuna nesta área, pois as pesquisas sob esta temática no Brasil ainda estão em fase inicial. Para melhor esclarecer sobre a lacuna e a situação atual dos estudos com relação às questões socioambientais, faz-se necessário apresentar de forma breve o cenário sobre estas pesquisas, conforme explicitado a seguir.

A Contabilidade tem contribuído de forma significativa nos processos de reconhecimento, mensuração e divulgação de informações socioambientais oriundas das ações realizadas pelas empresas. A relevância das práticas corporativas de informação ambiental começou a ganhar destaque a partir da década de 1990. Desde então, as empresas intensificaram a publicação de informações qualitativas e quantitativas relevantes e, ainda, informações de ordem financeira. Ademais, as empresas perceberam que o disclosure socioambiental impacta o processo decisório dos seus stakeholders (DAS; PATTANAYAK, 2000). Diante deste contexto, a discussão sobre as ações socioambientais das empresas vem aumentando substancialmente no meio empresarial e acadêmico. Confirmam essa tendência os trabalhos de Gray, Walters e Bebbington (1995), Deegan e Rankin (1996), Deegan e Gordon (1996), Patten (1992), Gibson e Guthrie (1995), Brown e Deegan (1999).

Além destes estudos, alguns pesquisadores concentram-se na investigação das informações evidenciadas por meio dos relatórios anuais de sustentabilidade, tais como Epstein (1996) que buscaram verificar se os diversos grupos de usuários consideravam as informações ambientais contidas nos relatórios anuais uma fonte importante para analisar o desempenho da organização. Outro exemplo refere-se à pesquisa de Nossa (2002) que investigou como estava sendo apresentado o disclosure de informações ambientais pelas empresas do setor de papel e celulose. Os resultados da pesquisa demonstram que as empresas têm a tendência de divulgar somente aquelas informações que proporcionavam um impacto positivo, enquanto as informações cujos impactos tinham um efeito potencial negativo eram ocultadas até que existissem metas e objetivos claros para reverter a situação.

Pesquisas como as desenvolvidas por Aerts e Cormier (2009) buscam analisar o impacto da evidenciação de informações socioambientais com relação à legitimação das atividades da empresa. Nesta direção, estes autores identificaram que os resultados divulgados pela empresas dos Estados e Unidos e Canadá em seus relatórios de sustentabilidade tem impacto direto sobre a imagem institucional. Nesta mesma direção, Clarkson e outros (2007) forneceram evidências empíricas de que existe uma correlação positiva entre o nível de

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divulgação de relatórios socioambientais e relatórios de sustentabilidade de acordo com as diretrizes do GRI e o desempenho de cinco empresas poluentes nos Estados Unidos.

Outra vertente destas pesquisas, como o estudo de Cormier e Magnan (2003), concentra-se em relacionar disclosure socioambiental e o desempenho financeiro da empresa. A pesquisa de Cormier e Magnan (2003) investiga a relação entre a evidenciação do desempenho ambiental de empresas do setor de papel, celulose e petroquímicas e a avaliação realizada pelo mercado de ações. Os resultados sugerem uma relação positiva entre as variáveis. Assim, quanto melhor o desempenho ambiental mais valorizada torna-se suas ações no mercado financeiro.

As pesquisas na área socioambiental normalmente buscam relacionar a divulgação, a informação e outros aspectos ambientais como o tamanho da empresa, setor de atividade, concentração de capital, localização da empresa, entre outros. Torna-se, então, evidente que uma nova perspectiva tem sido considerada na direção de forçar as empresas a mudarem seus processos e rotinas para manter os seus níveis de produtividade, competitividade e minimizar o impacto das suas atividades sobre o meio ambiente. Este novo cenário requer gestores qualificados, não somente por possuírem todos os requisitos já exigidos pelo mercado, mas também pelo conhecimento dos aspectos socioambientais impostos às organizações.

Com o contínuo crescimento da consciência sobre questões socioambientais seria inevitável deslocar o olhar para a educação superior e mais especificamente para os cursos de graduação em Ciências Contábeis, bem como para investigação sobre a compreensão, apropriação de conhecimentos, percepção e atitudes dos discentes com relação aos aspectos socioambientais. Neste sentido, merecem destaque as discussões de Gray e Collison (2002) que buscam analisar os processos educacionais e as implicações sobre os aspectos ambientais no Reino Unido. O trabalho destes pesquisadores representa uma chamada para a investigação da relação sobre os processos educacionais em contabilidade e o meio ambiente. As discussões finais deste estudo apontam evidências de que a discussão de aspectos sociais e ambientais durante o curso fornece um diferencial nas atitudes dos alunos quando em exercício profissional.

Mathews (1997), quando realizou seu estudo sobre o ambiente de pesquisa em contabilidade social e ambiental durante o período de 1971 a 1995, apontou sete sub-áreas que deveriam ser pesquisados nos anos seguintes, sendo que uma delas seria a investigação do ensino deste

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componente e da ligação do ensino com a prática contábil através do desenvolvimento do currículo.

Nesta mesma direção, Parker (2005) realizou uma pesquisa para investigar a publicação dos trabalhos em periódicos desde 1988 a 2003. Os resultados apontaram uma concentração de pesquisas na área de evidenciação e comparação de relatórios entre países. As pesquisas na área de educação que buscam analisar o ensino da contabilidade social e ambiental ainda são superficiais e necessitam de maior aprofundamento e discussão. Todavia, Parker (2005) salienta que houve um acréscimo na incorporação desta temática em congressos nacionais e internacionais nos últimos anos, sendo que este aumento também foi percebido no volume de artigos em periódicos.

Por sua vez, Lamsa e outros (2007) ressaltam a importância de realizar pesquisa que objetivem investigar os discentes e as suas compreensões acerca das questões socioambientais e de Responsabilidade Social Corporativa (RSC), uma vez que estes discentes poderão participar dos processos decisórios das empresas. Nesse sentido, é fundamental compreender os seus comportamentos, já que esses discentes serão os responsáveis para a construção de uma sociedade de melhor qualidade.

No Brasil, nos últimos anos, pode-se observar o crescimento de estudos que buscam analisar a inserção de aspectos ambientais nos Cursos de Ciências Contábeis. Neste sentido, destacam-se os trabalhos de Calixto (2006), Souza (2006), Heliodoro e Gonçalves (2005), Barbieri e Sousa (2005), Pfitsher e outros (2004), Dallabona, Cunha e Rausch (2010). Tais pesquisas concentraram seus esforços em identificar os Cursos de Ciências Contábeis que possuem a disciplina Contabilidade Ambiental ou correlata e quais as condições de oferta deste componente curricular, qual o nível de publicação em livros e periódicos acerca dos temas da contabilidade ambiental, a percepção dos coordenadores acerca da importância da disciplina contabilidade ambiental e levantamento das dificuldades para implantação nos cursos de Ciências Contábeis. Todavia, ainda são incipientes os estudos que buscam analisar a percepção dos discentes com relação às questões socioambientais nos cursos de graduação em Ciências Contábeis.

De acordo com Das e Pattanayak (2008) a omissão das discussões e a pouca orientação sobre o ensino da contabilidade social e ambiental proporcionam impactos negativos para as empresa, pois os discentes que serão incorporados nessas empresas não terão know-how sobre

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as ações de responsabilidade ambiental, incorporação dos aspectos ambientais na estratégia organizacional o que implicará na geração de problemas na operação das atividades e, como consequência, na evidenciação das ações e impactos empresariais sobre o meio ambiente.

Essas inquietações devem sensibilizar e conscientizar os educadores a incluir em seus planos de ensino a discussão, mesmo que não seja de forma específica, às questões relacionadas ao meio ambiente. Espera-se que a mudança na práxis pedagógica desses educadores contribua para a formação dos discentes aptos a lidar com as muitas interfaces que os aspectos ambientais demandam, bem como que estejam potencialmente preparados para buscar alternativas e soluções para redução dos impactos ambientais provocados pela empresas.

Nesse sentido, é fundamental promover a inclusão do ensino da contabilidade relacionado com as questões sociais e ambientais nos cursos de Ciências Contábeis, numa perspectiva dialógica, proporcionando aos discentes a discussão com relação aos procedimentos e estratégias para lidar com os desafios e as demandas contemporâneas relacionadas às questões socioambientais, otimizando a gestão dos processos e dos fatores de risco, fornecendo um diferencial competitivo para as empresas diante do mercado global (GRINNEL; HUNT, 2000).

A realização desta pesquisa contribuirá para a criação de propostas que busquem incorporar no curso de Ciências Contábeis aspectos socioambientais diante dos problemas enfrentados pelas empresas na atualidade.

Além disso, essa pesquisa irá colaborar para compreender as relações entre o ensino da contabilidade relacionado com as questões socioambientais, assinalando a imperativa necessidade de propostas pedagógicas nas matrizes curriculares dos cursos de graduação em Ciências Contábeis. Ademais, saliente-se que este estudo contribuirá para a criação de linhas de pesquisas relacionadas ao tema nos programas de pós-graduação, aprofundando a discussão sistematizada neste âmbito.

1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

A proposta desta pesquisa é analisar se o envolvimento formal dos discentes do Curso de Ciências Contábeis das IES de Salvador - Bahia com conteúdos sociais e ambientais contribui significativamente para a percepção dos conceitos relacionados com esta natureza. Assim, não

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se constitui objeto de verificação, discussão ou mesmo catalogação as questões relacionadas às práticas pedagógicas e didáticas utilizadas pelos professores que ministram a disciplina Contabilidade Social e Ambiental ou disciplinas correlatas que buscam incorporar a discussão socioambiental relacionada com a contabilidade. Deste modo questões como: quais os conteúdos das disciplinas são ofertados? De que forma estes assuntos estão sendo ministrados? São interessantes, todavia, investigar qual a percepção dos discentes em torno das questões socioambientais nos cursos de graduação em Ciências Contábeis apresenta-se como uma proposta diferencial.

Outra delimitação deste trabalho refere-se à composição do universo e a amostra do grupo de usuários que serão utilizados nesta pesquisa. Além dos discentes já formarem o principal grupo de interesse do problema desta pesquisa, há de ser destacado que a discussão sobre as questões socioambientais no cenário empresarial é relativamente recente, e tem passado a compor o currículo acadêmico também de modo recente, consequentemente, compreender a percepção destes alunos em uma nova perspectiva da prática contábil é condição relevante para se compreender o comportamento destes discentes enquanto profissionais.

1.6 ESTRUTURA E APRESENTAÇÃO DO TRABALHO

Esse trabalho esta estruturado em cinco capítulos, conforme descritos a seguir:

O capítulo 1 refere-se a esta introdução com o objetivo de contextualizar o assunto para lançar as bases de enunciação do problema, bem como os objetivos geral e específicos, a justificativa e delimitação desta pesquisa.

O capítulo 2 apresenta a fundamentação teórica a partir da revisão dos periódicos internacionais nacionais e, principalmente, daqueles que concentram a publicação de trabalhos com a temática desta pesquisa. Essa revisão buscou incorporar as discussões mais relevantes acerca deste problema que apontam para a relevância do ensino da contabilidade social e ambiental, as formas de oferta, os conteúdos que devem compor essa disciplina, a carga horária, entre outros.

O capítulo 3 apresenta os procedimentos metodológicos para cumprir os objetivos estabelecidos por esta pesquisa. Neste capítulo, a partir da fundamentação teórica e evidências empíricas são enunciadas as hipóteses deste trabalho e o modelo proposto para esta pesquisa.

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Ademais, são apresentados os procedimentos para construção e validação das escalas e ainda a forma de tratamento e análise dos dados para discussão dos resultados.

O capítulo 4 contempla a análise e discussão dos dados, bem como apresentação dos resultados obtidos. Neste capítulo com apoio dos métodos quantitativos busca-se descrever a amostra da pesquisa, demonstra a aplicação e execução de todos os procedimentos para tratamento e análise dos dados, posteriormente, realiza os testes de hipóteses deste estudo.

Por fim, estão apresentadas as considerações finais desta pesquisa, indicando as limitações do estudo, bem como elenca algumas sugestões para a realização de pesquisas que contribuam para o alargamento desta temática.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A TEORIA ECONÔMICA DO DESENVOLVIMENTO E A CONTABILIDADE NO CENÁRIO SOCIOAMBIENTAL

A partir do século XVIII, a aceleração dos processos produtivos decorrentes da Revolução Industrial intensificou o ritmo das mudanças ocorridas no meio ambiente. Todavia, somente no século XX, mais precisamente na década de 1950, as crescentes interferências do homem sobre o meio ambiente começaram a provocar discussões sobre as relações entre o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade ambiental. Deste modo, na década de 1960 realizou-se a primeira reunião para a discussão internacional sobre políticas de incorporação dos aspectos ambientais nos processos produtivos que ficou conhecida como Clube de Roma.

Desde então, assistiu-se a realização de vários encontros com o propósito de aprofundar as discussões sobre os inúmeros problemas ambientais provenientes da ação do homem, buscando-se a partir daí soluções para tais problemas. Neste sentido, podem-se indicar marcos relevantes tais como a Conferência de Estocolmo (1972), o Congresso de Belgrado (1975), o Congresso Internacional da UNESCO – Programa de Educação e Formação Ambiental (1987), a Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992), a Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade (1997), e mais recentemente, o Congresso Mundial do Meio Ambiente (2010).

Como consequência do crescimento das discussões sobre o impacto do desenvolvimento econômico sobre o meio ambiente houve um incremento na conscientização da sociedade acerca da responsabilidade ambiental das empresas (PFITSCHER, 2004). De acordo com Hopwood (2009) quanto maior for a percepção da intervenção humana sobre o meio ambiente, maior será a necessidade de abordagens diferenciadas para conceber a interação das empresas com o meio onde se encontram inseridas, todavia este é um processo que tem ocorrido muito lentamente.

Neste sentido, é bastante pertinente compreender os pressupostos da Teoria Econômica do Desenvolvimento (TDE), bem como as mudanças ocorridas no entendimento sobre o termo “desenvolvimento econômico”. Pois, entende-se que as contribuições e alterações ocorridas em torno desta terminologia influenciaram diretamente as organizações e o mundo do trabalho na condução das suas estratégias e ações relacionadas às questões socioambientais e, consequentemente, estarão subjacentes nas análises e discussões sobre a inserção destas

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questões na Educação Superior e, de forma mais específica, nos cursos de graduação em Ciências Contábeis.

De acordo com Furtado (1961 apud BRESSER-PEREIRA, 2006) a ideia de desenvolvimento se materializa em dois momentos históricos. O primeiro momento foi definido pela busca da maximização da racionalidade do objetivo econômico (o lucro), ou seja, a partir desta ótica o desenvolvimento econômico era marcado pela otimização de riqueza e, consequentemente, a acumulação deste excedente. A Revolução Industrial irá simbolizar o marco do segundo momento, uma vez que a racionalidade para alcançar o lucro será expressa por meio pela incorporação de novas tecnologias e aumento da produtividade como condição fundamental para sobrevivência das organizações.

É válido destacar que segundo Moricochi e Gonçalves (1994, p. 28) a posição assumida pelos economistas clássicos no que diz respeito às variáveis para determinação da produção de uma economia era: “a) o nível tecnológico; b) quantidade e qualidade da força de trabalho; c) quantidade e composição do estoque de capitais; e d) natureza das condições dos recursos naturais”. Entretanto, uma das dificuldades em torno destas variáveis era o processo de mensuração.

Neste sentido, uma contribuição relevante com o objetivo de sanar esta problemática é indicada por Schumpeter (1957) em sua TDE quando fixa os determinantes para o desenvolvimento econômico: empresário, inovação e capital. Neste sentido, de acordo com Costa (2006, p.3) incrementos na produtividade passam a ser concebidos a partir de “aperfeiçoamento nos processos de trabalho e mudanças tecnológicas contínuas na função produção”. Percebe-se então que os empresários, individualmente, contribuirão para o desenvolvimento a partir da inserção conjunta de capital e atitudes inovadoras. Assim, na opinião de Bresser-Pereira (2006, p. 6) à época “o mercado e o dinheiro são as duas instituições econômicas por excelência que viabilizam o objetivo das nações: o desenvolvimento econômico”. Para uma melhor compreensão em torno da discussão pretendida, faz-se necessário enunciar o conceito para o termo desenvolvimento econômico, que segundo Bresser-Pereira (2006, p. 9):

É o processo histórico de crescimento sustentado da renda ou do valor adicionado por habitante implicando a melhoria do padrão de vida da população de um determinado estado nacional, que resulta da sistemática acumulação de capital e da incorporação de conhecimento ou progresso técnico à produção. Nestes termos, o

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desenvolvimento econômico é um processo de transformação que implica mudanças nos três níveis ou instâncias de uma sociedade: estrutural, institucional ou cultural.

Deste modo, a compreensão em torno do desenvolvimento econômico está diretamente associada à melhoria do padrão de vida da população em função da sistemática acumulação de capital e incorporação de tecnologia à produção. As teorias econômicas explicativas do desenvolvimento indicaram em sua maioria os agentes/fatores: o Estado, mercado e capital como tríade necessário para a compreensão deste fenômeno, uma vez que tal combinação culminava com o crescimento econômico da nação e, consequentemente, para o desenvolvimento do país. Em função disto durante muito tempo o crescimento econômico foi utilizado como sinônimo de desenvolvimento da nação.

Todavia, nas últimas décadas as teorias econômicas têm evoluído principalmente no que tange à concepção do termo desenvolvimento, sendo o crescimento econômico entendido como necessário, mas não suficiente para promover desenvolvimento sustentável (ROCHA; SIMAN, 2005). Um reflexo deste novo entendimento foi a inclusão nas estatísticas nacionais de variáveis relacionadas aos aspectos sociais, tais como expectativa de vida, taxa de analfabetismo, distribuição de venda, entre outros. Assim, de acordo com estes autores a teoria econômica precisava se redefinir implicando no surgimento de uma nova teoria econômica do desenvolvimento.

Além das questões sociais, a partir da segunda década do século XX em função dos inúmeros acidentes ambientais provocados pelas atividades das empresas e pela percepção de forma mais acentuada da sociedade, os aspectos ambientais passaram a ser incluídos e considerados na noção de desenvolvimento. Assim, segundo Hebete (1993, p. 67 apud ROCHA; SIMAN, 2005, p. 4) houve a necessidade de inserção de “novos instrumentos de análise, reformulação de velhos conceitos e a construção de novos”. É diante destas alterações que além da concepção exclusivamente econômica, outros pilares de sustentação evidenciam-se como fundamentais para a revisão e compreensão do conceito de desenvolvimento concebido apenas sob o viés da racionalidade econômica e passa a ser pensado inclusive a partir dos aspectos sociais e ambientais, constituindo desta forma a tríade de sustentação do desenvolvimento sustentável.

Neste sentido, a partir da década de 1990 houve mudanças significativas na forma das empresas relacionarem-se com o meio ambiente, em parte, como decorrência da pressão da sociedade e do próprio crescimento das discussões sobre o tema. Desde então, tem sido

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notório o sensível aumento do número de empresas que realizam e divulgam ações de recuperação e preservação ambiental. A elevação na quantidade de disclosure socioambiental reflete a preocupação das organizações de serem percebidas como entidades responsáveis perante a sociedade e o ambiente onde desenvolvem suas atividades. Assim, a publicização dessas informações tem funcionado como instrumento de construção de legitimidade perante a sociedade. O esforço destas empresas, nesta direção está, portanto, associado à própria formação de imagens favoráveis das empresas enquanto organizações alinhadas às demandas de natureza socioambiental (GRAY; WALTERS; BEBBINGTON, 1995; GIBSON; GUTHRIE, 1995; DEEGAN; RANKIN, 1996; BROW; DEEGAN, 1999; DEEGAN; BLOMQUIST, 2006; AERTS; CORMIER, 2009).

Embora o breve cenário esboçado possa ter significado o crescimento da necessidade das diferentes abordagens para a compreensão do fenômeno e busca das soluções de compatibilização entre o crescimento econômico e a sustentabilidade ambiental, conforme apontado por Hopwood (2009), várias áreas do conhecimento como a Contabilidade limitaram, durante um tempo considerável, parte das suas contribuições para a compreensão dos problemas ambientais ao entendimento do efeito do disclosure ambiental voluntário na legitimidade das empresas com implicações sobre o desempenho econômico e financeiro. Aspecto este relacionado com uma diversidade de variáveis, tais como: tamanho da empresa, ramo de atividade, estrutura organizacional, entre outros.

Além disso, na maior parte das vezes, as pesquisas acadêmicas delimitaram como escopo a compreensão da variedade de formas e conteúdos divulgados nos relatórios de sustentabilidade relacionada com as expectativas dos usuários destes relatórios. Dimensão esta que, embora metodologicamente relevante enquanto construção de uma resposta tem se mostrado insuficiente para explicar nuances mais complexas da problemática esboçada. (NOSSA, 2002; CHO; PATTEN, 2006; MOURA; DIAS FILHO, 2009).

Em uma perspectiva semelhante, Jones (2010) afirma que a contabilidade não tem se mostrado adequada diante da atual realidade ambiental. Segundo este autor, apenas tornar públicas as informações ambientais não é o bastante, pois essas informações não fornecem subsídios suficientes para expressar, de maneira confiável, as externalidades das empresas sobre o meio ambiente, uma vez que a contabilidade está assentada na quantificação numérica. Esta vertente não evidencia apenas uma escolha de ordem técnica e metodológica, mas é tributária de um posicionamento que escamoteia as reais consequências que o

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crescimento econômico gera sobre o ambiente e inviabiliza suas prováveis soluções. Collison e outros (2000) ratifica este pensamento ao afirmar que a contabilidade serve, assim, como instrumento ideológico de legitimação das práticas empresariais inseridas na lógica de reprodução do capital. Este aspecto torna evidente desconsideração das externalidades como fator de interesse público em contraposição da maximização da riqueza dos acionistas.

Tal posição fundamenta-se na ideia de Birkin (1996) de que os números são úteis, todavia, não são capazes de relacionar uma série de variáveis complexas e interdependentes quando se trata das questões ambientais, pois o problema estaria deste modo, resumido em quantificar o não quantificável. Destarte, percebe-se que a contabilidade carece de instrumentos de mensuração confiáveis capazes de tornar evidentes as externalidades das atividades empresariais, fornecendo uma melhor visualização destas para os inúmeros stakeholders das empresas.

Jones (2010) acrescenta ainda que alguns princípios norteadores da contabilidade provocam algumas distorções no processo de evidenciação ambiental como, por exemplo, a periodicidade dos relatórios que costumam encerrar-se a cada ano. Enquanto dados da realidade, todavia, os grandes impactos ambientais provocados pelas atividades empresariais estendem-se por longos períodos. Diante disto, é questionável qual seria o melhor método ou critério para fracionar e mensurar os impactos ambientais para cada período que deveria compor os relatórios de sustentabilidade.

Em tempo, é válido salientar que segundo Jones (2010) esta contabilidade denominada convencional pode ser entendida como de orientação capitalista, tecnicista, focalizando nos negócios e nas relações comerciais, pautada pela quantificação numérica. Deste modo, ficam excluídos do seu campo de atuação os eventos ocorridos provenientes da relação da empresa com o meio ambiente. Consequentemente, deixam de ser reconhecidos os efeitos desta relação sobre o patrimônio da entidade, sobre geração e distribuição da riqueza não somente para os acionistas, mas também para as diversas partes interessadas.

Diante das limitações da contabilidade convencional duas correntes teóricas têm contribuído com discussões acerca da relação dos aspectos socioambientais com a Contabilidade. Assim, uma vertente em crescimento nos últimos anos tem sido aqueles que discutem as contribuições da inserção de conteúdos desta natureza a partir da inclusão de um componente curricular nos cursos de ensino superior, comumente denominado de contabilidade social e

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ambiental. Esta perspectiva contempla uma abordagem disciplinar, ou seja, onde os conteúdos são discutidos nos limites bem delineados de um campo ou área do conhecimento, entendido uma especialização ou ramo da contabilidade convencional.

Por outro lado, de forma mais recente Slomski, Kassai e Slomski (2011) vem defendendo a inserção dos conteúdos socioambientais de maneira a ampliar o escopo de atuação da Contabilidade de Custos permitindo, deste modo, a inclusão de todos os custos relacionados com os aspectos ambientais aos custos dos produtos. Ademais, a concepção destes autores no que diz respeito, por exemplo, ao registro de uma transação ambiental é que ela não pode ser dissociada das atividades operacionais da empresa.

Ainda de acordo com Slomski , Kassai e Slomski (2011) mais relevante que a tentativa de contabilização é o processo de divulgação das informações, uma vez que alguns aspectos socioambientais são de difícil mensuração e contabilização. Entretanto, em função desta complexidade a contabilidade não pode ausentar-se da sua função primordial de informar aos seus usuários sobre a ocorrência de eventos desta natureza, bem como os prováveis impactos sobre o patrimônio da organização. Neste sentido, estes autores apontam como proposta que a Ciência Contábil seguisse as tendências internacionais no que diz respeito à simplificação dos registros contábeis, mas com maior exploração das notas explicativas. Ademais, entendem que alguns aspectos e indicadores socioambientais devessem ser inseridos nos relatórios contábeis ainda que de forma simplificada.

Na opinião de Mathews (1997) é importante que não percamos de vista o momento atual, pois os estudos na área da contabilidade devem conduzir à mudança de comportamento na relação entre as empresas e o meio ambiente. Para este autor, a contabilidade ambiental é mais ampla que a convencional, uma vez que ela está baseada na premissa de que as empresas têm responsabilidades maiores do que apenas a produção de riqueza para os seus acionistas.

O pensamento de Mathews (1997) é coerente com as colocações de Jensen (2001, apud KASSAI; CIRELLI, 2010) quando indica a impossibilidade da organização de desprezar a longo prazo a inserção das redes de stakeholders em detrimento da geração concentrada de riqueza para os proprietários, conforme estabelece a teoria de maximização do valor.

Percebe-se desta forma que a importância que atualmente se atribui às questões ambientais é resultado do amadurecimento da sociedade e do ambiente acadêmico nos últimos anos, quanto

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à capacidade limitada de gerar riquezas com uso de recursos de ordem natural. Por muito tempo, a contabilidade ficou alheia ao uso irracional de recursos e à degradação do ambiente, decorrente dos mecanismos de produção que vêm ao longo do tempo afetando a qualidade de vida e ao esgotamento dos recursos. Entretanto, as questões ligadas à proteção do ambiente, têm sido cada vez mais presentes, refletindo na avaliação econômica das empresas e na escolha das ações por investidores, bem como na aquisição de produtos por parte dos consumidores.

A contabilidade tem buscado desenvolver uma série de procedimentos, instrumentos e métodos que extrapolam a simples divulgação financeira, contribuindo para a inserção das questões ambientais na composição das estratégias organizacionais, incorporando aos processos produtivos das empresas a gestão ambiental dos recursos. Dentre os procedimentos, instrumentos e métodos podem ser destacados a avaliação do ciclo de vida do produto, indicadores ambientais e sócio-econômicos do desempenho sustentável, além de outros que expressam uma preocupação da contabilidade com as questões ambientais, com as externalidades sociais e organizacionais.

Vale salientar que também a especialização da contabilidade no que diz respeito às questões socioambientais emerge como expressão de uma mudança de perspectiva impulsionada pelo aumento das reivindicações sociais a fim de cobrar das empresas uma postura ambientalmente responsável. Enquanto uma das expressões do esforço das empresas em ajustarem-se as demandas ambientais apresentadas pela sociedade, a denominada contabilidade social e ambiental é um indício dos movimentos do capitalismo para sintonizar-se com questões que, embora possam, a priori, representar um ônus em termos de adaptação, mostram-se em seguida potencialmente rentáveis por estarem alinhadas a uma mudança de consciência social, logo alinhada a uma predisposição para o consumo.

Uma evidência da valorização crescente das causas ambientais, por exemplo, se manifesta na mudança do comportamento dos consumidores ao preferirem produtos social e ambientalmente responsáveis, os chamados “produtos verdes”, o que tende a significar uma compensação econômica para as empresas em função do investimento de esforços no alinhamento da sua produção às demandas de ordem ambiental. Tal aspecto, no entanto, não retira da contabilidade social e ambiental sua atual relevância em pelo menos duas instâncias: como mudança de perspectiva diante das demandas ambientais e como amadurecimento e sistematização de conhecimentos e técnicas aptas a traduzirem esta mudança.

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Embora esteja no caminho de firmar-se como uma área cuja legitimidade está ancorada nas próprias demandas ambientais, a contabilidade social e ambiental ainda precisa melhor compreender, sobretudo no cenário nacional, as questões sobre o meio ambiente a partir de conhecimentos sistematizados. Estes, por sua vez, carecem encontrar no ensino superior em contabilidade maior espaço para uma reflexão maturada e acuradamente convertida em mecanismos de investigação.

Logo, diante da efervescência das questões ambientais relacionadas com as atividades empresariais Gray e Collison (2002) oportunamente afirmam que é relevante a incorporação de aspectos ambientais nos processos educacionais contribuindo para a formação de gestores com atitudes ambientais responsáveis e, concomitantemente, com a instrumentalização destes para a promoção de uma gestão ambiental inserida no ambiente corporativo.

Entretanto, antes de iniciar as discussões e apresentar o cenário, de forma mais específica, sobre a relação da contabilidade com as questões socioambientais e a integração destes conteúdos nos currículos dos cursos de Ciências Contábeis, bem como sobre a abordagem mais usual para o ensino destes aspectos e promoção deste debate, faz-se necessário uma breve incursão sobre o processo educacional no ensino superior no Brasil, uma vez que sobre este está calcada a plataforma de discussão da temática proposta.

2.2 BREVE CENÁRIO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR DOS CURSOS DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

Os atuais moldes produtivos embasados na lógica capitalista têm gerado mudanças ocorridas no sentido de degradação ambiental, o que tem ensejado uma reflexão sobre as formas convencionais de produção do conhecimento no espaço da Educação Superior. Deste modo, a relação homem x conhecimento tem requerido mudanças nas formas de se pensar e compreender a realidade, o que na problemática apresentada pode se traduzir nas novas formas de responder academicamente as demandas ambientais em curso (SLOMSKI, et al., 2010). De acordo com o artigo 43 da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) compete à Educação Superior “estimular a criação cultural e o desenvolvimento de um espírito crítico e do pensamento reflexivo” (BRASIL, 1996), portanto adaptado ao atendimento das interpelações contemporâneas da sociedade. Todavia, o que se tem assistido, na maioria das vezes, é um ensino do tipo bancário, no qual o professor se apresenta como fonte de todo o conhecimento

Referências

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